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Revista Portuguesa de Psicossomática

Sociedade Portuguesa de Psicossomática


medisa@mail.telepac.pt
ISSN: 0874-4696
PORTUGAL

2002
Rita M. Gomez / Isabel Leal / Eurico Figueiredo
SÍNDROMA DE COUVADE:
UM ESTUDO EXPLORATÓRIO DA OCORRÊNCIA DE SINTOMAS EM PAIS-EXPECTANTES
Revista Portuguesa de Psicossomática, Julho-Dezembro, año/vol. 4, número 002
Sociedade Portuguesa de Psicossomática
Porto, Portugal
pp. 95-120
Revista
Portuguesa
95 Revista
de Síndroma de Couvade
Portuguesa
Psicossomática
de
Psicossomática

Síndroma de Couvade: um estudo


exploratório da ocorrência de
sintomas em pais-expectantes1
Rita M. Gomez*, Isabel Leal**, Eurico Figueiredo***

Resumo resultados sugerem que os pais-expectan-


O objectivo desta investigação é o de tes portugueses não diferem de homens-
identificar diferenças entre 2 grupos de -não-expectantes na quantidade de sinto-
homens expectantes e não expectantes, no matologia geral vivenciada, mas podem
que concerne ao Síndroma de Couvade. ser mais afectados por diminuição do de-
Conduziu-se um estudo observacional, sejo sexual e do interesse social, e que a
descritivo, de comparação entre grupos, vivência de sintomas durante a gravidez
no qual se comparam pais-expectantes não se associa à idade, planeamento da
(N=52) e homens-não-expectantes gravidez ou estatuto da paternidade. Fi-
(N=22), todos de nacionalidade portugue- nalmente, é indicada a pertinência de se
sa, maiores de idade e casados ou em união explorar a relação entre o estatuto
de facto, no número e tipo de sintomas expectante e percepção de acontecimen-
vivenciados e nos acontecimentos de vida tos de vida. Conclui-se que, na globa-
percepcionados, através, respectivamen- lidade, os resultados não provêm confir-
te, do The Symptomatology Inventory e mação do Síndroma de Couvade, apesar
da Secção I do Life Experiences Survey. do reconhecimento de que muitos homens
Avalia-se ainda o efeito, no número de sin- podem vivenciar constrangimentos físi-
tomas vivenciados pelos pais-expectantes, cos e emocionais durante a gravidez.
do planeamento da gravidez (planeada/ Palavras-chave: Síndroma de
/não-planeada), estatuto da paternidade Couvade; Gravidez; Pais expectantes.
(primípara/não-primípara) e idade. Os

INTRODUÇÃO

O Síndroma de Couvade
*Psicóloga Clínica.
**Professora Associada do I.S.P.A..
No seu uso comum, o termo ‘sin-
***Professor Catedrático do Instituto de toma’ sugere um afastamento do es-
Ciências Biomédicas de Abel Salazar. tado normal de saúde, um indicador
de condições patológicas ou doença.
1
Realizado no âmbito da Dissertação de
Para o contexto da gravidez, Black et
Mestrado em Psicopatologia e Psicolo- al. (1995) propuseram uma noção
gia Clínica/Edição 1997-1999 do Insti- mais ampla de sintoma: «aquelas sen-
tuto Superior de Psicologia Aplicada. sações físicas e aqueles estados psi-

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cológicos que são reconhecidos pela Menget, 1989; Chernela, 1991; Klein,
pessoa que os experiencia e que são 1991; Elwood e Manson, 1994;
desconhecidos para o mundo exte- Boyarin, 1995; Manson e Elwood,
rior a não ser por auto-relato». 1995). Designados por Rituais Couva-
Historicamente, houve grande in- de, estes comportamentos socialmen-
teresse no estudo dos sintomas da te aprendidos e prescritos foram ge-
grávida, os quais foram interpretados ralmente interpretados como compor-
frequentes vezes como sinal não só tamento pró-social, significando pro-
das alterações fisiológicas, mas tam- tecção mágico-religiosa da mãe e do
bém da ambivalência face à gravidez. bebé, aceitação da paternidade, recla-
Por exemplo, Cherto (cit. por Cordei- mação de direitos de paternidade ou
ro, 1987) fez equivaler os pares náu- controlo social de sentimentos mas-
seas/vómitos, obstipação/diarreia e culinos relativos à gravidez.
amenorreia/hemorragia a um meca- A partir daquele que é considera-
nismo de retenção/expulsão, signifi- do o primeiro estudo controlado do
cando a alternância entre aceitação e Síndroma de Couvade (Bogren, 1989),
rejeição da gravidez. Trethowan e Conlon concluíram que
Recentemente, uma linha de in- os sintomas mais comuns eram
vestigação na área da paternidade- gastro-intestinais, dermatológicos,
-expectante focou-se na ocorrência de musculares e outras dores gerais, no-
sintomatologia no homem. Neste do- meadamente: indigestão, náusea, vó-
mínio, a vivência masculina dos cha- mitos, alteração do apetite, aumento
mados ‘sintomas simpáticos da gra- de peso, diarreia, tremores muscula-
videz’ foi baptizada por Síndroma de res, irritações da pele, dor de cabeça
Couvade por Trethowan e Conlon e dores de dentes. Posteriormente, o
(1965, cit. por Klein, 1991). termo Síndroma de Couvade divulgou-
O termo couvade tem origem na -se para designar genericamente a
palavra francesa-basca couver, que sig- ocorrência em pais-expectantes de
nifica incubar (Menget, 1989; Khano- sintomas somáticos típicos da gravi-
bdee et al., 1993). O termo foi primei- dez (Reid, 1975; Bogren, 1983, 1984,
ro adoptado na Antropologia para 1986, 1989; Fawcett e York, 1986;
designar um conjunto bastante hete- Clinton, 1987; Cordeiro, 1987; Klein,
rogéneo de comportamentos observa- 1991; Khanobdee et al., 1993; Masoni
dos em homens de culturas pré-in- et al., 1994; Kiselica e Scheckel, 1995).
dustriais durante a gravidez e o nas- Mais concretamente, Reid (1975)
cimento de um filho, tais como isola- definiu o Síndroma de Couvade como
mento, restrições dietéticas, restrições «um estado no qual sintomas físicos
ocupacionais, simulação do parto, uso de origem psicogénica relacionados
de vestuário feminino durante o nas- com a gravidez ocorrem nos maridos
cimento ou evitamento de substân- das mulheres grávidas» (abstract; tra-
cias poluidoras (Munroe et al., 1973; dução nossa), e Klein (1991) refere que
Gray e Ellington, 1984; Clinton, 1986; se trata de um «fenómeno comum,

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embora pouco conhecido, no qual o inconscientemente determinado, das


pai-expectante experiencia sintomas sociedades industriais» (Clinton,
somáticos durante a gravidez para os 1987, p.91; tradução nossa). Em ter-
quais não há qualquer base fisiológi- mos de distribuição geográfica, tam-
ca reconhecida» (p. 57; tradução nos- bém Khanobdee et al. (1993) referem
sa). Alguns investigadores têm vindo que o Síndroma de Couvade ocorre nas
a englobar na definição também sin- sociedades onde os Rituais Couvade
tomatologia psicológica (Fawcett e não são praticados. Contudo, assina-
York, 1986), como Clinton, segundo lando que a maioria dos estudos se
quem o fenómeno «inclui uma varie- limitou à Europa Ocidental e à Amé-
dade de sintomas físicos e emocionais rica do Norte, e tendo documentado
experienciados pelos homens duran- a sua ocorrência na população tailan-
te a gravidez das suas companheiras» desa, estes autores concluíram que o
(1986, p.290; tradução nossa). fenómeno não é específico dos países
Outras designações utilizadas são ocidentais.
‘Empathy Belly’, ‘Sympathy Symptoms’ No que respeita à incidência do
(Black, 1992, cit. por Kiselica e Síndroma de Couvade as estimativas
Scheckel, 1995) ou a tradução Sín- variam muito, o que se deve a dife-
droma de Incubação (Clerget, 1980). rentes critérios de definição e meto-
Embora os sintomas possam apa- dologia. Assumindo como critério a
recer em qualquer altura até ao nas- presença de pelo menos cinco sinto-
cimento (Williams, 1997), geralmen- mas somáticos, Trethowan e Conlon
te admite-se que eles se distribuem de (cit. por Bogren, 1989) reportaram
forma típica numa curva U (Clinton, uma incidência de 14% em Inglater-
1987; Kiselica e Scheckel, 1991; Klein, ra, embora acreditassem que a fre-
1991; Khanobdee et al., 1993). Por ou- quência real era maior. Nos EUA as
tras palavras, os sintomas tenderão a estimativas variam entre 22 a 79%, e
iniciar-se no primeiro trimestre, a de- na Grã-Bretanha entre 11 a 50%
clinar no segundo e a reaparecer com (Klein, 1991).
mais intensidade no terceiro trimes- A etiologia do Síndroma de Couvade
tre, desaparecendo com o nascimen- tem sido objecto das mais diversas
to. Colman e Colman (1994) referem interpretações. Segundo Masoni et al.
que os sintomas alternam com perío- (1994), «o pai moderno, privado de
dos de estabilidade emocional e sen- um papel social que o conduza por
sações de bem-estar, e Reid (1975) faz uma série de cerimónias, procura um
notar que na maioria dos casos não é ritual individual para aceder ao seu
requerido tratamento. estatuto de paternidade» (p.126; tra-
Para Clinton, enquanto os Rituais dução nossa), podendo o Síndroma de
Couvade são «um comportamento vo- Couvade ser considerado o equivalen-
luntário e consciente das sociedades te psicossomático dos rituais primiti-
pré-industriais», o Síndroma de Cou- vos. Davis (1978, cit. por Clinton,
vade «é um fenómeno involuntário, 1986) sugeriu que se trata de uma for-

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ma de os homens poderem participar atenção materna, rivalidade que re-


mais completamente no ciclo do nas- monta ao período histórico do nasci-
cimento, e Munroe e Munroe (1971, mento de um irmão mais novo. Nou-
cit. por Clinton, 1986) descreveram- tras concepções, os sintomas do pai
-no como expressão do envolvimen- podem proteger a grávida dos impul-
to subjectivo do pai. sos agressivos dele contra ela (Ginath,
Elwood e Manson (1994), apoia- 1974, cit. por Klein, 1991), podem sig-
dos por estudos que documentam al- nificar a auto-punição pela agressi-
terações hormonais masculinas du- vidade dirigida ao bebé (Lacoursiére,
rante a gravidez, consideram que o 1972, cit. por Klein, 1991), ou podem
Síndroma de Couvade «é melhor expli- traduzir a ambivalência quanto ao
cado como sendo devido a mudanças papel de pai (Klein, 1991).
fisiológicas que medeiam a responsi- Para Haynal (1977), o Couvade é
vidade paterna» (p.153; tradução nos- um síndroma que caracteriza uma
sa). perda temporária da identidade mas-
Vários autores defenderam que a culina, e que concerne à alternativa
inveja da gravidez estava na origem entre identificação masculina e femi-
de certos casos do Síndroma de Couva- nina. Cordeiro (1987) contrapõe a
de (Shafiro e Nass, 1976, cit. por Klein, identificação controlável com a grávi-
1991; Osofsky e Culp, 1989, cit. por da, que considera um processo nor-
Klein, 1991). Para Brazelton e Cramer mal e desejável da paternidade-
(1989), os sintomas do Couvade mos- -expectante, ao Síndroma de Couvade,
tram claramente que o desejo dos ho- a que se refere como um processo de
mens de gravidez, e de serem como a identificação patológica.
mãe e a esposa, se reacende durante Munroe e Munroe (1971, cit. por
o período gravídico; quando assume Klein, 1991) verificaram que pais-ex-
a forma de dores e sintomas, é por- pectantes com sintomas somáticos
que este desejo não pode exprimir-se. davam respostas femininas em medi-
Também Boyarin (1994) vê nos fenó- das cobertas da identidade sexual, e
menos Couvade um acting out do de- respostas hiper-masculinas em medi-
sejo e inveja da feminilidade. O mito das directas dessa mesma variável.
do falo (‘phalus mith’) é considerado Estas respostas foram interpretadas
um tipo de Couvade, que se manifesta como defesa contra a identidade fe-
pela negação do desejo do homem em minina latente. No mesmo sentido,
ser mulher e pela produção de um Gray e Ellington (1984) sugerem que
oposto mítico – a crença no desejo da os homens com o Síndroma de Couvade
mulher em ser homem e de que o falo manifestam homofobia num grau
representa a perfeição humana. maior do que os homens que não so-
Cavenar e Butts (1977, cit. por frem esses sintomas.
Klein, 1991) consideraram que no Trethowan e Conlon (1965, cit. por
Síndroma de Couvade estão envolvidas Bogren, 1989) consideraram que o
questões de rivalidade com o feto pela Síndroma de Couvade se relacionava

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com a ansiedade perante a gravidez reportam, conforme revela a revisão


e o parto, independentemente de ha- nesta área.
ver à partida variáveis de risco para Por exemplo, Bogren (1983; 1984;
a saúde da mãe ou bebé. Bogren (1983; 1986; 1989) conduziu um estudo
1989) procurou testar a hipótese da empírico na Suécia, entrevistando 81
ansiedade somatizada e encontrou casais-expectantes primíparos na 13ª/
uma relação positiva entre a ocorrên- /14ª semana da gravidez, uma sema-
cia de sintomas somáticos e o nível na após o nascimento e quatro meses
de ansiedade. No entanto, a ocorrên- depois. O diagnóstico do Síndroma de
cia do Síndroma de Couvade associava- Couvade era feito se o pai-expectante
-se ainda mais fortemente à ansieda- reportava que, pelo menos, dois sin-
de da grávida do que à ansiedade do tomas somáticos tinham estado pre-
próprio, sobretudo nos homens que sentes durante a gravidez, mas não
se identificavam mais com a própria antes ou depois, e se estes sintomas
mãe, o que, na opinião do autor, su- tinham sido vivenciados como des-
porta também a teoria da identifica- confortáveis. Segundo os autores,
ção com a grávida. 20% dos pais-expectantes preenche-
Segundo Colman e Colman, «por ram este critério. As queixas mais co-
vezes, um sintoma pode ser uma sim- muns eram ‘anorexia’, ‘ganho de
ples manifestação de ansiedade (…). peso’, ‘dor de dentes’ e sintomas
Noutros momentos, o significado de gastrointes-tinais, e normalmente ti-
um sintoma particular pode tornar- nham início no 3º/4º mês.
-se muito mais simbólico, como quan- Khanobdee et al. (1993) analisaram
do um estômago dilata mas não há as respostas de 172 pais-expectantes
aumento de peso. Depois, as raízes em classes de preparação para o par-
emocionais estão mais directamente to a uma checklist de 25 sintomas
relacionadas a sentimentos profundos somáticos, na qual era pedido que se
sobre a gravidez» (1994; p.125). indicasse os sintomas vivenciados
durante a gravidez e em que trimes-
Investigação Empírica do Sín- tre. Os autores reportam os seguintes
droma de Couvade resultados: 61% dos sujeitos relataram
A ocorrência do Síndroma de ter sofrido 2 ou mais sintomas duran-
Couvade tem sido avaliada através da te a gravidez, tendo estes tido início
administração de checklists de sinto- no primeiro trimestre na maioria dos
mas, construídas para o efeito pelos casos (75%); 29% dos sujeitos repor-
investigadores ou adaptadas de check- taram 2-4 sintomas; 26% reportaram
lists de sintomas para grávidas 5-10 sintomas; e, 6% reportaram mais
(Holditch-Davis et al., 1994). O recur- de 10 sintomas; no primeiro trimes-
so a diferentes instrumentos e crité- tre os sintomas mais comuns foram
rios de análise tem conduzido a gran- ‘aumento do apetite’, ‘náusea’, ‘con-
de diversidade no tipo de resultados centração diminuída’ e ‘fadiga’; dos
e conclusões que os vários estudos sintomas com início no segundo tri-

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mestre, os mais comuns foram ‘au- mum em homens de nível educacio-


mento do apetite’, ‘fadiga’ e ‘sono nal mais baixo. Bogren (1983), pelo
aumentado’; os sintomas mais co- contrário, não encontrou relação com
muns na totalidade do tempo da gra- essa variável, nem com outros facto-
videz foram ‘náusea’, ‘fadiga’ e ‘sono res como estatuto marital, número de
aumentado’. É, ainda, referido que em parceiros sexuais anteriores, perda
muitos casos se verificou a distribui- precoce dos pais, situação financeira
ção por trimestres típica do Síndroma e nível habitacional. Igualmente,
de Couvade. Khanobdee et al. (1993) não encontra-
Masoni et al. (1994) compararam a ram efeito do nível educacional e ní-
ocorrência de sintomas entre 73 pais- vel sócio-económico, enquanto Clin-
-expectantes no 9º mês da gravidez e ton (1987) concluiu que «os homens
73 homens-não-expectantes, usando particularmente vulneráveis ao
uma checklist de 37 sintomas agrupa- Síndroma de Couvade são minorias ét-
dos em 7 categorias (‘sintomas nicas, aqueles com filhos prévios,
gastrointestinais’, ‘variações de peso’, aqueles com rendimento mais baixo,
‘sintomas cardíacos’, ‘sintomas der- aqueles que tiveram problemas de
matológicos’, ‘perturbações do sono’, saúde no ano anterior à gravidez e
‘sintomas psicológicos’ e ‘outros sin- aqueles que mostram um nível eleva-
tomas’). Os sujeitos expectantes de- do de envolvimento emocional na
veriam referir o momento da gravi- gravidez» (p. 194; tradução nossa).
dez em que os sintomas foram Ao contrário de Clinton, Tretho-
vivenciados. Verificou-se que todos os wan e Conlon (1965, cit. por Khano-
sintomas eram menos frequentes nos bdee et al., 1993), Lipkin e Lamb (1982,
pais-expectantes do que no grupo de cit. por Kiselica e Scheckel, 1995),
referência, à excepção do sintoma Strickland (1987, cit. por Khanobdee
‘náusea’, referido mais vezes pelos et al., 1993) e Khanobdee et al. (1993)
pais-expectantes nos dois primeiros não encontraram diferenças entre
trimestres da gravidez, mas sem que pais-pela-primeira-vez e pais-expe-
esta diferença fosse estatisticamente rientes.
significativa. Segundo os autores, de Para além de Clinton, Wapner
entre todos os sintomas avaliados, (1975, cit. por Clinton, 1986) e Davis
aquele pode ser o único específico do (1978, cit. por Clinton, 1986) docu-
Síndroma de Couvade. mentam maior incidência em mino-
No que respeita à investigação de rias étnicas, enquanto Lamb e Lipkin,
variáveis de ‘risco’, os diversos estu- reportam não haver relação com esse
dos têm produzido resultados pouco estatuto (ibidem). Por outro lado, en-
consensuais entre si. Segundo os es- quanto Brown (1983, cit. por Clinton,
tudos de Trethowan (1968, cit. por 1986) encontrou uma correlação nega-
Clinton, 1986), Munroe e Munroe tiva com a idade, Bogren documentou
(1971, cit. por Clinton, 1986) e Lamb uma correlação positiva (os sintomas
e Lipkin (1982, cit. por Clinton, 1986), eram mais comuns nos homens com
o Síndroma de Couvade seria mais co- mais de 30 anos do que nos mais no-
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vos) e Lamb e Lipkin não encontraram e mais motivados para a participação


qualquer relação com essa variável. nos cuidados, e Longobucco e Freston
Liebenberg (1969, cit. por Clinton, (1989, cit. por Elwood e Manson, 1994)
1986) e Munroe e Munroe documen- constataram que os homens com mais
tam uma incidência maior entre os sintomatologia reportavam mais acti-
homens que sofreram uma perda pa- vidades relacionadas com a prepara-
terna durante a infância, mas Moore ção para a paternidade.
(1975, cit. por Clinton, 1986), Walton Moore concluiu que factores de
(1983, cit. por Clinton, 1986) e Bogren personalidade não predizem o
não encontram qualquer relação nes- Síndroma de Couvade.
se sentido. Entretanto, Moore obser- De acordo com Clinton, o dado
vou que o Couvade era mais pronun- mais consistente na literatura em ter-
ciado nos pais-expectantes que sen- mos de variáveis associadas é que a
tiam maior vinculação à própria mãe ocorrência de sintomas somáticos
do que ao pai, e Bogren nos homens aumenta com a ocorrência de sinto-
com níveis mais elevados de vin- mas psicológicos, como stress, ansie-
culação e identificação com a mãe. dade e depressão.
Enquanto Deutscher (1969, cit. por
Holditch-Davis et al.,1994) concluiu Balanço da Investigação sobre o
pela equivalência dos sintomas físi- Síndroma de Couvade
cos e psicológicos entre os esposos No estado actual da investigação
durante a gravidez, Bogren, Drake et do Síndroma de Couvade, uma limita-
al. (1988, Holditch-Davis et al., 1994) ção grave deriva do facto de não se
e Holditch-Davis et al. (1995) encon- ter operacionalizado uma definição
traram fracas correlações entre as res- ou medida de diagnóstico deste fenó-
postas dos dois progenitores. meno. Por outro lado, alguns estudos
Três autores (Davis, 1978, cit. por compararam pais-expectantes com
Kiselica e Scheckel, 1995; Clinton, 1985, homens não-expectantes, outros com-
cit. por Klein, 1991; Conner et al., 1990, pararam os sintomas dos homens an-
cit. por Masoni et al., 1994) documen- tes e durante a gravidez e outros, ain-
tam maior incidência do Síndroma de da, compararam a sintomatologia nos
Couvade nos casos de gravidez não-pla- dois esposos. Conforme anotaram
neada, e Moore (ibidem) nos casos em Holditch-Davis et al. (1994), é difícil
que a gravidez não foi desejada pelo determinar em que medida os vários
pai. Libkin e Lamb não referem qual- critérios descrevem o mesmo fenóme-
quer relação com complicações da gra- no, e se são legítimas comparações.
videz ou com a participação do pai- Outra limitação respeita ao carác-
-expectante em treino de preparação ter retrospectivo de muitos dos estu-
para o nascimento. Entretanto, dos. Como afirma Klein (1991), há li-
Munroe (1964, cit. por Clinton, 1986) e mitações inerentes à avaliação retros-
Clinton (1987) encontraram mais sin- pectiva da incidência do Síndroma de
tomas somáticos nos homens mais Couvade já que os seus sintomas são
envolvidos afectivamente na gravidez inespecíficos e limitados no tempo.
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Neste âmbito, é também pertinen- • avaliar se os sintomas vivencia-


te a advertência de Black et al. (1995) dos por pais-expectantes ao lon-
quanto ao facto da maioria dos estu- go da gravidez são atribuíveis a
dos se basear em checklists que suge- este acontecimento e enquadrá-
rem sintomas específicos, as quais não veis no conceito de Síndroma de
traduzem necessariamente todos os Couvade;
sintomas que seriam comunicados • avaliar se os sintomas vivencia-
pelos pais-expectantes noutro contex- dos por pais-expectantes apre-
to, ou podem levar os sujeitos a refe- sentam a evolução considerada
rirem sintomas que anteriormente ig- típica do Síndroma de Couvade
noravam ou que viam como pouco (i.e., se é revelado um pico de
importantes. sintomatologia no primeiro e
É também problemático o facto de terceiro trimestres da gravidez
a definição genérica do Síndroma de e um atenuamento no segun-
Couvade não diferenciar este fenóme- do);
no de um estado de ansiedade. Na • contribuir para avaliar o efeito,
verdade, os sintomas que têm sido na incidência de sintomas du-
avaliados na investigação do Síndro- rante a paternidade-expectante,
ma de Couvade incluem-se entre aque- de algumas variáveis que têm
les que têm sido implicados na ansie- sido implicadas noutros estu-
dade (Ponciano, 1980; Vaz Serra, 1980; dos como eventuais ‘factores de
Guelfi, 1987; Perse, 1987). risco’.
Por último, tal como Holditch- Tendo em conta os objectivos e o
-Davis et al. (1994) assinalaram, todas prazo de realização deste estudo, pra-
as explicações e estudos baseiam-se zo que inviabilizava um desenho de
na assunção de que os sintomas mas- investigação longitudinal, conside-
culinos são manifestações efectivas do rou-se controlar a questão da causali-
Síndroma de Couvade, não se tendo ex- dade atribuível à gravidez pela reali-
plorado outros factores não relaciona- zação de um estudo transversal com
dos com a gravidez, como condições amostra de controlo e pela análise de
pré-existentes ou outros acontecimen- outros acontecimentos de vida. Nes-
tos de vida. te âmbito, delimitaram-se as seguin-
tes questões de investigação:
Objectivos e Questões de Inves- 1 - Os pais-expectantes portugue-
tigação ses em cada trimestre da gra-
Em face das limitações encontra- videz diferem de homens-não-
das na investigação sobre o Síndroma -expectantes em termos do tipo
de Couvade, as quais colocam em cau- e número de sintomas viven-
sa a própria validade do construto, ciados?
definiu-se como objectivos deste es- 2 - O tipo e número de sintomas
tudo exploratório: vivenciados por pais-expectan-

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tes difere ao longo dos três tri- zação do estudo, recorreu-se a um


mestres da gravidez? método mail type (Ribeiro, 1999) para
3 - Qual o efeito do planeamento a constituição das amostras e recolha
da gravidez (planeada vs não- dos dados, que consistiu em fazer
-planeada), do estatuto da pa- chegar aos participantes um envelo-
ternidade (primípara vs não- pe pré-selado com o pedido de parti-
-primípara) e da idade no nú- cipação no estudo e os instrumentos
mero de sintomas vivenciados de avaliação. Para tal foi requerida
pelos pais-expectantes? colaboração a técnicos de serviços
4 - Em que medida o número de particulares de Ginecologia/Obstetrí-
sintomas vivenciados se rela- cia localizados em Lisboa, e a pessoas
ciona com acontecimentos de da nossa rede social que conheciam
vida que não a gravidez? indivíduos elegíveis como participan-
tes. Esta colaboração consistiu na en-
trega de um envelope a um dos mem-
MÉTODO bros de casais, expectantes e não-ex-
pectantes, com a explicação de se tra-
Desenho e Método da Investiga- tar de um pedido para o homem co-
ção laborar num estudo de Psicologia.
No conjunto dos estudos empíri- O pedido de participação, incluído no
cos que o constituem, a presente in- envelope, informava sobre os objec-
vestigação obedece a um desenho ca- tivos genéricos do estudo, autoria,
racterístico de um estudo observacional âmbito de realização e garantia de
descritivo-de comparação entre grupos e confidencialidade, e dava orientações
analítico-transversal, segundo a defini- para o preenchimento dos instrumen-
ção de Aday (1989, cit. por Ribeiro, tos de recolha de dados e para a sua
1999, p. 41-42). O método de investi- devolução.
gação é epidemiológico-correlacional, de Tendo sidos devolvidos 91 dos 850
acordo com a classificação de Bishop envelopes distribuídos, 17 participan-
(1994, cit. por Ribeiro, 1999, p. 43-44) tes foram eliminados por preenchi-
dos métodos de investigação em Psi- mento incompleto ou incongruente (6
cologia da Saúde. e 2 casos, respectivamente), ou por
não preenchimento dos requisitos (1
Amostragem e Procedimento por nacionalidade não portuguesa, 8
Dados os objectivos do estudo, por estatuto civil de solteiro e 1 por
definiram-se como requisitos de par- estatuto civil de divorciado). Da
ticipação ser do sexo masculino, ser amostra final de 74 participantes ele-
maior de idade, ter estatuto civil de gíveis, constituíram-se quatro sub-
casado ou em união de facto e ter na- -amostras com os seguintes partici-
cionalidade portuguesa. pantes: 11 pais-expectantes no primei-
Tendo em conta a especificidade ro trimestre da gravidez; 21 pais-
da população alvo e o prazo de reali- -expectantes no segundo trimestre da

Vol. 4, nº 2, Jul/Dez 2002


Rita M. Gomez, Isabel Leal, Eurico Figueiredo 104

gravidez; 20 pais-expectantes no ter- autores para cada um dos 42 sinto-


ceiro trimestre da gravidez; e 22 ho- mas, considerando-se como aceitável
mens não-expectantes (amostra de o valor r≈0,40 dada a natureza alta-
controlo). mente transitória daqueles. Nesse es-
tudo piloto, 28 sintomas (67%) tive-
Instrumentos ram um valor de r≈0,40 em todos os
Entre os instrumentos de recolha sujeitos; 59% dos sintomas referidos
de dados inclui-se, segundo a sua or- pelas mães-expectantes e 57% daque-
denação nos protocolos, um inventá- les referidos pelos pais-expectantes
rio de sintomas, um inventário de alcançaram também o valor mínimo
acontecimentos de vida e um questio- estipulado.
nário sócio-demográfico. Tendo-se considerado aspectos
Para análise do tipo e número de metodológicos relativos à validade da
sintomas vivenciados pelos partici- tradução (Ribeiro, 1999), o The Symp-
pantes, foi adoptado o ‘The Symptoma- tomatology Inventory foi traduzido por
tology Inventory’ de Black et al. (1995), nós para a língua portuguesa, com
que é uma checklist de 42 sintomas fí- revisão de vários juízes que igualmen-
sicos e emocionais que pede aos su- te dominavam as duas línguas e o
jeitos para assinalarem os sintomas conteúdo do estudo. A versão resul-
vivenciados na semana anterior à ava- tante, intitulada Inventário de Sintoma-
liação e a sua intensidade (mild, tologia, é constituída pelos 42 sintomas
moderate, intense). Este inventário da versão original, e pede aos sujei-
constitui uma re-modificação do tos para assinalarem os sintomas
Pregnancy Symptom Diary de Erikson vivenciados durante a semana ante-
(1967, cit. por Black et al., 1995), já rior também na mesma escala de in-
antes modificado por Leifer (1980, cit. tensidade (levemente, moderada-
por Black et al., 1995), e Black et al. mente, intensamente). Tal como ou-
utilizaram-no para comparar a sinto- tra checklist (Ribeiro, 1999), as respos-
matologia de casais-expectantes com tas podem valer por si ou podem ser
e sem história prévia de infertilidade somadas, em termos do número de
ao longo da gravidez. Sendo a versão sintomas assinalados ou da sua inten-
original dirigida à grávida, a lingua- sidade. A fidelidade teste-reteste do
gem de alguns itens foi modificada de Inventário de Sintomatologia foi avalia-
modo a se adaptarem à população da num estudo preliminar, pela sua
masculina (por exemplo, o item ‘va- administração a 18 pais-expectantes
ginal itching/irritation’ foi modificado em dois momentos intervalados, no
para ‘genital itching/irritation’). A va- mínimo, por sete dias, não se tendo
lidade de conteúdo foi estabelecida incluído estes sujeitos na amostra do
através da consulta de técnicos e da estudo principal. O valor da correla-
literatura sobre a gravidez e o ção relativa ao número de sintomas
Síndroma de Couvade. A fidelidade tes- vivenciados por cada sujeito foi de
te-reteste foi ainda estabelecida pelos 0,923 (p<0,01), e o valor da correla-

Revista Portuguesa de Psicossomática


Revista
Portuguesa
de
105 Psicossomática Síndroma de Couvade

ção relativa ao número de sujeitos que -6 semanas entre o teste e o reteste,


vivenciaram cada sintoma foi 0,885 obtendo as seguintes valores de cor-
(p<0,01). relação: 0,19 e 0,53 (p<0,01) para a
Para análise dos acontecimentos nota do impacto positivo; 0,56
de vida vivenciados foi utilizada uma (p<0,01) e 0,88 (p<0,01) para a nota
versão traduzida da Secção 1 do Life do impacto negativo; e 0, 63 (p<0,01)
Experiences Survey (LES) de Sarason e 0,64 (p<0,01) para a nota do impac-
et al. (1978), cedida por I. Leal (Janei- to total. Nos estudos de validação do
ro de 1999). A Secção 1 do LES inda- LES, encontrou-se também uma cor-
ga sobre a ocorrência de 47 aconteci- relação positiva significativa entre as
mentos susceptíveis de ocorrer na notas do impacto negativo e do impac-
vida do dia-a-dia da população geral, to total, por um lado, e medidas da
de que são exemplo os itens ‘morte ansiedade – traço e da ansiedade – es-
de um amigo’ e ‘mudança de residên- tado, por outro, mas não entre estas
cia’, incluindo ainda três alternativas medidas e a nota do impacto positi-
de resposta em aberto para eventuais vo. Segundo os autores, estes resulta-
acontecimentos não contemplados na dos levam a crer que a medida da
lista. Ao respondente é pedido que mudança negativa é o melhor indica-
assinale os acontecimentos que lhe dor do grau de stress a que a pessoa
ocorreram durante o último ano e o está sujeita, embora a não-correlação
grau do impacto que eles tiveram na entre a nota do impacto positivo e
sua vida, o que é assinalado numa aquelas medidas dependentes possa
escala de sete posições entre ‘extrema- ter-se devido à mais baixa estabilida-
mente negativo’ a ‘extremamente po- de daquela nota e não por aconteci-
sitivo’, passando por uma posição mentos positivos não poderem ser
intermédia ‘sem impacto’. As notas geradores de stress.
possíveis de obter são o número de Finalmente, o questionário sócio-
acontecimentos assinalados, as somas -demográfico, anónimo, incluía infor-
diferenciadas dos valores do impac- mação para a elegibilidade dos parti-
to negativo e positivo, e a soma do cipantes e sua caracterização demo-
valor total do impacto (Sarason et al., gráfica (idade, nacionalidade, local de
1978; J. L. Pais Ribeiro, comunicação residência, estado civil, profissão e
pessoal em Janeiro de 2000). nível de escolaridade) e informação
Subjacente a este escala encontra- relativa ao estatuto gravídico (a com-
-se a perspectiva de que mudanças na panheira/esposa estar ou não grávi-
vida das pessoas requerem adaptação da). Para preenchimento exclusivo
e podem constituir-se como factores dos pais-expectantes, o questionário
de stress, independentemente da sua incluía ainda informação relativa ao
desejabilidade ou indesejabilidade. mês da gravidez, planeamento da
Sarason et al. (1978) estabeleceram a gravidez (a gravidez ter sido planea-
fidelidade teste-reteste do LES em da ou não) e existência de filhos pré-
dois estudos, com um intervalo de 5- vios (ser pai pela primeira vez ou
não).
Vol. 4, nº 2, Jul/Dez 2002
Rita M. Gomez, Isabel Leal, Eurico Figueiredo 106

RESULTADOS cá-la, segundo a classificação do Ins-


tituto Nacional de Estatística (INE,
Caracterização das Amostras 1999), em Área Predominantemente Ur-
As variáveis demográficas consi- bana (APU), Área Medianamente Urba-
deradas foram a idade, estado civil, na (AMU) e Área Predominantemente
nível de escolaridade, área de residên- Rural (APR). Por último, o nível só-
cia e nível sócio-económico. A idade cio-económico foi classificado em bai-
foi cotada em anos. No que respeita xo, médio e elevado de acordo com os
ao estado civil, os sujeitos foram di- critérios de Simões (1994; cit. por Lou-
ferenciados entre casados e em união renço, 1996).
de facto. Foram considerados quatro O Quadro 1 sumariza as caracte-
níveis de escolaridade: básico (até ao rísticas demográficas dos participan-
9º ano de escolaridade), secundário (do tes em cada amostra. As quatro amos-
9º ao 12º ano), médio (correspondente tras eram homogéneas ao nível da
a cursos médios ou profissionais) e área de residência, com os sujeitos a
superior (licenciatura, mestrado ou residirem em área predominantemen-
doutoramento). As informações rela- te humana, e eram equivalentes em
tivas à área de residência (localidade, relação à idade (Teste de Kruskal-
concelho, distrito) permitiram classifi- -Wallis: χ2=3,264, g.l.=3; p=0,353).

Quadro 1 - Características demográficas das amostras


Primeiro Segundo Terceiro Amostra
trimestre trimestre trimestre controlo
Estado Civil
Casado 100% 95% 90% 86%
Em União de Facto - 5% 10% 14%
Nível de Escolaridade
Superior 64% 52% 55% 91%
Médio 18% 5% 15% -
Secundário 18% 43% 25% 9%
Básico - - 5% -
Área de Residência
APU 100% 100% 100% 100%
AMU - - - -
APR - - - -
Nível Sócio-Económico
Elevado 64% 62% 55% 60%
Médio 36% 38% 40% 40%
Baixo - - 5% -
Idade média 33 33 34 32
d.p. 4,90 3,57 5,23 5,97

Revista Portuguesa de Psicossomática


Revista
Portuguesa
de
107 Psicossomática Síndroma de Couvade

Tipo de sintomas vivenciados oposição, o sintoma falta de ar foi uni-


O Quadro 2 apresenta a frequên- camente vivenciado pelos homens-
cia relativa dos 42 sintomas nas 4 -não-expectantes, e os sintomas rubor
amostras, valor equivalente à propor- da face e aumento do desejo sexual in-
ção de sujeitos que vivenciaram cada cluem-se entre os dez mais inciden-
sintoma. No Quadro 3 apresenta-se a tes apenas nesta amostra. Ainda a este
ordenação dos dez sintomas mais in- nível, os sintomas prisão de ventre e
cidentes em cada amostra, incluindo- insónia incluem-se apenas no primei-
-se também essa ordenação na amos- ro trimestre e o sintoma micção mais
tra expectante total. frequente inclui-se apenas no terceiro
Da análise do Quadro 2 verifica- trimestre.
-se que a amostra de pais-expectan-
tes no segundo trimestre é aquela
onde mais sintomas apresentam a sua Número de sintomas vivencia-
incidência máxima (18, contra 11 e 3 dos
nas amostras do primeiro e terceiro O Quadro 4 apresenta as frequên-
trimestre, e 7 na amostra de contro- cias relativas do número de sintomas
lo). Esta amostra é onde também se vivenciados em cada amostra. Verifi-
contam mais sintomas com incidên- ca-se que a amostra de pais-expec-
cia superior a 50 % (2, contra 0 nas tantes no segundo trimestre apresen-
restantes amostras) e a 20% (13, con- ta a maior proporção de sujeitos cujo
tra 10 nas restantes amostras), e me- número de sintomas vivenciados é
nos sintomas com incidência de 0%, igual ou superior a 2 (Critério de dia-
isto é, que não foram vivenciados por gnóstico do Síndroma de Couvade de
qualquer sujeito (5, contra 16 e 15 nas Bogren, 1983), (95%); a 5 (Critério de
amostras do primeiro e terceiro tri- diagnóstico do Síndroma de Couvade de
mestre, e 10 na amostra de controlo). Trethowan e Conlon, 1965), (62%) ou
O sintoma diminuição do desejo se- a 10 (20%); proporções que são, res-
xual corresponde ao único sintoma pectivamente, 82%, 55% e 9% na
vivenciado nas três amostras expec- amostra do primeiro trimestre, 85%,
tantes e não vivenciado na amostra de 30% e 10% na amostra do terceiro tri-
controlo, incluindo-se entre os dez mestre e 82%, 50% e 9% na amostra
sintomas mais incidentes naquelas não-expectante.
três amostras e apresentando uma A análise da distribuição do núme-
incidência de 27% no total de pais- ro de sintomas vivenciados através
-expectantes. Quando considerada no das estatísticas descritivas (Quadro 5)
seu conjunto, a amostra expectante apoia a observação que os pais-expec-
apresenta ainda os sintomas dores tantes no segundo trimestre vivencia-
musculares, insónia, diminuição do inte- ram mais sintomas do que os outros
resse social e nervosismo na listagem sujeitos, e que, por oposição, a amos-
dos sintomas mais incidentes, ao con- tra do terceiro trimestre foi aquela
trário da amostra de controlo. Por onde menor número de sintomas foi

Vol. 4, nº 2, Jul/Dez 2002


Rita M. Gomez, Isabel Leal, Eurico Figueiredo 108

Quadro 2 - Frequência dos sintomas em cada amostra


Primeiro Segundo Terceiro Amostra
trimestre trimestre trimestre controlo
N=11 N=21 N=20 N=20
Sintomas % % % %
1 Dor de cabeça 45 43 30 32
2 Dores nas costas 18 33 35 32
3 Dores musculares 18 24 30 9
4 Dor genital 0 5 0 0
5 Prisão de ventre 27 5 5 9
6 Diarreia 0 10 5 9
7 Aumento do apetite 9 24 15 5
8 Perda do apetite 9 14 5 5
9 Vertigens/tonturas 0 5 0 14
10 Insónia 45 19 15 14
11 Mãos/pés inchados 0 0 0 0
12 Falta de ar 0 0 0 9
13 Movimento no abdómen 0 5 0 9
14 Dor nas virilhas 0 5 0 0
15 Náusea 9 5 0 5
16 Sentir-se inchado/cheio 27 24 10 41
17 Micção mais frequente 9 10 35 5
18 Fadiga 36 52 45 41
19 Arrepios 0 10 5 0
20 Azia do estômago 45 14 10 27
21 Rubor da face 0 5 5 32
22 Comichão/irritação genital 18 14 0 9
23 Sangramento genital 0 0 0 0
24 Cãimbras abdominais 0 0 0 0
25 Relaxamento 0 0 0 0
26 Mãos/pés frios 9 24 5 18
27 Irrupções da pele 0 14 15 9
28 Palpitações/dores no peito 9 10 0 9
29 Diminuição do desejo sexual 27 29 25 0
30 Vómitos 9 5 0 0
31 Dor nos mamilos/peito 0 5 0 0
32 Apatia 18 14 10 5
33 Depressão 18 14 5 9
34 Irritabilidade 9 29 10 23
35 Ansiedade 27 52 25 41
36 Diminuição do interesse social 36 14 20 5
37 Aumento do interesse social 0 10 5 18
38 Tensão 9 38 30 32
39 Choro 0 10 0 0
40 Nervosismo 27 24 25 5
41 Aumento do desejo sexual 18 19 10 23
42 Euforia 9 24 10 5

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Revista
Portuguesa
de
109 Psicossomática Síndroma de Couvade

Quadro 3 - Dez sintomas mais incidentes em cada amostra


PRIMEIRO TRIMESTRE SEGUNDO TRIMESTRE TERCEIRO TRIMESTRE
Posto Sintoma % Posto Sintoma % Posto Sintoma %
1 Dor de cabeça 45 1 Fadiga 52 1 Fadiga 45
1 Insónia 45 1 Ansiedade 52 2 Dores nas costas 35
1 Azia do estômago 45 3 Dor de cabeça 43 2 Micção mais frequente 35
4 Fadiga 36 4 Tensão 38 4 Dor de cabeça 30
4 Diminuição do
interesse social 36 5 Dores nas costas 33 4 Tensão 30
6 Prisão de ventre 27 6 Diminuição do 4 Dores musculares 30
desejo Sexual 29
6 Sentir-se inchado/ 6 Irritabilidade 29 7 Ansiedade 25
/cheio 27
6 Diminuição do 8 Sentir-se incha- 7 Diminuição do dese-
desejo Sexual 27 do/cheio 24 jo sexual 25
6 Ansiedade 27 8 Nervosismo 24 7 Nervosismo 25
6 Nervosismo 27 8 Dores musculares 24 10 Diminuição do interes-
se social 20
TOTAL DE PAIS-EXPECTANTES HOMENS NÃO-EXPECTANTES
Posto Sintoma % Posto Sintoma %
1 Fadiga 46 1 Fadiga 41
2 Dor de cabeça 38 1 Ansiedade 41
3 Ansiedade 37 1 Sentir-se inchado/cheio 41
4 Dores nas costas 31 3 Dor de cabeça 32
5 Tensão 29 3 Dores nas costas 32
6 Diminuição do desejo sexual 27 3 Tensão 32
7 Dores musculares 25 3 Rubor da face 32
7 Nervosismo 25 8 Azia do estômago 27
9 Insónia 23 9 Irritabilidade 23
10 Diminuição do interesse social 21 9 Aumento do desejo sexual 23

Quadro 4 - Frequências do número de sintomas vivenciados em cada amostra


Primeiro Segundo Terceiro Amostra
trimestre trimestre trimestre controlo
Número de Sintomas % % % %
0 9,1% - 10% 18,2%
1 9,1% 4,8% 5% -
2 27,3% 9,5% 20% 9,1%
3 - 9,5% 15% 13,6%
4 - 14,3% 20% 9,1%
5 27,3% 23,8% 5% 9,1%
6 - 9,5% - 9,1%
7 9,1% - 5% 9,1%
8 - - 5% -
9 - 9,5% - 9,1%
10 9,1% - 5% 4,5%
11 - 4,8% 5% 4,5%
- 4,8% 5% -
15 - 4,8% - 4,5%
20 - 4,8% - -
21 9,1% - - -

Vol. 4, nº 2, Jul/Dez 2002


Rita M. Gomez, Isabel Leal, Eurico Figueiredo 110

Quadro 5 - Estatísticas descritivas do número de sintomas vivenciados em cada amos-


tra
Primeiro Segundo Terceiro Quarto
trimestre trimestre trimestre trimestre
Média 5,45 6,57 4,45 5,05
Mediana 5,00 5,00 3,50 4,50
d.p. 5,92 4,84 3,75 3,99
Mínimo 0 1 0 0
Máximo 21 20 14 15

Quadro 6 - Frequência dos sujeitos segundo o planeamento da gravidez e o estatuto


da paternidade
Planeamento Estatuto
da gravidez n % da paternidade n %
Gravidez planeada 45 86,5% Paternidade primípara 33 63,5%
Gravidez não-planeada 7 13,5% Paternidade não-primípara 19 36,5%

vivenciado. O teste da significância neada’, e para a variável estatuto da


estatística destas diferenças revela, paternidade foram consideradas as
contudo, que as mesmas não são sig- categorias ‘paternidade primípara’ e
nificativas (Teste de Kruskal-Wallis: ‘paternidade não-primípara’, confor-
χ2=3,000, g.l.=3, p=0,392). me aquilo que os sujeitos assinalaram
no questionário sócio-demográfico. O
Quadro 6 apresenta as respectivas fre-
Efeito das variáveis planeamen- quências de sujeitos na amostra, e o
to da gravidez, estatuto da pater- Quadro 7 apresenta as respectivas es-
nidade e idade no número de sin- tatísticas descritivas da distribuição do
tomas vivenciados número de sintomas vivenciados.
O efeito das variáveis planeamen- Como já se antecipava pela com-
to da gravidez, estatuto da paternida- paração da estatísticas descritivas, os
de e idade no número de sintomas resultados do teste de Mann-Whitney
vivenciados foi analisado na amostra revelaram que não são significativas
conjunta dos 52 pais-expectantes. Para as diferenças entre o grupo de gravi-
a variável planeamento da gravidez dez planeada e o grupo de gravidez
foram consideradas as categorias ‘gra- não-planeada no que respeita ao nú-
videz planeada’ e ‘gravidez não pla- mero de sintomas vivenciados

Revista Portuguesa de Psicossomática


Revista
Portuguesa
de
111 Psicossomática Síndroma de Couvade

Quadro 7 - Estatísticas descritivas do número de sintomas vivenciados segundo o


planeamento da gravidez e o estatuto da paternidade
Gravidez Gravidez Paternidade Paternidade
planeada não-planeada primípara não-primípara
Média 5,49 5,71 5,21 6,05
Mediana 4,00 5,00 5,00 4,00
d.p. 4,91 3,50 4,39 5,32
Mínimo 0 0 0 0
Máximo 21 11 21 20

Quadro 8 - Estatísticas descritivas do número de A.V., do impacto negativo dos A.V. e


do impacto positivo dos A.V.
Número de A.V. Impacto Negativo dos A.V. Impacto Positivo dos A.V.
1ºT 2ºT 3ºT A.C. 1ºT 2ºT 3ºT A.C. 1ºT 2ºT 3ºT A.C.
Média 2,82 4,05 2,70 4,68 2,73 3,29 2,65 3,18 1,73 4,14 1,50 4,50
Mediana 2,00 3,00 2,00 4,00 2,00 2,00 1,00 2,00 1,00 2,00 1,00 4,50
d.p. 2,79 3,56 2,81 3,58 4,27 4,33 3,70 4,16 2,41 4,86 1,64 3,61
Mínimo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Máximo 9 12 11 13 15 18 12 15 8 15 5 12

(U=124,000, p=0,366), o mesmo suce- tecimentos vivenciados, quer os va-


dendo entre o grupo de paternidade lores totais do impacto positivo e do
primípara e o grupo de paternidade impacto negativo dos acontecimen-
não-primípara (U=297,500, p=0,759). tos, neste caso não se considerando
No que respeita à idade, o valor aqueles referidos como sem impacto.
da correlação entre o número de anos O acontecimento gravidez da mulher ou
dos sujeitos e o número de sintomas namorada, assinalado pelos pais-ex-
vivenciados – r=0,022, p=0,876 (coe- pectantes, não foi nunca contabili-
ficiente de correlação de Spearman) zado. No Quadro 8 apresentam-se as
– traduz que as variáveis não se cor- estatísticas descritivas da distribuição
relacionam. das variáveis relativas aos aconteci-
mentos de vida em cada amostra.
Considerando as medidas de ten-
Relação entre o número de sinto- dência central e da dispersão, verifi-
mas vivenciados e os aconteci- ca-se que na amostra de controlo
mentos de vida (A.C.) referiu-se maior número de
Em termos de acontecimentos de A.V. e maior impacto positivo dos
vida (A.V.), para este estudo conside- A.V., sendo a diferença relativamen-
rou-se quer o número total de acon- te às restantes amostras maior na úl-

Vol. 4, nº 2, Jul/Dez 2002


Rita M. Gomez, Isabel Leal, Eurico Figueiredo 112

Quadro 9 - Teste das diferenças entre as amostras relativamente ao impacto positivo


dos acontecimentos de vida
U-Mann-Whitney Para
Primeiro/Segundo Trimestre 86,000 0,228
Primeiro/Terceiro Trimestres 107,500 0,913
Primeiro Trimestre/Amostra de Controlo 62,500 0,024*
Segundo/Terceiro Trimestres 154,500 0,134
Segundo Trimestre/Amostra de Controlo 198,500 0,425
Terceiro Trimestre/Amostra de Controlo 102,500 0,003**
*A diferença é significativa ao nível 0,05; **A diferença é significativa ao nível 0,01.

tima variável. Por oposição, as amos- No sentido de analisar a relação


tras de pais-expectantes no primeiro entre o número de sintomas vivencia-
e no terceiro trimestres são aquelas dos e cada uma das variáveis relati-
com menores valores nestas variáveis. vas aos acontecimentos de vida, uti-
No que respeita ao impacto negativo lizou-se o coeficiente de correlação de
dos acontecimentos de vida, destaca- Spearman (sempre que as variáveis
-se o seu menor valor na amostra não apresentam ambas distribuição
expectante no terceiro trimestre. normal na amostra) e o coeficiente de
Os resultados do teste de Kruskal- correlação de Pearson (no caso con-
-Wallis revelam que as diferenças en- trário, que se verifica na amostra de
tre as quatro amostras não são signi- controlo entre as variáveis número de
ficativas no que respeita ao número sintomas vivenciados, número de
de A.V. (χ2=4,811, g.l.=3, p=0,186) e ao A.V. e impacto positivo dos A.V.). O
impacto negativo dos A.V. (χ2=0,520, Quadro 10 apresenta os valores des-
g.l.=3, p=0,915), mas sim no que res- sas correlações em cada amostra, ve-
peita ao impacto positivo dos A.V. rificando-se que: a correlação com o
(χ2=9,734, g.l.=3, p=0,021). Os resul- número de A.V. é significativa apenas
tados dos Testes de Mann-Whitney, nas amostras expectantes do primei-
efectuados para essa variável em cada ro e do terceiro trimestres, sendo mo-
par de amostras (Quadro 9), revelam deradamente positiva; a correlação
que apenas são significativas as dife- com o impacto negativo dos A.V. é
renças entre a amostra de controlo, significativa apenas nas três amostras
por um lado, e as amostras expectan- expectantes, sendo moderadamente
tes no primeiro e no terceiro trimes- positiva; a correlação com o impacto
tre, por outro, o que traduz que, com- positivo dos A.V. é significativa ape-
parativamente a estas amostras, o nas na amostra expectante do tercei-
impacto positivo dos acontecimentos ro trimestre, onde é positiva mas fra-
de vida é significativamente maior na ca. Globalmente, as amostras expec-
amostra de controlo. tantes no primeiro e no terceiro tri-

Revista Portuguesa de Psicossomática


Revista
Portuguesa
de
113 Psicossomática Síndroma de Couvade

Quadro 10 - Correlação entre o número de sintomas vivenciados e as variáveis relati-


vas aos acontecimentos de vida em cada amostra
Nº de acont. Impacto Impacto
de vida negativo positivo dos
dos acont. dos acont.
de vida de vida
Primeiro trimestre Número de r= 0,700* r= 0,624* r= 0,337 (n.s.)
sintomas p=0,017 p=0,040 p=0,311
Segundo trimestre vivenciados r= 0,188 (n.s.) r= 0,448* r= 0,065 (n.s.)
p=0,415 p=0,042 p=0,781
Terceiro trimestre r=0,687** r=0,548* r=0,487*
p=0,001 p=0,012 p=0,029
Amostra de controlo r= 0,078 (n.s.) r= 0,274 (n.s.) r= - 0,117 (n.s.)
p=0,731 p=0,218 p=0,603
*A correlação é significativa ao nível 0,05; **A correlação é significativa ao nível 0,01

mestres são aquelas onde o número ‘dores nas costas’ e os seis anteriores).
de sintomas aparece mais fortemente Contudo, vários destes sintomas fo-
correlacionado com as variáveis rela- ram igualmente mais incidentes na
tivas aos acontecimentos de vida, e a amostra de homens-não-expectantes,
amostra de controlo é aquela onde pelo que não é possível atribuí-los à
essas variáveis se apresentam menos gravidez ou remetê-los para o
correlacionadas. Síndroma de Couvade. Da mesma for-
ma, os sintomas exclusivamente mais
incidentes no conjunto dos pais-ex-
DISCUSSÃO DOS RESULTA- pectantes não podem atribuir-se de
DOS imediato à paternidade-expectante, já
que, por coerência de raciocínio, isso
Na análise dos 10 sintomas mais implicaria considerar o sintoma ‘ru-
incidentes, os resultados na amostra bor da face’ (exclusivamente mais in-
expectante total concordam em 6 sin- cidente na amostra de controlo) como
tomas com os que Black et al. (1995) típico de homens não-expectantes,
reportaram quanto a pais-expectantes consideração sem fundamento.
com história de infertilidade (sinto- Não obstante, verifica-se que as
mas ‘ansiedade’, ‘tensão’, ‘nervosis- amostras expectantes se diferencia-
mo’, ‘dor de cabeça’, ‘fadiga’ e ‘dores ram com alguma consistência da
musculares’), e em 8 sintomas com o amostra de controlo nos sintomas ‘di-
verificado por esses autores em pais- minuição do interesse social’ (com
-expectantes sem tal história (sinto- incidência entre 14% e 36% nas amos-
mas ‘diminuição do desejo sexual’, tras expectantes e de 5% na amostra

Vol. 4, nº 2, Jul/Dez 2002


Rita M. Gomez, Isabel Leal, Eurico Figueiredo 114

de controlo) e ‘diminuição do desejo os de Quill et al. (1984, cit. por Clinton,


sexual’ (com incidência entre 25% e 1987) e os de Clinton (1987). O facto
29% nas amostras expectantes e 0% de 82% dos homens-não-expectantes
na amostra de controlo). No último terem vivenciado 2 ou mais sintomas,
caso, esta diferença é ainda mais sig- e 50% cinco ou mais, revela a desade-
nificativa quando comparada com a quação destes critérios de diagnósti-
incidência do sentimento oposto ‘au- co do Síndroma de Couvade, os quais
mento do desejo sexual’, apenas in- foram assumidos, respectivamente,
cluído entre os 10 mais incidentes na por Trethowan e Conlon (1965, cit. por
amostra de controlo. Estes resultados Bogren, 1989) e por Bogren (1983) em
parecem indicar que os homens são estudos sem amostra de controlo.
mais afectados na sua sociabilidade e O facto de os pais-expectantes não
no seu desejo sexual durante a gravi- se diferenciarem significativamente
dez, o que é coerente com o que a li- em função do trimestre da gravidez
teratura informa sobre a experiência contribui também para desmistificar
da paternidade-expectante (Gurwitt, a ideia de que o Síndroma de Couvade
1976; Millet et al., 1978; Ross, 1979; evolui tipicamente numa curva U, o
Clerget, 1980; Gerzi e Berman, 1981; que não encontra confirmação tam-
May, 1980; May, 1982; Kosten et al., bém nos estudos de Bogren (1983,
1985; May e Perrin, 1985; Entwisle e 1984, 1986, 1989), de Clinton (1986;
Doering, 1988; Benvenuti et al., 1989; 1987) e de Fawcett e York (1986). A
Brazelton e Cramer, 1989; Cyrulnik, maior incidência de sintomas que se
1989; Jordan, 1990; Tavares, 1990; verificou no segundo trimestre refor-
Klaus e Kennell, 1993; Kovacevic, ça essa desconfirmação e parece con-
1993; Coffman et al., 1994; Colman e sistente com o que a literatura infor-
Colman, 1994; Sandelowski, 1994; ma sobre a evolução da experiência
Estevão, 1995; Kreppner, 1995; psico-afectiva da paternidade-expec-
Vicente, 1995; Neville e Parke, 1997). tante ao longo dos três trimestres da
Por um lado, a dinâmica psico-afecti- gravidez. Como Colman e Colman
va que o estatuto de futuro-pai esti- (1994) e May (1982) assinalam, no pri-
mula pode torná-los mais centrados meiro trimestre a gravidez ainda não
em si próprios e na unidade familiar; é visível e ‘real’ para o pai-expectante,
por outro lado, a experiência mascu- e no terceiro trimestre a sintonia en-
lina e as modificações da companhei- tre o casal é maior e a ansiedade do
ra afectam-se mutuamente e repercu- pai é mais exteriorizada pela resolu-
tem-se na relação conjugal. ção de questões práticas; pelo contrá-
Na verificação de que os pais-ex- rio, o segundo trimestre é o período
pectantes não se diferenciaram dos em que a gravidez começa a assumir-
homens-não-expectantes no número -se com mais imediatez para o homem
de sintomas vivenciados, os nossos e em que, normalmente, são explora-
resultados concordam com os de dos os aspectos psicológicos mais pro-
Fordor (1981, cit. por Clinton, 1987), fundos da futura paternidade.

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Revista
Portuguesa
de
115 Psicossomática Síndroma de Couvade

Os resultados, não diferenciando de referência a esperar-se uma rela-


entre pais primíparos e pais não- ção entre acontecimentos de vida e
-primíparos, reforçam os resultados sintomas (neste caso, impossibilitan-
no mesmo sentido de Trethowan e do atribuir unicamente ao estatuto
Conlon (1965, cit. por Khanobdee et gravídico os sintomas), ela esperar-se-
al., 1993), de Lipkin e Lamb (1982, cit. -ia quer nas amostras expectantes
por Kiselica e Scheckel, 1995), de quer na amostra não-expectante. As-
Strickland (1987, cit. por Khanobdee sim, apesar de ser consistente com os
et al., 1993) e de Khanobdee et al. estudos de referência (Sarason et al.,
(1993), e são também consistentes 1978; ver Instrumentos) a maior cor-
com a consideração, na literatura, que relação do número de sintomas
a gravidez pode ser igualmente sig- vivenciados com o impacto negativo
nificativa para os pais ‘experientes’ e dos acontecimentos de vida do que
para os pais ‘pela-primeira-vez’ com o impacto positivo, uma vez que
(Colman e Colman, 1994). essa correlação só se revelou mode-
Quanto ao facto de não se terem rada e significativa nas amostras
encontrado diferenças em função do expectantes fica comprometida qual-
planeamento da gravidez, os resulta- quer interpretação de causalidade e
dos discordam dos de Davis (1978, cit. torna-se pertinente questionar a ade-
por Kiselica e Schecke L, 1995), de quação do LES enquanto medida de
Clinton (1985, cit. por Klein, 1991) e stress (questão que os próprios auto-
de Conner et al. (1990, cit. por Masoni res colocam ao considerarem que a
et al., 1994), e podem contribuir para magnitude das relações com outras
a controvérsia acerca do ‘risco’ asso- medidas é na maioria dos casos fraca
ciado a esta variável. No entanto, é ou moderada, sugerindo que os acon-
necessária confirmação numa amos- tecimentos de vida contam com uma
tra mais representativa dado o redu- proporção baixa para a variância con-
zido número, na amostra, de casos de tida nessas medidas).
gravidez não-planeada. Não obstante, tendo em conta que
A não verificação de qualquer re- os homens-não-expectantes tiveram
lação entre a incidência de sintomas valores mais altos no impacto positi-
e a idade, discordando dos resultados vo dos acontecimentos do que os pais-
de Brown (1983, cit. por Clinton, -expectantes (ainda que as diferenças
1986), que encontrou uma correlação só fossem significativas em relação às
negativa entre essas variáveis, e de amostras do primeiro e do terceiro
Bogren (1983), que encontrou uma trimestre), considere-se que a inves-
correlação positiva, contribuem para tigação tem demonstrado que «indi-
reforçar a conclusão de Lamb e Lipkin víduos em cuja personalidade predo-
(1982) de que essas variáveis são in- mina o humor negativo tendem a re-
dependentes. ferir a ocorrência de eventos subjecti-
No que respeita ao efeito dos acon- vos como negativos com mais fre-
tecimentos de vida, à luz do modelo quência do que indivíduo com valo-

Vol. 4, nº 2, Jul/Dez 2002


Rita M. Gomez, Isabel Leal, Eurico Figueiredo 116

res baixos de humor negativo» (Bret não provêm confirmação do Síndro-


et al., 1990, cit. por Ribeiro e Navalhas, ma de Couvade e colocam em causa as
2000). Parecendo razoável esperar conclusões dos estudos que, sem in-
que a mesma relação exista entre hu- cluírem amostras de referência ou
mor positivo e percepção de eventos sem fazerem avaliações longitudinais
positivos, os resultados levam a con- com controlo de outros acontecimen-
siderar a hipótese de a paternidade- tos de vida, classificaram dessa for-
-expectante poder afectar a qualida- ma as vivências sintomatológicas dos
de do humor dos sujeitos. Outra hi- pais expectantes ou, mesmo hesitan-
pótese que parece pertinente, sobre- do fazer tal diagnóstico, as atribuíram
tudo considerando que os homens- à gravidez.
não-expectantes assinalaram mais
acontecimentos de vida do que os
pais-expectantes (apesar de que as di- IMPLICAÇÕES E CONCLUSÃO
ferenças não eram significativas), é
que os pais-expectantes estejam mais A falta de confirmação empírica
centra-dos na gravidez e vejam outros do Síndroma de Couvade não invalida
eventos como menos importantes o reconhecimento, subjacente à inves-
para referir. tigação nesta área, de que para mui-
Em síntese, os resultados sugerem tos pais-expectantes a experiência da
que, em termos médios, os pais-ex- gravidez pode envolver uma série de
pectantes portugueses vivenciam sin- constrangimentos emocionais e físi-
tomatologia geral em quantidade cos. A tentativa de confirmar empiri-
equivalente aos homens não-expec- camente esse reconhecimento tem
tantes, embora possam ser mais afec- pretendido contribuir para melhorar
tados na sua motivação sexual e so- a forma como essas vivências são en-
cial. Em termos de evolução tempo- quadradas na prática clínica. Como
ral da gravidez, poderá haver uma evidenciou um dos estudos mais con-
maior vulnerabilidade à vivência de sistentes nesta área (Lipkin e Lamb,
sintomas no segundo trimestre, mas 1982, cit. por Elwood e Manson, 1994;
que não é significativa. A análise dos Klein, 1991), um risco real é o de que
dados sugere também que a vivência homens com sintomas não procurem
de sintomatologia durante a paterni- ajuda para condições médicas sérias
dade-expectante não se associa à ida- ou que sintomas benignos sejam mal
de, planeamento da gravidez ou es- diagnosticados ou sobre-medicados.
tatuto da paternidade (primípara vs Estabelecer relação com os pais no
não-primípara). Finalmente, os resul- contexto clínico, informar sobre as
tados indicam a pertinência de se ex- mudanças emocionais e físicas que a
plorar a relação entre o estatuto gravidez pode implicar para ambos
expectante e a percepção de aconteci- os progenitores, ajudar o casal a en-
mentos de vida. contrar formas adaptativas de lidar
Na sua globalidade, os resultados com as questões maritais levantadas

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Revista
Portuguesa
de
117 Psicossomática Síndroma de Couvade

pela gravidez, dar assistência na iden- syndrome. Portuguese adult men,


tificação e utilização de fontes exter- married, compose the sample. The
nas de suporte, disponibilizar siste- variables used in evaluation were the
mas de apoio (como as classes de pre- Symptomatology Inventory for the
paração para o parto) mais cedo e com couvades syndrome, and the Life
uma maior ênfase na preparação para Experiences Survey. We evaluate, also,
a parentalidade, constituem medidas the following variables related with
que aumentam a possibilidade de se expectant fathers: planed pregnancy/ no
prevenirem vivências negativas da planed pregnancy, first pregnancy/ no
gravidez. Estas medidas podem, ain- first pregnancy. Results show no
da, ter um impacto positivo na deter- statistically significant differences
minação de novos modelos de pater- between expectant fathers and non-
nidade, fomentando um envolvimen- -expectant fathers for the general
to paterno mais activo e gratificante. symptoms. Expectant fathers show lower
No que respeita à investigação fu- sexual desire and social participation. No
tura do Síndroma de Couvade, a limita- relations were found between symptoms
ção da investigação transversal para during pregnancy and: age, planed
identificar diferenças individuais sus- pregnancy/ no planed pregnancy, first
citadas pela gravidez indica que uma pregnancy/ no first pregnancy. The
metodologia longitudinal, que dê results show that there is no confirmation
conta das diferenças individuais an- for the existence of the couvade syndrome
tes, ao longo e depois da gravidez, between the two groups.
pode constituir a única forma de ul- Key-words: Couvade syndrome;
trapassar esta dificuldade. Por outro Pregnancy; Expectant fathers.
lado, outros aspectos que podem con-
correr para a compreensão e ‘diagnós-
tico’ do Síndroma de Couvade e que não BIBLIOGRAFIA
foram explorados no presente estudo,
como a percepção dos sujeitos do pró- • Benvenuti P, Marchetti G, Tozzi G,
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