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CIBERCULTURA – PIERRE LÉVI

A comunicação digital gerou um novo comportamento humano. A interação entre milhões de


pessoas de todos os horizontes através de um caótico mundo virtual criou novas formas de pensar e
manifestações artísticas. A cibercultura é esse conjunto de transformações que ocorrem na
sociedade e na cultura e que têm sua origem no desenvolvimento do ciberespaço.
Este novo mundo ultra conectado representa um dos grandes desafios da filosofia contemporânea.
Essa natureza planetária do mundo virtual indica que a cibercultura não está condicionada pelos
mesmos fatores que a cultura “tradicional” — como geografia, religiões, tradições e contextos locais.
A cibercultura não é a representante de uma determinada cultura do mundo. É uma nova cultura
formada pela integração de várias culturas e condicionada por fatores tecnológicos. Esse mundo
virtual tem uma tendência anárquica; não obedece ordens ou hierarquias.

O fermento da cibercultura
Tanto o ciberespaço quanto a cibercultura não foram previstos nem mesmo pelos mais
imaginativos escritores de ficção científica. Sua origem se deu da fusão de iniciativas isoladas de
instituições e pessoas visionárias.
Iniciou com a criação dos primeiros grandes computadores, passando pela popularização dos
computadores pessoais, seguindo até a criação das primeiras redes de computadores e fusão das
diferentes redes.
Depois disso temos a impressão de que o mundo virtual criou vida própria. No entanto essa é uma
falsa impressão. O fermento que faz crescer o ciberespaço é nossa necessidade de comunicação.

As vantagens e desvantagens do mundo conectado


Um exemplo ilustrativo da mudança de comportamento ocorreu com a popularização do e-
mail. Antigamente era aceitável que, ao enviar uma carta pelo correio, esperássemos algumas semanas
para receber a resposta.
Atualmente, ao enviarmos uma mensagem, esperamos a resposta no mesmo dia. Nossa
expectativa de obter uma resposta passou de semanas para horas ou minutos. Claro, com essa nova
necessidade de velocidade nasceu também um novo tipo de ansiedade.
Partindo para um exemplo mais radical, o cientista brasileiro Miguel Nicolelis afirmou que, no médio
prazo, não usaremos mais teclados e monitores. Iremos submergir em sistemas virtuais e nos
comunicaremos diretamente com as máquinas.
No longo prazo, o corpo deixará de ser um fator limitante de nossa atuação no mundo. Nosso alto
grau de interatividade com as máquinas iria então afetar a própria evolução humana.
No entanto, a cibercultura também cria novos problemas. Aqueles que não tem acesso ao
ciberespaço se tornam os marginalizados da cibercultura, os excluídos digitais.
A velocidade do desenvolvimento tecnológico surpreende até mesmo os que se esforçam para se
manterem atualizados. A exclusão aumenta ainda mais quando associada ao ciberespaço. Excluídos não
são mais somente um grupo de pessoas. Podem ser cidades ou nações inteiras.

Cibercultura: liberdade ou alienação?


Infelizmente, mesmo nesse ambiente de liberdade e interação global, as possibilidades positivas da
cibercultura se encontram ameaçadas. A grande interatividade humana proporcionada pela comunicação
digital favorece a evolução da civilização e o surgimento de uma inteligência coletiva.
O pensamento crítico, as manifestações artísticas e as ideias que surgem da interação humana no
ciberespaço seriam os fatores responsáveis pela criação de novas soluções para os grandes problemas
modernos.
No entanto, sem a atuação da inteligência coletiva a cibercultura pode se tornar apenas um
grande supermercado on-line e ferramenta de desinformação e manipulação, o que seria apenas
uma reprodução em larga escala do que já ocorre nos dias de hoje através dos meios de comunicação
tradicionais, como a televisão e o jornal.

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