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INVENTÁRIO DE RECURSOS FLORESTAIS

Conceitos básicos
Introdução
Introdução

Î Silvicultura (Forestry)
9 Silvicultura é a ciência, a arte, o negócio, a prática, de conservar
e gerir florestas e áreas florestais de modo a fornecer de modo
sustentável produtos florestais, a manter a saúde e estabilidade
das áreas florestais, assim como quaisquer outros valores
associados às florestas considerados desejáveis pelo produtor
florestal e pela sociedade em geral
(Ford-Robertson, 1971)
Î Gestão Florestal
9 A actividade florestal implica a tomada de decisões sobre a relação
entre o homem e a floresta, em particular sobre o modo como o
homem a modifica para alcançar os seus objectivos - gestão
florestal
Introdução

Î Inventário e monitorização de recursos florestais


9 Os “gestores” de recursos florestais (políticos, gestores privados e
públicos, florestais, etc) necessitam de dados fiáveis nos quais
possam basear as suas opções de gestão
9 Os programas de inventariação e monitorização de recursos
florestais fornecem esta informação
9 O inventário de recursos florestais implica a caracterização de
uma determinada área florestal enquanto que a monitorização de
recursos florestais tem como objectivo a avaliação das alterações
dos recursos, tentando avaliar as causas das mudanças
observadas assim como a verificar se os planos de gestão florestal
estão a decorrer de acordo com o previsto
Introdução

Î O que é então o Inventário Florestal?


9 É o conjunto de técnicas que nos permitem obter os dados para a
caracterização de um ecossistema florestal

Î Para tal recolhe-se informação de diversos tipos:


9 definição da tipologia dos povoamentos florestais
9 informação sobre a área de cada tipo de povoamento
9 características das árvores e dos povoamentos
9 characterísticas de outra vegetação presente
9 recursos cinegéticos e aquícolas
9 recursos hídricos
9 outra informação (cada vez mais...)
Introdução

Î Evolução da floresta (Kimmins, 1997)

Estágio de desenvolvimento Resultados

Pre-silvicultura Exploração Deplecção de recursos

Estágio 1 Silvicultura baseada Falha em atingir os objectivos de


na produção conservação e sustentabilidade
Produção sustentada de madeira
Estágio 2 Silvicultura baseada compatível com a manutenção
na ecologia do equilíbrio do ecossistema

Estágio 3 Silvicultura baseada Silvicultura baseada na ecologia


na sociedade e que permite manter um vasto
conjunto de condições e valores
desejados pela sociedade
Introdução

As necessidades de informação sobre os recursos florestais por parte dos


“gestores” tem aumentado em paralelo com a evolução da silvicultura

anos 50 anos 60 anos 70 anos 80 anos 90 anos 2000


lenho lenho lenho lenho lenho lenho
recursos recursos recursos recursos recursos
múltiplos múltiplos múltiplos múltiplos múltiplos
biomassa biomassa biomassa biomassa

stocks de stocks de stocks de


carbono carbono carbono
biodiversida biodiversida
deprodutos deprodutos
não- não-
lenhosos lenhosos
outros usos
do solo?
Introdução

Î A gestão florestal ocorre a diferentes escalas de


resolução espacial:
9 povoamento
área florestal homogénea
9 unidade ou área de gestão Produtores
conjunto de povoamentos com um plano
florestais
de gestão comum
9 bacia hidrográfica
9 região
Políticos e
9 país
administradores
9 continente públicos
9 globo
Introdução

Î A inventariação e monitorização de recursos florestais


são necessárias a diferentes escalas espaciais:
9 Estudos locais (povoamento, unidade de gestão, bacia
hidrográfica)
9 Inventários Florestais Regional ou Nacional (região, país)
9 Monitorização Global (continente, globo)

Î Informação diferente para diferentes objectivos:


9 coberto vegetal ou uso do solo - para o ordenamento do espaço
9 recursos florestais - para a gestão de madeira
9 biomassa - para estudos de energia, balanços de carbono
9 qualidade ambiental ou estado das florestas - estudos ambientais
Inventário Florestal

Î Os principais elementos de um inventário florestal são

9 cartografia e avaliação de áreas


9 caracterização dos povoamentos florestais, incluindo a avaliação
de:
0existências, acréscimos, percas, regeneração
0estado sanitário
0subbosque (composição e biomassa)
9 caracterização da vida selvagem
9 avaliação de recursos hídricos
9 ….
Importância dos diversos elementos para
diversos tipos de inventários

Elementos a obter no inventário florestal

selvagem,
valor recerativo,
Acessibilidade
Avaliação de

Avaliação de

Avaliação de

Avaliação de
propriedade

acréscimos
existências
Regime de
topografia
Descrição

percas
áreas
Tipo de inventário

Vida
Inventário florestalnacional II II II II II II II
Inventário de reconhecimento geral II III III II/III II/III III III
Inventário para ordenamento florestal I II II II I I I
Inventário para exploração de madeiras II I III I I III III
Estudo da viabilidade de indústrias florestais II II I I I I I
Avaliação da madeira em pé I II III I I III III
Estudo do uso do solo I I I I II II III
Estudo do valor recreativo II II I I III III III
Estudo de bacias hidrográficas I I II II II II II
I - muito importante, necessário com detalhes
II - cálculo geral
III - de pouca importância, podendo eventualmente suprimir-se
Utilização de detecção remota
no Inventário Florestal
Um inventário usa diversas fontes de dados:

Î Fontes de informação
9 dados cartográficos
9 dados provenientes de detecção remota
0fotografia aérea
0imagens de satélite
9 medição e observação de campo
9 ...

9 Na prática, é frequente utilizar-se uma combinação de informação


proveniente de diversas fontes
Utilização de detecção remota
Variáveis dendrométricas
Variáveis dendrométricas
ÁRVORE - medição directa

rN rS

h
di

hcb
hi
hcb d 1.30 m d 1.30 m
hbif hds
Variáveis dendrométricas
ÁRVORE - medição indirecta
n
Volume da árvore v =v0 + ∑v i + vb
i =1
d i2 gi
gi = π
4
g0 hb
hti
h0 gn
cepo gi-1 bicada

v 0 = g 0 h0 toro i 1
vb = g n hb
g i −1 + g i 3
vi = hti
2
...
v1 v2 v3 v4 vn
Variáveis dendrométricas
ÁRVORE - estimação
As variáveis dendrométricas de medição difícil são, muitas
vezes, estimadas com equações de regressão

Por exemplo:

altura da árvore:
⎛1 1 ⎞⎛ N ⎞
⎜⎜ − ⎟⎟ ⎜ − 2.713 − 0.207 hdom + 0.0557 ⎟
d d dom ⎠⎝ 1000 ⎠
h = hdom e⎝

volume da árvore:
d 1.815
v = 3.739 h 1.145
100000
Variáveis dendrométricas
POVOAMENTO

Variáveis avaliadas em parcelas de área


conhecida, reduzidas ao ha

Geralmente são:
• somas
• médias
• distribuições de frequência
de variáveis da árvore
Variáveis dendrométricas
POVOAMENTO - exemplos

Î Altura dominante (hdom)


9 média das árvores mais grossas (100 ha-1)
Î Densidade (N)
9 número de árvores vivas por ha
Î Área basal (G)
9 soma das áreas (g) de todas as árvores da parcela
Î Volume total (V)
9 soma do volume (v) de todas as árvores da parcela
Variáveis dendrométricas
POVOAMENTO - determinação

Î Medição (directa ou indirecta)


9 de todas as árvores da parcela (d, por vezes h)
9 de árvores amostra ou modelo (h)
Î Estimação
9 nas árvores não modelo

Î Estimação directa ao nível do povoamento


Avaliação de indicadores de
gestão florestal sustentável
Gestão florestal sustentável

Î Gestão florestal sustentável:


b The stewardship and use of forests in a way, and at a
rate, that maintain their biodiversity, productivity,
regeneration capacity, vitality and their potential to
fulfill, now and in the future, relevant ecological,
economic and social functions, at local, national, and
global levels, and that does not cause damage to other
ecosystems

fonte: MCPFE, 2000


Critérios de gestão florestal sustentável

Î Critérios pan-europeus para a gestão florestal


sustentável (Conferência de Lisboa, 1998):

Manutenção e aumento de ...

1. Recursos florestais e a sua contribuição para o ciclo global do carbono


2. Saúde e vitalidade dos ecossistemas florestais
3. Funções produtivas das florestas (bens lenhosos e não-lenhosos)
4. Diversidade biológica dos ecossistemas florestais
5. Funções protectivas da floresta (solo e água)
6. Funções sócio-económicas da floresta
Critério Código Descrição
C1.1 Área florestal – área de floresta e de outras formações lenhosas,
classificada por tipo de floresta e por disponibilidade para o
1 – Recursos florestais fornecimento de madeira e correspondentes percentagens em
relação ao total
C1.2 Stock em pé – volume em pé na floresta e noutras formações
lenhosas, classificado por tipo de floresta e por disponibilidade para
o fornecimento de madeira
C1.4 Stock de carbono
C1.4.1. Nas árvores (acima do solo e nas raízes)
C1.4.2. Nos solos
C1.4.3 Na madeira morta
C1.4.4 Na folhada
C1.4.5 No sub-bosque
C2.4 Danos na floresta
2

C3.1 Acréscimos e cortes


C3.2 Madeira redonda extraída (volume e valor)
3 – Funções
produtivas

C3.3 Produtos não-lenhosos


C3.5 Área de floresta com plano de gestão
C3.6 Acessibilidade
C3.7 Facilidade de extracção de madeira
Critério Código Descrição
C4.1 Composição da floresta – espécies florestais

4 – Diversidade
C4.2 Regeneração

biótica
C4.3 Proximidade da natureza
C4.4 Área de espécies exóticas
C4.5 Madeira morta
C4.7 Padrão da paisagem (landscape pattern)
C5.1 % do comprimento das linhas de água com vegetação ripícola
C5.2 Risco de erosão USLE
5 – Funções
protectoras

C5.3 Características do solo


C5.3.1. Stock de carbono e capacidade de retenção de água
C5.3.2. Estado nutritivo da camada superficial
C5.4 Distúrbios no solo
C5.4.1. Distúrbios no solo provocados por acções de gestão
C5.4.2. % de solo com diferentes tipos de distúrbio
C6.1 Propriedades florestais
6 – Outras funções e
condições sócio-

C6.3 Receita líquida


económicas

C6.4 Gastos com serviços


C6.5 Mão de obra no sector florestal
C6.6 Saúde e protecção no trabalho
C6.10 Acesso para recreio
C6.12 Valor económico total da floresta
O papel da amostragem
no Inventário Florestal
A necessidade de amostrar

Î Em consequência de:
9 grande extensão da maior parte das áreas em estudo
9 o elevado consumo de tempo associado com algumas das
técnicas de medição
9 algumas técnicas de medição implicam a destruição dos
indivíduos (árvore ou povoamento, por exemplo) a medir

A inventariação e monitorização de recursos florestais


são quase sempre baseadas em técnicas de
amostragem
Mapa da propriedade ou “folha”
Amostragem sistemática (quadrícula)
A necessidade de amostrar

Î O facto das variáveis do povoamento serem avaliadas


com base em amostragem tem como consequência:
9 O resultado de um inventário florestal não é exacto, vindo
afectado de um erro – o erro de amostragem – o qual se deve ao
facto de não se ter medido o povoamento todo, mas apenas um
conjunto, maior ou menor, de parcelas
9 O erro de amostragem é tanto maior quanto menos parcelas se
medirem
9 O erro de amostragem é tanto maior quanto maior for a
variabilidade da população
9 O erro de amostragem é inerente ao processo de amostrar, não é
resultante de uma operação realizada incorrectamente
Monitorização dos povoamentos
Avaliação do crescimento

Î Repetição de inventários
9 Com a excepção de alguns inventários que se realizam apenas
uma vez como, por exemplo
0Venda após corte final
0Venda de uma propriedade
0Partilhas
os inventário são geralmente repetidos ao longo do tempo com o
objectivo de avaliar as alterações – nas áreas dos povoamentos e
nos próprios povoamentos - verificadas entre as medições, com a
consequente avaliação do crescimento
Métodos para a repetição de inventários

9 Método do controlo
0medição total do povoamento nas medições sucessivas
0existências correctas, acréscimos correctos
9 Inventários sucessivos independentes
0medição de parcelas diferentes nas medições sucessivas
0existências correctas, acréscimos brutos e aproximados
9 Inventário florestal contínuo
0medição das mesmas parcelas nas medições sucessivas
0existências prejudicadas, acréscimos correctos
9 Inventário florestal contínuo com reposição parcial
0medição de uma % das mesmas parcelas nas medições sucessivas,
sendo as restantes parcelas novas
0solução de compromisso quer para existências quer para acréscimos
Erros de observação e medição
Erros de medição e observação

Î O problema:
9 Existem sempre erros associados ao acto de medir um objecto
9 Os erros de medição são de extrema importância para a
correcção dos resultados do inventário
9 É importante notar que o erro que se associa geralmente a um
inventário é o erro de amostragem, assumindo-se que os erros
das medições, das equações utilizadas para estimar algumas das
variáveis dendrométricas, etc, são negligenciáveis
9 No trabalho de campo há, portanto, que minimizar os erros de
medição e observação
Erros de medição e observação

Î Em português utiliza-se a palavra erro para designar


dois conceitos diferentes:
9 Engano (mistake, em inglês)
significa que a tarefa foi realizada de modo totalmente incorrecto ou
que o registo do valor medido foi registado erradamente
9 Erro (error, em inglês)
significa desvio em relação ao verdadeiro valor devido a imprecisões
da medição
por exemplo, se se medir, com uma fita métrica, a distância entre
dois pontos razoavelmente afastados, várias vezes seguidas, os
valores obtidos não são exactamente iguais
Erros de medição e observação

Î Os erros associados às medições podem ter várias


causas:
9 Particularidades do objecto a ser medido
9 Imprecisões do aparelho de medição
9 Influências físicas ou topográficas
9 Incertezas do procedimento de medição
9 Imperfeições dos sentidos humanos

Na prática, uma determinada operação de medição é


afectada por diversas fontes de erro, sendo geralmente
bastante difícil identificar as várias componentes do
erro total
Erros de medição e observação

Î Tipos de erros de medição e observação:


9 Erros sistemáticos
0unilaterais
0de amplitude regular (constante ou variável) e determinável
9 Erros aleatórios
0bilaterais
0amplitude aleatória
0distribuição aproximadamente normal
9 Erros aleatórios unilaterais
0unilaterais
0amplitude aleatória
Erros de medição e observação

Î Exactidão, enviesamento e precisão:


9 Exactidão
significa semelhança com o verdadeiro valor e reflecte, dum modo
geral, a qualidade dos resultados do inventário
Exactidão = Enviesamento + Precisão
9 Enviesamento (bias, em inglês)
refere-se a todos os tipos de desvios sistemáticos em relação ao
valor correcto
9 Precisão
o resultado de uma medição é preciso se, quando repetido diversas
vezes, se obtém valores semelhantes
Erros de medição e observação

Î Exactidão, enviesamento e precisão:

Preciso

Impreciso

Não enviesado Enviesado


Planeamento
de um Inventário Florestal
Planeamento do inventário

Î Um inventário é uma tarefa complexa cujo


planeamento implica um conjunto de decisões
extremamente importantes para a qualidade do
resultado final em termos de:
9 exactidão
9 custos
9 tempo de realização

Î O sucesso de um inventário depende definitivamente


de um planeamento cuidado dos trabalhos a efectuar
Planeamento do inventário

Î Pontos a considerar na fase inicial do planeamento de


um inventário florestal
9 Definição de objectivos e avaliação das necessidades de
informação
9 Compilação e análise de dados sobre a área a inventariar
9 Tempo e orçamento associados à realização de um inventário
Planeamento do inventário

Î Avaliação das necessidades de informação


9 O primeiro passo em qualquer programa de inventariação e
monitorização de recursos florestais é a avaliação das
necessidades de informação
A questão importante a colocar antes de tudo é:
0Para quê?
0Qual é a informação necessária?
0Quem vai utilizar os resultados?
9 A avaliação das necessidades de informação deve ser
desenvolvida com o envolvimento de todos os interessados,
especialmente os utilizadores potenciais dos resultados:
investigadores, engenheiros e técnicos florestais, políticos e
público em geral
Planeamento do inventário

Î Decisões a tomar na fase de planeamento de um


inventário florestal
9 Selecção de uma metodologia para a produção de cartografia
9 Aquisição de fotografia e/ou imagem de satélite
9 Definição da tipologia dos povoamentos florestais
9 Fotointerpretação e/ou classificação com base em imagem de
satélite
9 Selecção das metodologias para a avaliação de áreas
9 Selecção das metodologias para a avaliação de existências e
acréscimos
9 Selecção das metodologias para a avaliação de outros recursos e
características florestais
Planeamento do inventário

Î Decisões a tomar na fase de planeamento de um


inventário florestal (cont.)
9 Delineamento das amostragens
0para a avaliação de áreas
0para a avaliação de existências e acréscimos
0para a avaliação de outros recursos e características florestais
9 Preparação do protocolo para as medições de campo e treino das
equipas de campo
9 Planeamento do apoio logístico
9 Definição da organização dos dados em computador e dos
procedimentos de cálculo

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