Uma breve fundamentação teórica sobre o método de bielas e tirantes, além de todos os
passos de dimensionamento de um consolo, pode ser vista na parte I deste artigo (Santos
e Stucchi, 2013).
Comentários sobre as prescrições da NBR 6.118 e NBR 9.062
A NBR 6.118 e a NBR 9.062 consideram que o consolo curto é aquele em que a c/d está
compreendido no intervalo [0,5; 1,0]. Foi utilizada a nomenclatura ac em vez de a
(conforme NBR 6.118) para manter a coerência com a primeira parte do artigo.
A figura 2, que é reproduzida em ambas as normas, indica o modelo que deve ser
utilizado. Percebe-se que a biela é considerada com largura constante, faceando o canto
inferior do consolo. Nota-se, também, que na face superior considera-se uma abertura de
carga até o centro de gravidade das barras do tirante.
Considerando que não haja limitação geométrica para a “abertura” da força aplicada, a
inclinação da biela pode ser determinada pela expressão:
Logo,
No entanto, a NBR 9.062, em seu item 7.3.5.3, prescreve a seguinte expressão (adaptada
para comparação):
É fácil perceber que o modelo da figura 2 não corresponde ao equilíbrio proposto pela
NBR 9.062 para a determinação da força no tirante (equações 3 e 4).
Nota-se que a resistência da biela para carga direta é alta e igual ao prescrito no Eurocode
2 (EC 2) para bielas sem tração ortogonal, porém ressalta- se que o EC 2 considera o fator
αc = 1,0 e não 0,85. O limite para carga indireta também é alto.
Por outro lado, a NBR 6.118 não estabelece regras para o uso de modelos de bielas e
tirantes. No que diz respeito às armaduras mínimas, a NBR 9.062 prescreve que a área de
aço do tirante em consolos com ac/d ≤ 2 seja superior a:
Quando a distância da placa até a face do consolo for menor que 2c (porém não menor
que o prescrito na NBR 9.062, ver figura 4), sugere-se adotar armadura principal em mais
de uma camada.
De qualquer forma, vale ressaltar que a NBR 9.062 não permite esse detalhe para bitolas
maiores que 16 mm.
Exemplos
Exemplo 1
Concreto C35 (fck = 35 MPa), Aço CA-50 (fyk = 500 MPa), Cobrimento: 3,5 cm, Aparelho de
apoio: 25 cm x 10 cm, Geometria e cargas: ver figura 5. Trata-se de um consolo muito
curto, segundo a NBR 6.118 e a NBR 6.092 com ac/d = 0,33.
Passo 4a:
Para a verificação da ancoragem da armadura do tirante, dever-se-ia considerar que é
uma região de má aderência (η1 = 0,7), porém, existe um confinamento por compressão
transversal que reduz o comprimento de ancoragem. A DIN 1.045 reduz em 67% e o EC 2
em 70%. Por isso, será considerado que um efeito anula o outro, ou seja, será
considerada região de boa aderência.
Passo 4b:
Como a armadura não se estende até 2d’ além da face externa do aparelho de apoio, a
espessura da biela em B é (figura 7):
Obs.: a NBR 6.118 permite ancorar a armadura por uma única barra soldada na
transversal, desde que a bitola transversal seja no mínimo igual à bitola máxima do tirante.
Além disso, exige um detalhe e controle da qualidade de solda, bem adequado ao pré-
fabricado, que muitas vezes não é possível se garantir no campo.
Exemplo 2
Mesmos dados do exemplo 1, exceto geometria e cargas, que são mostradas na figura 9.
Aparelho de apoio: 35 cm x 15 cm.
Trata-se de um consolo curto segundo a NBR 6.118 e a NBR 9.062, com a c/d=0,53.
Esse valor é maior que fcd2, porém é verificado experimentalmente que nós com múltiplas
camadas de armadura têm mais resistência e podemos considerar a geometria do nó
mostrado na figura 11(baseado em Reineck, 2005).
Uma forma simples, e mais prudente, é desprezar o efeito benéfico da força de tração no
nó e calcular a largura da biela como sendo:
Nota-se que os valores obtidos com a equação proposta são um pouco menores, no
entanto, Schlaich e Schäfer (2001), que propuseram a equação que consta no EC2,
consideram esses valores conservativos. Além disso, a equação 8 respeita a equação do
Model Code 1990 para consolo curto, uma vez que para a/z ≥ 0,5 a razão entre a força
horizontal e a força vertical aplicada é maior ou igual a 0,3.
Conclusões
As normas brasileiras NBR 6.118 e NBR 9.062 precisam de revisões que contemplem
regras sobre a utilização de modelos de bielas e tirantes. Na parte I deste artigo, propostas
de limites de resistência de nós e bielas foram feitas para futuras revisões. Nesta parte II,
mostrou- se que o modelo assumido nessas normas para aplicação em consolo não é o
mais adequado.
Além disso, a NBR 9.062 prescreve uma expressão para determinação da força no tirante
que não condiz com a geometria do modelo que consta na NBR 6.118. Além disso, a
determinação das armaduras de costura e suspensão é feita por taxas, que no caso de
consolo curto não é apropriada.
Neste artigo, em duas partes, definem- se critérios para a determinação das armaduras de
costura e dos estribos necessários, sendo inclusive proposta uma expressão para a
determinação da armadura de costura em consolos curtos.
Por fim, exemplos de aplicação (um de consolo muito curto e um de consolo curto) foram
produzidos com a filosofia exposta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS