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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 3329-3340

COMPORTAMENTOS ADEQUADOS E INADEQUADOS EM PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS POR MEIO DE
UM INSTRUMENTO INFORMATIZADO

Silvia Aparecida FORNAZARI1


Franscilaine Flâmia INÁCIO2
Márcio Francisco DIAS 3
Marina Rodrigues SALVIATI4

Universidade Estadual de Londrina – UEL – Londrina/PR


PROEX

Introdução
Capacitar profissionais da saúde que atendem pacientes com deficiência visual, associada ou
não a outras deficiências, o que caracterizaria a deficiência múltipla, constitui-se do objetivo
do Projeto de Extensão relatado neste trabalho.
A Análise do Comportamento Aplicada à Saúde e à Educação trabalha com os três níveis de
seleção preconizados por Skinner (1953), a saber: filogenia; ontogenia; e cultura. Isso implica
em considerar o atendimento e o tratamento de pessoas com deficiências múltiplas tendo em
consideração os aspectos biológicos, de aprendizagem (psicológicos) e culturais (sociais) que
estes trazem consigo. Uma equipe multidisciplinar da área da saúde, formada por
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e terapeutas
ocupacionais geralmente enfoca, em seus atendimentos, questões biológicas e de
aprendizagem de conteúdos conceituais. Porém, a iniciativa e implementação deste projeto de
extensão foi a de que tais profissionais demandavam, além de suas formações específicas, o
conhecimento, aprendizado e treinamento de habilidades interacionais para melhora no
relacionamento e conduta nos atendimentos aos seus pacientes com múltipla deficiência. Tais
pacientes requerem atenção especial devido ao fato de, durante o atendimento, e ainda em
situações cotidianas, apresentarem uma taxa bastante elevada de emissão de comportamentos
inadequados ou indesejados, para si e aos outros, como estereotipia, autolesão,
comportamentos aberrantes relacionados à sexualidade, agressividade e birra. Como orienta a
Análise do Comportamento, para que se entenda a ocorrência de tais comportamentos é
necessária a inclusão em sua análise das tríplices contingências envolvidas em seu surgimento
e manutenção e, especialmente, a análise da função que tais comportamentos têm para o
indivíduo que se comporta de tal maneira (SKINNER, 1953; TODOROV, 1985).
Tem-se, então, que o treinamento da habilidade de realizar análise funcional não deve ser
limitado apenas aos psicólogos. É justificado que os outros profissionais utilizem-se dessa
1
Doutora em Educação Escolar pela UNESP- Araraquara/SP e Mestre em Educação Especial pela UFSCar – São
Carlos/SP. Docente do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade
Estadual de Londrina, UEL – Londrina/PR.
Endereço: Rua Madre Leônia Milito, 1325, Bloco A, Apto 14, Cond. Morada do Sol, Gleba Palhano, CEP
86050-270, Londrina/PR. E-mail: silfornazari@yahoo.com.br
2
Discente do 5º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, laine_inacio@hotmail.com
3
Discente do 4º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, marciof.dias@hotmail.com
4
Discente do 4º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, marinasalviati@gmail.com

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ferramenta da psicologia para que possam desenvolver um trabalho mais eficaz


(FORNAZARI, 2005). Oferecer aos profissionais um conhecimento acerca das questões
referentes à análise funcional, capacitando-os a identificar as contingências que estejam
atuando em cada situação específica, e agir de acordo com o procedimento de DRA visando
reduzir os comportamentos inadequados e ao mesmo tempo treinar comportamentos
adequados de participação nas atividades propostas, contribui para a adaptação do deficiente
no meio social, assim como ajuda o profissional a identificar a função dos comportamentos
inadequados e intervir nestes comportamentos de forma a promover uma melhor qualidade de
vida para estes indivíduos com necessidades especiais.
Além do trabalho em reduzir os comportamentos inadequados, o profissional pode generalizar
o conhecimento adquirido a partir desse trabalho para melhorar a qualidade de vida das
pessoas com deficiência. Como por exemplo, contribuindo para o desenvolvimento de
repertório relacionado às habilidades sociais e/ou cognitivas, no que se refere às atividades
cotidianas, as quais podem ser classificadas em atividades de vida diária (AVD’s) e/ou as
atividades de vida prática (AVP’s). Entende-se por AVD’s atividades como escovar os dentes,
vestir e retirar roupas, usar o banheiro, pentear os cabelos, calçar os sapatos, alimentar-se
adequadamente, entre outras. E AVP’s são consideradas como atividades que são mais úteis à
vida social como andar de ônibus, limpar a casa, saber manusear dinheiro, usar o telefone,
cozinhar, entre outras. O portador de deficiência possui um repertório limitado, sendo,
portanto, essencial a disposição de novas habilidades para seu desenvolvimento e inserção
social. Tais habilidades são treinadas mais especificamente com estes alunos na equipe de
atuação pedagógica, que visa atender às demandas especiais requeridas por essa população.
Outro fator relevante a ser considerado é o repertório fundamentalmente limitado apresentado
por esta população (SAUNDERS, 1996; FORNAZARI, 2000, 2005). Além da redução de
comportamentos inadequados é de fundamental importância a instalação de novas habilidades
que sejam requeridas como adequadas e importantes para o seu desenvolvimento cognitivo,
físico e social, além de sua inserção social. Um procedimento que possibilita a obtenção
desses objetivos é o Procedimento de Reforço Diferencial de Comportamentos Alternativos
(DRA), que consiste em liberar o reforço depois de uma ou mais ocorrências de um
comportamento particular, que pode ser ensinado ou treinado, e que não necessariamente seja
incompatível com o comportamento indesejado.
Em seu trabalho com tecnologia educacional e as máquinas de ensino, Skinner (1972)
demonstrou a importância e a relevância de uma aprendizagem auto-programada e auto-
conduzida, baseada nos princípios do reforçamento do comportamento operante para a
aprendizagem de conceitos educativos. Com base nas experiências bem-sucedidas de Skinner
em tecnologia educacional, Fornazari (2005), com contribuições de Oliveira e Silva, formulou
um software com conteúdos da análise experimental do comportamento (reforço, punição,
extinção, generalização, discriminação), análise funcional do comportamento, conceitos de
topografias dos comportamentos inadequados mais representativos em pessoas com
deficiência múltipla, e ainda programas de reforçamento diferencial como o DRA
(reforçamento diferencial de comportamentos alternativos), com o objetivo de que os
profissionais que trabalham com essa clientela possam, primeiramente, obter conhecimentos
acerca de questões básicas de uma ciência do comportamento e, conseguinte, aplicá-los, com
treinamentos individuais em sessões de vídeo-feedback, aos atendimentos realizados no
Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (ILITC).

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Além do software, importante contribuição à condução do trabalho com estes profissionais


são dadas por meio das sessões de vídeo-feedback que possibilitam àqueles que são atendidos
pelo projeto um olhar sobre suas interações com seus clientes, antes e após a aplicação do
software, com o objetivo de que possam identificar mudanças ocorridas durante e após o
treinamento com o software, apontando suas dificuldades no manejo com os pacientes e as
melhoras obtidas nos atendimentos.
Desse modo, este estudo traz a preocupação acerca da capacitação dos profissionais para
melhorar o seu desempenho profissional a partir de uma contribuição que a teoria da Análise
do Comportamento pode oferecer a essa demanda. Este trabalho complementa os resultados
apresentados por Fornazari; Canali; Nakamura; Inácio e Dias (2009) no V Congresso
Brasileiro Multidisciplinar de Educação Especial.

Objetivos:
Gerais: Capacitar profissionais da área da saúde a trabalhar de forma a reduzir
comportamentos inadequados e aumentar comportamentos adequados de crianças com
deficiência múltipla (cegos com déficit intelectual) ou deficiência visual.

Específicos:
- Capacitar os profissionais da instituição, a utilizar procedimentos da análise experimental do
comportamento, visando reduzir os comportamentos inadequados apresentados por seus
alunos, e conseqüentemente estimular uma maior emissão de comportamentos adequados.
- Verificar a adequação da utilização do software como instrumento de treinamento em
Análise do Comportamento Aplicada, bem como relativas às alterações realizadas no
conteúdo e metodologia deste instrumento.
- Possibilitar aos discentes o contato com a população estudada e as questões relacionadas à
mesma.
- Possibilitar aos discentes o desenvolvimento de habilidades do fazer científico, como a
confecção de relatórios, postura profissional, atenção às necessidades da comunidade, entre
outras.

Método

Participantes:
A instituição conta com dois modelos de atendimento distintos: Saúde e Educação.
Inicialmente, a capacitação com os profissionais da área da saúde foi realizada em duas
partes. Em um primeiro momento, com dez profissionais da área da saúde: fisioterapeuta,
terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo e psicólogo. Finalizada a capacitação com
esses profissionais, foi iniciada outra capacitação, a pedido do instituto, com quatro novos
profissionais da área da saúde recém-contratados: um fisioterapeuta, dois pedagogos e um
terapeuta ocupacional.
Todos atendem crianças com necessidades educacionais especiais, especificamente cegueira e
déficit intelectual, em um instituto especializado na cidade de Londrina, PR.
Finalizada a capacitação com os profissionais da saúde, o projeto encontra-se em fase de
início da capacitação com os profissionais da área pedagógica, sendo eles pedagogos.
Os funcionários do ILITC são constituídos de secretária, merendeira, auxiliar de serviço geral
e bibliotecário. A instituição atende aproximadamente 150 alunos, dentre eles alunos com
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déficit intelectual associado à deficiência visual. Os problemas de comportamento são uma


queixa comum nesta população, e os profissionais acabam tendo muita dificuldade para atuar
com esses alunos.

Local: Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho com Cegos – ILITC.

Instrumento: O software “Ensino a Professores”.


O software “Ensino a Professores” (OLIVEIRA, SILVA, FORNAZARI e RODRIGUES,
2005; FORNAZARI e OLIVEIRA, 2008), foi elaborado em Delphi, e consiste em uma janela
central com uma pergunta, e nos quatro cantos da tela aparecem quatro janelas com as
respostas (Figura 1).

Figura 1 – Exemplo de tela da 1a. Etapa do software.

O conteúdo do software foi modificado, adequando-se às duas áreas profissionais, pedagógica


e clínica. Ele é apresentado em três etapas, com referências a:
Etapa 1- Conceitos da Análise do Comportamento: 28 conceitos de Análise do
Comportamento, sendo: Fase A – definição e nome dos conceitos e; Fase B – definição e
nome dos conceitos com exemplos cotidianos.
Etapa 2- Análise Funcional do Comportamento: Descrições de comportamentos que
podem ocorrer em sala de aula com quatro opções de funcionalidade deste comportamento.
Etapa 3- Reforçamento Diferencial de Comportamentos Alternativos (DRA): Descrições
de situações em sala de aula que poderiam ocorrer envolvendo problemas de comportamento
e a atuação do profissional utilizando os procedimentos aprendidos.
Cada etapa divide-se em três momentos: pré-teste, treino e teste. Em todas as etapas, a fase de
pré-teste consiste na apresentação de 50% das questões construídas. O pré-teste apresenta
informações em uma janela central que, ao ser clicado apresenta quatro alternativas de opções
de escolha, sendo que apenas uma alternativa é a correta. O participante deve escolher uma
alternativa que é armazenada no banco de dados do software. Esse procedimento é repetido de
acordo com o número de apresentações programado para cada etapa, arbitrariamente na
escolha das questões e aleatoriamente em sua apresentação. Há uma tela para cada questão e
as opções não são ambíguas ou muito claras, no sentido de dar dicas sobre a resposta. A
porcentagem de acertos não é apresentada ao participante, e nem estímulos indicativos de
acerto ou erro, e ele passa obrigatoriamente pela fase de treino.
Na fase de treino são apresentadas informações na janela central da tela que, ao ser clicada
com o mouse, apresenta quatro alternativas de opções de escolha, e novamente apenas uma é
correta. Após escolher uma das alternativas, caso o participante acerte, aparece um estímulo

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indicativo de acerto, caso contrário aparece um estímulo indicativo de erro. Esse


procedimento é repetido utilizando todos os aspectos programados, até que a profissional
obtenha um critério de 90% de acertos, quando passa para a fase de teste.

Figura 2 – Telas que demonstram a fase de treino. Ao clicar sobre a janela com a resposta
correta, o estímulo indicativo de acerto ou erro aparece em uma janela central.

Na fase de teste, são apresentadas novamente 50% das questões programadas, e assim como
na fase de pré-teste, aparece uma informação na janela central, e quando o treinando clica
com o mouse, seguem-se quatro alternativas nas janelas nos cantos da tela. As respostas não
produzem estímulos indicativos de acerto ou erro. Caso o critério de 90% de acertos seja
obtido, ele segue para a próxima etapa, caso contrário, volta à fase de treino e teste até chegar
ao critério pré-estabelecido de 90% de acertos.
O software apresentado é absolutamente semelhante ao utilizado por Fornazari (2005), porém
uma alteração foi programada com o objetivo de melhorar a interação das profissionais com o
material a ser aprendido. Nas sessões de treinamento, foi utilizado o procedimento de fading
in. Ou seja, ao clicar sobre a janela central, aparecia apenas a alternativa correta em uma das
janelas, e ao clicar sobre esta alternativa correta, apareciam as outras alternativas incorretas,
induzindo o participante ao acerto. Esta alteração teve o objetivo de colocar o software mais
em conformidade com as características expostas por Skinner (1972), para uma aprendizagem
adequada e eficaz. Dentre tais requisitos encontra-se a necessidade de que o aprendiz percorra
uma seqüência cuidadosamente programada de pequenos passos, que possam ser dados sem
esforço e sem erros. Este é o objetivo da utilização do fading para esta versão do software.

Procedimento: O projeto foi divido em duas etapas, para possibilitar sua execução,
primeiramente, foi realizada a capacitação dos profissionais que atuam na área da saúde a qual
foi concluída em 2010 e atualmente está sendo realizada a capacitação dos profissionais que
atuam na área da educação.
O procedimento realizado com os profissionais da área da saúde está sendo repetido para a os
profissionais da área pedagógica, porém, está sendo utilizada uma nova versão do software
“Ensino a Professores”, a qual foi desenvolvida através de um projeto de pesquisa da
Universidade Estadual de Londrina.
FASE 1 – Preparação: Nesta fase, foram realizadas filmagens da atuação dos profissionais em
interação com os alunos, antes que qualquer intervenção fosse efetuada. As filmagens foram
iniciadas antes da aplicação do software, e constituíram a linha de base.
FASE 2 – Intervenção: Foi realizada a aplicação do software, sendo que durante a aplicação
foram cessadas as filmagens, as quais foram retomadas assim que os profissionais concluíram

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o software. Após a aplicação, foram realizadas sessões de vídeo-feedback, para que fosse
possível esclarecer os conceitos apresentados no software e discutidas as filmagens feitas
antes e depois da aplicação do software.
FASE 3- Análise dos resultados: Por fim, nesta fase, as gravações de áudio de vídeo-feedback
foram transcritas e categorizadas para analise dos dados, de forma a observar o entendimento
e a utilização prática do conteúdo do software realizada pelos profissionais.
Os dados serão apresentados em forma de tabelas.

Resultados

Resultados da primeira parte da capacitação com profissionais da área da saúde (dez


profissionais)

Etapa 1- Conceitos em Análise do Comportamento

Figura 1. Média de acertos dos profissionais na Etapa 1 do software.

Etapa 2 - Análise Funcional

Figura 2. Média de acertos dos profissionais na Etapa 2 do software.

Etapa 3- Reforço Diferencial de Comportamentos Alternativos (DRA)

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Figura 3. Média de acertos do profissionais na Etapa 3 do software.

Dos profissionais em que foi aplicado o software, com exclusão daqueles que não cumpriram
todas as etapas, pode-se perceber que em todas as etapas, a média geral de acertos é superior a
80%. Na etapa 3, houve média geral superior a 90%.

Resultados da segunda parte da capacitação com os profissionais da área da saúde


(quatro profissionais)

Etapa 1- Conceitos em Análise do Comportamento

Etapa 1 - Fase 1
Etapa 1 - Fase 2
Pré-teste Treino Teste
Pré-teste Treino Teste
100%
100%

80%
Porcentagem de acertos

80%
Porcentagem de acertos

60%

40%
60%
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40%

20%
20%

0%
P1 P2 P3 P4 0%
P1 P2 P3 P4
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Figura 4. Média de acertos dos profissionais na Etapa 1 do software.

Etapa 2- Análise Funcional


Etapa 2

Pré-teste Treino Teste

100%

80%
Porcentagem de acertos

60%

40%

20%

0%
P1 P2 P3 P4

Figura 5. Média de acertos dos profissionais na Etapa 2 do software

Etapa 3- Reforçamento Diferencial de Comportamentos Alternativos (DRA)


Etapa 3 Etapa 3

Treino Teste Treino Teste

100% 100%

80% 80%
Porcentagem de acertos

Porcentagem de acertos

60% 60%

40% 40%

20% 20%

0% 0%
P1 P2 P3 P4 P1 P2 P3 P4
Esteriotipia Agressão

Etapa 3
Etapa 3
Treino Teste
Treino Teste
100% 100%

80% 80%
Porcentagem de acertos
Porcentagem de acertos

60% 60%

40% 40%

20% 20%

0% 0%
P1 P2 P3 P4 P1 P2 P3 P4
Autolesão Birra

Etapa 3

Treino Teste

100%

80%
Porcentagem de acertos

60%

40%

20%

0%
P1 P2 P3 P4
Sexualidade

Figura 6. Média de acertos dos profissionais na Etapa 3 do software.

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Verifica-se que os dados obtidos nessa segunda parte da capacitação foram favoráveis, pois na
Etapa 1 – Fase 1 do teste dois profissionais tiveram mais de 70% de acertos e dois mais de
80% de acerto. Na Etapa 1 – Fase 2, todos os profissionais tiveram mais de 90% de acertos. A
Etapa 2, a maioria dos profissionais apresentaram mais de 90% de acertos. E na Etapa 3,
observou-se que nos conceitos de estereotipia, birra e comportamentos aberrantes
relacionados a sexualidade os profissionais tiveram 100% de acertos, sendo que nos conceitos
agressão e autolesão o P1 e o P3 apresentaram resultados inferiores a 100%.

Discussão
A família e a sociedade de um modo geral acreditam que os professores ou os profissionais
que cuidam de seus filhos, como fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo etc. devem dar
conta de todos os problemas que estes apresentem, desconsiderando a gravidade da casuística,
a formação desses profissionais, os objetivos da instituição, a adequação do modelo adotado
para o processo ensino-aprendizagem, assim como as dificuldades individuais de cada aluno
e/ou paciente. Esses são fatores primordiais que devem ser considerados, especialmente frente
à questão da inclusão/integração de pessoas com deficiência. Os métodos de que dispõem os
profissionais muitas vezes são insuficientes para que estes consigam de fato atingir seus
clientes/alunos com deficiências, principalmente no caso daqueles com deficiência mental ou
múltipla que apresentam comportamentos inadequados (FORNAZARI, 2005).
O presente estudo teve como objetivo a capacitação dos profissionais do ILITC para lidar com
os alunos que possuem deficiências múltiplas, na maioria dos casos cegueira e déficit
intelectual, por meio do software desenvolvido para Fornazari (2005), com adaptações de
conteúdo, das sessões de vídeo-feedback e da transcrição do comportamento dos profissionais
em relação aos alunos. O procedimento utilizado baseou-se no DRA, reforçamento de
comportamentos diferenciais alternativos, através do qual, por meio de reforço para os
comportamentos alternativos emitidos, busca-se diminuir a freqüência da emissão dos
comportamentos inadequados e aumentar a freqüência dos comportamentos considerados
adequados para que assim esses alunos possam ser mais bem aceitos pela sociedade e, em
alguns casos, terem condições de inserção no mercado de trabalho.
Os dados obtidos tanto na primeira parte da capacitação quanto na segunda parte mostram a
evolução das participantes em relação ao software, conseguindo ótimo desempenho na fase de
treino e teste. Isto mostra que a utilização do software para ensinar conceitos da Análise do
Comportamento foi bem sucedido, assim, espera-se que este por meio da assimilação dos
conceitos e das sessões de vídeo-feedback tenham conseguido transferir tal aprendizado para
o cotidiano de trabalho e manejo dos comportamentos dos alunos atendidos. As sessões de
vídeo-feedback, também se mostraram importantes para o entendimento e aplicação dos
conceitos, pois os profissionais conseguiram analisar seus atendimentos sob o viés da análise
do comportamento. Dessa forma, eles verificarão na prática quais as mudanças nas
contingências ambientais que produzem alterações no repertório comportamental dos alunos
pois, de acordo com Skinner (2000, p. 52), “a probabilidade de uma pessoa responder de
determinada maneira por causa de uma história de reforço operante muda à medida que as
contingências mudam”.
O procedimento de DRA mostrou-se importante instrumento na mudança comportamental por
ser este uma alternativa bem mais eficaz na seleção e no desenvolvimento de repertórios
comportamentais eficientes e adequados se comparado aos de punição – que, sabe-se,
apresenta resultados satisfatórios apenas quando o estímulo punitivo está presente; e aos de

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extinção, eficaz apenas em diminuir a ocorrência do comportamento indesejado, mas ineficaz


na aprendizagem de outros comportamentos que substituam o inadequado. De acordo com
Sidman (2001),

(...) n ã o p r e c is a m o s p u n i r p a r a e v i t a r o u
i m p e dir as p ess oas de a gire m m a l.
P o d e m o s alcan ç ar o m es m o fi m c o m
ref o r ça d o res po siti v os, se m p r o d u zir os
i n desejá veis efeit os co laterais da
c o e r ç ã o. U m a m a n e i r a de i m p e d i r q u e as
p ess oas façam al g o se m pu ni-las é
o f erecer-l hes ref or ça d ores positi v os p or
f a z e r e m a l g u m a o u t r a c o i s a . ( p. 248).

Este esquema de reforçamento, além de reduzir comportamentos indesejados e ao mesmo


tempo instalar ou manter comportamentos adequados, é de imensa importância para pessoas
com deficiência mental ou múltipla, considerando que estas geralmente apresentam um
repertório comportamental bastante limitado.
Considerando a redução da estigmatização social com relação a essas pessoas, reduzir os
comportamentos inadequados é muito importante, mas por outro lado, garantir uma
produtividade que possibilite uma verdadeira melhora em sua qualidade de vida é
fundamental. Produtividade aqui pode ser entendida não apenas como a profissionalização
dessas pessoas, mas como uma produtividade para as tarefas cotidianas, inclusive para a sua
própria sobrevivência.
É importante que os profissionais capacitados aprendam de maneira eficaz a realizar uma
análise funcional dos comportamentos de seus alunos e/ou pacientes para a aplicação do
esquema de reforçamento em DRA, utilizando para o manejo de comportamentos
inadequados e generalizando o conhecimento para outras situações como no treino das já
citadas atividades de vida diária (AVD) e das atividades de vida prática (AVP).
Deve-se destacar ainda a efetividade do software utilizado que, através de um procedimento
de emparelhamento com o modelo, torna o treinamento eficaz e econômico, abrindo portas
para a capacitação dos demais profissionais em contato com alunos com necessidades
especiais, sejam quais forem as suas necessidades e o contexto no qual se encontram,
bastando adequar o conteúdo a ser inserido no programa.
Esse trabalho envolveu a conscientização dos educadores e dos profissionais de áreas afins,
assim como de pais e da comunidade em geral, a respeito da possibilidade de
desenvolvimento das pessoas com necessidades educacionais especiais severas, profundas ou
múltiplas e da utilização da tecnologia educacional e procedimentos da Análise Funcional do
Comportamento para essa finalidade, trazendo melhoria na qualidade de vida da população,
assim como a redução do preconceito e da estigmatização social.

Conclusão
Os resultados do estudo de Fornazari (2005) demonstraram, primeiramente, a efetividade do
procedimento de DRA na redução dos comportamentos inadequados e no desenvolvimento e
na instalação de comportamentos adequados nos participantes (alunos/usuários e instrutores).
Conseqüentemente, também se pôde verificar a importância do treinamento com os
instrutores para a aquisição de procedimentos que possibilitem respostas efetivas no manejo

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de comportamentos inadequados, que possibilitem atuação eficaz no trabalho com os seus


alunos e/ou pacientes.
Assim, com base nos procedimentos de Fornazari (2005) espera-se que o trabalho realizado
no ILICT na área da saúde, assim como, o que está sendo desenvolvido na área pedagógica,
através da utilização do software e das sessões de vídeo-feedback, tenham contribuído para
que os profissionais da Educação Especial possuam subsídios para fazer uma analise
funcional e assim intervir de modo que os comportamentos inadequados diminuam através da
aprendizagem de comportamentos alternativos. Isto, de certa forma, proporcionará uma maior
integração destes deficientes visuais e intelectuais no seu meio social, contribuindo, assim,
para uma melhor qualidade de vida destes e de todos que vivem ao seu redor.

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