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O àdúrà é o nome pelo qual as rezas cantadas aos òrìṣà(s) são denominadas. O àdúrà é um tipo
de louvor cantado, quase sempre, entoado de forma mais cadenciada e tem como principais
objetivos clamar por socorro; agradecer por dativas recebidas; solicitar auxílio; pedir perdão,
exaltar atributos e características dos òrìṣà(s), entre outros. O àdúrà evoca a energia do
sagrado. Segundo Beniste (2014) em seu dicionário yorubá/português: àdúrà é o mesmo que
oração, súplica. Vejamos, a seguir, o àdúrà do orixá Ọbà, nele é possível encontrar, de modo
claro, dois dos objetivos acima enumerados: o primeiro, de suplica e o segundo, de exaltação
de atributos e características da divindade.
Àdúrà ti Ọbà:
Ọbà mo pẹ o o
Ọbà mo pẹ o o
Sare wa jẹ mi o
Wa gbọ àdúrà wa o
Sare wa jẹ mi o.
Tradução:
Ọbà eu te chamo
Ọbà eu te chamo
Oríkì
O oríkì, assim como o àdúrà, é uma espécie de texto utilizado para louvar os òrìṣà(s), só que de
forma recitada como os poetas e recitadores fazem com as poesias. A palavra oríkì, segundo os
dicionários de língua yorùbá, significa poesia. Trata-se de um texto escrito em verso com a
finalidade de louvar os ancestrais divinizados. O oríkì tem como objetivo, quase sempre,
apresentar atributos e características do orixá, exaltar seus feitos e suas qualidades, mas isso
não significa que não se possa utilizá-lo para clamar, pedir, solicitar, agradecer. O oríkì é o
texto utilizado para o encantamento das forças ancestrais nos seus assentamentos e ojubós.
Vejamos, como exemplo, um conhecido oríkì do òrìṣà Èsù. Conforme o dicionário
yorubá/português: oríkì é o mesmo que “título, nome, louvação que ressalta fatos de uma
sociedade, de uma família ou de uma pessoa e, igualmente, seus desejos” (BENISTE, 2014).
Òríkì ti Èsù:
Èsù ọ̀ ta òrìṣà
Tradução:
Èsù não me faça mal, não me faça mão, não me faça mal
Nos oríkì(s), além das proezas, das qualidades, das características e dos feitos dos òrìsà(s), e
possível encontrar a base para a maioria dos ritos praticados nas religiões de matriz africana
de origem yorùbá. Essa não uma característica só do oríkì, mas também do àdúrà, do ọfọ̀ , do
ìtàn e do orin.
Ọfọ̀
A palavra ọfọ̀ em yorùbá quer dizer encantamento, magia, potencialização. É a palavra na qual
estão resumidos os encantamento que podem acontecer por intermédio da expressão recitada
ou cantada. O ọfọ̀ pode estar contido numa única palavra, ou num texto formado por muitas
palavras. O principal segredo do ọfọ̀ é que não basta saber a palavra, é preciso estar
preparado, é necessário ter o dom para usá-lo. Se o indivíduo não estiver com suas energias
alinhadas às energias do sagrado, não lhe adianta conhecer e saber pronunciar o ọfọ̀ . A vida
contemporânea atribulada, cheia de estresse, de vais-e-vens e as relações confusas entre o
humano e o sagrado fizeram com que esse poder fosse reduzido a um número ínfimo de
pessoas privilegiadas. Todos nascemos com o dom de transformar palavras em encantamentos
e à medida que nos doamos e nos aproximamos mais e mais do orixá, mais esse poder
aumenta. Para o dicionário yorubá/português, o ọfọ̀ é um “feitiço, encantamento feito para
dar alívio à dor” (BENISTE, 2014). O ọfọ̀ é muito comum nos rituais de folhas. Pierre Veger (on
line), no seu artigo “A sociedade ẹgbẹ́ ọ̀ run dos àbíkú, as crianças nascem para morrer várias
vezes”, ao falar sobre o encantamento das folhas utilizadas no rito de àbíkú, menciona “ewé
idí[2]”, cujo ofò de encantamento é: “ewé idí lórí kí ọnò ọ̀ run tẹ̀mí odi”[3].
Como já vimos, o ọfọ̀ é um dom dado por Òlòdùmarè; no entanto, é um bem preciso (um
poder) que não deve ser usado para fazer o mal. Devemos sempre nos lembrar da lei da ação e
da reação. Aquele que faz o bem recebe o bem em troca; aquele que faz o mal, o mal
receberá. Os ofó(s) poderão ser divididos segundo a intenção de quem o utiliza. Essa
importante informação a respeito da divisão dos ọfọ̀ (s) em categorias segundo a intenção de
cada sujeito, encontramos em Raji (1991) e em AJAYI (on line).
Os encantamentos utilizados para o mal e para a destruição têm os seguintes nomes: ogede e
aasan conforme assinala Bade Ajayi em seu artigo intitulado de ”The stylistic significance of
focus constructions in the ofo corpus”. Sobre isso não falaremos neste texto.
Ìtàn
Conforme Beniste (1991), a palavra ìtàn se traduz pelas expressões portuguesas: história, mito
e biografia. No entanto, seu significado religioso vai muito além de meras histórias e de mitos
fantasiosos. Em quase todas as civilizações do mundo, as epopeias e os poemas épicos
serviram como os primeiros registros do homem a seu respeito, a respeito dos seus grandes
feitos e sobre os lugares onde esteve inserido e atuante. Quem não ouviu falar em “Ilíada” e
“Odisseia” de Homero e em “Os Lusíadas” de Luiz Vaz de Camões? Estes são apenas três
grandes exemplos dentre as dezenas de outros textos autorais e anônimos dos quais se tem
conhecimento. Assim como os poemas épicos, o ìtàn, por sua vez, cumpre o papel de falar
sobre o homem, sobre os seus feitos heroicos (ou não), sobre os lugares por onde passou e
viveu, mas também a respeito de sua relação com o sagrado e o divino[4]. Não existe um livro
sagrado que contemple todos os dogmas do Candomblé e das demais religiões de matriz
africana. O Candomblé é uma religião consuetudinária. Suas leis, seus dogmas são aplicados
segundo os costumes de cada sociedade, de cada tribo, de cada família. Vejamos, a seguir, um
exemplo de ìtàn, no qual, em face de um combinado entre Ṣàngó e Ọya, Ọ̀ sányìn se vê
obrigado a dividir a propriedade das folhas com os demais òrìṣà(s).
Ọ̀ sányìn recebera de Òlòdùmaré o segredo das folhas. Ele sabia que algumas delas traziam a
calma ou o vigor. Outras, a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda, a miséria, as doenças e os
acidentes. Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de
Ọ̀ sányìn para manter a saúde ou para o sucesso de suas iniciativas. Ṣàngó, cujo temperamento
é impaciente, guerreiro e imperioso, irritado com esta desvantagem, usou de um ardil para
tentar usurpar, de Ọ̀ sányìn, a propriedade das folhas. Falou do plano à sua esposa Ọya, a
senhora dos ventos. Explicou-lhe que, em certos dias, Ọ̀ sányìn pendurava, num galho de ìrókò,
uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas. “Desencadeie uma tempestade bem forte
num desses dias”, disse-lhe Ṣàngó. Ọya aceitou a missão com muito gosto. O vento soprou a
grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando as árvores, quebrando tudo por
onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça
rolou para longe e todas as folhas voaram. Os òrìṣá(s) se apoderaram de todas. Cada um
tomou-se dono de algumas delas, mas Ọ̀ sányìn permaneceu senhor do segredo de suas
virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação. E, assim,
continuou a reinar sobre as plantas, como senhor absoluto. Graças ao poder (àṣẹ) que possui
sobre elas (VERGER, 1997).
Embora, a maioria dos ìtàn(s) pareçam histórias fabulosas, há sempre uma lição de vida a ser
apreendida. Os ìtàn(s) são utilizados pelo povo yorùbá para formar, nos mais jovens, os
conceitos de comportamento e para registrar e exaltar os feitos de ancestrais sacralizados. Os
ìtàn(s) que personificam animais e coisas são usados, quase sempre, como grandes metáforas
que servem para a construção de condutas sociais bem verdadeiras.
Orin
A palavra orin significa cântico (cantiga) e serve para se referir a qualquer música, quer seja
profana, quer seja sagrada. No caso das religiões de matriz africana, com ênfase para as de
origem yorùbá, os orin(s), por assim o ser, são o conjunto de louvores que compõem o ṣiré
(festa) de um ou de vários òrìṣà(s). A seguir, como exemplo, apresentaremos um orin para o
òrìṣà Èṣù, retirado de Oliveira (2012).
Orin ti Èṣù
Mo júbà Òjiṣẹ́.
Tradução:
Os orin(s) evocam os òìṣà(s) no dia do seu ṣiré (festa). Cada òrìṣà possui o seu conjunto de
orin(s), cujo número total não se tem notícia. No dia das festas, vê-se frequentemente, cantar
três, sete, quatorze ou vinte cantigas para cada òrìṣà, no entanto, é possível que o ṣiré seja
feito com outro número qualquer de cantigas a depender do òrìṣà celebrado.
Referências:
AJAYI, Bade. The stylistic significance of focus constructions in the ofo corpus. Disponível em:
http://studylib.net/doc/7507743/the-stylistic-significance-of-focus-constructions. Acesso em:
16/02/2017.
BENISTE, José. Dicionário yorubá / português. 2.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014
OLIVEIRA, Altair B. Cantando para os orixás. 4.ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.
VERGER, Pierre Fatumbi. A sociedade egbe òrun dos àbíkú, as crianças nascem para morrer
várias vezes. Disponível em:
https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/article/viewFile/20825/13426. Acesso em:
16/02/2017.