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POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 3
2. MERCADO FINANCEIRO (LIVRO MERCADO FINANCEIRO, Securato) ......................... 4
2.1 O que é o Mercado Financeiro .................................................................................................................... 4
2.2 Classificação do Mercado Financeiro ...................................................................................................... 4
2.2.1 Mercado de Câmbio.............................................................................................................................................. 5
2.2.2 Mercado de Capitais ............................................................................................................................................. 5
2.2.3 Mercado de Crédito ............................................................................................................................................... 5
2.2.4 Mercado de Derivativos ...................................................................................................................................... 5
2.2.5 Mercado Monetário................................................................................................................................................ 5
2.3 O Papel dos Bancos de Investimento na Sociedade ............................................................................ 5
2.4 Áreas de Atuação............................................................................................................................................. 6
3. INVESTIMENTOS I ............................................................................................................................. 10
3.1 Sistema Financeiro Nacional .................................................................................................................... 10
3.1.1 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional ............................................................................................. 10
3.1.2 Agentes do Sistema Financeiro Nacional ............................................................................................... 11
3.2 Variáveis dos investimentos ..................................................................................................................... 11
3.3 Índices Econômicos ...................................................................................................................................... 13
3.4 Classificação de crédito .............................................................................................................................. 13
3.5 Renda fixa ........................................................................................................................................................ 14
3.5.1 Títulos Públicos .................................................................................................................................................... 14
3.5.2 Títulos Privados ................................................................................................................................................... 17
4. INVESTIMENTOS II ............................................................................................................................ 18
4.1 Renda variável ............................................................................................................................................... 18
4.2 Tipos de investimentos .............................................................................................................................. 18
4.3 Derivativos ...................................................................................................................................................... 18
4.3.1 Mercado a termo.................................................................................................................................................. 18
4.3.2 Mercado futuro...................................................................................................................................................... 18
4.3.3 Mercado de opções ............................................................................................................................................ 19
4.3.4 Swaps........................................................................................................................................................................ 19
5. MATEMÁTICA FINANCEIRA .......................................................................................................... 22
5.1 Conceitos e ferramentas básicas ............................................................................................................. 22
5.1.1 Capital ....................................................................................................................................................................... 22
5.1.2 Diagrama de Fluxo de Caixa ......................................................................................................................... 22
5.2 O Valor do Dinheiro no Tempo ................................................................................................................ 22
5.3 Juros................................................................................................................................................................... 23
5.3.1 Juros Simples ........................................................................................................................................................ 23
5.3.2 Juros Compostos................................................................................................................................................. 24
5.4 Taxa Nominal ................................................................................................................................................. 25
5.5 Taxa Efetiva..................................................................................................................................................... 25
5.6 Equivalência de Taxas ................................................................................................................................. 25
5.7 Efeito de Inflação .......................................................................................................................................... 26
5.8 Desconto de Fluxo de Caixa ....................................................................................................................... 26
5.9 Séries de Pagamentos ................................................................................................................................. 26
5.10 Sistemas de Amortização ........................................................................................................................ 27
5.11 Valor Presente Líquido (VPL) ................................................................................................................ 27
5.12 Taxa Mínima de Atratividade (TMA)................................................................................................... 27
5.13 Taxa Interna de Retorno (TIR) .............................................................................................................. 28

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5.14 Análise de Investimentos ........................................................................................................................ 28


5.15 Payback Descontado ................................................................................................................................. 29
6. CONTABILIDADE ............................................................................................................................... 30
6.1 Balanço Patrimonial (BP) .......................................................................................................................... 30
6.1.1 Ativo ........................................................................................................................................................................... 31
6.1.2 Passivo ..................................................................................................................................................................... 32
6.1.3 Patrimônio Líquido .............................................................................................................................................. 33
6.1.4 Capital de Giro ...................................................................................................................................................... 33
6.2 Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE) .......................................................................... 34
6.3 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)............................................................................................ 36
6.3.1 Fluxo de Caixa das Operações (FCO) ..................................................................................................... 37
6.3.2 Fluxo de Caixa dos Investimentos (FCI) ................................................................................................. 37
6.3.3 Fluxo de Caixa dos Financiamentos (FCF) ........................................................................................... 37
6.3.4 Método Direto x Método Indireto ................................................................................................................. 37
7. ANÁLISE DOS DEMONSTRATIVOS FINANCEIROS ............................................................ 39
7.1 Balanço Patrimonial .................................................................................................................................... 39
7.2 Demonstração dos Resultados de Exercício ....................................................................................... 40
7.3 Demonstração dos Fluxos de Caixa ........................................................................................................ 41
7.4 Ciclo de Caixa .................................................................................................................................................. 42
7.5 Exercícios ......................................................................................................................................................... 42
8. VALUATION .......................................................................................................................................... 45
8.1 Fluxo de Caixa Descontado (DCF – Discounted Cash Flow) ........................................................... 45
8.1.1 Free Cash Flow to the Firm............................................................................................................................ 47
8.1.2 Free Cash Flow to Equity ................................................................................................................................ 48
8.2 Taxas de desconto ........................................................................................................................................ 48
8.2.1 Custo de Capital para Acionistas ................................................................................................................ 48
8.2.2 WACC – Weighted Average Cost of Capital ......................................................................................... 49
8.3 Desconto .......................................................................................................................................................... 50
8.4 Perpetuidade .................................................................................................................................................. 50
8.5 Múltiplos .......................................................................................................................................................... 51
8.5.1 Múltiplos de negociação (Trading Multiples) ......................................................................................... 51
8.5.2 Múltiplos de Transação (Transaction Multiples) .................................................................................. 52

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1. INTRODUÇÃO

Esta apostila visa introduzir o leitor a um conteúdo técnico de modo que o ajude a
preparar-se para os principais processos seletivos do mercado financeiro. A abordagem
dos temas é feita de modo direta e enxuta, sendo este material um complemento das
aulas presenciais oferecidas pelo Poli Finance.

O leitor será exposto aos seguintes temas: mercado de trabalho, matemática


financeira, investimentos, demonstrativos financeiros e valuation, visando abordar de
forma clara os principais conteúdos cobrados na maioria dos processos seletivos.

Por fim, essa apostila é um guia de estudo. Aqueles que tiverem maior interesse e
pretenderem prestar processos seletivos mais concorridos, devem procurar por fontes
mais detalhadas e aprenderem finanças corporativas com um maior grau de
profundidade.

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2. MERCADO FINANCEIRO (LIVRO MERCADO FINANCEIRO, Securato)


2.1 O que é o Mercado Financeiro
O mercado financeiro ou bancário é o conjunto de instituições e operações dos
fluxos de recursos monetários entre os agentes econômicos. Basicamente, é o mercado
onde se empresta e toma dinheiro, remunerando os empréstimos com juros. A taxa de
juros representa a remuneração percentual que os tomadores pagaram aos financiadores.

Os corretores e os bancos são exemplos de intermediários financeiros. Um


intermediário financeiro é uma instituição que reúne estes tomadores (agentes
deficitários) e emprestadores (agentes superavitários). Os depositantes de um banco
estão lhe emprestando dinheiro a uma taxa, e este, por sua vez, usa esses fundos para
fazer empréstimos a uma outra taxa maior. A diferença entre essas duas taxas é
denominada spread bancário.

A função destes intermediários é securitizar as operações, fazendo o cálculo


atuarial para compensar a inadimplência e assegurar o equilíbrio de mercado. Para haver
este equilíbrio, é necessário que o montante total que as pessoas desejem emprestar seja
igual ao total que querem tomar e são as taxas de juros que equilibram essa balança.
Taxas de juros mais elevadas incentivam os emprestadores (poupadores) a depositar
mais recursos nos bancos com o objetivo de receber a remuneração proporcionada por
essa taxa. Por outro lado, se as taxas de juros caírem de forma representativa, esses
emprestadores (poupadores) não serão estimulados a depositar seus recursos no banco
por saber que seus rendimentos são, agora, menores.

Portanto, o mercado precisa encontrar a taxa de juros de equilíbrio, em que os


emprestadores aceitem ceder seu dinheiro e que os tomadores aceitem pagar.

Sendo assim, o Mercado Financeiro tem, como principais objetivos:

 Intermediação financeira de forma eficiente;


 Diminuição do risco de calote (não pagamento de uma obrigação);
 Definição do preço do dinheiro (taxa de juros).

2.2 Classificação do Mercado Financeiro

Uma das possíveis classificações do mercado financeiro é:

 Mercado de Câmbio;
 Mercado de Capitais;
 Mercado de Crédito;
 Mercado de Derivativos;
 Mercado Monetário;

Apesar de respaldarem o estudo do mercado financeiro, esses segmentos costumam


se confundir na prática, permitindo que as várias operações financeiras interajam por
meio de um amplo sistema de comunicações.

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2.2.1 Mercado de Câmbio


É nesse mercado que ocorrem conversões entre a moeda nacional e moedas
estrangeiras. Isso pode ser feito para consumo direto de bens, assim como para o
pagamento de financiamentos, dívidas, recebimento de royalties, etc. O BACEN atua
também nesse mercado no controle das reservas cambiais do país.
2.2.2 Mercado de Capitais
É o principal responsável pelo fornecimento de capital permanente para a economia.
Nesse mercado as atividades visam suprir as necessidades de investimentos dos agentes
com diversas modalidades de financiamentos de médio e longo prazos, ou de prazo
indefinido, como no caso das emissões de ações.
2.2.3 Mercado de Crédito
O objetivo é suprir necessidades de caixa de curto e médio prazos de diversos agentes
econômicos, como pessoas físicas e empresas. Essas atividades são normalmente
intermediadas por instituições financeiras, que captam recursos através de produtos de
investimento ou depósitos em contas correntes e os redirecionam para os tomadores de
recursos.
2.2.4 Mercado de Derivativos
O mercado de derivativos é formado por contratos privado, entre duas ou mais partes,
cujo valor é quase todo derivado do valor de algum ativo, taxa referencial ou índice-objeto
como uma ação, título, moeda ou commodity. Os contratos de derivativos utilizam,
portanto, um objeto de referência, do qual tais contratos derivam – daí o nome derivativo
– e funcionam somente em razão dessa referência. Dividido em Futuros, Opções (e
Swaps), o mercado de derivativos cresce de forma excepcional no Brasil por meio da
Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), principal ambiente de negociação.
2.2.5 Mercado Monetário
É estruturado com o objetivo de controlar a liquidez monetária da economia. Ou seja,
existe para regular a oferta de dinheiro. O parâmetro de referência desse mercado é a
taxa de juros (determinada pelo Banco Central). Os produtos desse mercado possuem
prazos de resgate curtos e alta liquidez

2.3 O papel dos Bancos de Varejo

Os bancos de varejo oferecem produtos e serviços do dia a dia para o mercado de


massa (consumidor final) e pequenas empresas. O objetivo dessa instituição financeira é
servir como um balcão único, no qual o consumidor pode realizar os serviços básicos tais
como: poupança, conta corrente, hipotecas, empréstimos e títulos de valores mobiliários
(CDB, LCI, LCA).
Essas instituições vêm aprimorando seus produtos e adicionando serviços
personalizados para clientes com quantias significantes de capital (e.g. Itaú Varejo é
dividido entre Uniclass, Personalité e Privet Bank conforme a renda). Outro fator que tem
grande impacto na instituição é o advento do Internet Banking, que facilita os serviços
prestados pelos bancos, que passaram a ser realizados, em sua grande maioria, pela
internet, tornando desnecessário ir até o banco físico. Junto a isso surgiram bancos 100%
digitais (e.g. Banco Inter), que não cobrariam taxas administrativas, o que é uma ameaça
para bancos mais tradicionais que lucram em cima da manutenção de contas bancarias.

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A principal fonte de renda dos bancos de varejo provém de empréstimos, os juros


cobrados nos empréstimos são bem superiores aos juros recebidos pelos poupadores
que posicionam seu dinheiro no banco, essa diferença, como mencionamos
anteriormente, é o Spread Bancário. Essas instituições também lucram com taxas de
serviços, emissão de cartão de crédito, transferências (como TED e DOC) e manutenção
de contas, porém esses são lucros secundários, menos importantes para os bancos.

2.4 O Papel dos Bancos de Investimento


Os bancos de investimento estão envolvidos em operações corporativas de
financiamento, assessoria financeira e alocação de capital em diversos tipos de
investimentos. Estas entidades são especializadas em levantar capital para empresas
privadas, listadas1, estatais ou governos para que possam realizar investimentos, seja em
projetos, aquisições, pagamento de dívidas, entre outros. Também oferecem serviços de
assessoria financeira para o desenvolvimento de fusões e aquisições de empresas.

As leis que regem o funcionamento dos bancos de investimentos variam conforme


o país, mas geralmente são separadas dos bancos comerciais, dado que estes primeiros
não podem captar depósitos e não possuem contas correntes. Isso ocorre principalmente
para proteger o capital dos clientes dos bancos comerciais, uma vez que as operações
dos bancos de investimento são, em geral, mais arriscadas e podem acarretar em altas
perdas de capital.
2.5 Áreas de Atuação

A carreia de um profissional do mercado financeiro pode ser dividida entre o lado


da compra (Buy-Side), o lado da venda (Sell-Side) e as áreas intermediárias. O
profissional do Buy Side, em geral, trabalha para um fundo ou instituição detentora de
recursos a serem investidos, o trabalho dele é prospectar bons ativos com potencial de
valorização ou outras fontes de investimentos para aumentar a rentabilidade do fundo. De
outro lado, o profissional do Sell Side atua de forma a avaliar esses tipos de ativos,
focando em oferecer para seus clientes as melhores opções de investimentos. Além
disso, é a área responsável pelas transações de abertura de capital, fusões, aquisições e
emissão de títulos mobiliários. Já as áreas intermediárias, são responsáveis por efetuar
as operações financeiras, efetuando as transações de compra e venda. Por fim, as áreas
de suporte são essenciais para manter toda essa estrutura funcionando.

Principais áreas do Sell-Side:

Equity Research – A área está relacionada com a análise de empresas listadas em


bolsa. Ela deve fornecer uma visão analítica e detalhada de uma empresa, entidade ou
setor para que esta informação seja usada por investidores e pelo próprio banco nas
decisões de investimento. O departamento de research não usa informações
privilegiadas, por não ser permitido pela lei e, portanto, todas as análises são feitas com
base em informações públicas e na experiência dos profissionais. Normalmente, o
departamento é dividido em setores, na qual cada equipe é responsável por analisar um
setor da economia e as empresas listadas nele inseridas.

1 Uma empresa listada possui ações negociadas em uma bolsa de valores.


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Investment Banking (IB) – Está relacionado com o aumento de capital de empresas


através de dívida e valores mobiliários, podendo também auxiliar nos processos de fusões
e aquisições entre empresas. O IB é dividido em três segmentos: ECM (equity capital
markets), DCM (debt capital markets) e M&A (mergers and acquisitions). O primeiro busca
aumentar o capital do cliente através da emissão de valores mobiliários no mercado (e.g.
oferta pública inicial de ações). O segundo possui o mesmo objetivo, mas é através da
emissão de títulos de dívida (e.g. debêntures, que conferem a seu detentor um direito de
crédito sobre a companhia emissora). Finalmente, o segmento de M&A busca assessorar
financeiramente seus clientes a fim de realizar transações de compra, venda ou fusão de
outras empresas (e.g. Fusão da Brahma com a Antártica, formando a Ambev).

Principais áreas do Buy-Side:

Private Equity – Gestoras que compram empresas já consolidadas e com alto


faturamento com o objetivo de lucrar ao passar o negócio para frente, seja por meio de
abertura de capital na bolsa de valores ou por meio de venda da participação na empresa.
O grande objetivo das gestoras é alavancar os resultados da empresa para obter o
máximo ganho possível ao final da sociedade.

Venture Capital – Semelhante ao Private Equity, porém com foco em empresas de


pequeno e médio porte em áreas inovadoras, como tecnologia, com um modelo de
negócio ainda em fase de consolidação. Os recursos financeiros são utilizados para as
primeiras expansões e levam o negócio a novos patamares.

Private Banking – É responsável por atender clientes individuais que investem altas
quantidades de capital. O termo “private” se refere a um atendimento pessoal e
diferenciado. O departamento é responsável por analisar o perfil do cliente e alocar o seu
capital de acordo com as suas características, sempre visando diversificar a carteira de
investimentos a fim de minimizar o risco. O cliente possui uma conta corrente, ou seja, o
dinheiro permanece na instituição, além de, na maioria dos caros, as aplicações serem
feitas em produtos financeiros da própria instituição.

Asset Management – É responsável por gerir os ativos2 de seus clientes, sempre


buscando melhor otimização, manutenção e renovação. Os ativos podem ser tangíveis,
como prédios e equipamentos, ou intangíveis, como propriedade intelectual e fundos de
investimento. A equipe de asset management deve desenvolver um processo sistemático
de operar, manter, melhorar e dispor dos ativos de forma rentável para os seus clientes e
para o próprio banco.

Wealth Management – Consiste na assessoria de clientes com grandes fortunas,


visando manter o seu patrimônio em crescimento. A grande diferença do Private Banking
consiste no fato do dinheiro não passar pela empresa, isto é, não há uma conta corrente,
a empresa apenas faz um planejamento de investimentos para o cliente, levando em
conta suas características pessoais, os objetivos e o risco das operações.

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Ativos são bens ou direitos de uma pessoa ou empresa.
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Family Office – São organizações montadas para atender famílias com patrimônio
elevado, normalmente donas de grandes empresas, as quais, diferentemente do Wealth
Management, que se preocupa mais com o asset location (Alocação de ativos), oferecem
uma consultoria muito mais completa, cuidando tanto de aspectos financeiros, como de
assessoria jurídica, sucessória, societária, fiscal e contábil. Os profissionais dessa área
possuem um contato extremamente próximo das famílias, desenvolvendo soluções
personalizadas para atender necessidades das mais variadas possíveis.

Principais áreas intermediarias / suporte:

Mesa de Operações – A área de Sales and Trading, como é chamada a mesa de


operações, está relacionada com as operações de compra e venda de ativos no mercado
de capitais. Os ativos podem ser ações, opções, derivativos, commodities, debêntures,
entre outros produtos. É um departamento que utiliza muitos recursos gráficos e
matemáticos, o que abriu espaço para pessoas com habilidades quantitativas, como
engenheiros, matemáticos e físicos.

Risk Management - Consiste na análise das operações da companhia visando


minimizar a exposição ao risco, protegendo, assim, o capital da empresa. No âmbito de
Crédito, é necessário criar indicadores, filtros e modelos financeiros capazes de prever a
inadimplência e a capacidade de pagamento dos clientes. Na parte de investimentos,
analisar se as operações apresentam graus de risco, como por exemplo, investir em um
banco prestes a falir. Outra subárea consiste no Project Finance, responsável por fornecer
linhas de crédito para financiar grandes empreendimentos.

Market Tools - Consiste na área do mercado financeiro responsável por


disseminar conteúdos informativos sobre os diversos mercados, a partir de plataformas
(softwares e hardwares) tecnológicas, como por exemplo, em um terminal da empresa
Bloomberg. Profissionais com conhecimento em TI e programação são requisitados por
essas empresas, para desenvolverem soluções mais eficientes.

Broker (Corretora) - Trata-se da área responsável por interligar, isto é, ser um


intermediário entre compradores e vendedores de ativos financeiros, na maioria dos
casos, fornecendo um serviço de consultoria para os clientes. A remuneração consiste em
uma comissão pelo valor das operações. Antigamente, a negociação dos papéis era feita
de maneira rudimentar, através do balcão (espaço físico) das bolsas de valores. Hoje,
tudo é automatizado através de plataformas digitais integradas, permitindo a execução de
uma ordem em questão de milissegundos.

Na página seguinte, está ilustrado um mapa simplificado resumindo as principais


áreas de atuação de um profissional na área de finanças:

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3. INVESTIMENTOS I

“Uma operação de investimento é aquela que, após análise profunda, promete a


segurança do principal e um retorno adequado. As operações que não atendem a essas
condições são especulativas”. – O investidor inteligente, Benjamin Graham.

3.1 Sistema Financeiro Nacional

3.1.1 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional


O sistema financeiro é o conjunto de instituições e de instrumentos financeiros que visam
transferir recursos dos agentes superavitários para os deficitários. Ou seja, permitir o fluxo
de recursos entre poupadores e tomadores. Uma possível classificação do sistema
financeiro nacional é uma divisão entre subsistema normativo e subsistema de
intermediação.

 Sistema normativo: é composto de instituições que tem caráter regulatório. Ou


seja, determinam as diretrizes de atuação do restante do sistema financeiro. É o
responsável pelo funcionamento do mercado, regulando e regulamentando suas
atividades. Pertencem a esse sistema: Conselho Monetário Nacional (CMN),
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Banco Central do Brasil (Bacen) e
instituições especiais (BB, BNDES...)

 Sistema de Intermediação: Esse subsistema é composto de instituições bancárias


e não-bancárias que realizam operações de intermediação financeira. Ou seja, é a
parcela do sistema financeiro operacionalizando o fluxo de capitais entre os
agentes de forma mais ampla.

Figura 1 – Organograma resumido das principais instituições do SFN

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3.1.2 Agentes do Sistema Financeiro Nacional

 Conselho Monetário Nacional (CMN): é um órgão normativo, sem nenhuma atividade


executiva. É composto por três representantes: Ministro da Fazenda, Ministro do
Planejamento e Presidente do Banco Central. O objetivo do CMN é a “formulação de
toda a política de moeda e do crédito, objetivando atender aos interesses econômicos
e sociais do país”.

 Banco Central do Brasil (Bacen): é um banco fiscalizador e disciplinador do mercado


financeiro, por ele definir regras, limites e condutas aplicáveis às outras instituições
financeiras do país. É também um executor da política monetária do governo, pois
detém controle dos meios de pagamento (pode inclusive emitir moeda). Além disso faz
a gestão da dívida pública nacional e internacional.

 Comissão de Valores Mobiliários (CVM): age sob a orientação do CMN com o objetivo
de normatizar e controlar o mercado de valores mobiliários (ações e crédito). A CVM
estimula o funcionamento das bolsas de valores, regula a emissão de títulos
mobiliários e exige que as instituições apresentem informação relevante à análise para
proteger os investidores.

3.2 Variáveis dos investimentos


A análise de um investimento requer a consideração de diversas variáveis. Cada
uma delas desempenha um papel diferente e possui valor intrínseco distinto de acordo
com o perfil do investidor, sua situação financeira e o cenário econômico no qual está
inserido.

Tempo
Um investidor jovem, que tem como objetivo construir sua aposentadoria, possui
muito tempo. Dessa forma, pode investir seu dinheiro em aplicações com rendimentos
menores, porém com risco menor. Já um investidor mais velho, que tenha o mesmo
objetivo, deverá procurar outras opções, uma vez que as aplicações mais conservadoras
não irão lhe render o suficiente para que se aposente, uma vez que ele possui menos
tempo.

Custo de oportunidade
Todas as aplicações financeiras são excludentes. Em outras palavras, o dinheiro
só pode ser investido em uma única aplicação por vez. Dessa forma, considerando a
poupança, que rende aproximadamente 6% ao ano, e uma CDB cuja taxa de juros seja
de 12% ao ano, caso o dinheiro seja aplicado na poupança, haverá um custo de
oportunidade de aproximadamente (os juros são compostos e não simples) 6%, uma vez
que o investidor está “deixando” de ganhar esse juro a mais.

Inflação
A inflação é, de certa forma, a taxa pela qual o dinheiro se desvaloriza. Dessa
forma, investir em uma aplicação que renda abaixo da inflação é, na verdade, perder
dinheiro. Uma vez que a taxa com a qual o dinheiro se valoriza, na aplicação, é menor do

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que a que ele se desvaloriza. Dessa forma, é sempre importante considerar as projeções
da inflação ao analisar um investimento.

Risco
Um título privado de um banco desconhecido que promete 500% da CDI ao ano
pode parecer muito interessante em um primeiro momento. No entanto, o risco atrelado a
isso provavelmente deve ser muito elevado, de modo que não valha a pena. O perfil de
risco de um investidor é importante na análise de aplicações financeiras. Saber qual
parcela do patrimônio se está disposto a perder em especulações de alto risco e qual será
investida para proteção (rendimentos pouco acima da inflação, de baixíssimo risco, como
títulos indexados ao IPCA ou ao IGP-M), é fundamental para qualquer investidor.

Necessidade de capital presente


Todos possuem uma necessidade por capital presente, seja um indivíduo – para
pagar a conta de luz ou fazer as compras do mês, ou uma empresa – para pagar o salário
de seus funcionários. Dessa forma, a liquidez de um investimento se torna fundamental.
Com qual grau de facilidade é possível resgatar o dinheiro caso ele seja necessário?
Aplicar certa quantia pode torna-la inacessível por um determinado tempo, e isso deve ser
levado em consideração.

Objetivo
Todo investimento necessita de um objetivo. Seja comprar um carro, garantir uma
fonte de renda extra, construir a aposentadoria, ou qualquer outro. Investir puramente
para ganhar dinheiro não é recomendável. O objetivo cria a ligação entre o investidor e o
que ele pretende fazer com o dinheiro assim que tiver condições, de modo que consolida
o foco e a racionalidade nas decisões.

Exemplo I:
Suponha que seu objetivo seja comprar um headphone novo da Bose, o custo do
aparelho é de R$2.000,00 e você dispõe desse dinheiro hoje. Qual decisão você tomaria?
Leve em consideração as variáveis do investimento e seu perfil de investidor para analisar
essa decisão (o caso é simples, provavelmente você não irá optar por esperar 1 ano -
ouvindo música no headphone que veio com seu celular quando poderia estar ouvindo
num Bose - para comprar o headphone para ganhar R$64,80, mas pense sobre cada
variável para chegar nessa conclusão).

Hoje Em 1 ano
Preço do headphone R$ 2.000,00 Preço do headphone R$ 2.095,20
Poupança R$ 2.000,00 Poupança R$ 2.120,00
CDB R$ 2.000,00 CDB R$ 2.160,00

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3.3 Índices Econômicos


Um paradigma econômico é descrito por meio de elementos, os quais são
denominados indicadores econômicos. Sua interpretação permite a compreensão de um
cenário. Sendo assim, são empregados para comparar e projetar resultados.
Os índices econômicos mais importantes se dividem em dois grupos:

Taxa de juros
 SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia): A taxa básica de juros
da economia. Determinada pelo governo no intuito de estimular a economia
e controlar a inflação por meio da manipulação da oferta de moeda. É
definida a cada seis semanas pelo Comitê de Política Monetária (COPOM).
Influencia diretamente o custo do crédito e a taxa de rendimento mínima
esperada por uma aplicação financeira.

 CDI (Certificado de Depósito Interbancário): Empréstimos de curtíssimo


prazo realizados entre bancos visando à garantia do fechamento do saldo
do caixa positivo. Para garantir um saldo positivo do caixa, os bancos têm
duas alternativas: vender títulos públicos que possuem; contrair
empréstimos com outros bancos. Ao vender um título público, o banco deixa
de receber os juros – SELIC – sobre o valor negociado. Já ao contrair uma
dívida com outra instituição financeira, o banco continua ganhando essa
taxa de juros, porém, deve pagar outra à instituição com a qual contraiu a
dívida. Dessa forma, segundo as leis de mercado, se a CDI for mais alta que
a SELIC, os bancos passarão a vender seus títulos para garantir saldo
positivo de caixa, e não a pedir emprestado com outros bancos. Sendo
assim, pode-se compreender o motivo pelo qual a CDI tende a sempre ser
ligeiramente menor que a SELIC.
Inflação
 IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo): Taxa de variação
dos preços dos bens de consumo de uma forma geral, ou seja, inflação. É
medido mensalmente pelo IBGE por meio de pesquisa realizada envolvendo
produtos de nove grupos distintos característicos do consumo de uma
família cuja renda mensal está entre um e quarenta salários mínimos. A
meta para a inflação anual é estipulada pelos membros do Conselho
Monetário Nacional.

 IGP-M (Índice Geral dos Preços do Mercado): Análogo ao IPCA, porém é


calculado pela Fundação Getúlio Vargas e se baseia em outros índices: IPA
(Índice de Preços por Atacado); IPC (Índice de Preços ao Consumidor);
INCC (Índice do Custo da Construção).

3.4 Classificação de crédito


A classificação de crédito nada mais é do que uma análise sobre a capacidade de
certo elemento (instituição financeira, fundo de investimento, empresa, governo) de honrar
sua dívida. Dessa forma, consolidando uma classificação de risco do investimento. Uma
crítica comum à classificação do risco é de que o elemento analisado é o cliente da
agência de notação de risco.

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Atualmente a classificação de crédito se encontra concentrada nas Big Three. Esse


grupo de agências é composto por: Standard & Poor’s Rating Services; Moody’s; Fitch
Ratings.

3.5 Renda fixa


Toda e qualquer aplicação na qual a rentabilidade é definida no momento de
execução. A taxa de retorno pode ser definida por meio de uma constante (renda fixa pré-
fixada) ou por meio da soma entre um índice e uma constante (renda fixa pós-fixada).
3.5.1 Títulos Públicos

Um título público representa um ativo da dívida soberana brasileira.

Os Títulos Públicos têm funcionamento semelhante. Em todos os casos, ao se


adquirir um título, contrata-se uma taxa de juros especificada, durante um certo período
de tempo definido pela data de vencimento do título. Até o momento do vencimento, o
dinheiro permanece com o governo, que pode emprega-lo em investimentos públicos -
como construção de pontes e manutenção de escolas públicas. Na data de expiração, o
governo devolve o dinheiro inicial ao investidor, mais a taxa de juros contratada.

Alguns títulos pagam juros semestrais (NTN-F e NTN-B), também denominados


cupons. Nesses casos, a cada semestre o proprietário do título recebe 6% de seu valor
total, ou seja, de seu dinheiro aplicado inicialmente, mais a taxa de juros contratada até a
data do pagamento do cupom. Esse dinheiro recebido é descontado do valor do título a
incidir juros sobre o tempo a ser mantido após o pagamento dos juros semestrais, em
outras palavras, o título sofre uma desvalorização de 6%, equivalente ao dinheiro pago
pelo cupom.
Títulos Públicos são considerados investimentos de risco mínimo em uma
economia. Sendo assim, compreende-se o modo pelo qual a taxa SELIC é tão importante.
A venda de um título antes de sua data de vencimento compreende a rentabilidade
contratada, uma vez que esse ativo é vendido a preço de mercado, que está sujeito à
variação das taxas de juros dos títulos a venda pelo governo.

Exemplo II:
Compreendendo o último parágrafo: como o mercado precifica um título? E por que
a variação das taxas de juros influencia esse preço?

O mercado calcula o preço a ser pago em um título trazendo a valor presente o seu
valor na data de vencimento. A taxa de desconto geralmente é a inflação mais a taxa de
juros do título. Isso significa que se o governo mudar a taxa para um título, sua taxa de
desconto também muda.

Vamos para um exemplo: João investe R$1.000,00 que restou de seu décimo
terceiro salário em um LTN, no dia 01/01/2017. A taxa de juros contratada é de 10% ao
ano, e a data de vencimento é de 01/01/2019. Sendo assim, o valor do título na data de
vencimento será de R$1.210,00.

No entanto, exatamente no dia 01/01/2018 João teve um problema de saúde, e


precisou vender seu título para pagar uma conta médica. Para a infelicidade de João, o
governo aumentou a taxa de juros do LTN para 11% nesse mesmo dia - como o LTN é
prefixado, isso não altera a taxa que João receberia se mantivesse o título.
14
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No dia 01/01/2018 o título do João vale R$1.100,00 que é seu dinheiro inicial mais
os juros para o período transcorrido, que foi de um ano. Supondo que não houve inflação
até o vencimento (apenas para facilitar a compreensão do exemplo), esse também é o
valor presente do título. No entanto, trazendo a valor presente o valor do título, com a taxa
de desconto sendo 11% (a nova taxa de juros) chega-se em R$1.090,09 que nada mais é
do que o preço de mercado no dia. Dessa forma, ao vender seu título, João receberá
R$1.090,09.

A dúvida que deve estar em sua cabeça agora: por qual motivo o aumento da taxa
do LTN pelo governo reduziu o valor do título do João? Simples, suponha que você é um
investidor, e quer aplicar seu dinheiro em um LTN, você tem duas opções: ou compra
direto com o Tesouro, e contrata a taxa de 11%a.a.; ou compra o título que o João quer
vender, com a taxa de 10%a.a. Assim fica fácil entender a redução do preço, você não
pagaria o mesmo pelos dois títulos, certo? É claro que você pagaria menos pelo título que
rende menos, e proporcionalmente a quão menos esse título rende, e por isso é
empregado a taxa de desconto e o cálculo do valor presente.

Uma última consideração: é interessante ressaltar que R$1.090,09 é exatamente o


investimento necessário para que, com a nova taxa de juros, de 11%a.a., se possa obter
no dia 01/01/2019 (mesma data de vencimento do LTN comprado por João) os mesmos
R$1.210,00 que João receberia se não vendesse seu título. Essa é uma outra forma de
compreender o preço de mercado do título que João pretende vender.

Por fim, conclui-se que João, ao vender seu título antes do vencimento, teve uma
rentabilidade de 9,09% ao ano, diferente dos 10%a.a. que havia contratado. Efeito da
venda do ativo, somada ao aumento da taxa de juros do LTN.

Devido ao fato de títulos pós-fixados serem atrelados a um índice, no caso do


incremento desse índice, é mais oportuno investir nessa categoria do que em pré-fixados.
Sendo assim, no caso em que a inflação saia do controle e comece a aumentar, o melhor
título a sem comprar é, sem dúvidas, o NTN-B Principal, ou o NTN-B. Analogamente,
caso a SELIC aumente, tornar-se-á melhor financeiramente investir em LFTs.

Seguindo o mesmo raciocínio lógico, no caso em que ambos os índices se


reduzam, os pré-fixados são a melhor escolha. Isso, uma vez que, enquanto as taxas de
juros dos pós caem proporcionalmente aos índices aos quais estão indexados, a taxa de
retorno dos pré se mantém.
Títulos Públicos
Pré-fixado Pós-fixado
LTN (Letras do Tesouro Nacional) Indexado ao IPCA Indexado à SELIC
NTN-F (Notas do Tesouro Nacional série F) NTN-B (Notas do Tesouro Nacional série B) LFT (Letras Financeiras do Tesouro)
NTN-B Principal (Notas do Tesouro Nacional série B)

Exercício I:
Suponha que Maria, irmã de João, também tenha disponível R$1.000,00 para
investir. No entanto, ela decidiu comprar um título NTN-B Principal, ao contrário de seu
irmão, que adquiriu um LTN. Ambos compraram seus títulos no dia 01/01/2017 com data
de vencimento para 01/01/2019. O título de Maria é indexado à inflação, ou melhor, ao
índice IPCA. Vamos supor que a taxa contratada tenha sido de 4,76% ao ano de juros
reais.

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Sendo assim, tem-se que:


João Maria
Dinheiro: R$ 1.000,00 R$ 1.000,00
Título: LTN NTN-B Principal
Taxa de juros (a.a.): 10% IPCA + 4,76%

1. Calcule o valor do título de cada um dos irmãos para os seguintes cenários (faça
as aproximações necessárias):
a. IPCA de 5% a.a.
b. IPCA de 9,25% a.a.
c. IPCA de 0,57% a.a.

2. Calcule o valor presente dos investimentos para cada um dos cenários analisados
(utilize o IPCA como taxa de desconto).

Extra I:
A tabela e o gráfico a seguir representam os impostos mais relevantes para renda
fixa: o Imposto de Renda e o Imposto sobre Operações Financeiras; relacionando a
porcentagem a ser paga com o número de dias transcorridos desde uma certa operação
financeira (compra de um título por exemplo).

Imposto de Renda (IR)


Até 180 dias 22,5%
De 181 até 360 dias 20,0%
De 361 dias até 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15,0%

1,2
IOF
1

0,8

0,6
%

0,4

0,2

0
0 5 10 15 20 25 30 35
Dias

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Extra II:
Como calcular a inflação precificada pelo mercado?

Sabemos que, na teoria, todos os títulos públicos deveriam apresentar o mesmo


rendimento. Sendo assim, podemos calcular com base nas taxas de juros dos títulos, qual
a inflação que o mercado espera para um determinado período. Para isso, é preciso
comparar um título público atrelado ao IPCA, e outro que seja pré-fixado (se
compararmos com um indexado à taxa SELIC, não seria possível determinar a inflação,
pois o sistema teria duas equações e três incógnitas).

Supondo que o título LTN esteja com uma taxa de juros de , e que vença em
exatamente anos, e que o título NTN-B Principal esteja com uma taxa de juros de
, e também vença em anos. Então:

[( )( )] ( )

3.5.2 Títulos Privados

Títulos privados financiam as atividades de empresas e de bancos.

Semelhantes aos Títulos Públicos, porém mais diversos, possuem rentabilidade


baseada na taxa CDI.

Títulos Privados
CDB (Certificado de Depósito Bancário) LC (Letras de Câmbio)
Pós ou pré-fixado Financiar as atividades de crédito de financeiras
Associado ao CDI LH (Letras de Hipoteca)
Liquidez variável Financiar linhas de crédito imobiliário
RDB (Recibo de Depósito Bancário) Isento de Imposto de Renda para Pessoas Físicas
Similar ao CDB LCI e LCA (Letras de Crédito Imobiliário/Agrícola)
Não permite resgate antecipado Título emitido lastreado por empréstimos do setor
Debêntures Associado ao CDI
Negociáveis na bolsa de valores
Pagamento periódico ou final
Financiar as atividades de empresas

Exemplo III:
O funcionamento de Títulos Privados em muito é semelhante ao dos públicos. As
principais diferenças são: o risco; os índices econômicos nos quais estão indexados os
rendimentos; a liquidez.

Emprestar dinheiro sempre envolve tomar riscos. No entanto, o risco associado à


uma dívida estatal é muito menor que o à uma empresa privada, e quanto menor a
empresa, maior é esse risco. Isso se deve a diversos motivos, por exemplo, a escala do
governo. O monopólio sobre o dinheiro, permite que o Banco Central imprima reais para
pagar as dívidas públicas. É claro que imprimir novas cédulas aumenta os níveis
inflacionários, e, por conseguinte não deve ser empregado sem que haja motivos.

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4. INVESTIMENTOS II
4.1 Renda variável
Toda e qualquer aplicação na qual a rentabilidade não pode ser determinada no
momento de execução. Exemplos de renda variável são ações, commodities, contratos
negociados nas bolsas de valores, de mercadorias, de futuros.
4.2 Tipos de investimentos
Análise fundamentalista: estudo intrínseco à pesquisa macroeconômica e setorial,
aprofundando-se no business de uma empresa, além de detalhar os players e drivers
condizentes.

Análise técnica: estudo relativamente quantitativo de um ativo, baseando-se em


dados e gráficos e nos comportamentos entre mercado, oferta e demanda.
Análise quantitativa: elaboração de modelos matemáticos que visam a projetar
séries históricas de resultados.

Value investing: método de análise que aborda a análise fundamentalista


objetivando uma maior segurança. Consiste no valor, dissociando o ativo do seu preço e
avaliando seu valor intrínseco. Por meio de pesquisas de campo, e estudos
aprofundados, determinam-se as vantagens competitivas e durabilidade do valor de um
ativo. Tal método é empregado para especulações ou investimentos a longo prazo.
4.3 Derivativos
Contrato no qual se estabelece uma liquidação futura baseado no valor de
variáveis ou índices mais básicos, como preço de ações, taxas de juro, taxas de câmbio e
preço de commodities. É possível gerir riscos por meio desse tipo de contrato (hedge).
Existem diversos tipos de contratos de derivativos, os mais importantes são:
4.3.1 Mercado a termo
A sazonalidade de diversas commodities do setor agrícola contribui para a
flutuação de seus preços. Visando à proteção do patrimônio, os mercados a termo
surgiram por meio da instituição de acordos privados de compra e venda de ativos
para liquidação em data futura por preços predeterminados. Sendo assim, a variação
dos preços deixava de ser uma incógnita para o planejamento financeiro, facilitando a
administração de risco e o planejamento estratégico.

Para compensar eventuais inconveniências ou perdas financeiras com o não


cumprimento do acordo, os contratos são executados com uma garantia. Ou seja, uma
terceira parte recebia um ativo líquido proporcional ao risco do contrato de ambas as
partes, de modo a reembolsar a parte prejudicada no caso de uma das partes não
honrar o contrato.
4.3.2 Mercado futuro
Analogamente aos contratos a termo, os contratos futuros consistem na compra e
venda de ativos para uma data futura e por um preço ambos predeterminados. O
mercado futuro é semelhante ao mercado a termo, porém, apresenta certos
aperfeiçoamentos:

No mercado futuro, os contratos são padronizados e as operações realizadas em


pregões na bolsa de valores com os preços de operações divulgados publicamente. A

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única variável sujeita a negociação é o preço. Esse conjunto de características atribui


maior segurança e credibilidade.

Esse mercado desempenha funções importantes na economia em geral: a


descoberta de preços; o hedge. Os preços dos contratos serem públicos incrementa o
nível de informação dos atuantes no mercado, de modo que possam agir de modo
mais consciente. Além disso, o ato de se proteger contra a flutuação dos preços, em
outras palavras, o hedge, são características que facilitam o planejamento estratégico
e a administração de risco.
4.3.3 Mercado de opções
Consiste na compra do direito, mas não obrigação de comprar ou vender um ativo
em certa data. É semelhante ao mercado futuro e, por conseguinte, ao mercado a
termo. A padronização não é tão importante quanto nos contratos futuros. É
interessante compreender que as opções permitem que investidores limitem suas
perdas, e até mesmo ganhos, de modo a tornar o hedge é comum nesse mercado. Os
especuladores garantem liquidez e permitem que os contratos negociados possam ser
comprados e vendidos com certa facilidade.
4.3.4 Swaps
Um swap é um contrato que estipula uma sequência de trocas de fluxo de caixa
entre duas partes por um período de tempo predefinido, em datas marcadas. Tais
trocas são determinadas e indexadas por uma variável, que pode ser um índice
econômico, uma taxa ou até mesmo um preço. Contratos de swap podem ser
negociados fora de bolsas de valores, e então não necessariamente atendem aos
requisitos de padrões e garantias que os mercados futuro e de opções, por exemplo.

Exemplo III:
Para compreender como funcionam contratos de swaps vamos analisar a empresa
E. Essa empresa possui uma característica fundamental: ela tem receita em real, mas sua
dívida é em dólares. Caso o dólar se valorize em relação ao real, a dívida da empresa em
reais aumenta, o que é ruim, uma vez que sua fonte de renda é em reais.

Dívida da empresa A
Dívida em dólar: $ 50.000,00
Cotação do dólar: R$ 3,20
Dívida em real: R$ 160.000,00
Juros da dívida: (a.a.) 4,00%
Prazo: (em anos) 2
Valor no vencimento: $ 54.080,00

A empresa executa um contrato de swap cambial, que consiste em um fluxo de


caixa baseado em algum fator econômico, podendo ser um índice, ou um preço. Nesse
caso, o swap consiste na CDI e na cotação do dólar. A parte difícil de compreender os
swaps é entender que toda a operação ocorre como se ativos tivessem sido comprados,
quando na verdade não foram. Fazendo uma analogia: João dá R$15,00 a Maria, e ela
R$10,00 a ele, isso é equivalente a João dar R$5,00 a Maria.

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Sendo assim, um processo análogo ao swap seria:

 Empresa E recebe quantia X e paga uma quantia Y;

 Com X são comprados títulos indexados à taxa CDI, e com Y, dólares, e em


seguida, títulos do Tesouro dos EUA, para acompanhar as taxas de juros da dívida
da empresa E;

 No final do contrato, os títulos venceriam:


o Os títulos indexados à taxa CDI gerariam W;
o Os títulos norte-americanos gerariam dólares, que vendidos por reais,
valeriam Z.

 A empresa E pagaria W e receberia Z.


Sendo assim, por meio da analogia em questão, percebe-se que o fluxo de caixa é
possível, gerando os mesmos resultados, e de forma mais fácil, sem que os ativos sejam
efetivamente comprados. Ou seja, ao invés de executar todas as operações em questão,
o fluxo de caixa se resumiria a dois pagamentos: inicialmente X-Y; na data de vencimento
de Z-W.

Utilizando números: a empresa E decidiu que seria melhor para seu negócio que X
fosse igual a Y, sendo assim, não receberá nada, e nem pagará nada ao executar o
contrato (tirando as taxas da instituição financeira intermediária, que no caso é o banco
B). Além disso, ainda optou que X fosse igual a R$160.000,00 que é o valor de sua dívida
em reais.

Suponha que o dólar tenha se valorizado em relação ao real, atingindo a cotação


de R$5,00 no vencimento do contrato.

Título vinculado à taxa CDI


Valor: (X) R$ 160.000,00
Taxa de juros: (CDI a.a.) 14,00%
Prazo: (em anos) 2
Valor no vencimento: (W) R$ 207.936,00
Dólar
Valor: (Y) R$ 160.000,00
Cotação inicial: R$ 3,20
Valor de Y em dólar: $ 50.000,00
Taxa de juros: 4,00%
Valor de Y no vencimento: R$ 54.080,00
Cotação final: R$ 5,00
Valor no vencimento: (Z) R$ 270.400,00

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X: R$ 160.000,00
Y: R$ 160.000,00
Z: R$ 270.400,00
W: R$ 207.936,00
X-Y: R$ -
Z-W: R$ 62.464,00

Caso não tivesse realizado o swap, a empresa teria que ter pago R$270.400,00
para quitar sua dívida. Esse valor é a parcela inicial da dívida, mais os juros, influenciados
pela cotação do dólar. No entanto, como a empresa executou o contrato, ela recebe no
dia de seu vencimento, R$62.464,00 de modo que, efetivamente, precisará pagar apenas
R$207.936,00 para quitar a dívida. Percebe-se como esse tipo de contrato fez com que
uma dívida que consistia na taxa de juros norte-americana, mais a cotação do dólar,
passasse a ser influenciada apenas pela taxa CDI. Essa medida tomada pela empresa é
uma forma de hedge contra a flutuação do valor dessa moeda estrangeira.

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5. MATEMÁTICA FINANCEIRA

A matemática financeira tem como objetivo principal auxiliar, através de diversas


ferramentas, no processo decisório de tomada de decisões, como a alocação de capital, a
realização de investimentos, o gerenciamento de riscos dentre outras situações presentes
no cotidiano do mercado financeiro.
5.1 Conceitos e ferramentas básicas

5.1.1 Capital
Do ponto de vista da ciência econômica, capital é o termo utilizado para designar
um bem econômico que possui uma finalidade produtiva, isto é, um bem produtivo. Em
geral, o termo é utilizado para denominar uma quantia de dinheiro. Chamamos de
capitalização uma aplicação para a acumulação de capital.
5.1.2 Diagrama de Fluxo de Caixa
O Diagrama de Fluxo de Caixa é uma representação ilustrativa de um conjunto de
entradas e saídas de capital de um projeto, investimento ou financiamento ao longo do
tempo. A flecha na horizontal representa a passagem do tempo, enquanto as flechas na
vertical representam as saídas ou entradas de capital no período n em que ela é
referenciada. Essa ferramenta é indispensável para visualizar e fazer a análise da
viabilidade e rentabilidade de operações financeiras.

5.2 O Valor do Dinheiro no Tempo


Imagine que você receba a seguinte proposta: você prefere receber R$1000 reais
hoje, ou ter um depósito mensal de R$100, durante 10 meses?

Do ponto de vista financeiro e econômico, você deveria escolher, definitivamente,


receber R$1000 hoje. Essa decisão permeia pelo conceito do valor do dinheiro no tempo,
um dos conceitos mais importantes da Matemática Financeira.

O valor do dinheiro não é constante ao longo do tempo. Essa afirmação se baseia


na ideia de que o poder de compra de determinada quantia muda em diferentes
momentos, segundo diversos fatores, como risco, inflação ou investimentos. Produtos ou
serviços que poderiam ser adquiridos hoje com R$1000 podem não ser os mesmos daqui

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a 10 meses. Segundo essa lógica, a incerteza do valor do seu dinheiro no futuro exige um
retorno para a postergação do seu consumo. Ora, se você pode consumir agora, é justo
que, para que você postergue sua decisão de usufruir de seu dinheiro, receba algo em
troca. Essa é a essência dos juros e dos investimentos!

5.3 Juros
O juro é definido como uma remuneração pelo empréstimo de capital. Assim como
um arrendador cobra um aluguel para que o locatário possa usufruir do imóvel, o
empréstimo de dinheiro também possui sua taxa de cobrança (ou de remuneração) ao
longo do tempo, a taxa de juro. Entretanto, diferente de um aluguel de imóvel, a cobrança
dos juros geralmente recai sobre períodos posteriores ao início da aplicação de capital
(em n=0), ou seja:

Onde:
J = Juro
VF = Valor Futuro
VP = Valor Presente

Exemplo
Uma pessoa investe R$ 3.000 em um negócio pelo prazo de 1 ano, recebendo no
final do período uma quantia de R$ 3.600. Determine:

a) O Diagrama de Fluxo de caixa;


b) O juro recebido;
c) A taxa de juros ao mês do negócio.
5.3.1 Juros Simples
É o regime de capitalização de juros em que a taxa incide sempre no capital
inicialmente investido. Ou seja, com uma taxa de juros (i) constante, a quantia paga em
juros será sempre a mesma.

Juros gerados durante o primeiro intervalo de investimento: J 1 = VP0.i


Juros gerados durante o segundo intervalo de investimento: J 2 = VP0.i
...
Juros gerados durante o segundo intervalo de investimento: Jn = VP0.i

Os juros totais ao final do intervalo do investimento (n períodos) é:

J = J1 + J2 + J3 + ... + Jn

Como VF = VP + J:

VF = VP + VP.i.n

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No diagrama de fluxo de caixa:

Exemplo
Determine a taxa de juros simples a que ficou aplicado um capital durante 10
meses para render de juros metade do seu valor.
5.3.2 Juros Compostos
É o regime em que a taxa de juros incide no montante atual, ou seja, a taxa incide
sobre uma quantia que se atualiza a cada período. Para facilitar o entendimento, muitos
autores utilizam o conceito de “juro sobre juro” para explicar os juros compostos.

Juros gerados durante o primeiro intervalo de investimento: J 1 = VP0.i


Juros gerados durante o segundo intervalo de investimento: J2 = VP1.i = VP0.i2
...
Juros gerados durante o segundo intervalo de investimento: J n = VP1.i = VP0.in

Os juros totais ao final do intervalo do investimento (n períodos) é:

J = J1 + J2 + J3 + ... + Jn
Como VF = VP + J, temos:
VF = VP + VP.i + VP.i2 +...+VP.in

VF = VP(1+i)n
No Diagrama de Fluxo de Caixa:

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Exemplo
Um investidor aplicou R$40.000 a juros compostos e recebeu, depois de 3 meses,
um montante de R$51.200. Sabendo que as taxas de juros foram 5% e 6% no primeiro e
no segundo mês, respectivamente, calcule a taxa de juros do 3º mês.

Observa-se, dessa forma, que a capitalização por juros simples possui um


crescimento linear, enquanto o regime de capitalização por juros compostos, possui um
comportamento exponencial. A partir disso, pergunta-se, se você fosse empresar dinheiro,
por qual regime de capitalização você optaria? A resposta é depende!

Nesse gráfico é possível observar que o retorno esperado na capitalização linear,


comparada com a exponencial depende do tempo de aplicação!
5.4 Taxa Nominal
É a taxa de juro acordada em contrato que se acrescentará às prestações de um
empréstimo. É utilizada como forma de facilitar a comunicação e o entendimento sobre a
taxa. Geralmente o período de incorporação dos juros não coincidem com o período da
taxa. Ex.: 10% a.m. capitalizada anualmente

5.5 Taxa Efetiva


É usada quando o período de formação e incorporação dos juros coincide com o
período que a taxa está se referindo. Por exemplo, a uma taxa nominal de 12% ao ano, a
taxa efetiva será de 1% ao mês. Como a aplicação desse percentual é feita mês a mês,
juro sobre juro, a taxa total, no final de um ano, não será mais os 12% contratados, e sim
12,68%.

5.6 Equivalência de Taxas


Geralmente, compara-se investimentos através de suas taxas de retorno. Ou seja,
aquele que tiver a taxa mais atraente, deverá ser o investimento efetivado. Porém, para
tal escolha, a unidade de tempo de capitalização deve estar adequada. Para realizar tal
equivalência (transformar uma taxa de juros mensal, por exemplo, em anual) pode-se
utilizar a seguinte fórmula:

( ⁄ ) Onde: q: quero
[( ) ] i: taxa de juros
t: tenho

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5.7 Efeito de Inflação


A inflação (alta generalizada dos preços) possui um poder de deterioração no valor
de entradas e saídas futuras no caixa. Portanto, ela afeta o valor real do investimento
(projeto ou financiamento em questão) da seguinte forma:

( )
[ ]
( )

Nesse caso, a Taxa Real seria o rendimento já desconsiderando os efeitos


inflacionários.

5.8 Desconto de Fluxo de Caixa


Como sabemos, o dinheiro muda de valor com o passar do tempo, logo, duas
quantias de dinheiro, em diferentes momentos, não podem ser somadas! Para fazermos
comparações, é preciso trazer um valor futuro (FV) ao seu respectivo valor presente (PV).
Esse artifício é amplamente utilizado no mercado financeiro, como veremos mais adiante.
Um dinheiro no futuro, por lógica, possui um maior risco incorrido, do que uma quantia
presente na atualidade. Dessa forma, exige-se uma taxa de desconto para trazer certo
valor futuro, ao valor presente.

Ao se utilizar uma taxa i para descontar, chamamos esse processo de "descontar


um fluxo de caixa". Esse processo de desconto será bastante utilizado nos próximos
tópicos.

Em se tratando de um regime de juros compostos:

( )

5.9 Séries de Pagamentos


As prestações uniformes (quando as prestações são iguais em todos os períodos),
elas podem ter as seguintes características de pagamento:

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5.10 Sistemas de Amortização


O sistema de amortização é a forma, como uma série de pagamentos, de saldar
uma dívida composta pelo capital inicial e sua incidência de juros. A Tabela SAC e a
Tabela Price são os dois principais sistemas de amortização.
5.11 Valor Presente Líquido (VPL)

Para comparar diferentes valores em diferentes períodos, é necessário antes,


colocar todos os valores em um ponto do tempo, para isso serve o VPL. Em uma série de
fluxos de caixa, é possível descontar o fluxo de caixa nas entradas e saídas de cada
período. Ao fazer isso, acha-se o valor presente de um fluxo de caixa. Lembrando que
para cada período, usa-se a fórmula:

( )
( )
( )

Ao utilizar tal fórmula para cada período (no jargão "trazer tudo a valor presente") e
somar todas as parcelas PV(n) (isso inclui o valor inicial despendido ou ganho em n=0),
acha-se o Valor Presente Líquido (VPL ou NPV).

O VPL pode ser positivo ou negativo. Em se tratando da análise dos fluxos de


caixa de um investimento, nós calculamos a somatória dos VP gerados.

5.12 Taxa Mínima de Atratividade (TMA)


TMA é a taxa mínima de atratividade que um investidor busca no processo
decisório. Como estamos falando de investimentos, a TMA de um investimento com
algum grau de risco deve ser maior que a taxa livre de risco à qual o investidor está
exposto, pois, como visto, todo investidor, ao fazer algum investimento com risco atrelado,
deve buscar um prêmio de risco.

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5.13 Taxa Interna de Retorno (TIR)


Dado uma certa série de fluxos de caixa, a Taxa Interna de Retorno (TIR) pode ser
definida como a taxa de desconto que anula o valor presente de um fluxo de caixa. Em
outras palavras, é a taxa de retorno que o investimento trouxe. É preferível utilizar
calculadoras financeiras para facilitar as contas. A TIR é uma ferramenta de análise de
investimentos, e assim, deve ser usada em conjunto com o VPL e a TMA para
comparação de resultados

Onde:
VP: valor presente do fluxo de caixa
FCn: Fluxo de Caixa no período n
TIR: Taxa Interna de Retorno
n: período

𝐹𝐶 𝐹𝐶 𝐹𝐶
VPL = FC0 + + + 3 + ... = 0
( +𝑇𝐼𝑅)1 ( +𝑇𝐼𝑅) 2 ( +𝑇𝐼𝑅)3

5.14 Análise de Investimentos


Agora que possuímos algumas ferramentas de análise de investimentos, podemos
decidir, matematicamente, qual investimento será o melhor. Para chegarmos a uma
resposta sobre o retorno do investimento, fazemos algumas comparações:

VPL (utilizando o custo de capital como taxa de desconto):


 Caso o VPL do investimento seja negativo, houve prejuízo.
 Caso o VPL seja nulo, não houve ganho nem perda.
 Caso o VPL seja positivo, houve lucro.

TIR x TMA:
 TIR > TMA: o investimento trouxe rendimento maior que o mínimo esperado pelo
investidor.
 TIR = TMA: o investimento rendeu a quantia exata que o investidor esperava para
fazê-lo.
 TIR < TMA: o investimento rendeu menos que o investidor esperava (note que
nesse caso não significa que houve prejuízo)

28
POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

5.15 Payback Descontado


O Payback Descontado (PBD) é o período de tempo necessário para a empresa
recuperar o investimento inicial de um projeto, a partir das entradas de caixa descontadas
a uma taxa que reflete seu custo de capital.

29
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6. CONTABILIDADE

O objetivo da contabilidade é apresentar as informações financeiras de uma


entidade através de demonstrativos contábeis, os quais sejam úteis para potenciais
investidores ou credores na tomada de decisões econômicas providas para a própria
entidade. Essas decisões envolvem venda, compra e manutenção de ações ou até
instrumentos de dívida.

A divulgação dos demonstrativos contábeis deve ser padronizada de acordo com


órgãos regulatórios. Existem dois tipos principais de padrões: International Financial
Reporting Standarts (IFRS) e o Generally Accepted Accounting Principles (US GAAP).
Todas as empresas brasileiras devem respeitar as normas da IFRS e as empresas
listadas em bolsa devem também ter seus demonstrativos auditados (PWC, Deloitte,
KPMG, etc). Os principais demonstrativos contábeis e que devem ser divulgados são:

 Balanço Patrimonial (BP)


 Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE)
 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)
 Demonstração de Mutuação no Patrimônio Líquido (DMPL)

Além desses, existem outras fontes contábeis, como notas de rodapé e conference
call divulgados para as relações com os investidores (RI) da empresa.
6.1 Balanço Patrimonial (BP)

Ativo Passivo
Ativo Circulante (AC) 33.4 Passivo Circulante (PC) 23.0
Caixa e Equivalentes 5.3 Salários a Pagar 5.0
Contas a Receber 15.5 Fornecedores 7.6
Estoques 10.8 Obrigações Fiscais 3.0
Tributos a Recuperar 1.8 Empréstimos e Financiamentos 5.2
Liquidez

Aluguéis a Pagar 2.2

Ativo Não Circulante (ANC) 46.4 Passivo Não Circulante (PNC) 4.3
Imobilizado 20.3 Empréstimos e Financiamentos 4.3
Intangível 13.7
Investimentos 12.4 Patrimônio Líquido (PL)
Capital Social 34.6
Reservas de Capital 12.5
Reservas de Lucros 5.4

Aplicação Origem

É o demonstrativo contábil que reflete a situação contábil instantânea de uma


entidade; é tido também como um “retrato” financeiro dos bens, direitos e obrigações da
empresa. É basicamente dividido por três contas principais:

30
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 Ativo: Aplicação dos recursos;


 Passivo: Origem do capital de terceiros;
 Patrimônio Líquido: Origem do capital próprio.

Sabendo que o ativo expressa a aplicação dos recursos e, que a soma do passivo com o
patrimônio Líquido expressa a origem do capital, temos que necessariamente:

6.1.1 Ativo

No “ativo”, são alocados todos os bens e direitos da empresa, isto é, onde a


empresa aplicou os seus recursos. Para ser denominado ativo, o recurso deve atender a
4 requisitos:

Produtos com Produtos em Obrigações


Requisitos Planta Industrial
defeito estoque Fiscais
Foi adquirido por um custo mensurável    

Obtido e controlado pela entidade    


É esperado que gere benefícios
   
financeiros futuros
Criado de uma transação ou evento
   
passado

Ativo? Não Sim Não Sim

No balanço patrimonial, os recursos são organizados conforme a sua liquidez,


sendo que quanto mais líquido é o ativo, mais evidenciado ele é. As contas que serão
liquidadas dentro dum período de um ano constituem o Ativo Circulante (AC); e as
contas que serão liquidadas após esse período, Ativo Não Circulante (ACN). Os
principais ativos descritos no demonstrativo são:

Caixa e Equivalentes
O ativo mais líquido possível, representa a disponibilidade financeira que a
entidade possui para realizar investimentos e para cumprir com as suas obrigações.

Contas a Receber (Clientes)


Representa os direitos que a empresa tem de receber pela venda de bens ou
serviços. Com o passar tempo, à medida que os clientes pagam as parcelas, o “Contas a
receber” se converte em “Caixa e Equivalentes”.

Estoque
Diz respeito a todos os produtos (bens ou serviços) gerados pela entidade por um
valor mensurável, os quais possuem o potencial de gerar benefícios financeiros.

31
POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

Imobilizado
São os bens e direitos de natureza permanente cuja função é manter a operação
das atividades normais da empresa, servindo como a sua estrutura. Ex.: edifícios,
máquinas, móveis, etc.

Intangível
Bens que não podem ser tocados ou vistos por serem incorpóreos. Porém
possuem valor econômico e contribuem com a geração de produtos da empresa. Ex.:
softwares, patentes, valor da marca, etc.

Investimentos
Investimento da entidade em outras empresas.

6.1.2 Passivo

Compõe-se de obrigações devidas pela empresa à terceiros e é originado de


entradas de recursos também de terceiros na empresa. Da mesma forma que os ativos,
os passivos que serão liquidados dentro dum período de um ano constituem o Passivo
Circulante (PC); e as contas que serão liquidadas após esse período, Passivo Não
Circulante (PCN). Para ser contabilizado como passivo, o recurso deve cumprir 3
requisitos:

Dívida com Multa do Salário dos


Requisitos Caixa
bancos CFO seguranças
Envolve provável sacrifício dos recursos econômicos da
   
empresa

O recurso será transferido para outra entidade    

O sacrifício futuro representa uma obrigação presente,


   
que surgiu de algum evento passado

Passivo? Sim Não Não Sim

As contas do passivo são agrupadas de acordo com a sua exigibilidade (prazo em


que a conta é esperada ser paga). Os principais passivos descritos no balanço
patrimonial são:

Salários a pagar
Representa a obrigação da empresa com os seus colaboradores, os quais foram
incorridos, mas não pagos na data do balanço.

Fornecedores
Representa a obrigação da empresa com as empresas que fornecem bens ou
serviços para a entidade.

32
POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

Empréstimos e Financiamentos
Diz respeito aos recursos oriundos de terceiros, os quais devem ser pagos
obrigatoriamente. Dividido pelo prazo que a dívida deve ser liquidada, ou seja, há
empréstimos e financiamentos no passivo circulante e no passivo não circulante.

6.1.3 Patrimônio Líquido

Compõe-se de aportes de capital feitos pelos sócios e de resultados anteriores. O


Patrimônio Líquido representa o capital próprio da empresa e são todas as obrigações da
empresa perante seus acionistas e proprietários. No balanço patrimonial, são alocadas
abaixo do passivo, já que a empresa não tem a obrigação de liquidar essas contas na
teoria. Os principais patrimônios líquidos descritos no demonstrativo são:

Capital Social
Capital investido pelos sócios da empresa.

Lucro / Prejuízo Acumulado


Resultados operacionais da empresa em períodos anteriores.

6.1.4 Capital de Giro

É uma medida de eficiência da entidade e de sua saúde financeira no curto prazo.


Um valor negativo ou nulo desse parâmetro pode indicar problema de liquidez da
empesa. Pode também ser interpretada como as reservas e valores que uma entidade
possui para cumprir com as suas obrigações de custos e despesas operacionais. É
calculada da seguinte forma:

33
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6.2 Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE)

Receita Bruta 21.1


(-) Impostos a Pagar (1.8)
(=) Receita Líquida 19.3
(-) Custo dos Produtos Vendidos (12.6)
(=) Resultado Bruto 6.7
(-) Despesas Operacionais (4.8)
(-) Despesas com Vendas (3.6)
(-) Despesas Gerais e Administrativas (1.2)
(=) EBITDA 1.9
(-) Depreciação e Amortização (0.6)
(=) EBIT 1.3
(+/-) Resultado Financeiro 1.2
(+) Receitas Financeiras 3.3
(-) Despesas Financeiras (2.1)
(=) EBT 2.5
(-) Imposto de Renda (1.0)
(=) Lucro/Prejuízo Líquido do Período 1.5

É um instrumento contábil feito para evidenciar o resultado operacional de uma


empresa durante um determinado período (Ano, Semestre, Trimestre, Etc). Reporta a
receita, custos, despesas e lucro ou prejuízo para o período analisado. Para o registro
dessas contas, existem duas formas distintas utilizadas pela contabilidade e pelo
financeiro de uma empresa:

 Regime de Caixa (Financeiro): são contabilizadas no momento (data) do


pagamento ou recebimento, como se fosse uma conta bancária. A demonstração
do fluxo de caixa é registrada pelo regime de caixa e é importante para a gestão de
ativos e passivos, compreendendo melhor a gestão financeira de uma companhia.

 Regime de Competência (Contabilidade): o registro do evento se dá na data que o


evento aconteceu. A contabilidade define o Regime de Competência como sendo o
registro do documento na data do fato gerador (ou seja, na data do documento,
não importando quando vai ser pago ou recebido). A DRE é usualmente
contabilizada pelo regime de competência, justamente por representar a eficiência
operacional de uma entidade.

Regime de Competência Regime de Caixa

34
POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

As principais contas do DRE são descritas como:

Receita Bruta: Toda a receita da operação recebida pela empresa no período;

Receita Líquida: Receita Bruta descontada de impostos diretos (IPI, ICMS, ISS e
etc), Abatimentos, Devoluções, Deduções, Perdas e comissões de venda.

Custo dos Produtos Vendidos (CPV ou COGS): é o custo que está diretamente
ligado à produção dos bens ou serviços oferecidos pela empresa. Estão incluídos a
matéria-prima, salário dos funcionários / prestadores de serviço e qualquer outro custo
relacionado à produção.

Lucro Bruto (Resultado Bruto): é todo o montante que sobra para a empresa
após pagar os impostos que incidem de forma direta e os custos da produção.

Despesas Operacionais (SG&A): são despesas que, diferentemente dos custos,


não estão ligadas diretamente ao processo de produção. Estão incluídos os salários
administrativos (CEO, CFO...), aluguel de prédios administrativos, gastos com marketing e
etc.

EBITDA: significa Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and amortization.


Mede o resultado operacional independente da estrutura de capital da empresa e da
quantidade de investimentos que a empresa necessita. Como não é influenciada por
impostos ou impactos financeiros externos, representa a eficiência puramente operacional
da empresa.

Depreciação e Amortização (D&A): É o reconhecimento de custo referente à


perda de valor de ativos de vida útil longa (Ex.: PP&E). A depreciação é uma despesa que
não consome caixa, ou seja, não há efetivamente um pagamento por essa conta durante
o período analisado pela DRE. Por exemplo, uma mesa comprada por R$200,00 não vai
possuir o mesmo valor no ano seguinte. Esse déficit de valor depreciado entra na DRE.

Lucro Operacional (EBIT): Earnings Before Interest and Taxes, mais conhecido
como EBIT (LAJIR em português), é um indício da eficiência operacional da empresa.

Resultado Financeiro: São as receitas ou despesas que a empresa teve com


relação à sua posição financeira com terceiros (Passivo).

EBT: Earnings Before Taxes.

Imposto de Renda: É o imposto devido pela empresa ao governo incidente sobre


o lucro, depois de pagar as operações, despesas administrativas e credores. A Alíquota
padrão é de 34%, porém o valor pode ser alterado devido a benefícios fiscais.

Lucro/Prejuízo Líquido do Período: É a quantia que sobra para a empresa


depois de pagar a operação e todos os seus credores (terceiros e governo). É diferente
de geração de caixa, pois, pode haver o pagamento de dividendos para os acionistas.

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POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

6.3 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

(+/-) Caixa Líquido das Atividades Operacionais 1.7


(+/-) Lucro/Prejuízo Líquido do Período 1.5
(+) Depreciação e Amortização 0.6
(+/-) Variação nos Ativos e Passivos (0.4)
(+/-) Contas a Receber (2.2)
(+/-) Estoques 3.4
(+/-) Fornecedores (3.0)
(+/-) Salários à Pagar 1.4
(+/-) Caixa Líquido das Atividades de Investimento (2.1)
(-) Aquisições de Imobilizado (3.3)
(-) Aquisições de Intangível -
(-) CAPEX (Capital Expenditures ) (2.2)
(+) Recebimento por venda de ativo fixo 3.4
(+/-) Caixa Líquido das Atividades de Financiamento 2.0
(+) Empréstimos tomados 2.8
(+) Aumento de Capital Social 1.1
(-) Pagamento de Empréstimos (1.9)
(=) Aumento / Redução de Caixa e Equivalente 1.6
(+) Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes 3.7
(=) Saldo Final de Caixa e Equivalentes 5.3

O principal papel do DFC é mostrar claramente os fluxos de caixa da empresa para


o período. Mas, o fluxo de caixa gerado no período não seria o lucro líquido já visto na
DRE? Não, como vimos na DRE, que é apresentada no regime de Competência, o lucro
líquido da empresa leva em conta algumas despesas que não geram entrada nem saída
de caixa, como a depreciação, por exemplo. Enfim, esse demonstrativo deve mostrar as
fontes dos recursos da empresa, bem como a sua utilização durante o período.

A DFC auxilia o analista a avaliar não só a capacidade dos gestores de gerar lucro
(observada na DRE), mas também de materializá-lo no caixa da empresa. Uma empresa
pode ser lucrativa, mas ao mesmo tempo estar “quebrada” devido à insuficiência de caixa.
Por outro lado, uma empresa pode ter prejuízo, mas gerar caixa suficiente para manter a
operação no médio prazo. Por exemplo, o Ponto Frio pode vender muitos
eletrodomésticos no ano à um baixo custo de fabricação e venda, então o seu Lucro
Líquido será positivo. Porém, ele os vende à prazo, em parcelas de 36 vezes. Portanto,
muito do que o Ponto Frio lucrou, estará no Contas a Receber do Balanço Patrimonial e
apenas uma pequena parte efetivamente se tornará caixa. Se o Ponto Frio não tiver caixa
suficiente para manter suas operações, ele irá declarar falência, apesar de ter tido lucro
no período.

Para elaborar o DFC, utiliza-se do auxílio tanto do Balanço Patrimonial como da


Demonstração dos Resultados de Exercícios dos mesmos períodos. Dessa forma, é
possível evidenciar os seguintes fluxos de caixa:

36
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6.3.1 Fluxo de Caixa das Operações (FCO)


Consiste na entrada e saída de recursos do caixa da empresa em transações
operacionais.

Fluxo de Caixa das Operações


Entradas Saídas
Pagamentos de fornecedores e
Lucro Líquido
empregados
Juros e dividendos recebidos Aquisição de ativos para trade
Caixa da venda de ativos para trade Juros pagos
Despesas não-caixa Impostos pagos

6.3.2 Fluxo de Caixa dos Investimentos (FCI)


Consiste na entrada e saída de recursos do caixa da empresa resultante das
operações com os ativos não circulantes da empresa.

Fluxo de Caixa dos Investimentos


Entradas Saídas
Receita de ativos fixos vendidos Aquisição de ativos fixos (CAPEX)
Vendas de ações de empresas
Aquisição de ações
controladas

6.3.3 Fluxo de Caixa dos Financiamentos (FCF)


Consiste na entrada e saída de recursos do caixa da empresa resultante da
estrutura de capital da empresa.

Fluxo de Caixa dos Financiamentos


Entradas Saídas
Empréstimos tomados Empréstimos pagos
Aumento Capital Social Redução Capital Social

6.3.4 Método Direto x Método Indireto


Há duas formas de se apresentar o DFC:

 Método Direto:
1) É referido como o “verdadeiro fluxo de caixa”, pois reflete todos os
recebimentos e pagamentos que ocorreram no período.
2) Revela mais detalhes sobre o período, por isso é menos utilizado nas
publicações.
3) Começa a partir de todos os recebimentos das vendas.

37
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 Método Indireto:

1) Apresenta a ligação entre o lucro líquido do período e como ele se reflete no


aumento ou diminuição do caixa.
2) Revela menos detalhes e é mais simples de ser executado.
3) Começa a partir do lucro líquido.

Método Direto Método Indireto

38
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7. ANÁLISE DOS DEMONSTRATIVOS FINANCEIROS

7.1 Balanço Patrimonial


Basicamente, existem duas análises críticas para o BP:

 Análise Vertical: consiste na avaliação da participação relativa de recurso ou


elemento patrimonial. Dessa forma, é possível conhecer a estrutura econômica
financeira da empresa.

Balanço Patrimonial (Arezzo&Co)


ATIVO 2014 2015 PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 2014 2015
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa e equivalentes 25% 26% Fornecedores 9% 8%
Contas a receber 35% 33% Empréstimos e financiamentos 8% 10%
Estoques 12% 13% Dividendos e JCP - -
Outros Ativos de CP 5% 5% Outras contas a pagar 5% 5%
Total do ativo circulante 78% 77% Total do passivo circulante 22% 22%
Ativo não circulante Passivo não circulante
Imobilizado 10% 9% Empréstimos e financiamentos 4% 4%
Intangível 11% 11% Outras contas a pagar 1% 1%
Outros ANC 2% 4% Total do passivo não circulante 5% 5%
Total do ANC 22% 23% Total do patrimônio líquido 72% 72%
Total do ativo 100% 100% Total do passivo e do patrimônio líquido 100% 100%

 Análise Horizontal: Evidencia a evolução dos ativos e passivos


de curto prazo. Mostra a evolução do ativo permanente produtivo e deixa claro a
evolução da estrutura de capital

Balanço Patrimonial (Arezzo&Co)


ATIVO 13-14 14-15 PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 13-14 14-15
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa e equivalentes 8% 13% Fornecedores 102% -8%
Contas a receber 12% 1% Empréstimos e financiamentos 9% 31%
Estoques 15% 9% Dividendos e JCP - -
Outros Ativos de CP 21% 6% Outras contas a pagar 4% -7%
Total do ativo circulante 12% 6% Total do passivo circulante 24% 7%
Ativo não circulante Passivo não circulante
Imobilizado 11% -3% Empréstimos e financiamentos -11% 10%
Intangível 34% 1% Outras contas a pagar 3% 5%
Outros ANC -21% 162% Total do passivo não circulante -9% 9%
Total do ANC 18% 10% Total do patrimônio líquido 12% 7%
Total do ativo 13% 7% Total do passivo e do patrimônio líquido 13% 7%

39
POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

7.2 Demonstração dos Resultados de Exercício


O DRE mostra todas as receitas, os gastos e as despesas que uma empresa teve
durante um período e, diferentemente do BP, apresenta uma situação dinâmica,
explicando a evolução de certas contas. Além disso, o DRE permite analisar a eficiência
de operação da empresa e, junto com o BP, é possível formular importantes índices:

Índices de Alavancagem
Indicador Formulação Interpretação
Capital de
Redução da composição do capital de terceiros
Terceiros/Capital Passivos Totais/PL
em relação ao capital próprio
Próprio
Passivos Exigíveis/ Um índice muito elevado pode dificultar a geração
Endividamento
Ativos Totais de caixa e obtenção de novos financiamentos
Passivos
Composição do Demonstra a política de endividamento da
Circulantes/
Endividamento empresa
Passivos Totais

Índices Econômicos
Indicador Formulação Interpretação
Margem Lucro Bruto/Receita Pode ser ganho/perda de força com competidores ou
Bruta Líquida fornecedores
É utilizado para analisar o desempenho das empresas,
Margem EBITDA/Receita medindo a produtividade e eficiência das operações da
EBITDA Líquida empresa, sendo um importante indicador para as
decisões de gestão e investimento.
Lucro
Margem Representa a eficiência da operação da empresa em
Operacional/Receita
Operacional relação aos seus competidores
Líquida
Margem Lucro Líquido/Receita
Redução ocorrida pelo aumento de despesas
Líquida Líquida
Retorno dos Lucro Líquido/Ativos Aumento no lucro gerado pelos ativos foi menor que o
Ativos (ROA) Totais aumento do valor investido
Retorno
sobre PL Lucro Líquido/PL Diminuição da rentabilidade ao acionista
(ROE)

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7.3 Demonstração dos Fluxos de Caixa

(=) Lucro Líquido


(+) Depreciação e Amortização
(-) Aumento no Passivo Circulante
(+) Aumento no Passivo Circulante
(=) Fluxo de Caixa de Operações (A)
(-/+) Aumento/Diminuição nos Ativos Fixos
(=) Fluxo de Caixa de Investimentos (B)
(+) Valor de ações emitidas
(-) Dividendos Pagos
(=) Fluxo de Caixa de Financiamentos (C)

(=) Fluxo de Caixa (A+B+C)


(+) Caixa no período anterior
(=) Caixa no período atual

Como dito antes, o DFC está relacionado com o BP e com o DRE. No método
indireto, por exemplo, parte-se do Lucro Líquido, soma-se a depreciação (Pois não sai
dinheiro do caixa com a depreciação retirada no DRE) e a variação do passivo circulante
(extraído do BP) para assim chegar no FCO. Calculando dessa mesma forma o FCI e o
FCF, tem-se o Fluxo de Caixa (FCO + FCI + FCF), que somado ao caixa no período
anterior, forma o caixa no período atual.

De forma similar, o BP e o DRE se relacionam em alguns aspectos, na qual os


Lucros Acumulados do período anterior que, somado ao Lucro Líquido do exercício e
subtraído de dividendos distribuídos, apresenta os Lucros Acumulados atual.

41
POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

7.4 Ciclo de Caixa

É o período necessário para ocorrer a produção, distribuição, venda e coleta do


pagamento dos produtos vendidos pela empresa. Quanto menor o período, maior é o
poder de negociação da empresa com os seus fornecedores e clientes. É calculado a
partir dos prazos médios de estoques (PME), recebimentos (PMR) e pagamentos (PMP):

Onde (Todas informações extraídas dos demonstrativos financeiros):


 ( )
 ( )
 ( )

7.5 Exercícios
1. Classifique as seguintes contas como Ativo Circulante (AC), Ativo Não Circulante (AN),
Passivo Circulante (PC), Passivo Não Circulante (PN) e Patrimônio Líquido (PL).

( ) Capital alocado pelos sócios de R$350.000.000


( ) Recebível de R$480.000 dos clientes
( ) Empréstimo de R$1.500.000,00 para ser liquidado daqui a dois anos
( ) Edifício empresarial localizado na Av. Faria Lima, avaliado em R$10.000.000
( ) Salário dos colaboradores a serem pagos de R$730.000
( ) Estoque de produtos no valor de R$2.600.000
( ) R$630.000 em investimentos de longo prazo

2. Complete o Balanço Patrimonial, utilizando as contas disponibilizadas abaixo.

Intangível 1524 Fornecedores 143


Empréstimos a curto prazo 450 Caixa e equivalentes de caixa 407
Reservas de capital 64 Empréstimos a longo prazo 348
Estoques 32 Lucros acumulados 71
Capital social 1400 Contas a receber 403
Investimentos 9 Imobilizado 470

(R$ milhões)
Ativo 3006 Passivo & Patrimônio Líquido 3006
Ativo Circulante 933 Passivo Circulante 897
Caixa e equivalentes de caixa 407 Empréstimos e financiamentos 450
Contas a receber 403 Fornecedores 143
Estoques 32 Outros Passivos Circulantes 304
Outros Ativos Circulantes 92 Passivo Não Circulante 573
Ativo Não Circulante 2073 Empréstimos e financiamentos 348
Investimentos 9 Outros Passivos Não Circulantes 225
Imobilizado 470 Patrimônio Líquido 1536
Intangível 1524 Capital social 1400
Outros Ativos Não Circulantes 70 Reservas de capital 64
Lucros acumulados 71

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3. Em 2016, o Grupo Fleury apresentou uma receita bruta de R$2.300 Milhões, sendo que
após as deduções de impostos e cancelamentos, obteve uma receita líquida de R$2.096
Milhões. Além disso, para a operação da companhia, foram necessários o custo de
(R$1.495 Milhões) pelos serviços prestados e uma despesa operacional no valor de
(R$209 Milhões). Sabendo também que o resultado financeiro foi de (R$44 Milhões), o
imposto de renda (R$66 Milhões) e a depreciação R$145 Milhões:

a) Complete a DRE abaixo para o ano de 2016.

Deduções e Cancelamentos

Lucro Bruto

EBIT

EBITDA

EBT

Lucro Líquido

b) Determine os seguintes indicadores:

Margem Bruta
Margem EBITDA
Margem Operacional
Margem Líquida

4. Com os demonstrativos apresentados, complete o DFC e os lucros acumulados do BP


do ano de 2015.

Ativo 3.078 Passivo & Patrimônio Líquido 3.078


Ativo Circulante 1.017 Passivo Circulante 903
Caixa e equivalentes de caixa 505 Empréstimos e financiamentos 437
Contas a receber 390 Fornecedores 105
Estoques 14 Outros 361
2014 Outros 108 Passivo Não Circulante 602
Ativo Não-Circulante 2.060 Empréstimos e financiamentos 602
Investimentos 8 Patrimônio Líquido 1.573
Imobilizado 458 Capital social 1.380
Intangível 1.533 Reservas de capital 193
Outros 61 Lucros acumulados 147

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POLI FINANCE | Curso de Introdução ao Mercado Financeiro

Ativo 3.204 Passivo & Patrimônio Líquido 3.204


Ativo Circulante 1.132 Passivo Circulante 995
Caixa e equivalentes de caixa 629 Empréstimos e financiamentos 436
Contas a receber 398 Fornecedores 105
Estoques 16 Outros 454
2015 Outros 89 Passivo Não Circulante 554
Ativo Não-Circulante 2.072 Empréstimos e financiamentos 554
Investimentos 8 Patrimônio Líquido 1.655
Imobilizado 443 Capital social 1.380
Intangível 1.514 Reservas de capital 60
Outros 107 Lucros acumulados

2015
Receita Bruta 2.097
Var. YoY 11,6%
Deduções e Cancelamentos (202.279)
Receita Líquida 1.895
Var. YoY 12,9%
Custo dos Serviços Prestados (1.392)
Lucro Bruto 503
Margem Bruta 26,5%
Despesas Operacionais (267)
EBIT 236
D&A (122)
EBITDA 358
Margem EBITDA 18,9%
Resultado Financeiro (63)
EBT 172
Imposto de Renda (65)
Lucro Líquido 107
Margem Líquida 5,7%

(+) Lucro Líquido


(+) D&A
(+) Necessidade de Capital de Giro
Fluxo de Caixa Operacional

(-) Capex (112)


Fluxo de Caixa de Investimentos (112)

(+) Var. na Dívida Bruta


(-) Dividendos (38)
Fluxo de Caixa de Financiamentos
Var. no Caixa

44
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8. VALUATION

O valuation nada mais é do que uma ferramenta utilizada para determinar o valor
de um ativo. Em diversas situações é necessário saber o valor de uma empresa, de um
contrato ou de um outro ativo qualquer. Por exemplo, numa transação de M&A, é
imprescindível uma boa avaliação da empresa ou da parte da empresa que está sendo
transacionada para que: 1) o comprador pague o preço adequado pelos benefícios que
aquele ativo o trará e 2) o vendedor receba o valor justo pelo seu ativo. Uma situação de
processo judicial em que bens precisam ser divididos também se faz necessário um bom
valuation, afim de realizar uma separação justa de ativos.

Esse curso aborda apenas o assunto de avaliação de empresas. Dentre as


diversas abordagens e técnicas existentes, abordaremos apenas três que consideramos
as mais recorrentes e importantes nesse contexto: Fluxo de Caixa Descontado, Múltiplos
de Negociação e Múltiplos de Transação.

8.1 Fluxo de Caixa Descontado (DCF – Discounted Cash Flow)

A premissa por trás da técnica do Fluxo de Caixa Descontado é a de que o valor da


empresa é proporcional ao fluxo de caixa que ela gera. Ou seja, para todo as outras
premissas constantes, quanto maior for a expectativa de geração de caixa no futuro,
maior é o valor da empresa.

O DCF se resume então em dois principais tópicos:

1) determinar o fluxo de caixa que uma empresa gerará no futuro e


2) trazer esses fluxos a valor presente com uma taxa de desconto adequada, que
reflita o risco associado a essa geração.

Seguindo esse raciocínio, repare que: Como já foi observado anteriormente, com
todos os outros parâmetros constantes, quanto mais caixa uma empresa gerar, maior é o
valor atribuído a ela. Isso faz sentido, visto que, quanto mais caixa ela gerar, mais
dinheiro poderá ser distribuído aos acionistas, mais projetos podem ser realizados e
assim em diante.

Para todos os outros valores constantes, quanto maior a taxa de desconto usada,
menor será o valor atribuído a empresa. Isso também faz sentido, visto que quanto maior
for o risco dos fluxos de caixa se concretizarem, menos vale aquela empresa.

Entrando em termos mais técnicos, sabemos que o valor presente do capital é


proporcional ao valor futuro daquele capital e inversamente proporcional a taxa de juros
usada na capitalização e a quantidade de períodos que aquele valor futuro está à frente.
Ou seja:

( )

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Aplicando esse conceito ao método do Fluxo de Caixa Descontado, imagine que


uma empresa tem os seguintes fluxos de caixa:

Assim, o valor dessa empresa será a soma de todos esses fluxos de caixa trazidos
a valor presente. Ou seja:


( )

Antes de definir tecnicamente qual fluxo de caixa deve ser descontado e qual taxa
usar, devemos entender dois termos que serão usados com frequência daqui em diante:
Firm Value (ou Enterprise Value) e Equity Value.

Tanto o Firm Value (FV) e o Equity Value (EV) são valores que representam o
quanto vale uma empresa. A diferença entre eles é que o Firm Value representa o valor
da empresa numa visão que engloba todos os investidores da empresa: tanto os
acionistas quanto os credores. Já o Equity Value representa o valor da empresa apenas
na visão do acionista. A equação básica que relaciona os dois é:

Onde Debt representa todas as dívidas com credores que a empresa possui e
Cash representa todo o dinheiro em forma de caixa que a empresa possui.

Chamando a parcela Debt – Cash de Net Debt:

Para entender melhor o que significa cada termo, imagine a seguinte situação:
você decide comprar um carro que custa R$ 100.000,00. Quanto você pagaria nesse
carro?

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À primeira vista, você pagaria R$ 100 mil, pois é o preço a ser pago. Porém, e se o
carro tivesse R$ 30 mil de dívidas por conta de IPVA atrasado? Nessa situação, a ação
mais prudente a se tomar seria de desembolsar para o vendedor apenas R$ 70 mil, pois
ao comprar o carro, você deverá assumir aquela dívida pendente – ela deixará de ser do
vendedor e se tornará sua. Se você desembolsasse os R$ 100 mil, você na verdade
estaria pagando R$ 130 mil, pois seriam R$ 100 mil do desembolso e mais R$ 30 mil do
que você pagará da dívida.

Nessa analogia, o valor que o carro está a venda pode ser considerado o Firm
Value da empresa. Ou seja, é quanto a empresa vale para todos seus investidores, é
quanto o negócio vale como um todo. O valor que você desembolsaria é análogo ao
Equity Value, pois é o valor de capital próprio (acionista) que está no negócio. A dívida de
IPVA é análoga ao Net Debt da equação anterior. Com esses termos definidos, vamos
definir os termos necessários para realizar o DCF.

No método do Fluxo de Caixa Descontado, podem ser usados dois fluxos de caixa
diferentes (cada um em seu contexto): o Fluxo de Caixa Livre para a Firma (Free Cash
Flow to the Firm – FCFF) e o Fluxo de Caixa Livre para os Acionistas (Free Cash Flow to
Equity – FCFE).

8.1.1 Free Cash Flow to the Firm


No FCFF, é calculado o Fluxo de caixa da empresa que está disponível para todos
os investidores da empresa. Ou seja, após considerar todo o fluxo de caixa da empresa
que está amarrado ao seu Capital de Giro e descontar tudo o que a empresa investirá em
capital fixo (reposição de depreciação, novos maquinários, etc.), o fluxo que sobra é
considerado o Free Cash Flow to the Firm. Para calculá-lo, usamos a seguinte fórmula:

(=) EBIT
(-) EBIT x (1 - t)
(=) NOPAT (Net Operating Profit After Taxes)
(+) Depreciation & non-charge expenses
(-) CAPEX
(-) Investimento in Working Capital
(=) Free Cash Flow to the Firm

Os itens EBIT e Depreciação & Despesas não-caixa podem ser retirados da DRE,
o CAPEX da empresa pode ser encontrado no Demonstrativo de Fluxo de Caixa e o
Investimento em Capital de Giro é calculado com base em dois períodos consecutivos.

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8.1.2 Free Cash Flow to Equity


No FCFE, diferentemente do caso anterior, é calculado o fluxo de caixa que está
livre apenas para os acionistas da empresa. Ou seja, após considerar todo o fluxo de
caixa da empresa que está amarrado em Capital de giro, descontar os investimentos em
capital fixo e descontar o pagamento das dívidas da empresa, o fluxo que sobra é o Free
Cash Flow to Equity. Para calculá-lo, usamos a seguinte fórmula:

(=) EBIT
(-) EBIT x t
(=) NOPAT (Net Operating Profits After Taxes)
(+) Depreciation & non-charge expenses
(-) CAPEX
(-) Investmente in Working Capital
(-) Debts repayment
(+) New Debts
(=) Free Cash Flow to Equity

8.2 Taxas de desconto


No método do Fluxo de Caixa Descontado, a taxa usada para trazer os fluxos de
caixa a valor presente é o custo de capital. Devem ser considerados os custos de capital
para os credores e os para os acionistas.
8.2.1 Custo de Capital para Acionistas
Para estimar o custo de capital para os acionistas de uma empresa, normalmente
usa-se o modelo do Capital Asset Pricing Model (CAPM). Ele descreve a relação entre o
risco sistêmico e o retorno esperado pelos acionistas de um ativo. Todo investimento
possui um risco e um retorno esperado e, portanto, o CAPM mensura o retorno esperado
relacionado com o risco que se corre de acordo com a seguinte equação:

( )

Onde:
Rf =Taxa livre de risco
Rm = Risco do mercado
Β = Risco sistêmico da empresa
(Rm – Rf) = Prêmio do mercado

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O beta é a medida de risco sistemático de um ativo, ou seja, ele é definido de


acordo com as variações do ativo versus o mercado. O beta é o coeficiente angular da
reta proveniente da regressão linear do gráfico da taxa de retorno da ação da empresa
versus a taxa de retorno do mercado

8.2.2 WACC – Weighted Average Cost of Capital

O WACC representa o retorno esperado pelos acionistas e credores de uma


empresa, ou seja, o custo do capital que estes estão investindo na empresa. Da mesma
maneira que o CAPM quantifica o retorno esperado somente pelos acionistas, o WACC
irá ponderar os retornos esperados pelos acionistas e pelos credores de acordo com a
seguinte equação:

( )
( ) ( )

𝑂 :
𝑊 =
𝐷= (𝐷 )
= ( 𝑦)
= í
Kd =
Ke =

O capital de credores (D) é obtido no Balanço Patrimonial da empresa. O custo da


dívida (Kd) é facilmente determinado, pois ele é o juros cobrado pelos credores e,
portanto, é pré-determinado no momento do empréstimo. O custo do equity (Ke) pode ser
determinado usando várias metodologias, mas a mais usual é o CAPM.

A parcela de dívida é multiplicada por (1 - t), pois o capital de terceiros possui o


benefício fiscal da alíquota de impostos. Isso acontece, pois na DRE, as Despesas
Financeiras são contabilizadas antes do Imposto de Renda e, portanto, também sofrem o
abatimento dos impostos.

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8.3 Desconto
Agora que todos os termos já foram definidos, deve-se especificar com coerência
qual taxa e qual fluxo de caixa deve ser usado.

Para calcular o Firm Value, ou seja, o valor da empresa para todos os seus
investidores (terceiros e acionistas), deve-se usar o fluxo que representa o fluxo para toda
a firma e o custo de desconto para toda a firma também. Portanto, descontasse o Free
Cash Flow to the Firm com o WACC.

Para calcular o Equity Value, mantém-se a mesma coerência. Como ele é o valor
da empresa apenas para os seus acionistas, usa-se também o fluxo de caixa para os
acionistas e custo de capital para os acionistas. Ou seja, desconta-se o Free Cash Flow to
Equity pelo Ke.

Lembrando que sempre é possível ir do Equity Value para o Firm Value e vice-
versa seguindo a equação que os relaciona:

8.4 Perpetuidade
O método do DCF, como já visto, depende das projeções feitas para os fluxos de
caixa da empresa. Porém, como uma premissa usada para empresas é de que ela
continuará operando “para sempre”, teoricamente deveríamos projetar todos os seus
fluxos de caixa para trazê-los a valor presente. Como é impossível projetar infinitos fluxos
de caixa e até inviável projetar mais que 5 ou 10 anos por conta de todas as incertezas
macroeconômicas, o que se faz na prática é, após projetar os próximos 5 ou 10 anos com
precisão, considerar que os próximos fluxos manterão uma taxa de crescimento constante
e sustentável, como na figura abaixo:

Taxa de Crescimento do Fluxo de Caixa


(a partir do 6º ano crescimento constante)

....
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 n

Esses fluxos de caixa então podem ser calculados com o auxílio de uma soma de
Progressão Geométrica. Considerando que o primeiro fluxo de caixa estimado na
perpetuidade é o Fluxo de Caixa do período n e a taxa de crescimento dos fluxos é g, o
valor da soma de todos os fluxos na perpetuidade é dado por:

( )
( )

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8.5 Múltiplos

Múltiplo usuais de equity value


Múltiplo Conta Definição
 Price = preço por ação
P/E Price/Earnings
 Earnings = EPS (lucro por ação)
 Price = preço por ação
P/VPA Price/Valor Patrimonial por Ação
 VPA = valor patrimonial por ação
 Price = preço por ação
P/B Price/Book Value
 B = Total de ativos líquidos

Múltiplo usuais de enterprise value


Múltiplo Conta Definição
 EBITDA = Lucro antes dos juros, impostos,
EV/EBITDA Enterprise Value/EBITDA
depreciação e amortização
EV/Sales Enterprise Value/Sales  Sales = Receita
EV/EBIT Enterprise Value/EBIT  EBIT = Lucros antes dos juros e impostos

8.5.1 Múltiplos de negociação (Trading Multiples)


A ideia por trás da avaliação por múltiplos é a de comparar a empresa que vai ser
avaliada com o mercado de acordo com alguma métrica. Por exemplo: imagine que a
empresa a ser avaliada tem um Lucro Líquido de R$ 10 milhões. No mercado, há outra
empresa, muito similar a primeira, que tem um Lucro Líquido de R$ 50 milhões e está
sendo negociada por R$ 300 milhões. Assim, assume-se que o preço da primeira
empresa seguirá a proporção com seu Lucro Líquido que a segunda empresa apresentou.
Ou seja, como o preço da segunda empresa equivale a 6x o seu Lucro Líquido, o mesmo
acontecerá com a outra e, portanto, seu preço será 6x R$10 milhões = R$ 60 milhões.
Diz-se nessa situação que o múltiplo P/E (price-to-earnings ou preço-por-lucro) é de 6x.

Na teoria, o ideal não é comparar o seu alvo com apenas uma empresa, mas com
várias outras empresas comparáveis (setor, risco, tamanho, perfil de clientes, tecnologia,
poder de geração de caixa, geografia, entre outras características que sejam similares).

Após definir empresas comparáveis, deve-se também tomar cuidado para que os
múltiplos a serem tomados sejam coerentes. A princípio, pode-se escrever um múltiplo
com qualquer métrica de uma empresa, desde que essa métrica seja coerente com o “tipo
de valor” a ser comparado.

Por exemplo, como já foi dito anteriormente, o Equity Value de uma empresa (que,
nesse contexto, será chamado de “Price”) é o valor da empresa na visão de seus
acionistas. Assim, a métrica a ser usada, deve ser uma métrica que é disponível apenas
para os acionistas da empresa. O Lucro Líquido se encaixa nesse contexto, pois ele está
disponível apenas para os acionistas. Já a Receita de uma empresa não, pois ela é uma
métrica que servirá para recompensar tanto os acionistas quando os credores terceiros.

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Os múltiplos mais usados na prática são: EV/EBITDA (Enterprise Value ou Firme


Value to EBITDA), EV/EBIT (Enterprise Value to EBIT), EV/Sales (Enterprise Value to
Sales) e P/E (Price to Earnings).

8.5.2 Múltiplos de Transação (Transaction Multiples)


A avaliação por múltiplos de transação é semelhante à por múltiplos de
negociação. Os múltiplos em si são os mesmos, porém a diferença é que o múltiplo é
estimado através da comparação de transações recentes de empresas ou ativos
semelhantes à empresa que se deseja precificar, e não com preços de mercado. Em
outras palavras o price ou o enterprise value (EV) utilizados são baseados no valor das
transações de fusões ou aquisições. No Brasil, as fontes de informações sobre fusões e
aquisições são Bloomberg e Thomson Reuters.

A utilização dos múltiplos de transação depende da obtenção das seguintes


informações:

 valores pagos pela empresa adquirida;


 valores de dívidas assumidos;
 informações das demonstrações financeiras;
`
Entretanto, este método não é muito utilizado no Brasil, pois a maioria das
transações não revelam os valores envolvidos e, além disso, existem casos particulares, o
que pode distorcer a avaliação dos múltiplos como, por exemplo, empresas que possuem
PL muito baixo tendem a gerar múltiplos elevados.

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