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Cultural de Lagos uma representação da “Farsa de Inês Pereira” de Gil Vicente, executada pela
companhia Atos.
Eu já tinha conhecimento da sinopse da farsa e por isso uma ideia prévia de como iria ser
representada, penso que a farsa foi bem representada e nunca nos desapontou nesse aspeto.
Esta farsa introduz-nos a Inês Pereira, uma moça bonita e solteira que se vê obrigada a passar
o dia em meio às tarefas domésticas. Inês está sempre queixando-se e vê no casamento a
chance de se livrar dessa vida. Ela idealiza o noivo como sendo um moço bem-educado,
cavalheiro, que soubesse cantar e dançar, enfim, que fosse um fidalgo capaz de lhe dar uma
vida feliz.
Algo que apreciei, foi a maneira de como adaptaram os diversos cómicos da farsa para a
atualidade, algo inesperado para mim. Sempre que Inês cantava, ela cantava músicas
populares, como por exemplo, no início da farsa Inês encontra-se sozinha a coser e a cantar
“Single Ladies” de Beyoncé, o que salientava o seu caracter leviano e descontraído.
Outra coisa que me intrigou foi a forma subtil de como conseguiram envolver,
hipoteticamente, pessoas da produção que na verdade eram apenas atores, a executar um
papel onde demonstravam serem uns autênticos trapalhões, como por exemplo entravam em
certos momentos no espaço da peça com roupas que sugeriam que pertencessem à produção
com a finalidade de simular um cómico de situação.
Contudo nada é perfeito, e confesso que a representação da farsa tinha algumas falhas.
Uma delas passava por ser a atitude e comportamento da mãe de Inês que na representação
era apenas uma mulher descomunal, “labrega” que em conversas utilizava referências de
letras de músicas populares e atuais. No entanto na farsa de Gil Vicente a mãe de Inês é uma
típica dona de casa pequeno-burguesa e provinciana e dá conselhos prudentes, inspirada por
uma sabedoria popular, demonstrando um forte contraste com a representação da farsa que
assisti.
Algo que também notei, foi o facto de algumas personagens serem representadas pelo mesmo
ator com a diferenciação de traços pessoais como a roupa. Penso que não havia necessidade
para isto acontecer e até mesmo provocava uma certa confusão na cabeça que nos distraía do
próprio enredo.
No geral foi uma boa representação e adaptação da obra de Gil vicente à atualidade e embora
tenha havido algumas falhas, durante o tempo que durou senti-me entretido com este
espetáculo ao vivo.