CAPITULO I
Com o decorrer do tempo, no século XVII, os proprietários que detinham esse poder e no sentido
de proporcionar um maior crescimento de suas empresas, já que as mesmas cresciam de forma
lenta, acharam por bem permitir que outras pessoas, que não somente familiares, se associassem
à elas, com investimentos próprios, assim seria uma forma de se obter um montante maior de
recursos e por conseqüência uma aceleração na produção, com maior circulação dos produtos no
mercado. Mais tarde, as sociedades anónimas passaram a constituir-se por um actos de outorga
do poder estatal, como por exemplo, actos legislativos, através dos quais os soberanos
concediam um privilégio aos investidores, com o objectivo de garantir o retorno do investimento,
mediante o monopólio sobre o comércio de determinadas localidades ou colónias. Observa-se
que neste período iniciou-se a noção de sociedade como pessoa jurídica, com direitos e
obrigações distintas dos seus membros, proporcionando aos investidores da sociedade uma
limitação das suas perdas.
1
obtenção de recursos dos investidores, deixando de ser um acto legislativo, próprio da outorga
estatal, para ser um acto administrativo de autorização para a constituição das sociedades
anónimas. Posteriormente este sistema de autorização foi substituído, em meados do século XIX,
pelo sistema de liberdade de constituição de tais sociedades, o chamado Sistema de
Regulamentação, onde não mais se exigia a prévia autorização estatal para a constituição e
funcionamento de todas as sociedades anónimas, dependendo tão somente de um registo
efectuado segundo as directrizes legais existentes.
CAPITULO II
1. O CONTRATO DE SOCIEDADE
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Comercial, a constituição das sociedades anónimas exige o preenchimento obrigatório dos
requisitos consagrados nos art.333 do respectivo diploma legal, nomeadamente:
A ideia de subscrição pública passa pela compreensão e admissão de sociedades abertas que
ocupam lugar fundamental no contexto de valores imobiliários. Uma sociedade constituída com
apelo à subscrição pública é necessariamente uma sociedade aberta 2. Nos termos do nº1 do art.
337, a constituição da sociedade com recurso à subscrição pública, deve ser promovida por uma
ou mais pessoas, promotores (singulares ou colectivas) que são solidariamente responsáveis por
todo o processo até ao registo da sociedade; os promotores devem subscrever e realizar em
dinheiro, acções, cujos valores nominais somem, pelo menos, dez por cento do capital, que não
podem onerar ou alienar antes de aprovadas as contas do terceiro exercício 3. Nas sociedades
constituídas com a subscrição pública só podem haver acções ordinárias de uma mesma
categoria, e o capital só pode ser realizado em dinheiro. A subscrição pública poderá ser
2 JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial, 1ª Edição, Escolar Editora, Maputo,
2013, pág. 211
3
intermediada por instituição bancária que subscreverá, salvo se o capital social da sociedade
podendo repassar posteriormente ao público, as acções por elas subscritas.
A oferta pública de venda ocorre quando o titular de uma sociedade, seja ele um accionista ou a
própria sociedade, por deter acções próprias em carteira, pretende aliená-las através de uma
operação aberta ao público em geral, quer com vista a realizar maiores lucros, com a operação,
quer para abrir ao público as participações de capital numa sociedade até aí fechada, mormente
com vista a sua cotação em bolsa, ou a facilitação de recurso ao crédito5.
5 Pag.239,pupo correia
7 MAIA, Pedro et.al, Estudos de Direito das Sociedades, 5ª Edição, Almedina, Coimbra, 2002, pág. 28
8 COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 18ª Edição Revista e Actualizada, Editora Saraiva,
S/L, 2007, pág. 181-182
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3.1 Acções
Para melhor compreensão do regime das acções, vamo-nos cingir no actual Código Comercial,
designadamente nos artigos 348 e seguintes. Em princípio, salvo disposições diferentes da lei ou
do contrato de sociedade, as acções podem ser nominativas ou ao portador. São nominativas
as acções cuja sociedade emitente tem a faculdade de conhecer a qualquer momento a identidade
dos seus titulares e ao portador as que podem não ser conhecidas.
Nos termos do nº2 do art. 332 do Código Comercial, a Sociedade Anónima não pode ser
constituída por um número de sócios inferior a três, salvo quando a lei o dispense. Excepção feita
aos casos em que o Estado, directamente ou por intermédio de empresa pública, estatal ou outra
entidade equiparada por lei para este efeito, fique como accionista, as quais podem constituir-se
com um único sócio.10
Nos termos da Lei comercial não existe um capital mínimo determinado, contudo as empresas
que tencionem instalar-se em Moçambique terão que ter em conta que o valor do capital social
deverá ser sempre adequado à realização do objecto social, e ser sempre expresso em moeda
nacional, o Metical. Nestas sociedades o capital encontra-se dividido em acções podendo estas
ser ao portador, nominativas ou escriturais. Nos termos do nº1 do art. 336 do Código Comercial,
a Sociedade Anónima só pode ser constituída mediante a subscrição da totalidade do capital
social, que deve estar realizado, pelo menos, em vinte e cinco por cento. A lei proíbe a emissão
de acções por valor inferior ao seu valor nominal, devendo os estatutos fixar o número de acções
em que este se divide.
Para efeitos de constituição, deve fazer-se prova do montante do capital social realizado
mediante a apresentação do comprovativo de que tal capital se encontra depositado em
instituição de crédito à ordem da sociedade. Quanto às participações de capital a realizar em
espécie, a prova da sua realização consiste na emissão de um relatório de avaliação por auditor
5
seguida de declaração assinada pelos administradores da sociedade que certifique que a mesma
entrou na titularidade dos bens e que estes já lhe foram entregues. Exceptuam-se destes casos as
situações de entrega deferida de bens.
Nas Sociedades Anónimas, os sócios, a mais de não responderem pelas dívidas da sociedade, só
respondem pelas suas próprias entradas e já não pelas obrigações assumidas pelos seus sócios
[…].11 Cada accionista tem a sua responsabilidade duplamente limitada: externamente, porque
não responde perante os credores da sociedade, pelas dívidas desta; internamente, porque não
responde perante a sociedade, por nenhuma divida além da sua própria obrigação de entrada.12
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consentimento da sociedade para a transmissão (art..) ou na subordinação a determinados
requisitos, subjectivos ou objectivos, que estejam de acordo com o interesse social (art..).
4.1 Noção
A personalidade jurídica das pessoas colectivas é uma ficção jurídica: equiparam-se às pessoas
humanas, organizações por elas criadas. Daí a necessidade de suprir a ausência, nas organizações
de vontade própria e carácter corpóreo, mediante a sua estruturação interna de modo adequado
ao procedimento dos seus fins. Para isso é necessário que a pessoa colectiva forme, manifeste e
execute uma vontade, e para isso tem de possuir certos elementos organizativos concebidos e
dotados de atribuições, inerentes a essas funções, são os órgãos sociais.
São pois os órgãos de uma sociedade as entidades ou núcleos de atribuição de poderes que
integram a organização interna da sociedade e através dos quais ela forma, manifesta, e exerce a
sua vontade de pessoa jurídica.
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4.2.1 Assembleia Geral
Qualquer sociedade é constituída por vários sócios e por isso são eles conjuntamente que tem
competência para deliberar assuntos sociais, isto é, o poder supremo da sociedade reside no
conjunto dos seus sócios nos quais para deliberar efectuam em regra, reuniões denominadas
“assembleias gerais”; nos termos da lei13, os sócios podem deliberar sem recurso à assembleia
geral, desde que todos declarem por escrito o sentido do seu voto, em documento que inclua a
proposta de deliberação, devidamente datado, assinado e endereçado à sociedade, ou em
assembleias regularmente convocadas e reunidas. A convocação da assembleia deve ser
publicada com pelo menos trinta dias de antecedência, salvo o que estiver especialmente previsto
nos estatutos da sociedade14. Ademais, os accionistas deliberam sobre as matérias que lhes são
especialmente atribuídas pela lei ou pelo contrato e sobre as quais não estejam compreendidas
nas atribuições de outros órgãos da sociedade, e sobre as matérias de gestão da sociedade, os
accionistas só podem deliberar a pedido do órgão de administração.15
O Conselho de Administração é composto por um número impar de membros, que podem ser ou
não accionistas da sociedade, podendo até reduzir-se à um único administrador, que pode ser
pessoa estranha a sociedade, desde que o capital social, não exceda quinhentos mil meticais16.
Nos termos do art. 421 do Código Comercial, são inelegíveis para qualquer cargo de
administração da sociedade as pessoas impedidas por lei especial e inclusive as que regulam o
Mercado de capitais a cargo do Banco Central ou condenadas por crime falimentar, de
prevaricação, suborno, compulsão, peculato, contra a economia e aos direitos do consumidor, a
fé pública, a propriedade e o meio ambiente ou ainda a pena criminal que vede, mesmo
temporariamente, o acesso à cargos públicos.
13 Cf. nº1 do art. 412 conjugado com o nº4 do art. 128, todos do Código Comercial
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O mandato dos administradores pode, em qualquer momento, ser revogado por deliberação dos
accionistas, mas, se a revogação não tiver sido fundada em justa causa, o administrador tem
direito a receber a título de indemnização as remunerações que receberia até ao termo do seu
mandato (vide nº1 do art.430 do Código Comercial)
Escolha do seu presidente nos casos em que o contrato de sociedade assim o estipule;
Cooptação de administradores;
Pedido de convocação de assembleia gerais
Prestação de cauções e garantias, pessoais ou reais pela sociedade;
Abertura ou encerramento de estabelecimento;
Projectos de fusão, cisão e de transformação da sociedade
Qualquer outro assunto sobre o qual alguma administrador requeira deliberação do
conselho de administração.
Nos termos do art. 436 do Código Comercial, a fiscalização da sociedade compete ao Conselho
Fiscal ou ao fiscal Único, que e composto por três membros efectivos, podendo esse número
aumentar para cinco, mediante contrato de sociedade. As funções do Conselho Fiscal são
delegáveis e se estendem até à primeira assembleia geral realizada após a sua eleição. Compete
ao Conselho Fiscal ou Fiscal Único, fiscalizar os actos dos administradores e verificar o
cumprimento dos seus deveres legais e estatutários, bem como examinar e opinar sobre o
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relatório anual da administração e as demonstrações contabilísticas do exercício social, fazendo
constar do seu parecer, informações complementares, que julgue necessárias ou úteis à
deliberação da assembleia geral, e ainda opinar sobre as propostas dos órgãos da administração, a
serem submetidas à assembleia geral, relativas à modificação do capital social, emissão de
obrigações ou bónus de subscrição, planos de investimento ou orçamento do capital, distribuição
de dividendos, transformação, fusão ou cisão, dentre outras competências, previstas no art 437
do Código Comercial.
Deveres e Responsabilidades
17 N1 art 438
18
10
5. OBRIGAÇÕES DOS ACCIONISTAS
As Obrigações representam títulos de mútuo e não conferem aos seus titulares a qualidade de
sócio. Uma vez sendo títulos, eles podem ser tanto ao portador como nominativos 19 são emitidos
por sociedades anónimas em que os dois últimos balanços estejam aprovados ou as que tenham
resultado da fusão ou cisão de sociedades das quais uma, pelo menos, se encontro nesta
condição. Uma vez constituindo um meio de financiamento externo da sociedade, com carácter
de contrato de mútuo, não podem se emitidos se ainda houver accionistas em mora com a
sociedade no que se refere a sua obrigação de entrada 20. Igualmente não podem exceder a
importância do capital social realizado e existente tomando como base o último balanço
aprovado pelas partes21.
Estas restrições têm vista afastar os riscos de um recurso excessivo ou abusivo da emissão das
obrigações com consequências evidentes para o público, assim o estabelecimento destas
restrições visa também e em ultima instancia a protecção deste, as obrigações são emitidas
depois de uma deliberação da Assembleia geral da sociedade ou pela administração da mesma
quando esta seja autorizada no contrato de sociedade e quando emitidas em serie, a emissão da
serie seguinte depende da subscrição e realização da serie anterior.
nos termos do art. 387 do Ccom, sao duas as modalidades de obrigacoes, nomeadamente: (I)
nominativas e (ii) ao portador, mas a doutrina, como refere JUNIOR (2013:218) acrescenta como
sub-modalidades as obrigacoes de juro suplementar, e as obrigacoes convertiveis em accoes,
fala-se tambem ainda, de obrigacoes com subscricao de accoes (…), obrigacoes de taxa fixa
emitidas por instituicoes de credito, bancos de investimento, sociedades de investimento ou
sociedade de locacao financeira, e obrigacoes escriturais.
19
20 388
21 ibdem
11
a) Obrigacoes de juro suplementar estao consagradas nos arts. 401 e 402 do ccom. O nr 1 na
sua alinea a) estabelece que o juro suplementar pode ser fixo e dependente apenas da
existencia de lucros distribuiveis em montante igual ao do juro suplementar,ou seja, elas
conferem aos titulares o direito a um juro fixo, habilitam aos seus titulares a auferir um
juro suplementar ou um premio de reembolso, cuja existencia e montante dependem dos
lucros realizados pela sociedade, variavel e correspondente a uma percentagem não
superior a 10 por cento dos lucros distribuiveis apurados, nos termos da alinea b).
c) Obrigacoes ao portador, sao aquelas que não expressam o nome do beneficiario, tem como
vantagem a facilidade de circulacao, pois se processa com a simples tradicao ou entrega, podem
conferir ao seu titular o direito de um juro fixo ou ainda habilitar a um juro suplementar ou a um
premio de reembolso, quer fixo, quer dependente dos lucros obtidos pela sociedade 22.
d) Obrigacoes nomintivas, sao as que possuem o nome do beneficiario, sao transmissiveis por
endosso e tambem podem conferir ao seu titular o direito a um juro fixo, ou ainda habilitar a um
juro suplementar ou a um premio de reembolso, quer fixo, quer dependente dos lucros obtidos
pela sociedade23.
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A Sociedade Anónima, para além dos livros de diário e de inventários e balanços, deve ter:
Estes livros, podem ser substituídos por registos mecanizados ou electrónicos, na forma que
legalmente for definida, nos termos do art. 456 do Código Comercial.
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