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Tribunal Judicial da Comarca de ·····

Proc. n.º 6 /15


1ª Secção de Execução - Juiz 2

Meritíssimo Juiz de Direito

Mário, NIF, residente em ·····, executado nos autos em referência, vem


deduzir embargos de executado contra a exequente Sara, o que faz nos
termos e com os seguintes fundamentos:

1. A Exequente apresenta como título executivo um documento


exarado por notário (art.º 703.º/1 al. b) do nCPC], com data de
02.08.2014, assinado pelo Embargante, do seguinte teor:
"Declaro por este meio declarar que irei pagar à Exmª Srª Drª
Sara o valor de €5.000 (cinco mil Euros) sem encargos,
referentes a comissões recebidas na minha actividade
profissional dos últimos sete meses, conforme o acordo verbal.

2. O valor acima citado será reposto em multientregas e valor,


consoante a disponibilidade da sua futura situação profissional."

3. O ora Executado após ter assinado o documento dado à


execução não exerceu qualquer actividade remunerada,

4. sendo que desde Agosto de 2014 que está inscrito no Centro de


Emprego (doc. 1).

5. A obrigação assumida pelo Embargante não é exigível, sendo


que o ónus da prova dessa exigibilidade incumbe à Embargada-
Exequente.

6. Do requerimento inicial não constam quaisquer factos


reveladores da exigibilidade desta obrigação.
O Direito

Define-se título executivo como "(...) o instrumento que é


considerado condição necessária e suficiente da acção
executiva", Anselmo de Castro, A acção Executiva Singular,
Comum e Especial, Coimbra Editora, 1977, pág. 14.

A certeza decorre normalmente da perfeição formal do título e da


ausência de reservas à sua plena eficácia. A liquidez é, um plus
que se acrescenta à certeza da obrigação, demonstrando quanto
e o que se deve. A exigibilidade, reporta-se ao vencimento da
dívida, sendo que, obrigação exigível é uma obrigação que está
vencida, não dependendo o seu pagamento de termo ou
condição, nem está sujeito a quaisquer outras limitações.

O título dado à execução deve, por si só, fornecer a segurança de


estarmos perante uma obrigação vencida e do respectivo direito a
ela inerente. (Alberto dos Reis in Processo de Execução, vol. I,
1985, 174.)

Dispõe o art. 10º/5 do nCPCivil, que "toda a execução tem por


base um título, pelo qual se determinam o fim e os limites da
acção executiva."

À execução podem servir de base os documentos exarados por


notário, que importem constituição ou reconhecimento de
obrigações pecuniárias, cujo montante seja determinado ou
determinável nos termos do art. 703.º, alínea b) e art. 716.º do
nCPC.

Porém, tais documentos para se configurarem como títulos


executivos devem obedecer aos seguintes requisitos:

a) Conterem a assinatura do devedor;

b) Importarem a constituição ou reconhecimento de obrigações;

c) As obrigações reportarem-se ao pagamento de quantia


determinada ou determinável, por simples cálculo aritmético.
No caso em análise, é fora de dúvida que o documento particular
dado à execução reúne estes três requisitos: é exarado por
notário e nele reconhece-se uma obrigação pecuniária
determinada.

Mas para poder promover-se a execução, é necessário que a


obrigação se torne certa e exigível, como estatui o art. 713º do
nCPCivil: "a execução principia pelas diligências, a requerer pelo
exequente, destinadas a tornar a obrigação certa, exigível e
líquida, se o não for em face do título".

No caso, não há dúvida que a obrigação é certa e líquida, mas


não é exigível.

A obrigação é exigível desde que se encontre vencida (Cons.


Amâncio Ferreira, Curso de Processo de Execução, 9ª edição,
pag. 114).

A prestação é exigível quando a obrigação se encontre vencida,


ou seja o momento a partir do qual a prestação pode ser exigida
(Antunes Varela, Das Obrigações, II, 7ª edição, pag. 40).

O princípio geral do nº1 do art. 777º do Cód. Civil é o de que o


credor pode exigir o cumprimento a todo o tempo, assim como o
devedor pode a todo o tempo exonerar-se da obrigação. É o
princípio geral relativo às obrigações puras: aquelas que por falta
de estipulação ou disposição em contrário, se vencem logo que o
credor, mediante interpelação, exija o seu cumprimento ou o
devedor pretenda realizar a prestação devida (A.Varela, obra
citada, pag. 42).

Ora, o caso em análise não constitui uma obrigação pura.

É que se é certo ter o Embargante reconhecido dever à


Embargada a importância de e 5.000, esclareceu que efectuaria o
pagamento "em multientregas e valor consoante a disponibilidade
da minha futura situação profissional".

Esta declaração, que foi aceite pela Embargada, constitui uma


verdadeira cláusula "cum potuerit" - prevista no nº1 do art. 778º do
Cód. Civil - pois se traduz na possibilidade concedida ao devedor
de cumprir quando puder.

«Dispõe com efeito, aquele preceito, que "se tiver sido estipulado
que o devedor cumprirá quando puder, a prestação só é exigível
tendo este a possibilidade de cumprir...".

O Prof. Antunes Varela, obra citada, pag. 46, escreve a propósito:

"Para exigir o cumprimento, o credor terá de alegar e provar que o


devedor dispõe de meios económicos bastantes para efectuar a
prestação, sem que esta o deixe em situação precária ou difícil."

Neste sentido os Acórdãos da Relação de Lisboa de 20.04.89 e


de 21.02.91, CJ ano XIV, tomo 2, pag. 143 e ano XVI, tomo1, pag.
158 e Ac. do STJ de 25.03.2003, CJ AcSTJ, I, pag. 137.» Ac. TRL
de 28-06-2007 Processo: 2849/2007-6 Relator: FERREIRA
LOPES

Para que esta obrigação assim reconhecida se torne exigível, teria


a credora/exequente o ónus de provar que o devedor/embargante
dispõe dos meios económicos bastantes para efectuar a
prestação, o que teria que fazer como preliminar da execução, nos
termos do art.715.º do nCPCivil, mas efectivamente não fez.

Não fazendo tal prova, devem proceder os presentes embargos


de executado uma vez que a inexigibilidade da obrigação constitui
fundamento de oposição à execução - artigos 729.º/1, alínea a) do
nCPC.

Termos em que deverão os presentes embargos


ser recebidos e em decorrência ser
absolutamente extinta a presente execução.

Valor da Acção: o da execução


Rol de testemunhas: nome, profissão e morada.
Junta: procuração forense, 1 documento e DUC comprovativo do
pagamento da taxa de justiça.
O Advogado

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