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ADAPTAÇÕES CURRICULARES DE PEQUENO PORTE:

UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA COM ALUNOS


DO ENSINO FUNDAMENTAL NA MODALIDADE DE
EDUCAÇÃO ESPECIAL

Professora PDE: Sandra Regina Gouveia Vieira1


Orientadora: Prof. Dra. Silvia Márcia Ferreira Meletti2

Resumo
O presente artigo é uma pesquisa que teve como ponto de apoio um Projeto de
Intervenção Pedagógica, aplicado junto aos alunos com deficiência intelectual que
freqüentam a Escola de Educação Básica São Pedro do Ivaí, no município de São
Pedro do Ivaí (PR). Tal projeto foi desenvolvido e aplicado por se constatar, que
mesmo estando os alunos matriculados em uma mesma série, os mesmos
apresentam necessidades de saberes diferenciados. Ou seja, viu-se a necessidade
de se fazer adaptações curriculares de pequeno porte para poder desenvolver um
trabalho que viesse ao encontro das reais dificuldades de aprendizagem
apresentadas por cada um, bem como também desenvolver um trabalho voltado ao
currículo funcional, de acordo com as Diretrizes Curriculares para a Educação
Especial. Tal ação primou pela melhoria do ensino e aprendizagem desses alunos e
resultou em grande interesse e participação dos mesmos durante a execução das
atividades propostas.

Palavras-chave: Educação Especial. Adaptações Curriculares. Pequeno Porte.


Ensino. Aprendizagem.

1. Introdução

O presente artigo é o resultado da implementação do Projeto de Intervenção


Pedagógica na Escola, oriundo do trabalho desenvolvido no Programa de
Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação PDE/PR, cujo
principal objetivo é o de analisar a efetividade da referida implementação, levando em
conta os resultados obtidos.

1 Professora PDE 2016, integrante da Rede Pública Estadual de Ensino, graduada em Pedagogia,
Geografia e especializada em Educação Especial pela Faculdade de Jandaia do Sul – FAFIJAN.
2 Professora do Departamanto de Educação da Universidade Estadual de Londrina – Uel, e Orientadora

deste artigo final do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.


As ações apresentadas foram desenvolvidas junto aos alunos da Turma “A” da
1ª Etapa do 2º Ciclo do Ensino Fundamental, na modalidade de Educação Especial
da Escola de Educação Básica São Pedro do Ivaí – Modalidade de Educação
Especial, do Município de São Pedro do Ivaí, sob a forma de atividades pré-
estabelecidas, organizadas e dispostas em uma Unidade Didática, com o objetivode
identificar as dificuldades de aprendizagem dos alunos com deficiência intelectuale
propor adaptações curriculares que sejam capazes de dirimir tais dificuldades por
meio das atividades adaptadas implementadas nesta proposta.
Tal proposta se deve à constatação, após anos de docência na educação
especial, que cada aluno, mesmo estando em uma mesma sala de aula e possuindo
o mesmo diagnóstico de deficiência intelectual, apresenta suas peculiaridades e
especificidades, o que demanda um trabalho pedagógico que atenda suas
necessidades individuais.
Diante de tal realidade, contata-se a necessidade de estímulos constantes e
metodologias diferenciadas que possam chamar a atenção desse público para as
atividades propostas, fazendo destas uma fonte de aprendizado e de prazer.
Para dar conta desta proposta, lançou-se mão da adaptação curricular de
pequeno porte, que promove a flexibilização dos conteúdos propostos pelo próprio
professor da turma, de forma a adequar os mesmos para que se tornem mais
significativos para os alunos, levando em conta as diferenças individuais, pois cada
aluno encontra-se em um nível de aprendizado diferente de seus colegas.
Diante do exposto, objetivando verificar a existência e a necessidade das
adaptações curriculares de pequeno porte e propor um programa de intervenção que
auxilie na promoção da melhoria da qualidade de ensino é que se deu a
implementação desta proposta no ambiente escolar.
Este artigo relata a efetividade de uma experiência de ensino e aprendizagem
voltada para alfabetização de alunos com deficiência intelectual por meio da
flexibilização dos conteúdos trazidos no currículo escolar, segundo o disposto na
regulamentação das adaptações curriculares de pequeno porte.

2. Fundamentação Teórica

A reflexão a respeito das adaptações curriculares no contexto escolar é


fundamental para a construção de uma escola que responda as necessidades de seus
alunos. É importante destacar que a educação especial passou por várias
transformações no decorrer dos anos, no qual na antiguidade as pessoas com
deficiências eram tratadas como possuidoras do maligno pela sociedade e muitas
delas eram exterminadas.
Por volta dos séculos XVI e XVII, houve uma pequena evolução em relação ao
tratamento as estas pessoas, no entanto eram exilados em manicômios, hospitais
psiquiátricos e outros sendo privados de seus direitos de cidadãos. A partir do final do
século XVIII teve inicio as instituições especializadas que atendia as pessoas longe
do convívio social e familiar.
As pessoas surdas e cegas foram as primeiras a ter atendimento especializado
no Brasil, com a criação do Instituto para cegos em 1854 e para surdos em 1857 no
Rio de Janeiro. Em seguida várias instituições de caráter filantrópico foram criadas
para o atendimento das pessoas deficientes, basicamente por volta dos anos 50 e 60
entre elas destaca-se as Apaes e Pestalozzi.
Conforme dados da UNESCO (1994, p.2) com o passar dos tempos teve início
as conferências internacionais relacionadas à Educação Especial, uma delas
realizadas em Jomtien, na Tailândia a qual foi denominada Declaração Mundial de
Educação para Todos, onde o Brasil participou e assumiu o compromisso de mudar
sistema educacional e acolher a todos. Posteriormente houve a Declaração de
Salamanca/Espanha (1994), nesta oportunidade foi proposto promover a educação
para todos, analisando e fazendo as mudanças necessárias nas escolas com o intuito
de atender todas as crianças, principalmente as com necessidades educacionais
especiais.
Com base neste contexto, o Brasil apresenta uma nova proposta de educação:
Educação Inclusiva, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
Lei 9394/96 a qual procura por meio de diferentes formas de atendimento
especializado inserir o aluno no contexto educacional promovendo o desenvolvimento
de suas potencialidades e habilidades, respeitando suas limitações e especificidades
realizando mudanças tanto na estrutura como no funcionamento escolar.
O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que em função das condições especificas dos alunos
não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular
(BRASIL, 1996).
Em 2001 o Ministério da Educação publica um novo documento, Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação básica, o qual traz orientações para
a Inclusão na rede regular de ensino, como para os serviços de apoio pedagógico
especializado, classe especial, currículo, terminalidade específica entre outros. Ainda
estabelece normas na Resolução do CNE/CEB nº 2/2001 a qual institui as Diretrizes
Nacionais para a educação dos alunos que apresentam necessidades educacionais
especiais no âmbito da Educação Básicas em todas as suas etapas e modalidades.
Traz ainda em seu contexto o Art.10 que prove o procedimento na Escola Especial.
Os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais e requeiram
atenção individualizada nas atividades da vida autônoma e social; recursos, ajudas e
apoios intensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão significativas que
a escola comum não consiga prover, podem ser atendidos em caráter extraordinário,
em escolas especiais, públicas ou privados, atendimento esse complementado,
sempre que necessário e de maneira articulada, por serviços das áreas de Saúde,
Trabalho e Assistência Social (BRASIL, 2001, p. 73).
Com o decorrer dos anos outros documentos relacionados a oferta de
Educação Especial foram lançados entre eles o Decreto nº 6.094/2007 que dispõe
sobre a implementação do planos e metas compromissos “TODOS PELA
EDUCAÇÃO” o qual fortalece a ideia de inclusão de alunos com necessidades
educacionais nas classes do ensino regular. Em 2008 o MEC lança mais um
documento “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva”, que diz a respeito ao atendimento especializado aos alunos especiais,
neste documento o atendimento especializado tem a função de colaborativa e
desconsidera o atendimento em escola especial como educacional, classificando-o
como complementar ao ensino comum.
Com base neste contexto, observa-se que as escolas especiais estão
amparadas legalmente na Constituição Federal, no ECA e na LDB. No entanto, ainda
há muito que fazer para que esses direitos sejam efetivados com sucesso
principalmente na realidade das escolas especiais. Neste sentido, Mantoan (1997)
salienta que todas as áreas da educação trabalhem para que aconteça uma escola
inclusiva e democrática, que aceita a diversidade e as diferenças como um desafio a
ser superado.
Para garantir que os alunos com necessidades educacionais especiais tenham
acesso e permaneçam na escola, o MEC (Ministério da Educação e Cultura)
estabelece através do documento Parâmetros Curriculares Nacionais as Adaptações
Curriculares, este propõe medidas que garantem atender as necessidades do aluno
com deficiência, como também contribuir na elaboração de possíveis ajustes
curriculares.
As adequações curriculares constituem, pois, possibilidades educacionais de
atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõem que
se realize a adequação do currículo regular, quando necessário, para torná-
lo apropriado as peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não
um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de
ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos (MEC, 2003,
p.34).

Para isto é preciso responder a questionamentos baseados em critérios


fundamentais na prática docente: o que o aluno deve aprender, como e quando
aprender, quais estratégias são eficientes no atendimento destes alunos e quais as
possibilidades de avaliação funcionam neste contexto. Além disso, é necessária a
construção de um ambiente repleto de possibilidades de aprendizagem com recursos
pedagógicos especializados, formação e capacitação de todos profissionais
envolvidos e modificações no currículo são fundamentais para a concretização desse
processo de ensino.
As respostas educativas que devem ser dadas pelo sistema educacional, de
forma a favorecer a todos os alunos e, dentre estes, os que apresentam
necessidades educacionais especiais: o acesso ao currículo; a participação
integral, efetiva e bem-sucedida em uma programação escolar tão comum
quanto possível; a consideração e o atendimento de suas peculiaridades e
necessidades especiais, no processo de elaboração: 1. Do Plano Municipal
de Educação; 2. Do Projeto Pedagógico da Unidade Escolar; 3. Do Plano de
Ensino do Professor (ARANHA, 2000, p. 9).

Neste sentido, as adaptações ou adequações curriculares de pequeno porte


são ações de responsabilidade do professor e referem-se à organização de
agrupamento e de espaço. Assim fazendo,
... as Adaptações Curriculares de Pequeno Porte (Adaptações Não
significativas) são modificações promovidas no currículo, pelo professor, de
forma a permitir e promover a participação produtiva dos alunos que
apresentam necessidades especiais no processo de ensino e aprendizagem,
na escola regular, juntamente com seus parceiros coetâneos São
denominadas de Pequeno Porte (Não Significativas) porque sua
implementação encontra-se no âmbito de responsabilidade e de ação
exclusivos do professor, não exigindo autorização, nem dependendo de ação
de qualquer outra instância superior, nas áreas política, administrativa, e/ou
técnica (PROJETO ESCOLA VIVA, 2000, p. 8).

Essas flexibilizações são consideradas não significativas por se tratarem de


mudanças menores que o professor realiza no currículo e no planejamento de suas
atividades docentes, ajustando-se conforme a necessidade da sala de aula e que
refletem na aprendizagem dos conteúdos curriculares. Assim, considera-se que a
prática dessas alterações no currículo do professor favorece a dinamicidade do
processo de aprendizado de todos os alunos permitindo que cada um se desenvolva
de forma autônoma se tornando cidadãos capazes de atuar em todos os contextos
sociais. Dentre esses ajustes pode-se:
criar condições físicas, ambientais e materiais para a participação do aluno
com necessidades especiais na sala de aula; favorecer os melhores níveis
de comunicação e de interação do aluno com as pessoas com os quais
convive na comunidade escolar; favorecer a participação do aluno nas
atividades escolares; atuar para a aquisição dos equipamentos e recursos
materiais específicos necessários; adaptar materiais de uso comum em sala
de aula; adotar sistemas alternativos de comunicação, para os alunos
impedidos de comunicação oral, tanto no processo de ensino e aprendizagem
como no processo de avaliação; favorecer a eliminação de sentimentos de
inferioridade, de menos valia, ou de fracasso (PROJETO ESCOLA VIVA,
2000, p.10).

Essas ações deverão estar consolidadas em seu planejamento respeitando as


individualidades e peculiaridades existentes na sala de aula, contemplando a
diversidade, atribuindo medidas para melhorar a qualidade de ensino oferecida. Estas
correspondem às seguintes alternativas.
A organização do espaço e dos aspectos físicos da sala de aula; a seleção,
a adaptação e a utilização de equipamentos e mobiliários de forma a
favorecer a aprendizagem de todos os alunos; o planejamento das
estratégias de ensino que pretende adotar em função dos objetivos
pedagógicos e conseqüentes conteúdos a serem abordados; a pluralidade
metodológica tanto para o ensino como para a avaliação; a flexibilização da
temporalidade (PROJETO ESCOLA VIVA, 2000, p. 9).

Partindo do princípio de que o ensino deve considerar as diferenças individuais


é que se pretendem desenvolver neste projeto de ensino, com o intuído de buscar
referências flexíveis a prática pedagógica e a aprendizagem dos alunos com
deficiência intelectual e múltipla.

3. Metodologia

Diante da justificativa apresentada para a implementação deste projeto e


considerando a necessidade de promover adaptações curriculares de pequeno porte
para favorecer e ampliar o aprendizado dos alunos com deficiência intelectual que
freqüentam a escola especializada, mais especificamente uma sala na modalidade de
Educação Especial da Escola de Educação Básica São Pedro do Ivaí, elaborou-se, a
princípio as seguintes atividades, baseadas em visitas prévias a turma na qual se
aplicaria o projeto e traçando atividades, para serem desenvolvidas em sala de aula,
voltadas para a alfabetização, tais como: alfabeto concreto e sensorial, alfabeto móvel,
textos lacunados, noções de normas lingüísticas (vogais, encontro vocálico, alfabeto,
sílabas, palavras, frases e textos), pesquisa de nome de alimentos, listagens, bem
como atividades individualizadas e em grupos, estímulos multissensoriais, exercícios
fonovisuarticulatórios e de fixação, estimulando de conteúdos, estimulando sempre a
oralidade, leitura e a escrita, ou seja, atividades constantes no currículo escolar.
Porém, ao me deparar com a turma, contendo 8 alunos, entre 12 a 14 anos,
veio-me a vontade de fazer algo diferente, que interferisse na vida cotidiana deles,
que fosse para além dos conteúdos citados acima, mas também os englobasse.
Dessa forma, decidiu-se desenvolver atividades que fazem parte do currículo
funcional e desta forma, o projeto foi aplicado por meio de quatro planos de aula, que
lançaram mão de aulas teóricas e práticas, primando sempre por recursos que as
tornassem interessantes e significativas para os alunos, conforme ver-se-á a seguir.
Ao final de cada atividade, realizou-se uma autoavaliação, buscando a melhoria
do processo ensino e aprendizagem, analisando as atividades aplicadas e revendo a
atividade seguinte com fins de precisar se haveria necessidade de alguma mudança.
As reflexões estabelecidas com o Grupo de Estudo em Rede - GTR, também
foram importantes apontamentos fundamentais para o aprofundamento nas questões
relativas ao estudo proposto, contribuindo, de forma relevante, para a implementação
da proposta na escola e na elaboração deste artigo.
Espera-se que o trabalho desenvolvido possa contribuir para que os demais
colegas professores possam pensar a realidade da escola em que atuam e ainda para
que os alunos possam estabelecer relações entre as aulas ministradas e sua vida em
família e sociedade.

4. Implementação do Projeto

A organização e aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola


começaram a ser pensadas e organizadas no início das atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, no ano de 2016.
O projeto, que fora intitulado “Adaptações Curriculares de Pequeno Porte: uma
proposta de intervenção pedagógica com alunos do Ensino Fundamental na
modalidade de Educação Especial”, permitiu realizar atividades diferenciadas, que
embora estejam presentes no currículo funcional para alunos com deficiência, por
vezes ficam relegadas a segundo plano pelo fato de se dar mais valor as atividades
do currículo básico.
Desta forma, a implementação que inicialmente estava planejada para ser
desenvolvida dentro da sala de aula, passou por uma reformulação a partir do contato
com a turma da qual sou regente, no ano de 2017. Embora a turma fosse a
programada para tal, os alunos, em número de 8 (oito) e com a faixa etária variando
entre 12 a 14 anos, me inspiraram, pela vontade de aprender que traziam, a realizar
algumas atividades fora de sala de aula também, e foi assim que esta implementação
se deu em torno de quatro planos de aulas, que ver-se-á abaixo e que teve por objetivo
principal buscar metodologias e estratégias diversificadas e flexibilizadas para atender
as necessidades educacionais dos alunos, respeitando suas especificidades. Tal
objetivo foi atingido por meio das atividades relatadas a seguir:

PRIMEIRA ATIVIDADE: Plano de aula nº 01


Tema: Valorização de si e do outro por meio de regras de boa convivência no dia a
dia.
O Plano de aula em questão apresentou como esquema de conteúdo as
práticas de leitura e escrita e reflexão quanto à sua funcionalidade em situações
significativas de aprendizagem para a vida em sociedade. O texto “A canoa” do autor
Paulo Freire aborda a questão da valorização da pessoa em relação às suas ações
no cotidiano e como levar em conta os mais diversos saberes que se constituem em
experiências de vida e de convivência no mundo. Segundo ele “não há saber maior
nem saber menor, há saberes diferentes”.
Dentre os objetivos importantes estabelecidos nesta ação docente priorizou-
serefletir com os estudantes os valores de aceitação de si mesmo e do outro
construído por meio de atitudes concretas em relação à convivência no contexto
escolar, familiar e na sociedade. Para os estudantes da Educação Especial observa-
se muitas vezes a não aceitação de si mesmo, de sentir vergonha de falar que estuda
na APAE e até mesmo quando saem para uma atividade extraclasse sentem-se
envergonhados e querem voltar logo para a escola, um lugar de convívio mais diário
e mais seguro.
Assim desenvolver o trabalho pedagógico por meio do texto de natureza
reflexiva se tornou um instrumento importante para o desenvolvimento das
habilidades de leitura e escrita, bem como despertou nos estudantes momentos para
mudanças de postura quanto à produção coletiva no cumprimento de regras de boa
convivência e aceitação quanto às diferenças frente à diversidade de sujeitos que
fazem parte da sociedade. Motivar os estudantes a compreender que o texto em
questão apresentou o relato de atitudes que faz parte do cotidiano de forma geral. Um
advogado que se acha superior por conhecer as leis. Uma professora que por saber
ler e escrever se acha melhor do que seu aprendiz. Um barqueiro que a partir de sua
experiência de vida tem muito a ensinar. A mensagem implícita é a de que não há
saber maior ou sabe menor. Há saberes diferente e que devemos valorizar as pessoas
com as quais temos contato diariamente.
A metodologia de trabalho foi apreciada pelos alunos que de forma dinâmica
usou os recursos da Internet como o vídeo apresentado no primeiro momento com o
texto e as imagens. A partir das observações e explorações orais foi possível constatar
que houve compreensão quanto à mensagem transmitida. Cada um tem seu valor e
tanto na escola, como na família e no contexto social todos podem conviver, apesar
do preconceito e da discriminação que infelizmente ainda acontece.
Os estudantes realizaram as atividades com interesse por meio da mediação
da professora quanto à leitura e interpretação do texto escrito e recorte e colagem de
figuras contextualizadas aos conteúdos. Um fator relevante na prática docente é
considerar que os conhecimentos construídos no processo de ensino e aprendizagem
precisam ser traduzidos em ações concretas na vida. Como afirma Paulo Freire “a
leitura de mundo precede a leitura da palavra” constituindo-se no poder de
transformação da sociedade. Trata-se de um momento oportuno de ampliar as
possibilidades de aprendizagem dos estudantes para além do texto, ou seja, colocar
em prática, na vida cotidiana os conhecimentos construídos.
Enquanto professora da Educação Especial foi possível refletir também sobre
a valorização das potencialidades que os alunos apresentam e acreditar que se torna
possível conduzir o trabalho para as possibilidades de inclusão no ensino comum,
desde que seja feito de forma responsável. Uma questão que se observa
freqüentemente é a condução das políticas públicas em relação à inclusão, pois não
basta manter o aluno incluso teoricamente falando, mas oportunizar condições
efetivas de aprendizagem com qualidade de ensino para todos. Isto pode ser traduzido
na forma como os estudantes se vêem ao relatar seus anseios e expectativas “eu
queria ir para outra escola”, “meu irmão estuda lá, porque eu não posso estudar”,
“minha mãe falou que vai me tirar daqui”. Em outros momentos houve comentários
como: “eu gosto de estudar aqui, todo mundo me trata bem e com carinho e eu não
quero sair daqui nunca”, ”foi aqui que aprendi a ler e escrever”. Tais atitudes revelam
o quanto se faz necessário despertar nos estudantes a valorização de si e dos outros,
nas mais diversas situações da convivência social. Escola, família e sociedade, cada
qual deve dar sua parcela de contribuição para que a educação cumpra sua função
social que é de formar os estudantes por meio dos conhecimentos construídos e
historicamente estabelecidos, mas também para sua formação humana com vistas à
sua transformação.

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- SEGUNDA ATIVIDADE: Plano de aula nº 02


Tema: Saúde e Qualidade de Vida: produtos industrializados e produtos naturais.

Uma ação educativa requer do professor um olhar de pesquisador e observador


quanto aos objetivos propostos a partir do momento em que os conteúdos trabalhados
possam contribuir tanto para a construção dos conceitos de natureza pedagógica
como para a sua aplicabilidade na vida dos estudantes. Dessa forma o presente plano
de aula oportunizou aos estudantes os conhecimentos acerca da importância da
alimentação saudável para a sua saúde com base num trabalho de pesquisa em
relação aos produtos naturais e industrializados e sua funcionalidade no seu dia a dia.
Com base nas observações realizadas no decorrer das atividades propostas
foi possível constatar que os estudantes demonstraram interesse e alguns
conhecimentos anteriores sobre as diferenças entre os produtos de procedência
natural e industrializados. A partir dos questionamentos propostos, porém, observou-
se que os mesmos tem preferência por alguns produtos como: refrigerantes,
salgadinhos industrializados, sanduíches recheados com ingredientes que podem
trazer prejuízos para a saúde, relatando que tudo é muito gostoso, está pronto e é
mais fácil. Em se tratando do público atendido na modalidade de ensino especial o
que pode ser registrado como relevante é a questão da aceitação de si mesmo como
estudante da “APAE” como eles mesmos dizem ou sentem, aqueles com menor déficit
intelectual, que durante a visita aos supermercado para a pesquisa de produtos
naturais e industrializados não viam a hora de retornar a escola, seu lugar de bem
estar, de refúgio, por assim dizer. Um lugar de aconchego, de aceitação... Uma
situação que precisa estar bem estabelecida na pessoa que tem por missão o ato de
ensinar e compreender a realidade dos estudantes com os quais convivem, sejam
eles especiais ou não, ou seja, todo aqueles que merecem por direito uma educação
de qualidade e mais além, para a vida em sociedade.

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- TERCEIRA ATIVIDADE: Plano de aula nº 03


Tema: Poetizando a Diversidade no contexto social

Nesta proposta de intervenção o que se tornou ponto relevante de observação


foi a questão do olhar do estudante em relação às diferenças que existem entre as
pessoas, principalmente em relação às deficiências e como estes se sentem diante
de muitos preconceitos que enfrentam em seu dia a dia. Durante as explorações orais
houve comentários sobre o que eles ouvem por estudar na escola de educação
especial, como por exemplo: “tem gente que fala que quem estuda na APAE é tudo
louco”, ou “eu não gosto de sair da escola, fica todo mundo olhando pra gente” e até
mesmo, “eu gosto mesmo é de ficar aqui na escola, todas as professoras gostam de
nós e ensinam a gente ler e escrever”.
Comentários com estes, infelizmente retratam uma realidade que ainda existe
na sociedade e do ponto de vista pessoal do aluno é ainda mais real pela forma como
eles se expressam. Assim neste trabalho o que se buscou foi resgatar o valor de cada
um e o respeito à diversidade de sujeitos que fazem parte do contexto escolar e é
nesse espaço que é rico em relações interpessoais que se podem estabelecer
situações de aprendizagem significativas. Durante a atividade de observação dos
estudantes sobre as características físicas e também pessoais de cada um dos seus
colegas e professora, houve uma interação espontânea e criativa, pois cada um tinha
uma qualidade diferente e por meio de questionamentos eles iam observando que
todos tinham valor e que compreender que cada um tem semelhanças e diferenças é
natural e faz parte da vida em sociedade. A leitura e interpretação do poema de Mário
Quintana foram importantes por retratar a realidade em que muitas pessoas vivem.
Ser deficiente não é apenas apresentar uma necessidade educacional especial e
precisar de um atendimento especializado, mas aprender a respeitar valores
fundamentais para a vida em sociedade com direitos e deveres, bem como
oportunidades iguais de acesso à escola, na vivência em família e na sociedade.

- QUARTA ATIVIDADE: Plano de aula nº 04


Tema:A questão ambiental envolvendo a reciclagem do lixo para um mundo
Sustentável

O plano de aula em questão apresentou como objetivo geral a compreensão


dos processos de reciclagem e sua importância para a sociedade e num sentido mais
específico oportunizaram aos estudantes do Ensino Fundamental na modalidade de
Educação Especial a compreensão quanto à funcionalidade da aprendizagem em
relação aos processos de reciclagem em seu dia a dia. Assim desenvolver o trabalho
pedagógico por meio de textos e atividades práticas de forma reflexiva se tornou um
instrumento importante para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita,
bem como despertou nos estudantes momentos para mudanças de postura quanto à
questão ambiental envolvendo a reciclagem em relação à construção de um mundo
mais sustentável. Como há na cidade a coleta de lixo de forma seletiva como fonte de
trabalho assalariado e o aterro sanitário como destino desse lixo, o trabalho educativo
pode contribuir para incentivo na separação do lixo em suas casas e também para
que cada um pudesse colaborar para preservação da vida no planeta iniciando em
sua vida diária.
Observando o desempenho dos estudantes durante a realização das atividades
propostas foi possível constatar o quanto estes possuem já uma consciência e
criatividade para o destino correto do lixo, pois este trabalho é realizado no município.
Contudo houve questões que chamaram a atenção como, por exemplo: alguns alunos
disseram que na casa deles as mães não separavam o lixo, colocavam tudo misturado
e quando os trabalhadores passavam para coletar tinham que ficar mexendo no lixo.
Este foi um fator a ser debatido com eles, pois deveria partir deles então ajudar na
separação do lixo em suas casas e na escola também. Outro ponto relevante neste
contexto de ação docente foi a palestra ministrada pela responsável por este setor na
Prefeitura Municipal, Suelen Lombardi que considerou a visita à escola um momento
importante para a conscientização quanto à coleta seletiva do lixo. Houve exposição
de slides que foram sendo partilhados por meio de questionamentos, explicações
sobre a condução do trabalho pela Equipe de trabalhadores num total de doze
componentes que fazem parte da Associação acompanhada pela Prefeitura. Alguns
estudantes tem pessoas da família que trabalham na reciclagem e tem como renda
mensal o dinheiro dos produtos vendidos e mais uma contrapartida da Prefeitura que
por meio de um contrato aumenta a renda dessas famílias.
Durante a palestra houve participação de todos os estudantes e professores da
escola que consideraram importante esta iniciativa de trabalho docente. O aterro
sanitário foi outro espaço visitado pelos alunos desta turma que gostaram de conhecer
a forma como é realizado a reciclagem e como eles podem ajudar separando o lixo
em suas casas. O estudo analisou que as atividades proporcionaram reflexões
individuais e coletivas, um novo olhar sobre o consumismo, os valores da separação
e reciclagem do lixo, seu custo para o meio ambiente e os benefícios quando o lixo é
reutilizado. Durante o desenrolar das atividades observou-se em cada criança o prazer
do conhecimento sobre Educação Ambiental e do contato com a natureza.
Entenderam o que é a coleta seletiva e perceberam que é extremamente benéfico que
o lixo tenha um destino correto, pois muito do que é jogado fora pode ser aproveitado
e se tornar fonte de renda para alguns.
Ao final do trabalho pode-se perceber que foi única cada experiência vivida,
transformando a limpeza do ambiente em atitudes positivas e os alunos tornaram-se
agentes multiplicadores desta atitude. As aulas ficaram dinâmicas, os alunos
integrados, refletiram, questionaram e construíram com o saber do outro, descobrindo
que ser um cidadão é tornar-se mais consciente de seu papel na sociedade, tendo o
conhecimento de seus deveres em relação ao planeta. Observou-se a importância do
aluno conhecer melhor o contexto onde vive, refletindo seu papel como sujeito no
mundo e que tem o dever de preservá-lo. Um grande passo foi dado, professoras e
alunos fizeram e continuam fazendo a sua parte na busca por um meio ambiente mais
limpo.
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5. Considerações Finais
O Currículo Escolar nos traz os conteúdos a serem ensinados e aprendidos, as
experiências pelas quais professores e alunos devem passar para se obter êxito na
aprendizagem. Mesmo sendo o norte de uma instituição escolar, não deve ser
totalmente engessado, pois a realidade dos alunos deve ser levada em conta e
adaptações podem se fazer necessárias.
Em se tratando da Educação Especial, a flexibilidade e as adaptações
curriculares são totalmente necessárias, os currículos devem ser ‘abertos’,
diversificados, dando liberdade para que a escola se organize e se adeque às
necessidades, as habilidades, aos conhecimentos e as diferenças individuais de cada
aluno, ampliando assim as possibilidades de aprendizado dos mesmos.
Diante da realidade docente de anos na educação especial, sentiu-se a
necessidade de promover novas práticas que auxiliassem os alunos em seu dia a dia,
não somente no aprendizado dos conteúdos curriculares, mas também na vida em
sociedade, assim desenvolveu-se este trabalho que foi muito rico em cada detalhe
de sua preparação e ainda mais em sua aplicação, desenvolvendo novas práticas
educativas que aliasse na dimunuição das principais dificuldades de aprendizagem
trazidas por cada aluno com a inserção destes no meio em que vivem, haja vista
muitos de sentirem deslocados, discriminados e até mesmo diminuidos perante as
pessoas que não apresentam deficiência.
Desta forma, as atividades realizadas procuraram primar por um misto de
resolução de dificuldades educacionais e das dificuldades do cotidiano. Foram
momentos de grande aprendizado para todos, pois tudo que é novo, que é diferente,
gera um certo desconforto, por vezes os alunos se sentiram envergonhados em
alguns lugares, mas aos poucos foram se soltando e participando do que lhes era
proposto. Foi possível trabalhar alfabetização e letramento com temas que fazem
parte da vida em sociedade, o que engrandeceu muito o trabalho pois trouxe
significado ao mesmo. Outro ponto muito positivo foi poder aliar o atendimento
individualizado, com o qual eles estão mais habituados, com atendimentos em
pequenos e grandes grupos, pois favoreceu o entrosamento entre os alunos e destes
com a docente, gerando um clima de maior confiança e segurança para que
pudessemos realizar atividades fora da escola com maior desenvoltura.
Posso diser que foi um período de muito estudo, de muitos receios, tentativas
erros e acertos, mas que ao final apresentou um resultado muito gratificante como um
todo, pois sabe-se que para um aluno com deficiência intelectual o tempo de
aprendizagem é maior e respeitar esse tempo é de suma importância para ele e este
tipo de trabalho proporcionou um imenso ganho tanto em termos de entendimento, de
compreensão, assimilação quanto de inserção desses alunos enquanto cidadãos
atuantes da comunidade em que vivem.
Só tenho a agradecer a todos que de uma forma ou de outra auxiliram para que
este momento, de relato final, fosse possível e repleto de êxito.

Referências

ARANHA, M. S. F. Projeto Escola Viva - garantindo o acesso e permanência de


todos os alunos na escola: adaptações curriculares de pequeno porte. Brasília,
MEC/SEE, 2000.

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