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Introdução
Capacitar profissionais da saúde que atendem pacientes com deficiência visual, associada ou
não a outras deficiências, o que caracterizaria a deficiência múltipla, constitui-se do objetivo
do Projeto de Extensão relatado neste trabalho.
A Análise do Comportamento Aplicada à Saúde e à Educação trabalha com os três níveis de
seleção preconizados por Skinner (1953), a saber: filogenia; ontogenia; e cultura. Isso implica
em considerar o atendimento e o tratamento de pessoas com deficiências múltiplas tendo em
consideração os aspectos biológicos, de aprendizagem (psicológicos) e culturais (sociais) que
estes trazem consigo. Uma equipe multidisciplinar da área da saúde, formada por
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e terapeutas
ocupacionais geralmente enfoca, em seus atendimentos, questões biológicas e de
aprendizagem de conteúdos conceituais. Porém, a iniciativa e implementação deste projeto de
extensão foi a de que tais profissionais demandavam, além de suas formações específicas, o
conhecimento, aprendizado e treinamento de habilidades interacionais para melhora no
relacionamento e conduta nos atendimentos aos seus pacientes com múltipla deficiência. Tais
pacientes requerem atenção especial devido ao fato de, durante o atendimento, e ainda em
situações cotidianas, apresentarem uma taxa bastante elevada de emissão de comportamentos
inadequados ou indesejados, para si e aos outros, como estereotipia, autolesão,
comportamentos aberrantes relacionados à sexualidade, agressividade e birra. Como orienta a
Análise do Comportamento, para que se entenda a ocorrência de tais comportamentos é
necessária a inclusão em sua análise das tríplices contingências envolvidas em seu surgimento
e manutenção e, especialmente, a análise da função que tais comportamentos têm para o
indivíduo que se comporta de tal maneira (SKINNER, 1953; TODOROV, 1985).
Tem-se, então, que o treinamento da habilidade de realizar análise funcional não deve ser
limitado apenas aos psicólogos. É justificado que os outros profissionais utilizem-se dessa
1
Doutora em Educação Escolar pela UNESP- Araraquara/SP e Mestre em Educação Especial pela UFSCar – São
Carlos/SP. Docente do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade
Estadual de Londrina, UEL – Londrina/PR.
Endereço: Rua Madre Leônia Milito, 1325, Bloco A, Apto 14, Cond. Morada do Sol, Gleba Palhano, CEP
86050-270, Londrina/PR. E-mail: silfornazari@yahoo.com.br
2
Discente do 5º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, laine_inacio@hotmail.com
3
Discente do 4º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, marciof.dias@hotmail.com
4
Discente do 4º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, marinasalviati@gmail.com
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Objetivos:
Gerais: Capacitar profissionais da área da saúde a trabalhar de forma a reduzir
comportamentos inadequados e aumentar comportamentos adequados de crianças com
deficiência múltipla (cegos com déficit intelectual) ou deficiência visual.
Específicos:
- Capacitar os profissionais da instituição, a utilizar procedimentos da análise experimental do
comportamento, visando reduzir os comportamentos inadequados apresentados por seus
alunos, e conseqüentemente estimular uma maior emissão de comportamentos adequados.
- Verificar a adequação da utilização do software como instrumento de treinamento em
Análise do Comportamento Aplicada, bem como relativas às alterações realizadas no
conteúdo e metodologia deste instrumento.
- Possibilitar aos discentes o contato com a população estudada e as questões relacionadas à
mesma.
- Possibilitar aos discentes o desenvolvimento de habilidades do fazer científico, como a
confecção de relatórios, postura profissional, atenção às necessidades da comunidade, entre
outras.
Método
Participantes:
A instituição conta com dois modelos de atendimento distintos: Saúde e Educação.
Inicialmente, a capacitação com os profissionais da área da saúde foi realizada em duas
partes. Em um primeiro momento, com dez profissionais da área da saúde: fisioterapeuta,
terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo e psicólogo. Finalizada a capacitação com
esses profissionais, foi iniciada outra capacitação, a pedido do instituto, com quatro novos
profissionais da área da saúde recém-contratados: um fisioterapeuta, dois pedagogos e um
terapeuta ocupacional.
Todos atendem crianças com necessidades educacionais especiais, especificamente cegueira e
déficit intelectual, em um instituto especializado na cidade de Londrina, PR.
Finalizada a capacitação com os profissionais da saúde, o projeto encontra-se em fase de
início da capacitação com os profissionais da área pedagógica, sendo eles pedagogos.
Os funcionários do ILITC são constituídos de secretária, merendeira, auxiliar de serviço geral
e bibliotecário. A instituição atende aproximadamente 150 alunos, dentre eles alunos com
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Figura 2 – Telas que demonstram a fase de treino. Ao clicar sobre a janela com a resposta
correta, o estímulo indicativo de acerto ou erro aparece em uma janela central.
Na fase de teste, são apresentadas novamente 50% das questões programadas, e assim como
na fase de pré-teste, aparece uma informação na janela central, e quando o treinando clica
com o mouse, seguem-se quatro alternativas nas janelas nos cantos da tela. As respostas não
produzem estímulos indicativos de acerto ou erro. Caso o critério de 90% de acertos seja
obtido, ele segue para a próxima etapa, caso contrário, volta à fase de treino e teste até chegar
ao critério pré-estabelecido de 90% de acertos.
O software apresentado é absolutamente semelhante ao utilizado por Fornazari (2005), porém
uma alteração foi programada com o objetivo de melhorar a interação das profissionais com o
material a ser aprendido. Nas sessões de treinamento, foi utilizado o procedimento de fading
in. Ou seja, ao clicar sobre a janela central, aparecia apenas a alternativa correta em uma das
janelas, e ao clicar sobre esta alternativa correta, apareciam as outras alternativas incorretas,
induzindo o participante ao acerto. Esta alteração teve o objetivo de colocar o software mais
em conformidade com as características expostas por Skinner (1972), para uma aprendizagem
adequada e eficaz. Dentre tais requisitos encontra-se a necessidade de que o aprendiz percorra
uma seqüência cuidadosamente programada de pequenos passos, que possam ser dados sem
esforço e sem erros. Este é o objetivo da utilização do fading para esta versão do software.
Procedimento: O projeto foi divido em duas etapas, para possibilitar sua execução,
primeiramente, foi realizada a capacitação dos profissionais que atuam na área da saúde a qual
foi concluída em 2010 e atualmente está sendo realizada a capacitação dos profissionais que
atuam na área da educação.
O procedimento realizado com os profissionais da área da saúde está sendo repetido para a os
profissionais da área pedagógica, porém, está sendo utilizada uma nova versão do software
“Ensino a Professores”, a qual foi desenvolvida através de um projeto de pesquisa da
Universidade Estadual de Londrina.
FASE 1 – Preparação: Nesta fase, foram realizadas filmagens da atuação dos profissionais em
interação com os alunos, antes que qualquer intervenção fosse efetuada. As filmagens foram
iniciadas antes da aplicação do software, e constituíram a linha de base.
FASE 2 – Intervenção: Foi realizada a aplicação do software, sendo que durante a aplicação
foram cessadas as filmagens, as quais foram retomadas assim que os profissionais concluíram
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o software. Após a aplicação, foram realizadas sessões de vídeo-feedback, para que fosse
possível esclarecer os conceitos apresentados no software e discutidas as filmagens feitas
antes e depois da aplicação do software.
FASE 3- Análise dos resultados: Por fim, nesta fase, as gravações de áudio de vídeo-feedback
foram transcritas e categorizadas para analise dos dados, de forma a observar o entendimento
e a utilização prática do conteúdo do software realizada pelos profissionais.
Os dados serão apresentados em forma de tabelas.
Resultados
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Dos profissionais em que foi aplicado o software, com exclusão daqueles que não cumpriram
todas as etapas, pode-se perceber que em todas as etapas, a média geral de acertos é superior a
80%. Na etapa 3, houve média geral superior a 90%.
Etapa 1 - Fase 1
Etapa 1 - Fase 2
Pré-teste Treino Teste
Pré-teste Treino Teste
100%
100%
80%
Porcentagem de acertos
80%
Porcentagem de acertos
60%
40%
60%
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40%
20%
20%
0%
P1 P2 P3 P4 0%
P1 P2 P3 P4
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100%
80%
Porcentagem de acertos
60%
40%
20%
0%
P1 P2 P3 P4
100% 100%
80% 80%
Porcentagem de acertos
Porcentagem de acertos
60% 60%
40% 40%
20% 20%
0% 0%
P1 P2 P3 P4 P1 P2 P3 P4
Esteriotipia Agressão
Etapa 3
Etapa 3
Treino Teste
Treino Teste
100% 100%
80% 80%
Porcentagem de acertos
Porcentagem de acertos
60% 60%
40% 40%
20% 20%
0% 0%
P1 P2 P3 P4 P1 P2 P3 P4
Autolesão Birra
Etapa 3
Treino Teste
100%
80%
Porcentagem de acertos
60%
40%
20%
0%
P1 P2 P3 P4
Sexualidade
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Verifica-se que os dados obtidos nessa segunda parte da capacitação foram favoráveis, pois na
Etapa 1 – Fase 1 do teste dois profissionais tiveram mais de 70% de acertos e dois mais de
80% de acerto. Na Etapa 1 – Fase 2, todos os profissionais tiveram mais de 90% de acertos. A
Etapa 2, a maioria dos profissionais apresentaram mais de 90% de acertos. E na Etapa 3,
observou-se que nos conceitos de estereotipia, birra e comportamentos aberrantes
relacionados a sexualidade os profissionais tiveram 100% de acertos, sendo que nos conceitos
agressão e autolesão o P1 e o P3 apresentaram resultados inferiores a 100%.
Discussão
A família e a sociedade de um modo geral acreditam que os professores ou os profissionais
que cuidam de seus filhos, como fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo etc. devem dar
conta de todos os problemas que estes apresentem, desconsiderando a gravidade da casuística,
a formação desses profissionais, os objetivos da instituição, a adequação do modelo adotado
para o processo ensino-aprendizagem, assim como as dificuldades individuais de cada aluno
e/ou paciente. Esses são fatores primordiais que devem ser considerados, especialmente frente
à questão da inclusão/integração de pessoas com deficiência. Os métodos de que dispõem os
profissionais muitas vezes são insuficientes para que estes consigam de fato atingir seus
clientes/alunos com deficiências, principalmente no caso daqueles com deficiência mental ou
múltipla que apresentam comportamentos inadequados (FORNAZARI, 2005).
O presente estudo teve como objetivo a capacitação dos profissionais do ILITC para lidar com
os alunos que possuem deficiências múltiplas, na maioria dos casos cegueira e déficit
intelectual, por meio do software desenvolvido para Fornazari (2005), com adaptações de
conteúdo, das sessões de vídeo-feedback e da transcrição do comportamento dos profissionais
em relação aos alunos. O procedimento utilizado baseou-se no DRA, reforçamento de
comportamentos diferenciais alternativos, através do qual, por meio de reforço para os
comportamentos alternativos emitidos, busca-se diminuir a freqüência da emissão dos
comportamentos inadequados e aumentar a freqüência dos comportamentos considerados
adequados para que assim esses alunos possam ser mais bem aceitos pela sociedade e, em
alguns casos, terem condições de inserção no mercado de trabalho.
Os dados obtidos tanto na primeira parte da capacitação quanto na segunda parte mostram a
evolução das participantes em relação ao software, conseguindo ótimo desempenho na fase de
treino e teste. Isto mostra que a utilização do software para ensinar conceitos da Análise do
Comportamento foi bem sucedido, assim, espera-se que este por meio da assimilação dos
conceitos e das sessões de vídeo-feedback tenham conseguido transferir tal aprendizado para
o cotidiano de trabalho e manejo dos comportamentos dos alunos atendidos. As sessões de
vídeo-feedback, também se mostraram importantes para o entendimento e aplicação dos
conceitos, pois os profissionais conseguiram analisar seus atendimentos sob o viés da análise
do comportamento. Dessa forma, eles verificarão na prática quais as mudanças nas
contingências ambientais que produzem alterações no repertório comportamental dos alunos
pois, de acordo com Skinner (2000, p. 52), “a probabilidade de uma pessoa responder de
determinada maneira por causa de uma história de reforço operante muda à medida que as
contingências mudam”.
O procedimento de DRA mostrou-se importante instrumento na mudança comportamental por
ser este uma alternativa bem mais eficaz na seleção e no desenvolvimento de repertórios
comportamentais eficientes e adequados se comparado aos de punição – que, sabe-se,
apresenta resultados satisfatórios apenas quando o estímulo punitivo está presente; e aos de
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(...) n ã o p r e c is a m o s p u n i r p a r a e v i t a r o u
i m p e dir as p ess oas de a gire m m a l.
P o d e m o s alcan ç ar o m es m o fi m c o m
ref o r ça d o res po siti v os, se m p r o d u zir os
i n desejá veis efeit os co laterais da
c o e r ç ã o. U m a m a n e i r a de i m p e d i r q u e as
p ess oas façam al g o se m pu ni-las é
o f erecer-l hes ref or ça d ores positi v os p or
f a z e r e m a l g u m a o u t r a c o i s a . ( p. 248).
Conclusão
Os resultados do estudo de Fornazari (2005) demonstraram, primeiramente, a efetividade do
procedimento de DRA na redução dos comportamentos inadequados e no desenvolvimento e
na instalação de comportamentos adequados nos participantes (alunos/usuários e instrutores).
Conseqüentemente, também se pôde verificar a importância do treinamento com os
instrutores para a aquisição de procedimentos que possibilitem respostas efetivas no manejo
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Referências
OTTONI, E. B. Etholog 2.2: A tool for the transcription and timing of behavior observation
sessions in Behavior Research Methods, Instruments, & Computers. v. 3, n. 32, p. 446-449,
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SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Campinas, SP: Editora Livro Pleno, 2001.
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes, 10. ed.,
1998.
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