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EFEITO DO TREINAMENTO CONCORRENTE NO


DESENVOLVIMENTO
DA FORÇA MOTORA E DA RESISTÊNCIA AERÓBIA
Anderson Caetano Paulo
Centro Universitário Nove de Julho e
Centro Universitário Santanense de Ensino Superior
Eduardo Oliveira de Souza
Universidade de São Paulo
Gilberto Laurentino
Universidade Paulista e
Faculdades Integradas Guarulhos
Carlos Ugrinowitsch
Universidade de São Paulo
Valmor Tricoli
Universidade de São Paulo
Resumo:
Parece haver uma interferência negativa no desempenho
quando se combina a resistência aeróbia e a força num mesmo
período de treinamento. Essa combinação é denominada de
treinamento concorrente (TC) e há três hipóteses que tentam explicar
esse fenômeno: a hipótese crônica; o overtraining; e a hipótese
aguda. Diante disso, essa revisão tem como objetivo rever as
implicações práticas do TC para possível atenuação do efeito
dessa interferência.
Palavras-chave:
treinamento; força; resistência aeróbia

THE EFFECT OF CONCURRENT TRAINING IN PERFORMANCE


OF STRENGTH AND ENDURANCE
Abstract:
It seems there is a negative interference in the performance when
endurance and strength training are combined on the same training
period. This combination is called Concurrent Training (CT). There are
three hypotheses that try to explain this phenomenon: the chronic
hypothesis; the overtraining hypothesis, and the acute hypothesis.
This paper has the objective to review the practical implications of the
CT and the possible attenuation of
the interference effect.

Keywords: strength training; endurance training; concurrent training

INTRODUÇÃO

Várias modalidades esportivas exigem a estruturação de programas


de treinamento que combinem a força e a resistência aeróbia para a
otimizar seu rendimento em jogos e competições. Essa otimização
depende do tipo, da intensidade, da duração e da freqüência de
treinamento. No entanto, além dessas variáveis de carga de
treinamento, o desenvolvimento específico da
resistência aeróbia ou da força também depende se elas estão
combinadas no mesmo período de treinamento.
A literatura internacional tem adotado com freqüência a terminologia
treinamento concorrente (TC) para se referir aos programas que
combinam treinamento de força (TF) e de resistência aeróbia (TRA)
num mesmo período de tempo, assim como as possíveis adaptações
antagônicas produzidas pelo treinamento dessas duas capacidades
motoras (Bell et al., 2000;
Hakkinen et al., 2003; McCarthy et al., 2002). Leveritt et al. (1999)
apresentaram em sua revisão três possíveis mecanismos
relacionados ao efeito da concorrência, que foram: a) a hipótese
crônica, na qual se propõe a idéia que algumas adaptações morfo-
funcionais ocasionadas pelo treinamento
exclusivo da resistência aeróbia são distintas quando comparadas ao
treinamento de força per se; b) o overtraining, isto é, o organismo
não assimilaria um grande volume de treinamento para as duas
capacidades motoras; c) hipótese aguda, na qual após uma sessão de
treinamento de resistência aeróbia haveria uma fadiga residual que
comprometeria o treino de força na sessão subseqüente . Isto posto,
essa revisão tem como objetivo compreender os mecanismos que
afetam o TC e propor diretrizes para a
elaboração de programas de treinamento que amenizem o fenômeno
da concorrência, já que a literatura nacional carece de artigos que
abordem essa temática (Paulo & Forjaz, 2001).

HIPÓTESE DO EFEITO CRÔNICO

Baseado no princípio da especificidade, o TF provoca adaptações


morfo-funcionais específicas e diferenciadas quando comparadas às
adaptações que advêm do TRA (Hass et al., 2001). Em geral, as
adaptações resultantes de um programa de TF incluem aumento da
massa corporal magra, aumento da massa óssea, melhora na
coordenação inter- e intra-muscular (Dudley
& Fleck, 1987) e aumento da área de secção transversal das fibras
musculares do tipo I, IIa e IIb (Hakkinen et al., 2003). Já o TRA
aumenta o consumo máximo de oxigênio (VO2máx), a atividades das
enzimas oxidativas, os estoques de glicogênio intramuscular, a
densidade e capacidade mitocondrial dos músculos, melhora a
capacidade de difusão pulmonar, o débito cardíaco, a densidade
capilar e o controle da saturação da hemoglobina (Hakkinen et al.,
2003). Docherty e Sporer (2000) levantaram a hipótese de que,
dependendo da intensidade do TRA, as adaptações podem ser mais
centrais ou periféricas. Isto é, em intensidades mais baixas de
treinamento (60-80% do VO2max), as adaptações fisiológicas
parecem ocorrer mais no componente central (adaptação
cardiovascular). Já as adaptações periféricas predominariam quando o
organismo entrasse em um estado de hipóxia muscular durante o
exercício aeróbio de alta intensidade (> 90% do VO2max). Na mesma
revisão, Docherty e Sporer (2000) também sugerem que a
especificidade do TF resultaria em adaptações centrais ou periféricas.
Isto é, TF de alta intensidade (1-5RM) resultaria melhorias no
componente central (adaptação neural). Já
o TF envolvendo programas com intensidades menores (8-12RM)
também estariam relacionados às adaptações periféricas. Kraemer et
al. (1995) sugerem que para estimular a hipertrofia muscular, a carga
tem de ser abaixo de 90% de um 1RM. Os mesmos autores sugerem
que programas de treinamento que utilizem altas cargas e baixo
volume (1-6 RM) promoveriam
uma maior adaptação neural. Por outro lado, sugerem que a
hipertrofia muscular é produzida com cargas mais baixas e maior
volume (8-12 RM), ocorrendo assim um aumento da síntese de
proteína na fibra muscular.
Nelson et al. (1990) descreveram que esses diferentes programas de
TF combinados com programas de TRA podem recrutar diferentes
tipos de unidades motoras. O TRA de alta intensidade (> 90%
VO2max) recrutaria mais as unidades motoras compostas de fibras do
tipo II. Já os protocolos de TF acima de 70% de 1RM também
recrutariam as fibras do tipo II. Sendo assim, a combinação desses
dois protocolos pode produzir um estresse maior no mesmo tipo de
fibra, não lhe dando um tempo adequado para adaptar-se ao
aumento de força e da resistência aeróbia. Associando esses fatores,
Docherty e Sporer (2000) propuseram um modelo de treinamento
onde o fenômeno de
concorrência seria potencializado. Isto é, protocolos de TF utilizando
ao redor de 8 a 12RM combinados com TRA de intensidade de 95-
100% VO2max causariam adaptações periféricas que estariam
relacionadas com o efeito da concorrência. Revista Mackenzie de
Educação Física e Esporte – Ano 4, número 4 , 2005 Anderson
Caetano Paulo, Eduardo Oliveira de Souza, Gilberto Laurentino, Carlos
Ugrinowitsch e Valmor Tricoli 147
Todavia o modelo apresentado não se mostra totalmente efetivo, pois
estudos que combinaram programas de TC fora dessa zona de
interferência também demonstraram efeito de concorrência. Hickson
(1980) estruturou exercícios que
envolviam séries de 5RM e demonstrou uma atenuação no
desenvolvimento da força; já Bell et al. (1997) programaram
exercícios de 2-10 RM combinados com exercícios aeróbios
intervalados de alta intensidade e não demonstraram nenhum efeito
de concorrência. De fato nos estudos de TC há uma grande variação
dos programas treinamento que demonstram resultados controversos
(Leveritt et al., 1999). Esses dados nos levam a concluir que não é
somente uma zona de treinamento que explicaria o efeito da
interferência no TC.
Há muito tempo se evidencia que o TF pode causar decréscimo na
densidade capilar (Schantz, 1983) e na densidade mitocondrial
(Macdougall et al., 1979). Esses são fatores que poderiam prejudicar
o desempenho da resistência aeróbia. Por outro lado, Sale et al.
(1990a) demonstraram que o TRA causaria uma atenuação da
hipertrofia muscular, sendo esse um fator que poderia prejudicar o
aumento da força. Recentemente, Putman et al. (2004)
demonstraram que o TC resultou numa maior transição de fibras
rápidas para lentas e que também houve uma atenuação da
hipertrofia das fibras musculares do tipo I quando comparado ao TF
isolado. Além disso,
Green et al. (1999) demonstraram haver uma conversão mais
evidenciada no continuum das fibras musculares para o tipo IIa e uma
redução mais acentuada nas fibras tipo IIb quando comparado às
adaptações do TRA isolado.
Na hipótese crônica do TC, acredita-se que as adaptações
ocasionadas pelo treinamento dessas duas capacidades motoras de
forma isolada é que causariam o efeito de diminuição na força ou no
rendimento aeróbio uma vez que algumas dessas adaptações podem
ser consideradas como antagônicas para o rendimento dessas
capacidades.

HIPÓTESE DO OVERTRAINING

No estudo clássico de Hickson (1980) três grupos treinaram por 10


semanas. O primeiro grupo realizava apenas TF, o segundo realizava
apenas TRA, e o terceiro grupo realizava a combinação de ambos os
treinos caracterizando o TC. Comparado ao pré-treino notou-se um
aumento de força nos grupos TF e TC, no entanto o grupo TC atingiu
um platô no aumento de força (31%) na oitava semana e apresentou
um decréscimo (25%) no final do estudo, enquanto o grupo TF
apresentava um aumento de 44% em relação ao pré-treino. Alguns
autores levantam a hipótese de que essa amenização e queda de
força encontradas em alguns protocolos de TC podem ocorrer devido
a um efeito de overtraining ou excesso de treinamento. (Dudley &
Fleck, 1987; Hunter et al., 1987). Hickson (1980) submeteu sujeitos
não atletas a um treinamento intenso e diário, sendo cinco dias de TF
e seis dias de TRA,
por semana. Dudley e Fleck (1987) criticaram esse protocolo, uma
vez que a queda da força observada pelo autor poderia ser causada
por overtraining, pois uma sessão de TRA poderia diminuir o estoque
de glicogênio e alterar as propriedades mecânicas do músculo,
prejudicando o rendimento durante o treino de força. Além disso, a
somatória das cargas resultaria num volume de treinamento elevado
gerando um estado de fadiga. Nesse sentido a falta de recuperação
adequada pode gerar o efeito da concorrência. Bell et al. (1997)
submeteram um grupo de remadores a um programa de TC com uma
freqüência de três vezes por semana e não houve diferença na força
quando comparado ao grupo de TF. Possivelmente, essa freqüência
de treinamento foi
suficiente para o sujeito não entrar em estado de overtraining.

Efeito do treinamento concorrente no desenvolvimento da força


motora e da resistência aeróbia
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Kraemer et al. (1995) sugerem que apenas um alto volume de TC
seria capaz de criar ambiente catabólico levando o sujeito ao estado
de overtraining. Nesse sentido outros estudos também demonstraram
que programas de TC com freqüência de três vezes por semana pode
não ser suficiente para criar esse ambiente catabólico a fim de
interferir no desempenho da força (McCarthy et al., 1995; McCarthy et
al., 2002; Sale et al., 1990a). Por outro lado, Dudley e Djamil (1985)
demonstraram efeito de concorrência com um treinamento de apenas
três vezes por semana em sujeitos não atletas. Desta forma, parece
então que o estado de treinamento também está associado ao
aparecimento do efeito da concorrência. Corroborando com essa
hipótese, Hunter et al. (1987) demonstraram que um grupo de
corredores de longa distância
destreinados em força não sofreu efeito da concorrência como
aconteceu no grupo de sedentários que fizeram o mesmo protocolo
de três vezes por semana de TC. Existem vários marcadores de
overtraining que têm sido utilizados para identificar se a carga de
treinamento está ou não
adequada a um determinado grupo de sujeitos. Entretanto, as
respostas endócrinas da testosterona e do cortisol têm sido as mais
usadas como marcadores de anabolismo e catabolismo nos
programas de TC (Bell et al., 1997; Kraemer, et al., 1995; McCarthy et
al., 2002). Quando se trata do TRA observa-se que o nível de
testosterona não tem uma resposta homogênea. Há
estudos que demonstraram aumento, outros apresentaram
diminuição ou manutenção da concentração desse hormônio quando
comparados a valores pré- treinamento (Blazevich & Giorgi, 2001;
Hackney et al. 1995; Tabata et al. 1990). Já o TF tem
demonstrado alteração na razão testosterona/cortisol, a favor do
anabolismo, ou seja, um maior aumento na concentração de
testosterona quando comparada a concentração de cortisol (Kraemer
et al., 1995). Kraemer et al. (1995) submeteram 40 militares a um
protocolo de TC, considerado por eles de alto volume e intensidade.
Os sujeitos foram divididos em quatro grupos: o grupo S que treinou
somente força, o grupo E que treinou apenas a
resistência aeróbia; o grupo C que realizou o TC; o grupo UC, que
também realizou o TC, porém com treinamento de força constituído
apenas de exercícios para membros superiores. Ao final de 12
semanas os autores observaram que o nível de repouso de
testosterona permaneceu inalterado nos grupos UC, E e S, ocorrendo
um aumento significativo no grupo C na 12ª
semana de treinamento. Por outro lado, houve um aumento nos
níveis de cortisol nos grupos C, UC e E deixando a razão
testosterona/cortisol em um estado catabólico. Apenas o grupo S
demonstrou reduções significantes no nível de cortisol, criando um
estado anabólico. Os autores concluíram que um grande volume de
TC, durante 12 semanas, pode resultar em um
indesejável aumento no nível de cortisol, o qual poderia comprometer
os ganhos de força, potência e massa musculares. A questão do
gênero também deve ser levada em consideração quando protocolos
de TC são usados, pois o nível de cortisol se apresenta mais elevado
nas mulheres quando comparado com os homens submetidos ao
mesmo protocolo de treinamento (Bell et al., 1997; Bell et al., 2000).
Alguns autores têm sugerido que mulheres podem ser
hipercortisólicas (Roelfsema et al., 1993; Tsai et al., 1991), e este
fenômeno poderia ser potencializado com o protocolo de TC (Bell et
al., 2000). Além disso, a ausência de alteração no nível de
testosterona, associado ao nível elevado de cortisol em mulheres,
levaria a uma diminuição da razão testosterona/cortisol criando
estado favorável para o aparecimento do overtraining. Sendo assim,
torna-se necessário considerar o nível de treinamento, gênero, e
períodos de recuperação suficientes na
montagem de protocolos de TC para que os sujeitos não entrem no
estado de overtraining.
Anderson Caetano Paulo, Eduardo Oliveira de Souza, Gilberto
Laurentino, Carlos Ugrinowitsch e Valmor Tricoli
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HIPÓTESE DO EFEITO AGUDO

Alguns autores acreditam que o comprometimento no


desenvolvimento da força durante o TC tenha como origem a fadiga
aguda causada pelo componente aeróbio do treinamento (Craig et al.,
1991; Abernethy, 1993). O efeito agudo do exercício aeróbio
prejudicaria o grau de tensão desenvolvido durante a sessão de TF.
Conseqüentemente, o estímulo para o desenvolvimento de força seria
menor, quando comparado com a sessão de força não precedida por
atividade de caráter aeróbio.
Num dos poucos trabalhos que avaliaram a interferência aguda de
diferentes cargas de caráter aeróbio na produção de força máxima,
Leveritt e Abernethy (1999) verificaram a influência na produção de
força de membros inferiores no exercício agachamento após uma
atividade intermitente realizada no cicloergômetro em intervalos de
cinco minutos. O teste de força
consistia de três séries de repetições até a fadiga, com uma carga
equivalente a 80% de 1RM. Houve diminuição significante no número
de repetições máximas quando comparado com a sessão controle
sem a atividade aeróbia. O número de repetições, por série, na
condição controle e na condição experimental foram
respectivamente: 13,83 ± 5,71 e 8,83 ± 2,99; 11,17 ± 4,45 e
8,17 ± 3,6; 10,17 ± 5,04 e 8,83 ± 3,54. Os autores concluíram que a
queda aguda na produção de força após o exercício aeróbio pode
comprometer o desenvolvimento de força durante o TC. Craig et al.
(1991) também relataram que o desenvolvimento de força dos
membros inferiores foi comprometido quando os indivíduos
realizavam sessões de corrida antes das sessões de treino de força,
no entanto isso não ocorreu nos membros superiores. Os autores
sugeriram que o desenvolvimento de força dos membros inferiores foi
comprometido, devido à fadiga induzida pelo exercício aeróbio. Já
Abernethy (1993) submeteu dois grupos a cargas de exercício
aeróbio, uma contínua e
outra intervalada. Os dois grupos demonstraram uma diminuição
significante de 4% no teste de 1RM no exercício de extensão dos
joelhos após o exercício aeróbio.
Corroborando com os estudos anteriores, Sporer e Wenger (2003)
também verificaram uma redução no número máximo de repetições a
75% de 1RM até oito horas depois de dois tipos de atividade aeróbia
(intervalado com alta intensidade e contínuo com intensidade
moderada). Os autores também demonstraram que houve uma
recuperação completa após 24 horas de descanso da atividade
aeróbia para o teste de repetições máximas.
A queda na produção de força tem sido atribuída a muitos fatores,
desde a falta de tempo para musculatura se recuperar (Craig et al.,
1991; Sporer & Wenger, 2003) até a diminuição na sua ativação
(Bentley et al., 2000). Bentley et al. (2000) reportaram não só uma
queda na produção de força imediatamente e seis horas após o
exercício aeróbio realizado em cicloergômetro, mas também um
aumento no déficit de ativação muscular em ciclistas. Por outro lado,
também há estudos controversos em relação à interferência aguda.
Leveritt et al. (2000) não acharam queda significante na produção de
força em universitários, com exercício de força sendo realizado oito e
32 horas após 50 min de atividade aeróbia em cicloergômetro com
cargas variando de 70 a 110% da potência crítica. Diante dessa
hipótese aguda, a ordem da sessão do TF e do TRA dentro do
treinamento concorrente poderia afetar o desenvolvimento de uma
capacidade ou de outra. Com essa preocupação, Collins e Snow
(1993) procuraram verificar se a ordem das sessões interferiria no
desenvolvimento da força ou da resistência aeróbia. Os autores
estruturaram um protocolo de treinamento de três vezes por semana,
no qual um grupo fazia primeiro o TF seguido do TRA e o outro grupo
fazia o inverso. Os resultados revelaram que ambos os grupos não
apresentaram diferenças estatísticas no desempenho da força e da
resistência aeróbia, independente da ordem das sessões.

Efeito do treinamento concorrente no desenvolvimento da força


motora e da resistência aeróbia
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No entanto, existem evidências demonstrando que o efeito agudo do
exercício aeróbio pode inibir a qualidade do treinamento nos
exercícios de força aplicados subseqüentemente (Abernethy, 1993;
Craig et al., 1991; Leveritt & Abernethy,
1999). Porém, não está claro se esta redução aguda após a sessão
aeróbia é um fator determinante no desenvolvimento de força atípico
durante o TC. Mais estudos investigando a ordem das sessões e o
tempo de recuperação adequado, se faz necessário para melhor
compreensão dessa hipótese.

FORMAS DE ATENUAR O EFEITO DA CONCORRÊNCIA

Sale et al. (1990b) compararam as respostas adaptativas ao TC tendo


sessões de TF e TRA no mesmo dia e em dias alternados. Para
equalizar o volume e a intensidade do protocolo dividiu-se dois
grupos: o primeiro Grupo A-2d treinava duas vezes por semana sendo
que as sessões de TF e TRA eram treinadas num único dia; o segundo
Grupo B-4d treinava quatro vezes por semana sendo que as sessões
de TF e TRA eram em dias alternados. O Grupo B-4d em relação ao
Grupo A-2d aumentou significantemente a força máxima (+25% vs
+13%) e o número de repetição a 80% de 1RM até a fadiga (+64% vs
+39%). Já a melhora do VO2max foi similar nos dois grupos (+5% vs
+2%).
Nesse estudo, Sale et al. (1990b) alertam que o TC no mesmo dia
pode causar prejuízo no desenvolvimento da força,
conforme defende a hipótese aguda. Esse estudo demonstra que a
“qualidade” da sessão do TF pode ser prejudicada quando se treina o
componente aeróbio no mesmo dia. Os autores acreditam que o
estímulo aeróbio poderia estar causando diferentes adaptações no
sistema nervoso, pois a área de secção transversal (AST) do músculo
não foi diferente nos dois protocolos. Isto
é, uma vez que eles não acharam diferenças na AST entre os dois
grupos, eles especularam a causa do efeito de concorrência
encontrada como um fator neural. No entanto, não se exclui a
possibilidade que a atenuação na produção força durante o TC tenha
como causas o fator metabólico e o hormonal.
Fortalecendo a possível mudança no padrão de ativação parece que o
efeito da concorrência é maior no desenvolvimento da potência.
Dudley e Djamil (1985) e Kraemer et al. (1995) demonstraram que os
efeitos do TC são maiores quando a força é desenvolvida em alta
velocidade. Dudley e Djamil (1985), utilizando altas velocidades de
contração concêntrica no dinamômetro isocinético, demonstraram
que o grupo TC melhorou menos que o grupo TF isolado.
Há muito tempo tem se evidenciado que a TRA pode afetar
negativamente a força rápida. Na década de 70, por exemplo,
ONO et al. (1976) apud Nelson et al. (1990) demonstraram que o TRA
isolado diminuiu a altura do salto vertical máximo em corredores.
Neste sentido, parece ser interessante não realizar o TC em períodos
que se queira melhorar a força rápida.

A INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO CONCORRENTE NA


RESISTÊNCIA AERÓBIA E RESISTÊNCIA DE FORÇA

Apenas Nelson et al. (1990) encontraram efeito de concorrência no


VO2max ao se comparar o grupo de TC com o grupo de TRA. No
entanto, esse estudo não pode ser ignorado porque a maior parte dos
estudos de TC submeteu seus sujeitos a um curto período de
treinamento (10 a 12 semanas) e estudo teve a duração de 20
semanas. Nelson et al. (1990), a exemplos dos outros estudos,
também não observaram diferença estatisticamente significante do
VO2max entre os grupos TC e TRA até a décima primeira semana
(47,0 e 50,0 ml.kg-1.min-1, respectivamente). Porém, a partir desse
período até a vigésima semana a melhora dessa variável foi bem
mais acentuada no grupo TRA aparecendo o efeito da concorrência no
grupo TC comparado ao TRA (48,8 e 54,7 ml.kg-1.min-1,
respectivamente).

Anderson Caetano Paulo, Eduardo Oliveira de Souza, Gilberto


Laurentino, Carlos Ugrinowitsch e Valmor Tricoli
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Leveritt et al. (1999) especularam que a causa do aparecimento da
concorrência no estudo do Nelson et al. (1990) foi porque o
treinamento de força antecedeu a sessão de treinamento aeróbio. No
entanto, Collins e Snow (1993) não demonstraram diferença no
desenvolvimento aeróbio no grupo em que a sessão de força
antecedia a sessão aeróbia após sete semanas de TC. Além disso, se
o estudo de Nelson et al. (1990) tivesse terminado na semana onze,
os seus achados seriam similares a todos os outros. Portanto, parece
que esse fator temporal também deve ser considerado no TC para
analisar o
efeito da concorrência no rendimento da resistência aeróbia. Uma
dificuldade de observar se existe algum efeito de concorrência no
desempenho da resistência aeróbia se deve ao fato de haver uma
variabilidade no critério de aptidão física aeróbia utilizada nos
diversos estudos. São utilizados, como referência,
o VO2máx, o limiar anaeróbio (Lan) ou o teste de exaustão em %
VO2máx, podendo não ocorrer melhoras no VO2máx após um período
de treinamento, enquanto são vistas melhoras significantes no Lan e
no teste de exaustão (Marcinick et al., 1991). Para comprovar isso, o
estudo de Paavolainen et al. (1999) constatou em corredores de 5
km, que apesar da medida do VO2max dos atletas não aumentar com
um incremento do treinamento de força rápida houve uma melhora
no tempo de corrida do grupo TC quando comparado ao grupo TRA
isolado. Millet et al. (2002) também mostraram que o TF de alta
intensidade produziu uma influência positiva na economia de corrida
e na velocidade do VO2máx em triatletas bem treinados após 10
semanas de treinamento. Esses resultados sugerem que o sistema
nervoso tem um importante papel na regulação da tensão
viscoelástica do músculo (stiffness), e a utilização dessa adaptação
no ciclo alongamento-encurtamento durante a corrida aumentaria a
sua velocidade. Dalleau et al. (1998) observaram que o custo
energético na corrida está significantemente relacionado à tensão
viscoeslática do músculo (stiffness) na fase de propulsão da perna,
ocasionando um menor tempo de contato com o solo e
conseqüentemente aumentando a velocidade de deslocamento dos
sujeitos.
Hickson et al. (1988) também demonstraram que o TC permitiu aos
sujeitos suportar por mais tempo uma atividade
aeróbia no cicloergômetro sem o aumento concomitante do VO2máx.
Os pesquisadores sugeriram que um aumento na força dos membros
inferiores pode melhorar o tempo para atingir a exaustão pela
diminuição da proporção da força máxima requerida para cada
pedalada. Isto, teoricamente, aumentaria a participação das fibras do
tipo I e retardaria o recrutamento maior das fibras glicolíticas do tipo
II que são as fibras que fadigam mais rapidamente.
Apesar das mudanças metabólicas causadas pelo TC necessitarem de
mais investigação, especula-se que esse fenômeno também está
relacionado a uma maior resistência à produção de lactato e ao
aumento da atividade das enzimas citrato quinase e mioquinase, as
quais contribuem para acelerar as reações do metabolismo aeróbio
(Holloszy & Coyle, 1984). Estes resultados podem indicar que os
fatores limitantes do desempenho da resistência aeróbia podem ser
mais fortemente relacionados com fatores periféricos e neurais do
que com fatores centrais como o consumo máximo de oxigênio.
Já Sale et al. (1990a) elaboraram um programa de treinamento no
qual o grupo A treinava apenas força numa perna e TC na outra perna
e o grupo B treinava apenas resistência aeróbia numa perna e TC na
outra perna. O grupo A aumentou mais a resistência de força a 80%
de 1RM até a fadiga na perna TC quanto comparada à perna que
treinou apenas força (152% e 81%,
respectivamente). O grupo B também aumentou mais a resistência de
força a 80% de 1RM até a fadiga na perna TC quanto comparada a
perna que treinou apenas resistência aeróbia (157% e 60%,
respectivamente). Esses dados vêm demonstrar a importância do TC
para a manutenção de rendimento em exercícios nos quais a
resistência de força está presente. E parece
que para nesse tipo de atividade não há efeito de concorrência
quando comparado ao TRA isolado.

Efeito do treinamento concorrente no desenvolvimento da força


motora e da resistência aeróbia
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado nos estudos apresentados pode-se concluir que o


rendimento esportivo durante jogos e competições pode ser
altamente afetado com a aplicação de protocolos de TC, ou seja, a
correta manipulação da força e da resistência aeróbia é essencial
para obtenção da máxima performance sem ter queda no rendimento
em nenhuma dessas capacidades durante uma
periodização do treinamento.
Diante disso, pode-se fazer algumas considerações de aplicação
prática na elaboração de protocolos de TC com diferentes objetivos:
1- nenhum dos estudos apresentados demonstrou haver efeito de
concorrência na resistência aeróbia até a décima semana de
treinamento. Os programas de TC se mostraram mais efetivos para
melhorar a resistência de força, o tempo de exaustão numa atividade
aeróbia e a velocidade da corrida de longa distância quando
comparados ao treinamento exclusivo de força ou de resistência
aeróbia. Portanto, se o objetivo do treinamento é a melhora desses
fatores, o TC é essencial.
2- por outro lado, se o objetivo for a melhora da força máxima, ou da
potência muscular deve-se tomar alguns cuidados na estruturação do
treinamento como: a) treinar força e resistência aeróbia em dias
alternados; b) se a sessão de treinamento das duas capacidades
motoras for no mesmo dia (não é indicado), treinar a sessão de força
primeiro e deixar para treinar força dos membros superiores no dia da
sessão aeróbia; c) procurar não treinar o TC na zona de interferência
proposta por Docherty & Sporer (2000); d) se o TC for com um grupo
feminino os intervalos de descanso devem ser maiores uma
vez que elas podem ser hipercortisólicas.
Por último, independentemente do objetivo do treinamento é
necessário identificar o estado de treinamento do sujeito, pois as
pesquisas também demonstraram que sujeitos destreinados parecem
ser mais suscetíveis ao efeito da concorrência.

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Tramitação

Recebido em junho/2005
Aceito em: agosto/2005
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 4, número 4 ,
2005
Anderson Caetano Paulo, Eduardo Oliveira de Souza, Gilberto
Laurentino, Carlos Ugrinowitsch e Valmor Tricoli

Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília v. 10 n. 2 p. abril 2002 79

Efeito de 10 semanas de treinamento com pesos


sobre indicadores da composição corporal
Resumo
[1] Santos, C.F., Crestan, T.A., Picheth, D.M., Felix, G., Mattanó, R.S., Porto, Segantin,
A.Q., Cyrino, E.S. Efeito de 10 semanas de treinamento com pesos sobre indicadores
da composição corporal. Rev. Bras. Ciên. e Mov. 10 (2): 79-84, 2002. O objetivo deste
estudo foi avaliar o efeito de dez semanas de treinamento com pesos (TP) sobre
indicadores da composição corporal. Dezesseis homens (23,0 ± 2,1 anos) sedentários,
mas aparentemente saudáveis, foram aleatoriamente divididos em grupo-treinamento
(GT, n = 8) e grupo - controle (GC, n = 8). O GT realizou TP durante dez semanas
consecutivas (três sessões semanais, em dias alternados), ao passo que o GC não se
envolveu com a prática de nenhum programa sistematizado de atividades físicas, nesse
período. Onze exercícios compuseram o programa de TP, cada qual realizado em três
séries de 8-12 RM. Medidas de dobras cutâneas foram coletadas antes e após o período
de intervenção. Incrementos significantes na massa corporal (4%) e na massa magra
(3,8%) foram verificados somente no GT, o que acarretou diferenças (p<0,05) na
comparação entre os grupos (GT>GC). Nenhuma alteração no componente adiposo foi
observada durante o período analisado em ambos os grupos (p>0,05). Os resultados
sugerem que o TP contribui para o aumento da massa magra. Por outro lado, o período
de dez semanas de TP, de forma isolada, sem orientação nutricional, não parece ser
suficiente para a redução dos depósitos de gordura corporal.

PALAVRAS-CHAVE: composição corporal, dobras cutâneas, treinamento com pesos.

Abstract
[2] Santos, C.F., Crestan, T.A., Picheth, D.M., Felix, G., Mattanó, R.S., Porto, D.B.,
Segantin, A.Q., Cyrino, E.S. Effect of 10 weeks of weight training on body composition
indicators. Rev. Bras. Ciên. e Mov. 10 (2): 79-84, 2002. The aim of this study was to
evaluate the effect of ten weeks of weight training on body composition indicators.
Sixteen sedentary men (23.0 ± 2.1 years), but apparently healthy, were randomly
divided in training group (TG, n = 8) and control group (CG, n = 8). TG performed WT
during ten consecutive weeks (three weekly sessions, on alternate days), while CG
didn’t get involved in the practice of any systematized program of physical activities
during the same period. Eleven exercises composed the program of WT, each one
performed in three sets of 8-12 RM. Measures of skinfolds were collected before and
after the intervention period. Significant increments in body mass (4%) and lean
body mass (3.8%) were verified only in TG, what caused differences (p<0.05) in the
comparison between the groups (TG>CG). No alteration in the fat component was
observed during the analyzed period in either group (p>0.05). The results suggests that
WT contributes to the increasing of lean body mass. On the other hand, the ten weeks
period of WT, in an isolated way, without nutritional orientation doesn’t seem to be
enough for the reduction of body fat stores.
KEYWORDS: body composition, skinfolds, weight training. 79-84
Effect of 10 weeks of weight training on body composition indicators
Claudinei Ferreira dos Santos, Tony Anderson Crestan,
Danielle Montemor Picheth, Guilherme Felix, Rodrigo
Sabóia Mattanó, Denilson Braga Porto, Alexandre
Queiroz Segantin, Edilson Serpeloni Cyrino
Centro de Educação Física e Desportos - Universidade
Estadual de Londrina
Endereço:
Edilson Serpeloni Cyrino
Rua Professor Samuel Moura, 328 Apto 1604
CEP 86061-060
Londrina/PR
Fone: (43) 3275898
E-mail: emcyrino@netsinai.com

Introdução
Estudos relacionados à composição corporal são de extrema importância,
particularmente para a saúde, visto que o excesso de gordura corporal pode
potencializar a incidência de disfunções crônico-degenerativas (13,17), ao passo que o
baixo desenvolvimento muscular pode dificultar o melhor funcionamento do sistema
músculoesquelético. Apesar da prática de programas regulares de exercícios com pesos
vir sendo estudada mais criteriosamente somente nos últimos anos, muitos estudos, ao
longo do tempo, têm buscado investigar o potencial desse tipo de treinamento para a
melhoria de diferentes componentes da composição corporal
(2,3,4,5,6,7,8,10,23,25,26,27,29,30).
Aparentemente as modificações associadas à prática do treinamento com pesos, além de
auxiliarem na melhoria da estética corporal, podem repercutir favoravelmente na
qualidade de vida e saúde de indivíduos de diferentes faixas etárias e de ambos os
sexos, uma vez que o treinamento com pesos pode contribuir, sobretudo, para o
desenvolvimento ou manutenção da força e da massa muscular. Além disso, acredita-se
que o treinamento com pesos possa auxiliar na preservação do componente mineral
ósseo, bem como no controle dos depósitos de gordura corporal; contudo, essas
modificações ainda merecem ser investigadas de modo mais consistente. Assim, o
objetivo do presente estudo foi verificar as possíveis modificações na composição
corporal, após 10 (dez) semanas de treinamento sistematizado com pesos, em adultos
jovens não-treinados.

Indivíduos e métodos

Sujeitos

Dezesseis homens (23,0 ± 2,13 anos) foram previamente selecionados para participar
deste estudo. Nenhum dos participantes relatou ter-se envolvido com a prática regular
de programas de exercícios físicos, nos últimos seis meses que antecederam o início do
experimento. Além disso, mediante entrevista preliminar individual, não se constatou
a existência de histórico de doenças metabólicas entre esses indivíduos. Os sujeitos
foram divididos aleatoriamente em dois grupos. O primeiro grupo (n = 8) foi submetido
exclusivamente à prática de um único programa sistematizado de treinamento com
pesos, sendo denominado de grupo-treinamento (GT). O segundo grupo (n = 8), por sua
vez, não realizou nenhum programa sistematizado de exercícios físicos durante o
período de duração do estudo, sendo utilizado, portanto, como grupo-controle (GC).
Todos os sujeitos, após serem convenientemente informados sobre a proposta do estudo
e procedimentos aos quais seriam submetidos, assinaram consentimento esclarecido.

Antropometria e composição corporal


A massa corporal foi obtida por meio de uma balança da marca Urano, modelo PS180,
digital, com precisão de 0,1 kg, de acordo com os procedimentos descritos por
GORDON et al. (11). Todos os indivíduos foram pesados descalços, vestindo apenas
uma sunga. A composição corporal foi determinada pela técnica de espessura do tecido
celular subcutâneo. Três medidas foram tomadas em cada ponto, em seqüência
rotacional, do lado direito do corpo, sendo registrado o valor mediano. Para tanto, foram
aferidas as seguintes dobras cutâneas: abdominal, suprailíaca, subescapular, tricipital,
bicipital, axilar-média, perna-medial e coxa. Todas as medidas foram realizadas por um
único avaliador, com um adipômetro científico Cescorf, com pressão constante de 10
g/mm2 na superfície de contato e precisão de 0,1 mm, de acordo com as técnicas
descritas por HARRISON et al. (14), com exceção da dobra abdominal, que foi
determinada paralelamente ao eixo longitudinal do corpo, aproximadamente dois
centímetros à direita da borda lateral da cicatriz umbilical e da dobra de coxa, tomada
no terço superior entre o ligamento inguinal e a borda superior da patela (12). O
coeficiente teste-reteste excedeu 0,95 para cada um dos pontos anatômicos com erro de
medida de, no máximo ± 1,0 mm. A gordura corporal relativa (% gordura) foi calculada
pela fórmula de SIRI (28), a partir da estimativa da densidade corporal determinada pela
equação proposta por GUEDES (12).

Programa de treinamento
O programa de treinamento com pesos foi executado durante dez semanas consecutivas,
compreendendo três sessões semanais em dias alternados. A freqüência às sessões
de treinamento foi superior a 86% (26 a 30 sessões). Previamente ao início do estudo, os
indivíduos do GT passaram por um período de duas semanas de adaptação ao programa
de treinamento com pesos a ser executado, com o propósito de aprendizagem das tarefas
motoras e familiarização com aspectos técnicos (velocidade de execução dos
movimentos, contagem das repetições, controle dos intervalos de recuperação e da
respiração, durante os exercícios), perfazendo assim um total de seis sessões de
treinamento nesse período. O programa de treinamento com pesos constou de
onze exercícios, realizados em três séries com intervalo de 30 (trinta) segundos a 1 (um)
minuto de recuperação entre elas. O intervalo permitido entre os exercícios foi de dois a
três minutos. Os exercícios que compuseram o programa foram os seguintes:
desenvolvimento supino e crucifixo em banco horizontal (peitoral); puxada por trás do
pescoço no pulley, flexão lombar e remada curvada (costas); flexão do joelho na mesa
flexora e meio agachamento (coxas); desenvolvimento pela frente na máquina
(ombros); rosca direta e extensão de cotovelos com barra em decúbito dorsal no banco
horizontal (bíceps e tríceps, respectivamente); ânteroflexão de tronco em decúbito
dorsal com aparelho (abdômen). O sistema de treinamento empregado durante o período
experimental foi o meia pirâmide crescente, com cargas variáveis, adaptado de
RODRIGUES & ROCHA (24), com exceção do grupo abdominal, que seguiu o
protocolo convencional de 3 (três) séries de 50 repetições. Assim, a carga era
incrementada progressivamente a cada série, concomitantemente com redução do
número de repetições (12/10/8 repetições máximas, nas três séries, respectivamente).
Ao longo do experimento, as cargas foram ajustadas periodicamente, de acordo com os
ganhos adicionais de força, de modo que a intensidade inicial pudesse ser preservada.

Tratamento Estatístico
A análise descritiva e a estatística inferencial de todos os dados foram conduzidas no
pacote STATISTICATM. Para a avaliação das mudanças que ocorreram entre os
períodos pré e pós-experimento, dentro de cada grupo, o teste “t” de Student para
amostras dependentes foi empregado. As variações percentuais observadas entre os dois
períodos em cada grupo, foram contrastadas entre os grupos (treinamento e controle)
pelo teste “t” de Student, para amostras independentes e pareadas. O nível de
significância adotado para todas as comparações foi de p<0,05.

Resultados
Os resultados obtidos nos períodos pré e pós-experimento para ambos os grupos são
apresentados nas Tabelas 1 e 2. As modificações ocorridas entre esses dois momentos
são expressas em valores percentuais (⊗%) O comportamento dos indicadores da
composição corporal é apresentado na Tabela 1. Os resultados revelaram um aumento
significante na massa corporal (4%) e na massa magra (3,8%) somente no GT (p<0,05).
Esses incrementos provocaram diferenças significantes também na comparação entre os
grupos, com o GC preservando os valores observados inicialmente. Por outro lado,
ambos os grupos tiveram um discreto aumento na gordura corporal, tanto relativa
quanto absoluta, contudo, sem significância estatística (p>0,05). Apesar disso, vale
ressaltar que houve uma ligeira tendência de maior acúmulo adiposo no GC.
TABELA 1: Comportamento dos indicadores da composição corporal antes e após 10
semanas com e sem treinamento com pesos
Grupo Treinamento Grupo Controle
Pré Pós ⊗1% Pré Pós ⊗2%
Massa corporal (kg) **69,33 ± 8,0672,13 ± 8,324,07 ± 3,20*66,61 ± 5,9367,41 ±
5,971,22 ± 1,66
Gordura (%) 11,01 ± 4,3511,22 ± 4,34 2,61 ± 9,37 16,43 ± 4,09 17,08 ± 3,805,66 ±
12,45
Massa gorda (kg) 7,79 ± 3,75 8,23 ± 3,78 7,00 ± 12,68 11,12 ± 3,53 11,68 ± 3,577,08 ±
14,01
Massa magra (kg) ** 61,54 ± 6,3463,90 ± 6,90 3,80 ± 2,25* 55,50 ± 3,14 55,73 ± 3,06
0,44 ± 1,50
* Efeito significativo dentro do grupo do pré ao pós-experimento (p<0,05)
** Efeito significativo entre os grupos do pré ao pós-experimento (p<0,05)
A Tabela 2 apresenta o comportamento da adiposidade subcutânea nos diferentes pontos
anatômicos. Nenhuma modificação significante foi verificada após as dez semanas de
treinamento no GT. Do mesmo modo, o GC não sofreu mudanças ao longo desse
período. Os pontos de maior e menor acúmulo de gordura subcutânea também foram
semelhantes em ambos os grupos (abdominal e bicipital, respectivamente), embora uma
grande variação nos resultados tenha sido verificada nos dois grupos, após o período
experimental.

Discussão
Os incrementos na massa corporal e na massa magra, verificados neste estudo após dez
semanas de treinamento com pesos, vão ao encontro dos achados da maioria das
investigações sobre o impacto do treinamento com pesos sobre a composição corporal,
todavia, o comportamento do componente adiposo ainda permanece sendo alvo de
muitas controvérsias. GETTMAN et al. (10) encontraram um aumento significante da
massa magra de 2,8% (1,8 kg) em sujeitos submetidos a um circuito de treinamento
com pesos, quando comparados a um grupo controle, durante um período de 20
semanas de intervenção. Além disso, os autores verificaram uma redução
estatisticamente significante na massa gorda de 1,3 kg (6,3%) no grupo-treinamento.
Essa redução não foi observada neste estudo, onde o GT sofreu um incremento que,
apesar de não ser significante, foi semelhante ao encontrado no GC (0,4 kg e 0,6 kg,
respectivamente). Embora o fator tempo não possa ser desprezado na comparação entre
esses dois estudos, outros fatores, como a falta de orientação nutricional, podem ter
exercido influência negativa no comportamento da massa gorda no GT do presente
estudo. WILMORE (30) não encontrou alterações na massa corporal em homens
submetidos a 10 semanas de treinamento com pesos, todavia, modificações significantes
foram verificadas na massa magra (+2,4%) e na massa gorda (- 7,5%). Embora nesse
estudo não tenha existido um grupo controle, um comportamento semelhante ao
encontrado nos homens foi observado também nas mulheres estudadas. HICKSON (15),
após submeter sete homens e uma mulher a 10 semanas de treinamento com pesos,
constatou aumento de 1,9 kg (2,5%) na massa corporal e 5,5% de redução na gordura
corporal relativa. Contudo, a magnitude dessas modificações pode ter sido afetada pela
utilização de uma única amostra composta por homens e mulheres. SANTOS et al. (26)
verificaram modificações bastante positivas nos componentes da composição corporal,
avaliada por DEXA, após 16 semanas de treinamento com pesos. Vinte e seis
indivíduos do sexo masculino (23,0 ± 3,0 anos) foram separados aleatoriamente em dois
grupos, grupo- treinamento (n=13) e grupo-controle (n=13). Modificações
estatisticamente significantes foram verificadas na massa isenta de gordura (aumento de
2,9%) e na gordura corporal relativa e absoluta (redução de 10,2% e 13,4%,
respectivamente), no grupo-treinamento, quando comparado ao grupo-controle. Os
autores concluíram que o treinamento com pesos pode auxiliar na redução dos depósitos
de gordura, pelo menos a médio ou longo prazo. Um estudo muito interessante,
desenvolvido por ALEN et al. (1) comprovou a eficiência de 24 semanas de treinamento
progressivo com pesos para o aumento da massa corporal (0,7%) e redução na gordura
corporal relativa (7,8%). Nesse mesmo estudo, também foi controlado o período de
destreinamento, e os resultados indicaram que as modificações verificadas após o
período de treinamento com pesos foram preservadas após 12 semanas, sem qualquer
tipo de treinamento. Um outro importante estudo foi realizado por NAKAO et al. (21).
Nesse estudo, 19 sujeitos mantiveramse em treinamento com pesos sob alta intensidade
por um TABELA 2: Comportamento dos depósitos de gordura subcutânea em diferentes
pontos anatômicos antes e após 10 semanas com e sem treinamento com pesos
Dobras Cutâneas Grupo Treinamento Grupo Controle
(mm) Pré Pós ⊗1% Pré Pós ⊗2%
Abdominal 13,11 ± 5,4213,10 ± 5,27 0,76 ± 8,65 19,38 ± 5,49 19,70 ± 4,77 3,31 ±
10,99
Suprailíaca 8,98 ± 3,83 9,03 ± 3,71 1,56 ± 10,41 14,91 ± 4,84 16,83 ± 5,68 15,22 ±
22,17
Subescapular 10,81 ± 2,1410,90 ± 2,12 1,15 ± 8,28 15,14 ± 5,16 14,70 ± 5,58 -3,02 ±
10,89
Tricipital 8,00 ± 2,09 8,46 ± 2,40 6,05 ± 15,64 11,34 ± 4,37 11,33 ± 5,22 -1,64 ± 12,18
Bicipital 3,99 ± 1,39 3,34 ± 0,70 -12,73 ± 17,61 4,21 ± 1,76 3,58 ± 1,46-12,45 ± 15,22
Axilar-média 6,48 ± 2,66 6,66 ± 2,25 5,18 ± 15,80 10,86 ± 4,66 10,08 ± 4,29-5,51 ±
13,05
Perna medial 9,21 ± 2,68 9,90 ± 3,04 8,23 ± 17,23 9,08 ± 4,37 8,11 ± 3,38 -6,84 ± 11,97
Coxa 12,49 ± 4,0213,10 ± 4,41 5,44 ± 16,81 15,71 ± 5,32 14,93 ± 3,89 -0,59 ± 17,83
Nota. Nenhuma diferença significante do pré-ao pós-experimento (p>0,05) período de
três anos consecutivos. As alterações anuais foram progressivamente significantes e, ao
final do terceiro ano, constatou-se diminuição na gordura corporal relativa de 3,3 pontos
percentuais (16,3%) e aumentos de 1,8 (2,6%) e 4 kg (7,4%) na massa corporal e na
massa magra, respectivamente. Atualmente, acredita-se que a redução nos depósitos
de gordura corporal, associada ao treinamento com pesos, possa ser produto da elevação
do consumo de oxigênio pós-exercício, acarretada pela estimulação de alta intensidade,
o que ao menos hipoteticamente poderia aumentar a oxidação lipídica após o esforço
(22). HUNTER et al. (16) compararam dois grupos experimentais, um submetido a
treinamento com pesos combinado com treinamento aeróbico (TPA), e outro submetido
somente a treinamento com pesos (TP). De acordo com os resultados, não houve
diferença significante entre os tratamentos, após o período experimental tanto na massa
corporal quanto no percentual de gordura, embora reduções de 1,6% e 2,6% na gordura
corporal relativa tenham sido encontradas nos grupos TP e TPA, respectivamente. Esses
achados sugerem que a falta de exercícios aeróbios combinados com o treinamento com
pesos pode ter influenciado o comportamento da adiposidade corporal dos sujeitos do
GT no presente estudo. Ao submeter 10 homens jovens e 12 idosos a nove semanas de
treinamento com pesos, LEMMER et al. (18) não constataram mudanças significativas
nos componentes da composição corporal, avaliados por DEXA. Apesar disso, os
autores observaram uma tendência de redução na gordura corporal relativa (4%), no
grupo de jovens e de aumento de 1 kg (1,7%) na massa magra, no grupo de idosos.
Um comportamento semelhante dos depósitos de gordura corporal foi verificado por
MARCINIK et al. (19), ao acompanhar 10 adultos jovens, por um período de 12
semanas, durante um programa de treinamento com pesos. Todavia, nesse estudo, os
autores encontraram um aumento significante na massa magra (1,3 kg ou 2%).
Em estudo que procurou investigar a influência do emprego de supervisão direta
(personal training) no treinamento com pesos, MAZZETTI et al. (20) encontraram
aumentos de 4,0 kg (4,7%) na massa corporal, 1,4 kg (2%) na massa magra e 2,1 kg
(10,7%) na gordura corporal relativa no grupo supervisionado, após 12 semanas de
acompanhamento. Os autores ressaltaram que, apesar do aumento da adiposidade
corporal, os ganhos de massa magra foram significantemente maiores do que os do
grupo não-supervisionado. Embora o grupo supervisionado tenha apresentado
aumento na massa magra bastante semelhante ao observado no presente estudo, o
incremento relativo da adiposidade corporal foi muito superior ao encontrado nesta
investigação. FIATARONE et al. (9) analisaram as modificações na composição
corporal de 10 sujeitos, com média de idade de 90 anos, após oito semanas de
treinamento com pesos, realizado com freqüência semanal de três sessões, sob alta
intensidade (80% de 1RM). Os autores constataram, por meio de tomografia
computadorizada, aumentos significantes na área muscular total da coxa não-dominante
(9%) e na área muscular do quadríceps (10,9%), todavia sem alterações nas áreas de
gordura subcutânea e intramuscular.

Conclusões
A magnitude das modificações na composição corporal aparentemente depende de
muitos fatores, direta ou indiretamente, relacionados ao treinamento físico. Assim,
muitas das diferenças observadas na comparação entre os estudos disponíveis na
literatura, que têm investigado a prática de exercícios com pesos, podem estar atreladas
ao período de duração do estudo; aos diferentes protocolos de treinamento empregados;
à intensidade e ao volume aplicados; aos grupos amostrais utilizados; ao sexo e à faixa
etária estudada; à existência ou não de controle nutricional, dentre outros. Apesar dessas
limitações, as modificações observadas no presente estudo, sobretudo na massa corporal
(+2,8 kg) e na massa magra (+2,4 kg) do GT, confirmaram a eficiência do treinamento
com pesos para o desenvolvimento, particularmente do componente muscular. Finalizar,
o período de dez semanas de treinamento com pesos, de forma isolada, sem orientação
nutricional, não parece ser suficiente para a redução dos depósitos de gordura corporal.
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Potencialização: a influência da contração


muscular prévia no desempenho da força
rápida
Potentiation: the influence of previous muscle contraction
on speed-strength performance
*Departamento de Esporte. Escola de Educação Física e Esporte.
Universidade de São Paulo.

ARTIGO ORIGINAL
Mauro A. B. Batista*
João P. A. Coutinho*
Renato Barroso*
Valmor Tricoli*

Isometric Maximum (IM, n=6) and Control


Resumo (CON, n=6). The DJ group was submitted to 4 x
A ampliação da força decorrente de uma 5 jumps (40 cm). The IM group performed 3 x
atividade prévia é conhecida como 5-second maximum isometric contractions.
potencialização. Neste estudo investigouse Vertical jump performance was measured by
a potencialização da força rápida, avaliada por the “Ergojump” equipment, pre- and 5, 10, and
meio do salto vertical (SV), causada por 15 minutes post-treatment. The ANOVA
atividades do ciclo alongamento-encurtamento e revealed significant differences on VJ
ações isométricas máximas. Dezoito jovens do performance among groups and intervals. The
sexo masculino foram divididos em três DJ group had on average a 1,6 cm decrease on
grupos: Salto em Profundidade (SP,n=6),
its performance (41,2 ± 2,6 cm pre to 39,6 ±
Isometria Máxima (IM,n=6) e Controle
(CON,n=6). O grupo SP foi submetido 2,6 cm post). The IM group also had a decrease
a 4 x 5 saltos (40 cm). O grupo IM realizou 3 of 1,4 cm (41,6 ± 4,6 cm pre to 40,2 ± 4,5 cm
contrações isométricas máximas de 5 segundos post) and the CON group decreased 1,0 cm
de duração. O desempenho no SV foi avaliado (40,8 ± 4,6 cm pre to 39,8 ± 4,6 cm post).
no aparelho Ergojump, pré e nos intervalos de 5, Therefore, it was not possible to clarify which
10 e 15 minutos pós-tratamento. type of muscle action is more efficient in
ANOVA demonstrou não haver diferenças arousing potentiation. The level of experience of
significantes no SV entre os grupos e intervalos the subjects in strength training might have been
de tempo. O grupo SP sofreu uma queda média an important factor in the absence of
no desempenho de 1,6 cm (41,2 ± 2,6 cm otentiation.
pré para 39,6 ± 2,6 cm pós). O grupo IM
KEYWORDS: isometric, potentiation, vertical
também teve queda de 1,4cm (41,6 ± 4,6 cm pré
jump, quick strength.
para 40,2 ± 4,5 cm pós) e o grupo CON diminui
1,0 cm (40,8 ± 4,6 cm pré para 39,8 ± 4,6 cm
pós). Assim, não foi possível esclarecer qual Introdução
tipo de ação muscular é mais eficiente em Estudos envolvendo modelos animais e
desencadear a potencialização. O nível de humanos têm demonstrado que o desempenho
experiência dos sujeitos em treinamento de de força pode ser aprimorado quando esse é
força pode ter sido um importante fator na precedido por uma estimulação tetânica
ausência da potencialização. artificial (3, 11, 12). Em seres humanos esse
aprimoramento tem sido provocado também por
PALAVRAS-CHAVE: isométrico, meio de estimulações naturais, ou seja, por
potencialização, salto vertical, força rápida. contrações musculares voluntárias (2, 6, 10, 20).
Essa melhora do desempenho de força como
resposta aguda a uma atividade precedente é
Abstract conhecida como potencialização pós-tetania
Intensification of strength due to a previous (PPT) (4, 12, 18, 21). Alguns autores, porém,
activity is known as potentiation. In this study preferem utilizar o termo potencialização pós-
we investigated quick strength potentiation, ativação (PPA) quando o fenômeno é
evaluated through vertical jump (VJ) desencadeado por uma atividade muscular
performance, caused by activities of the stretch- voluntária (2, 10, 12). Um exemplo do efeito de
shortening cycle and maximum isometric potencialização é apresentado na Figura 1.
contractions. Eighteen young males were O mecanismo considerado como principal
divided into 3 groups: Drop Jump (DJ, n=6), responsável pela ocorrência desse fenômeno é a
fosforilação da miosina regulatória de cadeia
leve, que faz com que a interação actina- de saltos em profundidade (SP) a ser realizado
miosina se torne mais sensível ao cálcio em uma sessão de treinamento, capaz de
liberado pelo retículo sarcoplasmático (17). Em aprimorar a força rápida dos membros
decorrência dessa maior sensibilidade ao cálcio, inferiores. Como conseqüência da metodologia
um número maior de pontes cruzadas passa a utilizada pôde-se notar uma ampliação da
ser ativado gerando um torque muscular potência dos membros inferiores nos minutos
superior ao observado no estado não que seguiram as séries de saltos em
potencializado. Também se sugere que a profundidade, uma vez que os sujeitos eram
ampliação da força muscular produzida nesse submetidos a um teste de potência no
evento deva-se a uma maior duração da movimento de extensão dos joelhos em
interação actina-miosina no mecanismo das intervalos de 5 minutos, após um determinado
pontes cruzadas. Segundo Hamada et al. (6), o número de saltos em profundidade (SP).
efeito de potencialização manifesta-se em maior Segundo o autor, esse efeito atingia seu
magnitude nos músculos onde predominam as ápice por volta do décimo minuto e passava a
fibras do tipo II. Isso porque as fibras tipo II diminuir de intensidade a partir de então, porém,
sofrem maior fosforilação da miosina sendo ainda notado após 30 minutos da
regulatória de cadeia leve que as fibras tipo I realização das séries de SP. Embora haja
(17). Conseqüentemente, músculos com alto sugestões de que a atividade ideal para o
percentual de fibras tipo II exibem maior desencadeamento da PPA deve prever
possibilidade de potencialização. O efeito de intensidade próxima à máxima e duração de
potencialização aumenta a taxa de alguns segundos (como ocorre nos protocolos
desenvolvimento de força. A taxa de que se valem de CVIM (4)), o fenômeno
desenvolvimento de força corresponde ao descrito por Verkhoshanski (22) caracteriza-se
percentual da força máxima que pode semelhante ao efeito atingido por tais cargas e,
ser gerado em um intervalo de tempo muito portanto, supõe que ações musculares
breve (19) e que determina o desempenho de envolvendo o ciclo alongamento-encurtamento
habilidades atléticas como saltos, chutes, (como os SP) possam ser utilizadas com o
arremessos e lançamentos. Assim, o mesmo propósito. A possibilidade de utilizar
desempenho dessas habilidades pode ser ações do CAE como atividade estimuladora da
aprimorado se os músculos que as executam potencialização surge como uma alternativa
estiverem em estado de potencialização. A muito interessante, uma vez que os exercícios
manifestação desse efeito tem início do dessa natureza podem ser realizados de forma
terceiro ao quinto minuto após a realização da simples com Figura 1 – Um exemplo de Potencialização
atividade estimuladora voluntária (1, 4, 23), Pós-ativação (PPA). Primeiro, uma contração é provocada
em um músculo que estava em repouso por algum tempo (i).
conservando-se em média por 10 minutos (4, Então uma contração condicionante, como uma contração
20), mas pode perdurar por até 20 minutos (4, tetânica provocada eletricamente ou uma CVM é realizada
22). Essa característica duradoura da (ii). Uma contração provocada logo após a contração
potencialização pode permitir seu condicionante mostra o aumento na força e a redução de seu
tempo de duração, fenômeno típico da PPA (iii).
aproveitamento vantajoso por atletas
participantes de provas de potência, material de fácil transporte (caixas de madeira
desde que executem algumas séries de sobrepostas, cones e cordas elásticas), o que
exercícios de força no aquecimento que torna viável sua utilização em qualquer
antecede a sessão de treinamento ou ambiente esportivo, ao contrário dos exercícios
a competição (4, 20, 23). A estratégia de força isométrica ou dinâmica submáxima que
metodológica utilizada para se explorar dependem de equipamentos mais sofisticados.
o desencadeamento da potencialização envolve, Contudo, além da praticidade, um critério
em geral, a realização de contrações essencial que deve ser considerado na escolha
voluntárias isométricas máximas (CVIMs) com da atividade estimuladora é a magnitude da
duração entre 5 e 10 segundos (4, 10, potencialização que diferentes ações musculares
20), ou ainda exercícios de força podem produzir. Até o momento, um único
dinâmica submáxima com cargas que permitam estudo relata a ocorrência da potencialização da
em torno de 5 repetições máximas (5RM) força rápida desencadeada por ações
(1, 23). Há, no entanto, indícios de que ações envolvendo o CAE (22). Entretanto, o referido
musculares que envolvam o ciclo estudo não tinha como objetivo investigar a
alongamentoencurtamento (CAE) sejam ocorrência desse fenômeno. Também não
igualmente capazes de desencadear o efeito de existem relatos de trabalhos que tenham
potencialização da força rápida muscular. Isto comparado a eficiência de diferentes tipos de
ficou indicado num estudo realizado por ações musculares em desencadear o efeito de
Verkhoshanski (22), em que o objetivo principal potencialização. Dessa forma, este estudo teve
era investigar o número necessário de séries como objetivo investigar se ações motoras
envolvendo o CAE eram capazes de contração (4). As CVIMs foram executadas no
desencadear o efeito de potencialização da força aparelho leg press inclinado (45º) NAKAGYM
rápida muscular e se essas ações eram tão modelo NK 5070 o qual teve sua plataforma
eficientes em desencadear a potencialização totalmente estabilizada a fim de evitar qualquer
como as contrações voluntárias isométricas movimento. No momento das contrações
máximas. os sujeitos foram posicionados no aparelho de
forma que os ângulos das articulações do
quadril e joelhos estivessem a aproximadamente
Metodologia 95º e 120º, respectivamente. Todos foram
Amostra orientados e incentivados verbalmente a exercer
Participaram voluntariamente do estudo 18 o maior esforço possível. Por sua vez, os
sujeitos fisicamente ativos, do sexo masculino, sujeitos do grupo CON tinham seu desempenho
com idade média de 23,2 ± 3,5 anos, peso no salto vertical avaliado após realizarem o
aquecimento padrão, mas não executavam
corporal de 74,8 ± 9,8 Kg e estatura de
nenhuma atividade até que fossem reavaliados.
179,5 ± 9,2 cm. Todos relataram não haver A reavaliação do salto nos três grupos ocorria
sofrido qualquer tipo de lesão neuromuscular após intervalos de 5 (sessão 1), 10 (sessão 2) ou
nos 12 meses que antecederam o estudo. 15 minutos (sessão 3). A ordem das sessões de
Também relataram a não participação em reavaliação foi determinada aleatoriamente por
atividades que envolvessem treinamento de sorteio e realizadas em dias diferentes (intervalo
força nos seis meses anteriores a data de início de 48 a 72 horas entre as sessões).
do estudo. Os sujeitos foram divididos
aleatoriamente, por meio de sorteio, em três Avaliações
grupos, os quais foram denotados: Grupo Salto Antes e após a realização do tratamento
em Profundidade (SP,n=6); Grupo Isometria experimental, os sujeitos tinham seu
Máxima (IM,n=6) e Grupo Controle desempenho no salto vertical com contra-
(CON,n=6). Antes de iniciar o estudo os movimento (sem auxílio dos braços) avaliado
sujeitos foram informados e assinaram um no aparelho ERGOJUMP de Bosco. Esse
termo de consentimento no qual afirmavam aparelho avalia a altura do salto vertical por
estar cientes dos possíveis benefícios e riscos meio da medição do tempo de vôo e estimativa
que o experimento oferecia. da velocidade de decolagem (9). Foram
realizadas três tentativas individuais, sendo
Procedimentos considerado o melhor desempenho dentre essas.
O estudo obedeceu à seguinte seqüência O intervalo entre cada tentativa foi de
metodológica: aproximadamente 15 segundos, tempo
Aquecimento → avaliação do salto vertical → suficiente para que o avaliado voltasse à posição
intervalo (5 minutos) → tratamento de início e se preparasse para a próxima
tentativa. As avaliações pré-tratamento eram
experimental → intervalo de 5, 10 ou 15 realizadas imediatamente após o aquecimento.
minutos (em diferentes sessões) → As avaliações póstratamento ocorriam 5
reavaliação do salto vertical. minutos após o tratamento quando era realizada
a sessão 1, 10 minutos após o tratamento
Aquecimento quando realizada a sessão 2 e 15 minutos após o
A sessão de aquecimento foi composta de 5 tratamento quando realizada a sessão 3. A
minutos de corrida leve (8 km/h) em esteira ordem de realização das sessões foi determinada
ergométrica, seguida de exercícios de aleatoriamente, por meio de sorteio. O salto
flexibilidade para a musculatura dos membros vertical (SV) foi utilizado em razão de esse
inferiores. Foram sugeridos alguns exercícios movimento constituir-se num ótimo
básicos de flexibilidade, porém os sujeitos representante da força rápida dos membros
podiam acrescentar aqueles que fossem de sua inferiores (5). Por meio da comparação
preferência. entre os desempenhos pré e pós-tratamento
Tratamento experimental experimental nesse movimento, procurou-se
Grupo SP: Os sujeitos que faziam parte deste observar a ocorrência do efeito da PPA descrito
grupo efetuaram 4 séries de 5 saltos em na literatura (1, 4, 22). A divisão dos sujeitos
profundidade de uma altura aproximada de 40 em grupos que realizavam tarefas motoras
cm (9). Eram observados intervalos de 15 distintas (SP ou CVIM) teve como propósito
segundos entre cada salto (14) e de 3 minutos comparar a influência de cada uma dessas
entre cada série de saltos. Grupo IM: Este grupo tarefas sobre o desencadeamento da PPA, o que
realizou 3 CVIMs de 5 segundos de duração, poderia ser observado mediante a confrontação
com intervalos de 3 minutos entre cada
dos grupos no desempenho no salto vertical com et al. (7) e Hughes et al. (8) também
contra-movimento. demonstraram que o desempenho da força
Tratamento estatístico rápida muscular pode ser ampliado se precedido
Foram obtidos médias e desvios-padrão, dos por CVIMs. Nesses estudos, no entanto, o efeito
desempenhos no SV, nas diferentes condições de potencialização se manifestou após somente
dentro de cada grupo. Análise de variância para uma CVIM de 10 segundos de duração. Por
medidas repetidas foi empregada para outro lado, não existem relatos na literatura de
identificar a presença de diferença entre os experimentos que tenham investigado o uso de
resultados obtidos pelos três grupos seguida do saltos em profundidade como ações
teste de post hoc de Scheffé. O nível de condicionantes para evocar a PPA. Num único
significância estabelecido foi de p< 0,05. Para estudo realizado com o propósito de conhecer o
todo o tratamento estatístico foi utilizado o volume ideal de séries de saltos em
software NCSS 2000. profundidade para o desenvolvimento da força
rápida de membros inferiores, Verkhoshanski
Resultados (22) observou que a força rápida apresentava
Os resultados obtidos para os diferentes grupos aprimoramentos significativos no desempenho,
podem ser observados na Tabela 1. Para o grupo após a realização de 1 a 5 séries de SP, o que
SP, na média das três sessões, o desempenho no sugere uma possível manifestação da PPA
salto vertical sofreu uma depressão de 1,6 cm, provocada por ações motoras que envolvem o
caindo de 41,2 ± 2,6 cm pré-tratamento para ciclo alongamento-encurtamento. Em um
39,6 ± 2,6 cm após o tratamento. O grupo IM outro estudo, os sujeitos realizaram séries de 8
também teve queda no desempenho do salto extensões dinâmicas do joelho, com cargas de
vertical após as CVIMs. Em média, o 20%, 40%, e 60% de uma contração voluntária
desempenho no salto vertical piorou 1,4 cm, máxima, o pico de velocidade cresceu de
quando realizado após 3 CVIMs de 5 segundos repetição para repetição, demonstrando que
de duração, caindo de 41,6 ± 4,6 cm pré- ações musculares dinâmicas consecutivas são
tratamento para 40,2 ± 4,5 cm após o capazes de se autopotencializar (8). Assim,
tratamento. O grupo CON diminuiu seu poderia ser esperado que a execução de
desempenho no salto vertical em 1,0 cm, caindo repetições consecutivas de SP utilizada neste
estudo fosse capaz de provocar o mesmo efeito,
de 40,8 ± 4,6 cm pré-tratamento para 39,8 ± 4,6
ou seja, se autopotencializar e, por
cm após o tratamento. Embora esses dados conseqüência, ampliar o desempenho
sugiram que o desempenho no salto vertical subseqüente dos saltos verticais realizados, o
sofreu uma importante depressão nas diferentes que não se confirmou na análise dos dados
condições experimentais, a ANOVA demonstrou coletados. Embora não tenha sido encontrada
não haver diferenças significativas entre os diferença estatisticamente significativa,
grupos nas condições pré e pós-tratamento. observou-se uma queda média (entre as sessões
Discussão e conclusão 1, 2 e 3) de 1,6 cm no desempenho do salto
A análise dos dados revelou que o desempenho vertical após 5 x 4 SP e de 1,4 cm após 3
no salto vertical não sofreu alterações CVIMs. Em termos individuais, a queda mais
significativas após a realização de 4 séries de 5 acentuada foi de 2,9 cm e ocorreu 5 minutos
saltos em profundidade (altura de 40cm) ou de 3 após a condição SP (Tabela 1). Alguns estudos
CVIMs de 5 segundos de duração. Esses relatam uma tendência de depressão dos níveis
resultados sugerem que ações motoras de força rápida, imediatamente após a
envolvendo o ciclo alongamento-encurtamento estimulação, antes que a PPA comece a se
e também, contrações voluntárias isométricas manifestar (4, 17). No entanto, não nos parece
máximas, não são adequadas para desencadear o coerente que o efeito mencionado possa
efeito de potencialização da força rápida justificar a queda de desempenho observada, já
muscular, pelo menos para a amostra estudada. que a duração máxima dessa fase de depressão
Entretanto, estudos anteriores, os quais não vai além dos primeiros 3 minutos após a
utilizaram procedimentos envolvendo CVIMs, estimulação (4). Neste estudo, a queda de
apresentaram resultados conflitantes com os do desempenho era ainda percebida nos intervalos
presente estudo. Por exemplo, Güllich e de 5, 10 ou 15 minutos após a realização dos SP
Schmidtbleicher (4) encontraram que os ou das CVIMs. É importante destacar que os
sujeitos aprimoraram em 3,3% (1,4 cm) seu sujeitos participantes deste estudo possuíam
desempenho no salto vertical, usando protocolo características diferentes daqueles envolvidos
e teste semelhantes aos aplicados neste estudo em estudos em que a PPA manifestou-se após a
(3 CVIMs de 5 segundos e salto vertical com execução de CVIMs e ações do CAE. Enquanto
contra-movimento, respectivamente). Hamada estudantes de Educação Física, fisicamente
ativos, sem experiência em treinamento esforços sucessivos. Conforme esses autores, a
sistematizado e não envolvidos em treinamento interação entre PPA e fadiga, pode influenciar a
de força, por pelo menos 6 meses, compuseram manifestação de força de diferentes maneiras,
a amostra investigada, os outros estudos ou seja, não causando qualquer alteração de
mencionados testaram atletas de modalidades desempenho, aprimorando ou deprimindo-o em
esportivas de força e velocidade, Tabela 1 - relação a valores iniciais. Em razão disso, os
Desempenho médio no salto vertical (± desvio-padrão) nos autores sugerem que se tenha cuidado ao
três grupos nas diferentes condições experimentais.
SP = saltos em profundidade; IM = isometria máxima; CON =
analisar a produção de força após a aplicação de
controle; Pré = antes do tratamento; Pós = após o tratamento; dif. = estimulações musculares sucessivas. Os relatos
diferença entre Pré e Pós. Valores são expressos em centímetros. mencionados sugerem que o estado de
R. Bras. Ci. e Mov. Brasília v. 11 n. 2 p. 07-12 junho 2003
treinamento dos sujeitos pode ter influenciado a
11 com larga experiência em treinamento de
não manifestação de qualquer alteração positiva
força (4, 22). É conhecido que atletas de
no desempenho do salto vertical após a
modalidades de força e velocidade, possuem
estimulação muscular. Supõe-se que por não
predominantemente fibras musculares de
terem experiência em treinamento, os sujeitos
contração rápida (15), o que lhes confere uma
não estavam adaptados adequadamente para
préqualificação importante para o
desencadear a PPA e encontravam-se mais
desencadeamento da PPA, já que essas fibras
suscetíveis aos efeitos da fadiga, comparados
são mais facilmente potencializadas (4, 6, 7).
aos sujeitos atletas envolvidos nos estudos de
Além disso, o treinamento de força sistemático
Güllich e Schmidtbleicher (4), Hamada et al. (7)
amplia a capacidade de recrutamento de
e Verkhoshanski (22). Assim, considerando as
unidades motoras e a freqüência de disparo dos
características da amostra, ficou evidenciado
impulsos neurais dirigidos ao músculo treinado
que ações motoras envolvendo o CAE, bem
(16, 23, 24). As unidades motoras
como contrações voluntárias isométricas
adicionalmente ativadas nesse processo de
máximas não foram capazes de desencadear o
adaptação são de alto limiar de excitação
efeito de potencialização da força rápida.
(contração rápida) e pertencentes à reserva de
Recomenda-se a realização de estudos
proteção autônoma (4, 24). Assim, pode-se
adicionais, em que sejam testados protocolos
concluir que adaptação ao treinamento de força
semelhantes aos utilizados neste estudo, porém
possibilita a inclusão ao trabalho muscular de
com uma amostra composta por indivíduos
unidades motoras, que normalmente
experientes em treinamento de força.
permaneceriam inativas. Conforme Güllich e
Schmidtbleicher (4), a possibilidade de ativação
de uma alta proporção de unidades motoras de
contração rápida é fundamental para o Referências Bibliográficas
desencadeamento da PPA, pelos motivos 1. EVANS, A. K. et al. Acute Effect of Bench
previamente mencionados. No entanto, não Press on Power Output During a Subsequent
podemos deixar de mencionar que Hamada et Ballistic Bench Throw. Medicine and Science
al. (7) evocaram a PPA com CVIMs de 10 in Sports and Exercise (supplement). 2001; 33
segundos de duração em triatletas, corredores de (5): S325.
longa distância, indivíduos controle ativos e 2. GOSSEN, E. R. e SALE, D. G. Effect of
indivíduos controle sedentários. Nesse estudo, Postactivation Potentiation on Dynamic Knee
as manifestações da PPA foram restritas aos Extension Performance. European Journal of
grupos de músculos que eram exercitados Applied Physiology. 2000; 83 (6): 524-530.
habitualmente pelos sujeitos, independente do 3. GRANGE, R. W. et al. Potentiation of in
tipo de atividade que praticavam. Os autores Vitro Concentric Work in Mouse Fast Muscle.
concluíram que a PPA é mais dependente das Journal of Applied Physiology. 1998; 1: 236-
adaptações ao treinamento do que de fatores 243.
genéticos. Os relatos de Hamada et al. (7) e 4. GÜLLICH, A. e SCHMIDTBLEICHER, D.
Güllich e Schmidtbleicher (4) nos sugerem que MVC-induced Short-term Potentiation of
a falta de experiência em treinamento dos Explosive Force. New Studies in Athletics.
indivíduos deste estudo, é uma possível 1996; 4: 67-81.
explicação para a não manifestação da PPA por 5. HAKKINEN, K. e KOMI, P. V. Effect of
meio dos saltos verticais. Outro fator que pode Explosive Type Strength Training on
ter interferido na manifestação da PPA, é a lectromyographic and Force Production
fadiga causada pelos exercícios utilizados no Characteristics of Leg Extensor Muscles
protocolo. Segundo Rassier e MacIntosh (13) During Concentric and Various Stretch-
embora possuam efeitos que se opõem, fadiga e shortening
potencialização podem coexistir, especialmente Cycle Exercises. Scandinavian Journal of
quando a estimulação muscular acontece em Sports Sciences. 1985; 7: 65-76.
6. HAMADA, T. et al. Postactivation Journal of Physiological Biochemistry. 1998;
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Performance. Microform Publications, desportivo; adaptação científica: Antônio
University of Oregon, Eugene, Or, 1998, Carlos Gomes. 1. ed. Rio de Janeiro, Grupo
1 microfiche (71 fr.): negative; 11x 15 cm. Palestra Sport, 1992, p.119.
15. RICOY, J. R. et al. Histochemical study of
the vastus lateralis muscle fibre type of athletes.

ARTIGO DE REVISÃO
Uma etapa limitante para a oxidação de
ácidos graxos durante o exercício aeróbio: o
ciclo de Krebs
A limiting step for fatty acids oxidation during aerobic
exercise: the krebs cycle
Rui Curi1
Cláudia J. Lagranha1
Sandro Massao Hirabara1
Alessandra Folador1
Osvaldo Tchaikovski Jr.2
Luiz Claudio Fernandes2
Ídico L. Pellegrinotti3
Tania Cristina Pithon-Curi3,4
Joaquim Procopio1.

1 Laboratório de Fisiologia Celular, Departamento de Fisiologia


e Biofísica, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de
São Paulo.
2 Laboratório de Metabolismo Celular, Departamento de
Fisiologia, Setor de Ciências Biológicas, UFPR.
3 Universidade Metodista de Piracicaba, Facef, Piracicaba, São
Paulo, SP.
4 Unicastelo, São Paulo, SP.
Resumo
Os ácidos graxos (AG) representam uma fonte importante de energia durante exercícios
de intensidade leve, moderada e, principalmente, naqueles de duração prolongada. A
utilização dos AG pelos músculos esqueléticos depende de passos importantes como a
mobilização, transporte via corrente sangüínea, passagem pelas membranas plasmática
e mitocondrial, β -oxidação e, finalmente, a oxidação no ciclo de Krebs (CK) e
atividade da cadeia respiratória. O treinamento ao exercício aeróbio induz a adaptações
que
possibilitam maior aproveitamento dos AG como fonte de energia, ao mesmo tempo
que o glicogênio muscular é preservado. Propomos a idéia de que o CK é uma etapa
limitante para a utilização de AG pelo músculo esquelético. No tecido muscular, este
ciclo apresenta perda contínua de carbonos com a formação de glutamina e citrato.
Desta maneira, um passo chave para a manutenção do fluxo de metabólitos pelo CK é a
formação de oxalacetato a partir do piruvato pela piruvato carboxilase. Quando o
glicogênio muscular está depletado, o que ocorre após período prolongado de esforço
físico, forma-se pouco piruvato. Assim, o aumento no suplemento de AG para o
músculo esquelético pelo uso de drogas lipolíticas ou dietas não resulta necessariamente
em aumento na oxidação de AG e produção de ATP.

PALAVRAS-CHAVE :
exercício, oxidação de ácidos graxos, agentes lipolíticos, ciclo de Krebs, glicogênio.

Abstract
Fatty acids (FA) represent an important source of energy during exercises of light and
moderate intensity, and mainly in those of a prolonged duration. The utilization of FA
by skeletal muscles depends on important steps such as mobilization, transport through
bloodstream, passage through plasma and mitochondrial membranes, β -oxidation,
and finally oxidation in the Krebs’ cycle (KC) and respiratory chain activity. Aerobic
exercise training induces adaptations which make possible a higher improvement of FA
as a source of energy, while muscle glycogen is preserved. The authors postulate that
the KC is a limiting step for the utilization of FA by the skeletal muscle. In the muscular
tissue, this cycle presents continuous loss of carbons by generation of glutamine and
citrate. Thus, oxalacetate formation from pyruvate through pyruvate carboxylase is a
key step to keep the flux of metabolites through the KC. Pyruvate formation is low
when muscle glycogen is depleted, which occurs after a prolonged period of physical
strain. Therefore, the increased supply of FA for skeletal muscles by the use of lipolytic
drugs and diets does not necessarily result in the increase of fatty oxidation and ATP
production.

KEYWORDS:
exercise, fatty acids oxidation, lipolytic agents, Krebs cycle, and glycogen.

Introdução
O exercício físico demanda intenso consumo de trifosfato de adenosina (ATP) que pode
aumentar em dezenas de vezes dependendo da intensidade e duração do esforço. Nos
músculos esqueléticos, há sistemas muito eficientes que possibilitam a ressíntese
constante do ATP que está sendo utilizado para a contração muscular. Estes sistemas
são os da fosfocreatina, glicólise e o da fosforilação oxidativa. Este último é o mais
complexo e depende da utilização do oxigênio. Tem como característica baixa
produção, porém, capacidade praticamente ilimitada, sendo apto a fornecer energia para
a ressíntese de ATP, principalmente em esforços de longa duração com intensidades
leve ou moderada. Nesta condição, o glicogênio é preservado havendo maior utilização
de ácidos graxos (AG) como substratos energéticos (44). Essa preferência dos músculos
esqueléticos pelos AG é muito importante em exercícios físicos de longa duração, já
que os lipídios armazenados no organismo na forma de triacilglicerol (TG) representam
o principal estoque de energia disponível (28). Por outro lado, o glicogênio,
imprescindível durante o exercício físico, possui um estoque relativamente limitado,
que necessita ser preservado para continuar sendo utilizado concomitantemente aos AG,
porém, em menor proporção, até o final do esforço. As reservas de TG estão estocadas
principalmente no tecido adiposo (~ 17 500 mmol em um homem adulto, magro),
músculo esquelético (~ 300 mmol) e plasma (~ 0,5 mmol). O total de energia estocado
na forma de TG é cerca de 60 vezes maior que aquele como glicogênio. Desta forma,
a oxidação dos AG durante o exercício possibilita manter a atividade física por períodos
mais prolongados e retarda a depleção do glicogênio e a hipoglicemia
Nos exercícios físicos de longa duração, é imprescindível que a utilização do estoque
abundante de TG/ AG seja a maior possível para que a quebra do glicogênio muscular e
a oxidação de glicose circulante sejam mínimas. A hipótese que parece melhor explicar
esse “desvio” do metabolismo dos carboidratos para os lipídios é o ciclo de Randle (29).
Com o aumento da disponibilidade de AG, há maior oxidação deste, diminuindo
paralelamente à degradação de glicogênio e à utilização de glicose. Os AG
desempenham, assim, papel crítico na manutenção da atividade física e, por isso, uma
etapa limitante desta atividade é a lipólise. O estoque de glicogênio muscular é
suficiente para pouco mais de uma hora de esforço de intensidade moderada, fazendo
com que os músculos dependam também da captação de glicose circulante para manter
a contração. Por sua vez, a manutenção da glicemia é fundamental, principalmente para
preservar a função cerebral, durante exercícios prolongados no qual se observa
diminuição da glicemia para até 40-50 mg.dL-1, levando o indivíduo à exaustão (21).
Por isso, ajustes ocorrem com o treinamento para aumentar a eficiência na mobilização
dos AG a partir do tecido adiposo, que é um estoque abundante.

Os depósitos energéticos do organismo


Os lipídios armazenados representam a fonte corpórea mais abundante de energia
potencial. Em relação aos outros nutrientes, a quantidade de lipídios disponível para a
produção de energia é quase ilimitada. Por exemplo, no homem, uma massa aproximada
de 9.000 g de lipídios é suficiente para fornecer 81.000 Kcal. Este estoque permitiria
a um homem adulto andar 259 horas ou correr durante 67 horas. Por outro lado, o
estoque de glicogênio muscular (350 g) fornece 1.400 Kcal, o que permitiria caminhar
por apenas 4,8 horas ou correr durante 1,2 horas (28). Portanto, os AG, estocados na
forma de TG, representam a principal reserva energética disponível no homem. O
armazenamento de TG é praticamente ilimitado, já que a esterificação dos AG com o
glicerol não depende de água, diferentemente do glicogênio que é estocado com 3 g de
água para cada grama do polímero. Outra vantagem dos AG é sua eficiência energética
(9 Kcal.g-1), mais que 2 vezes a do glicogênio/glicose (4 Kcal.g-1) (4). Pelos motivos
acima e de acordo com a lei da conservação de energia, todo excesso de energia
proveniente da alimentação, incluindo gorduras, carboidratos e proteínas, é armazenado
na forma de TG.
Mobilização e captação dos ácidos graxos nos músculos
esqueléticos
As fontes de AG para utilização nos músculos esqueléticos são o TG do tecido adiposo,
quilomicrons, lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) circulantes e do próprio
tecido muscular que pode atingir uma quantidade de cerca de 400 g em indivíduos
treinados (4). Em estudo recente foi demonstrado que os leucócitos circulantes
constituem fonte adicional de AG para o músculo esquelético (8). A atividade lipolítica
do tecido adiposo aumenta com o exercício (49), em particular no treinamento aeróbio,
que resulta em um aumento significativo no número e na atividade das mitocôndrias,
além de um aumento na oxidação de AG livres (AGL). Contudo, alguns estudos
sugerem que nem sempre é válida a noção vigente de que o treinamento aumenta a
eficiência de utilização dos AG durante o exercício (22). Turcotte et al. (42) mostraram
que a captação de AGL do plasma, após 3 horas de exercício, é significativamente
maior em homens treinados do que em não treinados. Esses dados são sugestivos de que
a captação de AGL pelo músculo esquelético é mediada por um transportador saturável
e que o treinamento aumenta a capacidade máxima para o transporte de AGL no
músculo esquelético, possivelmente por elevar o conteúdo de carreadores de AG na
membrana da célula muscular. Ainda não está bem estabelecida qual é a principal
fonte de AG para oxidação nos músculos esqueléticos. Alguns autores sugerem que o
treinamento aumenta a atividade de degradação do TG intramuscular (TGIM) em
relação ao estocado no tecido adiposo (4). Foi observado que o conteúdo de TGIM
aumenta com o treinamento (4) e pode diminuir de 25% a 50% durante o exercício
prolongado de intensidade de 55% a 75% do VO2 máx. (32). Uma vantagem
significativa da utilização do TGIM é que as etapas de transporte dos AG no plasma e
sua passagem pela membrana da célula muscular não são necessárias e, portanto, a sua
oxidação é mais rapidamente disparada. Em relação aos AG provenientes do tecido
adiposo, o primeiro passo para sua utilização é a mobilização, ou seja, a hidrólise do
TG. O metabolismo do adipócito é controlado por hormônios e pelo sistema nervoso.
De um lado, a insulina inibe a lipólise e estimula o processo de lipogênese e
esterificação (6). Por outro, a mobilização dos AG é estimulada pela ação da adrenalina,
noradrenalina, cortisol e hormônio do crescimento (GH). Em adipócitos de ratos, as
catecolaminas, glucagon, GH e os hormônios adrenocorticotrópicos aumentam a lipólise
(4). Já em adipócitos isolados de humanos, apenas as catecolaminas, hormônio
estimulador da tireóide e paratormônio têm mostrado efeito lipolítico consistente (5).
Entretanto, em condições fisiológicas, somente as catecolaminas podem estimular a
lipólise no homem. Estas apresentam efeitos inibitórios por meio de receptores α 2-
adrenérgicos e estimulatórios via receptores β 1-adrenérgicos, por alterações
correspondentes na atividade da adenilato ciclase e na produção intracelular de AMPc
(10). O exercício agudo promove liberação intensa dos hormônios lipolíticos e aumenta
a responsividade dos receptores β -adrenérgicos dos adipócitos às catecolaminas (43).
Como conseqüência, há aumento na mobilização e concentração plasmática de AG, que
é o passo determinante para sua oxidação nos músculos esqueléticos (29). Stich et
al. (41) demonstraram que trabalhos aeróbios intermitentes (como por exemplo, 50% do
VO2máx. durante 60 min., com período de repouso semelhante entre uma sessão e
outra) são mais eficientes na mobilização dos AG do que apenas uma sessão de esforço
físico. No caso do treinamento é observado um aumento na concentração plasmática de
AG, porém, a oxidação desses nos músculos esqueléticos depende da intensidade
relativa do esforço (11). Romijn et al. (33) estudaram a mobilização e utilização de
carboidratos e lipídios durante exercícios de diferentes intensidades (25%, 65% e 85%
do VO2 máx.) em homens treinados. Como esperado, a captação de glicose pelos
músculos e a glicogenólise intramuscular aumentaram proporcionalmente com a
intensidade do esforço. A lipólise e a conseqüente liberação de AG para a circulação
foram mais elevadas durante o exercício de menor intensidade. Por outro lado, a lipólise
do TGIM foi elevada com o aumento da intensidade do exercício. Resultados
emelhantes foram encontrados, mais recentemente, no estudo dos mesmos
parâmetros em mulheres treinadas (34).

Metabolismo dos triacilgliceróis intramusculares


Durante os primeiros 90 min. de exercício, a taxa lipolítica é aproximadamente duas
vezes maior que a oxidação dos AG. No entanto, a entrada de AG no plasma é similar à
taxa de oxidação no mesmo período. Alguns pesquisadores sugerem que outra fonte de
lipídios, além dos AG provenientes do tecido adiposo, provavelmente plasmático ou
TGIM é também oxidada pelo músculo (26,31). Postula-se que a reserva mais
mportante de AGL não plasmáticos disponível para a oxidação durante exercício
moderado e prolongado é o TGIM (1). Esses são encontrados em concentrações
diferentes conforme o tipo de fibra muscular, sendo armazenados em maior quantidade
nas fibras musculares de contração lenta do que em fibras musculares de contração
rápida (1). Além disso, o treinamento, por si só, faz com que a deposição de TG seja
diferente entre os tipos de fibra muscular (1). Conforme Cleroux et al. (7), a utilização
de β - bloqueador não seletivo resulta em inibição total da utilização de TG no músculo
vasto lateral de humanos submetidos a trabalho no ciclo ergômetro. Conforme
Stankiewicz-Choroszycha e Gorski (40), a utilização de β - bloqueador seletivo previne
a diminuição na concentração de TG no músculo esquelético de ratos durante o xercício,
enfatizando a importância da estimulação adrenérgica na regulação da hidrólise do
TGIM. O efeito da adrenalina ocorre sobre as enzimas que atuam na hidrólise dos TG.
Oscai et al. (30) propuseram que uma isoforma intracelular da lipoproteína lipase (LPL)
atua como lipase de TG em músculo esquelético e coração. Evidências desta hipótese
estão no fato de que a atividade da LPL intracelular está aumentada em músculo
esquelético de ratos em exercício e que este incremento depende da intensidade do
esforço (30). Outros investigadores propõem que uma lípase sensível a hormônios,
semelhante à lipase sensível a hormônios (LHS) do tecido adiposo, pode regular a
hidrólise intramuscular de TG (39). Esta proposição foi confirmada com a produção de
anticorpos contra LHS purificada de tecido adiposo de ratos. Holm et al. (20) nstataram
através de immunoblotting a presença de uma proteína com peso molecular similar a
LHS do tecido adiposo em extrato de músculo esquelético de ratos. Recentemente, Guo
et al. (17) avaliaram, no músculo vasto lateral de 12 adultos, a cinética de TGIM e de
AGL durante o exercício moderado (45% do VO2máx). Nesse estudo, não foi bservada
diminuição significativa no conteúdo de TGIM em resposta ao exercício. Os autores
sugerem que durante o exercício de duração e intensidade moderada, o TGIM é
imultaneamente hidrolisado e reesterificado. Assim, a concentração deste é mantida
praticamente constante. A razão para as divergências quanto à importância
dos TGIM durante o exercício ainda não está clara. Tais divergências talvez reflitam
variações decorrentes de protocolos e variabilidade nas técnicas para determinar a
concentração do TGIM (45).

Transferência de ácidos graxos de leucócitos para o


músculo esquelético
Evidências vêm sendo acumuladas pelo nosso grupo em relação ao processo de
ransferência de AG entre leucócitos. Por esta razão, investigamos se estes também
transferem AG para a musculatura esquelética (8). Para tal utilizamos ratos machos
Wistar dos quais os linfócitos dos linfonodos mesentéricos foram retirados post-mortem.
Estes foram cultivados em meio Eagle durante 6 h. na presença do ácido [14C]- lmítico.
De um outro grupo de ratos, o músculo sóleo foi retirado e incubado por 3 h. em tampão
bicarbonato de Krebs-Ringer contendo 5,6 mM de glicose e BSA a 1%, na presença dos
linfócitos pré-tratados com o ácido [14C]-palmítico. Após a incubação, avaliamos a
uantidade de AG exportada dos linfócitos e incorporada no músculo esquelético e a sua
distribuição nas diferentes frações lipídicas, conforme avaliado por cromatografia de
camada delgada. A transferência de [14C]-palmítico do linfócito para o músculo
esquelético foi de 18%. A maior parte deste foi incorporada em fosfolipídios (70%) e
TG (9%). Esses resultados são sugestivos de que os leucócitos constituem uma fonte
adicional de AG para a musculatura esquelética e que esta transferência pode ser mais
relevante em situações de exercício físico, quando a demanda de AG para este tecido
aumenta significativamente e o fluxo sangüíneo é substancialmente elevado. Assim, de
acordo com o estudo citado (Figura 1), há uma fonte adicional de AG para o músculo
esquelético: os leucócitos (8).

As fontes de ácidos graxos para o músculo esquelético


Conforme apresentado anteriormente, os AG oxidados pelo músculo esquelético podem
ser provenientes do tecido adiposo, das lipoproteínas plasmáticas ou da própria reserva
muscular. Contudo, em estudo recente de nosso grupo (8), ficou evidenciado que ocorre
transferência significativa de AG de leucócitos para o músculo esquelético. Assim, estas
células podem constituir uma fonte adicional de AG para este tecido, principalmente em
situações de exercício físico, quando a demanda por este substrato energético aumenta e
há maior disponibilidade de leucócitos devido ao aumento do fluxo sangüíneo no
músculo esquelético (Figura 1). Oxidação dos ácidos graxos nos músculos
esqueléticos
No sarcoplasma, os AG precisam atravessar mais uma barreira, representada pelas
membranas externa e interna da mitocôndria, a fim de serem oxidados. Ainda no
citossol, os AG são ativados (Figura 2), recebendo uma coenzima A (CoA) e tornando-
se acil-CoA em uma reação catalisada pela acil-CoA sintetase (16). O acil-CoA travessa
as membranas mitocondriais por meio de um processo dependente de carnitina e das
enzimas carnitina acil transferase-I (CAT-I), localizada na membrana externa, carnitina
acil transferase-II (CAT-II), localizada na membrana interna e carnitina-acilcarnitina
translocase (50), que atua entre as duas. As duas primeiras enzimas são também
denominadas carnitina palmitoil transferase-I e II (CPT-I e II), devido ao fato do ácido
palmítico ser o principal ácido graxo metabolizado nos músculos esqueléticos (47). Os
passos para a entrada do acil-CoA na mitocôndria são os seguintes: a CAT-I promove a
ligação do acil com a carnitina, formando acil-carnitina, ao mesmo tempo que a CoA é
liberada (Figura 2). Por meio da ação da carnitina-acilcarnitina translocase o complexo
acil-carnitina atravessa a membrana externa, o espaço intermembranas e a membrana
interna, em que a CAT-II rompe o complexo acil-carnitina, liberando a carnitina e
restabelecendo a ligação acil-CoA (48). O passo seguinte é a entrada da molécula de
acil- CoA no processo de β -oxidação que consiste na remoção sucessiva de pares de
carbonos e formação de um certo número de moléculas de acetil-CoA proporcional ao
de carbonos do ácido graxo original. Durante a β -oxidação são liberados íons H+ e
elétrons, reduzindo as flavoproteínas NAD+ e FAD em NADH + H+ e FADH2, para
sua posterior Figura 1 - Dendograma de tipologia de agrupamentos entre variáveis.
Figura 2 - Ciclo de Krebs. O piruvato gerado a partir de glicose e glicogênio é
transportado para o interior da mitocôndria. Nesta, o piruvato é convertido em
oxalacetato via piruvato carboxilase e em acetil-CoA via piruvato desidrogenase. O
acetil-CoA é também proveniente da β -oxidação de ácidos graxos. O acetil-CoA e o
oxalacetato geram citrato pela citrato sintetase. O citrato proveniente do ciclo de Krebs
é parcialmente transportado para o citossol. O oxoglutarato é convertido em glutamato e
este em glutamina. Assim, nesses dois mecanismos, há perda contínua de esqueletos de
carbono do ciclo de Krebs. Em conseqüência, a geração de oxalacetato é uma etapa
importante para manter a atividade deste ciclo. CAT = acilcarnitina transferase; CS =
citrato sintetase; HK = hexoquinase; PC = piruvato carboxilase; PDH = piruvato
desidrogenase; TGIM = triacilglicerol intramuscularutilização na cadeia respiratória.
Além disso, o acetil-CoA resultante é metabolizado no ciclo de Krebs, no qual há a
redução de outras flavoproteínas. Como já mencionado, o exercício é uma situação na
qual há aumento significativo da liberação de hormônios que estimulam a lipólise e
aumenta a concentração plasmática de AG. A maior disponibilidade de AG circulantes
aumenta proporcionalmente sua captação e utilização pelos músculos esqueléticos
(19,29). Entretanto, essa relação ocorre apenas quando o esforço é leve ou moderado.
Sabe-se que, acima de 70% (23) e 85% (35) do VO2máx., a mobilização de AG é
diminuída, provavelmente devido ao aumento da concentração plasmática de lactato,
um metabólito anti-lipolítico (4). O exercício físico com intensidade moderada (25% a
65% do VO2max), quando comparado ao repouso, aumenta em cerca de 5 a 10 vezes a
oxidação de AG, devido à alta demanda energética dos músculos ativos e isponibilidade
dos AG provenientes da lipólise do tecido adiposo. Nesta condição, há aumento de 2 a 3
vezes da lipólise (49), mediada pela estimulação â-adrenérgica (2). Além disso, a
porcentagem de liberação dos AG que são reesterificados diminui pela metade (49),
provavelmente devido às alterações do fluxo sangüíneo que facilitam a remoção dos AG
do tecido adiposo para os músculos ativos. O exercício de intensidade moderada dobra
o fluxo sangüíneo no tecido adiposo e causa aumento maior que 10 vezes deste no
músculo esquelético (26). Durante o exercício prolongado com intensidade de 40% do
VO2máx., a oxidação de AG aumenta e permanece elevada durante pelo menos uma
hora no período de recuperação. Em exercícios prolongados com intensidade de 70% do
VO2máx., cerca de 50-60% da necessidade de ATP é suprida pelos carboidratos, com
utilização predominante nos primeiros 30-40 minutos do esforço. O restante do ATP
(40- 50%) é suprido pelos AG que têm sua concentração plasmática e oxidação
muscular aumentadas progressivamente, tornandose o substrato mais utilizado pelos
músculos a partir de 40-50 minutos de esforço até várias horas enquanto este se
prolonga (19). A contribuição dos AG para o metabolismo muscular em exercícios
prolongados de intensidade moderada (75% do VO2 máx.) pode ser confirmada pelo
fato de que a concentração de acil-carnitina aumenta em cerca de três vezes durante o
esforço e se mantém elevada até a exaustão (37). Os tipos de exercícios físicos que se
beneficiam de forma significativa do metabolismo dos AG são aqueles com duração
superior a 30 minutos e que se prolongam por algumas horas. Como já mencionado, a
intensidade é um fator determinante na mobilização e utilização do glicogênio/ glicose e
TG/AG, visto que há uma relação direta entre a intensidade do esforço e a utilização de
glicose como substrato (33). De modo geral, indivíduos bem treinados podem manter
uma intensidade de 80-85% do VO2máx. durante pouco mais de 2 horas, como em uma
corrida de maratona por exemplo, devido ao aumento do estoque de glicogênio nos dias
precedentes à prova e à capacidade elevada de utilização dos AG pelos músculos (19).
Nestes indivíduos, as reservas de TG dos próprios músculos esqueléticos representam
uma fonte importante de AG para a oxidação. Alguns pesquisadores sugerem que o
treinamento não aumenta a oxidação dos AG provenientes do plasma, mas
provavelmente, aumenta do estoque de TGIM.

Suplementação com ácidos graxos e facilitadores de sua


utilização
A manipulação da dieta e suplementação com certos tipos de lipídios ou outros agentes
que estimulam a lipólise e oxidação dos AG vem sendo estudadas como estratégia para
melhorar o desempenho no exercício. Hagerman (19) sugeriu que uma manipulação
dietética no sentido de aumentar o fornecimento de lipídios, pode ser benéfica para
indivíduos treinados, pois aumenta os estoques intramusculares de TG. Dietas ricas em
gorduras apresentam resultados controversos; em alguns casos apontando aumento e em
outros, diminuição do desempenho físico, em comparação com dietas balanceadas ou
ricas em carboidratos (4). Dietas ricas em lipídios aumentam a atividade da LPL, que
catalisa a degradação do TG circulante, aumentando a disponibilidade de AG para os
músculos ativos. No entanto, o exercício agudo por si só estimula a LPL (38). Também
se menciona que há elevada metabolização de TG durante o exercício de intensidade de
60-80% VO2máx. após o consumo de dietas ricas em gordura por apenas alguns dias
(24). Entretanto, este pode simplesmente resultar de um efeito da diminuição na
disponibilidade de carboidratos. Há consenso, contudo, de que o desempenho no
exercício aumenta após consumo de uma dieta rica em lipídios seguida pelo consumo de
uma dieta rica em carboidratos três dias antes do esforço físico. Esta é a dieta de
supercompensação, proposta por Bergström et al. (3) há mais de 30 anos e está mais
diretamente relacionada ao aumento da disponibilidade de glicogênio muscular do que
da utilização dos AG. Portanto, a falta de carbonos devido à depleção de glicogênio é
mais importante como indicador de exaustão que a oferta de AG ao tecido muscular.
No início da década de 1980, Ivy et al. (21) compararam o efeito de 30 g de TG de
cadeia média (TCM) com a mesma quantidade de TG de cadeia longa (TCL), em
humanos, administrados juntamente com carboidratos durante exercício de uma hora a
70% do VO2máx. Verificou-se uma contribuição para o metabolismo energético de
37% dos TCM e 39% dos TCL. Esses valores estão abaixo daqueles da contribuição dos
lipídios durante a realização do exercício em jejum que é de 49%. Nesse caso, a
uplementação com TCM e TCL provavelmente não aumentou a proporção de lipídios
metabolizados, pois os carboidratos inibem o metabolismo lipídico (29,12). O
mecanismo para explicar este efeito está apresentado a seguir. A carnitina, como visto
anteriormente, é um agente importante na oxidação dos AG, atuando no seu transporte
para o interior da mitocôndria. Decombaz et al. (9) estudaram o efeito da suplementação
de L-carnitina (3g.d-1 durante 7 dias) sobre o metabolismo de lipídios durante exercício
a 57% do VO2máx. após a depleção prévia do glicogênio. Em relação ao grupo que
recebeu placebo, não foram observadas diferenças nos parâmetros sangüíneos,
quociente respiratório (indicativo do substrato utilizado), freqüência cardíaca e detecção
de fadiga, levando os autores a concluírem que a suplementação de carnitina não altera
o metabolismo energético, mesmo durante um exercício de intensidade moderada
realizado após a depleção do glicogênio. Em um estudo de Yan et al. (50), foi
demonstrado que o aumento da atividade contrátil dos músculos esqueléticos, seja
causado pelo exercício ou estimulação elétrica crônica, aumenta a expressão do RNAm
da CAT-II. Esses autores postulam que a carnitina é obtida em quantidades suficientes
mesmo em uma dieta não vegetariana (46), tendo também sua síntese e aproveitamento
aumentados, portanto, não sendo necessária sua suplementação na dieta.

Agentes lipolíticos utilizados por atletas


A lipólise é principalmente regulada por catecolaminas, por meio de β -
drenoreceptores, que promovem elevação da concentração intracelular do AMPc
ativando a proteína quinase A (PKA) (39). Desta forma, os principais agentes lipolíticos
são aqueles que atuam na resposta dos β - adrenoreceptores como a cafeína. Essa metil-
xantina, além do
seu efeito estimulante no sistema nervoso central de aumentar a concentração
plasmática de noradrenalina, estimula diretamente o processo lipolítico (5). A cafeína
também inibe a fosfodiesterase, aumentando a meia-vida do AMPc e, como
conseqüência, a atividade da PKA e da LHS. A dose que provoca esses efeitos é de 3-6
mg.Kg-1, enquanto a dose de 8 mg.Kg-1 é considerada dopping. Doses de 10-15
mg.Kg-1, por sua vez, são tóxicas, podendo provocar distúrbios gastrointestinais,
arritmia, ansiedade e alucinações (15). Outras drogas que podem atuar como lipolíticas
são Clembuterol, Fenoterol, Salbutanol, Salmeterol, Isoprenaline, Dobutamina e outras
substâncias que atuam via receptor ?-adrenérgico (14).

Regulação da oxidação de ácidos graxos pelo músculo


esquelético quando há oferta abundante de glicose

A metabolização elevada da glicose pelo músculo esquelético reduz a oxidação de AG.


O efeito da glicose sobre a oxidação de AG ocorre da seguinte maneira: a glicose, ao ser
metabolizada pela via glicolítica, gera piruvato, o qual forma acetil-CoA através da
piruvato desidrogenase. Acetil-CoA condensa-se ao oxalacetato pela citrato sintase,
formando citrato (28). Este é exportado da mitocôndria para o citoplasma e, pela ação
da ATP-citrato liase, gera novamente acetil-CoA, o qual é convertido em malonil-CoA
pela acetil-CoA carboxilase. O citrato também é um ativador importante da acetil-CoA
carboxilase (27). Portanto, este metabólito, além de precursor, também ativa a produção
de malonil-CoA. O malonil-CoA é um potente inibidor da CAT-I (36), induzindo a uma
inibição da oxidação de AG na mitocôndria (27). Os AG que permanecem no
citoplasma na forma de acil-CoA são, desta forma, esterificados em TG, fosfolípidios
ou ésteres de colesterol (27,18). Este mecanismo da interação glicose-AG leva à
redução da oxidação de AG e o seu acúmulo como macromoléculas lipídicas.

Fatores que limitam a atividade do ciclo de Krebs


O ciclo de Krebs apresenta como característica peculiar, a geração de precursores e
produtos com a liberação de CO2. Além disso, o ciclo libera metabólitos como citrato e
glutamina. Há, portanto, uma perda contínua de esqueleto de carbono que precisa ser
reposta. A síntese de oxalacetato é a etapa de inserção de novas moléculas no ciclo.
Durante o exercício, os principais substratos utilizados na reposição dos intermediários
do ciclo de Krebs são o piruvato e aminoácidos como aspartato, asparagina e glutamato
(13). Lancha Jr. et al. (25) verificaram que, durante o exercício físico em ratos, ocorre
ativação da piruvato carboxilase, enzima que converte piruvato em oxalacetato. Este
último metabólito condensa-se ao acetil-CoA e forma citrato, pela ação da citrato
sintase, iniciando o ciclo de Krebs. Desse modo, são duas as principais limitações para
maior utilização de AG no exercício de intensidade moderada e de longa duração:
a disponibilidade de glicogênio para o fornecimento de intermediários do ciclo de Krebs
(13) e a mobilização de AG do tecido adiposo e do músculo esquelético (4).
Considerações finais
Conforme Bergstrom et al. (3), o aumento do conteúdo de glicogênio muscular é um
fator determinante para o desempenho no exercício aeróbio moderado e prolongado. Os
AG atuariam como fonte energética principal e o glicogênio para a manutenção da
atividade do ciclo de Krebs na geração de oxalacetato (Figura 3). Figura 3 - Hipótese
do presente trabalho. Havendo redução do conteúdo de glicogênio e, conseqüentemente,
na produção de piruvato ocorre a queda de oxalacetato. A reação deste com acetil-CoA
para formar citrato fica reduzida independente da oferta de acetil-CoA derivada da
mobilização aumentada de ácidos graxos no tecido adiposo. Assim, mesmo havendo
oferta de ácidos graxos, o músculo esquelético não consegue oxidar o acetil-CoA
gerado na β -oxidação. Como conseqüência ocorre a redução na produção de ATP.
Portanto, a exaustão do ciclo de Krebs seria o fator determinante da exaustão no
exercício físico. CAT = acil-carnitina transferase; CS = citrato sintetase; HK =
hexoquinase; PC = piruvato carboxilase; PDH = piruvato O fornecimento do
oxalacetato seria portanto um fator limitante, já que o acetil-CoA, proveniente de AG,
reage com aquele, para a formação de citrato pela citrato sintase, com posterior
fornecimento de ATP. Assim, ocorrendo redução de oxalacetato, a reação deste com
acetil-CoA para formar citrato é diminuída independentemente da oferta de
acetil-CoA derivada da mobilização aumentada de AG do tecido adiposo (Figura 3).
Haveria então, lipólise, aumento de AG no plasma ou do próprio tecido com aumento
da oferta desses ao músculo. A atividade reduzida do ciclo de Krebs, no entanto, limita
a oxidação de AG por este tecido. A exaustão do ciclo de Krebs se deve à perda de
esqueleto de carbonos. Como conseqüência, há queda do conteúdo de ATP e ocorre
exaustão do indivíduo no esforço físico prolongado. Os autores deste trabalho acreditam
que a capacidade do músculo esquelético para oxidar AG apresenta relação íntima com
a oferta e metabolização de glicose quer seja esta proveniente do plasma ou da
degradação do glicogênio muscular. Assim, a oxidação de AG para ser máxima requer
metabolização de glicose em taxas apropriadas. Situações de oferta muito elevada ou
muito diminuída de glicose levam à redução da oxidação de AG por mecanismos
distintos. Quando a oferta de glicose é elevada, o malonil-CoA gerado inibe a CPT-I.
Por sua vez, na depleção de glicogênio, falta esqueletos de carbono para manter o fluxo
de metabólitos no ciclo de Krebs.

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Agradecimento
Nosso grupo recebe suporte financeiro da FAPESP,
CNPq, CAPES e Pronex.
Aderência e manutenção da prática de
exercícios em academias
Adherence and maintenance into practicing exercises at gym
Alexander Klein Tahara;
Gisele Maria Schwartz;
Karina Acerra Silva

Resumo
TAHARA, A.K.; SCHWARTZ, G. M.; SILVA, K.A. Aderência e manutenção da
prática de exercícios em academias. R. bras. Ci e Mov. 2003; 11(4): 7-12. Esse estudo,
de natureza qualitativa, teve por objetivo analisar os principais fatores da aderência e
manutenção de programas de exercícios físicos regulares, realizados em academias.
Desenvolveu-se em duas etapas, sendo a primeira relativa a uma revisão de literatura e a
segunda referente a uma pesquisa exploratória. A população alvo do estudo foi formada
por uma amostra de cinqüenta alunos freqüentadores de uma academia na cidade de Rio
Claro/SP, com idades variando até 24 anos, de ambos os sexos e com nível de
escolaridade diversificado. Os dados coletados foram analisados descritivamente,
utilizando-se a técnica de Análise de Conteúdo e indicam que a maioria dos sujeitos
questionados tem a preocupação com a questão estética e com a melhoria da
qualidade de vida e possuem um tempo de prática considerável. O tempo disponível foi
o fator mais citado como dificuldade para a manutenção da prática regular e as
influências da família e da mídia são incidentes na efetivação da aderência e
manutenção.

PALAVRAS-CHAVE:
qualidade de vida, atividade física.

Abstract
TAHARA, A.K.; SCHWARTZ, G. M.; SILVA, K.A. Adherence and maintenance into
practicing exercises at gym. R. bras. Ci e Mov. 2003; 11(4): 7-12. This study, of a
qualitative nature, had as objective to analyse the main factors of adherence and
maintenance into regular physical education programs developed at gym. It contains
two phases, the first one related to a literature review and the second one related to an
exploratory research. The population of the study was composed by a sample of fifty
participants of a gym in Rio Claro – SP, of both sexs, with ages varying between twenty
and forty years old and diverse scholar level. Data were descriptively analysed by
Content Analysis Technic and indicate that the most part of the subjects has the
preoccupation with esthetics issues and life quality improvement, and has a
considerable experience in this practice. Available time was the most mentioned
factor as difficulty to maintenance of regular practice, and familiar and media influences
are incident on
adherence and maintenance accomplishment. KEYWORDS: life quality, physical
activity.
___________________________________
Recebido: 15/11/2002
Aceite: 05/03/2003
ARTIGO ORIGINAL
Introdução
A vida moderna tende a ser pouco saudável, uma vez que provoca estresse e estafa,
agravada por uma
alimentação inadequada e pela não regularidade na prática de exercícios físicos. Com
todos esses fatores mencionados, a qualidade de vida da população fica bastante
abalada, tanto em nível físico quanto psicológico. Atualmente, cada vez mais pessoas no
mundo são completamente sedentárias, sendo, justamente, estas as que mais teriam a
ganhar com a prática regular de atividade física, seja como forma de prevenir doenças,
promover saúde ou sentir-se melhor. As academias tornaram-se uma opção para a
população urbana, que adere ao exercício físico, com o intuito de obter melhorias em
seu bem-estar geral,
conforme salienta Saba11 (2001). O surgimento das primeiras academias, de acordo
com Novaes7 (1991), decorreu do fato das próprias terem a finalidade de atender a um
público alvo que buscava aulas de ginástica fora dos clubes. Ainda de acordo com
Novaes7 (1991), o número de academias era pequeno no Rio de Janeiro entre a década
de 1930 e final da década de 1950. Entretanto, as academias proliferaram nas principais
cidades brasileiras na década de 1960, tendo o auge de surgimento no início dos anos
1970.
Mas foi a partir da década de 1970, segundo Marinho e Guglielmo6 (1997), que
aconteceu a expansão das
academias, sendo tal fato considerado como um dos maiores fenômenos sociais
ocorridos recentemente. A crescente aderência às atividades oferecidas nas academias
tem motivos e fatores variados. Alguns autores apresentam suas contribuições no
sentido de identificar a compreensão do termo aderência.
Entende-se como aderência, conforme explicita Barbanti1 (1994), a participação
mantida constante em
programas de exercícios, considerados nas formas individual ou coletiva, previamente
estruturados ou não. A respeito do tema em questão, o estudo realizado por Okuma9
(1994) evidencia que pesquisas e estudos sobre aderência a programas de atividade
física vêm crescendo bastante, aumentando o interesse de pesquisadores das diferentes
áreas de conhecimento. O estudo realizado por Marinho e Guglielmo6 (1997) evidencia
que os indivíduos procuram as academias de ginástica com objetivos diversificados, da
estética corporal à compensação ou correção de problemas físicos. Já em relação aos
adultos aderirem à prática de atividades físicas, os principais fatores são referentes ao
divertimento, a sentir-se bem, ao controle de peso, à melhora da flexibilidade e redução
dos níveis de estresse, de acordo com Biddle2 (1992). De forma semelhante aos demais
autores já citados, Guarnieri5 (1997) enfoca que obter benefícios para a saúde, como
sentir-se bem, controlar o peso, melhorar a aparência e reduzir o estresse, são os
principais fatores que fazem com que determinado indivíduo adira a um programa de
exercícios físicos regulares. As influências sociais da família e amigos são, também, de
extrema importância à manutenção da atividade física, pois esse suporte social incentiva
o praticante a manter o interesse em continuar fisicamente ativo4. A mídia, de certa
forma, vem contribuindo para a superlotação das academias de ginástica, uma vez que
são várias as revistas, jornais e televisão que divulgam corpos perfeitos e modelados, os
típicos “malhados”. Esse fato acaba por contribuir para que haja uma grande procura
pelos centros especializados de treinamento, incluindo aí as academias. A população
está cada vez mais se preocupando com a melhoria da qualidade de vida e essa
conscientização, a respeito da importância do exercício físico, vem proporcionando um
grande aumento de público nas academias de ginástica5.
Segundo Saba11 (2001), a atividade física é benéfica tanto no aspecto biológico, como
também no nível
psicológico. Esse autor aponta melhorias na capacidade cardiorrespiratória, aumento na
expectativa de vida, entre outras, como exemplos de benefícios que a prática do
exercício proporciona às pessoas. No nível psicológico, os aspectos positivos
relacionam-se ao aprimoramento dos níveis de auto-estima, da autoimagem, diminuição
dos níveis de estresse e tantos outros. Os efeitos positivos sobre os aspectos
psicológicos originam-se do prazer obtido na atividade realizada e posterior bem-estar,
os quais resultam da satisfação das necessidades ou do sucesso no desempenho das
habilidades em desafio12. Muitos desses estudos citados são representantes importantes
nessa discussão, no entanto, foram desenvolvidos com populações específicas, como
idosos, ou desportistas, ou em cidades com grande número de habitantes ou mesmo fora
do âmbito nacional, sem que se tenha um enfoque atualizado da população jovem que
freqüenta academias, especialmente em cidades de menor porte, nesse país. Nesse
sentido é que se fundamentou o interesse deste estudo, com o intuito de contribuir para
essas reflexões, ampliando as possibilidades de compreensão do universo focalizado.
Metodologia
Este estudo propõe-se a analisar os principais fatores de aderência e manutenção de
programas de exercícios físicos regulares, realizados em academias. Foi desenvolvido
em duas etapas, sendo a primeira
relativa a uma revisão de literatura sobre os fatores de aderência e manutenção de
atividades físicas regulares, e a segunda, referente a uma pesquisa exploratória, a qual
foi importante para demonstrar essa discussão diretamente na população envolvida. Para
o desenvolvimento dessa fase, utilizou-se como instrumento um questionário aberto,
contendo nove questões, o qual possibilitou recolher dados ou
informações mais ricas e variadas. Além disso, possuía a vantagem do anonimato nas
respostas e informações coletadas3. A população alvo do estudo foi formada por uma
amostra de cinqüenta alunos regularmente matriculados nas diversas atividades
oferecidas em uma academia da cidade de Rio Claro/SP, com idades variando até 24
anos, de ambos os sexos e com nível de escolaridade diversificado.
Os dados foram coletados pelos pesquisadores e analisados descritivamente, utilizando-
se a técnica de
Análise de Conteúdo. Esse tipo de análise, segundo Richardson10 (1989) favorece o
foco apenas nas questões mais relevantes para o estudo, representando um excelente
meio para análise das questões qualitativas.
Resultados e discussão
Na questão referente ao tempo de prática de atividades físicas em academias, a coleta de
dados aponta que, a maioria da população alvo do estudo, pratica exercícios físicos em
academia há, pelo menos, quatro anos (26,67%), sendo o segundo valor encontrado de
seis anos de prática (20%). Interessante observar-se que Nunomura8 (1998) encontrou
resultados semelhantes em sua pesquisa, mostrando que as pessoas costumam exercitar-
se por considerável tempo. O tempo de prática de dois anos, oito anos e dez anos
apresentaram percentuais semelhantes (13,33%). Ocorreram percentuais iguais (6,67%)
no tempo de prática de três anos e no de seis meses, entre os indivíduos que
participaram da pesquisa. O que se torna instigante saber em outros estudos é se há
alguma relação entre o interesse, em épocas anteriores à idade dos indivíduos, sobre as
atividades, ou sobre os elementos desmotivadores da prática em outros locais.
A esse respeito, Saba11 (2001) comenta que nossa sociedade continua a realizar
atividade física em qualquer local propício à prática, embora o entendimento do homem
moderno tenha evoluído bastante, no sentido da importância dos centros especializados
como locais adequados ao exercício físico. Em relação à freqüência semanal à
academia, o maior percentual de votos dos sujeitos da pesquisa foi o de quatro
vezes semanais (33,33%), enquanto o segundo valor foi de cinco vezes por semana
(26,67%). Os dados confirmam a respeito da maioria das pessoas praticantes ir às
academias quase todos os dias8. Um valor intermediário na pesquisa foi a freqüência de
três vezes semanais, correspondendo a 20% dos entrevistados, ao passo que 13,33% do
público alvo vão à academia duas vezes na semana e, apenas 6,67% dos indivíduos,
freqüentam uma única vez a academia durante a semana. Fica claro como as pessoas,
nos dias atuais, se preocupam em exercitarem-se praticando exercícios físicos
regularmente, ou, inclusive, demonstrando o espaço da academia com outras finalidades
que não apenas a de exercitar-se por motivos de saúde. A interação social, conforme
salienta Wankel12 (1993) representa um dos principais determinantes na adesão e
posterior manutenção dessa prática, sendo que as pessoas sentem mais prazer e atração
pela atividade proposta quando os membros do grupo se identificam e se autoconhecem.
Isso, talvez, seja um diferencial importante para a freqüência bastante assídua de quatro
vezes semanais à academia, corroborando com a idéia desse autor sobre poder de
influência de grupo com expectativa homogênea. Dentre os diversos tipos de exercícios
físicos praticados nas academias, a musculação (40%) aparece como sendo a atividade
mais votada entre os entrevistados. Os exercícios, basicamente aeróbios
(corrida, caminhada e afins) (30%), são a segunda opção entre as diversas atividades
oferecidas na academia, reforçando os resultados obtidos por Saba11 (2001), como
sendo a musculação e atividades aeróbias as preferidas pela maioria dos alunos. Em
contrapartida, as atividades menos procuradas
foram a ginástica localizada e as lutas marciais, respectivamente com percentuais de
16,67% e 13,33%,
entre os indivíduos que participaram da pesquisa. Importante notar que as academias
oferecem serviços
variados de opções de atividades, como danças em geral, musculação, natação, entre
outras, e, ainda, possuem alto grau de sofisticação e boas instalações6. Porém, o aspecto
saudável e os padrões estéticos vigentes na atualidade parecem ressaltar nesses
resultados. Isso pode ser evidenciado na procura maior pela atividade de modelagem do
corpo, por meio do trabalho de musculação, cuja característica recai sobre o ganho de
massa muscular, perda de gordura corpórea e conseqüente definição muscular, enfim,
moldar o corpo segundo necessidades e desejos. Os motivos que levaram os sujeitos a
aderir à prática
de exercícios físicos em academias incidem sobre as questões estéticas (26,67%), bem
como na expectativa na melhoria da qualidade de vida (23,33%). A esse respeito,
Okuma9 (1994) comenta que os
principais fatores referentes à adesão inicial são relativos ao controle de peso, à
obtenção de uma saúde melhor e à redução dos níveis de estresse. A aptidão e
preferência também são determinantes que
levam as pessoas a praticarem tais atividades, atingindo um percentual de 13,33% entre
os entrevistados.
A melhoria da resistência aeróbia e profissionais capacitados para bem instruir
apresentaram percentuais
semelhantes (10%). Esse mesmo equilíbrio ocorreu na questão do aumento de força e
boa aparelhagem específica, novamente com percentuais (6,67%), ao passo que o item
reabilitação de lesões (3,33%) foi o fator que menos parece levar as pessoas a praticar
exercícios em academias. Mesmo a questão estética sendo apontada como o principal
fator de aderência, em outros estudos, as explicações reais recaem no aperfeiçoamento
da saúde, segundo Guarnieri5 (1997). No entanto, neste estudo, evidenciou-se a questão
relativa à estética, como também ressaltado por Saba11 (2001), apontando a estética
corporal como um dos
principais objetivos dos indivíduos ao procurarem uma academia de ginástica, ficando
claro o interesse e a preocupação pela aceitação social no grupo, ou, ainda, por fazer
parte de um grupo já consagrado de culto ao corpo. Dentre as dificuldades encontradas
para a prática regular de atividade física, o tempo disponível (43,33%) foi a principal
para o público alvo do estudo, enquanto o alto preço das mensalidades (23,33%)
também influencia no tema em questão. É interessante observar que, embora a maioria
dos
entrevistados pratique regularmente exercícios físicos, o “tempo disponível” foi o
determinante mais citado na pesquisa, realçando o que Saba11 (2001) enfoca em seus
estudos a este respeito. Na atual distribuição do tempo entre trabalho e lazer, ficam
pendentes, inclusive, as questões de valores, em que
as atividades prazerosas e mais livres sempre estiveram em segundo plano em relação à
obrigatoriedade do trabalho. Esse dado ressalta, também, nos estudos de Okuma9
(1994), o qual evidencia a falta de tempo disponível como um dos principais fatores
motivadores de não adesão à atividade física regular. No aspecto referente ao preço das
academias, este é um elemento que atinge apenas algumas pessoas de classes menos
abastadas, isto é, só alguns podem dispor de dinheiro para tais atividades. Esse dado
aponta para uma tendência discriminatória do espaço da academia, onde a exclusão aos
menos favorecidos parece prevalecer. O que impulsiona os sujeitos a manterem-se
ativos é, principalmente, a preocupação das pessoas em relação à estética corporal
(33,33%), bem como ao objetivo de melhorar a qualidade de vida (20%). A mídia
parece contribuir nesse sentido, uma vez que são várias as fontes (jornais, revistas, entre
outros) que, a todo momento, mostram corpos perfeitos e esculturais, passando, com
isso, o padrão da moda vigente. Alguns autores comentam esse fato, entre eles Saba11
(2001), evidenciando o papel da mídia como formadora de opiniões. É instigante notar o
número cada vez mais crescente de revistas especializadas na questão estética e que
estimulam a recepção de padrões impostos. Alcançar bons níveis de condicionamento
físico (16,67%), além de sentir prazer ao realizar o exercício (16,67%), são também
importantes fatores no processo mantenedor da atividade física em academias. O
aumento da auto-estima (10%), bem como a oportunidade de reabilitação de lesões
(3,33%) foram as determinantes de menores percentuais entre os entrevistados. No que
se refere aos estímulos para início da prática de atividade física em academias, a maioria
dos entrevistados recebeu estímulo da família (33%) e da mídia (33%) para se
iniciar em programas de atividade física. Como já dito, a mídia hoje contribui para a
superlotação
das academias, mostrando, a cada instante, corpos perfeitos e “malhados”, perpetuados
pelas novelas e propagandas que evidenciam essa questão Em relação à família, as
influências sociais dela advindas são importantes nas questões da aderência e
manutenção da atividade física4. Os dados ainda mostram que 20% dos entrevistados
foram iniciados nas atividades de uma academia por vontade própria, sem receber
qualquer tipo de estímulo, ao passo que 14% dos indivíduos sofreram influência de
amigos, certificando-se de que amigos, família e sucesso pessoal são de suma
importância no aspecto da aderência, corroborando com os estudos de Dishman4
(1998). Quando questionados sobre a percepção de alguma
alteração de ordem psicológica ou física, depois do início da prática, houve um certo
equilíbrio no percentual de respostas coletadas, em que o fator emagrecimento e o de
aumento de massa muscular obtiveram 20% cada um, referente às alterações
psicofísicas acarretadas pela aderência a programas de exercícios físicos regulares. A
esse respeito, Novaes7 (1991) comenta sobre a importância do exercício físico regular
como maneira para modificar estilos de vida e hábitos das pessoas. Várias são as
melhorias que a atividade regular proporciona aos praticantes, entre as quais está o fator
emagrecimento11. Novo equilíbrio nos dados coletados, onde um melhor
condicionamento físico, melhoria na auto-estima e maior
motivação para as demais atividades do cotidiano, obtiveram um percentual de 16,6%
entre os entrevistados. Alívio dos níveis de stress é o que 10,2% dos indivíduos
perceberam de mudança referente à prática constante do exercício. A participação em
exercícios físicos regulares se torna uma forma de se manter em perfeita saúde, nos
níveis físico e psicológico, conforme evidencia Biddle2 (1992). A respeito do
significado da participação nas atividades físicas em academias, o fator melhoria na
qualidade de vida
(40%) parece ser o determinante de preocupação das pessoas, ao realizarem uma
atividade física. O prazer (26,6%) também é fator importante, sendo este o que muitas
pessoas sentem ao praticar o exercício. O mesmo é destacado como componente de
grande importância ao se realizar o exercício físico, porque, com isso, o indivíduo vai se
sentir mais interessado na execução de qualquer tipo de atividade física12. A
participação nas atividades diversas de uma academia representa integrar-se
socialmente com outras pessoas, de acordo com 16,6% da população alvo do estudo.
Aliviar o stress emocional, esquecendo-se de problemas e preocupações corriqueiras é o
que a freqüência regular à
academia proporciona a 10,2% das pessoas que participaram da pesquisa, ao passo que
para os outros 6,6% a participação nas atividades da academia representa horas de lazer.
Com esses dados, parece haver uma tendência a se observar a colocação de todos os
aspectos dos benefícios sob o nome de “melhoria da qualidade de vida”. Interessante
notar-se que prazer e interação social foram apontados separadamente do item qualidade
de vida, mesmo que estes sejam parte integrante dos elementos qualitativos da vida.
Conclusão
Considerando os aspectos que permearam os dados coletados nesse estudo, a mídia em
geral parece mesmo influenciar a sociedade como um todo, despertando novos valores,
sentimentos e desejos. A questão estética é hoje uma preocupação de grande parcela da
população, bem como adotar para si um estilo ou hábito saudável e, por conseguinte,
melhorar a qualidade de vida. A maioria dos sujeitos questionados tem essa
Preocupação com a questão estética e com a melhoria da Qualidade de vida, possuindo
um tempo de prática considerável e freqüentando a academia quase todos os dias da
semana.
Interessante é observar que o “tempo disponível” foi o fator mais citado como
dificuldade para a prática
regular de uma atividade física, embora a maioria dos pesquisados pratique
regularmente o exercício físico. Isto realça, novamente, o motivo pelo qual essas
pessoas dão continuidade à prática, demonstrando, efetivamente, o interesse nos
resultados que a atividade pode oferecer. O início da prática de qualquer tipo de
atividade física depende de um estímulo e/ou incentivo. Influências sociais da família,
amigos, entre outros, são de enorme importância para o início da prática de exercícios
físicos. A adoção de hábitos saudáveis pode, então, proporcionar às pessoas melhor
condição para enfrentar a atual vida cotidiana, muito agitada e repleta de estímulos
estressantes. Ficou, então, patente que há muitos fatores que levam à aderência e
subseqüente manutenção à prática de uma atividade física e, os dados obtidos com este
trabalho podem apontar sugestões que permitam ampliar a compreensão do universo
amplo de
uma academia, conduzindo os estudiosos do tema em questão a mais uma fonte de
conhecimento deste
importante assunto da atualidade, que são as academias de ginástica.

Referências Bibliográficas
1. BARBANTI VJ. Dicionário de educação física e do esporte. São Paulo: Manole,
1994.
2. BIDDLE S. Sport and Exercise Motivation: A Brief Review of Antecedent Factors
and Phychological
Outcomes of Participation. Physical Education Review. 1992; 15: 98-110.
3. CERVO AL, BERVIAN PA. Metodologia científica. 2ª ed. São Paulo: McGraw-Hill
do Brasil, 1978.
4. DISHMAN RK. Exercise adherence: Its Impact on public health. Champaign:
Human Kinetics, 1998.
5. GUARNIERI JC. Academias de ginástica e as opiniões de praticantes de
atividade física. Rio Claro, 1997. 34 f. [Trabalho de Conclusão do Curso de Educação
Física - Instituto de Biociências - Universidade Estadual Paulista]
6. MARINHO A , GUGLIELMO LGA. Atividade física na academia: objetivos dos
alunos e suas implicações. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO
ESPORTE, 10., 1997, Goiânia. Anais… Goiânia: Potência, 1997.
7. NOVAES JS. Ginástica em academia no Rio de Janeiro: uma pesquisa histórico-
descritiva. Rio de Janeiro: Sprint, 1991.
8. NUNOMURA M. Motivos de adesão à atividade física em função das variáveis
idade, sexo, grau de instrução e tempo de permanência. Revista Brasileira de
Atividade Física e Saúde. 1998; 3: 45-58.
9. OKUMA SS. Fatores de adesão e de desistência das pessoas aos programas de
atividade física. In: SEMANA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, 2., 1994, São Paulo. Anais.
São Paulo: Departamento de Educação Física, Faculdade de Ciências Biológicas e da
Saúde, Universidade São Judas Tadeu, 1994. p.30-6.
10. RICHARDSON RJ. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas,1989.
11. SABA F. Aderência: a prática do exercício físico em academias. São Paulo:
Manole, 2001.
12. WANKEL L. The importance of enjoyment to adherence and phychological benefits
from physical
activity. International Journal Sport Psychology. 1993; 24: 151-169.

FIGURA 1 – FATORES CONTRIBUINTES NA ADERÊNCIA A


ATIVIDADES FÍSICAS EM ACADEMIAS

26,67% estética
23,33% qualidade vida
13,33% aptidão
10,00% resist.aeróbia
10,00% profissionais
6,67% força
6,67% aparelhagem
3,33% reabilitação
FIGURA 2 – FATORES CONTRIBUINTES NA MANUTENÇÃO DE
ATIVIDADES FÍSICAS EM ACADEMIAS

33,33% estética
20,00% qualidade vida
16,67% cond.físico
16,67% prazer
10,00% auto-estima
3,33% reabilitação

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