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O fenómeno social (textos 1,2 e 3)

Estes textos pretendem clarificar o conceito de fenómeno social total.


Para tal, consideram que qualquer facto que ocorra em qualquer sociedade é
simultaneamente complexo (só faz sentido no seu contexto) e pluridimensional
(são simultaneamente jurídicos, económicos…).
O Potlach, ritual que acompanha os momentos importantes de uma tribo
serve para comprovar que a noção de fenómeno social total é válida para
qualquer tipo de sociedade. Assim também aqui o Potlach só é compreensível
se levarmos em consideração as características daquela sociedade (é
complexo) e, ainda que signifique distribuição de propriedade (seria
desnaturado fazer dele um fenómeno exclusivamente económico ele “domina
toda a vida politica, jurídica, artista”- é pluridimensional).

Introdução as ciências sociais (textos 4 e 5)

Contrariamente ao que acontece com o senso comem (conhecimento


empírico, superficial, baseado nos sentidos) o conhecimento cientifico
pressupõe um conjunto de características, a que chamamos critérios de
cientificidade, que no seu conjunto fazem com que um conhecimento possa ser
considerado científico. Trata-se então de um conhecimento objetivo (o que
pressupõem, por um lado, ser preciso, concreto, imparcial o que só é possível
se o sujeito se conseguir afastar do objeto que estuda), exaustivo (em oposição
à superficialidade do senso comum), parcial (nunca se conhece a totalidade) e
provisório (nada é definitivo. O conhecimento científico não se afirma como a
verdade mas apenas como sendo o mais próximo possível desta dado o nível
de conhecimentos e recursos disponíveis num dado momento- é verosímil).
Alem disso, este conhecimento baseia-se em teorias a partir das quais define
hipóteses (é hipotético dedutivo) com o objetivo de acrescentar algo ao que já
se conhece (daí a sua utilidade- o seu carater inovador) isto é criar novas
teorias acerca daquele objeto. Para tal define também um método (caminho a
seguir). A presença de todos estes elementos justificam a existência de um
conhecimento científico de traços de universalidade permitindo a replicabilidade
de qualquer estudo. Significa isto que dois sujeitos distintos a realizar um
estudo sobre o mesmo objeto nas mesmas condições terão necessariamente
que chegar às mesmas conclusões nas medida em que estas refletem não o
sujeito mas o objeto que só pode ser conhecido após a verificação/prova e uso
do raciocínio.

O social, objeto de estudo das ciências sociais, pode ser definido como
tudo aquilo que diz respeito ao homem e ao que com ele se relaciona. Daqui
sobressai a abrangência do social justificada pelo facto de tudo aquilo que
acontece numa sociedade ser simultaneamente complexo (só faz sentido se o
considerarmos no seu contexto) e pluridimensional- suscetível de ser estudado
sob diferentes perspetivas (é isso aliás que as diferentes ciências sociais
fazem- estudam o mesmo objeto mas recaem sobre diferentes aspetos desse
mesmo objeto). O mesmo é dizer que todos os factos sociais são totais, isto é
que existe unidade do social (unidade da diversidade).

A interdisciplinaridade ( textos 6 e 7)

No universo cientifico são evidentes relações de interação entre as


várias ciências. É o que chamamos de interdisciplinaridade, esta manifesta-se
de diferentes formas:

 No intercâmbio de conceitos, métodos e teorias (nada é


exclusivo de uma ciência até porque são ténues as fronteiras
entre elas);
 No aparecimento de novas ciências através de um fenómeno
de hibridação-cruzamento de duas ciências distintas dando
origem a uma nova ciência. Aqui convém salientar:
1. A nova ciência não é igual a nenhuma das ciências
mãe;
2. A sua perspetiva tende a resultar do cruzamento da
perspetiva das ciências que lhe deu origem;
3. A sua perspetiva é cada vez mais especifica;
4. Contrariamente ao sentido de híbrido (da biologia) aqui
nada impede que a nova ciência possa também vir a
reproduzir-se.

Apesar de mais evidente entre as ciências sociais (pela partilha do


objeto) a interdisciplinaridade abarca todo o universo científico. Mas, nem
sempre foi assim. Até ao séc.XIX as ciências sociais debateram-se com
problemas para a sua afirmação. Eram consideradas de serem subjetivas quer
por uma suposta confusão entre sujeito e objeto quer pela sua histórica ligação
à filosofia (marcadamente religiosa). Durante este período podemos falar
apenas de uma aproximação unilateral (no sentido das ciências sociais para as
ciências exatas e naturais). Existia um modelo único de cientificidade que se
caracterizava por uma visão linear e hierarquizada das ciências- dispostas, por
ordem de importância, sob uma linha reta que servia também para mostrar o
afastamento entre várias ciências. A partir do séc. XIX dá-se uma mudança de
paradigma que permite, por um lado, a afirmação das ciências sociais e por
outro o desenvolvimento de um interesse mútuo de aproximação entre estas e
as ciências exatas e naturais. Por isso mesmo o modelo linear foi substituído
por um modelo circular, não hierarquizado em que as diferentes ciências são
dispostas sobre a mesma linha que as une e em que cada uma delas coloca
avanços no conhecimento imediatamente à disposição de todas as outras.
Deste modelo sobressai a reciprocidade, a interdisciplinaridade e a ausência de
fronteiras bem definidas. Essa reciprocidade fica aliás bem evidente na atual
tendência para naturalizar as ciências sociais e humanizar as ciências da
natureza.

Ciências sociais (diferenciação empírica) e ciências humanas


(textos 8 e 9)
A existência de interdisciplinaridade, particularmente evidente entre as
ciências sociais pela partilha do objeto, não impede a possibilidade de
diferenciar estas ciências. É comum aliás referirem-se três tipos de fatores de
diferenciação das ciências sociais:
 Fatores teóricos- dizem respeito aos conceitos, métodos,
teorias e à linguagem própria de cada ciência;
 Fatores históricos- referem-se à história de cada ciência, à
forma como evolui-o.
 Fatores lógico-impíricos- na prática as ciências sociais
distinguem-se a quatro níveis:
1. Fins e objetivos
2. Centro de interesse ou perspetiva
3. Critérios de seleção de variáveis
4. Métodos e técnicas
Importa referir que estes níveis não correspondem a fases ou graus de
importância mas estão interligados entre si de tal maneira que diferenças
assinaláveis num dos níveis refletem diferenças assinaláveis nas restantes.
A procura de elementos de diferenciação entre as ciências sociais
conduziu a um debate sobre uma possível distinção entre ciências sociais e
ciências humanas. Considera-se hoje no entanto que uma designação e outra
não traduzem diferenças de conteúdo mas apenas uma questão de
vocabulário. A opção por uma designação ou outra depende sobretudo da
tradição académica.
No entanto dentro do que designamos de ciências sociais e humanas é
possível definir subgrupos. Piaget propõem uma classificação segundo o
objetivo de cada ciência definindo assim quatro categorias:
 Ciências nomotéticas- procuram identificar leis,
irregularidades, padrões (ex: lei da oferta e da procura)
 Ciências históricas- o seu objetivo é a análise da evolução.
 Ciências jurídicas- voltadas para a produção, aplicação e
vigilância das leis jurídicas.
 Disciplinas filosóficas- voltadas para a introspeção e por
isso mais subjetivas.
Importa referir que, apesar de Piaget não pretender apresentar uma
hierarquização das ciências sociais não é totalmente inocente do termo
“disciplina” na última categoria.

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