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Resumo
Muito se tem pesquisado sobre websérie, mas poucas são as considerações que propiciam
uma definição exata acerca do formato. Não obstante as divergentes visões adotadas para
conceituar o produto, é inevitável sua ascensão no Brasil, o que exige novas reflexões
sobre o objeto. Este artigo sustenta como objetivo, portanto, verificar como as webséries
brasileiras vem adquirindo suas características específicas, considerando o contexto
sociocultural em que se inserem e a modalidade escolhida para sua disseminação. Para
isso, estudam-se cinco plataformas para disseminação dos vídeos (YouTube, Vimeo,
Gshow, Netflix e Globo Play) e algumas narrativas de ficção que se destacaram enquanto
produções nacionais (180 Graus, Invisibilia, Imaginário, RED, 3%, Os Desatinados,
Radionovela Herança de Ódio, Totalmente Sem Noção Demais e Supermax –
PorDentro). Partindo de uma revisão teórica sobre o tema, esta pesquisa se acentua na
análise estilística, tendo como autores-parâmetro David Bordwell (2008), Renato Pucci
Jr. (2014) e Simone Rocha (2016).
Considerações iniciais
Uma explosão de textos produzidos nos últimos anos tenta encontrar uma
definição absoluta para o que se tem chamado de “websérie”. São trabalhos que abordam
desde comparações com hiperseriados a convergências com outras mídias; desde
acessibilidade para extrapolações artísticas à capacidade de interatividade com os
interlocutores. No entanto, mesmo com fundamentação em conceitos previamente
sugeridos sobre o assunto, as discussões se destinam a um buraco negro espiralado que
não finaliza qualquer posicionamento concreto.
Compreender o termo é questão de morfologia: ao mesmo tempo em que “cine” é
um prefixo que alude ao cinema, e “tele”, à televisão, “web” está diretamente relacionado
1 Trabalho apresentado no GP Ficção Seriada do XVII Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento
componente do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2 Doutorando em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (PROSUP/Capes). Membro dos Grupos de Pesquisa Inovações e
Rupturas na Ficção Televisiva Brasileira (UAM/CNPq) e Narrativas Midiáticas (Uniso/CNPq). Contato:
jp_hergesel@hotmail.com. Orientação: Prof. Dr. Rogério Ferraraz.
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Fundado em fevereiro de 2005 por Chad Hurley, Jawed Karim e Steve Chen, o
YouTube é uma plataforma para distribuição digital de vídeos, desde filmes e videoclipes
a materiais caseiros. O nome é uma junção das palavras “you” (você) e “tube” (tubo, gíria
estadunidense para televisão), sugerindo uma expressão como “você televisiona”, ou
ainda, “você na telinha”. Propriedade da Google Inc., o YouTube tem sede em San Diego
(Califórnia), está sob o comando de Susan Wojcicki (desde 05/02/2014) e faz uso do
slogan “Broadcast Yourself” (transmita-se). A criação foi eleita pela revista Time, de
13/11/2006, como a melhor invenção do ano, devido à sua capacidade de unir milhões de
pessoas de uma forma nunca antes vista. É hoje uma das plataformas mais utilizadas para
disseminação de webséries.
180 Graus
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descoberta sexual, alcoolismo, intimidade exposta, entre outros – prática que, baseando-
se em Simone Maria Rocha (2016) – traduz para o audiovisual a identidade cultural do
contexto de produção e veiculação. Os registros de cena são feitos, prioritariamente, em
planos fechados (primeiro plano, plano americano e plano conjunto) e os cenários são
ambientados em cômodos de casas ou espaços públicos, sem locações extravagantes ou
presença de efeitos especiais. A trilha sonora é principalmente instrumental.
Invisibilia
Imaginário
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Fundado em dezembro de 2004 por Zach Klein e Jakob Lodwick (seu criador), o
Vimeo é um site para compartilhamento de vídeos, no qual os usuários podem fazer
upload de seus arquivos e assistir ao conteúdo de outros usuários. O nome é uma
aglutinação de “video” (vídeo) e “me” (eu), além de ser um anagrama da palavra “movie”
(filme). Propriedade da InterActiveCorp, o Vimeo tem sede em Nova Iorque, está sob o
comando de Kerry Trainor (desde 19/03/2012) e faz uso do slogan “Video Sharing For
You” (compartilhamento de vídeo para você). A política do site não permite a postagem
de vídeos comerciais, de jogos eletrônicos, contendo pornografia ou cujos direitos
autorais pertençam a terceiros; no entanto, suas restrições são mais flexíveis que as do
YouTube, sendo, portanto, uma alternativa viável para veiculação de webséries com
conteúdo adulto.
RED
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e dirigida por Fernando Belo. Embora não haja nudez explícita, são comuns cenas de
sexualidade velada nos episódios.
Com apoio indispensável da trilha sonora, sobretudo instrumental, e dos efeitos
artísticos de edição, as imagens indicam uma predominância de planos detalhe,
especialmente nas cenas eróticas, além de primeiros planos e planos americanos. Com
um elenco composto por três personagens recorrentes e ambientação centralizada em um
apartamento, o produto carece de tratamento de áudio, concentrando seu chamariz nos
aspectos visuais (fotografia, figurino e maquiagem) e no som extradiegético. Trata-se de
uma experimentação artística e, ao mesmo tempo, uma forma de expressão que independe
de produtoras – correspondendo ao que sinaliza Diego Daria López Mera (2010) a
respeito dessa versatilidade possibilitada pelo formato.
Os Desatinados
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ouvintes da Rádio Globo possam acompanhar a websérie, uma vez que ela apresenta uma
narrativa própria, desvinculada da obra da qual se ramificou.
Fundada em agosto de 1997 por Reed Hastings e Marc Randolph, a Netflix iniciou
seus serviços como entregadora de DVDs pelo correio e, aos poucos, foi se adequando ao
serviço de streaming. Tornou-se, como tempo, uma provedora global de filmes e séries
de televisão (sem atuação somente na China, na Coreia do Norte, na Crimeia e na Síria),
além de desenvolver suas próprias produções, denominadas webséries. Propriedade de
Reed Hastings, a Netflix tem sede no Município de Los Gatos (Califórnia), está sob o
comando do próprio dono e, em território brasileiro, faz uso do slogan “Com a Netflix,
você tem o controle”. No Brasil, seu primeiro investimento foi A Toca, em parceria com
a produtora Parafernalha, mas sua primeira produção original foi 3%.
3%
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Supermax – PorDentro
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Apontamentos finais
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REFERÊNCIAS
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Machado Jatobá. Campinas: Papirus, 2008.
CALDWELL, John Thornton. Televisuality: style, crisis, and authority in American television
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