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IMPLEMENTAÇÃO NUMÉRICA DO TEOREMA CINEMÁTICO

DA ANÁLISE LIMITE. APLICAÇÃO À DETERMINAÇÃO DOS


COEFICIENTES DE IMPULSO ACTIVO E PASSIVO DE UM MEIO
PURAMENTE ATRÍTICO

Armando Manuel Sequeira Nunes Antão1

RESUMO

Neste artigo indicam-se primeiramente as bases teóricas e de implementação numérica


de um programa de cálculo automático de aproximações de carregamentos limites suportáveis
por uma estrutura. Em seguida apresentam-se os resultados obtidos, através da aplicação do
referido programa, ao problema da determinação dos valores dos coeficientes de impulso
passivo e activo de um meio puramente atrítico.

1. ANÁLISE LIMITE

1.1. Preliminares

Seja uma estrutura mecânica que ocupa o conjunto Ω , cuja fronteira é definida por
Γ = Γu ∪ ΓT , sendo Γu a parte da fronteira de Ω na qual se impõem deslocamentos nulos,
enquanto que na restante fronteira, ΓT se aplica o carregamento T ; Γu e ΓT são tais que
Γ u ∩ ΓT = ∅ . Essa estrutura está ainda submetida a um campo de forças volúmicas f . Toma-
se o conjunto dos carregamentos ( f ,T ) como sendo de aplicação quase-estática, permitindo
assim não considerar os efeitos das forças de inércia. Nestas condições um carregamento será
considerado estaticamente admissível se verificar as seguintes equações:
()
div σ + f = 0 em Ω

σ ⋅ n = T em ΓT (1)
onde n é a normal da fronteira ΓT .

1
Investigador, CGEO, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa.
Admite-se a hipótese das pequenas deformações, e considera-se sempre que as funções
de deslocamento que sejam tomadas em conta são o suficientemente regulares para que todas
as derivadas envolvidas possam ser calculadas.
A lei constitutiva de Ω é considerada como sendo do tipo rígido-plástico. Admite-se
uma função de cedência, local, f (σ (x )) ≡ f (σ ) , em que a deformação aparece no ponto x se
()
f σ =0, sendo nula quando f (σ ) < 0 . Supõe-se ainda que se trata de um material em que a lei
de escoamento plástico é associada e respeita o princípio da normalidade, ou seja que, se tem
. . ∂f .
ε =λ , sendo λ o chamado multiplicador plástico.
∂σ
Assim, diz-se que um determinado carregamento ( f ,T ) actuando sobre a estrutura é
suportável pela mesma quando existir um campo de tensões, σ , que equilibre ( f ,T ) , seja
estaticamente admissível e verifique f (σ (x )) ≤ 0 , ∀ x ∈ Ω . Ao conjunto dos carregamentos ( f ,T )
suportáveis chamar-se-á K. Os carregamentos que se encontrem sobre a fronteira K serão
designados por carregamentos limites.
Uma estrutura será estável, quando submetida a um dado carregamento, se esse
carregamento pertencer ao seu conjunto K, o que mete em evidência a necessidade e as
vantagens de se conhecer a forma de K. O problema reside no facto de a obtenção de K não
ser, em geral, possível. Recorre-se assim à determinação de aproximações suas, quer pelo seu
interior quer pelo seu exterior. Estas aproximações podem ser fundamentadas em dois
teoremas, aqui designados por teorema estático e teorema cinemático. Estes teoremas são
usualmente conhecidos como sendo os da “região inferior e da região superior”; estas
designações não serão aqui adoptadas por parecer ao autor, por um lado, que são baseadas em
relações sem significado quando os carregamentos se encontram em espaços de mais de uma
dimensão e, por outro, porque mesmo no caso de carregamentos a uma dimensão os termos
“inferior” e “superior” podem induzir conceitos errados sobre a estabilidade da estrutura. Na
Figura 1 representam-se esquematicamente aproximações feitas ao conjunto K, quer pelo seu
exterior quer pelo seu interior, utilizando respectivamente o teorema cinemático e o teorema
estático.
Q2

K cinemático
K

Q1

K estático
Carregamentos
limite

Figura 1 – Representação esquemática do conjunto K.

1.2. Teorema Cinemático

Os resultados que se apresentarão neste artigo são baseados numa implementação


numérica do teorema cinemático, que pode ser enunciado da seguinte forma (Salençon, 1983):
“Se, para um dado carregamento, existir um campo de velocidades, compatível com as
restrições impostas sobre a estrutura, em que a potência dos esforços exteriores seja superior à
potência dissipada plasticamente pelo material no campo das velocidades de deformação
correspondente, então esse carregamento não pode ser suportado pela estrutura.”
A potência dos carregamentos exteriores, num dado campo de velocidades v, é
calculada através de
Pe = ∫ f ⋅ v dΩ + ∫ T ⋅ v dΓ
Ω ΓT
T (2)

enquanto que a potência dissipada plasticamente é calculada como


Pi = π (x )dΩ∫ (3)

onde a função π (x ) representa uma densidade de potência dissipada plasticamente.
O critério de Mohr-Coulomb, que será o utilizado neste trabalho para modelar as
propriedades de resistência do maciço envolvido, é definido por
f (σ ) = sup (σ i (1 + senφ ) − σ j (1 − senφ ) − 2c cos φ ) , onde σ i e σ j são tensões principais e c e φ
i , j = I , II , III

são, respectivamente, a coesão e o ângulo de atrito interno do material. Neste caso a função
π (x ) pode ser escrita como:

⎧π 1 d = H tr d

( ) ( ) ( )
se tr d ≥ ( d I + d II + d III ) senφ

π = ⎨π 2 ( v ) = HV ⋅ n se V ⋅ n ≥ V senφ (4)
⎪+∞ caso contrário
⎪⎩
em que d é o tensor das velocidades de deformação, cujos valores principais são designados
por índices romanos e V é a velocidade relativa entre zonas separadas por uma
descontinuidade do campo de velocidades, sendo que n é a normal da superfície delimitando a
descontinuidade das velocidades e H = c cotg φ .
Para se proceder à aplicação do teorema cinemático efectua-se a minimização da
diferença entre a potência dissipada plasticamente pelo sistema, Pi, e a potência fornecida
pelo carregamento exterior num dado campo de velocidades, Pe. No caso dessa diferença ser
negativa, o carregamento não será suportado pela estrutura. A minimização de Pi - Pe é
normalmente feita impondo superfícies de “deslizamento”, que dependerão de um número
finito, geralmente pequeno, de parâmetros, procedendo-se depois à minimização da diferença
entre potências em função desses parâmetros. Há ainda a possibilidade de se imporem campos
de velocidade contínuos de forma relativamente simples ao sistema, ou de se considerar um
misto das duas hipóteses (ver por exemplo Leca e Dormieux, 1992). As possibilidades de
minimização estão assim sempre dependentes das constrições impostas aos campos de
velocidades utilizados (contínuos ou não) e do conhecimento que se terá do problema em
causa. Evidencia-se desta forma a vantagem de se dispor de uma ferramenta que,
automaticamente e sem nenhuma imposição a priori sobre o campo de velocidades, permita
obter uma boa (se não a óptima) minimização da diferença entre potências.
Em todo o caso, não será desapropriado referir que, mesmo com esses campos de
velocidades de concepção relativamente limitada, foi possível obter soluções aproximadas de
grande qualidade, e até mesmo o valor dos carregamentos limite em certos problemas da
análise limite.
No presente trabalho apenas se considera, ao contrário do que se faz mais
tradicionalmente, a parcela de dissipação plástica referente à existência de campos de
velocidade contínuos definidos em Ω . Pretende-se pois resolver o seguinte problema:
{ ( )
Min Pi d (v ) − Pe (v ) } (5)
v∈V
em que V é a restrição contínua do espaço das velocidades cinematicamente admissíveis, e
Pi = ∫ π 1 (x )dΩ . Esta assunção vai impor que os campos de velocidades utilizados não permitam

a existência de superfícies de “deslizamento” .

1.3. Método de resolução

A resolução do problema (5) passa pela minimização de um funcional não linear, sob
restrições, que é equivalente à resolução do problema:
{ ()
Min Pi w − Pe (v ) }
v∈V (6)
com w = B v
em que se introduz uma nova variável que permitirá separar a resolução do problema em duas
partes distintas. Para tal, começa-se por introduzir o Lagrangiano Aumentado seguinte:

∫ Bv − w ∫
r 2
L r {( v , w ), λ } = Pi ( w ) − Pe ( v ) + dΩ + λ : ( B v − w )dΩ (7)
2
Ω Ω
A determinação do ponto de sela deste Lagrangiano, ponto que verifica
{( ) }
{( ) } {( ) } conduz à solução do problema, e é feita recorrendo ao
L r v , w , µ ≤ L r v , w ,λ ≤ L r u , h ,λ

algoritmo de Usawa, que, neste caso particular, toma a forma:


• Algoritmo de resolução
• 1. { w 0 , λ 1 } ∈ W × W inicializados arbitrariamente
• com { w n ,0 = w n−1 } determina-se v n e w n a partir de:
• 2. Para m≥ 1
• 2.1. L r {( v n ,m , w n ,m−1 ),λ n } = Min L r {( u , w n ,m−1 ),λ n } ∀u ∈ V ,v n ,m ∈ V
• 2.1. L r {( v n ,m , w n ,m ),λ n } = Min L r {( v n ,m , h ), λ n } ∀h ∈ W ,w n ,m ∈ W
• 3. λ n +1 = λ n + ρ n ( Bu n − wn )
A convergência deste algoritmo é assegurada para condições bastantes gerais,
nomeadamente para o caso em que 0 ≤ ρ n ≤ 2r (Glowinski e Le Tallec, 1989).

1.4. Implementação em elementos finitos

Sendo Dh uma discretização de um domínio Ω ∈ R 2 num número Ne de elementos,


tem-se que Ω = U Ω l , onde os elementos respeitam as condições usuais de formação de uma
l =1,N e

discretização desse tipo. Nesta discretização a variável v será aproximada por polinómios de
1º grau enquanto que a variável w será aproximada por polinómios constantes em cada um
dos elementos de Dh.
Tomem-se ainda as matrizes definidas por:
T
⎡∂ ∂⎤
⎡1 0 0⎤
⎢ ∂x 0
∂y ⎥
BT = ⎢
∂ ∂⎥
⎥ e A0 = ⎢⎢0 1 0 ⎥⎥ (8)
⎢0 ⎢⎣0 0 0,5⎥⎦
⎢⎣ ∂y ∂x ⎥⎦
e os vectores definidos por:
w = {w11 , w22 ,2w12 } e λ = {λ11 , λ 22 ,2λ12 } (9)
Com estas definições, o Lagrangiano Aumentado definido em (7) pode ser rescrito
como:
L rh {( u , v ), λ } = ∑ ∫ π (w
E∈Dh DhE
1 E )dΩ − ∑ ∫ f .N
E∈Dh DhE
E u E dΩ − ∑ ∫ T .N
E∈Dh DhE IΓT
E u E dΩ

∑ ∫ (BN − wE )T .A0 .(BN E u E − wE )dΩ


r
+ EuE
2 E∈D
h DhE

+ ∑ ∫λ
E∈Dh DhE
T
E .A0 .(BN E u E − wE )dΩ (10)

A aplicação do ponto 2 do algoritmo definido anteriormente conduz a uma


minimização em função das variáveis u e w :
- a minimização sobre a variável u conduz à resolução do sistema de equações lineares
dado por:
rAu n ,m − ∑ ∫{ N
E∈Dh DhE
T
E f −N ET B T A0 ( λnE − rwEn ,m )}dΩ − ∑ ∫N
E∈Dh DhE I ΓT
E T dΩ
T
=0 (11)

em que A é uma matriz definida por A = ∑ ∫N


E∈Dh DhE
T T
EB A0 BN E dΩ

- a minimização sobre a variável w conduz à minimização do funcional seguinte, em


cada elemento:
⎧ r ⎫
J * E ( wE ) = ⎨π ( wE ) + ( BN E u En ,m − wE )T .A0 .( BN E u En ,m − wE ) − λnE .A0 .wE ⎬Vol( E ) (12)
⎩ 2 ⎭
A introdução da variável w permite que se separe o problema de minimização inicial
em dois problemas distintos: um, que passa pela resolução de um sistema linear dado por
(11), construído a partir das propriedades de todo o domínio; outro, pela minimização de um
funcional não linear, sob restrições, mas que é efectuada para cada um dos elementos. A
ligação entre a solução dos dois problemas é feita pela restrição presente em (6).
Quanto à minimização local, os detalhes são apresentados em Antão (1997).
A estratégia de determinação de uma aproximação exterior da fronteira dos
carregamentos limites passa assim pela verificação do valor da diferença entre Pi e Pe, ou em
alternativa, do seu quociente, para os diferentes valores de velocidades obtidas. Se o
quociente Pe / Pi for superior a 1, considera-se que esse carregamento será exterior ao
conjuntos dos carregamentos suportáveis, se for inferior a 1, que pertencerá ao interior da
aproximação cinemática dos carregamentos suportáveis. Deve-se chamar a atenção para o
facto de, para um dado carregamento, o quociente Pe / Pi ser inferior a 1 não significar que
esse carregamento seja suportado pela estrutura. Na realidade, como se trata de uma
aproximação exterior, apenas se considerarão válidas as conclusões directamente retiradas do
resultado do teorema cinemático, ou seja os casos em que Pe / Pi >1. Experimentando
diferentes valores de um dado tipo de carregamento, há que escolher aquele que de entre eles
conduz a uma melhor aproximação da fronteira exterior dos carregamentos limites. A escolha
dos carregamentos a verificar é feita automaticamente, através de um processo de dicotomia,
descrito em Antão (1997).
No parágrafo seguinte apresentar-se-ão os resultados da aplicação do programa de
cálculo, aqui sumariamente apresentado, na determinação dos coeficientes de impulso passivo
e activo de um meio puramente atrítico.
2. APLICAÇÃO À DETERMINAÇÃO DA ESTABILIDADE DE MACIÇOS
PURAMENTE ATRÍTICOS: OS COEFICIENTES DE IMPULSO ACTIVO E
PASSIVO

2.1. Introdução

Classicamente, a relação entre as tensões efectivas horizontal e vertical num dado


ponto do solo define o chamado coeficiente de impulso, K. Supondo que o solo é suportado
por uma estrutura de suporte rígida, um movimento no sentido do vazio dessa estrutura
conduz a uma diminuição da pressão horizontal exercida pelo solo sobre a estrutura de
suporte. O valor dessa pressão atinge um mínimo antes do solo entrar em colapso, que
corresponderá a um coeficiente de impulso chamado activo. Ao contrário, um movimento da
estrutura de suporte no sentido do solo conduz ao aumento da pressão horizontal exercida
sobre a estrutura até um máximo registado antes do colapso do maciço. Esse valor máximo
corresponderá a um coeficiente de impulso designado por passivo. Supondo que as alterações
no maciço não perturbam a distribuição geostática da tensão vertical e que o coeficiente de
impulso é constante em profundidade, a pressão horizontal terá também uma distribuição
triangular como esquematizado na Figura 2.

H H

p=KaγH p=KpγH

Figura 2 – Esquematização do problema

O esquema da Figura 2 supõe que não existirá atrito entre o solo e a estrutura aquando
do movimento desta. No caso em que essas condições não se verifiquem, à pressão horizontal
que o solo exerce sobre a estrutura há a acrescentar uma tensão tangencial, em função desse
atrito. A distribuição dessa tensão tangencial, admitindo atrito constante ao longo da
profundidade, será também triangular. A relação entre os valores da pressão horizontal e da
⎛ pH* ⎞
tensão tangencial define um ângulo δ através da relação δ = arctg ⎜ * ⎟
, onde pH* e σ T* são a
⎝ σT ⎠
pressão horizontal e a tensão tangencial que o solo exerce sobre o muro, respectivamente. De
notar que, como a tensão tangencial pode ter sentido ascendente ou descendente, também o
ângulo em causa pode ter sinal positivo ou negativo. Neste trabalho adoptou-se como sentido
positivo da tensão tangencial o sentido descendente.
Repare-se que no caso da existência de atrito entre o solo e a estrutura de suporte, os
chamados coeficientes de impulso activo e passivo perdem a sua noção original de relação
entre tensão horizontal e vertical, pois a resultante da pressão sobre o muro terá uma
obliquidade correspondente ao ângulo δ.

2.2. Definição do modelo

O modelo utilizado nos cálculos é apresentado na Figura 3. Os deslocamentos são


impedidos nas fronteiras lateral direita e inferior, bem como numa porção da fronteira
esquerda. Na restante parte da superfície esquerda são aplicados dois carregamentos: um
constituído por uma distribuição triangular de tensão normal à superfície, o outro, constituído
por uma distribuição, também triangular, de tensão tangencial a essa superfície (não
representada na figura por simplicidade de esquematização). Note-se que as tensões aplicadas
ao maciço são simétricas em relação às que o maciço exerceria sobre a estrutura de suporte
( σ T = −σ T* e pH = − pH* ), significando assim que a tensão tangencial positiva aplicada terá
sentido ascendente, como indicado na Figura 4, condicionando assim também o sinal do
ângulo δ.

γ,c,φ

Figura 3 – Modelo esquemático da geometria e carregamentos utilizados.

Figura 4 – Esquema da distribuição da tensão tangencial exercida pelo muro sobre o


maciço; sentido positivo.
O solo, de peso volúmico γ , é suposto ser puramente atrítico, o que conduz a uma
coesão nula. Infelizmente, uma coesão nula representa o aparecimento de alguns problemas,
quer do ponto de vista teórico, quer do ponto de vista de resolução numérica, pelo que neste
trabalho foi adoptada uma coesão pequena, de influência negligenciável, de 0,001 kPa. Os
ângulos de atrito considerados foram de 20º, 30º e 40º.
No caso geométrico aqui abordado, é conhecido o valor exacto dos valores dos
coeficientes de impulso activo e passivo quando o atrito entre o solo e a parede é nulo. Para os
restantes casos dispõe-se na literatura de métodos que fornecem aproximações dos respectivos
valores. Em geral estes métodos podem ser posicionados em relação à teoria da análise limite
como proporcionando aproximações exteriores ou interiores do conjunto K. No caso dos
coeficientes de impulso activo, uma aproximação interior fundamentada no teorema estático
fornece um valor superior ao exacto enquanto que uma aproximação exterior como a
proporcionada pela aplicação do teorema cinemático fornece um aproximação por defeito em
relação ao valor exacto. No caso dos coeficientes de impulso passivo a relação existente é
inversa à atrás descrita.
Para se poder comparar os resultados obtidos com o programa descrito, optou-se por
efectuar cálculos representados nas usualmente chamadas tabelas de Caquot e Kérisel (Caquot
et al., 1973).
Os resultados obtidos, assim como os valores fornecidos pelas tabelas de Caquot e
Kérisel, são apresentados graficamente na Figura 5. Em geral, os valores calculados estão
razoavelmente de acordo com os valores das tabelas de Caquot e Kérisel (Caquot et al., 1973).
Note-se também que no maior parte dos casos as hierarquias teóricas expectáveis entre os
valores calculados e os valores de Caquot e al. (1973), correspondendo à utilização dos
teoremas cinemático e estático, são também respeitadas.
Há no entanto algumas excepções a registar e se, por exemplo, no caso dos valores do
coeficiente activo para φ=40º parece ser manifesto a existência de um problema nos valores
de Caquot et al. (1973), outros há em que não existe justificação aparente para a troca de
posição entre os valores calculados e os das tabelas de Caquot e Kérisel. Futuramente será
necessário rever os processos e os métodos de cálculo subjacentes aos valores das tabelas de
Caquot e Kérisel de forma a permitir o eventual esclarecimento da questão.
Comparação dos valores de Ka Comparação dos valores de Kp
0.80 Calculado 20.00 Calculado
fi=20º fi=20º

C&K C&K
0.60 fi=20º 15.00 fi=20º

Calculado Calculado
fi=30º fi=30º

Kp
Ka

0.40 10.00
C&K C&K
fi=30º fi=30º
0.20 5.00
Calculado Calculado
fi=40º fi=40º

0.00 C&K 0.00 C&K


fi=40º fi=40º
-1 -0.5 0 0.5 1 1.5 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1
δ/φ δ/φ

Figura 5 - Comparação entre os valores de coeficiente activo e passivo calculados e os


fornecidos por Caquot et al. (1973).
Apresenta-se na Figura 6 a malha deformada e as velocidades de deformação
principais obtidas no cálculo do coeficiente de impulso passivo para φ=30º e δ=0º. O
mecanismo obtido no cálculo do valor do impulso activo é apresentado na Figura 7.

Figura 6- Malha deformada e velocidades de deformação principais obtidas na


determinação do impulso passivo para φ=30º e δ=0º.

Figura 7- Malha deformada e velocidades de deformação principais obtidas na


determinação do impulso activo para φ=30º e δ=0º.
Em ambos os casos o mecanismo é constituído por uma zona em cunha toda em
deformação, sendo a zona do maciço abrangida pelo mecanismo muito maior no caso do
cálculo do impulso passivo do que no impulso activo. Estas constatações estão de acordo com
as hipóteses de Rankine que permitem obter os valores exactos dos coeficientes de impulso
activo e passivo.
No caso de φ=30º efectuaram-se ainda alguns cálculos suplementares, que não os
estritamente necessários para a determinação dos coeficientes de impulso passivo e activo
pretendidos. Com esse cálculos pretendia-se obter a imagem de K no espaço dos
carregamentos, que são representados pelos parâmetros ηH, que permite definir a pressão
horizontal à profundidade H num solo de peso volúmico γ como pH = η H γ H , e ηV, que
permite definir a tensão tangencial como σ T = η V γ H . Na Figura 8 estão representados os
valores obtidos, sendo que os quadrados plenos representam os cálculos efectuados para a
obtenção dos coeficientes de impulso passivo, os quadrados vazios representam os cálculos
efectuados para determinação dos coeficientes de impulso activo enquanto que os círculos
plenos representam outros tipos de mecanismos.

6
Passivo
5

4
Activo
ηH

2
Outros
1 mecanismos
(ver texto)
0
-4 -3 -2 -1 0 1
ηV

Figura 8 –Representação de K para φ=30º.


As zonas abrangidas pelos círculos plenos correspondem a mecanismos que não
podem, na opinião do autor, ser assimilados aos clássicos mecanismos que permitem obter os
coeficientes de impulso passivo e activo. A deformada e as velocidades de deformação
principais do tipo de mecanismo obtido na zona esquerda da abrangida pelos círculos plenos
na Figura 8 são apresentadas na Figura 9 enquanto que as mesmas representações mas
correspondendo ao tipo de mecanismo dos círculos plenos mais à direita na Figura 8 são
apresentados na Figura 10. Como é visível, no primeiro dos casos temos um mecanismo
muito restrito à zona encostada à parede de suporte, indiciando um colapso do maciço por um
efeito de corte localizado. No segundo caso regista-se um mecanismo em que algumas das
zonas de solo terão um movimento no sentido exterior ao maciço enquanto que outras zonas
terão um movimento no sentido do interior do maciço, não se enquadrando assim nem no caso
de um mecanismo de impulso activo nem no caso de um mecanismo de impulso passivo.
Figura 9- Malha deformada e velocidades de deformação principais obtidas para
φ=30º, ηH=3,00 e ηH=-1,91.

Figura 10- Malha deformada e velocidades de deformação principais obtidas para


φ=30º, ηH=0,75 e ηH=0,44.

3. CONCLUSÕES

No presente artigo foi descrito sucintamente um programa que permite implementar


numericamente o teorema cinemático da Análise Limite. A sua aplicação à determinação dos
coeficientes dos impulsos activo e passivo de um meio puramente atrítico permitiu estabelecer
da qualidade dos seus resultados e das potencialidades da sua aplicação a casos de
carregamentos e geometria complexos.

4. REFERÊNCIAS

Antão, A. (1997), ‘Analyse de la stabilité des ouvrages souterrains par une méthode
cinématique régularisée’, Thèse de Doctorat de l’École Nationale des Pons et Chaussées.
Caquot, A,, Kerisel, J,, Absi, E, (1973) “Tables de butée et de poussée”, 2e édition
bilingue Français-Anglais, Gauthier-Villars éditeur, Bordas.
Glowinski, S,; Le Tallec, P, (1989), ‘Augmented Lagrangian and Operator-Splitting
methods in non-linear Mechanics, SIAM, Philadelphia.
Leca, E, ; Dormieux, L, (1992) ‘Contribution à l’étude de la stabilité du front de taille
d’un tunnel en milieu cohérent’, Revue Française de Géotechnique, N° 61, pp, 5-16.
Salençon, J, (1983), ‘Calcul à la rupture et analyse limite’, Presses ENPC, Paris.

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