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Resumo
Este trabalho tem por objetivo realizar uma avaliação ergonômica do sistema bicicleta-
usuário do modelo Barra Circular produzido pela Monark. Para tanto foi necessário
conhecer o perfil antropométrico dos usuários, estudar a biomecânica dos movimentos
envolvidos, levantar na literatura especializada a musculatura envolvida no uso do produto,
avaliar a biomecânica através de manequins com as medidas do usuário de estatura média
encontrada na amostra, e coletar informações, por meio de entrevistas semi-estruturadas, da
percepção dos usuários quanto a sensação de conforto e reclamações de dores após o uso da
bicicleta. Os principais resultados apontam para a inadequação dimensional do objeto em
relação ao padrão antropométrico dos usuários e as maiores reclamações estão relacionadas
as dores nas coxas, costas e nádegas.
Palavras-chave: Ergonomia, Biomecânica, Bicicleta.
1. Introdução
Apesar da disponibilidade dos meios de transportes coletivos como opção de locomoção nos
centros urbanos, sejam estes, grandes conglomerados ou pequenas cidades e, até certo ponto,
das facilidades que estes veículos oferecem em termos de conforto, rapidez e segurança é
elevado o número de pessoas que ainda utilizam a bicicleta como meio de deslocamento.
Entre estas, incluem-se trabalhadores da construção civil, carteiros, jornaleiros, mecânicos e
operários da indústria em geral. Muitos destes usuários são pessoas de baixa renda e como tal,
residem nas periferias dos centros mais desenvolvidos ou em regiões rurais próximas destes.
Esta realidade também se faz presente no Estado da Paraíba, sobretudo nos dois maiores
centros populacionais do estado: as cidades de João Pessoa e Campina Grande.
Particularmente em Campina Grande, a maioria destes usuários utiliza a bicicleta como meio
de locomoção de casa para o trabalho e vice-versa, perfazendo um tempo de uso diário em
torno de duas horas.
Entre estes usuários existem aqueles que têm uma freqüência de uso maior, devido residirem
em municípios vizinhos. Existem também outros que usam a bicicleta como ferramenta de
trabalho, como jornaleiros, carteiros entregadores e leiteiros, por esta razão o tempo de
utilização diário é muito alto. Para exemplificar citamos o exemplo do jornaleiro Josemar
Candido da Silva que segundo depoimento, para entregar seus jornais precisa se deslocar do
centro da cidade até áreas da periferia da grande João Pessoa, necessitando chegar até às
praias da cidade fazendo um percurso diário em torno de 25 km.
Nas últimas décadas, a popularidade do uso da bicicleta nos desportos e nas atividades
recreativas proporcionou mudanças e inovações formais deste produto, na busca de minimizar
danos físicos, aumentar o conforto e o prazer por parte do usuário deste produto, com isso
surgiram novos estilos e modelos diferentes do produto, com sistemas de suspensão e o
emprego de novos materiais.
Estas inovações não estão, ainda, popularizadas e modelos mais tradicionais se mantém no
mercado em função da robustez, da durabilidade e preço final do produto, o que tem sido fator
de preferência de algumas categorias profissionais. Com estas características de produto
destacamos o modelo Barra Circular do fabricante Monark, que ainda é preferido entre
diversos profissionais. Na tabela 1 mostramos a distribuição de usuários em algumas
empresas visitadas, onde foi encontrado um número considerável de usuários deste modelo de
transporte.
4. Biomecânica
Apresentamos no quadro 1 a relação dos movimentos e principal musculatura envolvida, de
acordo com as partes do corpo humano, associada aos movimentos realizados na utilização de
uma bicicleta. Como se sabe um determinado movimento resulta das ações de vários
músculos trabalhando em conjunto. Este quadro foi montado consultando diversos autores na
literatura especializada, no sentido de facilitar a visualização, por parte dos pesquisadores, da
principal musculatura envolvida no uso do produto, conforme as regiões do corpo onde o
usuário reclama sofrer dores musculares.
Sistema Muscular
O prazer proporcionado pela atividade de andar de bicicleta perde-se muitas vezes devido ao
mau posicionamento na bicicleta, proporcionando dores nas costas, no pescoço ou nos
joelhos, podendo ir mesmo ao ponto do adormecer das mãos. Buscar um posicionamento
adequado apresenta vantagens para o ciclista como evitar lesões e dores crônicas, através de
pesquisas de biomecânica.
Os fatores considerados, nesta pesquisa, para avaliar a biomecânica do sistema bicicleta-
usuário, foram as variáveis caracterizadas pela distância do pedal-sela e altura da sela
confrontados com o comprimento das pernas, a posição dos pés sobre o pedal, distância entre
os punhos, triângulo formado pelo guidom-sela-eixo do pedal e distância guidom-sela com a
postura do tórax com relação ao comprimento dos braços.
Desvio Desvio
Variável Média padrão Padrão
Amostral Populacional
Idade 33,57 14,26 13,92
Altura em pé -A 162,57 10,01 9,77
Peso 61,76 8,19 7,99
Comprimento do braço - B 72,47 4,38 4,28
Dist. Int. ombros - C 42,33 2,46 2,38
Largura bacia - D 45,57 2,60 2,53
Distância ombro/bacia - E 53,38 3,12 3,05
Distância joelho/chão - F 50,24 3,92 3,83
Distância bacia/ Joelho - G 41,29 5,62 5,49
Distância púbis/ chão 83,04 6,26 6,11
Comprimento da mão - H 19,26 0,89 0,87
Distância tornozelo ponta do pé - I 22,19 1,44 1,40
Comprimento do pé - J 26,48 1,63 1,59
Largura do pé - L 10,40 0,80 0,80
Fonte: Pesquisa realizada em outubro de 2005 – dados em centímetros
ENEGEP 2006 ABEPRO 4
Tabela 2 – Distribuição das médias e desvio padrão amostral e populacional dos
segmentos corporais do ciclista em pé
XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006
5. Interpretação Ergonômica
Propulsão e fadiga
A propulsão humana exige certo esforço muscular. Esse esforço chega a desenvolver alguns
músculos, como está sendo visto na figura 4 o indivíduo ao contrair e estender o músculo da
perna chegou a desenvolvê-lo bastante. O movimento realizado na bicicleta é muito
acelerado, exige maior esforço físico provocando fadiga muscular que é agravada quando se
percorre grandes distâncias e ao subir ladeiras.
A fadiga muscular caracteriza-se por sensação dolorosa, por incapacidade progressiva e
enfraquecimento do movimento muscular.
O músculo pode ficar fatigado quando há uma dilatação muscular que ocasiona um aumento
do fluxo sanguíneo o qual provoca um aumento do volume do tecido.
A fadiga muscular não é causada só pelo que passa no músculo, mas está relacionada com
fatores do sistema nervoso, e possivelmente com a revitalização nervosa do próprio músculo,
como também quando o músculo for usado de um modo que não é habitual, a sensação de dor
aparece muito mais facilmente. O que quer que seja que interfira ou reduza o abastecimento
de oxigênio a um músculo aumentará a propensão para a fadiga.
Postura e conforto
Na utilização da bicicleta todo um conjunto de músculos entra em atividade e se o indivíduo
não se posicionar corretamente irá sentir, em curto período, cansaço muscular.
Observou-se que apesar da bicicleta possuir algumas dimensões adequadas para faixa maior
de usuários, mesmo assim estes usuários não obtêm uma boa postura, tendo em vista a má
utilização do produto. Por outro lado, também, uma grande maioria não assume uma boa
postura em virtude da inadequação de suas medidas antropométricas em relação a algumas
dimensões da bicicleta, como pode ser mostrado na figura 2, usuário tem estatura de 1,78 m %
e na figura 3, usuário com estatura de 1,63 m (média), e serem mais confortaveis em relação a
bicicleta, ao contrário dos usuários na figuras 4 e 5, onde estes têm estaturas de 1,55m e 1,38
m respectivamente, medidas abaixo da média, não assumem uma boa postura na utilização do
produto.
Posicionamento sentado
Observamos que no caso destes dois usuários de estaturas mais baixas (indivíduo na figura 4 e
o indivíduo com a menor estatura da amostra, figura 5), não há uma boa postura, pois eles
precisam deslocar-se para frente, sentando-se à beira do assento a fim de alcançar os pedais e
o guidom e assim adquirir uma melhor posição para pedalar.
Percebe-se que, nas fotos de perfil (figuras 2, 3, 4, 5) quanto menor as pernas do usuário,
maior será seu deslocamento para frente, proporcionando como conseqüência uma postura
mais inadequada em relação às pernas.
O comprimento e formato da sela dependem da distância entre os ossos da bacia e o formato
da pélvis, quanto maior for a distância entre os ossos da bacia e redonda a pélvis mais largo
tem de ser a sela, como também o comprimento da sela depende da posição do tronco.
Teixeira e Florindo (2004) comentam que ao sentar-se em uma posição que a coluna está
bastante curva, uma sela estreita e mais confortável e funcional, se estiver sentado numa
posição mais ereta, normalmente uma sela mais larga se torna mais confortável. Se a sela
estiver inclinada para trás o ciclista corre o risco de deixar dormentes algumas partes do corpo
e vai inclinar a pélvis para trás, o que vai resultar numa maior pressão na zona lombar. Se
estiver inclinado para frente o ciclista tenderá a mover-se para frente o que é muito
desconfortável porque a parte mais estreita da sela não oferece apoio suficiente provocando
demasiada pressão nos braços, pulsos e mãos.
A altura da sela é fator importante para se conseguir uma posição confortável, se estiver muito
alto o ciclista corre o risco de esticar em demasia os músculos e se estiver muito baixo a
pressão nos quadríceps pode torna-se demasiado alta.
Observa-se que na figura 5 o usuário senta-se com a região do cóccix (vértebras do final da
coluna)
Constatamos também que ao fazer uma curva o indivíduo torce o seu tronco, e os braços
ficam estendidos dificultando a realização da curva, fato este agravado pela distância entre o
guidom e a sela.
Posicionamento dos membros inferiores
Na atividade analisada, os membros inferiores realizam um esforço muscular mais intensivo.
Nos usuários com medidas acima da média, percebemos que a distância entre a sela e os
pedais não apresenta problema, por ser regulada, sendo possível chegar até 77 cm no ponto
mais baixo do pedal, e também pelas medidas das pernas dos usuários mais altos serem em
torno de 105 centímetros.
Para os usuários que estão abaixo da média amostral, com distância calcanhar-bacia inferior a
altura do quadro, que mede 75 centímetros, é quase impossível de se posicionar sobre a
bicicleta, quando esta estiver parada, tendo o usuário de menor estatura que se posicionar com
uma perna sobre o quadro e a outra no chão, como também, quando em movimento, o usuário
fica impossibilitado de completar o ciclo dos pedais, se estiver sentado na sela, mesmo esta
estando na altura mínima.
A correta posição dos pés sobre os pedais é importante para que se tenha estabilidade
suficiente para se manter o joelho e a cocha na linha de força e não perder potência na
pedalada. A distância transversal entre os pedais é outra variável a ser considerada, quanto
mais afastada estiver esta distância do eixo do corpo, mais desconfortável será a postura,
maior a fadiga do usuário e menor será a potência muscular da pedalada. O pé deve está
suportado pelo eixo do pedal na região dos joanetes. Quanto mais próximo estiver o eixo do
pedal da região do joanete melhor será o aproveitamento da potência muscular e quando mais
próximo do calcanhar menor será a potência, menor será a flexibilidade dos movimentos
musculares dos pés, pernas e coxas com isso mais rápida será a fadiga muscular.
Um outro aspecto observado foi a distância entre os braços da manivela do pedais que é de
XX centímetros, o que favorece que o usuário, na busca de encontrar uma posição
confortável, aproxime muito os pés do eixo de centro, da manivela dos pedais e do cobre
corrente, provocando assim constantes ferimentos e contusões nos tornozelos, pés e parte
inferior das pernas.
Ângulo de Visão
Verificamos que a inadequação dimensional do triângulo pedal-sela-guidom as dimensões
antropométricas dos usuários de menor estatura, favorece a uma postura desconfortável em
virtude deste projeta seu tórax para frente na busca de alcançar o guidom. Assim o usuário
força a cabeça para traz para melhorar seu campo de visão, provocando com esse movimento
Considerações finais
Com a realização da avaliação ergonômica do sistema bicicleta-usuário do modelo Barra
Circular da Monark, pode-se perceber inadequações dimensionais do produto em relação às
medidas antropométricas coletadas, principalmente dos usuários de menor estatura, abaixo da
média amostral. O formato do guidom e sua distância para a sela, estão relacionados a má
postura do tórax do usuário. O formato da sela incomoda o usuário depois de alguns minutos
de uso e necessita de um estudo mais aprofundado. A dimensão do quadro por ser muito alta,
dificulta o acesso à sela. A percepção dos usuários quanto a sensação de conforto, as maiores
reclamações foram relacionadas a dores nas coxas, costas e nádegas.
Referências
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