Você está na página 1de 6

Correntes Transitórias de Magnetização em

Transformadores de Potência
Francisco das Chagas F. Guerra, Leandro de Luna Araújo e Luydi Dandgelo C. de Medeiros
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
Rua Aprígio Veloso, 882 – Bairro Universitário – CEP 58.429-900 – Campina Grande - PB

Resumo  Este artigo apresenta um estudo das correntes ▪ características magnéticas e geométricas do núcleo;
transitórias de magnetização em transformadores de potência ▪ valor da resistência de pré-inserção do disjuntor;
(correntes de inrush). O efeito de histerese no núcleo magnético ▪ impedância da carga ligada ao secundário;
é considerado através de um modelo simples, de fácil ▪ velocidade de fechamento dos contatos do disjuntor;
compreensão e baixo esforço computacional, o qual pode ser
▪ nos transformadores trifásicos, existência de enrolamentos
incorporado ao processo de cálculo de correntes de inrush em
transformadores monofásicos e trifásicos.
terciários ligados em delta.

Palavras-chaves  Transformadores, correntes de inrush, II. ENERGIZAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR MONOFÁSICO


histerese, saturação.
A. Comportamento em regime não-saturado
I. INTRODUÇÃO
O circuito RL da Fig. 1 destina-se ao estudo do transitório
Os transformadores usados nos sistemas elétricos de de corrente durante a energização de um transformador
potência requerem, em regime permanente, correntes de monofásico por fonte de tensão senoidal, com o secundário
excitação da ordem de 0,5% a 2% da corrente nominal. em aberto. O indutor não-linear indicado possui característica
Entretanto, durante o processo de energização, podem ocorrer de magnetização i = f (λ), onde λ é o fluxo de enlace no
surtos de corrente com as seguintes características: primário. Inicialmente, são desprezadas as perdas no núcleo
▪ valor de pico inicial que pode superar vinte vezes o valor magnético.
de pico da corrente nominal, nas condições mais severas;
▪ duração de vários ciclos;
▪ amplo espectro de harmônicos que inclui componentes de
ordem par, predominando a segunda harmônica.
Este efeito é conhecido como inrush. Os principais efeitos
das correntes de inrush são descritos a seguir:
▪ atuação indevida de fusíveis e relés de proteção; Fig. 1. Circuito não-linear para representação de um transformador com
▪ afundamentos temporários de tensão, com deterioração da secundário em vazio.
qualidade de energia; Após o fechamento da chave, tem-se:
▪ solicitações de natureza eletromecânica e térmica no dλ
transformador e nos demais componentes do sistema, o que + R i = U m sen ω t (1)
incorre em redução de vida útil; dt
▪ sobretensões causadas por fenômenos de ressonância har- Como a relação i = f (λ) é não-linear, (1) só poderá ser
mônica em sistemas que contêm filtros elétricos (sistemas resolvida numericamente. Entretanto, se for assumido que o
industriais e linhas de transmissão em corrente contínua). núcleo magnético não atinge a saturação, pode-se fazer i =
A intensidade e a duração das correntes de inrush f(λ) = λ / Lm, onde Lm é a indutância de magnetização do
dependem dos seguintes fatores: transformador, que corresponde à inclinação da reta que
▪ valor instantâneo da tensão aplicada ao transformador no passa pela origem e pelo ponto de joelho da curva λ - i;
instante da energização; assim, (1) pode ser escrita como:
▪ magnitude e sinal do fluxo residual no núcleo magnético; dλ R
▪ resistência e indutância equivalentes em série do circuito + λ = U m sen ω t (2)
alimentador; dt L m
▪ resistência e indutância de dispersão do enrolamento pri- Para simplificar, supõe-se que λ(0) = 0; assim, esta
mário do transformador; equação tem por solução:
2
F. C. F. Guerra, chagas@dee.ufcg.edu.br, L. L. Araújo, leandrolun@ ω Lm U m −( R / Lm ) t
λ(t )= 2 2
e +
gmail.com, L. D. C. Medeiros, dandgelo@bol.com.br, Tel. +55-83-3310-
1322, Fax +55-83-3310-1418.
R + ( ω Lm )
Este trabalho foi parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de
(3)
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ, através do Projeto No.
2
ω Lm U m  R 
470175/2008-7 e pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba – 2 2 
sen ωt − cos ωt 
FAPESQ, através do Projeto No. 216/08 – PPP. R + ( ω Lm )  ω Lm 
Considerando R << ω Lm e fazendo λm = Um / ω, resulta:
λ (t ) =λm e [
− ( R / Lm ) t
− cos ωt ] (4)
A equação (4) é composta por um termo com decaimento
exponencial, relacionado ao comportamento transitório de λ
logo após a aplicação da tensão, e por um termo senoidal
relacionado ao regime permanente. A Fig. 2 mostra a
variação de λ logo após a energização do transformador. Vê-
se que é estabelecido um sobrefluxo no núcleo magnético.

Fig. 3. Fluxo de enlace e corrente de inrush em um transformador.


Fig. 2. Fluxo de enlace em função do tempo logo após a energização do
transformador. Como a excitação é assimétrica, a trajetória descrita no
plano λ - i apresenta laços menores também assimétricos.
Um fator de importância fundamental no grau de assimetria
da onda de fluxo é o valor da tensão da fonte no momento da Como λ acha-se limitado pelo nível de saturação, λS, o valor
energização do transformador. Na análise anterior, fez-se u = λm não é alcançado. Observa-se que, se o fluxo residual no
Um sen ωt, de modo que u(0) = 0. Porém, o caso mais comum núcleo apresentar mesmo sinal do fluxo imposto pela fonte, a
ocorre quando u(0) ≠ 0. A seguir, será considerado u = Um região de saturação pode ser atingida mais rapidamente, com
maior intensidade, resultando em maior assimetria da onda de
sen (ωt + θ ), o que implica em se ter u(0) = Um sen θ, onde
fluxo e em valores de pico de corrente de inrush mais
θ, denominado “ângulo de chaveamento”, determina o valor
elevados. Por outro lado, se os citados fluxos apresentarem
inicial da tensão.
sinais contrários, a corrente de inrush será atenuada.
Caso haja interesse em apenas avaliar o valor de pico inicial
As correntes de inrush podem fazer com que relés de
de λ, o amortecimento nos instantes subseqüentes pode ser proteção de operação rápida atuem de modo indevido durante
ignorado. Fazendo R = 0 no circuito da Fig. 1, obtém-se: a energização do transformador. Para evitar que isto ocorra,
dλ os relés diferenciais utilizam um critério capaz de distinguir
= U m sen ( ωt + θ ) (5)
dt uma corrente de inrush de uma corrente de curto-circuito. O
Considerando λ(0) = λR e λm = Um / ω, resulta: critério tradicionalmente utilizado se baseia na avaliação do
[
λ = λ R + λ m cos θ − cos (ωt + θ ) ](6)
conteúdo de harmônicos da corrente. Uma corrente de inrush
típica apresenta uma composição de harmônicas onde
A onda de fluxo no núcleo apresenta valor máximo quando predomina a harmônica de segunda ordem, que pode
ωt = kπ (k = 1, 3,.5,...) e θ = 0, caso em que a tensão da fonte representar mais de 60% do valor da componente
é nula no instante da energização. Assim, o máximo valor de fundamental. Assim, quando o transformador é energizado
λ é λR + 2 λm. Por outro lado, não ocorre assimetria para na em condições normais, essas harmônicas são filtradas,
forma de onda de λ para λR = 0 e θ = π/2, situação em que a exercendo uma ação de bloqueio que evita a operação do relé.
tensão assume o valor de pico Um em t = 0. Esta é a condição Por outro lado, as correntes de curto-circuito típicas são
mais favorável, pois são evitados sobrefluxos que poderiam normalmente compostas por uma componente fundamental
levar o núcleo à saturação. acrescida de uma componente contínua com decremento
exponencial, sendo o conteúdo de harmônicos insignificante
B. Comportamento em regime saturado em comparação com os observados nas correntes de inrush.
Assim, não se verifica a ação de bloqueio no sentido de
Durante os primeiros instantes da energização de um impedir a operação do relé.
transformador, os elevados valores de fluxo atingem a região
de saturação do laço de histerese do núcleo. Assim, para III. MODELO DE TRANSFORMADOR MONOFÁSICO
pequenas variações de λ, podem ocorrer variações muito
elevadas de i, de modo a se estabelecer um surto de corrente. O circuito da Fig. 4 ilustra o processo de chaveamento de
Isto pode ser entendido mediante análise da Fig. 3. um transformador monofásico com o secundário em aberto.
No caso anterior, a característica λ versus i do núcleo foi Para este circuito, pode-se escrever:
representada pela curva de saturação (relação biunívoca dλ di
+L + Ri =u (7)
correspondente a uma curva que passa pela origem), o que dt dt
não permite considerar a existência de fluxo residual ou
dλ di dλ
remanescente. Para avaliar a influência do fluxo residual λR +L + Ri =u (8)
nos valores de i, considera-se o núcleo com histerese. dt dλ dt
▪ uma família de curvas com valores decrescentes de fluxo,
as quais convergem para o ponto de saturação negativa.
Devido às condições de simetria do laço maior, tem-se:

Fig. 4. Circuito considerado para o cálculo da corrente de inrush.

Fazendo i = f (λ) (função que descreve o processo de


magnetização do núcleo) e Lm = dλ/di (indutância de
magnetização), tem-se a seguinte equação diferencial não-
linear:
d λ u − R f (λ )
= (9)
dt 1 + L / Lm
A condição inicial é λ(0) = λR (fluxo residual no núcleo
antes da energização).

IV. REPRESENTAÇÃO DA HISTERESE

Há determinados estudos relacionados a transformadores


onde o efeito de histerese no núcleo magnético pode ser Fig. 5. Famílias de trajetórias ascendentes e descendentes.
desprezado, sendo suficiente representar a relação i = f (λ) do
material pela curva de saturação. Isto ocorre em estudos de λa = f ( i ) = − g ( − i ) (10)
fenômenos transitórios, onde são alcançados graus de λd = g ( i ) = − f ( − i ) (11)
saturação elevados (como é o caso do fenômeno de inrush) e
a remanência é pequena ou não constitui objeto de interesse As funções f e g aproximam os ramos ascendente e
da análise. Tal simplificação se respalda no fato de que as descendente do laço de histerese, respectivamente. Logo,
ligas ferro-silício de grãos orientados mais recentes conhecendo apenas o ramo ascendente, pode-se obter o ramo
apresentam laços de histerese estreitos (pequena descendente.
coercitividade), verificando-se um afunilamento à medida Na Fig. 6 é considerado o caso em que dλ/dt > 0. O
que a saturação torna-se mais intensa, de modo a haver uma problema consiste em determinar a trajetória assimétrica i =
tendência em se confundirem com a curva de saturação. f(λ) para o fluxo decrescente, a partir do último ponto de
Porém, ao se representar a característica de magnetização reversão de λ, denominado T.
do núcleo em termos da curva de saturação, não é possível se
considerar valores de fluxo residual diferentes de zero no
instante da energização. Isto se deve ao fato de que o lugar
geométrico descrito no plano λ - i consiste em uma curva
singular que passa pela origem. O problema pode ser
resolvido mediante consideração do efeito de histerese.
Entretanto, a representação precisa deste efeito em condições
transitórias não é uma tarefa simples. Diversos modelos de
histerese foram desenvolvidos, alguns fundamentados em leis
físicas [1], [2] outros baseados em observações experimentais
[3]. Como não é necessário representar o efeito de histerese
com grau de precisão muito elevado no cálculo das correntes
de inrush, o impasse pode ser resolvido através da utilização
de modelos com formulação simples, os quais permitam que
o fluxo residual seja levado em consideração.
Um modelo que serve ao citado propósito foi proposto por
Talukdar e Bailey [4]. O mesmo considera que todas as
trajetórias assimétricas estão contidas no laço maior (laço
simétrico obtido levando-se o núcleo à saturação, com
variações lentas da excitação). Como mostra Fig. 5, além dos
pontos S+ e S-, a característica de magnetização é definida por Fig. 6. Trajetória assimétrica com fluxo decrescente.
relações biunívocas. As trajetórias no interior do laço são Seja P(im, λ) um ponto qualquer da trajetória e T(iT , λT ) o
classificadas em duas famílias: último ponto de reversão. As distâncias verticais desses
▪ uma família de curvas com valores crescentes de fluxo, as pontos em relação ao ramo ascendente do laço maior são
quais convergem para o ponto de saturação positiva; respectivamente:
x = λG - λ (12) V. REPRESENTAÇÃO DAS PERDAS DINÂMICAS
xT = λGT - λT (13)
O fenômeno de histerese diz respeito a variações lentas ou
É estabelecido que a trajetória assimétrica apresente um quase-estáticas da excitação. À medida que a freqüência é
distanciamento do ramo descendente do laço maior que varia elevada, intensifica-se o efeito das correntes parasitas
linearmente com λ; assim, para λS > 0: induzidas no material (correntes de Foucault), o que acarreta
λ + λS em aumento das perdas magnéticas. Tal aumento corresponde
x = xT (14) às chamadas “perdas dinâmicas”, as quais podem ser
λT + λ S consideradas mediante um resistor linear ligado em paralelo
Combinando (12), (13) e (14), tem-se: ao indutor não-linear [5], como é indicado na Fig. 7.
 + λS 
λ G = λ+ ( λ GT −λ T )  λ  (15)
 λT + λ S 
A trajetória assimétrica correspondente à função i = g(λ)
pode ser determinada fazendo-se:
i = g ( λ ) = G ( λ + x ) = G ( λG ) (16)
Assim, para dλ/dt < 0 e λS > 0, tem-se:
i = G ( λG ) (17)

λG = λ + G [ −1
]  λλ
( i T ) − λ T 
+ λS 
+ λ S 
 (18)
 T

Analogamente, para as trajetórias ascendentes, com dλ/dt ≥


0 e λS > 0:
i = F ( λF ) (19)

λF = λ + F[ −1
( i T ) − λT ]  λλ − λS 

− λ S 
(20) Fig. 7. Representação das perdas dinâmicas através de resistor não-linear [5].
 T
Considerando uma tensão de excitação de forma senoidal, a
Desta forma, se forem conhecidas as coordenadas do último elipse indicada corresponde às perdas dinâmicas. Neste caso,
ponto de reversão e a função que aproxima o ramo o laço λ - ie apresenta-se mais largo que o laço λ - im, uma
ascendente ou o ramo descendente do laço maior de histerese, vez que, para um mesmo valor de λ, tem-se ie’= im’ + ip’.
é possível determinar as trajetórias no interior deste último. Sendo Ue o valor eficaz da tensão de excitação secundária,
Este modelo apresenta algumas imprecisões. A principal a resistência de perdas no núcleo, Re, é dada através de:
consiste na suposição de que todas as trajetórias ascendentes 2
convergem para o ponto de saturação positiva e que todas as P =Ue / Rp (23)
trajetórias descendentes convergem para o ponto de saturação Para as ligas ferro-silício usuais, as perdas dinâmicas são
negativa. Em decorrência, não são reproduzidas algumas significativamente maiores que as produzidas pelo efeito de
propriedades importantes do efeito de histerese, como as de histerese [5]. Medindo-se Pe, em função de Ue2 e traçando-se
fechamento e remoção de laços menores. Porém, tal fato não a reta dada por (23), obtém-se Rp, que corresponde ao inverso
é importante no cálculo de correntes de inrush, pois as formas do coeficiente angular da referida reta. Tal procedimento
das trajetórias no interior do laço maior são irrelevantes se proporciona uma estimativa razoavelmente precisa da
comparadas com as extensas excursões nas regiões de resistência de perdas dinâmicas. Assim, tem-se a corrente de
saturação positiva ou negativa. excitação, ie, dada pela soma da corrente de magnetização
Além do problema citado, quando ocorre saturação intensa, com a corrente associada às perdas dinâmicas, ou seja:
os laços maiores às vezes cruzam o laço maior, contrariando ie = im + u e / R p (24)
a premissa de que todas as trajetórias estejam contidas neste
último [3]. Uma forma de evitar que isto ocorra é efetuar a Para correntes de inrush de elevados valores de pico, as
seguinte modificação em (18) e em (20): perdas dinâmicas podem ser desprezadas sem que haja erro
β apreciável, uma vez que o efeito de alargamento do laço na
[
λG = λ + G
−1
]  λλ
( i T ) − λ T 
+ λS 

+ λ S 
(21) região não-saturada é insignificante se comparada com as
extensas trajetórias magnéticas nas regiões de saturação.
 T
β

[
λF = λ + F
−1
]  λλ
( i T ) − λ T 
− λS 

− λ S 
(22) VI. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
 T
Inicialmente, realizou-se o levantamento das características
O parâmetro β > 1 deve ser estabelecido mediante de um transformador de núcleo toroidal com os seguintes
simulações, de modo tal que os citados cruzamentos não dados:
ocorram em casos de saturação pronunciada. ▪ Material: ferro-silício de grãos orientados.
▪ Área de seção reta: (2,5 x 4,0) cm2. 4.00

▪ Diâmetro médio: 12,5 cm.


▪ Número de espiras do enrolamento primário: 60.
▪ Número de espiras do enrolamento secundário: 60. 3.00

• Resistência dos enrolamentos: 0,5 Ω. Experimental


Teórica
▪ Reatância dos enrolamentos: desprezível.

Corrente, i ( A )
O laço de histerese foi registrado na frequência de 4 Hz, de 2.00

modo a se obter um laço praticamente igual ao obtido em


corrente contínua, como é indicado na Fig. 8.
1.00
0.20

0.00

0.10
Fluxo de Enlace, λ ( V.s )

-1.00

0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10


Tempo, t ( s )
0.00 Fig. 9. Correntes de inrush obtidas em laboratório e por simulação.

0.15

-0.10
0.10
Fluxo de Enlace, λ ( V.s )

0.05
-0.20

-2.00 -1.00 0.00 1.00 2.00


Corrente de Magnetização, i m ( A )
0.00
Fig. 8. Laço de histerese obtido na freqüência de 4 Hz.
A resistência de perdas dinâmicas foi determinada através
do procedimento anteriormente descrito, obtendo-se 136 Ω.
-0.05
Na montagem da Fig. 4, foram estabelecidos R = 8,1 Ω e L
= 0,3 mH (valores totais no primário), bem como uma tensão
eficaz de 24 V fornecida pela fonte. O fluxo residual no
-0.10
núcleo magnético foi anulado da seguinte forma: elevou-se a
-1.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00
tensão até ocorrer saturação; em seguida, reduziu-se Corrente de Magnetização, i m ( A )
lentamente a mesma para 0 V. Fig. 10. Trajetórias assimétricas λ - im.
Com uma chave síncrona (triac comandado por micro-
controlador PIC16F877), efetuou-se o chaveamento do 0.15

transformador no instante de passagem da tensão por zero


(caso mais desfavorável). A corrente de inrush foi registrada
mediante um osciloscópio digital, sendo mostrada na Fig. 9, 0.10

juntamente com o resultado obtido por simulação, com β = 1.


Fluxo de Enlace, λ ( V.s )

As trajetórias fluxo de enlace versus corrente de


magnetização e fluxo de enlace versus corrente de excitação 0.05
acham se mostradas na Fig. 10 e na Fig. 11. Observa-se que
os laços assimétricos correspondentes à Fig. 11 apresentam-
se mais largos, pois eles incorporam as perdas dinâmicas. 0.00
A variação do fluxo de enlace em relação ao tempo é
mostrada na Fig. 12. Vê-se que ocorre pronunciado
sobrefluxo logo após a energização, sendo o valor de λ -0.05
limitado pelo efeito da saturação do núcleo magnético.
A Fig. 13 indica que ocorre uma significativa queda de
tensão nos terminais do enrolamento primário do
-0.10
transformador durante a ocorrência do primeiro pico de
-1.00 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00
corrente, fato este que contribui para a deterioração da Corrente de Excitação, i e ( A )
qualidade de energia. Fig. 11. Trajetórias assimétricas λ - ie.
0.15
A mitigação do fenômeno de inrush tem sido feita através
de técnicas de chaveamento controlado [6]-[7]. Para a
realização deste trabalho, foi desenvolvida uma chave
0.10 síncrona com funcionamento baseado em microcontrolador, a
qual se acha em fase de aperfeiçoamento para aplicações de
Fluxo de Enlace, λ ( V.s )

laboratório mais complexas como o chaveamento de


0.05 transformadores trifásicos, com operação de religamento
automático.
Os desenvolvimentos apresentados são extensivos à
0.00 modelagem do efeito de inrush em transformadores trifásicos
com diferentes tipos de geometria de núcleo, bem como a
estudos de outros fenômenos, como ferroressonância,
-0.05
chopping currents e distorções em correntes no secundário de
transformadores de corrente.

REFERÊNCIAS
-0.10

0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 [1] D. C. Jiles and D. L. Atherton, “Theory of ferromagnetic hysteresis”,
Tempo, t ( s ) Journal of Magnetic Materials, vol. 61, pp. 48-60, 1986.
Fig. 12. Fluxo de enlace versus tempo. [2] S. R. Naidu, “Simulation of the hysteresis phenomenon using Preisach’s
theory”, IEE Proceedings, vol. 137A, no. 2, pp. 321-329, 1990.
40.00
[3] J. R. Frame, N. Mohan and T. Liu, “Modeling in an Electromagnetic
Transients Program,”, IEEE Transactions on Power Apparatus and
Systems, vol. 101, no. 9, pp. 3403-3412, 1982.
[4] S. R. Talukdar and J. R. Bailey, “Hysteresis models for system studies”,
IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, vol. 95, no. 4, pp.
20.00
1429-1434, 1976.
[5] G. W. Swift, “Power transformer core behavior under transient
Tensão, u e ( V )

conditions”, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, vol.


90, no. 5, pp. 2206-2210, 1971.
0.00
[6] J. H. Brunke, K. J. Frölich, “Elimination of transformer inrush currents
by controlled switching – Part I: Theoretical Considerations”, IEEE
Transactions on Power Delivery, vol. 16, no. 2, pp. 276-280, 2001.
[7] J. H. Brunke, K. J. Frölich, “Elimination of transformer inrush currents
by controlled switching – Part II: Application and Performance
-20.00
Considerations”, IEEE Transactions on Power Delivery, vol. 16, no. 2,
pp. 281-285, 2001.

-40.00

0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10


Tempo, t ( s )
Fig. 13. Tensão nos terminais do transformador versus tempo.

VII. CONCLUSÃO

Foram discutidos aspectos relacionados ao fenômeno de


inrush, o qual ocorre durante a energização de transforma-
dores de potência. O estudo deste efeito é de extrema
importância para a preservação dos requisitos de qualidade de
energia em redes elétricas.
Também foi apresentada uma forma já existente de
representação núcleo magnético [4]-[5], de fácil
entendimento e aplicação, que se destina à descrição dos
efeitos de histerese (incluindo laços menores e remanência) e
das perdas dinâmicas. Uma contribuição deste trabalho
consiste na proposição de um fator de correção para o modelo
de histerese, uma vez que, na formulação original, o mesmo
não reproduz de modo fiel o comportamento do núcleo
magnético (foi afirmado em [3] que, em alguns tipos de
núcleo, laços menores podem às vezes cruzar o laço maior, o
que não é permitido). Tal correção consiste na introdução do
parâmetro β nas equações do modelo.

Você também pode gostar