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Todos fazemos parte de uma instituição social, desde o nascimento até a morte, que pode ser definida como o conjunto
de procedimentos aos quais devemos nos submeter junto à estrutura social em que estamos inseridos. Ela colabora para
a coesão social ao ditar valores e regras de comportamento e para a socialização do indivíduo. Desse modo, família, Igreja
e Estado são instituições sociais que dirigem nossas formas de sentir, pensar e agir.
A família é, ao mesmo tempo, um grupo social primário e uma instituição, pois os componentes familiares, enquanto
grupo, possuem objetivos comuns; e as regras e procedimentos que norteiam a conduta da família transformam-na em
uma instituição, já que as famílias, em geral, seguem os mesmos padrões, com pequenas variações.
Da mesma forma que a família, a Igreja é considerada uma instituição social com uma importante função, pois gera
estabilidade social, colaborando para uma melhor adequação de um indivíduo às normas da sociedade.
Já o Estado, enquanto instituição, possui o monopólio da força, impondo a nós a adequação às regras e agindo na
aplicação da lei quando necessário.
Para qual direção caminha a família enquanto instituição social? Como seus novos formatos e tendências têm afetado
nossas relações?
No Brasil, de histórica tradição católica, como o crescimento de opções religiosas, ideologias de fé e crenças tem
transformado as visões sociais e de vida?
C C3 - Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e
movimentos sociais.
Família
A família é um grupo social primário, já que seus membros, em geral, com-
partilham emoções, confidências, solidariedade e até mesmo indignações e
brigas. Portanto, seus integrantes, normalmente, expõem-se uns aos outros.
Quando um casal se une, o faz com objetivos sexuais, reprodutivos, afetivos,
econômicos e educacionais.
Como foi exposto no texto de abertura, a família transforma-se em instituição
por seguir regras e procedimentos padronizados pela sociedade. Quanto ao nú-
mero de casamentos, uma família pode ser monogâmica (procedimento típico das
sociedades ocidentais) ou poligâmica (de poliginia – quando se permite ao homem
possuir várias mulheres de forma oficial –; ou de poliandria – quando se permite
à mulher ter dois ou mais relacionamentos com o sexo oposto). Uma família é
nuclear quando reúne esposa, marido e filhos, e é considerada extensa quando
congrega, além do casal e dos filhos, outros membros, como avós, tios, sobrinhos,
primos, enteados, entre outros. Em nossa sociedade contemporânea, assistimos
ao crescimento das famílias nucleares, mas essa realidade torna-se diferente ao
nos dirigirmos aos grupos familiares menos abastados, que somam rendas para
que seus membros possam sobreviver com maior dignidade.
Além disso, o tempo em que a principal função da família esteve ligada à
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Instituições sociais: família e Igreja
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civis e livres, sem serem formalizadas. No Brasil, o nessa faixa era de 5,10, em 2010 essa taxa caiu para
número de casais em união consensual teve um au- 3,56. Mesmo entre as mulheres de maior renda per
mento significativo entre 2000 a 2010. Considerando capita, que já apresentavam uma baixa taxa de fecun-
as pessoas casadas, as que viviam em união consen- didade, os números apresentaram uma ligeira que-
sual representam nos dias atuais mais de um terço da: de 1,17 em 2000 para 1,11 em 2010. Atualmente,
dessa parcela da população, segundo dados divulga- a taxa é de 1,81 nascimentos por mulher, segundo
dos em outubro de 2012 pelo Instituto Brasileiro de dados de 2012, do IBGE.
Geografia e Estatística, em seu relatório “Censo de-
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o relatório sobre a taxa de nupcialidade revela que
99,6% dos casais homoafetivos vivem em união con-
sensual, com predominância de católicos (47,4%), se-
guida por pessoas sem religião definida (20,4%).
• Tendência à nuclearização: em uma sociedade es-
sencialmente patriarcal, como a brasileira, há algu-
mas décadas a tendência era que as famílias fossem
numerosas, pois cabia à mulher gerar vários filhos
e cuidar das atividades domésticas. Na atualidade, a
diminuição do tamanho médio da família é progres-
siva, embora o número de famílias tenda a crescer
em decorrência dos novos arranjos familiares, como
as uniões estáveis e as homoafetivas. No Brasil, um
exemplo dessa tendência de queda pode ser obser-
vado na taxa de fecundidade (relação entre o número
médio de crianças nascidas vivas por mulher em PONTO DE CONEXÃO
idade reprodutiva). Desde os anos de 1960, a diminui- Em Geografia, observe o conceito de transição demo-
ção do número de filhos e, por sua vez, do número gráfica, em que o crescimento da população tende a
dos componentes familiares segue uma disposição diminuir ou oscilar, em decorrência da redução das
histórica de queda, tanto no Brasil quanto no mundo. taxas de fecundidade, de mortalidade e de natalidade
Segundo dados divulgados em 2012 pelos Estudos e do aumento da expectativa de vida. O Brasil, como
técnicos SAGI (número 4), do Ministério de Desenvol- muitos países desenvolvidos na década de 1970 e de
vimento Social e Combate à Fome (MDS), as princi- 1980, passa agora por um período de estabilização
pais responsáveis pela acentuada queda da taxa de de sua população, em torno de 200 milhões de ha-
bitantes, o que condiciona à diminuição do tamanho
fecundidade total no Brasil entre os anos 2000 e 2010
das famílias, com expressiva elevação do número de
foram as mulheres de menor renda. Dessa forma, se
idosos e queda do número de jovens.
no ano 2000 o número médio de filhos por mulher
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• União entre os “iguais” em raça prevalecendo: ape- as etnias nas décadas anteriores. Alguns dados, no
sar das políticas de igualdade entre etnias, segundo entanto, chamam a atenção, como a realidade das
dados divulgados na publicação do IBGE “Censo de- mulheres pretas, que se casam mais com homens
mográfico 2010: nupcialidade, fecundidade e migra- brancos (25,5% das uniões desse grupo) do que com
ção: resultados da amostra”, o casamento inter-ra- pardos (22,9%). Entre aqueles que se declaram par-
cial não avançou de 2000 a 2010. Um exemplo mais dos, 69% dos homens e 68,1% das mulheres tinham
claro vem dos percentuais: 75,3% dos homens bran- parceiros com a mesma cor de pele. Em relação aos
cos e 73,7% das mulheres brancas casaram-se, em pretos (cerca de 10% da população brasileira), o me-
2010, com pessoas da mesma etnia, considerando nor contingente dificulta a escolha de pessoas no
todos os tipos de união (casamento civil, religioso ou mesmo grupo para se relacionar e casar, segundo o
união consensual). Por outro lado, caíram em uma Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O não
proporção semelhante as uniões de homens e mu- avanço do casamento inter-racial é uma tendência a
lheres pardos com brancos e brancas, paralisando se verificar para os próximos anos.
uma tendência de ampliação dos casamentos entre
Homens que se unem com mulheres de Mulheres que se unem com homens de
determinada raça (em %) determinada raça (em %)
Homem Mulher
Indígenas
Indígenas
Amarelas
Amarelos
Brancas
Brancos
Pardos
Pardas
Pretos
Pretas
Mulher Homem
Brancas 75,3 26,4 24 26,1 16,6 Brancos 73,7 25,5 22 24,4 16,9
Pretas 3,6 39,9 6,8 3,9 3,1 Pretos 4,6 50,3 9,8 6,8 3,9
Amarelas 0,6 1,4 44,2 0,9 1 Amarelos 0,5 1,1 38,8 0,7 0,8
Pardas 20,4 32,1 24,7 69 13,9 Pardos 21,1 22,9 29,2 68,1 13,8
Indígenas 0,1 0,2 0,3 0,1 65,4 Indígenas 0,1 0,2 0,3 0,1 64,6
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2010: nupcialidade, fecundidade e migração: resultados da amostra. Rio de
Janeiro: IBGE, 2010. pp. 64-5.
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me.com
o aumento do número de divórcios e separações, a
maior participação da mulher no mercado de tra-
| Dreamsti
balho, as constantes oscilações econômicas, o pro-
Huzau
gressivo reconhecimento social (que garante à mu-
© Ruslan
lher maior autonomia e direitos) e as imposições de
consumo – em que a soma de salários dos cônjuges
torna-se quase imperativa –, apontam para um cres-
cimento significativo da mulher enquanto chefe de
família.
No Brasil, em famílias chefiadas por mulheres, nor-
malmente os filhos têm mais de quinze anos de ida-
de. Essa tendência mostra-se preocupante, pois, por
mais que a participação da mulher no mercado de
trabalho seja cada vez mais significativa, os salá-
rios recebidos por elas ainda são menores se com-
parados aos obtidos pelos homens que realizam as
mesmas funções. Os números apontam, ainda, que
em famílias mais estáveis, em termos de renda, pre-
valece a chefia da figura masculina, segundo dados
do “Censo demográfico 2010: famílias e domicílios:
resultados da amostra”.
• Crescimento dos divórcios e separações: as rupturas
e os desenlaces familiares, cada vez mais comuns
hoje em dia, são um processo de dissociação iniciado
a partir da segunda metade do século XX. Essa
transformação está ligada muito ao desenvolvimento
do individualismo e à busca da felicidade contínua e
constante, estimulada pelos meios de comunicação
e pela propaganda, onipresente em um número
cada vez maior de canais como a TV, a internet e
as redes sociais. Ou seja, o desejo de escolha da
atividade profissional, das paixões fugazes e dos
amores expressos da vida moderna tem provocado
separações e novas uniões. O divórcio legal
também deixou de ser tabu, e separações
tendem a ser mais aceitas pela sociedade.
Assim, as denominadas famílias mosaico, em
que unidades domésticas são formadas por
casais separados com filhos de outras uniões
têm se tornado comuns. No Brasil e no
mundo ocidental em geral, esses arranjos
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ção dos arranjos familiares e a flexibilização da rigidez
familiar (com o desprezo a normas impositivas pro-
venientes do século XIX e começo do século XX, como
a obrigatoriedade do casamento, especialmente do
primogênito, para a perpetuação do nome da família,
em uniões muitas vezes arranjadas) aponta para uma
maior suavidade, compreensão e cumplicidade nas
relações familiares contemporâneas. Pais se tornam
próximos dos filhos, querendo estar presentes em to-
das as etapas, não somente no desenvolvimento infan-
til; filhos que se apegam aos pais e dependem deles
por mais tempo, por comodismo ou por falta de opor-
tunidades, entre outras tendências de comportamento. ção técnica tornou-se prerrogativa em uma sociedade
Sendo assim, se já houve uma época em que competitiva e a proliferação da violência social assusta
um adolescente tinha como meta sair de casa, bus- (especialmente a urbana).
cando vida própria, muitas vezes casando-se mais Dessa forma, temos a chamada geração “canguru”,
cedo e tornando-se mais independente, os tem- que vive sob a proteção dos pais, fenômeno que se ve-
pos têm-se mostrado diferentes, já que um fenô- rifica mais comumente na Europa. Na Itália, por exem-
meno começou a se alastrar pelo mundo moder- plo, filhos nessa situação ficaram conhecidos como
no ocidental: o prolongamento da estada na casa mammone (palavra que vem de mamma, a dominante
dos pais ou responsáveis, em especial entre jovens mãe italiana que, segundo o imaginário popular, adora
de classe média, média alta e alta, até os 28, 30, manter seus rebentos próximos e sob a proteção dela).
32 anos ou mais. Isso se deve ao fato de o lar propiciar, Na França e na Espanha, os jovens ficam mais com os
dentro de uma sociedade competitiva e com uma for- pais porque também é difícil conseguir emprego por lá,
mação familiar individualista, proteção e refúgio certo, dada a crise de crescimento ou estagnação econômica
permitindo que se concilie liberdade individual e soli- pela qual passam muitos países europeus.
dariedade familiar com o reforço dos contatos sociais • Maior presença feminina no mercado de trabalho: no
primários. Assim, a dificuldade para sobreviver fora do Brasil, como em outros países, o crescimento mais
âmbito familiar, com a incerteza do emprego e as faci- acelerado da população feminina está ligado ao enve-
lidades dadas pelos pais, ainda conservam muitas pes- lhecimento, já que as mulheres vivem, em geral, mais
soas jovens na casa dos pais/responsáveis, estendendo do que os homens.
a juventude. É como se o prolongamento da adolescên- No mercado de trabalho atual, no entanto, as mu-
cia estivesse sendo ditado pelos fenômenos urbanos lheres – dentro de um quadro geral – ainda têm remu-
que transformaram as últimas décadas. Ou seja, o ca- neração inferior ao exercerem as mesmas atividades
samento institucionalizou-se como tardio, a capacita- que os homens; além disso, os afazeres domésticos
ainda apresentam maior responsabilidade da ala fe-
minina de nossa sociedade. No setor educacional, a
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mulher
Fontes: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatísticas do registro civil 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. p. 60. v. 33. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatísticas do registro civil 2011.
Rio de Janeiro: IBGE, 2011. p. 60. v. 38. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2012. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. pp. 29, 30 e 136.
A
na atualidade
2001 Em 2001, 43,2% das
Na faixa etária de 25 a 29
43,2% mulheres estavam
ocupadas formalmente anos, 31% das mulheres
não tinham filhos em
no mercado de
2001. Em 2011, o
trabalho; em 2011, o
2011
percentual elevou-se
índice subiu para
para 40,8%.
54,8%.
54,8%
Renda desigual
% média do rendimento das mulheres em relação ao dos homens:
2001: 69,6% do rendimento masculino.
2014: 74,5% do rendimento masculino.
Fontes: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa nacional por amostra de domicílios: síntese de indicadores, 2001 e 2014.
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PARA PRATICAR
1 (UnB) Assinale a opção correta a respeito de insti- 04. as universidades são instituições autônomas e in-
tuição social. dependentes dos interesses econômicos, políticos
A É um sistema complexo e organizado de relações e militares.
sociais relativamente permanentes, que incorpora 08. instituições familiares, educacionais e religiosas
valores e procedimentos comuns e atende a certas frequentemente se submetem aos interesses mili-
necessidades básicas da sociedade. Nas instituições tares, políticos e econômicos.
sociais, as atividades não são rotineiras e previsíveis 16. as Forças Armadas e as agências, como os Conse-
e as relações entre os membros tendem a uma não lhos de Segurança Nacional, são instituições cada
padronização. vez menos importantes para os estados nacionais,
B O poder coercitivo de uma instituição está no fato de dada a força de movimentos internacionais de cará-
que a sua existência depende da vontade dos indiví- ter pacifista e de defesa dos direitos humanos e dos
duos: basta esquecer suas regras ou tentar mudá- cidadãos.
-las para perceber a sua força. Soma =
C A institucionalização é o processo pelo qual certas
atividades adquirem padrões e rotinas, e são espe- 3 No duplo circuito particular-geral, geral-particular,
radas e aprovadas para atingir objetivos considera- a família aparece como um intermediário entre o indivíduo
dos importantes. Um papel é dito institucionalizado e a colectividade. É um subsistema a um tempo afectado
quando foi padronizado, aprovado e esperado. pela colectividade e afectando-a — parte de um todo orgâ-
D As instituições não tendem a regulamentar e a con- nico, numa relação de interdependência e interpenetração.
trolar o comportamento dos indivíduos. Como elas Fase do processo que conduz do indivíduo à colectividade,
incorporam as expectativas aceitas pela sociedade, a família é um veículo de modelos sociais, um instrumento
qualquer desvio dessas expectativas pode sofrer pu- de termo socialização usado ao longo deste texto significa
nição ou exposição a constrangimentos. «o processo pelo qual o indivíduo aprende a ajustar-se ao
grupo, através da aquisição de um comportamento social
2 (UEM 2013) Dentro da sociedade norte-americana, o que o grupo aprova» — definição de «socialização» pelo
principal poder nacional reside hoje nos domínios econômi- qual os indivíduos se inserem no meio que os rodeia.
co, político e militar. Outras instituições parecem colocadas SANTOS, Maria de Lourdes Lima dos. “Família e ‘socialização’: um aspecto da
evolução social contemporânea”. Análise social, v. VII, n. 25-6, pp. 67-8, 1969.
do lado de fora da história moderna e, de vez em quando,
subordinam-se convenientemente àqueles domínios. Nenhu- Conforme o trecho, a socialização da criança é funda-
ma família é tão diretamente poderosa em questões nacio- mental para a construção do “eu social”. E, nesse con-
nais quanto qualquer grande corporação: nenhuma igreja é texto, a família tem como uma de suas funções a socia-
tão diretamente poderosa nas histórias de vida externas dos lização primária das crianças. Esse processo, ao qual a
jovens norte-americanos hoje quanto o Exército dos EUA; sociologia atribuiu grande importância, justifica-se
nenhuma universidade é tão poderosa na conformação dos A por ser por meio da família que a criança recebe as
eventos internacionais quanto o Conselho de Segurança Na- informações necessárias para que se adapte às re-
cional. As instituições religiosa, educacional e familiar não são gras da sociedade na qual está envolvida.
centros autônomos de poder nacional; pelo contrário, essas B por ser por meio da instituição familiar que a criança
áreas descentralizadas são cada vez mais moldadas pelos passa a questionar valores, o que lhe permite transfor-
três grandes poderes, nos quais ocorrem hoje os eventos de mar o curso da sociedade em que se insere.
consequência decisiva e imediata. C por ter o grupo social familiar a capacidade de trans-
WRIGHT-MILLS, C. “A elite do poder: militar, econômica e política”. In: missão de hábitos, devido ao seu poder formal de
FERNANDES, H. R. (Org.). Wright-Mills: sociologia. São Paulo: Ática, 1985. p. 70.
moldar indivíduos e suas capacidades.
De acordo com o texto, é correto afirmar que D por ser da família o poder de intermediar as esfe-
01. as instituições sociais mais poderosas nas socieda- ras privada e pública de vida, impondo ao indivíduo o
des modernas são as religiões, as escolas, as uni- conceito de cidadania adequado à vida social.
versidades e as famílias. E por ser por meio da instituição familiar que o indivíduo
02. os domínios econômico, político e militar são mui- faz sua socialização, modificando hábitos, padrões e
to importantes nas sociedades modernas, mesmo comportamentos para a organização em sociedade.
quando entram em conflito entre si, dado que seus
interesses nem sempre são convergentes.
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6 Analise as afirmativas a seguir. Brasil, revelando uma maior pluralidade nas áreas mais
I. A taxa de fecundidade brasileira tem decrescido nas urbanizadas e populosas do país. A proporção de católicos
últimas décadas, com consequente redução da taxa de seguiu a tendência de redução observada nas duas déca-
natalidade. Essa é uma tendência não apenas do Brasil, das anteriores, embora tenha permanecido majoritária.
mas de praticamente todos os países ocidentais que as- Em paralelo, consolidou-se o crescimento da parcela da
sistem a uma urbanização crescente e uma maior parti- população que se declarou evangélica. Os dados censitá-
cipação da mulher no mercado de trabalho. rios indicam também o aumento do total de pessoas que
II. O crescimento da expectativa de vida do brasileiro tem professam a religião espírita, dos que se declararam sem
como consequência alguns problemas, como a ques- religião, ainda que em ritmo inferior ao da década anterior
tão previdenciária, uma vez que há prolongamento dos e do conjunto pertencente a outras religiosidades.
pagamentos de pensões e aposentadorias. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS. Censo demográfico
2010: características gerais da população, religião e pessoas com deficiência.
III. O crescimento da população absoluta brasileira a Rio de Janeiro: IBGE, 2010. pp. 89-90.
partir das décadas de 1940 e 1950 está relacionado
ao aumento acelerado da taxa de mortalidade infan- A respeito da trajetória da Igreja Católica no Brasil, en-
til no país. quanto instituição social, podemos afirmar, conforme o
IV. A taxa de mortalidade infantil no Brasil está caindo texto, que
vertiginosamente, o que atesta a elevação do desen- A embora perca (na atualidade) adeptos para Igrejas
volvimento econômico do país e a redução da desi- protestantes, nunca teve sua hegemonia abalada de-
gualdade social. vido à sua política histórica de manter-se aliada às
estruturas políticas vigentes.
Está(ão) correta(s): B sempre se manteve coerente e ativa nos assuntos
A I, apenas. nacionais, ao fazer opção constante pelos menos fa-
B I e II, apenas. vorecidos socialmente.
C I, II e III, apenas. C ao apoiar a Teologia da Libertação, a Igreja Católica
D I, II e IV, apenas. posicionou-se historicamente ao lado dos movimen-
E todas. tos sociais libertadores, o que sempre lhe garantiu
hegemonia, embora haja queda no número de adep-
7 Desde o primeiro recenseamento de âmbito nacio- tos na atualidade.
nal até a década de 1970, o perfil religioso da população D os números sempre crescentes de fiéis atestam a li-
brasileira manteve como aspecto principal a hegemonia nha constante e segura da Igreja Católica na luta por
da filiação à religião católica apostólica romana, carac- justiça social, o que a faz ser predominante no país.
terística herdada do processo histórico de colonização do E no decorrer do período republicano brasileiro, a Igre-
país e do atributo estabelecido de religião oficial do Estado ja Católica foi modificando sua atuação no país, ado-
até a Constituição da República de 1891. As demais reli- tando tendências por vezes liberais, populistas ou
giões praticadas no Brasil, resultantes dos vários grupos conservadores o que, de certa forma, pode ter refle-
constitutivos da população, tinham contingentes signifi- tido na queda do número de fiéis atualmente.
cativamente menores. Em aproximadamente um século,
a proporção de católicos na população variou 7,9 pontos 8 (UEM 2011) O fenômeno religioso ocupa um impor-
percentuais, reduzindo de 99,7%, em 1872, para 91,8% em tante espaço nas preocupações sociológicas. Conside-
1970. No Censo demográfico deste último ano, os evangé- rando o tratamento sociológico desse tema, assinale
licos no seu conjunto somavam 5,2% e as demais religiões a(s) alternativa(s) correta(s).
2,3% do total. (...) 01. Dada a importância que possui para as relações
O Censo demográfico 2000 mostrou acentuada redução sociais, a religião é uma instituição que influencia
do percentual de pessoas da religião católica romana, o outras instituições, como a família e o Estado, mas
qual passou a ser de 73,6%, o aumento do total de pessoas não pode ser por estas influenciada.
que se declararam evangélicas, 15,4% da população, e sem 02. A Sociologia comporta teorias diversas sobre o fe-
religião, 7,4% dos residentes. Observou-se, ainda, o ligeiro nômeno religioso. Entretanto, todas elas enfatizam
crescimento dos que se declararam espíritas (de 1,1%, em seu papel na promoção da estabilidade social e não
1991, para 1,3% em 2000) e do conjunto de outras religiosi- nas mudanças sociais.
dades que se elevou de 1,4%, em 1991, para 1,8% em 2000. 04. Para Durkheim, a religião tem a função de reforçar a
Os resultados do Censo demográfico 2010 mostram solidariedade social, ou seja, a coesão da sociedade.
o crescimento da diversidade dos grupos religiosos no
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CAPÍTULO 9
Instituições sociais: família e Igreja
08. Os dogmas religiosos dizem respeito a verdades 04. Pela perspectiva feminista, a desigualdade de
irrefutáveis mantidas pela fé. Para serem reconhe- gênero reforçada pelo discurso dos textos sagrados
cidos como válidos, eles não requerem uma justifi- é uma forma de manutenção dos privilégios
cação científica. masculinos.
16. O termo Igreja só se aplica às manifestações reli- 08. Ao constituir valores que orientam moralmente a
giosas de origem ocidental. Nas demais socieda- conduta social dos indivíduos, como sinaliza Max
des, as manifestações religiosas devem ser com- Weber, as religiões não promovem conflitos ou de-
preendidas como seitas. sigualdades.
Soma = 16. As grandes religiões monoteístas – o cristianismo,
o islamismo e o judaísmo – têm contrariado ampla-
mente seus tradicionais textos sagrados e aceitado
9 (UEM 2015) Considerando os estudos contemporâ- a ostensiva presença feminina no exercício de fun-
neos sobre sexualidade e diversidade sexual nas ciên- ções sacerdotais.
cias sociais, assinale o que for correto. Soma =
01. É consenso entre cientistas, juristas e sociólogos
que a homossexualidade é um problema psicológi-
co e, portanto, não possui conexões com fenôme- 11 (UFG 2011) Leia o fragmento de texto a seguir.
nos de ordem social. Retrocedendo no tempo, verifica-se que para os
02. Para a sociologia, a sexualidade, apesar de for- homens, já em 1940, a média de idade no ato do casa-
temente associada à experiência individual, pode mento legal era de 27,1 anos, a qual se manteve quase
também ser analisada sob uma perspectiva políti- inalterada até nossos dias [1998]. Com as mulheres não
co-cultural. ocorreu o mesmo. Em 1940, elas se casavam no civil
04. As defesas política e jurídica de certas formas de ex- mais cedo, em média aos 21,7 anos, idade que veio cres-
pressão da sexualidade como “normais” e de outras cendo sistematicamente e passou a 23,3 anos em 1950,
como “anormais” naturalizam as primeiras como 23,8 em 1960 e 24 em 1970.
normas sociais e associam a elas práticas e valores BERQUÓ, Elza. Arranjos familiares no Brasil: uma visão demográfica. In:
SCHWARCZ, Lilia M. “História da vida privada no Brasil”. Contrastes da intimi-
positivos, ao mesmo tempo em que inferiorizam ou- dade contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras,
tras possibilidades de expressão sexual. 1998. v. 4. pp. 416-17. (Adapt.).
08. Para o pensamento sociológico, gênero é uma de- O texto retrata diferenças na idade média das mulheres,
terminação fisiológica e, portanto, todos os aspectos em relação à dos homens, no que se refere ao casa-
a ele relacionados só têm significado biológico. mento civil. No Brasil, o aumento progressivo da idade
16. A homofobia é uma prática discriminatória que pro- de casamento das mulheres entre as décadas de 1940 e
duz e legitima diferentes formas de violência contra 1970 se deve, sobretudo, à
grupos sexuais em situação de desvantagem civil A instituição do divórcio, que deu aos divorciados o di-
ou social. reito de contrair novo matrimônio.
Soma = B aprovação do código eleitoral, que garantiu a partici-
pação política das mulheres.
C elevação da escolaridade, que possibilitou maior in-
10 (UEM 2015) Deus é comumente pensado como um clusão das mulheres no mercado de trabalho.
ser do sexo masculino nas religiões monoteístas que D ampliação da longevidade feminina, que influenciou
possuem maior número de adeptos ao redor do mundo. na nupcialidade e nas parturições.
Considerando o exposto, assinale o que for correto em E implementação de políticas de saúde pública, que
relação às análises sociológicas sobre sexo e gênero. permitiu o acesso à contracepção e à esterilização.
01. Os textos religiosos e as ideias teológicas dizem res-
peito a crenças e, portanto, referem-se a escolhas
particulares e a aspectos da vida privada. Portanto,
não devem ser analisados pela sociologia.
02. Segundo Émile Durkheim, a religião é uma das ins-
tituições responsáveis por promover a ordem so-
cial, incidindo sobre o modo como são organizadas
as relações de trabalho, de família, de justiça etc.
196 SOCIOLOGIA
CAPÍTULO 9
Instituições sociais: família e Igreja
QUESTÕES EXTRAS
1 O poder obtido pelas mulheres no Brasil (e no 2 Nesse período [2000-2010], a proporção de brasilei-
mundo ocidental) nas últimas décadas é proporcional à ras com ao menos um filho diminuiu em todas as faixas
maior participação delas na renda familiar. Atualmente, etárias mais jovens [...]. Esse seria um dos reflexos do au-
em uma família, decisões como a escolha dos produtos, mento da escolarização delas, que passaram a postergar a
do carro, assim como o controle da renda familiar, têm maternidade para continuar os estudos.
sido feitas cada vez mais pelas mulheres. No entanto, ALVES, Cida. "Mais mulheres são chefes de família, e jovens optam por ser
mãe mais tarde”. G1, 31 out. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/econo-
observe os dados a seguir: mia/noticia/2014/10/mais-mulheres-sao-chefes-de-familia-e-jovens-optam-
por-ser-mae-mais-tarde.html>. Acesso: 23 nov. 2015.
SOCIOLOGIA 197
CAPÍTULO 9
Instituições sociais: família e Igreja
3 Qualquer sociedade não tem condições de resis- 4 A relação entre a Igreja e o Estado Português só
tir se não apresentar certo aparelhamento e relacio- pode ser compreendida mediante o entendimento do
namento entre seus grupos. Para que uma sociedade Padroado. Em relação ao Padroado é pertinente men-
exista, são indispensáveis interações conscientes entre cionar que a Santa Sé era consciente da situação que
os indivíduos da mesma. Se não acontece o aparelha- incidia sobre a Igreja no Brasil. De fato a Igreja não tinha
mento (organização), o homem não obtém a sua ali- autonomia, nem poder de decisão sobre os passos que
mentação, por exemplo. Ou seja, não poderia alcançar deveria desempenhar para realizar sua missão.
com perfeição todos os seus potenciais. OLIVEIRA, Marlon Anderson de. "Entre a coroa e a cruz: a Igreja colonial sob a
égide do padroado". In: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE.
COLUNISTA PORTAL EDUCAÇÃO. “Sociologia: instituições sociais”. Portal
Anais do II Encontro Internacional de História Colonial. Mneme – Revista de
Educação, 23 out. 2013.
Humanidades. Caicó, v. 9, n. 24, pp. 10-1, set/out. 2008.
Disponível em: <www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/51304/socio-
logia-instituicoes-sociais#ixzz3r7WWEXRp>. Acesso em: 23 nov. 2015. Diante da falta de autonomia da Igreja no Brasil, de acor-
O que são as instituições sociais e qual seu papel na do com o trecho, como o regime do Padroado, instituído
sociedade? a partir da Constituição de 1824 e que vigorou no Brasil
Imperial, contribuiu para a decadência do II Reinado (1840-
1889)?
198 SOCIOLOGIA
CAPÍTULO 9
Instituições sociais: família e Igreja
no Enem
7 (Enem) 9 (UEM) Considere o seguinte texto:
Caiu
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