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Igreja Evangélica Amor de Cristo de Moçambique

Departamento de Estudo Bíblico


Tema: OBREIRO

A DISCIPLINA NA VIDA DO OBREIRO

Veja como o factor disciplina é fundamental para que o líder cristão cumpra o seu
ministério

As pessoas sempre buscam o seu próprio bem-estar, seja físico, emocional ou material. A mídia,
por sua vez, sempre divulga receitas e métodos que levam à felicidade temporal. Muda-se o
cabelo, as roupas, compram-se carros, casas e, às vezes, vivem dissolutamente, etc.

Entretanto, para nós que servimos a um Deus-vivo, o valor verdadeiro e permanente da alegria
consiste em estar em plena comunhão com Ele. A Bíblia expõe isto de diversas maneiras:
“justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”,
Rm 5.1. A justificação nos reconcilia com Deus (2Co 5.18-19). Aqueles que buscam ao Senhor
encontram a vida (Am 5.4).

A disciplina e a instrução do Senhor sempre nos trazem benefícios: “Filho meu, atenta para as
minhas palavras; aos meus ensinamentos inclina os ornados. Não os deixes apartar-se dos teus
olhos; guarda-os no mais íntimo do teu coração. Porque são vida para quem os acha e saúde, para
o seu corpo”, Pv 4.20-22.

A DISCIPLINA

Não confundamos disciplina com doutrina bíblica, muito menos com usos e costumes. A
disciplina está relacionada à ética (sistema de princípios morais, regras e padrões de conduta) e a
moral (princípio de certo e errado), e deriva, para a Igreja, da doutrina. Por disciplina, podemos
definir como “um conjunto de instruções destinado a manter a boa ordem”. Para os cristãos, estas
instruções são os preceitos divinos (Sl 19.8) que nos fazem andar no caminho da justiça e da
verdade.

Doutrina é, por sua vez, o conjunto de princípios bíblicos, teológicos, éticos e morais, expostos
mediante ensino sistemático.

Usos e costumes são decorrência das tradições que nossas igrejas herdaram no que diz respeito
ao vestuário e a outros pontos de importância periférica à vida cristã. São estritamente
dependentes do contexto cultural e/ou histórico da igreja.

O princípio da disciplina deve ser bíblico: “não desprezes, pois, a disciplina do Todo-Poderoso”,
Jó 5.17. Os preceitos do Senhor são lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos

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(Sl 119.105). Nossas regras de conduta devem ser baseadas estritamente na Bíblia, uma vez que
o obreiro deve ter como alvo agradar a Deus e não a si próprio.

No entanto, extremos devem ser evitados. Assim como existem aqueles que fazem a obra do
Senhor relaxadamente, também encontramos os que são regidos por uma disciplina tão exigente
que terminam julgando a si mesmos (1Co 4.3). Tais são os que, mesmo na Igreja, ainda carregam
o fardo pesado do legalismo e da observância às tradições humanas (Mt 23.4). Temperança é
uma virtude que deve ser vivida por todo cristão (Gl 5.22).

DISCIPLINA NA VIDA DO OBREIRO

 O obreiro é chamado para servir à igreja e ao Reino de Deus. Tais tarefas acarretam em
responsabilidades que são alheias a cristãos comuns. Melhor é o homem que “domina o seu
espírito, do que o que toma uma cidade”, Ec 16.32.

Um obreiro disciplinado tem uma vida espiritual sadia, e palavras apropriadas para todas as
circunstâncias. Ele conhece, ora, jejua, serve, adora, obedece, é humilde, corrige e é padrão de
conduta (1Tm 4.12), não é preguiçoso (Rm 16.12), e não tem do que se envergonhar pois maneja
bem a Palavra da verdade (2Tm 2.15).

Talvez alguém pergunte se existe a necessidade de disciplina para a cura da alma. Ora a resposta
é sim, pois como foi exposto acima, o coração humano é desesperadamente corrupto. Analise o
que diz Paulo acerca do soldado: “Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo
Jesus. Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é
satisfazer àquele que o arregimentou”, 2Tm 2.3-4. Assim também é o obreiro que serve a Deus.
Ele não busca fazer a sua vontade, mas sim a vontade de seu Senhor.

Cristo veio cumprir a vontade do Pai (Jo 4.34), foi obediente até à morte (Fp 2.8); como filho,
aprendeu a obediência (Hb 5.8); em tudo foi disciplinado, pois viveu sem pecado (Hb 4.15), e
deixou o exemplo a ser seguido (1Pe 2.21).

Agora imagine se o apóstolo Paulo não estudasse as Escrituras (2Tm 4.13), saberia ele como
ensinar à igreja de Deus? Imagine também se ele não gostasse de orar (2Co 12.7-10)? Teria ele
recebido as revelações de Deus. Ou ainda se ele fosse preguiçoso (At 18.2-3), como teria se
mantido quando pregou o Evangelho em Tessalônica (1Ts 2.9)?

Por outro lado, vemos que aqueles que rejeitam uma boa consciência, naufragam na fé (1Tm
1.19). Demas amou este presente século (2Tm 4.10), pois o mundo ensina os homens a viverem
dissolutamente.

Sejamos sóbrios e vigilantes pois o “diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que
ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5.8).

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O EXERCÍCIO DA AUTORIDADE

Saber como usar a Bíblia é fundamental na vida do líder. E triste quando encontramos uma igreja
onde seu líder não sabe como usar as Escrituras. Como um líder que não sabe usar a Bíblia
poderá tratar de assuntos éticos, morais e doutrinários? Como poderá aplicar a disciplina ao
corpo de obreiros ou a disciplina eclesiástica aos membros?

Devemos sempre ter em mente que nossa autoridade advém de Deus. A Bíblia não é apenas um
livro, é a Palavra de Deus. As Escrituras têm o poder de penetrar no mais íntimo do coração
humano e ainda discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4.12).

A palavra do Espírito deve estar sempre em nosso coração e em nossos lábios (Ef 6.17), porque
não lutamos contra a carne ou contra o sangue, mas sim contra as hostes espirituais das trevas (Ef
6.12).

Cristo venceu a tentação do maligno usando a Palavra de Deus: “Mas Jesus lhe respondeu: Está
escrito: Nem só de pão viverá o homem” (citação de Deuteronômio 8.3), “... mas de toda Palavra
que procede da boca de Deus”. Jesus ainda lhe respondeu: “Também está escrito: Ao Senhor, teu
Deus, adorarás e só a ele darás culto”, Dt 6.13.

Adiante, novamente Jesus cita as Escrituras: “Respondeu-lhe Jesus: Dito está: ‘Não tentarás ao
Senhor, teu Deus’”, citação de Deuteronômio 6.16 (cf. Lc 4.4,8,12). Ora, se o próprio Filho de
Deus usou as Escrituras com toda autoridade, quanto mais nós, seus imitadores...

E interessante observar que a autoridade que Jesus tinha para ensinar não estava baseada em algo
novo ou diferente, mas na familiaridade que Cristo possuía com as Escrituras. Observe as
citações do AT feitas no Sermão do Monte em Mateus 5-7.

Os que ouvem a Palavra de Deus não serão justificados, mas sim, os que a praticam (Rm 2.13).
Este é o segundo princípio da adequada aplicação da autoridade do líder na igreja. A Bíblia, com
toda a sua autoridade, é pura e suficiente para a salvação de todo aquele que ouve e crê no
Evangelho (Rm 10.5-15). Mas esta suficiência das Escrituras não deve ser justificativa para o
obreiro, especialmente o líder, viver relaxadamente.

As prerrogativas do líder cristão são claramente expostas na Bíblia: ele deve ser irrepreensível,
esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, não violento, cordato, inimigo de contendas, não
avarento, que governe bem a própria família, não neófito, e deve ter bom testemunho dos de fora
(1Tm 3.1-7).

Caso o líder cristão que não possua essas prerrogativas, será alvo fácil das ciladas do maligno,
pois aquilo que ele prega não condiz com o que vive.

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O Senhor Jesus não só ensinava com autoridade como também não tinha nada do que se
envergonhar. Ninguém podia lhe acusar de erro (Jo 8.46). Suas palavras eram profundas e
verdadeiras, sobretudo foi a sua morte na cruz que provou o amor de Deus para conosco (Rm
5.8).

Nossos sermões podem ser os sermões mais lindos já pregados, mas é preferível um líder simples
que vive uma vida digna, do que um erudito que não vive na disciplina e doutrina do Senhor.

A autoridade do líder pode também ser vista no seu exemplo pessoal, na sua família e por meio
de suas palavras. Jesus fora destacado em seus ensinos entre a multidão porque a sua doutrina
tinha autoridade. Ela não tinha o mesmo caráter da doutrina dos escribas (Mt 7.29), que além de
não ter autoridade, não tinha propriedade, pois em essência não condizia com aquilo que viviam.

O próprio Senhor Jesus os censurou neste aspecto: “Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos
disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem”, Mt 23.3.

Esses dois princípios são suficientes na vida o líder de Deus para a boa condução da igreja e para
o uso adequado da autoridade que Deus lhe deu. O líder cristão jamais deve usar sua autoridade
para fugir desses princípios bíblicos.

A AUTODISCIPLINA 

O apóstolo Paulo diz que “todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos” (2Tm 3.12). Como bom soldado, o líder cristão dever ser disciplinado, deve
renunciar-se a si mesmo elevar sua cruz (Mt 16.24), pois todo aquele que dentre os homens não
renuncia a tudo quanto tem não pode ser discípulo (Lc 14.33).

Um soldado não busca seus interesses. Antes ele é disciplinado. Imaginem um soldado que
acorda às 10h da manhã, que não faz exercícios físicos, almoça e janta em horários confusos; que
não faça a barba todo dia, e que ainda por cima não cumpre as ordens de seu comandante. Será
que este soldado alistou-se mesmo ou ele só esta dando a impressão que é do exercito?

Da mesma forma, um líder cristão deve ajustar e coordenar as suas vontades e desejos, produzir e
treinar os pensamentos, direcionar e limitar sentimentos, educar e transformar comportamento e
atitudes.

O apóstolo Paulo era tão focado e disciplinado, em seu ministério, que convocou Timóteo,
dizendo para que este sofresse juntamente com ele as aflições como um bom soldado de Cristo
(2Tm 2.3).

Um atleta não é coroado se não competir segundo as normas (2Tm 2.5). Nesta metáfora, Paulo
compara o líder a um atleta que só pode ganhar uma competição se estiver de acordo com as
normas. Nós só poderemos honrar e servir a Deus e à sua Igreja adequadamente se formos
disciplinados o suficiente para cumprimos as normas que Deus estabeleceu para nós em sua

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Palavra. Nossos instintos carnais devem ser deixados de lado; nossos sonhos, que não glorificam
a Deus, devem ser renunciados.

A disciplina do Senhor, muitas vezes, parece ser pesada para nós, mas a recompensa é
incomparável, porque o nosso leve sofrimento hoje não deve ser comparado com o peso da gloria
que há de ser manifestada (2Co 4.17). Na verdade “Toda disciplina, com efeito, no momento não
parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que
têm sido por ela exercitados, fruto de justiça. Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os
joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco;
antes, seja curado”, Hb 12.11-13. Deus sempre nos corrige para o aproveitamento, para sermos
participante da sua santidade (Hb 12.10).

Na autodisciplina, o obreiro deve ter em mente esses princípios gerais; deve também ter plena
consciência de que, através disso, não apenas a sua alma é renovada e curada, mas também a de
seus ouvintes, visto que ele é um instrumento de Deus à edificação da igreja (Ef 4.11-13).

DISCIPLINA DO CORPO

Deus, antigamente, habitava entre o seu povo, mas hoje o Espírito Santo está dentro de cada
crente, (Jo 7.39; 14.17). Nosso corpo é templo do Espírito Santo (1Co 6.19). Como tabernáculo
de Deus, devemos glorificá-lo através do corpo (1Co 6.20).

Os líderes evangélicos devem ter uma disciplina diária com o seu corpo. Eles devem sempre
estar, logo pela manhã, dispostos às funções que exercem na casa de Deus.

Os sacerdotes no Antigo Testamento tinham muitas funções no Templo, a ponto de Deus separar
a tribo de Levi apenas para esse oficio. Os sacerdotes seguiam um ritual criterioso de purificação
do corpo, antes de oferecer os sacrifícios, (Êx 29.4), o que mostra o valor que Deus dá a estas
questões que muitas vezes passam desapercebidas por nós.

Jesus, diversas vezes, passou horas orando (Lc 6.12). Certa vez, seu corpo estava tão cansado
que dormia em meio a uma tempestade (Mt 8.24), mas Cristo não comia o pão da preguiça. Ele
chegou a afirmar que: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”, Jo 5.17.

Jesus fez em três anos e meio de ministério o que nós, talvez, levemos uma vida inteira. Todavia,
como pode ser observado, Ele era um homem experimentado no trabalho. A Bíblia o chama de
“homem de dores que sabe o que é padecer”, (Is 53.3).

Nós, trabalhamos, padecemos, mas para o nosso próprio benefício. O Senhor Jesus fez tudo isso
não para o seu benefício, mas para o bem de todos os seres humanos. Semelhantemente aquele
que serve à Igreja deve saber que o maior entre nós, servirá o menor (Lc 22.26-27). Cristo disse,
“Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”, Jo 13.15.

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E claro que nós também não podemos abusar de nosso corpo a tal ponto de destruirmos o
Templo do Espírito Santo. Aqui vale novamente a recomendação bíblica de que o obreiro deve
ser sóbrio e equilibrado em tudo o que faz.

Não são poucos os homens de Deus que adquirem, em seu ministério, uma enfermidade que é
como um espinho na carne, mas, “não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem
exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia”, 2Co 4.16.
Mesmo que soframos debilidades físicas, em servir ao Senhor, nossa esperança não se murcha,
pois se com Cristo padecemos, com ele seremos glorificados (Rm 8.17).

Esses princípios nos ensinam que o líder disciplinado é aquele que se entrega por inteiro à obra
de Deus; que obedece cabalmente à sua vontade. Quem dá o crescimento é Deus! Assim, o corpo
como invólucro da alma deve ser disciplinado, o que começa, antes de tudo, no coração.

A ALMA HUMANA

A alma é aquele princípio vivificante e inteligente que anima o corpo humano. Tanto os homens
como os animais possuem alma. Os animais possuem uma alma que vive somente enquanto
durar o corpo, enquanto que o ser humano possui uma alma de qualidade diferente, que é
vivificada pelo espírito humano. A alma distingue um homem de outro e, dessa maneira, forma a
base da individualidade.

A alma vive por meio dos instintos ou dotes, que são forças motrizes da personalidade, com as
quais o Criador dotou o homem para fazê-lo apto a uma existência terrena, assim como também
o dotou de faculdades espirituais para fazê-lo capaz de uma existência espiritual.

Pelos instintos, cada criatura tem a capacidade de fazer tudo o que é necessário para originar e
preservar a vida natural. Podemos considerar os cinco instintos mais importantes: 1) o instinto da
autopreservação; 2) o instinto aquisitivo; 3) o instinto de alimentar-se; 4) o instinto reprodutivo;
5) o instinto de domínio.

Para regulamentar as faculdades humanas, Deus impôs uma Lei. O entendimento do homem
quanto à Lei produziu uma consciência que significa literalmente “com conhecimento”. Quando
o homem deu ouvidos à Lei, teve a consciência esclarecida, mas quando desobedeceu a Deus,
sofreu, pois a sua consciência o acusava. Lemos em Gênesis 3 que o homem cedeu à
concupiscência dos olhos, à cobiça da carne, e à vaidade da vida. A alma conscientemente e
voluntariamente usou o corpo para pecar contra Deus.

Com essas atitudes, o homem herdou consequências dessa perversão: a) a consciência que sente
culpa, dizendo ao homem que desonrou seu Criador, e avisando-o da pena terrível; b) a
perversão dos instintos reage sobre a alma, debilitando a vontade, incitando e fortalecendo os
hábitos maus, e criando deformação do caráter.

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Paulo escreveu um catálogo dos sintomas desses “defeitos” da alma (uma palavra hebraica
traduzida por “pecado” e que significa literalmente “tortuosidade” em Gálatas 5.19-21: “Ora as
obras da carne são manifestas, as quais são: a fornicação, a impureza, a lascívia, a idolatria, a
feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos,
as invejas, as bebedices, as orgias, e outras coisas semelhantes”.

Paulo considerou tais coisas tão sérias que acrescenta as palavras, “os que tais coisas praticam,
não herdarão o reino de Deus”. Sob o poder do pecado, a alma torna-se morta nos seus delitos.
Ao morrer, a alma terá que passar para o outro mundo, “marcada pela carne” (Judas 23).

Felizmente existe um remédio para tudo isso — a cura dupla, tanto para a culpa como para o
poder do pecado, que é uma ofensa a Deus. Portanto, foi exigida uma expiação para remover
essa culpa e purificar a consciência.

A provisão do Evangelho é o sangue de Jesus Cristo. O pecado traz doença à alma e desordem ao
ser humano, requerendo assim um poder curativo e corretivo. É justamente nesta hora que
somente aquela operação interna do Espírito Santo endireita as coisas tortas da nossa natureza e
põe as coisas no rumo certo na nossa vida. Os resultados são os frutos do espírito, amor, gozo,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e temperança (Gl 5.22-23).

DISCIPLINA ESPIRITUAL

Os aspectos da disciplina voltados para o homem interior possuem um caráter espiritual. É por
natureza vertical, voltado para cima.

Temos recebido de Deus uma grande gama de benefícios espirituais, tais como eleição,
regeneração, justificação, adoção, fé, arrependimento, santificação, batismo e plenitude do
Espírito Santo, dons espirituais, dons ministeriais, e, por fim, ainda a vida eterna.

A base da nossa disciplina espiritual está relacionada à obra da santificação que o Espírito Santo
realiza em nosso coração. É a batalha entre o Espírito Santo e a nossa natureza pecaminosa (Gl
5.17).

O líder cristão deve ter uma mente disciplinada, não se conformando com o mundo (Rm 12.2). A
consagração da mente é algo muito importante na vida do obreiro. Hermann Bavinck, teólogo
Holandês, certa vez, escreveu: “O teólogo é uma pessoa que se esforça para falar sobre Deus,
porque ele fala fora de Deus e por meio de Deus. Professar a teologia é fazer um trabalho santo.
E realizar uma ministração sacerdotal na casa do Senhor. Isso é por si mesmo um serviço de
culto, uma consagração da mente e do coração em honra ao seu nome”.

Paulo recomenda aos irmãos de Filipos, “irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama,
se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento”, Fp
4.8.

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Uma forma de avaliar como vai a nossa mente é prestarmos atenção no que a nossa boca
constantemente anda falando, pois a boca fala daquilo que o coração está cheio, daquilo que a
mente se ocupa (Mt 12.34).

Quando um líder passa a ter uma mente disciplinada, ele repreende toda forma de “sofisma” e
“toda altivez” que se levante contra o conhecimento de Deus; “leva cativo todo pensamento à
obediência de Cristo” (2Co 10.4-5) e compara coisas espirituais com coisas espirituais. Em
suma, nossa mente deve ser de Cristo (2Co 2.12-16).

Outro item importante à disciplina espiritual é o exercício constante da fé cristã, pelos meio
ordinários constituídos por Deus, que são a leitura da Bíblia, a oração, a adoração e louvor e a
Santa Ceia. Já o exercício da fé, através dos meios extraordinários, são aquelas obras que Deus
realiza no dia-a-dia de nossa vida.

A disciplina espiritual do obreiro deve estender-se à igreja. Observe que, quando Cristo censurou
algumas igrejas na Ásia menor, Ele dirigiu-se ao “anjo da Igreja”, que é o líder do rebanho de
Deus aqui na Terra (Ap 2.3), porque compete ao líder ser o canal de bênçãos para o povo de
Deus.

Ao obreiro é conveniente a irrepreensibilidade. Ele é um padrão para os fiéis. O Senhor não


somente exige qualidade, mas também nos dá graça para executarmos a sua vontade.

O PREPARO DO OBREIRO 

A necessidade do preparo do obreiro para o exercício de suas atividades diante da igreja


que pastoreia e da sociedade onde está inserida

Para exercer seu ministério, é necessário que o obreiro cristão seja vocacionado e chamado por
Deus, tenha convicção de sua salvação e chamada ministerial e mantenha a chama pentecostal
ardendo no seu coração continuamente, sem esquecer que representa uma instituição religiosa
localizada em uma sociedade e que tem identidade jurídica. Sendo assim, o obreiro tem de se
ajustar ao perfil do contexto social em que vive e buscar conhecimento para exercer com
maestria, em todos os aspectos, sua missão como líder do povo que Deus lhe confiou, sem
perder, é claro, a visão da sua chamada, a sua identidade espiritual, a humildade em Cristo Jesus
e, acima de tudo, manter-se fiel ao compromisso com a volta do Seu Senhor (Lc 18.8; 1Ts 4.13-
18).

Diante do avanço tecnológico e do grande número de informações e novidades que o novo


século traz, nasce um novo desafio frente aos líderes evangélicos, que é a sua preparação para
enfrentar tudo isso. Antigamente não se exigia tanta qualificação para um líder, pois havia uma
demanda de conhecimentos um tanto rudimentar. Mas hoje a situação é bem diferente. Na área
comercial fala-se de um novo tipo de profissional, não mais a figura do burocrata, do homem que
executa uma tarefa ou tarefas inerentes à sua profissão. Existe hoje a figura do “funcionário” ou

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líder polivalente, isto é, que reúne em si vários níveis de conhecimento possibilitando uma
praticidade, objetividade e produtividade maiores nas execuções de tarefas.

Convivemos com pessoas de variados tipos de profissões, deste o entregador, arrumador, gari,
lavador de carros, empregada doméstica, vigia, até programadores, universitários, professores,
médicos, dentistas, funcionários públicos, advogados, enfim profissionais liberais, que na
verdade esperam muito da pessoa do líder cristão, não só na parte da unção (lado espiritual),
como também sofisticação ou interação com diversos setores a eles relacionados.

Para se falar e até portar-se diante de pessoas “simples” não é exigido muito da pessoa do líder,
mas quando o ambiente está mesclado de pessoas que detêm maiores conhecimentos ou status,
necessitará de um preparo ou ainda um maior esforço do líder para, pelo menos, tentar equiparar-
se às suas realidades.

Portanto, é de fundamental importância o obreiro está contextualizado com a realidade que o


circunda preparando-se cada vez mais de modo sábio e ao mesmo tempo prudente, retendo o que
é bom (1Ts 5.21) para ser aplicado no seu ministério.

A NECESSIDADE DO PREPARO INTELECTUAL

O atual contexto de mundo e seus desafios

Querendo ou não admitir o obreiro é um ser social, gregário, de relações interpessoais as mais
diversas. Não se têm na lista do obreiro, somente pessoas nascidas de novo, crentes em Cristo
Jesus. Sua cadeia de relacionamento vai do membro, congregado, ao comerciante, mendigo,
padre, funcionário público, vendedor, policial, médico, prefeito, deputado, governador, vereador,
presidente da câmara municipal de sua cidade, enfim, vive numa sociedade que naturalmente, ele
tem que ter contato por ser uma referência religiosa.

A maneira como o obreiro vai se apresentar define muito sua personalidade e o grupo que
representa. Daí a necessidade de entender como utilizar vocativos para o prefeito, o vereador, o
governador; entender como funciona os tributos do seu Estado para então orientar um cristão que
é comerciante a pagar seus impostos, pois do contrário estará sendo corrupto nisso.

Enfim, o contexto de mundo atual é bastante desafiador para o obreiro cristão. E este precisa
estar pelo menos informado como funcionam as coisas e os sistemas em que está inserido.

A dificuldade em pastorear as igrejas

Cada dia o nível de dificuldades aumenta quando se trata do pastoreio do rebanho do Senhor
neste planeta e neste século. A sociedade do século XXI — Sociedade do Conhecimento — a

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cada dia tem problemas os mais complexos possíveis, precisando cada vez mais de
especialidades que tratem de cada um deles.

Há mais ou menos sessenta anos atrás não se tinha um grau de complexidade tão grande no
mundo como temos hoje. As coisas ficaram mais amplas, complexas, fragmentadas e isso
demonstra o quanto o conhecimento se tornou vasto e de difícil manipulação.

Aumentou o número de religiões e cada uma trazendo uma oferta “tentadora” para os menos
informados (que é um número altíssimo dentro das igrejas). O pastor neste caso tem de se
desdobrar muito para atender demandas, dar respostas cada vez mais intrigantes sobre questões
de fé, de vida, de emoções, etc.

Aumentou a quantidade de pessoas no planeta e diminuiu a oferta por empregos e trabalhos no


mundo. Com isso, o pastor assume outra responsabilidade de orientar, muitas vezes levar a igreja
a sustentar, temporariamente uma pessoa até encontrar um emprego.

Aumentou a ansiedade e culminou na depressão, fato é que há uma “profecia” pelos órgãos que
estudam a saúde no mundo que até o ano 2020, 74% da população mundial entrará em crise
depressiva.

Uma reflexão:

Como obreiros que somos como lidaremos com isso? Tudo bem que temos a Palavra, temos a
oração, temos os cultos, temos a orientação, mas infelizmente as pessoas estão sendo
bombardeados frontalmente com esses problemas e precisam ser levadas por argumentos fortes,
sólidos à luz da Palavra de Deus para se sustentarem espiritualmente (Ef 6.10). Que Deus nos dê
graça, unção, sabedoria, poder e muita prudência para lidarmos com tudo isso!

A universalidade do saber

O saber tornou-se tão complexo que é impossível captar de modo exaustivo algum tipo de
conhecimento específico. Quando se pesquisa sobre alguma área nas bibliotecas, na internet ou
através de amostragem por pesquisa de campo, não se pode dizer que se esgotou completamente
o assunto.

Estamos numa época, que começou essa universalidade desde o século 15 com as grandes
navegações, perpassou o século 18, com o Iluminismo e culminou na Revolução Francesa e
Industrial criando o Modernismo que depois, devido às rápidas mudanças, os sociólogos deram o
nome de Pós-modernismo à era atual. Esta foi a era que Daniel precisou no capítulo 12, versículo
4: “E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão
de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará”.

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O público diferenciado existente hoje dentro das igrejas

Há uma necessidade de se conhecer o ser humano e suas peculiaridades, daí a exigência de


estudar, aprofundar-se em algumas questões do tipo: infância, adolescência, juventude, fase
adulta e 3ª idade, sexualidade, homossexualidade, drogas, álcool, crise existencial, frustrações,
ansiedade, depressão, suicídio, questões de ordem jurídica (divórcio e novo casamento),
aconselhamento, etc.

Essas e outras são questões precisam ser orientadas pelo pastor a fim de que o membro de sua
igreja tenha um direcionamento equilibrado.

Outro fator importante a considerar é que temos um público formado academicamente, mais
exigente, mais crítico, e em alguns casos mais cético até, que não se conforma com um sermão
improvisado, mas que deseja uma comida mais robusta, mais pesada e substancial para ingerir.

HOMENS PREPARADOS 

É fato para o obreiro que quem chama, prepara, envia e cuida é Deus, mas na Bíblia há exemplos
claros de homens de Deus que tiveram um preparo intelectual e cultural para atender demandas
divinas:

a) Moisés — Entendido em toda ciência do Egito.

b) Lucas — Médico cujo evangelho foi escrito aos Gregos (a nata intelectual da época) e
procurou apresentar Jesus como o homem perfeito que tanto eles esperavam.

c) Paulo — A formação de Paulo, para alguns especialistas, foi fundamental para que tivesse
sucesso no seu ministério. Paulo viveu numa época em que várias etnias e culturas estavam
associadas, através da universalidade da língua grega, havia uma comunicação, comercialização
e um nível cultural altíssimo naquela era, herança do período anterior em que foi estabelecida a
cultura helena (grega). Em Atos dos Apóstolos, Paulo chegou a discutir com filósofos gregos
(estóicos e epicureus) sobre a tese de que Jesus Cristo era o Filho de Deus ressurreto: “E alguns
dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este
paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e
a ressurreição” (Atos 17.18).

d) Apolo (At 18.24-28) — segundo Gardner (2000, p.61):

“como homem ‘instruído’ recebeu formação de ‘nível universitário’ em retórica, na grandemente


valorizada educação grega. Era um ensino disponível apenas para a elite, devido aos seus mais
elevados custos. Lucas diz que Apolo era ‘poderoso’ no uso das Escrituras. ‘Poderoso’ era um
termo retórico para lógica e persuasão. Ele aprendeu a arte da habilidade nos debates e em sua
educação secular e usava isso de maneira excelente, ‘demonstrando’ (outro termo retórico) pelo
Antigo Testamento que Jesus era o Messias prometido (At 1.18.24). Pelos padrões do primeiro

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século, é apresentado como um formidável judeu cristão, apologista e debatedor, e combina seu
conhecimento exaustivo do AT com sua educação secular na arte da retórica (Compare Apolo
com outros pregadores, os quais, em termos de educação formal, eram descritos como ‘sem
letras e indoutos’ — At 4.13)”.

Se levarmos em consideração o texto de 1 Samuel 19.20 veremos que Samuel tinha uma escola
de profetas e ali eram fornecidas instruções para o intelecto deles, tinha-se um clima espiritual
muito intenso a fim de que o candidato a profeta entendesse realmente o ministério que iria
exercer. “Então enviou Saul mensageiros para trazerem a Davi, os quais viram uma congregação
de profetas profetizando, onde estava Samuel que presidia sobre eles; e o Espírito de Deus veio
sobre os mensageiros de Saul, e também eles profetizaram”.

Outros Intelectuais que possibilitaram o desenvolvimento do Cristianismo no mundo foram:


Tertuliano, João Crisóstomo, Agostinho, Tomas de Aquino, o Dr. Martinho Lutero, etc.

INSERÇÃO NO CAMPO DO SABER UNIVERSITÁRIO E TEOLÓGICO

Amplia-se a visão de mundo

O próprio nome Universidade remete a ideia de “faculdades ou escolas para a especialização


profissional e científica, e tem por função precípua garantir a conservação e o progresso nos
diversos ramos do conhecimento, pelo ensino e pela pesquisa” (Dicionário Aurélio Século XXI).
Com isso, fica mais sólida a apresentação de verdades, fatos, conhecimentos gerais sobre
sistemas, culturas, etc.

Em outras palavras cria-se uma cosmovisão, uma visão de mundo que não é micro, mas macro,
tendo possibilidades holísticas de se compreender o mundo e as pessoas de uma maneira bem
melhor.

O preparo teológico

A formação teológica no obreiro (principalmente nele), habilidades e competências que lhe


favorecem mais excelência no exercício do seu ministério eclesiástico. Como por exemplo, o
conhecimento Exegético e Hermenêutico do texto Sagrado. Uso de técnicas da Homilética para
desenvolver sermões de todos os tipos e para várias ocasiões [cultos fúnebres, aniversário de 15
anos, casamento, cultos cívicos, cultos ecumênicos, dia do soldado, dia do professor, formaturas
(paraninfo ou cultos relacionados a formaturas)]. A Oratória como forma de melhor expressar-se.
O uso da Teologia Sistemática para conhecer melhor a ortodoxia das principais doutrinas da
Bíblia Sagrada tornando-se um apologista das coisas divinas.

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Domínio, pelos menos parcial, da língua vernácula

É de fundamental importância, para qualquer cidadão a compreensão de sua língua materna,


como forma de se localizar no tempo e no espaço. Fica muito difícil para um obreiro continuar
cometendo erros grosseiros de português no púlpito da sua igreja ou em qualquer outro lugar em
que vá representar sua comunidade cristã.

Exemplos de erros mais comuns: “saldo os irmãos”; “esprito santo”; “deuso”; “unssusoutros”;
“aleluias”; “naiscer de novo”, etc.

O PREPARO INTELECTUAL DO OBREIRO

Preparo bíblico

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o
tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te
sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente
inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça;
Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm
3.14-17).

Conhecer a Bíblia, hoje é uma necessidade imprescindível. Através da leitura, meditação,


comparação com outras versões, consulta aos originais, uma boa hermenêutica, tudo isso faz uma
grande diferença na vida de qualquer obreiro.

Uma cultura bíblica reforça uma mensagem genuinamente bíblica. Bem formatada, bem
diagramada e acima de tudo compreensível.

Segundo Rafael Carlos: “Para o obreiro, a Bíblia não deve ser considerada apenas como um
simples livro com informações históricas, mas ela deve ser para ele um manual que serve para
orientá-lo em qual direção ele deve seguir em todas as áreas de sua vida (Sl 119:105)”!

A biblioteca do obreiro

A biblioteca do obreiro é outro instrumento de extremo trabalho intelectual. Ali passará horas à
fio debruçado sobre livros, os mais diversos, para fundamentar suas mensagens bíblicas
temáticas. Esse deve ser o seu local de esforço intelectual para atender demandas espirituais,
emocionais, intelectuais e acima de tudo lhe propiciar crescimento teológico-intelectual.

Paulo tinha seus livros de estudo e pediu a Timóteo para trazê-los quando de sua viagem para ter
com ele: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros,
principalmente os pergaminhos” (2 Timóteo 4.13).

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O computador, a internet e as redes sociais

A utilização do computador pelo obreiro não é nenhum problema, desde que saiba
operacionalizar, digitalizar, ter e-mail e blog e saber acessá-los. Além disso, conta com uma
fonte riquíssima de pesquisas na internet se souber depurar o conhecimento veiculado na rede.

Os riscos de se possuir um computador existem, mas tudo deve utilizado dentro de uma norma
de conduta bíblica que não fira o processo de santificação de cada um em particular.

O acesso à internet com seus perigos é uma realidade na vida de muitos obreiros. Inconvenientes
bate-papos têm levado muitos a se apaixonaram virtualmente e praticaram sexo virtual e
destruindo seus casamentos.

As redes de relacionamento são uma tela de grande exposição da imagem de qualquer pessoa,
tanto é que a Polícia Federal do Brasil, a CIA e outras agencias internacionais de segurança
fazem a vigilância 24 horas por dia à procura de pedófilos, matadores em série, sequestradores,
chantagistas e psicopatas que causa muita destruição a vidas das pessoas. O obreiro deve ser
criterioso no uso ou na exposição de sua imagem ou vida em sites de relacionamentos.

Em blogs (sites gratuitos e pessoais), por exemplo, ao configurá-los você pode limitar o uso
externo de pessoas; assim, poderá evitar muitos e indesejáveis acessos.

O preparo do seu material de estudo

Ao verificar muitas apostilas, seminários e livros de alguns companheiros, fica-se estarrecido


com o volume de material que não é dele. Isso não teria nenhum problema se fosse citado de
acordo com certas normas que regem publicações diversas, como no caso a ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas).

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