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Maurício Castillo
Rio Grande – RS
2008
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Fundação Universidade Federal do Rio Grande
Maurício Castillo – 40.263
Rio Grande – RS
2008
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SUMÁRIO:
RESUMO.................................................................................................................................01
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................01
1. Dos conceitos.......................................................................................................................02
2. Dos Antecedentes às Escolas Penais..................................................................................04
3. Da evolução do Direito Penal com análise das Escolas Penais.......................................06
3.1. Escola Clássica.......................................................................................................06
3.2. Escola Correlacionista............................................................................................08
3.3. Escola Positiva.......................................................................................................08
3.4. Terceira Escola.......................................................................................................10
3.5. Escola Moderna Alemã..........................................................................................10
3.6. Escola Técnica Jurídica..........................................................................................11
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................12
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................13
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A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL CONSUBSTANCIADA NO SURGIMENTO
DAS ESCOLAS PENAIS
RESUMO:
O artigo pretende fazer uma análise acerca das modificações ocorridas no Direito Penal, as quais se
basearam evolução das concepções de legitimidade do direito de punir, natureza do delito e fim das
sanções. Utilizando-se, para tal, estudos realizados por importantes doutrinadores do Direito Penal. O
objetivo deste estudo é sanar eventuais dúvidas existentes sobre a matéria.
INTRODUÇÃO:
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1. DOS CONCEITOS:
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fere princípios contidos em lei. A todo ato antijurídico aplicar-se-á uma sanção, que nada
mais é que uma conseqüência jurídica à inobservância da lei.
Como se pode perceber o mundo jurídico, especialmente o Direito Penal, está
consubstanciado na diversidade de conceitos, sendo indispensável sua distinção a fim de
melhor entendê-lo. Tal diversidade é decorrente da evolução do Direito, concomitantemente
ao desenvolvimento da sociedade.
Os avanços ocorridos no Direito Penal ao longo dos tempos são inegáveis e estão
consubstanciados na evolução da idéia de pena. Desde os primórdios da sociedade o homem
busca meios de punir aqueles que ferem os interesses comuns à coletividade.
Os antigos clãs acreditavam que a punição dos infratores era uma maneira de evitar a
fúria dos deuses, a qual atingiria a todo o grupo. Porém, com a dissolução do clã em grupos
menores associados por laços de consangüinidade deram origem as chamadas “vinganças
privadas”, nas quais aos membros lesados era permitida a “retribuição” do mal que lhe fora
causado. No entanto, essa prática de “justiça com as próprias mãos” mostrou-se ineficaz na
proteção da comunidade, visto que acabou tornando a vingança um círculo vicioso.
Essa ineficácia da vingança privada deu origem a outro tipo de vingança, mas dessa
vez a pública. Isso porque o chefe da tribo chama pra si o direito de punir. Nesse período
impera a Lei do Talião, na qual há o entendimento de que o infrator deve sofrer uma punição
equivalente ao mal causado.
Conquanto o Talião visasse somente à punição do individuo, não priorizando sua
ressocialização, para alguns doutrinadores esse período representou uma evolução no Direito
Penal, na medida em que gerou maior comedimento entre o crime e a sanção.
O Império Romano também contribuiu expressivamente para o Direto Penal, uma vez
que durante o período da República houve “significativos avanços na concepção do elemento
subjetivo do crime, diferenciando-se o dolo de ímpeto do dolo de premeditação.” (NUCCI,
2007; p. 58).
Com a chegada da Idade Média e da Igreja Católica ao poder, muito embora a pena
ainda possuísse dispositivos repressivos muito cruéis, passou a visar à reinserção do individuo
na sociedade. No século XVII a punição dos criminosos era um “espetáculo público”, os
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suplícios além de punirem o acusado serviam também para intimidar os demais membros da
sociedade, a fim de que não viessem a cometer atos criminosos. Ademais era uma maneira de
dominação dos poderosos em detrimento do restante da população. Para Foucault “essa
superioridade, não é simplesmente a do direito, mas a da força física do soberano que se abate
sobre o corpo de seu adversário e o domina.”
Com o passar do tempo os suplícios começaram a ser veementemente criticados não
somente pelos intelectuais da época, mas também pela população em geral, tornando-se
ineficaz como meio de controle social. Com isso, as sanções transpuseram-se de meros
castigos físicos à privação da liberdade, ganhando um caráter utilitarista, pois passou a ser
vista como uma preparação do individuo ao mercado capitalista ascendente.
O sofrimento causado pelo suplicio, tanto para o acusado como para sua família, deu
origem a um movimento impulsionado pelas idéias iluministas. Esse movimento, denominado
Escolas Penais, representou um novo modo de ver o sistema penal, clamando pelo fim da
crueldade na aplicação das penas.
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relevância aos seres humanos atuantes no Contrato social, numa visão positivista,
desenvolveu-se ao longo de uma trajetória baseada em fatos ligados aos crimes e sanções
empregadas a cada época.
O bem comum e a regulação harmônica do convívio social fazem parte da evolução do
sistema penal como um todo, atribuindo a seus estudiosos a preocupação com o entendimento
do delito e o direito de punir questionando as mais diversas formas de aplicação das sanções
por determinados períodos da história. Com isto surgem as chamadas Escolas Penais, ou seja,
correntes jus-filiosóficas de teorias e pensamentos que estruturavam de forma organizada os
princípios fundamentais do Direito Penal empregados a cada época e cada contexto.
Bitencourt define as escolas penais como "o corpo orgânico de concepções
contrapostas sobre a legitimidade do direito de punir, sobre a natureza do delito e sobre o fim
das sanções.” (2008, p.49)
Passamos a discorrer a cerca das escolas penais, como surgiram, seus marcos e
pensadores mais importantes e entre outros aspectos, sendo elas: Escola Clássica, Escola
positiva, Terceira Escola, Escola Moderna Alemã, Escola Técnico Jurídica e Escola
Correlacionista.
Numa corrente com ideais iluministas, com idéias políticas extraídas da revolução
francesa, surge ao fim do século XVIII a Escola Clássica. Esta escola fazia críticas ao
absolutismo da época, defendendo a democracia do estado em conformidade com princípios
liberais, havia nesta concepção uma grande preocupação no que diz respeito aos direitos
fundamentais do indivíduo bem como as suas garantias.
Os principais idealizadores do classicismo penal foram o inglês Benthan, o alemão
Feweurbach, o italiano Romagnosi e o de maior destaque Francesco Carrara.
A Escola Clássica teve dois períodos distintos: o teórico-filosófico e o período ético-
jurídico.
O período teórico-filosófico se inicia na obra de Baccaria - Dos delitos e das penas -
este período pretendia, segundo Bitencourt, adotar um Direito Penal fundamentado na
necessidade social. (2008, p. 51). Já o período ético jurídico, ainda na concepção do autor, se
acentua a exigência ética de retribuição, representada pela sanção. (2008, p. 52)
A concepção de crime para esta escola era de que este não seria um ente de fato, mas
um ente jurídico tratando-se de uma infração e violação de direitos, ou seja, além da ação e
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resultado que o crime venha trazer, este estaria também causando um dolo político e moral
para a sociedade como um todo.
A responsabilidade Penal, baseada no livre arbítrio, com influencia iluminista, seria a
base do sistema penal, pois só poderia cometer delitos quem tivesse a liberdade de escolha.
Viccaria aponta em sua obra o fundamento da responsabilidade penal como "a
responsabilidade que tem por base o livre arbítrio, sendo a liberdade fundamental para todo o
sistema positivo. O inimputável por não possuir livre arbítrio, é penalmente irresponsável.
(2003, p. 06)
A Pena para os clássicos era discutida sob três teorias: a absoluta - cujo entendimento
seria a busca de justiça; a relativa - cujo fim seria a prevenção, e por fim; a mista - mostrava a
pena como a busca pelo ideal justo com a utilidade preventiva.
Para Jorge, os caracteres mais relevantes da Escola Clássica podem ser definidos
como:
a) o delito é um ente jurídico; b) a ciência do Direito Penal é uma ordem emanada da lei moral
e jurídica; c) a tutela jurídica é o fundamento legítimo da repressão e também seu fim; d) a
qualidade e a quantidade da pena, que é repressiva, devem ser proporcionais ao dano que com
o delito se causou ao direito cujo perigo que este correu; e) a responsabilidade criminal se
funda na imputabilidade moral, já que não há agressão ao direito se a ação não procede de uma
vontade inteligente e livre; f) o livre arbítrio, aceito como dogma, por que sem ele o Direito
penal, ao ver dos clássicos, careceria de base. (1986, p. 102 - 103).
Com isto pode-se definir a Escola Clássica como a corrente que defendia princípios
penais que iam desde o crime como uma entidade jurídica dependente da vontade subjetiva do
seu agente, defendia princípios de reserva legal bem como a proporcionalidade da pena.
Fundada pelo alemão Carlos David Augusto Roeder, surge na terceira década do
século XIX a Escola Correlacionista, uma corrente que enfatizava seus estudos muito mais no
delinqüente do que a prática de seus atos. A escola defendia um Estado com uma aplicação de
Direito Penal capaz de readaptar o criminoso na sociedade, corrigindo os motivos pelos quais
culminaram as suas condutas lesivas. Viccari defende que "incumbe ao Estado não só a
adaptação do delinqüente à vida social, como também sua emenda íntima”. (2003, p.07).
A pena tratava-se de uma profilaxia em relação ao delinqüente, pois deveria agir como
um tratamento de readequação social, e teria fim quando a necessidade demonstrasse.
Segundo Jorge "a pena seria, para Roeder um remédio que curaria o criminoso, o purificaria e
seria, em última análise, um bem para ele próprio" (1986, p.103).
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Na concepção de Bitencourt as características do correlacionismo seriam: a pena
idônea é a privação de liberdade, que deve ser indeterminada; o arbítrio judicial deve ser
ampliado em relação à individualização da pena; a função da pena é uma verdadeira tutela
social; a responsabilidade penal como responsabilidade coletiva, solidária e difusa". (2008, p
64).
Podemos perceber que a Escola Correlacionista, foi uma revolução para o sistema
penal da época, pois englobou de maneira uniforme os direitos e garantias individuais do
homem protegendo este até em seu estado de maior descrença social, pois ao proteger os
direitos do criminoso também defendia os valores e direitos de uma sociedade justa.
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adequada ao criminoso, sendo de forma indeterminada, cuja finalidade seria a readequação
para o convívio do individuou na sociedade.
Ferri entendia que a maioria dos delinqüentes poderia ser readaptável, fazendo
exceção aos criminosos habituais.
Outro período da Escola positiva, a fase jurídica, com as idéias do jurista Rafael
Garofalo, pretendia sistematizar os conceitos jurídicos dentro dessa corrente.
Seus preceitos fundamentais, segundo Bitencourt, são: "a periculosidade é fundamento
da responsabilidade do delinqüente, a prevenção como fim da pena e fundamentação do
direito de punir com a teoria da defesa social". (2008, p. 57)
A pena, para Garofalo, não deveria assumir um caráter ressocializador, e sim, a
incapacitação do indivíduo criminoso, chegando até defender a pena de morte aos
delinqüentes cuja capacidade de readaptação seria nula, como no caso dos criminosos natos.
Em sua obra, a Criminologia, Garofalo faz a aplicação da antropologia e da sociologia
ao Direito Penal.
Na concepção de Jorge, a escola positiva resume-se nas seguintes idéias:
a) o delito é um fenômeno natural e socializador produzido por causas de ordem biológica
física e social; b) o delinqüente é biológica e psiquicamente um anormal; c) a crença no livre
arbítrio da criatura humana é uma ilusão. A vontade humana está determinada por influencia de
ordem física, psíquica e social; d) como conseqüência desta concepção determinista, a
responsabilidade penal deixa de fundamentar-se sobre a imputabilidade moral, construindo-se
sobre a base da responsabilidade social; e) a função penal tem por fim a defesa social. (1986,
p.106-107).
A terceira escola também pode ser denominada como positivismo crítico. Seus
idealizadores foram Alimena, Carnevale e Impallomeni, esta corrente apresentou-se de uma
forma mais eclética e buscou seus fundamentos nas escolas clássica e positiva, conciliando as
posições extremadas das duas.
Ao negar o livre arbítrio substituindo-o pelo determinismo, e concebendo o crime
como um fato social e individual, assegurando o fim da pena como principio de defesa social,
assemelha-se ao positivismo, porém admite a distinção entre o imputável como
responsabilidade e os inimputáveis, alheio à responsabilidade penal, assemelhando-se assim
com a Escola Clássica.
Segundo os estudos de Vaccari, os pontos básicos da Terceira Escola podem sintetizar:
"a) Respeito à personalidade do Direito Penal, que não pode ser absorvido pela sociologia
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criminal; b) inadmissibilidade do tipo criminal antropológico, fundando-se na causalidade e
não fatalidade do delito; c) reforma social como imperativo do Estado, na luta contra a
criminalidade”. (2003, p. 14).
Surge por volta do último quarto do século XIX, a Escola Moderna Alemã, com as
idéias de Von Liszt, tratando-se de mais uma escola eclética como a Terceira Escola.
A Escola Moderna tratava o crime como um fato jurídico com efeitos humanos e
sociais cujos motivos seriam os fatores físicos, econômicos e sociais. A pena possui, para esta
corrente, uma função de prevenção em relação a sociedade, e uma função específica que recai
sobre o criminoso.
Buscava através do método experimental a investigação sociológica e antropológica
do indivíduo, excluindo a possibilidade do criminoso possuir caracteres congênitos.
Acreditam que aos inimputáveis, deveriam ser aplicadas medidas acauteladoras, ao
invés de deixá-los alheio à responsabilidade penal.
Bitencourt sintetiza as principais idéias da Escola Moderna como: "a) adoção do
método lógico-abstrato e indutivo-experimental; b) distinção entre imputáveis e inimputáveis;
c) o crime é concebido como fenômeno humano-social e fato jurídico; d) função finalística da
pena; e) eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração."
(2008, p.61).
A Escola Técnico Jurídica, é hoje a escola de maior influência, surge dos ideais dos
clássicos, extingue a intervenção da filosofia no Direito Penal. O crime é tratado como um
ente jurídico paralelamente a idéia de crime como fato jurídico e social.
Defende a responsabilidade moral fazendo distinção entre a imputabilidade onde pena
deve possuir caráter retribuitivo e expiatório e a inimputabilidade, cujas penas devem ser
medidas de segurança.
Ainda citando o doutrinador Bitencourt, em sua obra acompanhamos as características
da Escola Técnico Jurídica como: "a) o delito é pura relação jurídica de conteúdo social e
individual; b) a pena constitui uma reação e uma e uma conseqüência do crime com função
preventiva geral e especial, aplicável aos imputáveis; c) a medida de segurança - preventiva -
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deve ser aplicável aos inimputáveis; d) responsabilidade moral (vontade livre); e) recusa o
emprego da filosofia no campo penal." (2008, p.62)
Esta Escola discute questões de autonomia do Direito Penal, pois este contém o que
está na lei, sendo esta a única preocupação dos juristas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, volume 1: parte geral. 13°
ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
JORGE, Wilian Wanderley. Curso de direito penal: parte geral. 6º ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1986.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. Parte Geral: Parte Especial. 3ª
edição. São Paulo: Revista dos Tribunais,2007.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 25ª edição. São Paulo: Saraiva,
2006.
VICCARI, Araceli Maira et al. Direito Penal: Escolas de direito. IMMES, 2003.
disponível em: http://www.immes.edu.br/artigos_dir/escolas_p , acesso em 16/03/2008.
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 5ª ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
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