A Maçonaria
II - a Maçonaria não impõe limites à investigação da verdade e, para garantir essa liberdade,
exige de todos a maior tolerância;
III - a Maçonaria é acessível aos homens de todas as raças, classes e crenças, quer religiosas
quer políticas, excetuando as que privem o homem da liberdade de consciência, da
manifestação do pensamento, restrinjam os direitos e a dignidade da pessoa humana e exijam
submissão incondicional;
5. A Maçonaria é religiosa?
Não, pela simples razão de que sua existência é amplamente conhecida. As autoridades de
vários países lhe concedem personalidade jurídica. Seus fins são amplamente difundidos em
dicionários, enciclopédias, livros de história, etc. A Maçonaria não é uma sociedade secreta, no
sentido como tal termo é geralmente empregado. Uma sociedade secreta é aquela que tem
objetivos secretos e oculta a sua existência assim como as datas e locais de suas sessões. O
objetivo e propósito da Maçonaria, suas leis, história e filosofia tem sido divulgados em livros que
estão a venda em qualquer livraria. Os únicos segredos que a Maçonaria conserva são as
cerimônias empregadas na admissão de seus membros, os meios usados pelos Maçons para se
conhecerem e o modo de interpretar seus símbolos e os ensinamentos neles contidos.
A Maçonaria não é uma religião no sentido de ser uma seita, mas é um culto que une homens de
bons costumes. A Maçonaria não promove nenhum dogma que deve ser aceito taticamente por
todos, mas inculca nos homens a prática da virtude, não oferecendo panacéias para a redenção
de pecados. Seu credo religioso consiste apenas em dois artigos de fé que não foram inventados
por homens, mas que se encontram neles instintivamente desde os mais remotos tempos da
história: A existência de Deus e a Imortalidade da Alma que tem como corolário a Irmandade
dos Homens sob a Paternidade de Deus. É uma sociedade que tem por objetivo unir os homens
entre si. União recíproca, no sentido mais amplo e elevado do termo.
E nesse seu esforço de união dos homens, admite em seu seio as pessoas de todos os credos
religiosos, sem nenhuma distinção.
4. A Maçonaria é anti-religiosa?
A Maçonaria não é contra qualquer religião. Ela ensina e pratica a tolerância, defendendo o
direito do homem praticar a religião ed seu agrado. A Maçonaria não dogmatiza as particularides
do credo e da religião. Ela reconhece os benefícios e a bondade assim como a verdade de todas
as religiões, combatendo, ao mesmo tempo, as suas inverdades e o fanatismo.
5. A Maçonaria é religiosa?
A Maçonaria não é ateísta nem agnóstica. O ateu é aquele que diz não acreditar em Deus
enquanto o agnóstico é aquele que não pode afirmar, conscientemente, se Deus existe ou não.
Para ser aceito e ingressar na Maçonaria, o candidato deve afirmar a crença em Deus.
Não, porque a Maçonaria abriga em seu seio homens de qualquer religião, desde que acreditem
em um só Criador, o Grande Arquiteto do Universo, que é Deus. Geralmente existe essa crença
entre os católicos, mas, ilustres prelados tem pertencido à Ordem Maçônica; entre outros, o
Cura Hidalgo, Paladino da Liberdade Mexicana; o Padre Calvo, fundador da Maçonaria na América
Central; o Arcebispo da Venezuela, Don Rodrigo Ignácio Mendez; Padre Diogo Antônio Feijó;
Cônego Luiz Vieira, José da Silva de Oliveira Rolin, da Inconfidência Mineira, Frei Miguelino, Frei
Caneca e muitos outros.
A Maçonaria não é um partido político. Ela não tem partido. Em princípio, a maçonaria apóia o
amor à Pátria, respeito às leis e à Ordem, propugnando pelo aperfeiçoamento das condições
humanas. Os maçons são aconselhados a se tornarem cidadãos exemplares e a se afastarem de
movimentos cuja tendência seja a de subverter a paz e a ordem da sociedade, e se tornarem
cumpridores das ordens e das leis do país em que estejam vivendo, sem nunca perder o dever
de amar o seu próprio país. A maçonaria promove o conceito de que não pode existir direito sem
a correspondente prestação de deveres, nem privilégios sem retribuição, assim como privilégios
sem responsabilidade.
A Maçonaria não é uma sociedade de auxílios mútuos, ela não garante à ninguém a percepção
de uma soma fixa e constante a nenhum de seus membros, na eventualidade de uma desgraça
ou calamidade pode reclamar tal auxílio. Entretanto, a Maçonaria se empenha para que nenhum
de seus membros sofra necessidades ou seja um peso para os outros. O Maçom necessitado
recebe de acordo com as condições e as possibilidades dos demais membros da Ordem.
A Maçonaria nem é uma ideologia, nem um "ismo". Ela não se envolve com as sutilezas da
filosofia política, religiosa ou social. Mas, ela reconhece que todos os homens tem uma só
origem, participam da mesma natureza e tem a mesma esperança e, por conseguinte, devem
trabalhar em união para o mesmo objetivo - a felicidade e bem estar da sociedade.
A Maçonaria é uma organização mundial de homens que, utilizando-se de formas simbólicas dos
antigos construtores de templos, voluntariamente se uniram para o propósito comum de se
aperfeiçoarem na sociedade. Admitindo em seu seio, homens de caráter, sem consideração à sua
raça, cor ou credo, a Maçonaria se esforça para constituir uma liga internacional de homens
dedicados a viverem em paz, harmonia e afeição fraternal. É uma instituição essencialmente
filosófica, filantrópica, educativa e progressista.
É filantrópica porque não está constituída para obter lucro pessoal de nenhuma classe, senão,
pelo contrário, suas arrecadações e seus recursos se destinam ao bem estar do gênero humano,
sem distinção de nacionalidade, sexo, religião ou raça.
Procura conseguir a felicidade dos homens por meio da elevação espiritual e pela tranqüilidade
da consciência.
A missão da Maçonaria é a de "fazer amigos, aperfeiçoar suas vidas, dedicar-se às boas obras,
promover a verdade e reconhecer seus semelhantes como homens e irmãos".
A missão da Maçonaria ainda é a prática das virtudes e da caridade, é confortar os infelizes, não
voltar as costas à miséria, restaurar a paz de espírito e a paz aos desamparados e dar novas
esperanças aos desesperançados.
A Maçonaria não "convida" ninguém, mesmo aos mais qualificados para se tornarem um membro
da Ordem. Aquele que deseja entrar para ela, deve manifestar esse desejo espontaneamente,
declarando que livre e conscientemente deseja participar dela.
A Maçonaria não prende nenhum homem a juramentos incompatíveis com sua consciência o
liberdade de pensar.
A regularidade da maçonaria se deve ao fato de se ater aos seus princípios básicos e imutáveis
regidos por mandamentos, entre os quais se inclui o que acima se disse.
Os lugares onde os maçons se reúnem são chamados de templos porque, embora não sendo
uma religião ou reunindo-se em uma igreja, a Maçonaria preserva religiosamente os direitos de
cada indivíduo praticar a religião ou credo de sua preferência, mantendo-se eqüidistante das
diferentes seitas ou credos. Ela ensina a todos como respeitar e tolerar as religiões diversas de
seus membros.
Nem mesmo em um país como os Estados Unidos que agora se compõe de 50 Estados e conta
com cerca de 4 milhões de Maçons, obedece a Maçonaria a uma autoridade suprema. A
Maçonaria em cada país ou em cada estado de uma Federação é regulada e dirigida por uma
Grande Loja independente e soberana.
A liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos, sejam eles instituições, raças, nações; a
igualdade de direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinguir a religião, raça ou
nacionalidade; a fraternidade de todos os homens, já que somos todos filhos do mesmo Criador
e, portanto, humanos e como conseqüência, a fraternidade entre todas as nações.
Moral é para a Maçonaria uma ciência com base no entendimento humano. É a lei natural e
universal que rege todos os seres racionais e livres. É a demonstração científica da consciência. E
essa maravilhosa ciência nos ensina nossos deveres e a razão do uso dos nossos direitos. Ao
penetrar a moral no mais profundo de nossa alma sentimos o triunfo da verdade e da justiça.
A Maçonaria entende que virtude é a força de fazer o bem em seu mais amplo sentido; é o
cumprimento de nossos deveres para com a sociedade e para com a nossa família, sem
interesse pessoal. Em resumo: a virtude não retrocede nem ante o sacrifício e nem mesmo ante
a morte, quando se trata do cumprimento do dever.
A Maçonaria entende por dever o respeito e os direitos dos indivíduos e da sociedade. Porém não
basta respeitar a propriedade apenas, mas, também devemos proteger e servir os nossos
semelhantes. A Maçonaria resume o dever do homem assim: "Respeito a Deus, amor ao próximo
e dedicação à família". Em verdade, essa é a maior síntese da fraternidade universal.
Filósofos como Voltaire, Goethe e Lessing; Músicos como Beethoven, Haydn e Mozart; Militares
como Frederico o Grande, Napoleão e Garibaldi; Poetas como Byron, Lamartine e Hugo;
Escritores como Castellar, Mazzini e Espling.
Não. Também na América houve. Os libertadores da América foram todos Maçons. Washington
nos Estados Unidos; Miranda, o Padre da Liberdade sul-americana; San Martin e O’ Higgins, na
Argentina; Bolivar, no norte da América do Sul; Marti, em Cuba; Benito Juarez, no México e o
Imperador D. Pedro I, no Brasil.
D. Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias),
Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Campos Salles, Rodrigues Alves, Nilo
Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Braz, Washington Luiz, Rui Barbosa e muitos outros.
A Independência, a Abolição e a República. Isto para citar somente os três maiores feitos da
nossa história, em que os Maçons tomaram parte ativa.
Crer na existência de um princípio Criador; ser homem livre e de bons costumes; ser consciente
de seus deveres para com a Pátria, seus semelhantes e consigo mesmo; ter uma profissão ou
ofício lícito e honrado, que lhe permita prover as suas necessidades pessoais e de sua família e a
sustentação das obras da Instituição.
Em princípio, tudo aquilo que se exige ao ingresso em qualquer outra instituição: respeito aos
seus estatutos, regulamentos e acatamento às resoluções da maioria, tomadas de acordo com
os princípios que as regem; amor à Pátria; respeito aos governos legalmente constituídos;
acatamento às leis do país em que viva, etc. E, em particular: a guarda do sigilo dos rituais
maçônicos: conduta correta e digna dentre e fora da Maçonaria; a dedicação de parte do seu
tempo para assistir às reuniões maçônicas: à prática da moral, da igualdade e da solidariedade
humana e da justiça em toda a sua plenitude.
Ademais, se proíbe terminantemente dentro da instituição, as discussões políticas e religiosas,
porque prefere uma ampla base de entendimento entre os homens afim de evitar que sejam
divididos por pequenas questões da vida civil.
Este é um trecho do artigo que Fernando Pessoa publicou no Diário de Lisboa, no 4.388 de 4 de
fevereiro de 1935, contra o projeto de lei, do deputado José Cabral, proibindo o funcionamento
das associações secretas, sejam quais forem os seus fins e organização.
Neste terceiro ponto de vista, toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só
idéia – a "tolerância"; isto é, o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o
pensar como entender. Por isso a Maçonaria não tem uma doutrina. Tudo quanto
se chama "doutrina maçônica" são opiniões individuais de Maçons, quer sobre a
Ordem em si mesma, quer sobre as suas relações com o mundo profano. São
divertidíssimas: vão desde o panteísmo naturalista de Oswald Wirth até ao
misticismo cristão de Arthur Edward Waite, ambos tentando converter em
doutrina o espírito da Ordem. As suas afirmações, porém, são simplesmente
suas; a Maçonaria nada tem com elas. Ora o primeiro erro dos Antimaçons
consiste em tentar definir o espírito maçônico em geral pelas afirmações de
Maçons particulares, escolhidas ordinariamente com grande má fé.
O Segundo erro dos Antimaçons consiste em não querer ver que a Maçonaria,
unida espiritualmente, está materialmente dividida, como já expliquei. A sua
ação social varia de país para país, de momento histórico para momento
histórico, em função das circunstâncias do meio e da época, que afetam a
Maçonaria como afetam toda a gente. A sua ação social varia, dentro do mesmo
país, de Obediência para Obediência, onde houver mais que uma, em virtude de
divergências doutrinárias – as que provocaram a formação dessas Obediências
distintas, pois, a haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue daqui
que nenhum ato político ocasional de nenhuma Obediência pode ser levado à
conta da Maçonaria em geral, ou até dessa Obediência particular, pois pode
provir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de momento, que a
Maçonaria não criou.
Acabei de vez. Deixe o Sr. José Cabral a Maçonaria aos Maçons e aos que,
embora o não sejam, viram, ainda que noutro Templo, a mesma Luz. Deixe a
Antimaçonaria àqueles Antimaçons que são os legítimos descendentes
intelectuais do célebre pregador que descobriu que Herodes e Pilatos eram
Vigilantes de uma Loja de Jerusalém.
Fernando Pessoa