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CENTRO UNIVERSITÁRIO TABOSA DE ALMEIDA – ASCES/UNITA

ALANA CARVALHO DE AZEVEDO REGIS


ALANNA LAÍS DE ASSIS COSTA
ANDRÉ CLEMENTINO FERRO DE SOUZA
ARTUR FELIPE MELO DA SILVA
JOSÉ DIEGO BRAINER

TRABALHO DE DIREITO ECONÔMICO


(II UNIDADE)

CARUARU
2020
1

CONCENTRAÇÃO BANCÁRIA NO BRASIL: prudência contra eventuais crises


econômicas ou cartel financeiro?

Antes de passar a responder concretamente à questão em tela é necessário realizar um


balanço histórico do Brasil. A partir do ano de 1995 com o advento do governo de FHC, se
iniciou um processo de reformulação das políticas econômicas voltadas para o setor bancário,
ainda em processo de estabilização da moeda, com o sucesso do "Plano Real", e pouco
desenvolvido no setor bancário, o Brasil passou a adotar medidas voltadas ao desenvolvimento
desse setor, entre as quais um estudo realizado pelo Banco Central (Notas Técnicas nº 11 de
Novembro de 2001)1 destaca:
Para impedir a eclosão de crise bancária sistêmica o governo adotou, em
novembro de 1995, um conjunto de medidas preventivas. Dentre essas
destacaram-se a criação do Proer e o incentivo a F&A, com bancos insolventes
sendo assumidos por outras instituições (Medida Provisória 1.179, de 3.11; e
Resolução 2.208, da mesma data); regulamentação do Fundo Garantidor de
Créditos, com efeito retroativo ao início do Plano Real (Resolução 2.211, de
16.11); aumento do capital mínimo para abertura de novos bancos,
desestimulando esse procedimento (Resolução 2.212, de 16.11) e ampliação
dos poderes do Bacen (Medida Provisória 1.182, de 17.11, transformada em
Lei 9.447, de 14.11.997)

Assim o conjunto de medidas preventivas adotadas foi bem sucedido ao evitar o colapso
das instituições saudáveis ao passo que impediu a deflagração de crise sistêmica no setor, o que
por sua vez permitiu a reestruturação fosse possível sem causar danos aos depositantes e ao
mesmo tempo reduzindo o custo para o governo, levando em consideração outras experiências
internacionais. Nesse sentido, especialistas apontam que: "o que poderia ter sido uma crise
sistêmica parece ter se tornado apenas uma situação de distress, ainda que severa"
(CARVALHO, 1998 p. 323)
Posteriormente, houve a abertura do segmento com a chegada da participação
estrangeira, que foi incluída no conjunto de medidas adotadas visando evitar a crise bancária,
justificando os ingressos, inicialmente, para aquisições estrangeira apenas de instituições em
dificuldades (Exposições de Motivos do Ministério da Fazenda 89, de 07􏰈.03􏰈.1995; e 311,
de 24.08.1995). Todavia essa regra teve pouca eficácia pois na época houve a compra do Banco
Real, que não tinha balanço deficitário, pelo ABN Amro, no ano de 1998, destacando ainda que
todos os editais de privatização havia previsão de possibilidade de aquisição por parte de
estrangeiros.
Além destas medidas que deflagraram o início do aumento da concentração bancária,
desde a virada do século a concentração bancária que girava em torno de 50%2 saltou, a partir
da crise mundial de 2008 para os atuais cerca de 85%, encabeçados principalmente pelas fusões
e aquisições de bancos menores pelos líderes do mercado - como a compra do banco Mercantil
do Brasil pelo Bradesco em 20023 e do Bank of Boston pelo Itaú em 20064 e a fusão entre Itaú

1
https://www.bcb.gov.br/pec/notastecnicas/port/2001nt11concentbancp.pdf
2
https://www.uol/economia/especiais/concentracao-de-bancos.htm
3https://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u39568.shtml
4https://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u107309.shtml
2

e Unibanco em 20085 - (setor privado) e alta expansão na oferta de crédito popular realizada
pelos bancos estatais (setor público)6.
Atualmente a concentração ocorre entre 03 (três) bancos privados e 02 (dois) públicos,
o que acaba tornando o setor bancário hostil ao mercado nacional e internacional. O pequeno
número de bancos faz com que a competitividade no mercado seja baixa e pouco conveniente
aos consumidores.
Adiante, passando a elaborar a resposta para a questão levantada, imperioso analisar o
conceito de cartel que pode ser definido como um "acordão" entre empresas de um mesmo
setor, no qual são ajustados os preços visando a inviabilização da concorrência. Assim, no
cenário bancário os preços dos produtos e serviços bem como os juros nos empréstimos também
seriam ordenados de forma sincronizada, proporcionando um lucro ainda maior para os
envolvidos, afetando diretamente os consumidores que não são beneficiados. Vejamos o que
dispõe a literatura a respeito, observam RAGAZZO e SILVA (2006, p. 09) que:
Cartel é a infração à ordem econômica consubstanciada no acordo entre
concorrentes para o fim de fixar condições de mercado, destacando-se aí
preço, quantidade e qualidade, visando aumentar margens de lucro,
eliminando, assim, a concorrência em um dado mercado de bens e/ou serviços.

Como visto existe uma concentração bancária no Brasil, todavia ocorre que tal
concentração é reflexo da demasiada intervenção estatal na economia, a excessiva
regulamentação do setor bancário e ausência de liberdade econômica que por sua vez
desestimulam a atração de novos players e impedem a competição e livre concorrência no
mercado bancário.
Mas não fica por aí, em exemplos relativamente recentes vimos a saída de 02 (dois)
grandes bancos internacionais, que deixaram o mercado de varejo no Brasil e acabaram
contribuindo para mais concentração no setor, são eles HSBC e CitiBank. Assim sendo,
importante analisar os fatores que levaram estas empresas a abandonarem o mercado brasileiro.
No caso do tradicional banco britânico HSBC ao encerrar as atividades no Brasil no ano
de 2015, próximo do auge da crise econômica, apresentou como justificativa para tomada de
decisão que o Brasil era um país muito protecionista e com a economia fechada nas palavras do
próprio presidente mundial em matéria veiculada na Época7. Vale ressaltar que no processo de
sua saída do Brasil sua atividade foi adquirida pelo Bradesco em 2016 pelo valor de 16 bilhões
de reais8.
Já o americano CitiBank seguindo a mesma linha do HSBC também optou por vender
suas operações no varejo brasileiro no ano de 2016, todavia insta salientar que além dos motivos
já elencados o CitiBank apontou que embora sua atividade no Brasil representasse apenas 1%
da receita mundial o banco tinha 93% das ações trabalhistas concentradas no Brasil 9 o que
demonstra como as leis trabalhistas também obstrui a chegada de novos bancos estrangeiros
bem como o desenvolvimento de bancos nacionais.

5https://economia.uol.com.br/ultnot/2008/11/03/ult4294u1817.jhtm
6https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-oferta-de-credito-so-cresce-nos-bancos-publicos-

imp-,1535958
7https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/06/por-que-o-hsbc-vendeu-sua-operacao-no-brasil.html
8https://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,bradesco-conclui-compra-do-hsbc-por-r-16-

bi,10000060445
9https://www.conjur.com.br/2017-mai-19/excesso-protecao-trabalhador-problema-barroso
3

Enquanto o Brasil hoje possui cerca de 150 bancos10 dentre os quais apenas as 05 (cinco)
maiores instituições bancárias (Itaú, Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil)
correspondem a cerca de 85% das operações de crédito11 revelando a massiva concentração
bancária existente que é a 2º maior do mundo12. Os Estados Unidos, por outro lado, possui
cerca de 6.700 bancos13 e apenas 45% de concentração, estas estatísticas remetem para a
fórmula de livre mercado e competição existente nos Estados Unidos e que infelizmente não é
nem de perto vivenciado pelos brasileiros.
Além do mais é preciso acabar com o mito de que os bancos privados e o "capitalismo
selvagem" são responsáveis pela concentração bancária existente e pelos elevados juros
experimentados por toda a população. Analisando os dados do setor bancário verifica-se que
sejam nos créditos concedidos para pessoas físicas ou jurídicas, mercado imobiliário ou rural
os bancos públicos concentram em todas elas mais de 50% das operações14.
Ademais, outro fator importante a se levar em consideração é que o mercado de crédito,
que é a essência do negócio bancário, consiste em captar dinheiro de clientes a baixo custo e
emprestá-lo a um custo maior e a partir disso realizar o lucro na operação. Ocorre que, muito
se queixa a respeito do alto valor de juros praticados no mercado que é consequência direta do
Brasil possuir a 2º maior spread bancário do mundo15 que em linhas gerais corresponde a
diferença entre o que o banco paga ao investidor para obter o recurso e quanto o banco cobra
para emprestar o mesmo dinheiro.
Ainda analisando a questão do spread bancário e o reflexo deste nos altos juros
brasileiros que elevam o famoso "custo Brasil" importante destacar que o spread corresponde a
um cálculo que é composto basicamente por 05 elementos, são eles: custo administrativo;
inadimplência; compulsório, carga tributária e margem líquida de lucro 16 que influenciam no
cálculo da taxa de juros nos empréstimos realizados pelos bancos.
Portanto, levando em conta o custo administrativo composto basicamente pelos gastos
de operação, como segurança, agências, caixas eletrônicos, salários e outros serviços,
acrescidos da exigência do Banco Central de reter parte dos depósitos captados pelos bancos
que em grande medida destinam-se Fundo Garantidor de Créditos (FGC) aliado a evidente e
elevada carga tributária existente no Brasil contribuem significativamente para o elevado "custo
do dinheiro".
Além desses pontos, a taxa básica de juros brasileira, a SELIC 17 estipulada pelo
COPOM, se manteve em um patamar muito alto por muito tempo, acarretando que na prática

10https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/10/18/A-concentração-bancária-no-Brasil-em-3-

gráficos
11https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2019/05/28/concentracao-bancaria-no-brasil-tem-leve-

queda-em-2018-aponta-bc.htm
12https://www.folhape.com.br/economia/economia/economia/2018/06/13/NWS,71541,10,550,ECONO

MIA,2373-BRASIL-SEGUNDO-CONCENTRACAO-BANCARIA.aspx
13https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/10/por-competicao-bancos-nos-eua-dao-bonus-para-

atrair-clientes.shtml
14https://www.nexojornal.com.br/grafico/2019/04/24/A-concentração-bancária-no-Brasil-e-em-outros-

pa%C3%ADses
15
https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/spread-bancario-do-brasil-e-o-2o-mais-alto-do-
mundo-entenda-por-que/
16
https://www.sunoresearch.com.br/artigos/spread/
17
http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=38402
4

esta taxa de juros acaba servindo como referência para o mercado de crédito. Destarte, se a taxa
SELIC está alta, as demais taxas de juros cobradas serão ainda mais altas. Isto posto, a
conjunção de todos esses fatores acaba impactando todo o mercado de crédito dificultando o
acesso ao crédito pessoal e empresarial, gerando a sensação de que estamos diante de um
verdadeiro cartel.
Igualmente a inadimplência revela-se um problema estrutural e cultural no Brasil.
Primeiramente se destaca para atual situação brasileira em que cerca de 60 milhões de
brasileiros e milhares de empresas encontram-se endividados e com restrições no SPC18. Além
disso, em estudos realizados pelo Banco Mundial e em dados apontados tanto pelo ex-ministro
da Fazenda (Maílson da Nóbrega)19 e presidente da FEBRABAN (Murilo Portugal)20 apontam
que a taxa de recuperabilidade varia entre 13% e 16% demorando cerca de 04 anos para efetiva
recuperação do crédito enquanto em países no mundo todo essa taxa gira entre 69% e 89%
levando entre um ano e meio e um ano e oito meses.
O problema se agrava mais ainda com a insegurança jurídica dos contratos e o elevado
custo para mover o judiciário bastante moroso em busca dos devedores. Assim, na medida em
que estas estatísticas integram o cálculo do spread todos acabam pagando juros elevados.
Ante o exposto, em resposta definitiva ao questionamento da atividade, cumpre
esclarecer que embora exista uma elevada concentração bancária, a prática de juros elevados e
a falta de opções para o consumidor no mercado de crédito, tais questões por si só não
configuram a existência de cartel, na acepção jurídica do termo, no setor bancário. Inclusive na
remota hipótese de existência, certamente o Estado brasileiro seria o principal expoente
responsável pela formação e condução desse cartel.

18
https://noticias.r7.com/economia/61-mi-brasileiros-comecaram-2020-endividados-diz-cndlspc-brasil-
16012020
19
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2019/08/13/internas_economia,776835/r
ecuperacao-de-credito-no-brasil-e-uma-das-mais-demoradas-do-mundo.shtml
20
https://www.politize.com.br/spread-bancario/

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