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A cantora Anitta:
135 shows e
nove palestras
sobre negócios
em 2018
20
JOSEPH OKPAKO/WIREIMAGE/GETTY IMAGES
SEÇÕES
Carta de EXAME 10
44
Cartas & E-mails 12
Primeiro Lugar 15
Vida Real J.R. Guzzo 31
Visão Global 56
Turma da Sete Perguntas 90
Mônica: pela
primeira vez
no cinema REVISTA QUINZENAL | ANO 53 | Nº 1 | EDIÇÃO 1177
DIVULGAÇÃO
ATENDIMENTO
Redator-Chefe: José Roberto Caetano
www.abrilsac.com.br
Grande SP: 11 5087-2112 Editores Executivos: Cristiane Mano, David Cohen, Giuliana Napolitano, Lucas Amorim Editores: Ernesto Yoshida, Fabiane
Demais localidades: 0800-7752112 Stefano, Filipe Serrano Repórteres: Aline Scherer, André Jankavski, Denyse Godoy, Gustavo Angulo Gusmão, Marina Filippe,
Naiara Bertão, Natalia Flach Gomes, Renata Vieira Núcleo de Revisão: Ivana Traversim (chefe), Maurício José de Oliveira
De 2a a 6a-feira das 8 às 22 horas
Editora de Arte: Carolina Gehlen Editora: Carmen Fukunari Designers: Camila Santiago Santos, Maria Teresa Caeiro
Fotografia: Germano Lüders (editor), Gabriel Correa (pesquisador) CTI: Leandro Almario Fonseca (chefe), Carlos
PARA BAIXAR Pedretti, Eduardo Frazão, Julio Gomes
SUA REVISTA DIGITAL
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Redator-Chefe: Maurício Grego Editora: Talita Abrantes Editores Assistentes: Anderson Figo, Camila Pati, Guilherme
EDIÇÕES ANTERIORES Dearo, João Pedro Caleiro, Ligia Tuon, Lucas Agrela Repórteres: Clara Cerioni, Gabriela Ruic, Janaína Ribeiro, Júlia Lewgoy,
Luísa Granato, Karin Salomão, Karla Mamona, Mariana Desidério, Mariana Fonseca, Marilia Almeida, Tamires Carvalho,
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E-mail: releases.exame@abril.com.br Decoração, Moda e Mídia & Entretenimento), Renata Miolli (Alimentos, Bebidas, Imobiliário, Educação, Turismo e Varejo), William
Hagopian (Regionais), Yuri Aizemberg (Relacionamento com Mercado) ATENDIMENTO E OPERAÇÕES Daniela Vada CANAIS
DE VENDAS Luci Silva MARKETING, MARCAS, EVENTOS E VÍDEO Andrea Abelleira AUDIÊNCIA DIGITAL Isabela Sperandio
CORRESPONDÊNCIA MARKETING CORPORATIVO E PRODUTO Rodrigo Chinaglia PROJETOS ESPECIAIS E ABRIL BRANDED CONTENT Ivan
Padilla DEDOC E ABRILPRESS Adriana Kazan PLANEJAMENTO, CONTROLE E OPERAÇÕES Filomena Martins
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Cartas e mensagens devem trazer nome EXAME 1.177 (ISSN 0102288-1), ano 53, no 1, é uma publicação quinzenal da Editora Abril. Edições anteriores: venda exclusiva em banca pelo
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CARTA
DE EXAME
Um novo ciclo
Em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo, o cientista político posta de reforma da Previdência que seu ministro da Economia
Marcus André Melo trouxe ao grande público uma questão sur- está prestes a apresentar ao país. O tropeço parece superado e a
gida recentemente no debate acadêmico: por que alguns presi- expectativa em torno da reforma segue alta. Mas sabemos quão
dentes parecem viver em “campanhas perpétuas” muito tempo difícil é o trajeto de uma proposta impopular no Congresso, e
após a vitória eleitoral? O caso mais notório é o de Donald Trump: quão importante será ao governo — e ao presidente Bolsonaro
o presidente americano continua com uma retórica de guerra e — mostrar convicção férrea em torno do projeto.
uma atitude que fogem do tradicional figurino da política em Mas os primeiros dias também mostraram uma disposição
Washington. No script normal, o candidato derrotado deseja para o embate de várias autoridades recém-empossadas, num
sorte ao vencedor e o novo presidente assume a tarefa de gover- movimento que parece guardar semelhanças com a noção de
nar para todos, e não apenas para seus eleitores. Oposição e si- “campanha perpétua” descrita por Melo. Um exemplo é a “des-
tuação terão enfrentamentos, por óbvio, pois isso faz parte da petização” da máquina pública promovida pelo ministro da
democracia. Mas até há pouco tempo o presidente tentava se Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Um dia depois de tomar posse, ele
distanciar da disputa para figurar como o líder nacional. Não no demitiu de uma tacada os 320 ocupantes de cargos de confiança.
caso de Trump. Segundo Melo, há dois argumentos que tentam A medida acabou prejudicando o funcionamento da pasta, e o
explicar o fenômeno. O primeiro diz que o presidente Trump e ministro recebeu um puxão de orelha do vice-presidente Hamil-
outros líderes que seguem esse modelo estão apenas refletindo ton Mourão — ele disse que as exonerações de servidores de
a polarização da própria sociedade. O segundo centra atenção governos anteriores devem ser analisadas caso a caso.
na polarização não do grosso dos eleitores, que continuariam Podem ser apenas os primeiros movimentos de uma equipe
moderados, mas dos partidos e suas bases relativamente restri- que vai achando seu rumo. Mas pode ser que haja a percepção
tas. Difícil dizer, neste momento, quem tem razão. de que o melhor para o governo é manter o clima de guerra que
Essa conversa ecoa diretamente no Brasil, com o novo gover- perdurou durante as eleições. Seria uma pena. Neste momen-
no dando seus primeiros passos. Foram várias batidas de cabe- to, precisamos desesperadamente de paz para reencontrar os
ça dos novos ministros e do presidente Jair Bolsonaro, até certo caminhos do crescimento que perdemos após o desvario da
ponto normais para um governo em formação. Na mais notória, Nova Matriz Econômica que tanta destruição nos legou. A elei-
Bolsonaro deu declarações em que parecia se contrapor à pro- ção acabou — agora é governar.
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CARTAS
& E-MAILS
CAPA tomotivo e qualquer outro que faça uso
O otimismo com o novo governo brasilei- do capitalismo pró-empresário, e não
NEGÓCIOS:0+-,1!$-/!0%017-$-"/!,$- JUSTIÇA:(,0%&2/!,8!)2/9$(#!#/%0#%
(,3%01(+%,1-0!('!3%/+%/#!$-.!/!1!,1-
,-/!0(*0/%0.-,063%(0-0)294%0
ro deve ser tratado com o devido cuidado pró-competição.
(A realidade vai se impor, 26 de dezem- Sales Rocha
bro). Afinal, quais projetos serão imple- Via Facebook
mentados? Por certo, temos de ser otimis-
tas, mas sem excessos. E não podemos O preço dos veículos básicos no Brasil é o
ficar esperando: precisamos participar. mesmo de um modelo premium nos Es-
Uriel Villas Boas tados Unidos. As pessoas têm percebido
Santos, SP que não é vantajoso ter um bem que des-
valoriza anualmente. E, com o transporte
JUSTIÇA por aplicativos, ficou mais vantajoso usar
Excepcional o artigo de Eduardo Oine- o automóvel apenas sob demanda. Carro,
EDIÇÃO 1176 :
: :-
9 770102 288002
<= gue sobre a insegurança jurídica impos- hoje em dia, parece ser um bom negócio
0 1 1 7 6>
R$ 22,00
ta pelo Poder Judiciário (O país não me- só para quem ganha dinheiro com ele.
rece isso, 26 de dezembro). É como ele Matheus Araujo
disse: “Seria bom olhar em 2019 para Via Facebook
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FÓRUM
2019
Quando Onde
Março São Paulo
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PRIMEIRO
LUGAR
LUCAS AMORIM | lucas.amorim@abril.com.br
COM REPORTAGEM DE DENYSE GODOY, FILIPE SERRANO, MARIANA DESIDÉRIO E MARIANA FONSECA
NEGÓCIOS
Um mercado em pé de guerra
Com a possível abertura do mercado de armas brasileiro, como se mercado. O contrato do Rio de Janeiro ganha importância por
prometido pelo presidente Jair Bolsonaro, a disputa entre as gran- causa de um dispositivo da lei de licitações que incentiva a padro-
des fabricantes globais já esquentou no país. A austríaca Glock nização dos produtos adquiridos pelo Poder P úblico. Isso abre a
venceu no fim de 2018 um edital do Gabinete de Intervenção Fe- possibilidade de a Glock se tornar a pistola-padrão no estado. O
deral e vai fornecer 27 360 pistolas .40 às forças de segurança do Gabinete de Intervenção Federal aceitou os argumentos da fabri-
Rio de Janeiro, num contrato de 40 milhões de reais. A Glock ofe- cante austríaca e encerrou o caso, ratificando o resultado. Mas a
receu seu armamento por 395 dólares a unidade, 29 dólares a me- história não acabou. A Glock entrou com uma representação crimi-
nos que a segunda melhor proposta, da americana Sig Sauer. Depois nal contra a Sig Sauer em que questiona as acusações e o caso
da divulgação do resultado, tanto a Sig Sauer quanto a terceira pode evoluir para um processo por difamação. A Sig Sauer, por sua
participante, a também americana CTU, entraram com recursos vez, entrou com um processo contra o Gabinete de Intervenção
questionando o preço baixo oferecido pela Glock. Em sua defesa, a Federal para parar o processo de compra. A Glock já vendeu cerca
Glock afirma que vendeu as armas no Rio a um preço competitivo de 70 000 armas para órgãos públicos brasileiros, entre eles a Po-
dada a importância do edital, uma prática usada mundo afora nes- lícia Federal. Procuradas, as empresas não comentaram.
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PRIMEIRO LUGAR
PME
EMPRESÁRIOS
SEM MARCA
As pequenas empresas brasilei-
ras ainda não enxergam o regis-
tro de marcas e patentes como
prioridade para os negócios. Uma
pesquisa com 4 000 micro e pe-
quenos empresários encomen-
dada pelo Sebrae indica que só
19% deles registraram a marca
da empresa no Instituto Nacional
da Propriedade Industrial, órgão
responsável pela certidão. O do-
cumento é necessário para ga-
PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
EDUCAÇÃO
16 | www.exame.com
LOGÍSTICA
OTIMISMO NAS
ENTREGAS
A FedEx, maior empresa de entregas
expressas do mundo, acabou de com-
prar 327 veículos para modernizar sua
frota no Brasil. A chegada dos novos
caminhões, cavalos mecânicos e carre-
MARCELO ALMEIDA
FINANÇAS TECNOLOGIA
VEM PRA BOLSA UM ROSTO CHINÊS
(BRASILEIRA) Companhias chinesas devem manter
Em seu esforço para convencer as empresas lo- o ritmo de investimento em inovação
cais a abrir o capital no país, e não em Nova York, no Brasil em 2019. Em 2017, a Didi
como fizeram três companhias de tecnologia em comprou o aplicativo 99; no ano pas-
2018 (entre elas a PagSeguro), a B3 encomendou sado, a Tencent investiu na fintech
à consultoria PwC um estudo para mostrar que Nubank. A Megvii, um gigante do re-
a bolsa brasileira é mais barata. Segundo o levan- conhecimento facial, venderá seus
tamento, para ofertas iniciais de até 250 milhões serviços no Brasil em uma parceria
de dólares, o custo total no Brasil pode variar de com a agência de promoção Chinno-
DIVULGAÇÃO
4,5% a 6% do valor captado, ante 8% a 12% nos vation. Avaliada em 2 bilhões de dóla-
Estados Unidos. Na faixa de 500 milhões a 1 bi- res, a Megvii tem clientes como o go-
Bolsa de Nova York: lhão de dólares, as despesas ficariam em torno verno chinês, que usa o reconheci-
a PagSeguro foi abrir lá de 4% aqui e 6% no mercado americano. mento para monitorar criminosos.
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DADOS Clientes de banco
& IDEIAS
no Brasil: 53% estão
satisfeitos com
os serviços
BANCOS
Uma pesquisa da consultoria Deloitte com 17 000 pessoas em 17 países mostra que,
apesar do alto investimento em tecnologia, os bancos não são percebidos como inovadores
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MEIOS DE PAGAMENTO
84 82
72
55
42
32 30
28
18 21 17 26 26 7 14
Celulares: 20% no
Brasil receberiam
por esse meio
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
FLAVIO SUCESSO/FOTOARENA
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CAPA | MÚSICA
PEDRO FIÚZA/NURPHOTO/GETTY IMAGES
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A S TA R T U P
A N I T TA
Os aplicativos revolucionam os transportes. As fintechs
transformam as finanças. Na música, as redes sociais
e o streaming colocam os artistas, como a cantora carioca
Anitta, no comando — e multiplicam as oportunidades
NAIARA BERTÃO
U
M DIA NORMAL NA contar os inúmeros áudios, mensa-
AGENDA da can- gens e e-mails que troca nos interva-
tora pop Anitta los dos compromissos com amigos e
pode começar alguns de seus 50 funcionários. A
às 7 horas com cantora ainda dedica alguns minu-
reuniões sobre tos para checar a audiência e os co-
seu programa mentários de suas redes sociais e
infantil ou do- gravar vídeos para mostrar os basti-
cumentário, dores de seu trabalho aos fãs. Aos 25
passar por con- anos, a carioca Larissa de Macedo
versas com seu empresário america- Machado (Anitta é um nome artísti-
no para discutir a próxima parceria co inspirado em uma minissérie) é
internacional, chegar a uma palestra a maior referência nacional de um
em um evento de profissionais de momento de transformação na in-
marketing e terminar com um show dústria da música. Os grandes no-
para uma marca patrocinadora. Essa mes do pop, do rap, do sertanejo e de
foi de fato a agenda da cantora no dia outros ritmos passaram a ser os pro-
em que falou a EXAME. Isso sem tagonistas não só de sua música, mas
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CAPA | MÚSICA
22 | www.exame.com
EM VÁRIAS FRENTES
Os números da cantora Anitta evidenciam
a variedade de frentes abertas com as redes sociais
e a quebra do poderio das grandes gravadoras
A ARTISTA
Larissa Machado, a Anitta, tem 25 anos e é a primeira cantora
brasileira a chegar ao topo da lista das mais ouvidas na
plataforma Spotify. É ela quem administra pessoalmente
sua empresa, a Rodamoinho, que tem 50 funcionários e cuida
também de outros projetos, como um documentário
para o Netflix, e ainda agencia outros artistas
OS NÚMEROS
2,6 ONZE
é o número
de vezes que
seus vídeos
foram vistos MARCAS
BILHÕES no YouTube
patrocinam a
cantora, entre elas
135 shows em 2018 a montadora Renault
e a fabricante
(200000 reais é quanto cobra, de cosméticos
em média, por show) O Boticário
milhões de
inscritos em seu 32,6 MILHÕES
canal no YouTube de seguidores no Instagram
1 milhão de execuções
A empresa de Anitta, batizada de Rodamoinho, em 24 horas
não tem sede fixa. “Meu escritório é meu celular. no Spotify com o hit Vai Malandra (um recorde)
Como o produto da minha empresa sou eu mesma,
tenho de estar em campo fisicamente, executando
Fontes: Spotify, YouTube, Instagram, documentário Vai Anitta na plataforma Netflix
o que combinamos na venda”, diz. Para isso, viaja
muito: foram 12 países em 2018. Ela tem vários gru-
pos de WhatsApp para gerenciar as diversas unida-
des de negócio de sua empresa: o grupo de styling é o CEO e amigo Daniel Trovejani, produtor musical
cuida de figurinos dela e dos bailarinos; o técnico contratado para organizar a gestão. O irmão Renan
trata de instrumentos, luzes, ferramentas; o da ban- Machado, que está a seu lado desde o início, é o
da, do repertório de cada show. Há ainda os grupos responsável por colocar as ideias da cantora em
de contratos, de produção de música, de assessoria prática. “Quando eu chamo qualquer pessoa para
de comunicação, de marcas... A gestão de pessoas trabalhar comigo, eu não ligo se ela não tem expe-
é uma questão sempre presente em suas palestras. riência no ramo, prefiro que seja alguém em quem
Anitta estudou administração de empresas e che- eu aposte, confie e que aprenda minha forma de
gou a estagiar na mineradora Vale antes de se de- trabalhar”, afirma. “Mas não pode ter medo de pen-
dicar à carreira artística, mas tem visões particula- sar diferente. Em minha empresa eu deixo todo
res sobre o tema. Seu negócio é cercado de amigos, mundo livre para cuidar do que quiserem, fazer
parentes e amigos de amigos. O principal executivo sugestões para outras áreas, estimulo todos a pen-
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CAPA | MÚSICA
NO RITMO DA TECNOLOGIA
A indústria da música vive uma fase de renascimento,
impulsionada pelos smartphones. Depois de 15 anos
de queda nas receitas com o fim do império dos CDs e
dos DVDs, os executivos do setor voltam a olhar o fu-
turo com otimismo. As gravadoras tiveram em 2017 o
terceiro ano de crescimento, de 8%, para 17,3 bilhões de
dólares em faturamento global, segundo relatório da
Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI,
na sigla em inglês). Os dados de 2018 ainda não estão
fechados, mas apontam na mesma direção. O valor
ainda é 68% do alcançado no auge do setor, em 1999,
quando faturou 25 bilhões de dólares, impulsionado
pelas vendas de álbuns. Após um longo período de in-
certezas, agora o caminho está dado: em 2017, pela pri-
meira vez, a combinação de download de músicas e
streaming representou mais da metade (54%) das re-
ceitas das gravadoras. Só os serviços de streaming, co-
mo Deezer e Spotify, faturaram 6,6 bilhões de dólares,
41% mais do que em 2016. Dos 176 milhões de pessoas
que pagavam no fim de 2017 pelo serviço de reprodução
ANDRÉ HORTA/FOTOARENA
O RENASCIMENTO DA MÚSICA Após 15 anos de queda nas receitas, a indústria da música voltou a crescer nos últimos
MUNDO BRASIL
Faturamento global da indústria de música (em bilhões de dólares) Físico Digital Streaming Streaming de música (em milhões de dólares)
2013 27
0,4 2014 40
1,0 0,2 2015 79
2,0 0,2 0,3 2016 134
2,7 0,4 6,6
0,4 0,6 1,0 4,7 2017 208
3,4 1,4 1,9 2,8
3,7 2018 288(1)
3,9 4,2 2019 365(1)
4,4 4,3
4,0 3,8 3,2 2020 425(1)
2,8
2021 463(1)
25 23 24 22 20 19 18 16 14 12 10 9 8,2 7,6 6,7 6 5,7 5,5 5,2 2022 483(1)
(1) Previsão Fontes: IFPI Global Music Report 2018, PwC Global Entertainment & Media Outlook 2018-2022
24 | www.exame.com
Smartphones
no Rio de Janeiro:
o mercado de
música no Brasil
voltou a crescer
em 2017
23 de janeiro de 2019 | 25
CAPA | MÚSICA
Se antes grandes gravadoras, como Warner, EMI, cido pelo nome artístico KondZilla. Ele apostou num
Universal e Sony, davam as cartas, negociando a pre- ritmo pouco explorado pelas grandes gravadoras, o
sença dos cantores nas rádios, na televisão, agora os funk, e criou o terceiro maior canal no YouTube em
artistas têm uma autonomia inédita. “As plataformas todo o mundo, com 45 milhões de seguidores acompa-
conectaram diretamente a oferta de entretenimento nhando os clipes dos artistas agenciados por ele. Com
à demanda e alteraram a forma como as pessoas con- apenas 30 anos, KondZilla cresceu na periferia do Gua-
somem”, diz Luis Bonilauri, diretor de Mídia e En- rujá, cidade no litoral paulista, e sempre sonhou em ser
tretenimento da consultoria Accenture. Uma pesqui- cineasta. Começou a produzir videoclipes em casa em
sa do YouTube mostra que a quantidade média de 2012. Hoje é um fenômeno da rede.
horas semanais de vídeos online vistas no Brasil é de Para sobreviver, as gravadoras deixaram de focar o
15,4, representando um crescimento de mais de 90% CD e o DVD e transformaram-se em consultoria es-
nos últimos três anos. “Quem souber se diferenciar, tratégica. Cuidam da divulgação, da distribuição de
fazer uma boa estratégia de marketing e divulgação conteúdo e do marketing dos artistas, incluindo a
pode se dar muito bem, e muito rápido”, diz Sandra criação de festivais e a busca de patrocinadores. São
Jimenez, diretora do YouTube Music para a América elas também as principais intermediadoras entre os
Latina. Nunca antes o artista conseguiu tão facilmen- cantores e as plataformas de streaming de música,
te (e a custos tão baixos) produzir e distribuir seu como Spotify e Deezer. “Mesmo ganhando menos de
próprio conteúdo, falar diretamente com o público e 1 centavo por clique, um artista pode ser ouvido inú-
meras vezes por milhões de pessoas no mundo intei-
ro 24 horas por dia. Antigamente, ninguém comprava
um CD mais de uma vez. A digitalização é uma van-
PARA SOBREVIVER, AS GRAVADORAS tagem competitiva”, diz Paulo Lima, presidente da
Universal Music no Brasil, gravadora que teve cresci-
TRANSFORMARAM-SE EM mento de 15% nos negócios em 2018. Nos últimos
CONSULTORIAS ESTRATÉGICAS
cinco anos, a Universal expandiu em 450% a receita
no Brasil. “A antiga gravadora, que só gravava e vendia
26 | www.exame.com
CD, não era mais necessária. A nova, que trabalha
estrategicamente a marca do artista, passa a ser um
parceiro importante nesse novo mercado digital”, diz
Fernando Fakri de Assis, conhecido como Sorocaba,
da dupla sertaneja Fernando e Sorocaba. Há um ano
e meio, ele voltou a fechar contrato com uma grava-
dora, a Sony Music. “Os artistas têm as ferramentas,
mas sozinhos não conseguem tudo”, diz Rick Bona-
dio, produtor musical que revelou bandas como Ma-
monas Assassinas e Charlie Brown Jr.
A estimativa do banco Goldman Sachs é que a in-
dústria da música global chegue a 41 bilhões de dóla-
res de receita até 2030. Mas essa cifra não reflete as
oportunidades à disposição dos artistas. O rapper
americano Jay-Z, por exemplo, criou em 2014 a pró-
pria plataforma de streaming, a Tidal, já disponível
no Brasil. Também é conhecido por ter seu selo inde-
pendente e agenciar outros artistas por meio de sua
empresa Roc Nation. Além disso, tem participação em
empreendimentos variados, como bares, e de marca
de charutos a agenciamento de esportistas. No Brasil,
OLGA LYSLOFF/FOLHAPRESS
23 de janeiro de 2019 | 27
CAPA | MÚSICA
Sede do
Spotify: o
streaming Você se formou em administração e fez
faturou estágio na mineradora Vale. Isso a ajudou
6,6 bilhões
de dólares a se tornar uma empreendedora?
em 2017 Eu tinha noções boas, mas a maioria das coisas
28 | www.exame.com
Você tem muitos compromissos e projetos
novos. Como dá conta de gerenciar tudo?
Meu escritório é meu celular. Como o produto
da minha empresa sou eu mesma, tenho de es-
tar lá em campo fisicamente, executando o que
combinamos na venda. Faço tudo por telefone.
Cuido desde a parte burocrática de contratos
até a montagem de uma coreografia. Tenho vá-
rios grupos no WhatsApp pelos quais falo com
minha equipe. São quase 50 pessoas trabalhan-
do diretamente comigo.
23 de janeiro de 2019 | 29
CAPA | MÚSICA
K-pop
coreano:
estratégia sob
medida para
os novos
tempos
KIM HONG-JI/REUTERS
já entenderam que não basta mais só música. Para se
destacar, é preciso criar uma experiência incrível pa- HOLOGRAMAS, CRIPTOMOEDAS,
ra os fãs”, diz Luis Justo, presidente do Rock in Rio.
Em dezembro, a cantora Ivete Sangalo divulgou o pri-
COMANDOS DE VOZ: A FORMA DE CONSUMIR
meiro clipe de seu novo DVD, em comemoração aos
25 anos de carreira, uma hora depois do fim de um
MÚSICA VAI CONTINUAR MUDANDO
show em São Paulo. A estratégia começou meses an-
tes, com posts em redes sociais sobre as participações gir com a cantora — indo a um show ou nas redes
especiais no show e, dias antes, uma palhinha das sociais — pode receber recompensas na moeda digital
novas músicas em seu canal do YouTube. A próxima audiocon. Björk, conhecida por testar novas tecnolo-
fronteira a ser explorada é a da inteligência artificial. gias na música, já havia lançado um ano antes um
Nos Estados Unidos, o uso de hologramas, represen- videoclipe em realidade virtual. O cantor e produtor
tações visuais e animadas de artistas já mortos, está musical americano Akon também anunciou a criação
se popularizando. O cantor Roy Orbison, de Pretty da própria criptomoeda, a akoin. Sua ideia é equipar
Woman, morto há 30 anos de ataque cardíaco, está em uma cidade no Senegal, seu país de origem, para ser
turnê pela Europa. Com a guitarra Gibson vermelha a primeira a utilizar o meio de troca.
nas mãos e vestindo terno cinza e óculos escuros, ele Uma das próximas mudanças deve vir com a po-
canta e toca por um show inteiro. Orbison foi repro- pularização dos serviços de comando por voz, como
duzido pela empresa de tecnologia Base Hologram. os assistentes domésticos de empresas como Google
Também já foram digitalmente ressuscitados o rapper e Amazon. Eles devem mudar a forma como as pes-
Tupac Shakur, a cantora de blues Billie Holiday e o rei soas interagem com as músicas. Poderão completar
do pop, Michael Jackson. A inovação extrapola a ima- uma canção que você comece a cantarolar ou pre-
gem. A cantora islandesa Björk lançou em 2018 uma parar uma playlist sob medida para uma conversa
plataforma com base na tecnologia blockchain que que você estiver tendo com seus amigos. Para artis-
permite aos fãs comprar seu álbum pagando com crip- tas como Anitta ou Luis Fonsi, quanto mais eclética
tomoedas, como o bitcoin e o litecoin, e quem intera- for a playlist, melhor.
30 | www.exame.com
VIDA
REAL
J.R. GUZZO
O Brasil anda muito nervoso. Mas pense, por 45 nos últimos dias, e o dólar, eterno refúgio nas horas de medo,
segundos, em como estaria a situação se o presidente recuou para sua menor cotação em dois meses. O recado aí é o
empossado no dia 1o de janeiro tivesse sido Fernando seguinte: o país vai mudar, sim, na verdade já está mudando e
parece estar engrenado para mudar mais do que em qualquer
Haddad em vez de Jair Bolsonaro. Pronto. Não é preciso outra época de sua história econômica recente. Essa percepção
perder seu tempo com mais nada se baseia num fato essencial. Seja lá o que o governo fizer, seja
qual for seu grau de competência na administração da máqui-
na pública, ou seja lá quanto sucesso efetivo tiver na execução
Já foi dito, mas vale a pena dizer de novo: o Brasil anda muito de seus projetos, uma coisa é 100% certa: Bolsonaro, desde já e
nervoso. Uma das manifestações mais comuns dessa ansiedade ao longo dos próximos quatro anos, vai fazer basicamente o
é a cobrança de resultados concretos do governo de Jair Bolso- exato contrário do que foi feito nos 16 anos de lula-dilmismo,
naro. E então: onde está a reforma da Previdência? Por que ain- incluindo o arremate dado por seu vice-presidente e aliado his-
da não fecharam o Incra, o Ibama e a Funai? Quantos funcioná- tórico Michel Temer. Não é muito complicado. Mesmo um go-
rios enfiados na máquina pública pelo PT (tudo peixe graúdo, verno presidido pelo centroavante Deyverson inspiraria mais
ganhando de 50 000 reais por mês para cima) já foram demiti- confiança, aqui e no exterior, do que qualquer gestão do PT.
dos? Por que o Brasil, até agora, não rompeu com a Venezuela? Pense, por 45 segundos, em como estaria a situação se o presi-
Onde estão os números de queda no índice de homicídios? E as dente empossado no dia 1o de janeiro tivesse sido Fernando
privatizações: alguém já viu alguma privatização sendo feita? Haddad em vez de Jair Bolsonaro. Pronto. Não é preciso perder
Fecharam a empresa do “trem bala”? Por que tanta gente fala e seu tempo com mais nada.
tão pouca coisa acontece? Enfim: por que esse governo não faz Os ministros escolhidos, em geral, parecem realmente os mais
nada? Uma possível resposta para isso talvez esteja no calendá- indicados para executar o trabalho que o governo se propõe a
rio: quando as contas são feitas, o novo governo mal terá com- fazer. Sempre é possível que haja um bobo entre eles — mas até
pletado dez dias úteis quando o leitor estiver lendo este artigo. agora ainda não se descobriu quem é. A dúzia de generais, ou
É verdade que já deu tempo para a ministra Demares pegar no algo assim, que foram para o ministério ou primeiro escalão, até
pulo uma espetacular marmelada da era anterior — um contra- agora, só incomodaram os jornalistas; para o governo, deram
to pelo qual você pagaria 45 milhões de reais, isso mesmo, para prestígio moral, autoridade e a imagem de que o Brasil está sen-
instruir as populações indígenas sobre o uso de criptomoedas, do dirigido por gente séria. Os ministros mais atacados, como
ideia que realmente só poderia ocorrer a alguém depois dos 16 os do Meio Ambiente, de Relações Exteriores e da Justiça, pas-
anos de roubalheira alucinada dos governos Lula-Dilma. Mas sam a impressão de que sabem perfeitamente o que estão fazen-
pouca gente parece disposta a considerar que duas semanas são do — e de que estão muito seguros quanto a seus objetivos prá-
um prazo muito curto para mudar o Brasil, trabalho que vai exi- ticos. A “impossibilidade” de lidar com o Congresso, apresenta-
gir os quatro anos inteiros do governo Bolsonaro e sabe-se lá da como fato científico durante a campanha, não impressiona
quanto mais tempo ainda. ninguém, a começar pelo Congresso. As reformas mais compli-
O mercado, mais do que ninguém, dá sinais de que está en- cadas na organização do país têm boas chances de ser aprovadas
tendendo a situação com muito mais realismo, objetividade e — e isso, por si só, promete uma virada vigorosa na economia.
bom senso — falando com dinheiro, e não com ideias, os inves- O que está faltando, mesmo, é mais tempo para o governo acon-
tidores fizeram a bolsa de valores bater todos os seus recordes tecer. Duas semanas é muito pouco.
23 de janeiro de 2019 | 31
NEGÓCIOS | VAREJO
CORRA QUE O
FUTURO CHEGOU
Após uma onda de aberturas nos últimos anos, os shopping centers brasileiros
investem em serviços, e em tecnologia, para sobreviver às mudanças do varejo
MARIANA DESIDÉRIO
32 | www.exame.com
Thiago Alonso de line por lá passaram de 106 bilhões de setor também têm uma vantagem com-
Oliveira, da JHSF: dólares em 2013 para 588 bilhões em 2018 parativa em relação às americanas: pu-
novo shopping em
São Paulo não terá —, as grandes cidades estão quaradas de deram ver antes o declínio do setor lá
estoque, e entregará centros de compras que adotam as mais fora. E resolveram se mexer.
as compras na casa modernas tecnologias de integração do Para começar, trataram de reformular
dos consumidores
varejo físico com o online. Em 2017, os 190 o que conhecem melhor: os estabeleci-
maiores shoppings chineses venderam mentos físicos. É uma das saídas buscadas
11% mais que em 2016. No Brasil, o mer- pela maior companhia de shoppings do
cado de shoppings passa por um período Brasil, a brMalls, que faturou 1,3 bilhão de
de ressaca pós-festa. De 2011 a 2014 foram reais em 2017 e tem 40 empreendimentos
abertos 90 novos centros de compra no pelo país. Após números fracos em 2016,
país, totalizando 520 endereços. No inter- com queda de 2,8% na receita líquida, um
valo de 2014 a 2017, mesmo com a crise novo presidente, Ruy Kameyama, assu-
econômica, foram mais 50 inaugurações. miu o comando da brMalls em 2017. De lá
A euforia dos construtores e varejistas, para cá, tem investido em iniciativas para
porém, aos poucos encontrou barreiras se aproximar do que chama de “shopping
no Brasil real. O aumento no faturamento do futuro”. Isso significa principalmente
anual, que em 2010 chegou a 23%, caiu mais opções de lazer. O recém-inaugura-
para a casa dos 5%. Com as perspectivas do Shopping Estação Cuiabá, em Mato
de retomada do crescimento econômico, Grosso, conta com espaço gourmet, par-
uma pergunta ronda a cabeça de varejis- que infantil ao ar livre e uma área para
A FEBRE PASSOU
Após um período de forte expansão, o mercado de shopping centers
estancou no Brasil nos últimos anos
Faturamento anual Número de shoppings (em quantidade)
Faturamento (em bilhões de reais) Crescimento (em %) 600 571
200 25% 520
150 20% 500
430
15%
100 392
10% 400
LEANDRO FONSECA
351
50
5%
0 0% 300
2006 2008 2010 2012 2014 2017 2006 2009 2011 2014 2017
Fonte: Abrasce
O
S SHOPPING CENTERS CONVIVEM HÁ tas, incorporadores e clientes: há merca- pets. “O novo consumidor tem uma ex-
ANOS COM UMA PREVISÃO apocalíp- do para mais shoppings? pectativa maior por experiências. Isso
tica no radar: serão aniquilados Especialistas ouvidos por EXAME afir- gera mais demanda por restaurantes e
pelo comércio eletrônico. Será mam que a resposta deve levar em conta serviços”, afirma Kameyama. O grupo vai
mesmo? O avanço das vendas online é a realidade brasileira. Por aqui, estamos investir 400 milhões de reais nos próxi-
sem dúvida inexorável. O volume de ven- longe de ter um comércio eletrônico de mos cinco anos para adequar seus princi-
das na internet nos Estados Unidos, o magnitude chinesa (o volume de vendas pais shoppings a esse modelo.
maior mercado varejista do mundo, foi de online no Brasil em 2018 foi de 68 bilhões Uma pesquisa do ano passado feita pe-
212 bilhões de dólares em 2013 para 444 de reais, equivalentes a 18 bilhões de dó- la Abrasce, a associação do setor, com a
bilhões em 2018, alta de 110%, segundo lares) e o mercado também é outro. En- empresa de pesquisa de mercado GFK
dados da consultoria Euromonitor. Efeito quanto nos Estados Unidos muitos shop- mostrou que somente 32% dos frequenta-
direto do avanço, até 25% dos shoppings ping centers estão nos subúrbios, seus dores vão ao shopping exclusivamente
nos Estados Unidos devem fechar as por- primos brasileiros são mais integrados para fazer compras. Eles também vão ao
tas até 2022. Mas na China, onde o avanço ao centro das cidades e funcionam como cinema, à academia, ao banco e até ao la-
do comércio eletrônico é ainda mais feroz opção de lazer segura num país com al- boratório médico. Dono dos laboratórios
— segundo a Euromonitor, as vendas on- tos índices de violência. As empresas do Lavoisier, Delboni, Alta e CDPI, o grupo
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NEGÓCIOS | VAREJO
crise do varejo nos últimos anos e, recen- tica. A aquisição, estimada em apenas
temente, ficaram abaixo da alta da bolsa, 1 milhão de reais, pode incrementar a
afetadas pelo aumento tímido das vendas. receita da brMalls em 10% nos próximos
De julho de 2018 até agora, o valor da quatro anos, segundo a empresa. O Deli-
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very Center atua hoje em 13 shoppings, de um shopping é fazer com que compra-
cinco deles da brMalls. Desde agosto de dor e vendedor se encontrem”, afirma
2018, a brMalls também é a patrocinado- Thiago Alonso de Oliveira. Também foca-
ra da vertical de varejo Cubo, espaço de do na alta renda, o grupo Iguatemi, com
coworking do Itaú, onde sete startups pes- 17 shoppings, lançará ainda neste ano o
quisam inovações no setor. Iguatemi 365, site que vai funcionar como
Dona de quatro shoppings voltados ao marketplace das marcas presentes nas
público de alta renda, como o paulistano unidades da rede. Inicialmente serão 60
Cidade Jardim, a JHSF também trocou de marcas. Com 31 shoppings, a administra-
comando recentemente. O executivo dora Aliansce investiu em monitorar o
Thiago Alonso de Oliveira assumiu em consumidor dentro dos estabelecimen-
fevereiro do ano passado com a missão de tos, via rede Wi-Fi. A companhia tem ma-
melhorar os números da empresa, que pas de calor com o desempenho de ven-
teve prejuízo de 250 milhões de reais em das de cada corredor e uma plataforma de
2016 e de 27 milhões de reais em 2017. A vendas integrada com dados de todas as
companhia inaugurou uma loja online lojas. Dona do BarraShopping, no Rio de
própria em setembro do ano passado e vai Janeiro, e de mais 18 empreendimentos,
abrir até o final de 2019 o Cidade Jardim a Multiplan criou um núcleo de inovação
Shops, um novo shopping em São Paulo para desenvolver tecnologias que possam
cuja proposta é integrar totalmente os integrar seus shoppings com o mundo
mundos físico e digital. Com investimen- digital, inclusive com projetos voltados
to de 35 milhões de reais e um espaço fí- para as compras online.
sico de 5 000 metros quadrados (6% do O abraço no online é bem-vindo, mas é
ocupado pelo Cidade Jardim atual), a um movimento que, segundo analistas de
ideia é que o novo centro não tenha esto- varejo, demorou mais do que deveria. A
que e as lojas funcionem como showroom. primeira companhia do setor a criar uma
Ruy Kameyama, da
brMalls: investimento em O cliente vê a peça na loja, compra o que loja virtual foi a CCP, braço da incorpora-
startups de varejo gostar, mas sai de lá sem sacola. O item dora Cyrela focado em shopping centers
será entregue em sua casa. “O propósito e dona de sete estabelecimentos, entre
eles o Shopping D, em São Paulo. A loja
online On Stores foi lançada em 2017. O
site tem 340 lojas e vendeu para 25 000
usuários em 2018. A meta é multiplicar o
Shopping na China: a número de clientes por dez nos próximos
comida é a nova moda quatro anos. No modelo da CCP, o objetivo
dos centros de compra
é usar o site para atrair o cliente por meio
do click and collect , modalidade em que
o consumidor compra pela internet e bus-
ca o produto na loja, economizando no
frete. Uma vez que o consumidor foi até o
shopping buscar o produto, a meta é fazer
ofertas personalizadas pelo celular. A ini-
ciativa surgiu da necessidade de melhorar
a rentabilidade das lojas. “Antes a gente
fornecia o espaço e os lojistas pagavam o
aluguel. Agora somos um parceiro para
ajudar a vender mais”, diz Pedro Daltro,
presidente da CCP. “A crise fez os shoppin-
gs reverem uma certa arrogância adotada
historicamente em relação aos lojistas. O
jogo agora está mais equilibrado”, diz Adir
Ribeiro, fundador da consultoria especia-
lizada em varejo Praxis Business. Os shop-
pings estão chegando aonde o consumi-
dor já estava: no século 21.
23 de janeiro de 2019 | 35
NEGÓCIOS | ENERGIA
CAPITALIZAR
PARA INVESTIR
Mantido no cargo de presidente da Eletrobras, Como essa capitalização vai ocorrer?
Em princípio, estamos falando de uma
Wilson Ferreira Júnior está confiante na capitalização via mercado. Dessa manei-
capitalização da empresa, que deverá triplicar sua ra, nos beneficiaremos da valorização das
ações nos últimos dois anos. A Eletrobras
capacidade de investimentos. E defende que o valia em junho de 2016 algo na casa dos
governo deixe de ser o controlador da companhia 18 bilhões de reais. Agora, o valor está em
torno de 42 bilhões de reais. Isso reflete
ANDRÉ JANKAVSKI as melhoras operacionais e de governan-
ça da companhia. As distribuidoras foram
vendidas, assim como diversas socieda-
O
des de propósito específico. Também
PRESIDENTE DA ELEBROBRAS, WIL- distribuição e participações em empresas houve redução de pessoal e de outras des-
SON FERREIRA JÚNIOR, foi o único de geração eólica e de transmissão. Tam- pesas. Hoje, a situação é bem melhor.
líder de uma estatal mantido bém foram feitos cortes profundos: cerca
pelo governo de Jair Bolsonaro. de 44% dos empregados da estatal, mais Como foram as conversas para o senhor
Sua missão agora é abrir o caminho para de 11 000 pessoas, foram demitidos. Em continuar no comando da Eletrobras?
a atração de novos sócios privados na sua primeira entrevista depois de ser con- O novo governo enxergou em mim uma
companhia de energia por meio de uma firmado no cargo, Ferreira defende que a forma de contribuir para o trabalho de
capitalização no mercado de capitais. Por capitalização vai restaurar a capacidade recuperação da empresa, até mesmo pela
isso mesmo, Ferreira não usa o termo de investimento da estatal e a retomada continuidade do trabalho que vinha sen-
“privatização”, mas diz que o governo po- das obras da usina nuclear de Angra 3. do feito. Tivemos a primeira conversa na
derá deixar de ser o controlador da em- Confira, a seguir, a entrevista. semana passada. Ao longo das próximas
presa, mantendo uma fatia expressiva de semanas conseguiremos dar mais forma
seu capital. Desde julho de 2016 no cargo, A Eletrobras será privatizada à proposta de capitalização.
o executivo é responsável por comandar no governo Bolsonaro?
a recuperação da Eletrobras, que sofria O almirante Bento Albuquerque Júnior, O novo governo já fez declarações
com investigações da Operação Lava- novo ministro de Minas e Energia, teve a contra a participação da China
-Jato, prejuízos nas distribuidoras de compreensão da importância da capita- nas privatizações e nas concessões.
energia e até ameaças de ser retirada da lização da empresa. No próprio discurso Nos últimos anos, os chineses foram
Bolsa de Valores de Nova York. De lá para de posse, ele ressaltou que era necessária investidores importantes no setor
cá, o valor de mercado da empresa subiu a distribuição de energia a um preço justo. de energia. Isso pode ser um problema
de 18,3 bilhões de reais para cerca de 42 Também comentou que interessava a ca- para a Eletrobras?
bilhões. Para chegar a esses números, a pitalização da Eletrobras para retomar Nossa proposta foi sempre a criação de
Eletrobras vendeu subsidiárias na área de sua capacidade de investimento. uma corporação, com o capital pulveri-
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Wilson Ferreira Júnior, 10 bilhões e 14 bilhões de reais por ano. O
presidente da Eletrobras: problema é que a empresa não tem caixa
“Se a usina de Angra 3
estivesse funcionando, para mais do que 4 bilhões de reais por
a tarifa de energia ano. O governo, que é o controlador, tam-
seria mais barata para bém não tem capacidade de aportar re-
todos os brasileiros”
cursos. Quando o governo Bolsonaro as-
sumiu, expliquei essa situação. A partir
da capitalização e entregando as obras
que estão paralisadas, em menos de dois
anos é possível retomar a capacidade de
investimento da companhia.
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PME | TECNOLOGIA
O PODER DE
UMA SELFIE O mercado de reconhecimento
facial atrai gigantes como
Amazon e Alibaba, mas abre
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Lincoln Ando, da IDWall:
GERMANO LÜDERS
foco na redução das
fraudes de identidade
22%
149 882 mercial e a estrutura enxuta são van- res. Nos Estados Unidos, um sistema
tagens competitivas. A empresa co- de reconhecimento da Amazon usado
bra alguns centavos por face analisa- por policiais apontou congressistas
foi a taxa
da. O negócio recebeu um aporte de negros erroneamente como crimino-
de crescimento
anual média 5 milhões de reais do fundo de inves- sos. A tecnologia, claro, tende a me-
2015 2024(1) timentos Primatec. Para este ano, a lhorar com o tempo. Mas as discussões
meta da FullFace é conquistar empre- sobre seus limites, e vieses, estão em
sas de educação online e varejistas. aberto. No Brasil, uma Lei Geral de
Número global
de aparelhos Na China, duas startups de reconhe- Proteção de Dados entrará em vigor
com reconhecimento cimento facial já valem bilhões: a Sen- em 2020. Usuários e governos têm
facial (em milhões) 123 seTime, avaliada em 4,5 bilhões de uma preocupação crescente com a
28 dólares, e a concorrente Megvii, na privacidade, mas o potencial de negó-
casa dos 2 bilhões. Ambas receberam cio em torno das selfies vai continuar
(1) Previsão 2015 2024(1) investimentos da varejista Alibaba e crescendo. Para as grandes, e também
Fonte: Tractica apoio do governo chinês, seguindo os para as pequenas empresas.
23 de janeiro de 2019 | 39
GESTÃO | CIDADANIA
BOM PARA
O PRESENTE.
E PARA O
FUTURO
Como algumas empresas têm conseguido transformar
a obrigação legal de contratar jovens aprendizes
em uma oportunidade para aumentar a diversidade
de seu próprio quadro de funcionários
ALINE SCHERER
U
OMAR PAIXÃO
MA NOVA TAREFA FAZ PARTE DA ROTI- em ser dentista, mas agora está decidida
NA DO ENGENHEIRO Luciano Corsini a ingressar na faculdade de análise de sis-
desde março de 2018. Presidente temas. Danielle e as demais jovens apren-
para o sul da América Latina da dizes da DXC frequentam, uma vez por
DXC Technology (empresa resultante da semana, aulas teóricas e práticas de um
fusão da área de serviços da HP com a total de 30 temas como conceitos básicos
Computer Science Corporation), Corsini de hardware e lógica de programação. E
e 19 executivos de sua equipe brasileira se trabalham seis horas por dia como assis- a mulheres, com o objetivo de aumentar
tornaram mentores de 20 funcionárias, tentes, revezando entre duas áreas da em- a diversidade na companhia. Antes, sem
contratadas como aprendizes. Por telefo- presa — uma por semestre. Ao término de essa regra e a busca ativa por candidatas,
ne, e-mail ou pessoalmente, eles ouvem e 12 meses, serão contratadas como estagiá- 70% das vagas eram preenchidas natural-
esclarecem dúvidas sobre carreira e esti- rias ou analistas, ou então indicadas para mente por rapazes. “O conflito saudável
mulam as estudantes de escolas públicas trabalhar em empresas parceiras. de ideias gerado no contato com pessoas
a refletir. “Eles nos ajudam a lidar com a O programa de jovens aprendizes, im- de idades, perfis e histórias de vida dife-
timidez e nos incentivam a sair de nossa plantado na DXC há quase duas décadas rentes ajuda a ampliar a visão dos execu-
zona de conforto para buscar mais conhe- por exigência da legislação trabalhista, tivos e favorece a tomada de decisões”,
cimento”, diz Danielle Paiva, de 18 anos. tornou-se estratégico em 2016, quando a afirma Corsini. “Queremos estimular que
Aprendiz na DXC, ela conta que pensava empresa passou a destinar 80% das vagas o setor como um todo tenha mais mulhe-
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Legenda: aqui vai o PRIMEIRO EMPREGO
texto da legenda, aqui
vai o texto da legenda Um levantamento realizado pelo Instituto
Ethos com 100 empresas mostra que a
maioria promove ações de inclusão de jovens
30% 27%
18% 7%
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GESTÃO | CIDADANIA
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MARKETING | ENTRETENIMENTO
A VIDA IMITA
A ARTE
2019 será o ano do live-action — a refilmagem de
clássicos da animação com atores reais. A Disney
lançará Dumbo, Aladdin e O Rei Leão até julho. No Brasil,
a Mauricio de Sousa Produções vai lançar o primeiro
filme da Turma da Mônica com atores em carne e osso.
O que está por trás dessa onda de releituras?
MARINA FILIPPE
N
O DIA 27 DE JUNHO, ESTREIA EM TODO Em 2017, a companhia americana de en-
O BRASIL o primeiro longa-metra- tretenimento Walt Disney lançou uma
gem da Turma da Mônica com nova versão de A Bela e a Fera, estrelada
personagens em carne e osso. A pela jovem atriz Emma Watson. O longa
história é uma adaptação do livro Laços, bateu o recorde de bilheteria na estreia
um romance gráfico (narrativa em qua- nos Estados Unidos: foi o segundo filme
drinhos) de 2013 inspirado nos persona- mais visto no ano, atrás apenas de Star
gens criados pelo cartunista e empresário Wars: O Último Jedi, também da Disney,
Mauricio de Sousa. O lançamento faz e o 14o na história do cinema, arrecadan-
parte da estratégia da Mauricio de Sousa do cerca de 1,2 bilhão de dólares global-
Produções de diversificar seu conteúdo mente. Esse resultado motivou a Disney
com novos formatos, a exemplo do que a preparar uma enxurrada de lançamen-
faz com vídeos animados para a internet, tos de live-actions, como são chamados
que já somam cerca de 10 bilhões de os filmes que usam atores reais em vez
visualizações. “Percebemos a importân- de imagens animadas. Até julho, chega-
cia de levar os personagens do papel para rão ao Brasil os filmes Dumbo, Aladdin e
outras plataformas, mas esta é a primeira O Rei Leão — e outros 14 títulos devem
vez que eles serão representados por hu- aparecer nos cinemas nesse formato,
manos”, diz Marcos Saraiva, diretor da ainda sem data definida.
área digital da Mauricio de Sousa Produ- Não é de hoje que os produtores cine-
ções. A produção brasileira segue os pas- matográficos fazem adaptação dos qua-
sos de grandes sucessos internacionais. drinhos e releituras de obras famosas. Os
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super-heróis, como Batman e Homem-
-Aranha, já ganharam dezenas de filmes.
Mas então por que esses novos lançamen-
tos estão sendo chamados de live-action?
Para Marco Vale, professor do curso de
rádio, TV e internet na Faculdade Cásper
Líbero, em São Paulo, o termo resume
uma nova tendência. “O live-action ajuda
a categorizar clássicos que até então exis-
tiam apenas em outros formatos ou tec-
nologias, além de carregar um apelo de
marketing”, diz Vale. Mais do que se pren-
der ao tipo da produção, é preciso enten-
der o que essas novidades representam.
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MARKETING | ENTRETENIMENTO
DIVULGAÇÃO
de quatro dias puderam tirar fotos com
uma estátua do elefante que dá nome ao
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NEGÓCIOS GLOBAIS | ESTADOS UNIDOS
O SEGUNDO
GOVERNO
TRUMP
A segunda metade do mandato de Donald Trump
começa com a perspectiva de uma desaceleração da
economia americana. Isso prejudica o crescimento
no mundo — e eleva a pressão sobre o presidente
FILIPE SERRANO
É
PRECISO RECONHECER. EM SEUS DOIS peita de participação da família Trump e
PRIMEIROS ANOS NA CASA BRANCA, de pessoas ligadas à sua campanha, con-
Donald Trump foi um presidente tinua a assombrar o presidente.
bem mais fiel às suas promessas O que surpreende é que, apesar de a
de campanha do que a maioria dos polí- maior economia do mundo estar sendo
ticos costuma ser. As críticas ao estilo governada por uma pessoa de tempera-
impulsivo e à retórica agressiva, baseada mento impetuoso, os últimos dois anos
em mentiras deslavadas, de nada adian- foram, na verdade, bastante calmos.
taram para que ele adotasse uma postura Trump não teve de enfrentar nenhuma
mais moderada no governo. Trump pas- crise econômica global, nem entrou em
sou por cima dos opositores e, para o bem nenhuma guerra, como Barack Obama,
ou para o mal, colecionou mais vitórias George Bush filho e Bill Clinton. Para semprego dos últimos 50 anos, de ape-
do que derrotas. A reforma tributária, a completar, a economia dos Estados Uni- nas 3,9%. Um resultado de dar inveja a
saída do Acordo de Paris, a renegociação dos cresceu num ritmo bem mais acele- qualquer líder mundial.
do tratado comercial Nafta (agora chama- rado do que os americanos estão acos- Agora, se Trump conseguiu aproveitar
do de USMCA) e a nomeação de juízes tumados, anabolizada pelo corte de o bom momento da economia na primei-
conservadores para a Suprema Corte são impostos promovido pelo governo e ra metade do mandato, os próximos dois
algumas de suas conquistas mais conhe- pelo mercado consumidor aquecido. As anos serão um teste de fogo para ele. Além
cidas. Houve resistência, é claro. A insis- empresas do país vêm contratando em de enfrentar uma oposição democrata
tência de Trump em construir um muro número maior. Cerca de 200 000 empre- fortalecida no Congresso, o presidente
na fronteira com o México, ao custo de 5,7 gos são criados todo mês e 66% das vagas americano já não poderá contar com uma
bilhões de dólares, levou à mais longa são preenchidas por jovens que acabam economia tão favorável quanto a dos últi-
paralisação do governo americano na his- de entrar no mercado de trabalho. Isso mos anos. A maioria dos economistas
tória. E a investigação sobre a interferên- faz com que os Estados Unidos tenham prevê que o crescimento deve perder o
cia russa nas eleições de 2016, com a sus- hoje uma de suas menores taxas de de- fôlego neste ano e, com o tempo, deve vol-
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mais recursos financeiros para gastar ou
investir — vem perdendo a força. O se-
gundo motivo é um problema criado pelo
próprio governo Trump: a guerra comer-
cial com a China. A retaliação chinesa ao
aumento de tarifas tornou os produtos
americanos mais caros, prejudicando o
setor exportador. Além desses fatores, a
própria paralisação do governo neste iní-
cio de ano deve ter um custo para a eco-
nomia, uma vez que 800 000 funcioná-
rios públicos deixaram de receber os sa-
lários. A estimativa é de um prejuízo de
1 bilhão a 2 bilhões de dólares por semana,
o suficiente para reduzir alguns décimos
do produto interno bruto americano.
Se nos últimos anos Trump se gabou
que o mercado de ações e a economia es-
tavam “bombando” desde sua eleição, a
dúvida é como o presidente vai reagir
num momento de desaceleração. Nos úl-
timos meses, Trump tem aumentado as
críticas ao Fed — o banco central ameri-
cano — por causa do aumento da taxa de
juro do país para manter a inflação con-
trolada. “O único problema de nossa eco-
nomia é o Fed”, escreveu o presidente em
uma mensagem pelo Twitter no dia 24 de
dezembro. Embora as decisões sejam téc-
nicas, a autoridade monetária dos Esta-
dos Unidos se mostrou preocupada com
a queda brusca no mercado de ações no
fim do ano, em linha com as críticas de
Trump. A ata da última reunião de políti-
BRYAN R. SMITH/AFP PHOTO
Imagem de Trump na Bolsa de Nova York: ca monetária sinalizou que o Fed pode
a desaceleração da economia americana interromper a elevação nas taxas de juro
será um teste para seu governo nos próximos meses para avaliar em que
direção a economia está caminhando.
23 de janeiro de 2019 | 49
NEGÓCIOS GLOBAIS | ESTADOS UNIDOS
6%
50
4%
48
2%
0% 46
fev/16 nov/16 ago/17 maio/18 nov/18
5%
-5%
-15%
JOHANNES EISELE/AFP PHOTO
-25%
Por enquanto, ninguém ousa falar que cipação maior no PIB chinês do que hoje, menor em 15 anos, de 8%. O número de
há uma recessão à vista, mas o fato é que mas, ainda assim, é responsável por cerca turistas chineses que viajam ao exterior
o melhor momento da economia ameri- de 40% da economia do país. “Essa desa- parou de crescer. Na tentativa de evitar
cana e mundial parece ter ficado em 2018. celeração não parece ser o fim do mundo, uma desaceleração maior e aumentar o
Um risco em especial que pode provocar mas os preços das commodities caíram crédito na economia, o Banco Central da
uma desaceleração maior é a China. As nos últimos meses, porque o mercado já China reduziu pela quinta vez em 12 me-
tarifas impostas pelos Estados Unidos começou a precificar um crescimento ses a taxa do depósito compulsório — di-
tiveram um impacto maior do que o es- mais modesto da China”, diz o economis- nheiro que os bancos são obrigados a
perado e foram uma das razões para a ta Louis Kuijs, da consultoria britânica manter no Banco Central.
queda anual de 4,4% nas exportações Oxford Economics, responsável pela aná- Um dos efeitos positivos da desacele-
chinesas em dezembro. Sozinhas, as ex- lise das economias asiáticas. ração das duas maiores economias mun-
portações representam 20% da economia Uma das primeiras empresas a soar o diais é que os líderes dos dois países ago-
do país. Outros sinais são preocupantes. alarme em relação à economia chinesa foi ra têm um motivo a mais para cooperar
Pela primeira vez em 28 anos, a China a Apple, que cortou suas estimativas de e reduzir as barreiras comerciais impos-
registrou uma queda nas vendas de auto- receitas para o último trimestre de 2018 tas no último ano. A primeira reunião
móveis de passeio. Em 2018, elas ficaram por causa de vendas mais fracas na China. entre China e Estados Unidos foi positiva
4% abaixo do ano anterior. Só a monta- Embora a queda também tenha a ver com e deixou os mercados mais confiantes de
dora americana Ford registrou queda de a maior concorrência no país e com os que, pelo menos, novas barreiras não de-
30% nas vendas de carros na China nos altos preços do iPhone, os consumidores vem ser adotadas. Se Trump conseguir
primeiros 11 meses de 2018. O tombo re- chineses parecem estar menos dispostos fechar um acordo favorável aos dois paí-
flete uma desaceleração da produção a gastar. Em novembro, o crescimento ses, será um alívio para o mundo — e
industrial chinesa. O setor já teve parti- anual das vendas no varejo na China foi o para seu futuro na Casa Branca. Q
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NEGÓCIOS GLOBAIS | GEOPOLÍTICA
JONATHAN ERNST/REUTERS
A GLOBALIZACÃO
NA ENCRUZILHADA
Com o deslocamento do centro de gravidade da economia para a Ásia
e a criação de instituições internacionais pela China, prenuncia-se um mundo
dividido entre dois sistemas de governança global que competem entre si
GORDON BROWN
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Donald Trump em Londres, no ápice da crise financeira ginal europeia —, além da União Euro-
e Xi Jinping: o global, a América do Norte e a Europa peia. Mas nem mesmo esse G24 refletia
conflito entre os tinham 15% da população mundial, mas plenamente a rapidez das transformações
Estados Unidos e
a China vai muito representavam 57% da economia global, que ocorriam no mundo. Hoje, as econo-
além do comércio 61% dos investimentos, 50% da produção mias de Nigéria, Tailândia, Irã ou Emira-
industrial e 61% dos gastos globais com dos Árabes Unidos são individualmente
o consumo. De lá para cá, houve um des- maiores do que a menor economia do G20
locamento do centro de gravidade da (África do Sul), mas nenhum desses países
economia mundial. Enquanto em 2008 está representado.
cerca de 40% da produção, da indústria, Da mesma forma, os próprios alicerces
do comércio e dos investimentos ocor- do Fundo Monetário Internacional estão
riam fora do Ocidente, hoje já são mais mudando. Quando os estatutos do FMI
de 60%. Alguns analistas preveem que, original foram negociados, em 1944, hou-
em 2050, a Ásia responderá por 50% do ve certa divergência quanto à localização
PIB global. Na verdade, em 2050, a renda da sede do novo organismo, se na Europa
per capita da China talvez ainda seja 50% ou nos Estados Unidos. Por fim, ficou de-
inferior à dos Estados Unidos, mas as cidido que ele deveria permanecer na
dimensões totais da economia chinesa capital do país detentor da maior parte
suscitarão novas questões sobre a gover- dos direitos de voto (o que indica a parti-
nança e a geopolítica global. cipação do país na economia mundial).
Durante décadas, após sua constituição Isso significa que, no prazo de uma ou
nos anos 70, o Grupo dos Sete — Canadá, duas décadas, a China poderá exigir que
França, Alemanha, Itália, Japão, Reino o FMI transfira sua sede para Pequim.
Unido e Estados Unidos — liderou essen- É claro que, muito provavelmente, o
cialmente toda a economia mundial. Mas, FMI nunca sairá de Washington (os Esta-
em 2008, eu e outros começamos a cons- dos Unidos deixariam o órgão antes dis-
T
ALVEZ NÃO NOS TENHAMOS DADO CON- tatar uma troca de guarda. Nos bastido- so). Mesmo assim, a questão continua: o
TA, MAS O ANO DE 2018 foi provavel- res, os líderes da América do Norte e da mundo vive um reequilíbrio histórico não
mente um marco histórico. A glo- Europa debatiam se não seria hora de apenas econômico mas também geopo-
balização mal conduzida produ- criar um novo fórum para a cooperação lítico. A menos que o Ocidente consiga
ziu movimentos nacionalistas de “retoma- econômica dos principais países que in- encontrar uma forma de preservar o mul-
da do controle”, e uma onda crescente de cluísse as economias emergentes. tilateralismo em um mundo cada vez
protecionismo está solapando a ordem Tais debates eram frequentemente aca- mais multipolar, a China continuará
internacional liderada há 70 anos pelos lorados. De um lado, alinhavam-se os que criando instituições alternativas no âm-
Estados Unidos. É um quadro propício queriam manter o grupo reduzido; de bito das finanças e da governança, como
para a China criar instituições internacio- outro, os que queriam que o grupo fosse ocorreu com a criação do Banco Asiático
nais paralelas, prenunciando um mundo o mais abrangente possível. Até hoje, os de Investimentos em Infraestrutura
dividido entre dois sistemas de governan- resultados dessas negociações iniciais (AIIB, na sigla em inglês) e da Organiza-
ça global que competem entre si. não foram completamente compreendi- ção para a Cooperação de Shangai.
O que quer que aconteça nos próximos dos. Quando o G20 se reuniu em Londres, O atual conflito comercial entre os Es-
anos, já está claro que a década 2008-2018 em abril de 2009, na realidade incluiu 23 tados Unidos e a China é sintomático de
assinalou uma mudança histórica de países — a Etiópia representava a África, uma transição mais ampla do poder fi-
equilíbrio do poder econômico. Quando a Tailândia o Sudeste Asiático, e a Holan- nanceiro global. Superficialmente, o con-
presidi a cúpula do Grupo dos 20 (G20) da e a Espanha faziam parte da lista ori- fronto do governo Trump com a China
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NEGÓCIOS GLOBAIS | GEOPOLÍTICA
diz respeito ao comércio. Mas, nos dis- crise econômica global. Em 2008, os go-
cursos de Trump, percebe-se que a ver- vernos do mundo todo conseguiram
dadeira batalha envolve algo maior: o baixar as taxas de juro, adotar políticas
futuro do domínio tecnológico e do po- monetárias pouco convencionais e bus-
der econômico global. car estímulos fiscais. Esses esforços fo-
Embora Trump detecte a crescente ram coordenados globalmente para ma-
ameaça à supremacia americana, ele ig- ximizar seus efeitos. Os bancos centrais
nora a estratégia mais óbvia para combatê- agiram em estreita colaboração e, graças
-la: uma frente unida com seus parceiros à cúpula dos líderes do G20, houve uma
no mundo todo. Ao contrário, Trump in- cooperação sem paralelo entre os chefes
siste na prerrogativa de agir unilateral- de Estado e os ministérios das finanças
mente, como se os Estados Unidos ainda do mundo todo.
governassem um mundo unipolar. Conse- Agora, pensemos em 2020, quando o
quentemente, está deixando atrás um espaço de manobra em termos monetá-
rastro de destruição geopolítica. Entre rios e fiscais será muito menor. Os juros
outras coisas, ele abandonou o pacto nu- quase certamente estarão em um pata-
clear com o Irã e o acordo do clima de Pa- mar baixo demais para proporcionar um
ris, e anunciou que os Estados Unidos se estímulo eficiente, e balanços maciços
retirarão do Tratado sobre Forças Nuclea- herdados da última crise obrigarão os
res de Alcance Intermediário, assinado há presidentes dos bancos centrais a encarar
31 anos com a Rússia. Além disso, seu go- com cautela um novo abrandamento mo-
verno bloqueia a nomeação de juízes para netário quantitativo.
o organismo de solução de disputas da A política fiscal será igualmente restri- Programa russo-
YURI KOCHETKOV/REUTERS
americano: o fiasco do
Organização Mundial do Comércio; redu- tiva. Em 2018, a relação dívida pública/ lançamento de foguete
ziu o G7 e o G20 à irrelevância; e abando- PIB média da União Europeia deve ter é uma metáfora das
nou a Parceria Transpacífico, abrindo as superado os 80%, o déficit federal ameri- relações atuais
portas para a China afirmar seu predomí- cano está prestes a ultrapassar os 5% do
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ção. Nenhum país pode resolver indivi- da Ásia-Pacífico e para o mundo, nós, em
dualmente problemas como o aumento grande parte, ainda não demos a devida
da desigualdade, a estagnação dos salá- atenção a essas consequências.
rios, a instabilidade financeira, a evasão O fracasso do lançamento de um fogue-
e a fraude fiscal, a mudança climática, as te que levava um astronauta americano e
crises dos refugiados e da migração. O um cosmonauta russo para a Estação Es-
retrocesso para a política das grandes po- pacial Internacional (ISS), em outubro, é
tências do século 19, sem dúvida, afetará uma metáfora perfeita para a situação das
a prosperidade alcançada no século 21. atuais relações geopolíticas. Ao todo, 18
Entretanto, longe de representar uma países participaram das viagens até a Es-
clara visão estratégica do futuro, o con- tação Espacial Internacional, onde atual-
ceito “Os Estados Unidos em primeiro mente trabalha uma equipe de astronau-
lugar” é mais um ato de autoflagelação tas americanos, russos e alemães. Se a
de uma potência outrora hegemônica que corrida ao espaço começou como uma
se agarra ao passado. Remontar ao nacio- competição de soma zero no auge da
nalismo expresso no Tratado de Versa- Guerra Fria, tornou-se um campo de in-
lhes equivale a ignorar a diferença que o tensa colaboração internacional. Hoje, os
aprimoramento de ações intergoverna- programas espaciais russo e americano
mentais pode representar. são tão dependentes mutuamente que os
Enquanto os Estados Unidos dão as astronautas americanos não podem voar
costas ao multilateralismo, a China está até a ISS sem os lançadores de foguetes
reformulando a geopolítica global por russos, e os russos não podem sobreviver
conta própria, mediante o AIIB, o Novo na estação sem a tecnologia americana.
Banco de Desenvolvimento, a iniciativa Mas é preciso ter esperança. A Guerra
“Novo Caminho da Seda” e outros meios. Fria durou quatro terríveis décadas, prin-
Mas embora suas atuais políticas tenham cipalmente porque a União Soviética se
implicações no longo prazo para a região recusava a admitir o valor dos mercados
e da propriedade privada, evitando o con-
tato com o Ocidente. Não se pode dizer o
mesmo sobre a China. Todos os anos,
mais de 600 000 chineses estudam no
exterior, 450 000 deles nos Estados Uni-
dos e na Europa, onde estabelecem dura-
douras redes sociais e profissionais.
A globalização se encontra em uma en-
cruzilhada. De uma maneira ou de outra,
as organizações internacionais e os orga-
nismos multilaterais terão de incluir os
novos “polos” de poder geopolítico que
estão surgindo. As decisões que hoje con-
templamos terão implicações significati-
vas e de grande alcance para o futuro do
nosso planeta. A questão é saber se serão
tomadas de maneira unilateral ou levan-
do em conta a colaboração. Devemos in-
vocar a vontade de nossos antecessores
do pós-guerra para poder também teste-
munhar a criação de uma ordem adequa-
da a nosso momento histórico. Q
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VISÃO
GLOBAL
FILIPE SERRANO | filipe.serrano@abril.com.br
PHILIPPE WOJAZER/REUTERS
Manifestantes do movimento dos “coletes amarelos”, na França: o protesto contra Macron simboliza a insatisfação com a carga tributária
FRANÇA
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PAÍSES BAIXOS
ONDE A APOSENTADORIA PAGA BEM Idosa em Amsterdã:
aposentadoria perto
Uma das maneiras de avaliar a rio médio. Já no México, ela é de da média salarial
qualidade do sistema previden- apenas 26%. O Brasil tem um
ciário de um país é por meio da índice bom, de 76%. Os dados
taxa de reposição das aposen- são de um extenso estudo re-
tadorias. Ela indica quanto o cente da OCDE sobre a Previ-
valor recebido pelos aposenta- dência Social. No caso da Ho-
dos equivale, em média, ao an- landa — que mantém um siste-
tigo salário deles antes de dei- ma misto público-privado como
xar o mercado de trabalho — le- o que o Brasil estuda adotar —,
vando em conta uma contribui- chama a atenção que mais da
ção à Previdência durante a vida metade da aposentadoria é co-
toda. Na Holanda, a taxa de re- berta pelas contribuições ao
posição equivale a 97% do salá- sistema privado.
ESTADOS UNIDOS
BOA HORA PARA OS MENOS ESCOLARIZADOS
Poucos momentos foram tão bons na his- O desemprego entre os americanos com
tória recente dos Estados Unidos para os baixa escolaridade está num dos menores
trabalhadores menos escolarizados quan- níveis das últimas décadas
to agora. O mercado de trabalho se man-
Taxa de desemprego nos Estados Unidos (em %)
teve aquecido em 2018 e as contratações
aumentaram. Isso fez com que a taxa de Trabalhadores com ensino médio incompleto
desemprego entre as pessoas que não Total
completaram o ensino médio chegasse a 16
5,8% em dezembro. É uma das menores
taxas em quase 30 anos. Os trabalhadores 12
menos escolarizados são os que costumam
DAVID LAWDER/REUTERS
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TECNOLOGIA | GESTÃO PÚBLICA
UM “BIG
BROTHER”
PARA O
BEM
Quando bem
À
BEIRA DO MAR BÁLTICO E COM APE-
NAS 1,3 MILHÃO DE HABITANTES, a
utilizadas, a coleta Estônia fez uma aposta ousada
58 | www.exame.com
proposta era discutida desde o governo
Smartphone com a bandeira da Fernando Henrique Cardoso, mas nunca
Estônia: o país se tornou uma havia saído do papel. A nova lei cria o Do-
referência no uso de tecnologia cumento Nacional de Identificação, e ele
para atender os cidadãos
deverá começar a ser emitido em 2022.
O prazo é longo porque a identificação
biométrica do novo documento usa a ba-
se de dados do Tribunal Superior Eleito-
ral, que só deve terminar de cadastrar a
impressão digital dos 142 milhões de elei-
tores brasileiros em três anos.
Enquanto não se vê uma integração
completa do governo federal, a digitaliza-
ção do setor público se restringe a inicia-
tivas pontuais. Um caso em que a tecno-
logia vem ajudando está no programa
Bolsa Família. Com o uso de softwares de
análise de big data — nome dado a gran-
des volumes de dados —, o então Minis-
tério do Desenvolvimento Social (reno-
meado Ministério da Cidadania no gover-
no do presidente Jair Bolsonaro) agilizou
o procedimento de checagem de fraudes
do programa, poupando cerca de 1 bilhão
de reais aos cofres federais. Hoje, 14 mi-
lhões de famílias recebem o auxílio finan-
ceiro, beneficiando um total de 50 mi-
lhões de pessoas. “Pegamos a base do
Cadastro Único e a do Bolsa Família e
adicionamos informações de outras bases
administrativas de vários ministérios pa-
ra verificar se as pessoas não têm salários
acima dos que foram declarados”, diz
RAIGO PAJULA/AFP PHOTO
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TECNOLOGIA | GESTÃO PÚBLICA
265(1)
255(1)
246(1)
239
233
226
EDI VASCONVELLOS
2016 2017 2018 2019 2020 2021
(1) Estimativa Fonte: Ovum TMT Intelligence Escola Didácio Silva, em Teresina: a digitalização reduziu a evasão escolar no Piauí
O software faz o cruzamento de dados, Ninguém”, diz Ronaldo Lemos, especia- Essas startups que trabalham com gover-
com base em mais de 3 000 fontes. Ana- lista em direito digital, diretor do Institu- nos já têm até um apelido. São chamadas
lisando também informações sobre irre- to de Tecnologia e Sociedade do Rio de de “govtechs”, porque usam a tecnologia
gularidades em isenções de imposto pre- Janeiro e professor visitante na Universi- para melhorar processos burocráticos e
dial e territorial, cobranças indevidas e dade Columbia, nos Estados Unidos. Ele agilizar o atendimento ao cidadão. A con-
dívidas prescritas, há um potencial de acrescenta que o Brasil vive uma espécie sultoria Ovum TMT Intelligence, especia-
aumentar ainda mais a arrecadação e de “multiplicação das identidades digi- lizada no setor de tecnologia da informa-
economizar com os custos de processos tais”, porque cada órgão do governo vem ção, estima que os investimentos públicos
judiciais, o que ao todo pode chegar a 100 criando uma versão digital dos documen- em TI no mundo deverão crescer e atingir
milhões de reais em Itajaí. tos já existentes — título de eleitor digital, 265 bilhões de dólares até 2021, benefi-
Embora a tecnologia esteja sendo usada carteira de motorista digital, e-CPF, car- ciando as startups que atuam no setor.
com sucesso em ações de fiscalização, as teira de trabalho digital e assim por dian- Uma das empresas brasileiras que fazem
soluções digitais para os cidadãos ainda te. “Somos tão criativos que conseguimos parte dessa tendência é a Mobieduca.me.
são rudimentares. A maioria dos especia- usar a tecnologia para reproduzir no Ela desenvolveu um aplicativo para con-
listas critica principalmente a falta de mundo virtual a burocracia do mundo trolar a frequência dos estudantes nas es-
centralização dos serviços públicos para real”, afirma Lemos. colas públicas. Cada aluno recebe uma
que a população seja mais bem atendida. Enquanto nenhuma solução centraliza- carteirinha, com um código de barras, que
“Só o governo federal tem 48 aplicativos, da é criada, são as pequenas empresas de é retida quando ele entra na escola e de-
um para cada serviço. Quem em sã cons- tecnologia — as startups — que vêm de- volvida na hora da saída. A informação é
ciência baixa 48 aplicativos e fica alter- senvolvendo ferramentas para digitalizar registrada num sistema online, e os pais e
nando entre eles para fazer o que precisa? parte dos serviços municipais e estaduais. as mães dos estudantes podem checar,
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num aplicativo, se os filhos estão na escola.
O Piauí foi o primeiro estado a implemen-
tar o sistema em 2014. Hoje, 200 000 alu-
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FINANÇAS | BOLSA
A VOLTA
DOS BONS
TEMPOS?
Apenas três empresas estrearam na bolsa brasileira
no ano passado. O otimismo com a economia elevou
a lista para 30 candidatas em 2019. Seria um recorde
de aberturas de capital em 12 anos. Falta se concretizar
DENYSE GODOY
A
NO NOVO, GOVERNO NOVO E VIDA NO- 2007, quando 76 companhias foram à bol- com o fim da hiperinflação. Depois, teve
VA NA BOLSA. Pelo menos é isso sa, levantando 70 bilhões de reais. Esse novo salto durante o superciclo das com-
que esperam empresários, inves- entusiasmo começou a tomar forma já em modities, de 2001 a 2008, coroado pelo
tidores, consultores e banqueiros novembro, quando o Ibovespa, principal grau de investimento recebido pelo Bra-
de investimento. Entre IPOs (ofertas ini- índice acionário local, passou a engatar sil. Neste início de 2019, investidores vis-
ciais públicas de ações, na sigla em inglês) sucessivos recordes diante da expectativa lumbram um alinhamento de fatores
e follow-ons (ofertas subsequentes), a B3 de que a equipe econômica do governo macroeconômicos, culturais e regulató-
espera abrigar até 30 operações neste ano. Jair Bolsonaro, liderada pelo economista rios. As condições para a transformação
Na lista estão companhias dos mais varia- Paulo Guedes, seja capaz de implementar começaram a ser construídas com o mais
dos perfis: da rede de academias Smart reformas liberais. “Existe uma confluên- recente ciclo de redução dos juros, inicia-
Fit à unidade de cartões da Caixa Eco- cia de fatores positivos”, diz Felipe Paiva, do em outubro de 2016 durante o governo
nômica Federal, da cadeia de lojas de diretor de relacionamento com clientes Michel Temer. A nova realidade passou a
brinquedos Ri Happy à distribuidora da B3. A questão é sair da teoria para o exigir que os investidores saíssem um
Neoenergia. O volume pode chegar a 40 pantanoso mundo real. pouco da renda fixa e considerassem al-
bilhões de reais, pelas contas de agentes O mercado de capitais brasileiro costu- ternativas mais arriscadas, como as ações.
envolvidos na preparação dessas compa- ma avançar em ondas. Experimentou A mudança impulsionou uma nova onda
nhias. São números não vistos desde uma arrancada na época do Plano Real, de plataformas online de investimentos
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OS ALTOS E BAIXOS DA BOLSA
Em meio à crise, empresas deixaram
de captar recursos com as vendas de ações
Aberturas de capital e follow-ons no Brasil
Número de operações
Valor total (em bilhões de reais)
149
22 26
22
12 17
2 5 6 3
41,7
18 23 14,4 18,1
13 10,7 6,8
2010 2014 2018
Austrália 85
manter em alta neste ano
Europa 231
Fontes: B3, EY e mercado
e levou corretoras a aumentar os esforços piente retomada da economia. Quem se esperando para ver. O saldo de investi-
de educação financeira. O número de pes- atreveu a lançar operações de captação mento estrangeiro na B3 começou 2019
soas físicas investindo na bolsa deixou o depois acabou voltando atrás. Foi o caso como terminou 2018: com déficit, de 869
patamar de 500 000 em que estava esta- da empresa de serviços de tecnologia Ti- milhões de dólares. A alta de 18% no Ibo-
cionado desde 2008, subindo 10% em vit, da Smart Fit e do banco BMG. EXAME vespa em 2018 deixou as empresas do
2017 e 31% em 2018, para 813 000. apurou que os IPOs frustrados em 2018 Ibovespa caras: estão sendo negociadas,
A esperada onda de aberturas era para não conseguiram atrair o volume de re- em média, a 21 vezes os lucros estimados
ter ocorrido já em 2018. Na maior parte do cursos nem o preço desejado — as empre- para os próximos 12 meses, enquanto pa-
ano passado, entretanto, o clima foi de sas não deram entrevista. ra as companhias do índice Dow Jones,
cautela por causa das turbulências eco- Se 2019 será diferente é uma conclusão da bolsa de Nova York esse múltiplo é de
nômicas e políticas. Os únicos IPOs de que deve vir logo. A renovada esperança 16. A previsão do mercado é que os novos
2018 no Brasil — da operadora de planos se baseia, essencialmente, na promessa IPOs e follow-ons sejam efetivamente
de saúde cearense Hapvida, de sua con- de Guedes de reformar o sistema de Pre- abertos a partir do segundo trimestre. “É
corrente paulista NotreDame Intermédi- vidência Social. A proposta deve ser en- apenas uma questão de tempo para en-
ca e do banco mineiro Inter — foram le- viada para votação no Congresso em fe- grenar. No começo, devemos ver um nú-
vados a cabo em abril, antes de a greve de vereiro, segundo as estimativas do gover- mero maior de follow-ons do que de ofer-
caminhoneiros de maio atrasar a inci- no. Os investidores estrangeiros estão tas iniciais, porque é mais fácil o investi-
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FINANÇAS | BOLSA
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tas, 4 bilhões de dólares com suas ofertas. que beneficiem o mercado local. “Fazer
“Há um otimismo bastante grande em um IPO no exterior também é uma ma-
relação a esses novos modelos de negó- neira de internacionalizar a economia
cios, principalmente na área de meios de brasileira. A companhia que começa a
pagamento”, diz Thais de Gobbi, sócia do ser negociada em outros países precisa
escritório de advocacia Machado Meyer. assimilar padrões diferentes de gover-
O exemplo da PagSeguro mostra que, nança, que são colocados em prática pe-
mesmo que a onda de aberturas venha, los funcionários que atuam em suas uni-
ninguém garante que chegará às praias dades em território brasileiro”, diz Rena-
brasileiras. Além de mais maduro, o mer- to Ochman, sócio do escritório Ochman
cado americano seduziu as empresas bra- Real Amadeo Advogados. A bolsa está
sileiras ao viver, em 2018, um ano histórico, estudando permitir a dupla listagem,
quando recebeu 207 aberturas iniciais, que é a negociação de ações de uma em-
maior número desde 2014, de acordo com presa em mercados de nações distintas.
levantamento da consultoria EY. Agora, a Negocia com a Comissão de Valores Mo-
recessão econômica que se configura no biliários, também, autorização para que
horizonte e a paralisação da administração qualquer investidor brasileiro — e não só
federal na virada do ano com um impasse os que têm patrimônio em investimentos
na votação do Orçamento podem atrapa- de pelo menos 1 milhão de reais — com-
lhar as transações. Enquanto o presidente pre na bolsa local BDRs (Brazilian Depo-
Donald Trump se digladia com o Partido sitary Receipts, ações de empresas es-
Democrata, exigindo a liberação de 5 bi- trangeiras negociados na B3). Atualmen-
lhões de dólares para a construção de um te, companhias como Amazon, General
muro na fronteira com o México, várias Motors e Microsoft têm BDRs. Uma me-
atividades da SEC, órgão regulador do dida vista como fundamental pelos agen-
mercado de capitais americano, foram sus- tes é a confidencialidade das ofertas.
pensas. Em consequência, o esperado lan- Pelas regras atuais, assim que uma em-
çamento de ações de gigantes como os presa registra na bolsa e na CVM sua in-
aplicativos de transportes Uber e Lyft fica tenção de fazer um IPO ou follow-on,
empacado. O mau humor externo também esse projeto é anunciado ao mercado. Se
pode limitar a elevação do Ibovespa nos o cenário azeda e a companhia decide
próximos meses. “Os investidores estarão esperar mais para finalizar a transação,
atentos ao desenrolar das negociações co- acaba estigmatizada. Todas essas modi-
merciais entre a China e os Estados Uni- ficações devem sair ainda em 2019, em
dos. Aqui, a questão é saber se o governo um esforço da B3 para se renovar. “O IPO
Bolsonaro realmente conseguirá emplacar não é o objetivo final da empre a, é o co-
as medidas prometidas. Este primeiro tri- meço de seu relacionamento com os in-
ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
mestre será uma prova de fogo”, diz Gui- vestidores”, diz Levindo Coelho Santos,
lherme Sampaio, diretor de transações sócio sênior da G5 Partners, maior em-
corporativas e líder de IPOs da EY. presa independente de serviços financei-
A concorrência das bolsas americanas ros do Brasil. Não faltam candidatos a
fez a B3 estudar mudanças regulatórias começar um relacionamento em 2019.
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IDEIAS | TENDÊNCIAS
SETE
CAMINHOS
PARA OS
NEGOCIOS
Uma pesquisa feita em 87 países aponta
os movimentos sociais mais significativos no
mundo para os próximos três anos — e o que
eles representam para as empresas
DAVID COHEN
N
ÃO, O MUNDO DO TRABALHO NÃO CA- sobre nossos dados pessoais; a bioenge-
MINHA PARA UMA rotina mais pra- nharia; o aumento da importância das
zerosa. Em vez disso, o que está tradições locais; a substituição de estru-
no horizonte são “pílulas de la- turas verticais por redes de colaboração
zer”, o aproveitamento de pequenas pau- horizontais; e uma busca mais enfática
sas no dia a dia para criar momentos de pela expressão pessoal.
felicidade. Também não vamos passear Identificar esse tipo de tendência ajuda por exemplo.” Esse trabalho acontece em
mais; ao contrário, o hábito de pedir co- a definir investimentos de médio prazo, 87 países, feito por equipes multidiscipli-
mida em domicílio deverá extrapolar para especialmente num mundo em que as nares. Começa com a captura de expres-
aulas de ginástica e reuniões de trabalho, transformações têm se dado em ritmo sões na internet e evolui para entrevistas
além, é claro, de jogos e namoros online, frenético. A própria busca de tendências em profundidade. “Há seis anos, a gente
que já fazem a geração mais jovem nos mudou. “Até pouco tempo atrás, nosso identificou o crescimento do feminismo
Estados Unidos ficar em casa 70% mais trabalho era mapear algumas pessoas- em bolsões de jovens e artistas”, diz Da-
tempo do que a média da população. chave, identificadas como inovadoras ou niela. Partindo dos grandes movimentos,
Esses são dois dos movimentos que de- influenciadoras”, diz Daniela Dantas, di- a consultoria estabeleceu sete vetores de
vem transformar os negócios e a cultura retora regional da WGSN na América La- transformação para o futuro próximo.
nos próximos três anos, de acordo com a tina. Hoje, a empresa mapeia comunida-
companhia inglesa de previsão de ten- des e tribos diretamente. “Não dá para os 1. A GRANDE CISÃO ECONÔMICA
dências WGSN. Outros movimentos in- pesquisadores do Brasil não acompanha- Não chega a ser uma novidade o aumento
cluem o esforço para ganhar controle rem o que está acontecendo nas favelas, da desigualdade, mas ela virá acompa-
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pressão de investidores e consumidores 5. O AVANÇO DO “DATANOMICS”
pela responsabilidade ambiental. No Bra- Nos últimos meses tivemos o susto, com
sil, com uma ampla fatia da população a divulgação de diversos casos de mau uso
ainda à margem do mercado de consumo, dos dados de usuários de serviços. Segun-
é pouco provável que isso ocorra. De qual- do a consultoria, “a crescente percepção
quer modo, as empresas precisam ficar de de que os dados digitais que criamos são
olho nas consequências das mudanças uma commodity a ser comprada e vendi-
climáticas. A cadeia de café Starbucks, da vai levar à formação de um mercado
por exemplo, deve investir meio bilhão de de dados”. Um exemplo é a empresa ame-
dólares em dez anos para pesquisar grãos ricana Datawallet, uma plataforma em
resistentes à mudança de clima. que consumidores vendem suas informa-
ções às empresas.
4. O COMBATE AO EXCESSO
Se o ritmo de aproveitamento dos recursos 6. A SPLINTERNET
naturais do planeta continuar o mesmo, A explosão de microcomunidades e as
Apresentação no Rio
Parada Funk: a busca por
tendências precisa ser
feita em todas as tribos
FABIANO ACCORSI
nhada de um freio no crescimento global. em 2050 precisaremos de 70% mais maté- regulações e restrições de autoridades em
Isso favorece a automação, como forma ria-prima do que existe na Terra. De um vários países estão minando a noção de
de cortar custos e baratear os produtos. jeito ou de outro, portanto, a contenção do uma internet global e unificada. Num am-
consumo terá de ocorrer. As ações contra biente de várias redes, a oportunidade é
2. A POLARIZAÇÃO DEMOGRÁFICA o desperdício ainda parecem ser muito in- de construção de comunidades, até mes-
Também não é segredo que a população cipientes. Mas a consultoria prevê que elas mo ecossistemas próprios de comércio.
mundial está envelhecendo. Mas são ido- ganharão força. “Talvez não aconteça no
sos diferentes. O termo “gerontolescên- próximo ano, como a gente precisa, mas 7. O NOVO PODER DA CHINA
cia” vem ganhando força porque os ses- nos próximos cinco, sim”, diz Daniela. O Quem pensa na China como a indústria
sentões e setentões se mantêm ativos e movimento será mais das empresas do que do mundo está defasado. Em inúmeros
cheios de projetos pessoais. dos consumidores, com ações como a for- campos, o país se colocou à frente no jogo
mação de cadeias de parceiros para apro- da inovação. Por isso, quem quiser enten-
3. ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS veitar as sobras de produção e a conversão der para onde o mundo caminha precisa
Em tese, a tendência é que haja maior para energias reaproveitáveis. ter um olhar especial para a China.
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ESPECIAL | GOVERNO BOLSONARO
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
CONVICÇÃO,
Posse do
presidente Jair
Bolsonaro: os
primeiros dias
do governo foram
marcados por
cabeçadas entre
as equipes
68 | www.exame.com
PRESIDENTE
C
ONFUSÕES, DESENCONTROS, TROPEÇOS,
CABEÇADAS, TRAPALHADAS. Não faltam
termos para descrever as ocorrências
dos primeiros dias que se sucederam
à posse do presidente Jair Bolsonaro,
marcados por idas e vindas. Alguns
tropeços enriquecem a literatura das
bobagens de início de mandato no país, como o ace-
no de ceder espaço a uma base militar americana
em território brasileiro sem que nem sequer os Es-
tados Unidos tenham pedido isso. Já as cabeçadas
que entraram na seara da equipe econômica inco-
modaram bem mais. O episódio mais ruidoso foi
aquele em que Bolsonaro, em entrevista ao SBT,
disse que a idade mínima para aposentadoria, pon-
to crucial da reforma da Previdência, seria de 62 anos
para homens e 57 para mulheres, requisito que fica-
ria aquém da proposta que está hoje no Congresso,
herdada do governo Michel Temer. A declaração
pegou de surpresa nomes do primeiro escalão do
governo, que vieram a público dizer que não era bem
assim e tentar amenizar a repercussão negativa. Afi-
nal, Bolsonaro não saberia de pontos tão elementa-
res do principal projeto da área econômica após um
período de 54 dias do chamado governo de transi-
ção? Até agora permanece a dúvida: a escorregada
seria fruto da inexperiência de quem chega ao Palá-
cio do Planalto ou revelaria uma falta de convicção
sobre a medida mais importante para a economia?
Cientistas políticos e observadores do cenário
político não se surpreenderam com a confusão. Afi-
nal, Bolsonaro ganhou a eleição com uma estrutu-
ra amadora de campanha e seu partido, o PSL, era
nada mais do que um nanico na legislatura que se
encerra no final de janeiro. Faltariam, portanto,
gente experimentada e traquejo nas primeiras ações
da nova administração. Mudar a chave mental de
que campanha é campanha, governo é governo,
também ajudaria a evitar erros considerados cras-
sos. Mas prevalece, por ora, a versão de que as ca-
beçadas são fruto do ajuste de sintonia. “É normal
que ocorram trapalhadas de largada. Se numa em-
presa acontece isso em uma mudança de gestão,
O governo Bolsonaro começa com tropeços, imagine quando ocorre uma troca de governo”, diz
por enquanto sem mais consequências. o empresário Luiz Renato Durski Junior, dono da
rede de 141 restaurantes Madero. “O que importa é
Mas, para emplacar a aprovação da a disposição para fazer as mudanças na economia
e ter a equipe técnica para isso.” Em outras palavras,
reforma da Previdência — a medida mais é a confiança no superministro da Economia, Pau-
importante para a economia —, o novo lo Guedes, que tem sustentado o otimismo reinan-
te. Uma pesquisa inédita da Câmara Americana de
presidente terá de se empenhar Comércio com 58 presidentes de grandes empresas
pessoalmente para convencer a população mostra que mais da metade dos executivos acredi-
ta que a economia brasileira deverá crescer acima
e o Congresso ANDRÉ JANKAVSKI E FABIANE STEFANO de 2% já em 2019 — o restante espera um desempe-
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ESPECIAL | GOVERNO BOLSONARO
Paulo Guedes,
ministro da
Economia: sua
O CRIME NA MIRA equipe prepara
a versão da reforma
da Previdência que
Bolsonaro cumpre uma promessa: facilita será enviada
a Bolsonaro
a posse de arma. Mas o mais esperado
é o pacote que virá de Sergio Moro
EDUARDO ANIZELLI/FOLHAPRESS
Espírito Santo e Maranhão, crises quase sempre associadas
às saídas de presidiários autorizadas no fim de ano). Em
sua posse, o ministro Sergio Moro, da Justiça, prometeu
um pacote duro de segurança. “É preciso enfrentar os gru-
pos com leis mais eficazes, inteligência e operações coor-
denadas entre as diversas agências policiais, federais e
estaduais. O remédio é universal, embora nem sempre de
fácil implementação, mas passa pela prisão dos membros, nho que varia de zero a 2%. A maioria também projeta
isolamento carcerário das lideranças, identificação da es- que o faturamento de suas empresas deva crescer acima
trutura e confisco de seus bens.” As medidas ainda não de 10%. Otimismo é o que não falta no mercado finan-
foram anunciadas, mas já estão claras as linhas de ação de ceiro. Na segunda-feira 14, o índice Ibovespa superou
Moro. Entre elas está o investimento nas polícias estaduais pela primeira vez na história os 94 000 pontos. “Os
com recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública e a primeiros sinais dados pelo governo Bolsonaro são po-
padronização de procedimentos e estrutura. Outra é me- sitivos. O que se percebe é que há um alinhamento
lhorar a qualidade das penitenciárias federais, estaduais e entre o ministro da Economia, o mercado financeiro e
do Distrito Federal, oferecendo projetos e modelos de pre- o setor produtivo, algo que gera um cenário mais favo-
sídios. “Precisamos recuperar o controle do Estado sobre rável para fazer negócios”, diz Shelly Shetty, analista-
as prisões brasileiras com investimentos e inteligência”, chefe de rating da agência de classificação de risco
disse Moro. Esse é um ponto crucial. A onda de ataques que Fitch para a América Latina.
tem assolado o Brasil é coordenada de dentro das peniten- As relações entre governo, empresários e mercado
ciárias, onde vivem 726000 encarcerados, aumento de financeiro devem se manter cordiais se o projeto da
706% em relação ao número de 1990. “O crime organizado reforma da Previdência avançar. O próprio Guedes vem
nasce dentro das prisões”, diz Melina Risso, conselheira do falando o que o mercado quer ouvir sobre o tema. No
Instituto Igarapé. “Esta é a primeira vez que podemos ter discurso de posse no ministério, ele foi duro e disse que
no Brasil um enfrentamento organizado com a ajuda da o atual sistema de aposentadoria é “uma fábrica de
inteligência e chegar até os mandantes dos crimes.” É o que desigualdades”. Nos próximos dias, a primeira versão
o país espera que aconteça. do projeto de reforma gestado pela equipe econômica
deve chegar às mãos de Bolsonaro. A ideia é apresentar
uma reforma com idade mínima elevada e regras de
transição mais aceleradas do que a proposta do ex-
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-presidente Michel Temer. Um dos motivos para o en-
durecimento é o rombo fiscal. Outro é dar abertura a
modificações no texto que não alterem tanto o valor
que o governo pretende economizar nos próximos anos.
Nos corredores do Ministério da Economia fala-se que
a economia com a reforma chegaria a 1 trilhão de reais
em dez anos. A previsão de despesas com a Previdência
é de 768 bilhões em 2019. “O mercado está apostando
que tudo vai dar certo no novo governo, mas não vai
aceitar qualquer reforma”, afirma Sérgio Vale, econo-
mista-chefe da consultoria MB Associados. Ou seja,
uma reforma fraca pode afetar diretamente o cresci-
mento econômico do Brasil no longo prazo.
É possível que a configuração final da proposta de
reforma só seja conhecida no início de fevereiro, quan-
do o novo Congresso iniciar a legislatura. Até lá, conti-
nuarão o debate e a disputa sobre pontos como maiores
ou menores concessões a grupos como militares e ser-
vidores públicos. O que importa, porém, é o que virá
depois. “A fase crucial para o governo Bolsonaro é a da
defesa da proposta de reforma da Previdência”, diz
Christopher Garman, diretor para as Américas da con-
sultoria de risco político Eurasia. “A estratégia de co-
municação política que o presidente adotará é funda-
mental. Se ele perder nisso, ele perde quase tudo.” Isso
quer dizer que será decisivo o engajamento do presi-
dente junto ao Congresso e nas redes sociais, tão caras
a ele, na defesa de um projeto que é impopular. É uma
tarefa difícil, mas não impossível. Uma pesquisa da
corretora XP Investimentos sugere que a população
entendeu a importância da reforma: 71% das pessoas
ouvidas acreditam que as mudanças no sistema de apo-
sentadoria são necessárias. Ao mesmo tempo, muitos
OTIMISMO NO AR querem o fim dos privilégios. Cerca de 50% dos ouvidos
Uma pesquisa exclusiva realizada pela Câmara Americana são a favor da inclusão dos militares nas mesmas regras
de Comércio mostra que presidentes de empresas esperam dos trabalhadores — 16% dizem que eles precisam dar
que a economia brasileira retome o crescimento em 2019 sua contribuição, mas com regras especiais. Para com-
pletar, 41% das pessoas são a favor do aumento da con-
Em relação à economia brasileira, como você classificaria o atual cenário? tribuição dos servidores públicos para o INSS.
Além de se comunicar com a população, Bolsonaro
32% Manutenção dos indicadores
Retomada precisará assumir o protagonismo na área política. Lí-
econômicos, com melhora
econômica em do otimismo e evolução dos deres partidários ouvidos por EXAME afirmaram que
2019, com 66% indicadores a partir de 2020 nenhuma reforma será aprovada no Congresso sem um
melhoras nos esforço pessoal do presidente — colocando em risco,
indicadores de
especialmente, sua popularidade. “O presidente terá
consumo e 2% Incerteza econômica
produção já no em virtude das dúvidas de colocar seu capital político para aproveitar projetos
mesmo ano em relação ao novo governo que deixarão o Brasil em boa situação financeira”, diz
Nilson Leitão, deputado federal e líder do PSDB na Câ-
mara e derrotado na disputa pelo Senado em Mato
Qual é sua expectativa em relação ao cenário econômico do país em 2019? Grosso. “Se ele usar essa popularidade para vaidade ou
para aplausos fáceis, não chegará a lugar nenhum.”
51% 49% A despeito do desprezo de Bolsonaro pelo ex-pre-
BOA, o PIB crescerá acima de 2% REGULAR, até 2% sidente Luiz Inácio Lula da Silva, seria prudente que
o novo presidente avaliasse o que é considerada uma
das grandes vitórias da era Lula. Em 2003, em apenas
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ESPECIAL | GOVERNO BOLSONARO
Congresso Nacional: o partido do presidente,
o PSL, apoia a reeleição de Rodrigo Maia à
Câmara na tentativa de facilitar a aprovação
oito meses, o ex-presidente conseguiu tirar uma reforma da reforma da Previdência
da Previdência do papel e aprová-la no Congresso. Mes-
mo sendo uma reforma mais fraca do que a esperada
para este ano, o principal mérito de Lula foi ter obtido
o apoio da oposição ao texto: reuniu quase 70% dos vo-
tos dos partidos contrários ao dele. Apesar de Bolsona-
ro manter um discurso bélico contra seus opositores,
especialmente os ligados ao PT, uma ala à esquerda
pode trazer votos importantes para a aprovação da re-
forma da Previdência. O bloco formado por PSB, PDT e
PCdoB, que conta com 69 deputados, está acenando que
aceita discutir a possibilidade de votar a favor da pro-
posta do governo. “Não faremos a oposição de quanto
pior, melhor”, afirma o deputado federal Tadeu Alencar,
líder do PSB na Câmara dos Deputados. “Temos proble-
mas monumentais no Brasil para agir com imaturida-
de.” O discurso é acompanhado pelo congressista André
Figueiredo, líder do PDT. “Vamos discutir a reforma da
Previdência, mas somos contra outras pautas, como
MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO
privatização em setores estratégicos.” Já o PT, que pos-
sui a maior bancada, com 56 deputados, deve continu-
ar sendo contra qualquer projeto de responsabilidade
fiscal que o governo tente mandar ao Congresso. “A
única coisa que se ouve falar é a reforma da Previdência,
como se o ajuste fiscal fosse a única solução”, afirma o
deputado federal José Guimarães, líder do PT.
Previdência no Congresso
ças que estão sendo costuradas no momento. O novo
secretário de Previdência e Trabalho do ministro da Eco-
nomia, Rogério Marinho, afirmou ao assumir a pasta que
o governo editará uma medida provisória em breve para
coibir fraudes no sistema previdenciário. Nas contas do
Não ajuda a ganhar pontos entre os partidos a atual novo governo, haveria mais de 2 milhões de benefícios
estratégia do governo Bolsonaro no Congresso. Egresso previdenciários com indícios de fraude que precisam ser
do chamado baixo clero, composto de deputados de bai- auditados pelo serviço federal. A medida provisória pre-
xa estatura política, o presidente tem afagado os repre- cisa ser aprovada pelo Congresso em até 120 dias e depois
sentantes desse bloco. As negociações com as bancadas ser sancionada pelo presidente. “É uma oportunidade de
temáticas — sobretudo a do agronegócio e a dos evan- mapear o número de votos com que o novo governo pode
gélicos — parecem que também não devem ter vida contar”, diz o analista Garman. Se funcionar, haverá ga-
longa. “A bancada temática ajudou a compor o governo, nho de força para emplacar uma reforma mais dura. Ou-
mas quem vai encaminhar os votos são os partidos. O tra possibilidade é aproveitar a reforma do governo Te-
sistema dentro da Câmara não mudou e não vai mudar”, mer, a PEC 287, que já está no Congresso. “O governo não
diz Leitão, do PSDB. A movimentação do PSL, partido tem tempo a perder. Se votar e vencer no primeiro trimes-
do presidente, para apoiar a reeleição de Rodrigo Maia tre, aproveitando a PEC 287, será uma vitória estupenda.
à presidência da Câmara mostra que o governo reconhe- O governo se livra do desgaste logo no início”, afirma
ce esses desafios. Essa é a opinião de Luciano Bivar, Fernando Schüler, cientista político e professor na esco-
deputado federal eleito e presidente do PSL. Segundo o la de negócios Insper. Tudo depende da convicção e do
futuro congressista, até as brigas do partido ficaram pa- empenho pessoal de Bolsonaro em transformar o princi-
ra trás. “As discussões públicas foram arrufos que já pal projeto econômico de seu governo em realidade. Q
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em 2018 foi de 29 bilhões de dólares.
Para completar, nos últimos dez anos
as empresas chinesas investiram 55
bilhões de dólares por aqui, segundo
levantamento do Conselho Empresa-
rial Brasil-China. “A China tem grande
responsabilidade por não ter sido pior
a crise no Brasil”, diz Charles Tang,
presidente da Câmara de Comércio
Brasil-China. Para ele, se o presidente
Abate de frango em Londrina: Bolsonaro não se retratar e deixar cla-
GERMANO LÜDERS
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ESPECIAL | GOVERNO BOLSONARO
CRESCIMENTO
SEM SUBSÍDIO
O secretário especial de Produtividade e americano? Por três razões. A primeira é que o governo
começou a atrapalhar cada vez mais. O ambiente para
Competitividade, Carlos da Costa, defende fazer negócios e produzir piorou muito no Brasil. Fo-
A
investindo em título público. Acreditamos que pode-
mos voltar ao patamar anterior em até dez anos. Ou até
antes, dependendo das reformas.
EQUIPE DE PAULO GUEDES, CONSIDERADO UM
“SUPERMINISTRO DA ECONOMIA”, também Alguma das microrreformas propostas pela gestão
conta com seus “supersecretários”. Um anterior, como a Lei de Falências e o Cadastro
deles é o economista Carlos da Costa, Positivo, terá uma atenção especial de sua pasta?
que comanda a Secretaria Especial de É necessário fazer com que aquelas microrreformas
Competitividade e Produtividade. O ór- andem. Pouquíssimas foram para a frente. Por causa
gão, segundo o próprio Costa, abarca das dificuldades políticas do governo anterior, elas
praticamente 80% das funções do antigo Ministério pararam. Não existe uma prioritária, pois estamos reor-
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e 40% do ganizando tudo. Temos de analisar o impacto e a via-
Ministério do Trabalho e do Emprego. A missão do bilidade política de cada uma. Mas a agenda de produ-
secretário é diminuir a burocracia estatal para trazer tividade está em todas as secretarias, justamente por-
mais produtividade à iniciativa privada e estimular a que temos uma estrutura muito maior e concentramos
criação de empregos. A meta? Gerar cerca de 10 mi- esforços de quatro antigos ministérios. Dessa maneira,
lhões de novas vagas nos próximos quatro anos. O se- conseguiremos avançar ainda mais.
cretário, que já foi diretor de Planejamento, Crédito e
Tecnologia no BNDES, deixa um recado claro: a era de Quais são as prioridades dos primeiros 100 dias?
subsídios para setores específicos acabou. Temos prioridades na secretaria que não são necessa-
riamente as mesmas do governo e do Ministério da
Qual é seu diagnóstico sobre a situação do país? Economia. As três prioridades na área econômica são
Existe um diagnóstico relativamente simples. Como a Previdência, Previdência e Previdência, e estamos
produtividade do trabalhador no Brasil caiu de 40%, bem alinhados nisso. Mas, em nossa secretaria, as
que já era baixo, para 23% da média de um equivalente prioridades estão no nome: produtividade, emprego
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mais intensivos em mão de obra, como construção
civil e serviços. Estamos trabalhando para identificar
os principais gargalos desses setores e rapidamente
resolvê-los. Mas é importante ressaltar que não que-
remos que o governo seja a mola mestra de nada. Quem
cria emprego é a iniciativa privada.
e competitividade. A ordem temporal não é necessa- É possível diminuir os subsídios sem prejudicar as
riamente essa. A prioridade número 1 deste ano será empresas? Como o senhor vai enfrentar os lobbies?
a retomada do emprego. Estamos vivendo uma tragé- Não estamos lutando com as empresas nem contra o
dia com 26 milhões de pessoas no país sofrendo com lobby. Só que existe o lobby ruim e o lobby bom. Aque-
a falta de emprego diretamente. le lobista que faz um bom trabalho fala das dificulda-
des e mostra soluções. Já o lobby ruim é aquele que
Já há alguma medida mais prática em vista? utiliza ferramentas pouco republicanas. Queremos
Existem alguns projetos. Um exemplo é a utilização da trocar o lobby por um diálogo que seja produtivo e que
ferramenta do Sistema Nacional de Emprego, que per- torne o Brasil competitivo. Para completar, todo liberal
mite fazer a recolocação de desempregados. Hoje, ele é um evolucionário, e não um revolucionário. Não so-
tem uma efetividade baixa. Estamos realizando um mos os donos da verdade. Por isso, não mudaremos
estudo profundo e emergencial para torná-lo muito nada da noite para o dia. Vamos mudando aos poucos.
mais efetivo nessa combinação entre trabalhador e
empresa, como um aplicativo. Fazer com que a empre- Especialistas têm criticado a linha adotada pelo
sa saiba quem é a pessoa mais qualificada para a vaga setor de relações exteriores do governo. A equipe
e o trabalhador saiba onde ele é necessário. econômica tem o mesmo pensamento do Itamaraty?
Temos um presidente que foi eleito e está no comando
Falta tecnologia para esse sistema ser mais efetivo? de todos nós. Ou seja, seguimos a orientação do presi-
Também falta efetividade. Já existe um sistema digital dente em todas as áreas. Agora, não é por falta de in-
desenvolvido, mas ele não tem uma usabilidade boa. vestimento estrangeiro que teremos problema. O mun-
Queremos torná-lo muito mais efetivo. Também esta- do inteiro está de olho no Brasil. Não será por falta de
mos desenvolvendo trabalhos para setores que são investidores que vamos sofrer.
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ESPECIAL | GOVERNO BOLSONARO
DIVULGAÇÃO
N
A CABEÇA
ÃO HÁ ENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL DAS
FORÇAS ARMADAS, portanto não se pode
caracterizar a nova administração do
MILITAR
país como um governo militar. Mas,
com um terço do ministério, um presi-
dente e um vice-presidente de origem
militar, também não pode haver dúvida
de que o bloco da farda vai definir partes importantes
da agenda nacional. Ele é mais influente do que o dos
evangélicos, mais abrangente do que o bloco da bala,
mais contundente do que o agrobloco, e de certa for-
ma fiador do bloco dos liberais. E, o mais curioso de
tudo, não se considera um bloco.
Um terço do ministério, além A rigor, não é mesmo. O mito de que os militares têm
um pensamento tão uniforme quanto as manobras que
do presidente e seu vice, vem das fazem em campo é apenas um mito. Basta observar os
Forças Armadas. Como seus exemplos dos dois primeiros presidentes da República.
Os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto
valores e visão de mundo podem eram opostos em personalidade e pensamento políti-
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Escola de nigna, a convicção amplamente majoritária de que não
sargentos: devem se arrogar a administrar o país. Pelo menos não
ética do
coletivo como instituição. Mas, depois de passar anos retraídos,
acima do muitos militares acreditam que devem prestar serviços
individual fora de suas bases. Como disse o general Augusto He-
leno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional
(GSI), em entrevista à Globonews: “O regime militar
fez o Brasil esquecer o que se investe em nossa forma-
ção. Eu, por exemplo, passei 20 dos meus 45 anos de
serviço estudando o país. Não usar isso é um desper-
dício”. Ainda mais considerando que as universidades
militares são polos de excelência.
Em linhas gerais, portanto, os militares que ocupam
postos no governo Bolsonaro estão lá como indivíduos,
não como representantes das Forças Armadas. O ge-
neral Heleno vai mais longe: “Não acredito nessa his-
tória de sociedade civil e sociedade militar; existe só
uma sociedade, que é a brasileira”. Aí já é um exagero.
As Forças Armadas brasileiras alimentam-se de recru-
tas provenientes principalmente da classe média bai-
xa. Mais do que isso, o índice de endogenia é alto: um
elevado número de oficiais tem parentes militares. A
partir dessa base mais homogênea do que o universo
da sociedade em geral, acrescenta-se a doutrinação de
uma ética que o cientista político americano Samuel
Huntington, no livro O Soldado e o Estado, de 1957, cha-
mou de “realismo conservador”.
Segundo Huntington, o militar vai sempre colocar
o bem comum acima dos interesses do indivíduo. Ele
acredita que o ser humano é essencialmente mau e por
isso há sempre ameaças à nação, mesmo se não forem
imediatamente visíveis. O profissional militar deve
estar sempre pronto para o inevitável conflito — em-
ma antagônica à dele. Também no regime militar im- bora nunca se sinta devidamente preparado. E, apesar
posto em 1964 os dois primeiros presidentes coman- de reconhecer a inevitabilidade da guerra, prefere
davam campos opostos: Castello Branco pretendia evitá-la, porque conhece seus horrores. “A ética militar
devolver o poder aos civis, Costa e Silva abriu o cami- é então pessimista, coletivista, orientada ao poder,
nho para o endurecimento do regime. Na oficialidade nacionalista, militarista, pacifista e instrumentalista
como um todo, havia divisões profundas. “Basta dizer em sua visão da própria profissão.”
que o setor proporcionalmente mais atingido por cas- Isso é impresso nos militares pela convivência e por
sações a partir de 1964 foi o das Forças Armadas”, diz uma formação continuada. “Quando um médico faz
o historiador Boris Fausto. Nas três armas, mais de 400 seu juramento de Hipócrates, o compromisso fica mais
oficiais foram passados à reserva, incluindo 24 dos 91 a cargo de cada um”, diz o general Bassoli. “O grupo
generais na época, segundo o jornalista Elio Gaspari não está cobrando dele o tempo todo. Nas Forças Ar-
no livro A Ditadura Envergonhada. madas, sim. No dia a dia, no contato permanente com
Quem acredita que os militares pensam em bloco a tropa, nós reforçamos a coesão, o espírito de corpo.”
esquece de uma óbvia realidade. “O Exército não vem Os dois pilares da vida militar são hierarquia e disci-
de Marte, vem da sociedade brasileira”, diz o general plina. Sobre eles se erguem amor à pátria, honra, ho-
Douglas Bassoli, um disseminador dos valores do Exér- nestidade, lealdade, espírito de sacrifício, preservação
cito, lotado neste novo governo no Ministério da Defe- da natureza… Com esse conjunto de valores, é quase
sa. Dito isso, também é verdade que ninguém passa natural que os militares olhem a sociedade civil como
incólume pela experiência do serviço militar, que in- uma estrutura aquém do desejado, uma “bagunça”.
cute percepções e valores muito particulares em seus Como escreveu o cientista político americano Alfred
integrantes. E a própria experiência de 21 anos no poder Stepan em Os Militares na Política, de 1975, apesar de
deixou sequelas nas Forças Armadas. Uma delas, be- pertencerem à classe média, os oficiais brasileiros
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ESPECIAL | GOVERNO BOLSONARO
Mas, na formação dos oficiais, a discussão é estimulada. conta da complexidade. Leirner também enxerga a bata-
“Nos níveis mais altos, trazemos mais gente para anali- lha pela mente dos cidadãos, o que valeu a Bolsonaro a
sar a situação, mais dados”, diz Bassoli. “Nossos métodos Presidência, como uma extensão das operações psicoló-
de análise são inclusive usados em empresas, porque gicas que as Forças Armadas passaram a considerar des-
ritualizam as negociações.” O caminho inverso também de os anos 60. “É o que hoje está se chamando de guerra
é trilhado. “Nós trazemos muitas novidades do meio híbrida, o uso de movimentos e pautas, especialmente
empresarial para o militar. O Exército se considera uma identitárias”, para conquistar posições.
organização que aprende.” Essas posições tendem a ser conservadoras. “Hoje, as
Há, porém, algumas limitações. Primeiro, de ordem ideias que a gente prega, para manter a tradição, estão mais
moral. O militar que se rende a negociatas é considerado no campo da direita. Por causa do interesse do conjunto,
indigno da farda que veste. Mas também de postura. “A da liberdade… Isso não quer dizer que ideias de esquerda
visão militar se funda em dicotomias”, diz o antropólogo sejam tolhidas. De jeito nenhum”, diz o general Bassoli.
Piero Leirner, professor assistente na Universidade Fede- Não são tolhidas, mas, como diz Boris Fausto, “as diferen-
ral de São Carlos, estudioso de hierarquias militares. “O ças políticas são muito menores do que no passado”.
universo se funda numa dicotomia entre valores militares A própria conversão do presidente Jair Bolsonaro ao
e valores paisanos, organização militar e desorganização credo liberal, há quem a atribua a uma mudança de pos-
paisana.” O mundo, segundo ele, é tratado como uma tura dos militares. A Academia Militar das Agulhas Ne-
“hierarquia de dicotomias”. A visão dualista, dividida gras já teve um viés nacional-desenvolvimentista. Mas
entre certo e errado, bom e ruim, é insuficiente para dar a doutrina vem mudando. Houve uma revisão da orien-
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Treinamento na Academia Militar
das Agulhas Negras: uma doutrina
“mais no campo da direita”
Laboratório do Instituto
GERMANO LÜDERS
Tecnológico de Aeronáutica:
excelência na formação
tação estatista, que aos poucos passou a ser identificada que a sociedade esteja mais bem servida quando cada um
como a agenda do Partido dos Trabalhadores. Tanto que, persegue seus interesses individuais, e não quando todos
em abril do ano passado, o general Maynard Marques agem pensando no bem coletivo. Não são valores com-
de Santa Rosa, exonerado no governo Lula por ter escri- pletamente opostos. “O interesse individual honesto,
to uma carta contra a Comissão da Verdade (que inves- visando ao crescimento, é ótimo”, diz o general Bassoli.
tigou abusos durante a ditadura) e recentemente nomea- “Mas são visões diferentes, sem dúvida.”
do para a Secretaria de Assuntos Estratégicos, proferiu Do bloco militar pode-se esperar, portanto, que cada
uma palestra enumerando as prioridades para o Brasil medida liberalizante tenha de passar pelo crivo dos in-
— muito semelhantes à pauta que Bolsonaro está ado- teresses nacionais — da privatização da Embraer à de-
tando: redução do Estado, tornar mais flexíveis as leis marcação de terras indígenas. Esses “interesses nacio-
trabalhistas, ênfase no ensino técnico e “desideologiza- nais” não podem ser determinados a não ser por alguma
do”, mais poder de repressão à violência, desenvolvi- ideologia — tão enraizada que se considera “desideolo-
mento da Amazônia e, mais para a frente, uma revisão gizada”. As Forças Armadas, enquanto instituições, es-
constitucional. Para esta última prioridade, Santa Rosa tão alheias a esse processo. A disposição dos militares
admite não haver clima agora, portanto prega uma — enquanto indivíduos — em participar da vida políti-
“campanha psicológica de longo curso”. ca é saudável, pelo nível técnico e pela inspiração. “Ima-
Se é verdade que as Forças Armadas deram uma gui- gine o que nós poderíamos realizar se seguíssemos o
nada rumo ao liberalismo (na economia), torna-se menos exemplo de desprendimento e eficiência de nossas tro-
provável que o presidente recolha o apoio que tem dado pas”, disse o ex-presidente americano Barack Obama,
ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Porém, isso não em discurso sobre o estado da nação em 2012. Mas há
significa que a conversão não tenha ruídos. A começar algum risco. De acordo com a Teoria da Concordância,
pelo lema da pátria, tão caro aos militares. “Ordem e pro- da cientista política Rebecca Schiff, professora na Uni-
gresso” é um credo positivista, ainda caro às Forças Ar- versidade de Michigan, um dos principais requisitos
madas, mas hoje se supõe que o progresso só é atingido para a manutenção das boas relações entre civis e mili-
com certo grau de desordem — a bagunça produzida tares é que o papel das Forças Armadas não se expanda
pelo dinamismo criativo, a quebra de regras promovida para áreas de responsabilidade previamente ocupadas
pela inovação. O liberalismo clássico também pressupõe por civis. Nisso o Brasil está mudando. Q
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EXAME VIP
EDIÇÃO IVAN PADILLA
ivan.padilla@abril.com.br
LIU JIE XINHUA/EYEVINE/GLOW IMAGES
TECNOLOGIA
UM SER ANALÓGICO
PERDIDO ENTRE OS BYTES
A feira CES como exercício de evolução da espécie CHICO BARBOSA, DE LAS VEGAS
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A nova TV da ra tal empreitada. Voltei a lembrá-lo de gar errado — e não por causa do local,
LG: com até que minha praia eram carros, diversão claro, mas dos habitantes. Crachás pen-
65 polegadas, ao volante, estradas, estilo de vida mes- durados no pescoço de executivos dos
pode ser
enrolada mo, tendo a máquina como companhia. quatro cantos do mundo balançavam de
como um Que achava que meu melhor estava em um lado para o outro, indicando que se
pôster descrever experiências, coisa e tal. Que tratava, mesmo, de uma feira de negó-
não era um sujeito tecnológico. E emen- cios internacional, e não de uma mostra
dei com o argumento que eu acreditava concebida na medida para encantar os
ser realmente imbatível: geeks. Onde estavam os painéis, as luzes,
— Pô, sou um ser analógico, professor. as invencionices, as disrupturas, a tão
Ao que ele respondeu: comentada futurologia que a mídia se
— Pronto, já temos a pauta. Boa viagem! delicia em divulgar? Ansiedade de ama-
O bom cabrito não berra. Dias depois, dor. Precisaria andar mais para ser aten-
estava eu lá, me sentindo um marinhei- dido. Até que encontrei um estande
ro de primeira viagem, vejam só, depois alinhado com minhas expectativas, di-
A tecnologia
I2V, da Nissan:
o motorista
DIVULGAÇÃO
antecipa o que
vai acontecer
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EXAME VIP
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CULTURA
O crime compensa
Personagens à margem da lei nas telas e nas páginas —
e de quebra a cinebiografia do ex-vice-presidente americano Dick Cheney
MARCELO OROZCO
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
FILME FILME SÉRIE LIVRO
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EXAME VIP
BELEZA
O PERFUME É O
NOVO VINHO
Aprendemos, com o tempo,
a diferenciar um cabernet sauvignon
de um tannat. Agora os consumidores
estão começando a identificar
os diferentes tipos de fragrância
CLÁUDIA DE CASTRO LIMA
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DIVULGAÇÃO
O bê-á-bá
da perfumaria
As principais famílias
olfativas para você
virar um connoisseur
Cítrica/aromática: composta de fra-
grâncias leves, refrescantes e energéti-
cas, com notas cítricas (limão, tangeri-
na, laranja, lima) ou ervas aromáticas
(tomilho, sálvia, menta, alecrim, anis).
Lavanda: combina notas de flores de
lavanda, gerânio e musk. É mais fresca,
alegre e vibrante.
Floral: é a mais importante das famílias
olfativas femininas. As fragrâncias são
envolventes e transmitem feminilidade
e delicadeza. Essa família pode se dividir
DIVULGAÇÃO
ingredientes e os processos tornam-se do”, diz o perfumista Isaac Sinclair, da Floriental: combina o bouquet floral
únicos em cada produto.” casa de perfumaria Symrise. Uma prá- com a sensualidade das fragrâncias
O mercado global de perfumes movi- tica da empresa brasileira bastante re- orientais. Pode se dividir em subtipos,
mentou 49,4 bilhões de dólares em 2017, conhecida foi o reflorestamento da zona
como frutal, amadeirado ou gourmand.
segundo a consultoria Euromonitor. rural de Abaetetuba, no nordeste do Chypre: marcantes, suas fragrâncias
Em 2013, foram 41 bilhões. E, para 2020, Pará. Antes tomada por pastagens de- resultam de uma combinação de madei-
a projeção é de 53,7 bilhões. Segundo gradadas, resultado das queimadas en- ras e musgos.
Bueno, o crescimento se deve ao maior tre as safras de cana-de-açúcar, a região
Fougère: nasceu de uma mistura de la-
conhecimento por parte do consumi- agora concentra plantações de espécies
vanda, gerânio e cumarina (do perfume
dor. “Há alguns anos o consumidor pro- como andiroba, murumuru e ucuuba, Fougère Royale, de 1882) e evoluiu com
curava um perfume suave, doce ou cultivadas pela população local e usadas notas frescas, cítricas, herbais, florais e
amadeirado. Hoje, existe cliente que como matéria-prima de cosméticos. frutais. É a mais expressiva das famílias
pede determinado ingrediente. Ele sabe A Bulgari lançou recentemente sua masculinas. Pode se dividir em fresco,
a diferença entre eau de toilette e eau de fragrância mais ecologicamente corre- aromático, amadeirado e ambarado.
parfum e questiona a dosagem.” ta, a Man Wood Essence, com fornece-
Uma questão que ganha cada vez mais dores de matéria-prima sustentável.
Amadeirada: inicialmente considerada
uma subfamília, ganhou espaço com o
peso no mercado de consumo em geral “Selecionamos com critério nossos
crescimento do mercado. Suas fragrân-
diz respeito à sustentabilidade. “As mar- parceiros, colocando o ecodesign, a sus-
cias, baseadas em madeiras clássicas,
cas de cosméticos estão, como conse- tentabilidade e a responsabilidade so-
como vetiver, sândalo e cedro, viraram
quência, cada vez mais preocupadas com cial como prioridades”, diz Sebastiani.
clássicos do mercado masculino.
isso. A Natura, por exemplo, está entre É uma evidência de que fragrância boa
as empresas mais sustentáveis do mun- não se reconhece apenas pelo nariz. Q
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ROBERT DEUTSCH/REUTERS
ESTILO
BOLA FORA
Como o tênis virou um esporte fashionista — e, ao mesmo tempo,
um dos mais opressores para as mulheres PEDRO DINIZ
NO UNIVERSO DE POSSIBILIDADES DA MO- topher Bailey, ex-Burberry, e Virgil va, suas escolhas parecem ser feitas
DA ESPORTIVA, de onde parte a maioria Abloh — que criou para ela uma roupa para desafiar os padrões engessados
das inovações de tecidos tecnológicos, de um ombro só combinada a um tutu dos campeonatos.
o tênis é uma das modalidades com de bailarina, usada no último Aberto O controverso macacão que a Nike
viés de estilo mais aflorado. Saias cur- dos Estados Unidos, em agosto —, Sere- criou para Serena é apenas a ponta de
tas, tops, listras, cintos coloridos e fai- na coleciona tanto looks quanto títulos. lança de uma discussão sobre os códi-
xas de cabeça vêm e vão ao sabor das Lavanda, vermelho, preto e, claro, gos do esporte glamoroso, que encontra
tendências — e não é de agora. branco estão na cartela cromática da agora no Aberto da Austrália, iniciado
Nesse lado da quadra, a americana tenista. Neste início de temporada, ela em 14 de janeiro com duração até o dia
Serena Williams, de 37 anos, recordista tem repetido o tutu preto de Abloh e 27, sua maior passarela. Concebido co-
em títulos de Grand Slam com 23 con- usou um conjunto rosa de sua patroci- mo um acessório terapêutico para me-
quistas, é também uma campeã. Hoje a nadora, a Nike, com uma tela vazada lhorar a circulação da tenista prejudi-
tenista mais próxima da indústria da do tronco às coxas. Mais do que levar cada por problemas adquiridos no pós-
moda, amiga de estilistas como Chris- outro senso de moda à prática esporti- -parto, o conjunto, batizado de “roupa
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Serena Williams no Aberto
dos Esta dos Unidos, no ano
passado: uniforme criado
por Virgil Abloh
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SETE
PERGUNTAS
PARA MOZART NEVES RAMOS
Os reais desafios
da educação
SILVIA COSTANTI/VALOR/FOLHAPRESS
Rejeitado pela bancada evangélica para o Ministério
da Educação, Mozart Neves Ramos diz que o governo
Bolsonaro pode equacionar o problema do ensino
e garantir que toda criança seja alfabetizada LETÍCIA NAÍSA Mozart Ramos: “Crianças não têm partido e precisam de educação boa”
Na campanha eleitoral, a principal promessa do presidente Jair Uma das promessas de Bolsonaro é o projeto Escola Sem
Bolsonaro para a educação girou em torno da influência ideoló- Partido, que foi arquivado. A ideia perdeu força?
gica nas escolas. A realidade e os números mostram que há pro- Havia a expectativa de que o projeto de lei passasse pela comis-
blemas mais urgentes. Para Mozart Neves Ramos, diretor do são da Câmara no fim de 2018 e fosse votado em plenário neste
Instituto Ayrton Senna, a prioridade deveria ser pôr em prática ano. Mas, como nem sequer saiu da comissão, a princípio perdeu
a base comum curricular, além de ampliar a alfabetização. Co- força. Como o Congresso agora contará com muitos deputados
tado para o Ministério da Educação antes da escolha de Ricardo do PSL, pode ser que o tema volte a ganhar terreno.
Vélez, Ramos falou a EXAME sobre o panorama da educação.
Acredita que o governo mudará a base nacional curricular?
Quais medidas devem ser prioridade na área de educação? Certos pontos da base curricular se chocam com valores de in-
É preciso formar bons professores e elaborar materiais didáticos tegrantes do governo. O que a equipe pode fazer é influenciar
de acordo com a base nacional comum curricular. Também te- na formulação do material didático. No entanto, é importante
mos de melhorar indicadores, com a educação integral e a ado- lembrar que o Estado brasileiro é laico e não pode haver ideolo-
ção de tecnologias adequadas ao mercado de trabalho 4.0. Se o gia política nem religiosa nas escolas. Isso está na Constituição
país quiser ser um protagonista, não pode ter 55% dos alunos do e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
3o ano do ensino fundamental sem saber ler, contar nem escre-
ver. Este governo tem condições de equacionar o problema em O senhor chegou a ser cotado para assumir o Ministério
quatro anos, principalmente se mobilizar o país. Pode fazer o da Educação. Por que não deu certo?
que Lula fez com o Fome Zero e criar o Analfabetismo Zero. Em geral, existe mais de um fator a ser levado em conta na hora
de escolher um ministro. Além da competência técnica, precisa
Como fazer que toda criança de até 7 anos seja alfabetizada? haver apoio dos aliados e ficou claro que a bancada evangélica
É essencial melhorar a gestão em termos de metas, resultados buscava outro perfil. Isso é natural. Mas estou motivado a ajudar
e financiamento. Em 2000, o Brasil investia anualmente 2 100 o ministro Ricardo Vélez e sua equipe, porque crianças e jovens
reais por aluno. Agora, investe 6 300 reais. Triplicamos o inves- não têm partido e precisam de educação boa.
timento e continuamos num patamar baixo de aprendizado.
Nesse sentido, qual é o papel do corpo técnico do Ministério?
Algum projeto serve de modelo para mudar essa situação? Quem opera o dia a dia no Ministério são os funcionários de se-
Existem escolas no interior do Piauí com resultados fabulosos. gundo e terceiro escalão. Esses servidores podem ajudar parte
Já o Ceará avançou porque lá a redistribuição do ICMS não tem da equipe que não tem tanta experiência na área pública. Bolso-
como base só o número de crianças matriculadas, mas, sim, o naro e o ministro Vélez escolheram a educação básica como prio-
total de alunos alfabetizados. Desse modo, o prefeito cobra do ridade, o que eu concordo, mas não podem deixar de reconhecer
secretário de Educação que as crianças sejam alfabetizadas. que as universidades federais precisam de cuidado.
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