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5/26/2020 Isolamento vertical se mostrou ineficaz e arriscado em outros países, diz médica da Fiocruz

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Agência de Jornalismo Investigativo

ENTREVISTA

Isolamento vertical se mostrou ineficaz e


arriscado em outros países, diz médica da
Fiocruz
Em entrevista à Pública, Margareth Dalcolmo, referência em pneumologia
no país, alerta que quebrar o isolamento social agora pode levar a mortes
que poderiam ser evitadas

27 de março de 2020 Giulia Afiune


15:06

 ESPECIAL: CORONAVÍRUS

 ESPECIAL: ENTREVISTAS ESCOLHIDAS PELOS ALIADOS

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5/26/2020 Isolamento vertical se mostrou ineficaz e arriscado em outros países, diz médica da Fiocruz

Em
 entrevista exclusiva para a Agência Pública, a médica pneumologista, 
pesquisadora e docente da Fundação Oswaldo Cruz Margareth Dalcolmo afirma
que se fizermos um esforço coletivo para um isolamento mais intenso agora,
enquanto o número de casos de Covid-19 está crescendo, é possível que possamos
começar a sair do isolamento, gradualmente, dentro de 2 ou 3 semanas.

“Neste momento, que é o momento muito agudo dessa epidemia, não há nenhuma
outra maneira de impedir a transmissão. Não há nenhuma outra arma”, explica,
reiterando que ainda não há nem remédios nem vacinas de eficácia comprovada
contra o novo coronavírus. Ela alerta que quebrar o isolamento agora, como
propõe o presidente Jair Bolsonaro, pode levar a um colapso do sistema de saúde e
provocar mortes que seriam evitadas.

Margareth explicou ainda que manter em casa apenas idosos, o “isolamento


vertical” que sugeriu Bolsonaro, foi considerada uma medida ineficaz e perigosa
para combater o coronavírus em outros países. “O maior exemplo é a Inglaterra
que voltou atrás, verificando que [o isolamento vertical] não ia resolver. Eles
voltaram atrás pelo risco que isso incorreria diante de uma doença nova de alta
transmissibilidade, cujos riscos não estão completamente determinados. Agora,
dada a progressão da epidemia, a Inglaterra está propondo o isolamento mais
radical.”

Durante a entrevista, Margareth explicou que já existe um coronavírus “brasileiro”,


fruto de mutações do vírus importado. “Como a doença chegou ao Brasil pela
classe média, ela é uma doença importada, e a transmissão sustentada ou
comunitária começou com um espaço de tempo um pouco maior. Agora vai
depender da velocidade com a qual ela vai se espalhar nas comunidades de grande
aglomeração. Essa é a variável da qual dependemos agora”.

A entrevista foi realizada com apoio dos Aliados da Agência Pública, que
também enviaram perguntas. (Conheça o programa)
Arquivo
pessoal

A médica pneumologista, Margareth Dalcolmo, foi escolhida pelos Aliados da Pública para ser
entrevistada

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Durante
 algumas semanas, o Ministério da Saúde deu recomendações
a favor do distanciamento social e isolamento domiciliar. Agora, teve
uma mudança de tom. O presidente está dizendo que “o Brasil não
pode parar” e planejando a flexibilização da quarentena a partir do dia
7 de abril. Quais são os riscos do “isolamento vertical” proposto pelo
Bolsonaro?

São coisas diferentes. O que o nosso presidente propôs foi uma quebra no
isolamento social.

O risco que isso traz é que a doença que já chegou a essas áreas mais vulneráveis e
pobres vai se disseminar com uma velocidade fora de controle. Ela vai lotar os
serviços de saúde. O SUS, que é quem tem que dar resposta para 80% da
população brasileira nessa grande epidemia atual, não tem condições de arcar e
nós vamos ver um colapso generalizado, aumentando mais ainda a mortalidade
que poderia ser evitada.

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com uma velocidade e uma intensidade maior do que a gripe comum. É
considerado que uma pessoa pode transmitir para três ou quatro.

Realisticamente, vacina é uma coisa para se pensar para, no mínimo, daqui a dois
anos. E da mesma maneira, não temos tratamento. Então assim, a única coisa a
fazer, a meu juízo, é manter o isolamento social. Neste momento, que é o momento
muito agudo dessa epidemia, não há nenhuma outra maneira de impedir a
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transmissão.
 

Então é preciso que nós separemos e isolemos as pessoas para interceptarmos essa
cadeia de transmissão. Não há nenhuma outra arma.

Quebrar o isolamento domiciliar agora significa que haverá mortes que


poderiam ser evitadas e não serão?

Sim. Mas isso não vai acontecer porque [a voz do presidente] foi uma voz que me
pareceu muito isolada. Não é aquilo que foi secundado nem pelo Ministério da
Saúde. Nosso Ministro ouviu a comunidade acadêmica, está trabalhando muito
próximo de nós, e o Ministério da Saúde, formalmente, continua recomendando
isolamento social.

E o que é o isolamento vertical?

Ele [Bolsonaro] está propondo que deixem apenas as pessoas idosas isoladas. Nós
não concordamos com isso como medida de saúde pública porque outros países
que pensaram em fazê-lo já voltaram atrás – é o que está ocorrendo agora no
estado de Nova York.

Estou falando do ponto de vista técnico. Tecnicamente, nós vamos seguir a


experiência dos países que nos antecederam e que, inclusive, pensaram em fazer
isolamento vertical. E o maior exemplo disso é a Inglaterra que voltou atrás,
verificando que [o isolamento vertical] não ia resolver. Eles voltaram atrás pelo
risco que isso incorreria diante de uma doença nova de alta transmissibilidade,
cujos riscos não estão completamente determinados. Agora, dada a progressão da
epidemia, a Inglaterra está propondo o isolamento mais radical.

A economia terá que ter soluções alternativas, obviamente, como todo mundo está
buscando, para resolver o problema durante esse período.

O isolamento vertical é muito eficaz quando se trata de uma epidemia menor. Mas
numa doença com uma transmissibilidade tão alta quanto essa, é impossível. Os
próprios epidemiologistas, grandes pensadores, já reviram essa posição agora.

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Todo
 conhecimento diante de uma situação tão nova é muito dinâmico. Tudo é 
revisto quase que permanentemente.

E o que é a “imunidade por rebanho” que a Inglaterra estava


buscando?

A “imunidade por rebanho” significa que nós todos seremos infectados num
determinado momento. Nós desenvolveremos anticorpos, teremos contato e não
necessariamente desenvolveremos doença.

A imunidade de rebanho acontecerá, é esperado em qualquer doença nova


transmissível, só que leva muito tempo. Você faz imunidade por rebanho quando
você tem uma vacina, por exemplo. Se está todo mundo vacinado, existe a
imunidade de rebanho, sim. Agora, numa doença nova com esse grau de
transmissibilidade, nós não podemos ainda falar nisso.

Não está provado que o isolamento vertical gere esse resultado [imunidade por
rebanho]. São coisas diferentes e independentes.

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O Ministro da Saúde chegou a falar de algumas medidas mais graduais,


menos radicais. Você concorda com isso?

Não, eu não concordo. Eu acho que haverá o bom senso dentro das famílias,
instituições públicas, instituições privadas que concentram grande número de
pessoas. No caso desses serviços considerados essenciais que precisam permanecer
funcionando, tem que ter alternativas. Liberação parcial, alternativa de grupos de
trabalho, essas são as medidas que eu vejo como sensatas. O resto é o isolamento
social, sim.

A pergunta que mais recebemos dos nossos leitores foi: quando isso vai
acabar? Vamos por partes: Em que estágio da curva epidemiológica nós
estamos hoje?

Nós ainda estamos no estágio de crescimento. A epidemia cresce no Brasil, ela não
alcançou o pico da curva epidêmica até o momento. Ela está crescendo, ela está se
disseminando e é por isso que o mínimo de tempo previsto para um isolamento
social mais radical é de pelo menos mais duas a três semanas, realisticamente
falando. Os epidemiologistas calcularam que o pico da curva epidêmica se dê no
Brasil até o meio do mês de abril. E, a partir daí, nós imaginamos que com essas
medidas possamos começar a suavizar um pouco esse ponto agudo da curva
epidêmica.

O Ministro da Saúde falou que o número de casos vai subir em abril,


maio e junho, começar a desacelerar em julho e agosto, e cair mesmo
em setembro. É por aí ou na Fiocruz vocês trabalham com um cenário
diferente?

Depende de várias variáveis, da velocidade de propagação, do número de mortes


que vai haver, da paralisação de serviços. Um prognóstico preciso depende de
muitas variáveis.

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O
 que significa controlar uma epidemia? É impedir que a propagação em larga 
escala continue. Eu acho que talvez em dois meses nós consigamos fazer isso e aí a
doença passa a ter uma certa endemicidade. Não é mais uma epidemia, já há muita
gente infectada desenvolvendo anticorpos, sem desenvolver doença. Esse é o
esperado que ocorra.

Eu diria que o Ministro foi até bastante pessimista de imaginar que nós ainda
teremos todos esses meses pela frente. Mas a própria China hoje já está
monitorando e imaginando que possa haver uma segunda onda. A China não
relaxou as normas de isolamento social até o momento. Ela está gradual e muito
cuidadosamente fazendo isso porque se sabe, epidemiologicamente, que pode
haver uma segunda onda.

Controlar a epidemia não quer dizer que o problema está resolvido. Continua a ter
muitos casos, mas o número de mortes começa a diminuir e o impacto social e
humano começa a diminuir também.

Já é possível avaliar se o isolamento que muitas pessoas adotaram na


última semana teve efeito?

Não, a gente não tem essa informação. A gente não tem essa informação porque o
número de casos oficial ainda está muito distante da realidade. Esse processo, esse
timing entre o caso existir e ser notificado, ser confirmado, leva muitos dias.

Nós imaginávamos os dois mil casos [atuais], isso deve significar mais ou menos
10% da realidade. Sem dúvida, já deve ter ultrapassado dez vezes esse número no
Brasil.

Então vai demorar um pouco até a gente conseguir saber se estamos


realmente “achatando a curva”? Há uma previsão?

Certamente essa semana que nós já fizemos de isolamento já diminuiu a


velocidade de transmissão. Isso é um fato, não há dúvidas disso. Nós esperávamos
ter mais casos do que tivemos.

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Como
 a doença chegou ao Brasil pela classe média, ela é uma doença importada, e
a transmissão sustentada ou comunitária começou com um espaço de tempo um
pouco maior. Agora, vai depender da velocidade com a qual ela vai se espalhar nas
comunidades de grande aglomeração. Essa é a variável da qual dependemos agora.

Se mantermos a lentificação do processo de transmissão, nós conseguiremos que


os serviços de saúde estejam preparados para receber os 20% de casos graves que
vão exigir internação hospitalar. Caso contrário, nós vamos entrar em colapso
como hoje já se verifica numa cidade rica, desenvolvida, com uma infraestrutura
espetacular como Nova York. Nova York teve um colapso de serviço de saúde, um
número de mortos enorme, um número de infectados enorme e os serviços de
saúde não têm sequer o número de respiradores necessários para tantos casos
graves.

Em termos de dados e projeções de ações do governo, faz sentido


comparar o cenário do Brasil com algum outro país?

Não. Nós temos particularidades próprias. Nós não temos testagem massiva. O
mundo ideal seria se nós tivéssemos 200 milhões de testes para testar a população
toda. Mas isso não existe, isso não vai ter. Nossa situação não pode ser considerada
semelhante à da Coreia, por exemplo, que testou todo mundo. Nós somos uma
população muito maior, muito heterogênea, densidades demográficas muito
diferentes. O Sudeste é muito diferente do Norte, e por aí vai.

Certo, mas existem lições que a gente pode aprender com esses países.
O que a gente pode aprender com eles?

Nós aprendemos com todos os países que nos antecederam nessa epidemia. Nós
aprendemos, sobretudo, com a Itália e a Espanha, que demoraram a reconhecer o
problema e onde a situação é essa tragédia humana que nós estamos verificando. A
situação da Espanha também é muito dramática hoje.

O Brasil está tentando, a meu juízo, tomar medidas que não repitam esses modelos
trágicos. É por essa razão que nós nos antecipamos no sentido de propor o
isolamento social, de mobilizar a iniciativa privada no sentido de criar uma cultura
nova.
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Quando
 você verifica 4 bancos se unindo para comprar 5 ou 10 milhões de testes 
novos para doar ao Ministério da Saúde, é uma iniciativa extraordinária para nós,
mas muito normal em qualquer lugar onde a solidariedade humana é claramente
exigida como agora.

Há fábricas que não estão com sua produção a todo vapor que estão fabricando
máscaras, há produtores da rede de cosméticos que em vez de perfume estão
produzindo sabão líquido. E isso terá que chegar às comunidades mais
desfavorecidas sob pena de elas não poderem seguir as recomendações que nós
estamos dando.

E falando em comunidades menos favorecidas, muitas das orientações


que são dadas não podem ser seguidas por essas pessoas, como ficar
em casa, lavar as mãos, e manter uma distância de dois metros de
outra pessoa. Se a pessoa tem que trabalhar, se ela não tem acesso a
saneamento básico e se ela mora num apartamento que tem um
cômodo por exemplo. Que medidas essas pessoas podem tomar para se
protegerem dentro da realidade em que elas vivem?

Eu não posso dizer a essas pessoas que se tiver uma pessoa de idade, um avô ou
uma avó que fique sozinha num cômodo, porque elas vão me responder “Aqui
moram cinco no mesmo cômodo.” A gente não tem como fazer retórica de uma
coisa que não tem aplicabilidade prática. Não há como fazer, essa é a resposta.

Dentro do possível, que recomendações essas pessoas podem seguir?

Mantenha normas de higiene muito rígidas. Hidratação e alimentação, o máximo


possível, adequadas.

E o que o poder público pode fazer também para ajudar a prevenção


nesses locais?

Eu tenho uma visão muito particular. Eu não acho que isso caiba ao poder público,
nesse momento. O poder público não aguenta. O SUS sozinho não aguenta. Ou nós
ajudamos com a iniciativa privada ou o colapso será mais grave e mais rápido.

Por que a Covid-19 não é só uma “gripezinha”?


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Ela
 começa com sintomas muito semelhantes a uma gripe comum. Mas num 
determinado número de pessoas – e, até agora, o que a epidemiologia tem
mostrado é que esse grupo de pessoas são aquelas de mais idade e aquelas
portadoras de doenças associadas ou prévias, como hipertensão arterial, diabetes
descompensada, paciente imunossuprimido pelo uso de remédio ou com qualquer
doença que diminua a imunidade, pacientes transplantados de órgão, paciente com
HIV…

Quem morre de Covid-19 morre de pneumonia. A pneumonia que ela causa é


muito grave e é diferente de uma pneumonia comum. Ela se caracteriza por um
grau de inflamação muito mais grave evoluindo com fibrose precoce, evoluindo
para síndrome de angústia respiratória do adulto, evoluindo para “sepsis”,
necessitando ventilação mecânica porque o pulmão não funciona.

E com uma mortalidade muito alta nessas condições nesse grupo de pessoas que
eu falei.

Sobre remédios, têm alguns estudos muito preliminares falando sobre


remédios que já são conhecidos pra malária, ebola e HIV que podem
negativar o coronavírus. Isso deve ser encarado como uma possível
cura?

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hospitais privados 
Em cinco estados, UTIs têm mais de 90%
de ocupação no SUS; governo foi
procurado por hospitais privados para
custear UTIs para os que não têm vaga no
sistema público

Não. A nossa posição brasileira foi de não recomendar nenhum tratamento. Há


vários trabalhos publicados, há um número de papers publicado na literatura
nesses últimos três meses que já ultrapassa 700. Desses, alguns são de avaliação,
mas são estudos não randomizados, não controlados, não duplo-certos, com uma
série de impedimentos. São cohorts, são séries de casos que testaram alguns
antivirais, algumas medicações antimaláricas que são usadas em algumas doenças
autoimunes. Mas as conclusões até o momento não permitem que nós
recomendemos que haja esse ou aquele tratamento.

Nós optamos por esperar a publicação do grande estudo clínico que está sendo
feito na China, o que deve ocorrer nos próximos dois meses, para verificação
dessas associações medicamentosas. Essa é a nossa posição.

O quanto que o corte de recursos para pesquisa, para universidades e


para o próprio SUS nos prejudicaram e fragilizaram para combater
essa pandemia?

Agora nós estamos reivindicando recuperar alguns cortes havidos. Temos


conseguido alguma coisa. Mas, sem dúvida nenhuma, os geneticistas e os
virologistas brasileiros têm dado uma contribuição extraordinária. Desde as
pesquisadoras de São Paulo que em três dias desvendaram o genoma que chegou
ao Brasil, que era um genoma importado europeu.

E agora tem um grupo de pesquisadores multi-institucional envolvendo


universidades de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,
Fiocruz, que está trabalhando no sentido de determinar o perfil epidemiológico e
as mutações existentes.

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Hoje
 nós já podemos dizer que o vírus que está circulando no Brasil já tem 
características brasileiras. Ou seja, ele já sofreu mutações que o adaptaram ao
nosso país. O vírus brasileiro já tem cluster, ou conglomerados virais, que já o
torna diferente daquele que circula na China ou mesmo nos países europeus.

Que cuidados as pessoas devem tomar com compras, alimentos que


elas trazem de fora de casa e, até com pelos animais, cabelo e barba,
para elas não se contaminarem?

Normas de higiene. Lavar com água e sabão as embalagens. Quando for pedir
comida de entrega domiciliar, sempre ter cuidado de passar um paninho ou
alguma coisa, de preferência descartável, nas embalagens que possa limpar aquela
superfície, uma vez que o vírus pode se manter em superfícies durante algumas
horas. Não está determinado por quantas horas, mas nós sabemos que pode viver
algumas horas em superfícies lisas.

Tem muita gente que tem coronavírus e não sabe que tem, já que 80%
dos infectados são assintomáticos. Tem algum teste caseiro que dê pra
pessoa saber se tem coronavírus?

Não.

Então muita gente que não sabe se tem, principalmente jovens….

Nem vai saber. Portanto, a recomendação é igual para todos: sigam o isolamento
social, não façam festa, não vão para bares. Esse é o momento em que todo mundo
tem que colaborar. E cuidem dos seus velhos: pais, avós, padrinhos, tios, etc.

Cuidar significa ficar longe por enquanto, o máximo possível.

É, por enquanto, nada de abraços e nem beijinhos.

Muita gente perguntou sobre tomar vacina e doar sangue. Isso é


seguro?

São duas coisas diferentes.

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Para
 doar sangue, nenhum problema. As condições de biossegurança, tanto nos 
locais de doação, utilização de materiais, proteção da pessoa doadora, bem como
da pessoa que vai receber sangue são 100% seguras. Portanto, nós conclamamos as
pessoas que compareçam porque os bancos de sangue estão precisando muito de
doador nesse momento. Rio de Janeiro, São Paulo, locais de grande atendimento e
de grandes hospitais com grande demanda cirúrgica, inclusive, de terapia intensiva
e para casos graves. Isso é uma coisa completamente segura.

Fila para tomar vacina é uma coisa totalmente não recomendada. A nossa
recomendação é que, quem vai tomar vacina vá, preferencialmente, usando
máscara e que mantenha uma distância de um metro de uma pessoa para a outra
enquanto espera. Dependemos do seu apoio para revelar as injustiças, abusos
de poder e violações de direitos que se agravam em meio à pandemia. Doando a
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