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TEMAS LIVRES FREE THEMES


Pesquisa Translacional: uma interpretação

Translational research: an interpretation

Reinaldo Guimarães 1

Abstract Translational Research (TR) appears Resumo A Pesquisa Translacional (TR) parece
to be developing into the key health research is- estar se tornando o principal mote da pesquisa em
sue of the beginning of this century. Initially pro- saúde neste início de século. Nascida nos Estados
posed in the United States, TR is spread rapidly Unidos da América (EUA), vem se disseminando
throughout both the developed and the develop- rapidamente pelo mundo desenvolvido bem como
ing world. This article discusses the main topics pela periferia. O artigo discute os principais tópi-
it covers, such as its definition and scope and the cos relativos a ela. A sua definição e o seu escopo, as
reasons why it has emerged in the USA and in razões de ter nascido nos EUA e o porquê de ter
this century. It examines the relationship between nascido neste século. Debate as relações entre a TR
TR and the basic principles of US scientific policy e os fundamentos da política científica nos EUA,
established at the end of World War II. It sees the estabelecidos ao final da Segunda Grande Guerra.
demands of a mighty pharmaceutical industry, Interpreta a demanda de uma indústria farma-
currently facing a major crisis, linked to scientif- cêutica poderosa e em crise, associada a dificulda-
ic genomic and post-genomic output impairments des de outputs científicos em quantidade adequa-
in terms of real innovative products and process- da para atendê-la como um móvel suficiente para
es as being the explanation for US government explicar a intervenção do governo norte-america-
intervention in biomedical research via the NIH. no na pesquisa biomédica através do NIH. Enten-
It realizes that it is not easy to predict the future de que é difícil prognosticar o futuro da TR, mas
of TR and suggests that it is not sustained by a que não se trata de uma proposição sustentada em
solid conceptual and theoretical framework. It also terreno teórico-conceitual sólido. Tematiza tam-
discusses the opportunities and possibilities of TR bém a oportunidade e as possibilidades da TR em
in countries with nascent national innovative países com sistemas nacionais de inovação imatu-
systems, such as Brazil. Lastly, it suggests that the ros, como é o caso do Brasil. Finalmente, propõe
existence of a universal health system can be an que a existência de um sistema universal de saúde
1
Associação Brasileira das important tool to provide potential research an- seja a principal ferramenta organizadora das res-
Indústrias de Química Fina,
swers tin health for the demands of innovation postas possíveis da pesquisa em saúde às demandas
Biotecnologia e suas
Especialidades (ABIFINA). on the part of society. de inovação por parte da sociedade.
Av. Churchill 129/1102, Key words Scientific policy, Technological poli- Palavras-chave Política científica, Política tec-
Centro. 20020-050 Rio de
cy, Translational research, Translational medi- nológica, Pesquisa translacional, Medicina trans-
Janeiro RJ.
reinaldo.guimaraes47@ cine, Translational science lacional, Ciência translacional
gmail.com
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Justificativa outros campos de pesquisa em saúde. Em 2003,


os National Institutes of Health (NIH) publica-
“Pesquisa translacional”, “medicina translacio- ram os resultados de uma ampla consulta nacio-
nal” e “ciência translacional” (daqui em frente nal realizada em 2002 e dirigida à comunidade
identificadas pelo acrônimo comum de TR) pa- científica com o objetivo de orientar sua política
recem estar se tornando o principal mote da pes- de longo prazo2. Nesta, foram identificados três
quisa em saúde neste início de século. A ideia da grandes alvos de atuação, sendo um deles cha-
translação ganha o mundo. Uma busca na inter- mado de “Reengenharia da Iniciativa de Pesquisa
net por essas expressões (Google) mostra que, Clínica”. Neste alvo, entre outras ações, foi desta-
além dos EUA (4.400.000 resultados), aparecem cado o fomento ao “estabelecimento de ambien-
com mais de um milhão a Alemanha, o Canadá, tes acadêmicos para a pesquisa clínica e translaci-
o Reino Unido, o Japão, a China, a França, a onal”3. O passo seguinte deu-se em 2006, com a
Austrália e a Índia. A Itália mostra 920.000 resul- criação, no mesmo NIH, de uma linha de fomen-
tados e os demais BRICS e a Coréia do Sul entre to institucional vinculada especificamente a esse
300.000 e 400.000. Com exceção da Suécia, que é alvo, os “Apoios para a Pesquisa Clínica e Trans-
um ator científico relevante no campo da saúde e lacional (CTSA)”. Finalmente, em 2012 foi criada
aparece com 438.000 resultados, a distribuição uma nova unidade do NIH, dedicada especifica-
quantitativa dos países acompanha, grosso mente ao apoio para criação de centros de pes-
modo, sua atuação científica geral quando me- quisa voltados à TR; o “Centro Nacional para o
dida por número de publicações ou citações. Avanço das Ciências Translacionais (NCATS)”.
Em 2009, foi lançada a revista Science Trans-
lational Medicine, agregada à famosa família de A definição e o escopo
periódicos capitaneada pela semanal Science. A da pesquisa translacional
nova revista se propõe a cobrir a pesquisa básica,
translacional e clínica. Existe ainda pelo menos O que vem a ser TR? Em sua pré-história, em
uma revista prestigiosa sobre o tema, o Journal of 1992 no NCI, ela buscava “promover pesquisa
Translational Medicine (virtual e de acesso livre) e interdisciplinar e acelerar a troca bidirecional en-
algumas outras com índice de impacto menor. tre ciência básica e clínica para mover os achados
Mas a translação ganha terreno também no capí- de pesquisa básica do laboratório para ambien-
tulo das especialidades e subespecialidades. A epi- tes aplicados envolvendo pacientes e popula-
demiologia translacional tem espaço em publica- ções”4. Desde então a noção de TR foi incorpo-
ções de grande impacto, como é o American Jour- rando mais e mais “etapas” na cadeia de conheci-
nal of Epidemiology1. Encontramos também um mento, transbordando de aspectos inerentes à
programa de pós-graduação em Cirurgia Trans- pesquisa e desenvolvimento, chegando a englo-
lacional em universidade brasileira de primeira bar processos produtivos e mesmo a incorpora-
linha, o registro de marca de uma revista científi- ção de novos produtos e processos nas práticas
ca na mesma especialidade, o Journal of Translati- de cuidado à saúde.
onal Surgery, bem como registros de artigos ou Ainda no início dos anos 2000, ficou claro que
programas docentes referidos à urologia, oftal- a proposta de TR dizia respeito a temas muito
mologia e ortopedia, todas translacionais. Trata- amplos. Mais especificamente, para que a TR atin-
se, como se vê, de uma marca bem sucedida. gisse os objetivos originalmente propostos, deve-
Como se verá mais adiante, muito embora a ria levar em conta aspectos relativos à pesquisa
TR seja uma inovação nascida nos Estados Uni- científica, ao desenvolvimento tecnológico, à pes-
dos da América, seus impactos já se fazem sentir quisa clínica, ao processo produtivo industrial,
na organização política e institucional da pesqui- ao mundo da regulação, à comercialização de pro-
sa em saúde em muitos outros países, inclusive dutos e, não menos importante, aos próprios sis-
no Brasil. Daí a necessidade de a conhecermos e a temas de saúde. Uma primeira tentativa para sis-
analisarmos. Este é o objetivo deste texto. tematizar esta complexa rede de relações e inte-
resses foi publicada em 20035, tinha como foco a
As origens pesquisa clínica e aí foram identificados dois cam-
pos distintos de compreensão e de intervenção: o
Em sua origem, o termo TR esteve associado primeiro dizia respeito aos fatores que impediam
a pesquisas realizadas no Instituto Nacional de a translação das descobertas científicas básicas
Câncer dos Estados Unidos (NCI) e apenas na para os estudos clínicos e a segunda aos fatores
primeira década deste século foi expandida para que barravam a translação destes para a prática
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médica e à tomada de decisão nos sistemas de soft power que pode ser definido como a utiliza-
saúde. Posteriormente, essa primeira tentativa foi ção por um país de seus valores culturais ou po-
ainda mais ampliada e especificada. Em 2007, pes- líticos no âmbito da política externa8. Para citar
quisadores do Center for Disease Control and Pre- um exemplo de sua utilização, vale lembrar que
vention (CDC), tendo como foco específico a pes- os primeiros movimentos de distensão no perí-
quisa em genômica6 propuseram a existência de odo da guerra fria (1945-1989) ocorreram nos
quatro fases dentro do escopo da TR, quais seri- terrenos científico, artístico e desportivo. Esse co-
am: na fase T1 haveria a translação da pesquisa mentário objetiva a indagação: haveria outro lu-
básica para uma “aplicação candidata” em saúde; gar no mundo onde o aparecimento da TR tives-
na fase T2 a pesquisa avaliaria o valor da aplica- se um berço mais adequado e, principalmente,
ção genômica para a prática de saúde levando ao uma expansão da mesma na magnitude que es-
desenvolvimento de “guidelines” baseados em evi- tamos testemunhando? Muito provavelmente
dências; na fase T3 a pesquisa tentaria mover es- não. Daí decorre a minha hipótese de que essa
ses guidelines para a prática de saúde, mediante a expansão em escala global tem muito mais a ver
entrega, disseminação ou difusão; finalmente, na com a geografia de sua origem do que com o seu
fase T4 a translação procuraria avaliar os desfe- eventual valor enquanto aquisição teórica e mes-
chos reais da aplicação genômica na prática do mo como ferramenta operacional relevante no
cuidado à saúde. plano mundial. Esta afirmativa será discutida ao
Ainda mais recentemente, o “campo” da TR longo do texto.
vem se ampliando para além das fronteiras mé- Dentre os grandes campos da investigação ci-
dico-biológicas e sanitário-industriais, ousando entífica, o da pesquisa em saúde é aquele no qual
incorporar aspectos econômicos, sociológicos, os Estados Unidos mais se distanciam de quais-
jurídicos e éticos. Um exemplo disso é um recente quer competidores. Os últimos dados consolida-
projeto tri-nacional (Áustria, Finlândia e Alema- dos disponíveis sobre os dispêndios globais com
nha), também focado em TR no campo da ge- pesquisa e desenvolvimento em saúde humana
nômica e pós-genômica7, cuja justificativa é apre- são de 20059. Naquele ano estimava-se que US$
sentada como: Translational activities in biome- 160,3 bilhões haviam sido despendidos com P&D
dical research are advocated as a solution to seve- em saúde no mundo, sendo que a fonte de 51%
ral challenges... [including]... to integrate public foi privada, de 41% foi pública e de 8% foi da
health aspects as well as social, ethical and legal filantropia. Naquele mesmo ano, o orçamento
aspects into biomedical research. do NIH, a principal fonte de recursos financeiros
Muito provavelmente, foi essa expansão de federais para a pesquisa científica nos EUA foi de
campos envolvidos no tema a responsável pela US$ 27,8 bilhões10. Vale ainda dizer que a maior
correspondente expansão do escopo do substan- parte desses recursos foi despendida com proje-
tivo que é modificado pelo adjetivo “translacio- tos no campo da pesquisa biomédica. Esses nú-
nal”. Em seus tempos iniciais, era a “pesquisa” meros revelam que os EUA, através do NIH, fo-
translacional (cf. T1 e T2, acima). No momento ram responsáveis por 42,2% dos dispêndios pú-
em que a translação se expande para outros as- blicos globais com pesquisa em saúde humana.
pectos de práticas de saúde sem relação direta No entanto, para um balanço mais preciso, tor-
com a pesquisa, nasce a “medicina translacional” na-se necessário somar ao orçamento do NIH os
(cf. T3 e T4, acima). Quando temas como o co- dispêndios com pesquisa em saúde cujas fontes
mércio, a ética e o direito são admitidos no cam- foram outras agências federais (NSF, NASA, etc.)
po translacional (como exposto nos objetivos do e os estados da federação norte-americana. Um
projeto TRI-GEN), apresenta-se a necessidade de levantamento também referente a 200511, revela
uma “ciência” translacional. que US$ 11,51 bilhões foram oriundos daquelas
fontes. Somados aos recursos do NIH, temos que
O berço da pesquisa translacional. naquele ano os EUA foram a origem de cerca de
Por que nos EUA? 60% de todos os recursos públicos globais desti-
nados à pesquisa em saúde.
Uma das principais formas de exercício da Analisada segundo outra óptica, a da distri-
hegemonia norte-americana em termos globais buição interna dos recursos federais para pes-
dá-se no plano cultural. Escorada nos terrenos quisa e desenvolvimento, a imensa expressão da
do seu poder econômico e militar a utilização da pesquisa em saúde nos EUA fica ainda mais cla-
cultura como ferramenta de construção de hege- ra. No orçamento federal proposto para 2013, a
monia está contida no conceito mais amplo de distribuição por agências está na Tabela 1.
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Tabela 1. Proposta orçamentária federal para EUA, a saber, a Federação das Sociedades de Bio-
pesquisa e desenvolvimento para 2013, segundo logia Experimental (FASEB), a Associação Ame-
ministérios/agências. Estados Unidos da América. ricana para o Avanço da Ciência (AAAS) e a Asso-
ciação das Universidades Americanas, resistiram
Agência US$ bilhões %
à alocação de recursos à TR e também a outro
Defesa 72,6 51,0 programa de fomento institucional do NIH, mais
Saúde (NIH) 31,4 22,1 antigo, denominado “Pesquisa Inovadora em Pe-
Energia 11,9 8,4 quenos Negócios” (SBIR)13. O centro da argu-
NASA 9,6 6,7 mentação dessas entidades foi que as atividades
NSF* 5,9 4,1 de pesquisa translacional deveriam ser orçamen-
Agricultura 2,3 1,6
tadas exclusivamente com “dinheiro novo”, sem
Comércio 2,6 1.8
comprometer os recursos destinados à pesquisa
Outras 6,0 4,2
Total 142,2 99,9 básica, em particular a biomédica (responsável
por pouco mais de 50% do orçamento do NIH).
*
National Science Foundation, agência de fomento à pesquisa O argumento ganha peso quando se sabe que,
assemelhada ao CNPq.
Fonte: Matt Hourihan12.
atualmente, a “taxa de sucesso” (proporção de
propostas aprovadas em relação às apresenta-
das) para um projeto que solicita financiamento
numa linha regular do NIH não passa de 17%.
É a força que decorre desse notável esforço Ainda mais recentemente, em artigo da revis-
de fomento à pesquisa em saúde – biomédica, ta Scientific American14, o autor relembra e apoia
epidemiológica e clínica – esforço que se projeta a tradição da pesquisa científica nos EUA. Pela
globalmente e que se expressa na presença maci- clareza e contundência com que expõe seu ponto
ça de trabalhos nas melhores revistas e nas cen- de vista, vale a pena a transcrição de um trecho:
tenas de milhares de cooperações científicas com …In the last few years this kind of thinking [a
pesquisadores da maioria dos países, que sugere TR] has swamped the public discourse on science.
a explicação de porque a TR nasceu nos EUA e, … The NIH, the largest biomedical research agen-
principalmente, porque se espalhou tão intensa e cy in the world, has also embraced a new National
rapidamente para todo o planeta. Center for Advancing Translational Research. The
director of the NIH… has not tired of pointing out
A pesquisa translacional e os fundamentos the exciting advances in discovering new drugs
da política científica nos EUA which would be made possible by harnessing data
from the human genome project. … All this makes
Mas, se aí nasceu e daí se disseminou, resta the idea of translational research sound promi-
responder a outra pergunta: por que nesta vira- sing. And yet there must be a good reason why
da de século? Qual ou quais traços de conjuntura distinguished Nobel Prize winners like Chalfie,
fizeram nascer e prosperar a ideia de que a má- Steitz, Goldstein and Brown bristle at the mention
quina norte-americana de pesquisa científica em of translational research. … What is wrong is that
saúde – em particular a locomotiva da máquina, translational research is being seen as a panacea
a pesquisa biomédica – deveria ser orientada para that will address the flagging rate of new biomedi-
algo que não fosse governado exclusivamente cal advances…
pelo talento e pela imaginação criativa de seus No nosso modo de ver, o autor expressa sua
pesquisadores? E mais, por que a comunidade convicção baseado num pilar fundamental da cons-
científica norte-americana, amadurecida nos ide- trução da imagem da ciência e da pesquisa nos
ais liberais da liberdade de pesquisa e principal- EUA, bem como de sua política de ciência e tecno-
mente na ideia, hoje algo mítica, de que a pesqui- logia, expressas num muito conhecido e reputado
sa livre e desinteressada – a pesquisa básica – relatório assinado por um assessor dos presiden-
deve governar o avanço da técnica, por que essa tes Roosevelt e Truman, Vannevar Bush. Foi pu-
comunidade e também o público em geral pare- blicado em 1945 e se intitula Science, the Endless
cem estar se deixando levar por essa nova e explí- Frontier15. Bush sustenta dois princípios que, em
cita maneira de organizar a pesquisa? sua opinião, deveriam ser os organizadores do es-
A defesa da pesquisa básica, contra a ascen- forço científico norte americano nos então novos
são da TR, teve um momento de embate na dis- tempos de paz: (1) o principal pilar da política ci-
cussão do orçamento do NIH em 2011/2012. Aí, entífica é a pesquisa básica e a ênfase na pesquisa
os principais baluartes da pesquisa biomédica nos aplicada prejudica o desenvolvimento daquela; (2)
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o progresso técnico é o ponto de chegada de um Entretanto, apesar das resistências na socie-
processo que se inicia na pesquisa básica. dade civil e política, todas as iniciativas do NIH
O segundo princípio de Bush foi atropelado em direção à TR (NCATS, SBIR) foram aprova-
em meados da década de 1960, com a emergência das e devidamente orçamentadas para 2013 (US$
do boom econômico japonês, assentado num 575 milhões para o NCATS). A TR avança e tudo
modelo tecnológico onde a pesquisa científica indica que terá algum sucesso em corroer de
básica não teve maior relevância. Esse então novo modo aberto, no campo da pesquisa em saúde
modelo e os outros que se apresentaram mais humana, o primeiro postulado de Vannevar Bush
tarde (Coreia do Sul e China em particular) fo- sobre o primado da pesquisa básica na política
ram adequadamente estudados por grupos de científica dos EUA. A consolidação da TR como
cientistas sociais da tecnologia na Europa e tam- prática hegemônica no fazer científico no campo
bém nos EUA, com destaque para os que cons- da saúde será uma alteração importante em dé-
truíram o conceito de Sistemas Nacionais de Ino- cadas de um discurso de política científica que,
vação16. Entretanto, o primeiro postulado, que mesmo que já não correspondesse à prática des-
rezava a proeminência da pesquisa básica como sa política, ainda vinha alimentando com eficá-
pilar máximo do discurso sobre a política cientí- cia as projeções hegemônicas globais norte-ame-
fica tem sido um princípio que, com oscilações ricanas no terreno cultural-científico, bem como
ocasionais – a mais importante delas, segundo um dos grandes motivos de orgulho nacional. É
Smith17, ocorrida no período que vai de meados uma evidência reveladora da liderança norte-
da década de 60 ao final da década seguinte – americana no campo da pesquisa em saúde, bem
permanece na ordem do dia da política científica como de sua utilização no terreno do soft-power
norte-americana. Do pós-guerra imediato até hoje a contabilidade da presença de pesquisadores
houve grandes ajustes práticos nesse postulado, é norte-americanos nas listas de prêmios Nobel
claro, em particular no sentido da construção de de Fisiologia e Medicina. Entre 1945 e 2012 fo-
uma hoje complexa arquitetura de mediações fi- ram 151 premiados e 84 eram norte-americanos
nanceiras e institucionais entre a fonte principal (56%)20. Mas, se aquele discurso é ainda funcio-
da pesquisa básica nos EUA – as universidades – nal nos planos políticos interno e externo, por
e o ponto mais frequente de chegada das aplica- que a mudança? Para discutir uma resposta a
ções científicas – as empresas – que resultaram essa questão, é necessário passar do terreno po-
em crescente interpenetração entre as duas esfe- lítico para o econômico.
ras. Numa outra vertente, houve ajustes também
no sentido de uma crescente participação de en- Promessas frustradas?
comendas tecnológicas governamentais às uni-
versidades e institutos de pesquisa. Entretanto, Há consenso hoje em dia quanto à interpreta-
em termos de prestígio e imagem pública, a pes- ção de que a “aplicação” da pesquisa básica que
quisa científica básica como pilar da política cien- alicerçou os postulados de Vannevar Bush sobre
tífica restou incólume no imaginário da comuni- a política científica foram as bombas atômicas
dade científica, de boa parte da sociedade política lançadas sobre o Japão21. As aquisições teóricas e
e mesmo da população norte-americana. Sobre experimentais fundamentais da física desenvolvi-
essa continuidade, um importante acadêmico de das no final do século XIX e na primeira metade
Harvard e conselheiro científico dos presidentes do século XX foram expressas numa inovação,
Eisenhower, Kennedy e Johnson, Harvey Brooks, num produto, num artefato que foi imaginado
argumenta que, a despeito de oscilações, a políti- por uma boa parte dos cientistas básicos envolvi-
ca científica permanece essencialmente inalterada dos anteriormente naquelas aquisições científicas,
desde o relatório de Bush18. além de ter sido construído com a participação de
Nesse imaginário, as propostas da TR agri- muitos deles no Projeto Manhattan.
dem de um modo contundente a visão de 1945 Entretanto, sem maior pretensão de rigor his-
quanto ao papel da pesquisa básica. E não é por tórico, se poderia dizer que entre o desvelamento
outra razão que a recente (2012) proposta de cri- da estrutura do DNA (1953) e o lançamento do
ação dos NCATS pelo NIH provocou reação, não Projeto Genoma (1990), paulatinamente, a bio-
apenas em segmentos da comunidade científica, logia, tendo a frente as suas aquisições a nível
como a do artigo do Scientific American e de molecular, se afirma como a “ciência líder” em
organizações representativas da comunidade de substituição à física. Essa posição de “liderança”
pesquisa biomédica, já citados, como também foi alcançada essencialmente nos terrenos da ge-
no Congresso norte-americano19. nética, da bioquímica e da pesquisa clínica e pode
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ser avaliada, entre outros indicadores, pelo pres- noma Humano (em 1990 orçado em US$ 15 bi-
tígio social de disciplinas do campo biológico lhões para 15 anos), após mais de 20 anos de
expresso, por exemplo, na informação quase di- pesado estímulo financeiro por muitos países,
ária dos jornais e revistas sobre novas descober- com os EUA à frente, os resultados em termos de
tas nesses campos. inovações decorrentes de translações desde a pes-
Uma das características mais importantes
dessa publicidade de resultados de pesquisas é o
seu “gancho” translacional. Habitualmente, há
uma promessa de inovações associadas à desco-
berta anunciada. Mesmo que, numa avaliação Genome research
equilibrada, a possibilidade da inovação (pro- 2500
duto ou processo no mercado) esteja a muitos
anos (por vezes décadas) de ser concretizada. A 2000
cura do câncer mediante anticorpos monoclo-

Documents
nais e vacinas recombinantes, a recuperação de 1500
tecidos lesados mediante a manipulação de célu-
las-tronco e tantas outras promessas são anun- 1000
ciadas de tal modo que se pode conjecturar que o
principal objetivo do anúncio seja o de criar um 500
mecanismo de retroalimentação cuja materiali-
dade mais importante talvez seja a de garantir 0
mais recursos financeiros para a continuidade 1960 1970 1980 1990 2000 2010
das pesquisas. Year
Vinculada a essas promessas e às expectativas
sociais por elas criadas, crescem as dúvidas sobre Gráfico 1. Número de documentos sobre pesquisa
se os recursos financeiros investidos nos capítu- em genômica presentes na Base SCOPUS/Elsevier.
los mais dinâmicos da biologia molecular, vale 1960-2010.
dizer, a genômica, a proteômica e todas as demais
“ômicas” que vieram a seguir – além da pesquisa Fonte: Jones23 (Uso do gráfico autorizado por SCOPUS/Elsevier).
clínica – têm atingido as etapas de translação pro-
metidas em escala e tempo adequados. Em ou-
tros termos, crescem as dúvidas se à quantidade
de dinheiro colocado à disposição “da bancada”
tem correspondido em número e relevância, re-
sultados “na beira do leito” ou “na comunidade”. Proteomics Interactomics
Transcriptomics Glyomics
Uma estimativa do volume de recursos finan- Metabolomics Secretomics
ceiros investidos pode ser obtida a partir dos 60000
dados de desembolso recente do NIH segundo
áreas de pesquisa. Aí se evidencia que, em 2011, o 50000
primeiro, o segundo e o quarto destinos dos re-
40000
Documents

cursos do NIH foram, respectivamente, a pes-


quisa clínica, a genética e a biotecnologia22. Quan- 30000
do medida por publicações, o crescimento da
produção científica nesses campos é exponenci- 20000
al, conforme os Gráficos 1 e 2, que registram o 10000
número de documentos sobre a genômica e às
demais “ômicas” em anos recentes, a partir dos 0
registros existentes na base Scopus/Elsevier23. 1990 1995 2000 2005 2010
Na outra ponta da translação, entretanto, Year
essa fartura está longe de existir. De acordo com
o já citado trabalho de Khoury et al.24 os autores
Gráfico 2. Número de documentos sobre pesquisa
afirmam que não mais do que 3% das publica-
em áreas pós-genômicas presentes na Base
ções alcancem as etapas T2, T3 e T4. SCOPUS/Elsevier. 1990-2010.
Em outros termos, o que se passa é que, to-
mando como ponto de partida o projeto do Ge- Fonte: Jones23 (Uso do gráfico autorizado por SCOPUS/Elsevier)
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quisa biomédica ainda não são entusiasmantes. da física do início do século XX e a sua mais visí-
Outra evidência sobre a falta de entusiasmo vel inovação tecnológica, “colocada no mercado”
com os resultados das translações diz respeito em 1945. Em 1951, Robert Oppenheimer, então
ao financiamento de empresas do tipo start-up diretor do Laboratório Científico de Los Alamos
envolvidas com projetos de TR. Além do NIH e afirmou:
de outras agências federais norte-americanas, esse “as coisas que aprendemos [durante a guer-
financiamento é realizado por empresas de ven- ra] não são muito importantes. As coisas verda-
ture capital que captam recursos de investidores deiramente novas foram aprendidas em 1890,
dispostos a se associar a projetos com promessa 1905 e 1920, em todos os anos que conduziram à
de sucesso, por tempo determinado e com parti- guerra, e nós pegamos essa árvore carregada de
cipação nos lucros caso o sucesso se confirme. frutos maduros e a sacudimos e delas caíram o
Nos últimos anos, a atratividade de projetos de radar e as bombas atômicas... O espírito era o de
TR em start-ups biotecnológicas não tem apre- uma exploração frenética e um pouco inescru-
sentado crescimento sustentado. A partir de 2009, pulosa do conhecido; não o de uma tentativa
o número de operações e o volume financeiro sóbria e modesta de penetrar o desconhecido”21.
oscilam, conforme a Tabela 2. Os dados foram Na nossa leitura, essa citação de um dos líde-
retirados de Art Wuster25. res do desenvolvimento da bomba atômica reve-
É verdade que a escassez relativa de atrativi- la duas coisas importantes: em primeiro lugar,
dade pode ser decorrente, não do desencanto dos ele fala do necessário tempo de maturação de
investidores com a TR, mas da crise econômica ideias científicas (os frutos devem estar madu-
que atingiu os EUA e a Europa a partir de 2008. ros) para que a ciência possa responder às de-
Será, portanto, necessário aguardar a recupera- mandas da sociedade. Mas Oppenheimer fala
ção da economia norte-americana para confir- também da pressão das demandas sociais para
mar ou não a tendência mostrada pelos núme- alavancar a “sacudida” na árvore (a exploração
ros da figura. frenética e um pouco inescrupulosa do conheci-
O descompasso entre as aquisições científi- do). Em outros termos, Oppenheimer sugere que
cas da biologia molecular e as inovações “na bei- a pressão da demanda, neste caso uma pressão
ra do leito” e “na comunidade” poderia ser de- política e militar, foi importante para acelerar a
corrente de um processo natural de desenvolvi- “translação”.
mento e maturação de ideias científicas ao ponto Seria possível encontrar uma pressão de de-
das mesmas estarem aptas a fornecer respostas manda correspondente capaz de explicar toda a
a demandas colocadas pela sociedade. É lícito mobilização político-institucional e os estímulos
conjecturar que aquele conhecimento novo tal- financeiro-organizacionais associados à TR na
vez ainda necessite de tempo para fazê-lo. conjuntura atual? Algo que, como apontou Oppe-
Para explorar esse aspecto da questão, volte- nheimer na outra conjuntura, pudesse sacudir a
mos à história do grande momento da “transla- árvore carregada de frutos maduros da qual ca-
ção” entre as aquisições teóricas e experimentais íssem as inovações no campo da saúde?

A crise da Indústria farmacêutica

É viável supor que essa pressão tenha vindo


Tabela 2. Número e Valor dos investimentos de de um dos mais poderosos setores industriais
Venture Capital em empresas biotecnológicas
norte-americanos. Os Estados Unidos são líde-
vinculadas à genômica. 2006-2012.
res mundiais na descoberta, desenvolvimento,
Número de Valor médio patenteamento, registro, produção e vendas de
Anos operações das operações (AxB) medicamentos. Com a crescente presença de tec-
(A) [US$ milhões] (B) nologias biotecnológicas, a indústria farmacêu-
2006 13 13,2 172 tica cada vez mais se autodenomina “biofarma-
2007 8 17,8 143 cêutica”. Este mercado, em 2011 (US$ 320 bilhões
2008 11 14,3 157 em vendas), respondeu por 37,4% do mercado
2009 18 19,9 357 coberto pelas 20 maiores empresas globais (US$
2010 19 20,1 381 855 bilhões – cerca de 80% do mercado farma-
2011 22 15,1 332 cêutico mundial). No mesmo ano, dentre as dez
2012 16 24,5 392 maiores empresas biofarmacêuticas no mundo,
Fonte: Modificado de Wuster25. quatro (Pfizer, Merck, Johnson & Johnson e Ab-
1738
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bott) eram norte-americanas e responderam por Aqui, o objetivo principal é o compartilhamento


cerca de 20% do mercado global26. Em 2008 o do risco. A segunda é uma mudança de atitude
setor respondia por 655 mil empregos diretos e em relação a medicamentos genéricos, que dei-
905 mil indiretos, contribuindo com US$ 114 bi- xaram de ser “criminalizados” e vêm sendo cres-
lhões para o PIB dos Estados Unidos. Uma in- centemente incluídos nos porta-fólios das gran-
dústria com essa pujança não tem alternativa se des empresas. A terceira tem sido o tensiona-
não a de exercer o seu poder. Nota recente afirma mento das políticas de proteção à propriedade
que a indústria biofarmacêutica gastou, desde intelectual em vários países, com a proposição
1998, US$ 3,2 bilhões com lobbies e US$ 183 mi- de regras cada vez mais rígidas de proteção da
lhões com doações de campanhas eleitorais27. propriedade intelectual mediante patentes. Essas
Mas a despeito de seu poder e de sua históri- medidas são conhecidas genericamente nos fó-
ca lucratividade, a indústria biofarmacêutica glo- runs internacionais como medidas Trips-Plus e
bal, inclusive a norte-americana, vive uma crise várias de suas propostas restritivas têm sido in-
importante desde a última década do século pas- cluídas nos acordos bilaterais e multilaterais de
sado, cujos principais determinantes são o au- livre comércio celebrados entre os Estados Uni-
mento exponencial de custos para o desenvolvi- dos e outros países. Mencione-se, por exemplo,
mento de novas moléculas, em particular em suas a renúncia à aplicação de algumas flexibilidades
fases mais tardias de pesquisa clínica e a queda dos acordos Trips, como a utilização de licencia-
da proteção patentária de medicamentos de gran- mentos compulsórios. Finalmente, a quarta di-
de retorno financeiro. O principal indicador da reção, na verdade a que chegou primeiro, é a que
crise é a diminuição do número de registros de se poderia chamar de uma radicalização nas es-
moléculas realmente inovadoras nos principais tratégias comerciais das grandes farmacêuticas,
mercados, em particular os registros feitos no cujas práticas chegaram a atingir as fronteiras da
Federal Drug Administration (FDA)28. Essa crise ética e mesmo da legalidade, o que atestam os
gerou uma intensa disputa entre firmas pela con- recentes acordos celebrados entre farmacêuticas
quista de pipelines promissores, em particular os de grande prestígio e a justiça norte-americana.
pertencentes a empresas de biotecnologia, sendo Dentre estes, surpreende o que estabeleceu, em
este campo de conhecimento considerado o ca- agosto de 2012, multa de US$ 3 bilhões pelo exer-
minho alternativo à escassez de moléculas novas cício de práticas comerciais ilegais realizadas pela
(desenvolvidas historicamente pela rota de sín- empresa britânica Glaxo Smith Kline durante a
tese química). A disputa se expressou por uma primeira década deste século30.
grande onda de fusões e aquisições, algumas des- Em resumo, a situação atual da indústria far-
tas de caráter hostil. Consulta na internet revela macêutica mundial é a perda de proteção paten-
que, entre 2010 e 2012, no mínimo 14 empresas tária de produtos geradores de grandes receitas,
farmacêuticas de base biotecnológica mudaram num ambiente de diminuição de lançamentos de
de mãos ou se associaram a empresas biofarma- novos produtos que os substituam. E como pode
cêuticas maiores. A maior transação nessa onda ser depreendido do que descrevemos acima, as
foi a aquisição hostil da empresa norte-america- medidas tomadas pelas empresas ficaram, pre-
na Genzyme pela francesa Sanofi-Aventis, no va- dominantemente, a cargo dos seus departamen-
lor de C 14,7 bilhões. tos, financeiro, comercial, de marketing e jurídi-
A propósito da crise nos registros de molécu- co. Sendo, no entanto, um setor industrial que se
las inovadoras, vale registrar que O FDA anun- autodenomina “de pesquisa” (rótulo correto,
ciou que em 2012 foram registradas 35 novas haja vista investimentos em P&D das casas-ma-
moléculas inovadoras, número idêntico ao de trizes em torno a 15% na receita de vendas), tor-
2011 e que recupera o número observado em nou-se essencial ouvir algo dos departamentos
200429. Pode ser o início de uma recuperação, bem de P&D. A resposta deste é a necessidade de ex-
como uma oscilação eventual. Há que aguardar ploração cada vez maior da rota biotecnológica,
a continuação da série. na qual o conhecimento oriundo das “ômicas” –
Entretanto, as compras e as fusões não fo- insumo fundamental da TR – é essencial.
ram a única resposta do setor à crise. Além delas, Torno então à pergunta que foi feita mais aci-
a reação tem se orientado em mais quatro dire- ma: seria possível encontrar uma pressão de de-
ções. A primeira são mudanças no modelo geral manda correspondente capaz de explicar toda a
de negócios, cuja essência reside no refreamento mobilização político-institucional e os estímulos
da verticalização nos processos de desenvolvi- financeiro-organizacionais associados à TR na
mento e produção, com crescente terceirização. conjuntura atual? Algo que, como apontou Oppe-
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nheimer na outra situação, pudesse colaborar para translação. Por um lado, há uma visão linear e
sacudir a árvore carregada de frutos maduros e, unidirecional (da bancada para a beira do leito)
da qual caíssem as inovações no campo da saúde? que é utilizada pela maioria da bibliografia; ou-
A demanda de uma indústria farmacêutica tro modelo seria uma translação bidirecional e
poderosa e em crise, associada a dificuldades de ainda linear (da bancada para a beira do leito e,
outputs científicos em quantidade adequada para por vezes, daí novamente para a bancada); final-
atendê-la pode muito bem estar exigindo a inter- mente, uma visão mais complexa, na qual o pro-
venção do governo norte-americano através do cesso de translação seria um processo dinâmico
NIH. O objetivo essencial é o de fomentar algum e de sentido variado. Em nosso modo de ver,
tipo de esforço adicional da comunidade científi- estes três modelos de translação nada têm de novo
ca para suprir uma demanda estratégica para o e correspondem, em terreno mais restrito, à dis-
país. Não se trata, a rigor, de uma nova “pesqui- cussão dos modelos gerais de explicação do pro-
sa”, nem “medicina”, nem muito menos “ciência”, gresso técnico entre o final da Segunda Guerra
translacionais. Estes são nomes para marcas de Mundial e os dias de hoje, a saber: o modelo line-
fantasia. Trata-se apenas de estímulos para uma ar sustentado na perspectiva science push, o mo-
“sacudida” na árvore, para que seus frutos ama- delo linear market pull e o modelo complexo,
dureçam e possam então cair. Resta saber se, como combinando estímulos de oferta e demanda e
aconteceu em 1945, já há frutos maduros na árvo- tendo a ciência básica como fonte de oportuni-
re, ou se será necessário esperar mais um pouco. dade estratégica33.
Mas não se trata de menosprezar a movida. O Em terceiro lugar, Laan e Boenink31 discutem
movimento da TR pode significar uma adequa- as ambiguidades sobre a origem da brecha trans-
ção importante na política científica norte-ameri- lacional, apontando duas tendências: a primeira
cana no campo da pesquisa em saúde humana, que a considera fora dos marcos da ciência como,
na medida em que se consiga superar, no âmbito por exemplo, as dificuldades financeiras, institu-
do discurso, aquilo que já tem uma expressão cionais e de canais de comunicação entre banca-
matizada na sua prática política há muito tempo: da e beira do leito, algo como problemas opera-
refiro-me ao princípio número 1 de Vannevar cionais que dificultariam uma prática científica
Bush, a saber: “o principal pilar da política cientí- mais inclinada a superar brechas para a aplica-
fica é a pesquisa básica e a ênfase na pesquisa apli- ção de descobertas científicas; a outra situa a ori-
cada prejudica o desenvolvimento daquela”. Caso gem da brecha ao interior mesmo do fazer cien-
se logre este feito, não terá sido pouca coisa. tífico como, por exemplo, a forma de pesquisar e
a percepção que os cientistas têm de seu próprio
papel profissional e social. Frisamos nós que as
Conclusão propostas políticas postas em prática pelo go-
verno norte-americano através do NIH tendem
Qual o futuro da TR? Difícil prognosticar, mas a valorizar a primeira das duas visões. Os dois
alguns aspectos podem ser discutidos. Em pri- programas de fomento institucional que foram
meiro lugar, tudo sugere que, a despeito de seu propostos pela agência, os Clinical and Transla-
sucesso, não se trata de uma proposição susten- tional Science Awards (CTSA) e os National Cen-
tada em terreno teórico-conceitual sólido. Uma ters for the Advancement of Translational Science
recente discussão conceitual sobre o tema31 apon- (NCATS), buscam superar supostas dificulda-
ta três dimensões pouco claras nas proposições des operacionais que estariam tolhendo os ca-
sobre a TR e que as fragilizam. minhos da translação.
A primeira delas é a extensão da “brecha” que A despeito dessas dificuldades conceituais, vale
a TR se propõe a superar. Por um lado, se consi- reafirmar a importância de um alinhamento en-
dera aquela entre T1 e T2, conforme trabalho tre o discurso e a prática na política científica nos
aqui citado anteriormente32. Por outro, uma bem EUA. Como já observamos mais acima, a maior
mais ampla a superar, entre T1 e T4, seria o ob- contribuição da TR para a cultura científica nor-
jetivo da TR. Em nosso entendimento, essa mai- te-americana talvez seja a produção deste alinha-
or ou menor extensão da brecha a ser superada mento no campo da pesquisa em saúde e, em
decorreu da contínua expansão da definição dos particular, na biomedicina. Entretanto, nos pa-
limites do escopo da TR, conforme discutido por rece válido perguntar o porquê da construção de
nós em seção anterior deste texto. uma nova marca, com evidentes debilidades teó-
Em segundo lugar, há uma fragilidade nas ricas, quando os mesmos EUA já produziram
explanações quanto aos modelos explicativos da outra construção sobre as relações entre a ciên-
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cia e a inovação tecnológica com maior abran- norte-americanas. Se a nossa interpretação da


gência (não apenas relacionada à pesquisa em sinergia conjuntural de interesses entre indústria
saúde humana) e, mais relevante ainda, lastrea- (demanda), comunidade científica da saúde (ofer-
da em sólida evidência teórica e histórica? Referi- ta) e governo (NIH) como motor da construção
mo-nos ao tema e às propostas discutidas por do modelo da TR for confirmada, é lícito supor
Donald Stokes em seu muito conhecido livro “O que esse modelo será mais consistente e susten-
Quadrante de Pasteur”, de 199721. tável nos países com sistemas nacionais de ino-
Entre as inúmeras contribuições do livro de vação maduros ou, pelo menos, em situação de
Stokes, uma das mais importantes talvez seja a catching-up, conforme o enquadramento pro-
análise do processo de desconstrução política do posto em algumas linhas de pesquisa existentes
paradigma orientador das relações entre ciência entre nós34-36. Países com sistemas de inovação
e inovação nos EUA desde 1945, processo até en- imaturos, como é o caso do Brasil, mesmo que
tão ainda não encerrado (o livro de Stokes é de com um parque científico importante no campo
1997). Para o ponto em que se encontrava o de- da saúde, tenderão a não reproduzir com eficiên-
bate no final do século passado, Stokes sumariza cia o modelo do NIH.
cinco pontos que deveriam orientar a sua conti-
nuidade. São eles: O caso brasileiro
1. “A visão paradigmática da ciência e da tec-
nologia que emergiu da Segunda Guerra Mun- Se for verdadeira a interpretação abraçada
dial forneceu uma descrição notoriamente incom- nesse texto, de que a aparição e o desenvolvi-
pleta do relacionamento real entre a pesquisa mento da TR nos EUA decorrem de uma conjun-
básica e a inovação tecnológica”. tura na qual a demanda estabelecida por uma
2. “A incompletude do paradigma do pós- indústria cujo componente tecnológico possui
guerra está prejudicando o diálogo entre a co- forte base científica, politicamente poderosa e em
munidade cientifica e a comunidade política e crise não tem sido atendida a tempo e a hora
atrapalhando a busca por um novo pacto entre pelos resultados de pesquisas que se esperaria
ciência e governo”. alimentá-la, cabe indagar sobre a inserção do
3. “Uma visão mais realista do relacionamen- Brasil nessa equação.
to entre a ciência e a tecnologia deve reservar es- Como já foi observado mais acima, o discur-
paço para o papel criticamente importante da so – e até certo ponto também a prática – da TR
pesquisa básica inspirada pelo uso, de fazer a se dissemina desde a potência líder mundial para
ligação entre as trajetórias semiautônomas do os outros países centrais que, como ela, são tam-
entendimento científico e do conhecimento tec- bém possuidores de sistemas nacionais de inova-
nológico”. Vale lembrar que Stokes localiza a ‘pes- ção maduros no setor de saúde. É possível imagi-
quisa básica inspirada pelo uso’ em seu ‘Qua- nar que países com sistemas em situação de ca-
drante de Pasteur’, com o nome de pesquisa es- tching up sejam também crescentemente envolvi-
tratégica. dos nesse ambiente. Mesmo países com sistemas
4. “Um entendimento mais claro, por parte nacionais de inovação imaturos, mas com com-
das comunidades científica e política, do que a ponentes setoriais diferenciados, podem estar in-
pesquisa básica inspirada pelo uso pode ajudar a teressados no modelo TR. Por exemplo, no exer-
renovar o pacto entre a ciência e o governo, um cício grosseiro de busca por documentos que tra-
pacto que deve também conferir apoio à pesqui- tam do tema da TR mencionado na abertura des-
sa básica pura”. te texto, verificamos que a Índia, que se apresenta
5. “Só se poderão construir agendas de pes- na web num padrão similar aos países centrais e
quisa básica inspirada pelo uso por meio da con- que ainda não tem um sistema nacional de inova-
jugação de avaliações bem fundamentadas das ção maduro37, por certo já amadureceu seu com-
promessas de pesquisa e das necessidades da so- ponente setorial de saúde mediante o desenvolvi-
ciedade”. mento de uma poderosa indústria farmacêutica,
No nosso modo de ver, aí estaria uma boa hoje em dia um player mundial.
agenda para que se pudesse encaminhar uma dis- Não é o caso brasileiro. Muito embora em
cussão sobre o futuro da TR. Uma agenda politi- franca evolução no último decênio (para a indús-
camente comprometida e conceitualmente fun- tria farmacêutica)38, o nosso sistema nacional de
damentada. inovação, incluído aí seu componente setorial de
Um segundo aspecto a ser discutido é a eficá- saúde ainda não foi capaz de desenvolver as insti-
cia e a sustentabilidade da TR fora das fronteiras tuições e os mecanismos suficientes para que se
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possa considerar que entramos numa fase de ca- ternacionalização é uma ameaça importante, haja
tching-up37. Na vertente mais desenvolvida desse vista que as empresas multinacionais têm difi-
sistema, que está no lado da oferta, o país vem culdade de realizar etapas importantes de pes-
galgando posições no cenário internacional con- quisa e desenvolvimento em países periféricos. A
forme revelam os levantamentos em bases de da- quase totalidade das despesas realizadas no Bra-
dos que indexam trabalhos publicados, bem como sil declaradas por empresas farmacêuticas trans-
na massa crítica envolvida. E neste contexto, o nacionais dizem respeito a ensaios clínicos em
setor de saúde humana é um dos destaques39. Na suas fases III e IV, nos quais quase não existe
comparação interna, o setor de saúde humana é participação de grupos de pesquisa de bancada.
aquele com maior capacidade instalada, seja em Além disso, nesses ensaios, os graus de liberdade
número de grupos de pesquisa ativos40, seja em dos pesquisadores clínicos brasileiros costumam
número de programas de pós-graduação reco- ser muito limitados pela adesão estrita a proto-
mendados, segundo a CAPES/MEC. colos elaborados também no exterior.
A vertente da demanda, entretanto, revela um Não é nova a constatação de que, entre ou-
complexo industrial da saúde ainda em desen- tras, as dificuldades enfrentadas pelas políticas
volvimento, seja quando relacionado com a com- de ciência, tecnologia e inovação no Brasil resi-
plexidade e o tamanho da economia brasileira, dem no fato de que o nosso sistema científico-
seja com a dimensão do mercado interno, seja tecnológico se organiza essencialmente segundo
com sua projeção no mercado global. No seg- padrões de oferta de conhecimento. Menos, tal-
mento de equipamentos de saúde, observam-se vez, pelo grande e sustentado apoio aos grupos
concentração e internacionalização crescentes, em de pesquisa científica ao longo do tempo e mais
particular nos nichos mais intensos em tecnolo- pelo padrão de industrialização brasileiro, desde
gia (eletroeletrônico, óptico e de mecânica de pre- os anos 50 do século passado41. Visto por outro
cisão). No segmento de vacinas a presença quase ângulo, as dificuldades e a intermitência nas rela-
exclusiva do setor público no desenvolvimento e ções entre a pesquisa científica, a tecnologia e as
produção é, por um lado, solução (regulação de inovações ocorreriam menos por uma falta de
mercado e melhor aderência da produção às pri- preocupação dos pesquisadores em orientar suas
oridades de saúde pública), mas é também um atividades para responder às demandas do setor
problema (maior dificuldade no desenvolvimento produtivo, e mais pela ausência dessa demanda
e introdução de vacinas modernas). E no seg- em direção às atividades de pesquisa que embu-
mento farmoquímico/farmacêutico, o quadro tam promessas de serem desenvolvidas.
enseja otimismo, mas com a consciência de que É no contexto das relações entre oferta e de-
os desafios são ainda gigantescos. Após sua qua- manda de conhecimento no campo da saúde
se completa destruição durante o período de aber- humana que se situa a proposta da TR. Seu obje-
tura comercial dos anos 90 (principalmente no tivo, como vimos, é alterar a forma de relaciona-
componente farmoquímico), a partir da intro- mento entre os pesquisadores e a indústria a partir
dução da Lei dos genéricos (2000) vem se obser- de um reforço na oferta, que hoje em dia estaria
vando um crescimento vigoroso e sustentado. aquém das exigências das demandas das empre-
Indústrias de capital nacional encontram-se hoje sas farmacêuticas. Uma alteração, portanto, nas
entre as maiores do mercado brasileiro e ensai- tradicionais e intensas relações universidade-
am seus primeiros passos consistentes na busca empresa nos países centrais. Esta, decididamen-
do desenvolvimento de produtos inovadores. te, não é a situação brasileira. Para nós, o foco
Entretanto, se a aposta no nicho dos genéricos principal do problema é estimular a demanda
vem garantindo até hoje certa imunidade da in- das empresas (e também do sistema de saúde).
dústria brasileira face à crise da Farma mundial, Apenas secundariamente, buscar reorientar ou
o crescimento das atividades mais sofisticadas mesmo estimular a oferta de conhecimento.
de inovação farão com que essa imunidade di- Estudo recente revela que as relações entre
minua muito de intensidade. Em particular no grupos de pesquisa e empresas no Brasil vêm
universo das rotas produtivas biológicas. crescendo42. Entretanto, sugere também que elas
Tal qual no segmento dos equipamentos, no são mais fortes nas situações nas quais estão en-
ambiente farmoquímico/farmacêutico há tam- volvidas tecnologias de média e baixa intensida-
bém um processo de internacionalização em cur- de. Além disso, a indústria da saúde não é especi-
so. No nosso tema, que é a relação entre a cria- almente mencionada como uma das “campeãs”
ção científica e a solução de problemas de saúde no item da interação com as universidades. En-
mediante produtos e processos inovadores, a in- fatizamos este último aspecto na medida em que
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a TR envolve especialmente atividades genômi- manda, através do fortalecimento do mercado


cas e pós-genômicas no campo da biologia mo- público como demandante do Complexo Indus-
lecular, isto é, atividades de alta tecnologia. trial da Saúde brasileiro43. Estratégia correta, uma
Entretanto, a situação brasileira introduz vez que a mobilização da nossa capacidade insta-
outra vertente de análise, que é a existência de lada em pesquisa científica dar-se-á por pressões
um sistema de saúde público e universal poten- de demanda desse complexo.
cialmente demandante e um mercado interno Entretanto, no nosso entender, para que uma
importante e crescente como consequência de política dessa natureza seja consequente, o gestor
políticas de inclusão social. Daí que uma política público deve liderar também a política no que se
industrial setorial fortemente fomentada pelo refere à organização da oferta de conhecimento,
mercado público poderá vir a ser um caminho mediante o fomento aos grupos que realizam
para o desenvolvimento de uma indústria da pesquisa científica no campo da saúde, pari passu
saúde hoje ainda carente de densidade tecnoló- ao fortalecimento da capacidade inovadora das
gica autóctone, mas que poderá se tornar, no empresas do complexo da saúde. Entendemos
médio prazo, demandante regular de conheci- que, se ao fortalecimento que já começa a ser
mento ao parque científico de saúde. No entan- observado pelo lado da demanda, não corres-
to, esse caminho ganhará maior viabilidade no ponder um correspondente – pelo Ministério da
contexto da construção de uma política setorial Saúde em cooperação com o Ministério da Ciên-
de ciência, tecnologia e inovação na qual o gestor cia, Tecnologia e Inovação – da oferta, podere-
do sistema público de saúde tenha grande pre- mos chegar a desconfortável situação de uma
sença e, por que não dizer, posição de liderança. árvore sem “frutos a serem sacudidos”, confor-
Em outras palavras, uma política na qual a de- me a metáfora de Robert Oppenheimer.
manda da sociedade por mais e melhores servi- Para tanto, será necessário um olhar especial
ços e produtos de saúde tenha um papel central. para todo o amplo leque da investigação científi-
Desde o ano 2000, com a criação do Depar- ca em saúde – biomédica, clínica, tecnológica e
tamento de Ciência e Tecnologia do Ministério epidemiológica – de modo a priorizar as linhas
da Saúde e, principalmente a partir de 2003 com mais promissoras, muitas delas na vertente de-
a inauguração da sua Secretaria de Ciência, Tec- nominada por Stokes como ‘pesquisa básica ins-
nologia e Insumos Estratégicos, o ministério está pirada pelo uso’. Mais do que programas de pes-
minimamente apetrechado para o cumprimen- quisa, medicina ou ciência translacionais, este
to dessa missão. Resta perseverar na construção pode ser um caminho para contribuir com o
dessa política que, a nosso ver, nos últimos dez amadurecimento de nosso sistema nacional se-
anos talvez tenha avançado mais no lado da de- torial de inovação.
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