FACULDADE DE DIREITO
NELSON CHIPARANGA
4º ANO
CURSO NOCTURNO
FRAUDE À LEI
NAMPULA
2020
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
NELSON CHIPARANGA
4º ANO
CURSO NOCTURNO
FRAUDE À LEI
NAMPULA
2020
ÍNDICE
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
2.2.1 Consequência....................................................................................................6
CONCLUSÃO..........................................................................................................................11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................12
INTRODUÇÃO
O presente trabalho com o subordinado tema “Fraude à Lei” constitui uma abordagem
bastante relevante para efeitos de estudo da disciplina do Direito Internacional Privado, uma
vez que maior parte dos profissionais de Direito, tem pouco domínio das matérias desta área,
havendo dificuldade na resolução dos conflitos emergentes de relações privadas estabelecidas
no âmbito internacional, provocando deste modo, a morosidade processual que é um outro
problema que afectam a Justiça.
Para elaboração do trabalho, tenho omo objectivo geral estudar a Fraude à Lei. E tem
como objectivos específicos: conceituar a Fraude à Lei; descrever a Configuração do
problema; demonstrar as doutrinas que discutem este problema; e perceber as consequências
deste problema.
Quanto aos procedimentos metodológicos, importa referenciar que o grupo optou pelo
método dedutivo, e tipo de pesquisa qualitativa e bibliográfica.
1
1 CAPÍTULO I: FRAUDE À LEI
A fraude à lei (evasion oflaw ou fraude à la loi) ou criação fraudulenta dos elementos de
conexão (fraudulent creation of points of contact) refere-se às partes de uma norma jurídica
internacional (civil e comercial) que aproveitam artificialmente uma norma de conflitos e
criam propositadamente um elemento de conexão para fugir à aplicação do direito interno que
devia ser aplicado, e por conseguinte, aplicam o direito estrangeiro que lhe beneficia.
Porque a designação da lei depende de elementos de conexão, e da vontade das partes, por
exemplo, nacionalidade, domicílio, lugar onde a pessoa se encontrar, etc. Se as partes, com
um determinado objectivo, abusarem da liberdade de criação e mudança do elemento de
conexão, obviamente não é vantajoso para a segurança da ordem jurídica, nem para a
implementação da política jurídica do direito interno.
A fraude à Lei como elemento subjectivo à Lei, vai consistir em alguém iludir a
competência da lei de aplicação normal a fim de afastar um preceito de Direito material dessa
lei, recorrendo a outra lei onde tais preceitos não convêm às partes ou uma delas não existir,
isto para substituir a lei de aplicação normal.
A fraude à Lei como elemento objectivo, através de uma adequada manipulação da regra
de conflitos, normalmente do factor de conexão, a intenção fraudulenta é levada acabo, sendo
que este elemento pressupõe que possa depender da vontade dos interessados fixar a conexão
RELEVANTE À MEDIDA DAS SUAS CONVIVÊNCIAS. E NORMALMENTE TEM-SE
UTILIZADO A NACIONALIDADE.1
1
CORREIA, A, Ferrer, Lições De Direito Internacional Privado, 1ª Edição, Livraria Almedina, Coimbra, 2014,
pág. 421-424.
2
4 CAPÍTULO II: CONFIGURAÇÃO DO PROBLEMA
Um dos exemplos mais conhecido nessa questão, é o que sucedeu em 1874, quando a
princesa de Bauffremont separou-se de pessoa e bens do seu marido, porem o divórcio só
viria a ser introduzido em Franca dez anos mais tarde. Pouco depois, naturalizou-se na
Alemanha no Saxe-Altenburg, obteve nesse país o divórcio e logo voltou a casar-se, com o
príncipe de Bibesco.3 Porem, quer o divórcio quer o casamento foram considerados sem valor
em Franca por terem sido obtidos em fraude à lei francesa. 4 Embora a nova lei nacional da
princesa de Beuffremont segundo a regra de conflitos francesa, o expediente permitiu à
interessada contrair imediatamente o segundo casamento.
Neste caso, o objecto da fraude foi a norma de conflitos que designava como aplicável
(lei francesa), justamente aquela de que a princesa pretendia evadir-se, e o instrumento da
fraude a norma que considerava aplicável a lei a que a interessada pretendia acolher-se. Foi
portanto, o fim da ilicitude do fim visado com a manobra e não a pura e simples alteração do
elemento de conexão da regra de conflitos, que provocou o malogro do pano.
2
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução Ao Direito Internacional Privado, 2ª Reimpressão, Almedina,
Coimbra, 2009, pág. 62.
3
CORREIA, A, Ferrer, Lições De Direito Internacional Privado, Volume I, Livraria Almedina, Coimbra, 2014,
pág. 421-422.
4
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução Ao Direito Internacional Privado, 2ª reimpressão, Almedina,
Coimbra, 2009, pág. 62.
5
CORREIA, A, Ferrer, Lições De Direito Internacional Privado, Volume I, Livraria Almedina, Coimbra, 2014,
pág. 422.
3
Seria ilógico falar da fraude à lei imperativa interna quando essa mesma lei não é
aplicável, isto é, só pode haver fraude a lei desde que tal lei fosse aplicável, isto porque, a
determinação da esfera de aplicabilidade da lei interna, constitui um prius relativamente à
possibilidade de violação directa ou indirecta desta lei.6
Aprofundando a sua tese, estes ainda defendem que não pode considerar-se haver fraude
à lei, quando se trata de uma pessoa colectiva, mesmo sendo uma sociedade anónima cujos
fundadores deliberem fixar-lhe a sede em determinado pais por causa da lei daquele pais que é
menos severa em relação à daquele onde a sociedade pretende ou exerce a sua principal
actividade7, isto é, é difícil justificar a relevância da fraude à lei quando os fundadores de uma
pessoa colectiva escolhem para sede um pais que tem legislação mais favorável, desde que
essa sede seja a efectiva8. Isto porque, acha-se que neste domínio a fraude só será de
considerar nas situações que chamarão de internacionalização artificial da pessoa colectiva,
isto é, dá-se a pessoa colectiva, cor ou carácter internacional através da simples fixação da
respectiva sede em país estrangeiro.
6
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, Actualizada (Reimpressão),
Almedina, Lisboa, 2002, pág. 276.
7
CO RREIA, A, Ferrer, Ob. Cit. Pág. 423.
8
RIBEIRO, Manuel Almeida, Ob. Cit. Pág. 63.
9
CORREIA, A, Ferrer, Lições De Direito Internacional Privado, Volume I, Livraria Almedina, Coimbra, 2014,
pág. 423.
4
Ora, se a determinação da tal ordem jurídica competente, não oferece dificuldades, como
ficaríamos nos casos em que, por exemplo, um Americano, um Inglês e um Francês, depois de
haverem examinado as disposições pertinentes das leis Inglesa, Francesa, Suíça e
Liechtensteiniana, decidem constituir uma sociedade anónima no Liechtensteiniana, com o
fim de escapar dos preceitos que regulam as sociedades por acções e dos preceitos de natureza
fiscal vigentes nos outros países. Nestes casos as questões que se colocam são: qual o direito
fraudado: o Americano, o Inglês, o Francês ou o Suíço?
Qual destes direitos deve ser havido como competente e por que conexão o haverá de
determinar? Tendo em consideração de que a conexão que seria a normal ou natural não se
concretizou, e logo não pode funcionar, em virtude da própria actividade fraudatória.10
Esta é outra objecção de peso, pois traduz a insegurança quanto aos efeitos a derivar da
mesma fraude e a incerteza jurídica que provocaria a aplicação no direito de conflitos de uma
cláusula geral repressiva da fraude a lei. É notável a insegurança que se verifica no domínio
de DIP quanto as consequências da fraude a lei.
Alguns autores, inspirando-se no brocardo fraus amnia corrumpit, consideram que são
nulas tanto as relações ou efeitos jurídicos visados através da fraude, como os efeitos das
actuações fraudatórias, logo seria nulo o divórcio obtido por aplicação de um direito
estrangeiro como meio de tornar viável aquele fim. Mas para outros autores, somente os
efeitos jurídicos visados pelas partes (divórcio) seriam nulos. E ainda se sustenta uma terceira
opinião, segundo a qual o juiz deverá sempre ater-se ao direito fraudado, limitando-se a
excluir os efeitos por estes proibidos ou fazer actuar os efeitos por ele imperativamente
estatuídos.11
Isto e, afasta-se o conceito de fraude a lei em DIP, quando a conduta fraudatória consistiu
na mudança de nacionalidade e o naturalizado se integrou seriamente na comunidade de
nacional.12
10
MACHADO, João Baptista, Ob. Cit. pág. 277.
11
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, Actualizada (Reimpressão),
Almedina, Lisboa, 2002, pág. 277-278.
12
RIBEIRO, Manuel Almeida, Introdução Ao Direito Internacional Privado, 2ª reimpressão, Almedina,
Coimbra, 2009, pág. 63
5
Por todas estas razões, e ainda porque a aplicação do conceito de fraude a lei criaria no
DIP uma insegurança jurídica (a incerteza sobre se o divórcio obtido no estrangeiro e
subsequente casamento são ou não validos). Logo conclui-se que a aplicação da doutrina da
fraude no direito de conflitual seria dogmaticamente ilógico e praticamente inconveniente13.
Para muitos autores, a teoria de fraude à lei em DIP careceria de autonomia, nada mais
sendo que um caso particular de aplicação da teoria da ordem pública internacional. As duas
teorias, segundo Bartin, produzem os mesmos resultados, com a única diferença de que,
enquanto o efeito da ordem pública é desencadeado pela perturbação social, que produziria a
aplicação da lei estrangeira em razão do seu social que causaria tal aplicação em razão das
circunstanciais de facto que interviria. Na verdade, embora as disposições legais, fraudadas
não sejam necessariamente de ordem pública internacional, elas vêm a assumir tal carácter
por virtude das circunstâncias de facto, por efeito da própria intenção fraudulenta14.
Os próprios autores que aderem esta tese acentuam o carácter particular que reveste o
problema da fraude no âmbito da teoria da ordem pública15.
11 Consequência
A doutrina exposta tem consequência natural, a irrelevância da fraus legi extraneae facta,
de toda fraude que não vá dirigida contra uma disposição da lei interna do fórum, pois a
ordem pública, rigorosamente, só protege os interesses próprios da lex fori.
Na Alemanha, onde tal doutrina é a dominante, faz-se notar, em seu abono, que a fraude á
lei em DIP, tal como a ofensa a ordem pública, se traduz em última análise, na violação do
fim de uma lei (norma) interna.
12 Orientação preconizada
13
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3ª Edição, Actualizada (Reimpressão),
Almedina, Lisboa, 2002, pág. 278.
14
Idem, pág. 278.
15
MACHADO, João Baptista, Ob. Cit. pág. 279
6
norma de conflito como instrumento. Assim sendo, a fraude a lei em DIP, não se configura
como fraude de uma norma em DIP.
Logo segundo a concepção mais divulgada a fraude a lei em DIP, traduzir-se-ia na fuga
de uma norma material interna, a qual seria, portanto, a norma fraudada. A actividade
fraudatória das partes por outro lado, incidiria sobre a modelação do factor de conexão de
uma norma de conflitos, a qual caberia o papel da norma instrumental da fraude.
Mas esta maneira de ver as coisas situa-se o plano do Direito material e dele parte. 16 Como
problema do DIP, o problema da fraude a uma norma de conflitos e das consequências que lhe
devem ser imputadas. Se não se deve permitir que o fraudante frustre o imperativo de normas
de conflitos porque com isso a noção de fraude à lei terá relevância no DIP e a objecção
lógica acima referida perde todo o alcance.
O facto de aqui não parecer claramente recortada a distinção entre a norma fraudada e
a norma-instrumento pode gerar uma dificuldade na configuração da fraude a uma norma de
conflitos. KEGEL, opina que objecto de fraude é aquela parte da norma de conflitos que
remete para o ordenamento a cuja aplicação se pretende escapar, e que a regra instrumental da
fraude é aquela outra parte da mesma norma de conflitos que designa o ordenamento jurídico
cuja aplicabilidade se pretende provocar.17
A norma de conflitos designa a sua consequência jurídica por forma genérica e que são
tantas as consequências jurídicas e, portanto, tantas as normas que se contem no esquema
abstracto de uma norma de conflitos quantas as ordens jurídicas existentes. Com isso teríamos
que a norma fraudada seria aquela que tem por consequência jurídica a aplicação da
legislação A, e a norma instrumental aquela cuja consequência jurídica consiste na aplicação
do ordenamento B.
Não parece de forma alguma defensável a doutrina que considera a fraude à lei em
DIP como um caso particular de aplicação da teoria da ordem pública, tanto que esta longe de
16
Idem, pág. 280
17
Ibidem, pág. 280
18
MACHADO, João Baptista, Lições do Direito Internacional Privado, 3ª edição Actualizada (reimpressão),
Almedina, Coimbra, 2002, pág. 281
7
ter um caracter mais especializado que a teoria da fraude, apresenta característica de maior
generalidade e indeterminação.19
Por último, a excepção da ordem pública apenas protege os interesses da Lex Fori, ao
passo que o expediente da fraude à lei serve ainda para reprimir a chamada fraude à lei
estrangeira.20
O objecto da fraude à lei do DIP é constituído por aquela norma cujo imperativo viria
a ser frustrado se a manobra fraudatória resultasse. Trata-se daquela norma de conflitos que
manda aplicar o direito material a que a fraudante, em último termo, pretende subtrair-se. O
que se poderá dizer é que o fim dessa norma de conflitos não será afectado na medida em que
o não seja também o fim da norma material a cuja aplicação o fraudante quis escapar.21
19
Idem, pág. 281
20
Ibidem, pág. 282
21
MACHADO, João Baptista, Ob. Cit. pág.283
8
A actividade fraudatória há-de traduzir-se no emprego de meios eficazes para a
consecução do fim visado pelas partes: o desencadeamento da consequência jurídica da
norma-instrumento e, conexamente, o da consequência jurídica da norma ou normas da lei
estrangeira.
O exposto não significa que por vezes as situações constituídas ou os actos jurídicos
praticados como meios de se fugir a uma lei e de conseguir o abrigo de outra não devam ser
apreciados autonomamente ou de por si à luz da doutrina da fraude à lei, para o efeito de
eventualmente serem havidos como ineficazes em razão da fraude.24
22
Idem, pág. 285
23
Ibidem, Pág. 286
24
MACHADO, João Baptista, Lições do Direito Internacional Privado, 3ª edição Actualizada (reimpressão),
Almedina, Coimbra, 2002, Pág. 286.
9
10
CONCLUSÃO
Quanto a posição adoptada, assenta na ideia de que a fraude a lei em DIP, se traduz em
defraudar-se o imperativo de uma norma material de certo ordenamento, através da utilização
de uma norma de conflito como instrumento. O que nos leva, a concluir categoricamente que
a fraude à Lei em DIP, não é fraude de uma norma de conflito, mas sim de uma norma
material.
No que tange a fraude à lei e a ordem pública, não parece de forma alguma defensável a
doutrina que considera a fraude à lei em DIP como um caso particular de aplicação da teoria
da ordem pública, tanto que esta longe de ter um caracter mais especializado que a teoria da
fraude, apresenta característica de maior generalidade e indeterminação.
Para existência de Fraude à Lei, é preciso que haja certos pressupostos, como elemento
objectivo, que vai traduzir-se na utilização de uma regra jurídica com finalidade de assegurar
o resultado que a norma defraudada não permite. Isto é, as partes devem utilizar uma conexão
falhada. Por outro lado, deve existir um elemento subjectivo, que se traduz na intenção das
partes em querer defraudar.
11
12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Legislação
Doutrina
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