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Fundação Universidade Federal do Rio Grande

Maurício Castillo

A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL CONSUBSTANCIADA NO SURGIMENTO


DAS ESCOLAS PENAIS

Rio Grande – RS
2008

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Fundação Universidade Federal do Rio Grande
Maurício Castillo – 40.263

A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL CONSUBSTANCIADA NO SURGIMENTO


DAS ESCOLAS PENAIS

O objetivo do presente trabalho é atender ao registro


parcial para a avaliação da disciplina de Direito Penal,
do curso de Direito sob orientação da professora
Waleska.

Rio Grande – RS
2008

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SUMÁRIO:

RESUMO.................................................................................................................................01
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................01
1. Dos conceitos.......................................................................................................................02
2. Dos Antecedentes às Escolas Penais..................................................................................04
3. Da evolução do Direito Penal com análise das Escolas Penais.......................................06
3.1. Escola Clássica.......................................................................................................06
3.2. Escola Correlacionista............................................................................................08
3.3. Escola Positiva.......................................................................................................08
3.4. Terceira Escola.......................................................................................................10
3.5. Escola Moderna Alemã..........................................................................................10
3.6. Escola Técnica Jurídica..........................................................................................11
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................12
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................13

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A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL CONSUBSTANCIADA NO SURGIMENTO
DAS ESCOLAS PENAIS

RESUMO:
O artigo pretende fazer uma análise acerca das modificações ocorridas no Direito Penal, as quais se
basearam evolução das concepções de legitimidade do direito de punir, natureza do delito e fim das
sanções. Utilizando-se, para tal, estudos realizados por importantes doutrinadores do Direito Penal. O
objetivo deste estudo é sanar eventuais dúvidas existentes sobre a matéria.

PALAVRAS-CHAVE: Direito Penal, Escolas Penais, Crime, Pena, Delinqüente, Sociedade.

INTRODUÇÃO:

As transformações ocorridas na sociedade ao longo dos tempos geraram uma mudança


em sua forma de pensar e agir, acarretando modificações substanciais no Direito como um
todo, já que esse é fruto da “vontade” da sociedade.
O presente artigo tem por finalidade analisar os reflexos dessa nova visão social no
que tange o Direito Processual Penal, bem como as importantes contribuições das idéias
difundidas pelas diversas gerações dos Direitos Humanos0, surgidas no século XIX à luz do
Iluminismo. Apresentando, para tal, um breve histórico acerca da idéia de crime e de punição
em diferentes momentos da evolução histórica da humanidade, além de esclarecer o
significado de algumas terminologias indispensáveis para o entendimento do trabalho.
A pesquisa foi realiza em artigos e estudos acerca do tema, realizados por autores
renomados no Direito Penal.
Cabe salientar que a Internet foi utilizada com objetivo único de aprimoramento dos
conhecimentos, visto que propiciou uma pesquisa mais abrangente.
O tema é de suma importância para a compreensão do sistema penal contemporâneo, e
está indissoluventente ligado a formação das legislações penais atuais.

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1. DOS CONCEITOS:

Cabe analisar, precipuamente, algumas terminologias que permeiam o mundo jurídico


e que serão de suma relevância para o entendimento desse trabalho.
A palavra Direito possui as mais diferentes acepções, podendo ser entendida em
stricto sensu, como sendo a norma estabelecida em lei, ou ainda em sentido lato, definido por
Fernando Lima como “um preceito hipotético e abstrato, destinado a regulamentar o
comportamento humano na sociedade” (2005).
Um dos mais discutidos problemas da Filosofia Jurídica é o que diz respeito à
distinção entre direito e moral. Muitos doutrinadores entendem que apesar de serem
essencialmente distintos, os conceitos de moral e direito são inseparáveis. Nos doutos estudos
de Miguel Reale em sua obra Lições Preliminares de Direito o autor entende que a diferença
está no caráter coercitivo do direito. Para Reale moral é “o comportamento que encontra em si
próprio a razão de existir”, diferentemente do direito que é “a ordenação coercitiva da conduta
humana”.
A moral é o foro íntimo do indivíduo e está ligada exclusivamente com o querer
pessoal de cada um, por isso não é suficiente para nortear a vida em sociedade. É nesse
momento que surge o direito, como um produto da convivência social, indispensável à busca
do bem comum.
Contudo, em determinadas situações, é necessária a intervenção do “braço forte” do
direito, responsável por tutelar os bens jurídicos mais relevantes à coletividade, instituindo,
para tal, condutas que possam ser perniciosas a esses bens, e estipulando sanções aos que as
transgredirem. Esse ramo do direito é denominado Direito Penal.
O Direito Penal é comumente confundido com outra ciência da qual se utiliza, a fim de
entender o crime como um todo.
A criminologia é uma ciência causal-explicativa que visa entender o criminoso tanto
em seus aspectos físicos (biologia criminal) como também no meio em que está inserido
(sociologia criminal), difere-se do Direito Penal por seu objeto: enquanto para esse o objeto
de estudo é “a determinação de infrações de natureza penal” (BITENCOURT, 2008; p. 3),
àquele o objeto é a busca por explicações às origens da delinqüência.
Outro aspecto não menos importante a ser definido, é o que diz respeito ao
entendimento de crime. Pode-se dizer que em sentido “vulgar” crime é todo ato que vai de
encontro a uma norma moral. Já em sentido jurídico, entende-se como ação ou omissão que

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fere princípios contidos em lei. A todo ato antijurídico aplicar-se-á uma sanção, que nada
mais é que uma conseqüência jurídica à inobservância da lei.
Como se pode perceber o mundo jurídico, especialmente o Direito Penal, está
consubstanciado na diversidade de conceitos, sendo indispensável sua distinção a fim de
melhor entendê-lo. Tal diversidade é decorrente da evolução do Direito, concomitantemente
ao desenvolvimento da sociedade.

2. ANTECEDENTES ÀS ESCOLAS PENAIS:

Os avanços ocorridos no Direito Penal ao longo dos tempos são inegáveis e estão
consubstanciados na evolução da idéia de pena. Desde os primórdios da sociedade o homem
busca meios de punir aqueles que ferem os interesses comuns à coletividade.
Os antigos clãs acreditavam que a punição dos infratores era uma maneira de evitar a
fúria dos deuses, a qual atingiria a todo o grupo. Porém, com a dissolução do clã em grupos
menores associados por laços de consangüinidade deram origem as chamadas “vinganças
privadas”, nas quais aos membros lesados era permitida a “retribuição” do mal que lhe fora
causado. No entanto, essa prática de “justiça com as próprias mãos” mostrou-se ineficaz na
proteção da comunidade, visto que acabou tornando a vingança um círculo vicioso.
Essa ineficácia da vingança privada deu origem a outro tipo de vingança, mas dessa
vez a pública. Isso porque o chefe da tribo chama pra si o direito de punir. Nesse período
impera a Lei do Talião, na qual há o entendimento de que o infrator deve sofrer uma punição
equivalente ao mal causado.
Conquanto o Talião visasse somente à punição do individuo, não priorizando sua
ressocialização, para alguns doutrinadores esse período representou uma evolução no Direito
Penal, na medida em que gerou maior comedimento entre o crime e a sanção.
O Império Romano também contribuiu expressivamente para o Direto Penal, uma vez
que durante o período da República houve “significativos avanços na concepção do elemento
subjetivo do crime, diferenciando-se o dolo de ímpeto do dolo de premeditação.” (NUCCI,
2007; p. 58).
Com a chegada da Idade Média e da Igreja Católica ao poder, muito embora a pena
ainda possuísse dispositivos repressivos muito cruéis, passou a visar à reinserção do individuo
na sociedade. No século XVII a punição dos criminosos era um “espetáculo público”, os

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suplícios além de punirem o acusado serviam também para intimidar os demais membros da
sociedade, a fim de que não viessem a cometer atos criminosos. Ademais era uma maneira de
dominação dos poderosos em detrimento do restante da população. Para Foucault “essa
superioridade, não é simplesmente a do direito, mas a da força física do soberano que se abate
sobre o corpo de seu adversário e o domina.”
Com o passar do tempo os suplícios começaram a ser veementemente criticados não
somente pelos intelectuais da época, mas também pela população em geral, tornando-se
ineficaz como meio de controle social. Com isso, as sanções transpuseram-se de meros
castigos físicos à privação da liberdade, ganhando um caráter utilitarista, pois passou a ser
vista como uma preparação do individuo ao mercado capitalista ascendente.

Com relação às massas miseráveis, era necessário reduzi-las (pela emigração)


e, enquanto iria se desenvolvendo o lento processo de sua assimilação à
produção industrial (que de momento quereria mantê-las na miséria, para
acumular o capital produtivo que permitiria sua incorporação), era necessário
controlá-las mediante o treinamento e moralização. (ZAFFARONI, 2004; p.
265).

O sofrimento causado pelo suplicio, tanto para o acusado como para sua família, deu
origem a um movimento impulsionado pelas idéias iluministas. Esse movimento, denominado
Escolas Penais, representou um novo modo de ver o sistema penal, clamando pelo fim da
crueldade na aplicação das penas.

3. DA EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL COM A ANÁLISE DAS ESCOLAS


PENAIS:

O Direito Penal, como um ramo do Direito que se preocupa com o comportamento do


homem na sociedade indo à defesa dos bens mais importantes dessa coletividade em termos
jurídicos, apresenta-se de uma forma imposta com elementos e caracteres especiais. Sua
ligação com o crime e sanções respectivas, desempenham um papel de suma importância no
desenvolvimento das relações humanas.
Diversos doutrinadores do ramo penal nos transmitem essa estreita ligação do Direito
Penal com o comportamento do indivíduo dentro da sociedade, Bitencourt (2008, p.01),
defende o direito penal como sendo dotado de uma “natureza peculiar de meio de controle
social formalizado”. Essa sistematização do Direito a fim de tutelar os bens jurídicos de maior

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relevância aos seres humanos atuantes no Contrato social, numa visão positivista,
desenvolveu-se ao longo de uma trajetória baseada em fatos ligados aos crimes e sanções
empregadas a cada época.
O bem comum e a regulação harmônica do convívio social fazem parte da evolução do
sistema penal como um todo, atribuindo a seus estudiosos a preocupação com o entendimento
do delito e o direito de punir questionando as mais diversas formas de aplicação das sanções
por determinados períodos da história. Com isto surgem as chamadas Escolas Penais, ou seja,
correntes jus-filiosóficas de teorias e pensamentos que estruturavam de forma organizada os
princípios fundamentais do Direito Penal empregados a cada época e cada contexto.
Bitencourt define as escolas penais como "o corpo orgânico de concepções
contrapostas sobre a legitimidade do direito de punir, sobre a natureza do delito e sobre o fim
das sanções.” (2008, p.49)
Passamos a discorrer a cerca das escolas penais, como surgiram, seus marcos e
pensadores mais importantes e entre outros aspectos, sendo elas: Escola Clássica, Escola
positiva, Terceira Escola, Escola Moderna Alemã, Escola Técnico Jurídica e Escola
Correlacionista.

3.1. ESCOLA CLÁSSICA:

Numa corrente com ideais iluministas, com idéias políticas extraídas da revolução
francesa, surge ao fim do século XVIII a Escola Clássica. Esta escola fazia críticas ao
absolutismo da época, defendendo a democracia do estado em conformidade com princípios
liberais, havia nesta concepção uma grande preocupação no que diz respeito aos direitos
fundamentais do indivíduo bem como as suas garantias.
Os principais idealizadores do classicismo penal foram o inglês Benthan, o alemão
Feweurbach, o italiano Romagnosi e o de maior destaque Francesco Carrara.
A Escola Clássica teve dois períodos distintos: o teórico-filosófico e o período ético-
jurídico.
O período teórico-filosófico se inicia na obra de Baccaria - Dos delitos e das penas -
este período pretendia, segundo Bitencourt, adotar um Direito Penal fundamentado na
necessidade social. (2008, p. 51). Já o período ético jurídico, ainda na concepção do autor, se
acentua a exigência ética de retribuição, representada pela sanção. (2008, p. 52)
A concepção de crime para esta escola era de que este não seria um ente de fato, mas
um ente jurídico tratando-se de uma infração e violação de direitos, ou seja, além da ação e

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resultado que o crime venha trazer, este estaria também causando um dolo político e moral
para a sociedade como um todo.
A responsabilidade Penal, baseada no livre arbítrio, com influencia iluminista, seria a
base do sistema penal, pois só poderia cometer delitos quem tivesse a liberdade de escolha.
Viccaria aponta em sua obra o fundamento da responsabilidade penal como "a
responsabilidade que tem por base o livre arbítrio, sendo a liberdade fundamental para todo o
sistema positivo. O inimputável por não possuir livre arbítrio, é penalmente irresponsável.
(2003, p. 06)
A Pena para os clássicos era discutida sob três teorias: a absoluta - cujo entendimento
seria a busca de justiça; a relativa - cujo fim seria a prevenção, e por fim; a mista - mostrava a
pena como a busca pelo ideal justo com a utilidade preventiva.
Para Jorge, os caracteres mais relevantes da Escola Clássica podem ser definidos
como:
a) o delito é um ente jurídico; b) a ciência do Direito Penal é uma ordem emanada da lei moral
e jurídica; c) a tutela jurídica é o fundamento legítimo da repressão e também seu fim; d) a
qualidade e a quantidade da pena, que é repressiva, devem ser proporcionais ao dano que com
o delito se causou ao direito cujo perigo que este correu; e) a responsabilidade criminal se
funda na imputabilidade moral, já que não há agressão ao direito se a ação não procede de uma
vontade inteligente e livre; f) o livre arbítrio, aceito como dogma, por que sem ele o Direito
penal, ao ver dos clássicos, careceria de base. (1986, p. 102 - 103).

Com isto pode-se definir a Escola Clássica como a corrente que defendia princípios
penais que iam desde o crime como uma entidade jurídica dependente da vontade subjetiva do
seu agente, defendia princípios de reserva legal bem como a proporcionalidade da pena.

3.2. ESCOLA CORRELACIONISTA:

Fundada pelo alemão Carlos David Augusto Roeder, surge na terceira década do
século XIX a Escola Correlacionista, uma corrente que enfatizava seus estudos muito mais no
delinqüente do que a prática de seus atos. A escola defendia um Estado com uma aplicação de
Direito Penal capaz de readaptar o criminoso na sociedade, corrigindo os motivos pelos quais
culminaram as suas condutas lesivas. Viccari defende que "incumbe ao Estado não só a
adaptação do delinqüente à vida social, como também sua emenda íntima”. (2003, p.07).
A pena tratava-se de uma profilaxia em relação ao delinqüente, pois deveria agir como
um tratamento de readequação social, e teria fim quando a necessidade demonstrasse.
Segundo Jorge "a pena seria, para Roeder um remédio que curaria o criminoso, o purificaria e
seria, em última análise, um bem para ele próprio" (1986, p.103).

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Na concepção de Bitencourt as características do correlacionismo seriam: a pena
idônea é a privação de liberdade, que deve ser indeterminada; o arbítrio judicial deve ser
ampliado em relação à individualização da pena; a função da pena é uma verdadeira tutela
social; a responsabilidade penal como responsabilidade coletiva, solidária e difusa". (2008, p
64).
Podemos perceber que a Escola Correlacionista, foi uma revolução para o sistema
penal da época, pois englobou de maneira uniforme os direitos e garantias individuais do
homem protegendo este até em seu estado de maior descrença social, pois ao proteger os
direitos do criminoso também defendia os valores e direitos de uma sociedade justa.

3.3. ESCOLA POSITIVA:

Ao final do século XIX, em meio a grandes processos de evolução das ciências


sociais, surge a Escola Positiva. Essa corrente trazia idéias de completas transformações do
Direito penal, e não uma simples reformulação.
A corrente positiva pretendia equiparar o direito às demais ciências, tentando
empregar a este os métodos científicos empregados às demais, chegando-se a conclusão de
que seria impossível essa aplicação, pois a conclusão era de que a atividade jurídica não seria
científica. Este fato fez com que surgisse a Criminologia, tentando através desta dar uma
significância jurídica para o criminoso.
A escola Positiva dividiu-se em três períodos: a) fase antropológica: destaque a Cesare
Lombroso, fundador desta corrente; b) fase sociológica - com Enrico Ferri, e por fim; c) fase
jurídica: de Rafael Garofalo.
A fase antropológica de Cesare Lombroso fundou a antropologia criminal, e pregava
em seus preceitos que o crime poderia advir de múltiplas causas, e que o criminoso seria
nato, constituindo assim um tipo antropológico especifico constante destas anomalias.
Conforme Bitencourt, "o criminoso nato seria reconhecido por uma série de estigmas físicos:
assimetria do rosto, dentição anormal, orelhas grandes, olhos defeituosos, [...]. Lombroso
chegou a acreditar que os criminosos natos serias subespécie do homem." (2008, p. 56).
Nesta fase o crime era visto como um fato humano oriundo de fatores individuais,
físicos e morais.
Na segunda fase, a sociológica, nas idéias de Enrico Ferri, surge a sociologia criminal,
pregando a responsabilidade social substituindo a moral. Ferri defende que a pena deve ser

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adequada ao criminoso, sendo de forma indeterminada, cuja finalidade seria a readequação
para o convívio do individuou na sociedade.
Ferri entendia que a maioria dos delinqüentes poderia ser readaptável, fazendo
exceção aos criminosos habituais.
Outro período da Escola positiva, a fase jurídica, com as idéias do jurista Rafael
Garofalo, pretendia sistematizar os conceitos jurídicos dentro dessa corrente.
Seus preceitos fundamentais, segundo Bitencourt, são: "a periculosidade é fundamento
da responsabilidade do delinqüente, a prevenção como fim da pena e fundamentação do
direito de punir com a teoria da defesa social". (2008, p. 57)
A pena, para Garofalo, não deveria assumir um caráter ressocializador, e sim, a
incapacitação do indivíduo criminoso, chegando até defender a pena de morte aos
delinqüentes cuja capacidade de readaptação seria nula, como no caso dos criminosos natos.
Em sua obra, a Criminologia, Garofalo faz a aplicação da antropologia e da sociologia
ao Direito Penal.
Na concepção de Jorge, a escola positiva resume-se nas seguintes idéias:
a) o delito é um fenômeno natural e socializador produzido por causas de ordem biológica
física e social; b) o delinqüente é biológica e psiquicamente um anormal; c) a crença no livre
arbítrio da criatura humana é uma ilusão. A vontade humana está determinada por influencia de
ordem física, psíquica e social; d) como conseqüência desta concepção determinista, a
responsabilidade penal deixa de fundamentar-se sobre a imputabilidade moral, construindo-se
sobre a base da responsabilidade social; e) a função penal tem por fim a defesa social. (1986,
p.106-107).

3.4. TERCEIRA ESCOLA (TERZA SCUOLA ITALIANA):

A terceira escola também pode ser denominada como positivismo crítico. Seus
idealizadores foram Alimena, Carnevale e Impallomeni, esta corrente apresentou-se de uma
forma mais eclética e buscou seus fundamentos nas escolas clássica e positiva, conciliando as
posições extremadas das duas.
Ao negar o livre arbítrio substituindo-o pelo determinismo, e concebendo o crime
como um fato social e individual, assegurando o fim da pena como principio de defesa social,
assemelha-se ao positivismo, porém admite a distinção entre o imputável como
responsabilidade e os inimputáveis, alheio à responsabilidade penal, assemelhando-se assim
com a Escola Clássica.
Segundo os estudos de Vaccari, os pontos básicos da Terceira Escola podem sintetizar:
"a) Respeito à personalidade do Direito Penal, que não pode ser absorvido pela sociologia

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criminal; b) inadmissibilidade do tipo criminal antropológico, fundando-se na causalidade e
não fatalidade do delito; c) reforma social como imperativo do Estado, na luta contra a
criminalidade”. (2003, p. 14).

3.5. ESCOLA MODERNA ALEMÃ:

Surge por volta do último quarto do século XIX, a Escola Moderna Alemã, com as
idéias de Von Liszt, tratando-se de mais uma escola eclética como a Terceira Escola.
A Escola Moderna tratava o crime como um fato jurídico com efeitos humanos e
sociais cujos motivos seriam os fatores físicos, econômicos e sociais. A pena possui, para esta
corrente, uma função de prevenção em relação a sociedade, e uma função específica que recai
sobre o criminoso.
Buscava através do método experimental a investigação sociológica e antropológica
do indivíduo, excluindo a possibilidade do criminoso possuir caracteres congênitos.
Acreditam que aos inimputáveis, deveriam ser aplicadas medidas acauteladoras, ao
invés de deixá-los alheio à responsabilidade penal.
Bitencourt sintetiza as principais idéias da Escola Moderna como: "a) adoção do
método lógico-abstrato e indutivo-experimental; b) distinção entre imputáveis e inimputáveis;
c) o crime é concebido como fenômeno humano-social e fato jurídico; d) função finalística da
pena; e) eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração."
(2008, p.61).

3.6. ESCOLA TÉCNICA JURÍDICA

A Escola Técnico Jurídica, é hoje a escola de maior influência, surge dos ideais dos
clássicos, extingue a intervenção da filosofia no Direito Penal. O crime é tratado como um
ente jurídico paralelamente a idéia de crime como fato jurídico e social.
Defende a responsabilidade moral fazendo distinção entre a imputabilidade onde pena
deve possuir caráter retribuitivo e expiatório e a inimputabilidade, cujas penas devem ser
medidas de segurança.
Ainda citando o doutrinador Bitencourt, em sua obra acompanhamos as características
da Escola Técnico Jurídica como: "a) o delito é pura relação jurídica de conteúdo social e
individual; b) a pena constitui uma reação e uma e uma conseqüência do crime com função
preventiva geral e especial, aplicável aos imputáveis; c) a medida de segurança - preventiva -

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deve ser aplicável aos inimputáveis; d) responsabilidade moral (vontade livre); e) recusa o
emprego da filosofia no campo penal." (2008, p.62)
Esta Escola discute questões de autonomia do Direito Penal, pois este contém o que
está na lei, sendo esta a única preocupação dos juristas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Após o estudo e direcionamento do assunto proposto dentro desta obra, podemos


conceber a importância para o Direito Penal das Escolas Penais, sendo estas uma série de
correntes com teorias voltadas a aplicação do direito de punir de determinado espaço de
tempo com princípios e fundamentos próprios.
Discutimos a respeito da Escola Clássica – com idéias liberais, pregava o
comprometimento dos criminosos com aspectos patológicos, a Escola Correlacionista que
defendia os direitos e garantias do homem revolucionando o sistema punitivo da época, bem
como a Escola Positiva que sistematizou as formas de punir e aplicou várias ciências humanas
ao Direito Penal a fim de buscar causas e criar métodos científicos para o direito de aplicar as
sanções.
Numa visão mais moderna existiram mais duas escolas que buscaram o meio termo
entre a Positiva e Clássica, foram a Terceira Escola Italiana e a Moderna Escola Alemã, e
apontamos ainda a Escola Técnico Jurídica, a que mais influencia o Direito Penal da
atualidade, pois prega que o direito de punir deve ser somente o previsto pela lei, e que só esta
pode dar resposta a questionamentos surgidos.
Nestes termos podemos perceber que a própria história do Direito Penal bem como a
evolução e construção de seus princípios se confundem e se apóiam nas Escolas Penais bem
como em muitas argumentações defendidas por estas correntes. Alguns autores defendem que
estas escolas nunca existiram e que não passam de mera divisão didática, porém, é certo que
os tempos nos trazem legados que só serão reconhecidos num futuro às vezes bem distante.
Desta forma é bem provável que os dias de hoje seja a construção de mais uma Escola
Penal, que em algum momento da civilização pode ser apreciado assim como apreciamos
neste estudo as idéias de outros tempos.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, volume 1: parte geral. 13°
ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Nascimento da prisão. Traduzido por Raquel


Ramalhete. 13ª ed. Rio de Janeiro: Vozes,1996.

JORGE, Wilian Wanderley. Curso de direito penal: parte geral. 6º ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1986.

LIMA, Fernando. O que é Direito. Disponível em


<http://www.tex.pro.br/wwwroot/04de2005/oqueeodireito_fernandolima.htm> Acessado em
29 de março de 2008.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. Parte Geral: Parte Especial. 3ª
edição. São Paulo: Revista dos Tribunais,2007.

REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 25ª edição. São Paulo: Saraiva,
2006.

VICCARI, Araceli Maira et al. Direito Penal: Escolas de direito. IMMES, 2003.
disponível em: http://www.immes.edu.br/artigos_dir/escolas_p , acesso em 16/03/2008.

ZAFFARONI, Eugenio Raul. Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 5ª ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

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