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Catarina Ferreira da Silva

Teoria Geral da Relação Jurídica

Introdução: a função essencial do negócio jurídico


Facto jurídico – todo o acontecimento que produz efeitos jurídicos. Tais efeitos podem
traduzir-se na constituição, modificação ou extinção de uma relação jurídica. O
acontecimento pode ser natural (facto involuntário) ou por ação humana (facto voluntário).
Este último, por sua vez, pode ser lícito ou ilícito.

Factos jurídico voluntários lícitos:


o Negócio jurídico (Art.217 a 294 CC) – produz os seus efeitos, que são efeitos jurídicos,
porque foram queridos pela vontade. O negócio jurídico é um ato volitivo-final quanto
aos efeitos previstos. Ex: Contrato de compra e venda (Art.879 CC)
NOTA: A função essencial do negócio jurídico é permitir a cada um o autogoverno da
sua esfera jurídica (reflexão do Princípio da Autonomia Privada).
o Atos jurídicos em sentido restrito (Art.295 CC) – produz efeitos independentemente
da vontade, não obstante da possibilidade de existir coincidência entre os efeitos
produzidos e a vontade do agente. Os efeitos de um ato jurídico produzem-se por lei,
em virtude de normas imperativas, sejam os efeitos abrangidos pela vontade ou não.
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Ex: interpelação do devedor pelo credor, devido à mora (Art.804 CC). O momento
decisivo para a constituição em mora não é a interpelação, mas sim a anterior não

efetivação da prestação no tempo devido por causa imputável ao devedor; é por causa
desta situação, e não em virtude do ato da interpelação, que o ordenamento jurídico
prevê os efeitos da mora. Assim, os efeitos da mora não podem ser reconhecidos a
uma vontade, expressa no ato da interpelação pelo credor e dirigida a um fim, uma
vez que já resultam da lei.

Efeitos do negócio jurídico - Ex: Art.878 CC (efeito não imputável diretamente pela
vontade, mas sim indiretamente pois é uma norma supletiva), Art.1682 e 1618 CC
(efeitos que, por lei, são imputáveis indiretamente à vontade nos termos da liberdade
de celebração contratual).

Parte I – Conceito e classificações do negócio jurídico


1. Noção de negócio jurídico. Os elementos e a natureza do negócio jurídico. Os
intervenientes no negócio jurídico. A conformação unilateral de relações jurídicas.
Atos jurídicos compostos por uma ou mais declarações de vontade (1), dirigidas à realização
de certos efeitos práticos, ou a intenção de os alcançar sobre a tutela do Direito (2),
determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos correspondentes à vontade
manifestada pelo ou pelos declarantes. (3)
(1)
Art.217 CC - por vezes declaramos algo que não queremos verdadeiramente e, portanto, o
legislador optou por utilizar uma expressão neutra.
(2)
Efeitos jurídico-práticos no fundo.
(3)
os efeitos produzem-se em face apenas da vontade declarada.
Existem dois pressupostos essenciais para que se possam produzir os efeitos jurídicos
pretendidos pelo negócio jurídico:
o Em termos subjetivos das partes, uma vontade dirigida aos efeitos e manifestada
numa declaração de vontade.
o Em termos objetivos, a garantia da produção dos efeitos jurídicos pela ordem jurídica,
pelo direito objetivo.
Além disto resulta que, para a existência de um negócio jurídico é indispensável uma
declaração de vontade(1) sendo esta última um elemento essencial.
(1)
Conceito: Exteriorização daquilo que, segundo a intenção do declarante, deve acontecer
ou não, ou seja, é emitida com vista à produção de efeitos jurídicos. A declaração negocial é
composta pela:
o Vontade psicológica (elemento interno/subjetivo)
o Declaração de vontade (elemento externo/objetivo)
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Visando o negócio jurídico a produção de efeitos, a vontade orientada nesse sentido implica,
sempre, a consciência de criar uma vinculação jurídica da parte do declarante. Assim, não são
negócios jurídicos:
o Relações de favor ou de obsequiosidade – promessas ou combinações da vida social,
ás quais é ausente o intuito de criar, modificar ou extinguir um vínculo jurídico.
Estamos, assim, perante relações ajurídicas. Para identificar este tipo de relações
temos, por exemplo, a gratuitidade (é apenas um indicio uma vez que temos, por
exemplo, as doações (Art.940/1 CC)). Ex: o convite para um passeio.
o Gentlemen’s agreements ou meros acordos – estamos perante matérias que, à partida
seriam regidas pelo Direito, mas que, no entanto, as partes optaram por exclui-las da
tutela do Direito. Incide sobre matérias que seriam tendencialmente tuteladas pelo
Direito por isso é que não podem ser consideradas relações de favor. Ex: A empresta
a B 5 mil € e fica acordado que a obrigação de restituição do dinheiro não é
judicialmente exigível.
o Declarações de ciência – a pessoa limita-se a constatar determinados factos Art.485(1)
CC. Ex: declaração dos rendimentos, declaração de nascimento na conservatória,
Art.1805/2, 246 CC.
(1)
Nº2 - No entanto, não é obstante a existência de uma obrigação de indemnização.
NOTA: Existem determinados negócios jurídicos onde a declaração de vontade não basta pois
tem de existir também um comportamento material. Ex: Art.947/2 CC (“tradição da coisa” –
entrega do material).
Elementos do negócio jurídico:
o Essenciais – são imprescindíveis para a validade do negócio jurídico:
• Sujeito – é necessário que o sujeito tenha capacidade negocial (de gozo ou de
exercício);
• Declaração de vontade – existência de uma declaração de vontade livre e
esclarecida. A declaração deve corresponder à vontade. Ex: se A pagar, por
uma casa, 100.000€ e apenas declarar que pagou 50.000€.
NOTA: em determinados casos, a declaração tem de ser realizada de uma
forma especifica.
• Conteúdo (objeto em sentido amplo) – aquilo sobre o que ele incide, mas
também os seus efeitos à o objeto deve ser possível, lícito e determinável
(Art.280 CC)
o Naturais – efeitos do negócio jurídico que se produzem por força da lei, mas que
podem ser afastados pelas partes (normas supletivas). Ex: Art.878, 875, 964/1 CC.
NOTA: ao contrário dos elementos essenciais e acidentais, os naturais resultam da
própria lei e não da vontade.
o Acidentais – “clausulas acessórias dos contratos” – trata-se de efeitos que não são
essenciais e que não decorrem por força da lei. Posto isto, são efeitos que as partes
acrescentaram por força da sua própria vontade. Ex: quando as partes definem que o
negócio jurídico só produz efeitos a partir da data X.
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São intervenientes no negócio jurídico as partes que nele acordaram sendo, por isso,
abrangidas pelos seus efeitos. Na verdade, os efeitos de um negócio jurídico produzem-se,
por via de regra, apenas entre as partes, pois são estas que os querem, tendo acordado neles
à Princípio da relatividade dos contratos (Art.406 CC)
No entanto, reside a questão de saber se os efeitos produzidos pelo acordo das partes são
oponíveis, fora do âmbito delas, também a “terceiros”. Esta oponibilidade depende do
conteúdo do negócio, isto é, das características do respetivo direito sobre que incide, bem
como do conhecimento que os terceiros tenham do negócio acordado (Art.406 e seg. CC).
Em regra geral, as relações jurídicas não são conformadas unilateralmente. No entanto, um
sujeito pode conformar relações jurídicas de uma forma unilateral somente quando se trata
do exercício de um direito já constituído (Ex: direito potestativo, ação direta), quando o ato
afeta só o próprio património (Ex: renúncia a um direito), quando não são atingidos direitos
de outrem (ex: ocupação de coisas sem dono) ou quando o ato traz uma vantagem jurídica
para o visado (Ex: perdão Art.1780, 863 e 1318 CC).

2. Breve referência à história do conceito “negócio jurídico”.


Foi a jurisprudência das pandectas que, na Alemanha do século XVIII, na busca de conceitos
gerais, deduziu dos vários tipos negociais existentes o conceito de negócio jurídico.
A doutrina do negócio jurídico encontrou a sua forma clássica no sistema de Savigny que
sublinhou o seu elemento de vontade, usando quase exclusivamente o conceito de
“declaração de vontade”.
A doutrina do negócio jurídico foi desenvolvida pela ciência jurídica alemã que em virtude
disso ganhou reputação mundial. As codificações mais modernas acolheram o conceito e em
várias reformas legislativas em curso ele será introduzido. Neste contexto é de sublinhar a
definição contida no novo CC neerlandês: Chama-se ato jurídico uma vontade dirigida a um
efeito jurídico e manifestada mediante uma declaração.

3. Classificações dos negócios jurídicos


Critério classificativo: número e modo de articulação das declarações integradoras do negócio.
o Unilaterais – há uma só declaração de vontade ou várias declarações, mas paralelas,
formando um só grupo. Se olharmos os autores das declarações, constataremos haver
um só lado, uma só parte. Ex: testamento, renúncia à prescrição, procuração.
Por isso, os negócios unilaterais: a) ou só afetam diretamente uma pessoa, que os
pratica (ex: abandono de um móvel); b) ou afetam outra pessoa, mas atribuindo-lhe
uma faculdade ou uma posição favorável (ex: procuração, testamento, repúdio da
herança); c) ou, se afetam outrem desfavoravelmente, pressupõem um poder especial
conferido por um contrato ou pela lei (ex: revogação, declarações de resolução).
Vigora o princípio da tipicidade ou do numerus clausus (art.457 CC).
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• Receptícios – o negócio jurídico tem um destinatário em concreto. Ex: renúncia


ou extinção de um contrato
• Não receptícios – o negócio jurídico não tem um destinatário concreto. Ex:
promessa pública (Art.459 CC).
o Bilaterais (ou contratos) – há duas ou mais declarações de vontade, de conteúdo
oposto, mas convergente, ajustando-se na sua comum pretensão de produzir
resultado jurídico unitário, embora com um significado para cada parte. Há assim a
oferta ou proposta e a aceitação, que se conciliam num consenso. Ex: contrato de
compra e venda.
Exceção aos negócios bilaterais: Art.424 CC
NOTA: pode até haver mais do que duas declarações, ou melhor, mais do que
dois lados ou partes. É o caso dos negócios plurilaterais (ex: contratos de
sociedade, contrato de cessão).
O contrato, por sua vez, pode ser:
• Unilateral – só resultam obrigações para uma das partes. Ex: contrato mútuo
(Art.1142 CC), doação pura (Art.940 CC)
• Bilateral – resultam obrigações para ambas as partes. Ex: contrato de compra
e venda (Art.879 CC), casamento, contrato de trabalho.
§ Perfeitos ou sinalagmáticos – existe um nexo de correspetividade
(necessidade causal entre as obrigações). Ex: contrato de compra e
venda.
§ Imperfeitos – inicialmente há apenas uma obrigação de uma parte,
podendo surgir, posteriormente e dependente da execução do
contrato, ainda uma obrigação a outra parte. Ex: mandato gratuito
quando este sofra um prejuízo (Art.1158 nº1 1ªalternativa; 1167 c) CC).
Além desta distinção, os contratos também podem ser de execução:
• Imediata (instantânea) – as obrigações esgotam-se num ato de cumprimento
(obrigação instantânea). Ex: contrato de compra e venda.
• Continuada – contêm uma obrigação duradoura (perdura durante todo o
tempo de vigência do contrato). Ex: contrato de arrendamento (por parte do
senhorio: este tem a obrigação de disponibilizar o gozo do imóvel), contrato
de seguro (por parte da seguradora).
• Fracionada – a obrigação é fracionada. Ex: contrato de compra e venda em
prestações (Art.934 e seg. CC).
• Reiterada – a obrigação vai surgindo ao longo do tempo, ou seja, há uma
relação entre o decurso do tempo e o surgimento da obrigação. Ex: contrato
de arrendamento (por parte do arrendatário: este tem a obrigação de pagar
mensalmente a renda); contrato de trabalho (por parte do empregador).
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§ Periódica. Ex: contrato de arrendamento


§ Não periódica. Ex: contratação de um carpinteiro para reparar um
móvel sempre que necessário.

Critério classificativo: segundo atribuições patrimoniais efetuadas.


o Negócios gratuitos – existe um sacrifício patrimonial apenas para uma das partes
contraentes. Ex: doação (Art.963 CC).
o Negócios onerosos – cada uma das partes envolvidas faz uma atribuição patrimonial
à outra como contrapartida ou contraprestação. Ex. contratos sinalagmáticos, compra
e venda (Art.874 CC), mútuo oneroso (Art.1145 CC).
• Aleatórios – ambas as partes (ex: jogo de aposta) ou apenas uma (ex: seguro)
estão sujeitas a uma álea, à possibilidade de se concretizar um risco de ganhar
ou perder. 2 modalidades especificas do contrato de compra e venda (Art.880
nº2 e 881 CC).
• Comutativos – existe uma pré-determinação das “vantagens” para cada uma
das partes. Ex: simples contrato de compra e venda, de arrendamento, de
trabalho.
• Parciários – estes negócios são caracterizados pela participação no risco de
certo empreendimento no que diz respeito aos lucros esperados como
contraprestação a uma entrega realizada para o efeito. Ex: contrato de
parceria pecuária (Art.1121 e seg. CC) (“pensar” – alimentar), contrato
estimatório, associação e participação.
Critério classificativo: momento da vida de produção dos efeitos jurídicos
o “inter vivos” (entre vivos) – produzem efeitos em vida das partes.
o “mortis causa” – produzem efeitos após a morta das partes ou da parte. Ex:
testamento (é livremente revogável), contratos sucessórios (a título excecional devido
à proibição dos pactos sucessórios) Art.1700 CC.
Critério classificativo: forma negocial
o Negócios solenes/formais – exceções ao princípio geral da liberdade de forma (Art.219
CC). Ex: compra e venda de imóveis (Art.875 CC), Art.1069 CC, constituição de
fundações (Art.168 CC), Art.185 CC, contrato mútuo (se for inferior ou igual a 2500€
vale o Princípio da liberdade de forma Art.1143 CC), contrato de doação (Art.947/1
CC), doação de coisas móveis (Art.947/2 CC).
Consequência da inobservância da forma: nulidade do negócio jurídico (Art.220 CC).
o Negócios não solenes/não formais – prevalece o princípio da liberdade de forma
(Art.219 CC).
Critério classificativo: relevância do consenso no negócio jurídico.
o Meramente consensuais – o contrato fica perfeito com o simples acordo das partes,
com o consenso das partes (Princípio do consensualismo Art.406 CC). Ex: contrato de
compra e venda.
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o Reais (“quoad constitutionem” /quanto à constituição) – é preciso, além do acordo,


ainda de um ato material que consiste na entrega da coisa. Ex: contrato de comodato
(Art.1129 CC), mútuo (Art.1142 CC), depósito (Art.1185 CC), doação de bens móveis
(Art.947/2 CC), penhor.

Critério classificativo: eficácia dos contratos.


o Contratos com eficácia real – contratos que levam à constituição ou modificação de
direitos reais. Ex: contrato de compra e venda, de doação, mútuo (Art.1144 CC),
depósito irregular. à Art.408 CC
o Contratos com eficácia (meramente) obrigacional – Ex: contrato de arrendamento,
contrato de trabalho.

Critério classificativo: distinção já não limitada aos próprios negócios jurídicos, mas
envolvendo também os atos jurídicos.
o Negócios de mera administração – correspondem a uma gestão patrimonial limitada,
comedida e prudente, levada a cabo pelo administrador de bens alheios, mas também
pelo titular de bens próprios, atos esses destinados a conservar a substância dos bens
(a regular a sua conservação e promover a sua frutificação normal), o que apenas
permite a prática de atos de alienação que mantenha intacta a raiz dos bens. Ex:
administração dos bens do ausente (Art.94 nº3 e 4 CC), administração dos bens pelo
inabilitado (Art.153 CC), administração ordinária relativamente aos bens comuns do
casal (Art.1678 nº3 CC).
o Negócios de disposição – alteram a substância dos bens ou do património
administrado, afetam o capital administrado e a raiz dos direitos patrimoniais. Ex:
Art.153 CC.

Parte II – Formação do negócio jurídico

1. As modalidades da declaração negocial; os seus elementos.

Elementos da declaração negocial:


o Vontade (¹ motivos – os motivos situam-se antes do negócio jurídico, e não possuem,
em princípio qualquer relevância jurídica)
• Ação - tem a ver com a voluntariedade do comportamento declarativo. Ex:
quando um individuo colocar uma moeda numa maquina de comida (a
voluntariedade do comportamento declarativo reside na ação de colocar a
moeda).
• Declaração - consiste em a pessoa que pratica aquele comportamento, saber
que desse comportamento resulta um vinculo jurídico.
Não há: Art.246, declarações não sérias
• Negocial/formal - está em causa pretender celebrar aquele NJ em concreto.
o Declaração
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• Expressa – é feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio direto de


manifestação da vontade (ex: gestos ou sinais). Uma declaração expressa é,
portanto, uma manifestação direta da vontade. Art.217 nº1 1ªalternativa CC.
• Tácita – deduz-se de factos que, com toda a probabilidade, revelam a vontade
(Art.217 nº1 2ªalternativa CC). Uma declaração tácita é, portanto, uma
manifestação indireta da vontade.
• Silêncio – a lei parte do principio de que não possui valor declarativo nenhum:
o silêncio em termos de declaração negocial por via de regra não vale nada.

Apenas nos casos expressamente previstos (Art.218 CC): Art.923 nº2 CC,
Art.1163 CC.
NOTA: modalidades ¹ forma negocial à Art.217 e 218 CC. Regra: Principio da
liberdade declarativa – em principio, a declaração negocial pode ser emitida por estas
três modalidades, ou seja, a lei não exige uma modalidade em especifico (Art.288 nº3,
302 nº2, 2056 CC.
Exceções (o legislador exige uma declaração expressa): Art.413 nº1, 590 nº2, 595 nº2,
957 nº1 CC.

Quando há uma divergência entre a vontade e a declaração, qual delas deve prevalecer? Em
princípio, prevalece a declaração (o elemento objetivo) por uma questão de segurança e
certeza jurídica. Ex: Art.257, 236 CC.
Exceções: Art.246 CC.

2. A forma da declaração negocial; a sua distinção da publicidade.

Forma da declaração negocial – é o modo/meios utilizados para manifestar a vontade. Vigora


o principio da liberdade de forma (Art.209 CC), salvo exceções (contrato de compra e venda
de imóveis, ato de instituição de fundação, testamento).
Nas exceções, a inobservância da forma exigida por lei conduz à nulidade do negócio jurídico
(art.220 CC).

Formas da declaração negocial:


o Voluntária à Art.222 CC. quando a forma escrita não é exigida por lei, mas o autor da
declaração fá-lo na mesma - o facto de não ser exigido não significa que a proíba.
• Estipulações anteriores ou contemporâneas à Art.222 nº1 CC
Regra: Válidas desde que:
1- Se mostre que correspondem à vontade do declarante. O legislador parte
de alguma desconfiança porque o declarante poderia ter integrado a
estipulação acessória no documento, é quase um meio de prova. O
constrangimento a este requisito surge no Art.394 nº1 CC. Segundo este
artigo quando está em causa provar uma convenção contrária ou adicional
ao conteúdo do documento autêntico ou de documento particular não se
admite a prova testemunhal (por ser uma prova falível e pelo facto de que
não se compreenderia que, através de testemunhas, se pudesse por em
causa aquilo que está estipulado no documento escrito). Contudo, a prova
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testemunhal não é permitida, mas existem outros meios de prova:


confissão, outros documentos, etc.
2- A lei as não sujeite à forma escrita. As: estipulações. Ex: Art.84 CC
• Estipulações posteriores à Art.222 nº2 CC (apenas é exigido o 2º requisito do
Art.222 nº1 CC, não é exigido o 1º porque não há uma suspeição por parte do
legislador.)
o Convencional à Art.223 CC As partes podem convencionaram entre elas adotar por
uma forma mais solene, embora não fosse exigida.
• Estipulações anteriores à Art.223 nº1 CC
• Estipulações contemporânea ou posterior à Art.223 nº2 CC
o Legal - âmbito da formal legal (o que está sujeito à forma legal) à Art.221 CC
(problema das estipulações verbais acessórias à acessórias: não correspondem a
elementos essenciais nem naturais, mas sim a elementos acidentais ex: de juros,
tempo de cumprimento; verbais – estipulação oral). Estas estipulações são válidas ou
não consoante o âmbito da forma legal as abranger ou não.
Análise da validade da estipulação:
• Anterior à Art.221 nº1 CC (1)
• Contemporânea à Art.221 nº1 CC
• Posterior à Art.221 nº2 CC (apenas é exigido o 1º requisito da exceção à regra
do Art.221 nº1 CC, não é exigido o 2º porque não há uma suspeição por parte
do legislador.)
(1)
Regra: Nulas (as estipulações)
Exceção – requisitos:
1- “a razão determinante da forma lhes não seja aplicável” – lhes: às
estipulações. Saber se o âmbito da formal legal exigida abrange
também esta estipulação acessória. Critério para saber se é abrangida
(construção doutrinal)à saber se a estipulação conduz ou não a um
agravamento das obrigações contratuais (se conduzir considera-se que
abrange).
2- “que se prove que compreendem à vontade do autor da declaração”
– autor: parte ou partes.
Prova: Art.394/1 CC – a prova testemunhal é muito falível.
Razões para a lei determinar uma formal legal para a validade da declaração
negocial:
o Macro razão – segurança jurídica.
o Micro razões (segundo o Prof. Hörster)
• Ponderação das partes
• Facilidade da prova
• Clareza quanto ao conteúdo do negócio
• Clareza quanto ao momento da conclusão do negócio
• Controlo (sumário) de legalidade. (aplica-se à escritura pública)
• Assistência profissional competente
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Documentos – Art.362 CC
Documentos escritos – Art.363 CC
o Autênticos – nº2. Documentos exarados pelo notário nos respetivos livros, ou
em instrumentos avulsos, e os certificados, certidões e outros documento
análogos por ele expedidos. Ex: escritura pública, certidões (de nascimento,
de óbito), atestado médico. Regime: Art.369 a 372 CC.
o Particulares – nº2 2ªParte. Ex: folha de papel assinada por A e B. Regime:
Art.373 a 379 CC.
• Autenticados – Art.363 nº3 e 377 CC. Podem ser autenticados quando
forem confirmados pelas partes perante o notário.
• “simples”
§ c/reconhecimento
§ s/reconhecimento
NOTA: assinaturas eletrónicas – Art.26 nº2 DL 7/2004 e Art.3, 7 DL 290-D/99
Forma de declaração negocial ¹ Publicidade
à A forma da declaração negocial refere-se ao momento da celebração do negócio. Quando
a lei exige uma forma que não é respeitada o negócio é nulo como estipulado no Art.220 CC.
à A publicidade surge depois da celebração do NJ. A sua publicidade prende-se com a
necessidade de dar a conhecer ao mundo o negócio. Meios de publicidade:
o Registo (predial para imóveis; automóvel; civil; comercial). A não publicidade já não
acarreta uma nulidade, mas antes uma ineficácia/não produção de efeitos perante
terceiros, mas, em princípio, produz efeitos para as partes. Por norma, o registo é
apenas declarativo e só em algumas situações será constitutivo (Ex: hipoteca Art.687
CC) - só quando o registo é feito é que o negócio produz efeitos para as partes do
negócio;
o Publicações obrigatórias – “portal das publicações” do DR. Ex: ato de instituição de
uma fundação.
NOTA: Às vezes são necessários o registo e a publicação (Ex: sociedade comerciais).

3. A perfeição da declaração negocial


A declaração negocial é perfeita quando se torna eficaz/ está apta a produzir os seus efeitos.
Quando a declaração negocial é exteriorizada diz-se que é emitida, mas a sua eficácia só
ocorre depois da emissão. Apurar o momento da eficácia da declaração negocial é importante
para:
1. Esclarece se uma declaração foi feita oportunamente ou não;
2. Determina a parte que arca com o risco de uma transmissão errada da declaração ao
separar, no decurso temporal, as esferas de poder do declarante e do declaratário
para as declarações recetícias.
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3. Determina o momento a partir do qual o declarante fica vinculado à sua declaração, o


que tem importância para a conclusão do contrato e a correspondente transferência
de direitos reais e do risco da extinção ou deterioração da coisa, ou para a data a partir
da qual correm os prazos para a sua anulação.
Momentos da eficácia/perfeição da DN que têm um destinatário concreto (recetícias):
(Art.224 nº1 1ªParte CC)
1. Exteriorização – quando a declaração é formulada ou manifestada, exprimindo o
declarante a sua vontade.
2. Expedição – quando a declaração, depois de exteriorizada, é expedida pelo declarante
à emissão (Art.226 CC) – momento em que a declaração sai da esfera do poder do
declarante com a vontade deste.
3. Receção – quando a declaração chega ao poder do seu destinatário em termos que
normalmente lhe permitam tomar conhecimento do seu conteúdo (entrada na esfera
do poder do declaratário).
4. Conhecimento – quando o destinatário toma, de facto, conhecimento da declaração
que lhe foi dirigida.

NOTA: tratando-se de declarações recetícias, nem sempre é necessário que os momentos


pré-mencionados aconteçam em alturas diferentes. Embora logicamente separáveis, podem
coincidir no tempo (Ex: uma pessoa entra num “stand” automóvel e diz ao vendedor que
pretende comprar o veículo aí exposto: aqui há uma coincidência de todos os momentos
referidos). Mas também é possível que todas as fases se processem de uma maneira graduada
no tempo (Ex: uma pessoa tenciona adquiri um automóvel; para o efeito, depois de ter
consultado os anúncios nos jornais, escreve uma carta em que formula esta sua vontade –
temos a exteriorização; a seguir põe a carta na caixa do correio – temos a expedição, coincide
com a emissão; no dia seguinte, a carta é metida na caixa de correio do “stand” automóvel –
assim chegou ao poder do destinatário; como nesse dia , em consequência de uma “ponte”,
a correspondência não foi retirada e aberta, mas apenas três dias depois, é nesta altura em
que a carta é lida pelo vendedor – dá-se, por fim, o conhecimento).
Acrescente-se, ainda, que para se dar a chegada ao poder não é conceitualmente necessário
que a declaração negocial chegue ao poder imediato do próprio declaratário, bastando o
depósito no local indicado para o efeito em condições normais ou então a entrega (ou a
comunicação) a uma pessoa autorizada para receber a declaração, ou seja, uma pessoa que
possui a necessária “competência de recebimento”, isto é, o poder de receber.

Resulta do nº3 do Art.224 CC que chegada ao poder significa, na verdade, entrada na esfera
de poder do destinatário em condições que permitem a tomada de conhecimento. Deste
modo, esta alínea constitui um complemento ao nº1 na medida em que clarifica o conceito
da “chegada ao poder”: o nº3 tem por ineficaz uma declaração recebida pelo destinatário em
condições de ele, sem culpa sua, não poder tomar conhecimento dela (ex: uma carta dirigida
a um analfabeto). Nestes termos, por exemplo, normalmente não será eficaz a denúncia de
um contrato, mediante o depósito na caixa de correio, quando o destinatário se encontra em
férias, na altura das férias gerais, de modo que não se pode contar com a sua presença. De
resto, o previsto no nº3 parece aplicável também a declarações verbais que não podem ser
compreendidas (Ex: uma proposta verbal dirigida a um surdo).
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O nº2 do Art.224, por seu lado, no intuito de proteger o declarante, considera eficaz uma
declaração que só por causa do destinatário não foi por ele oportunamente recebida.
Portanto, a declaração é tida como eficaz apesar de não ter chegado ao poder, quando isso
foi culposamente impedido pelo destinatário. Ex: o destinatário recusa-se a receber a carta
do carteiro ou não vai levanta-la.

Não recetícias: (Art.224 nº1 2ªParte CC)


4. Exteriorização
4. Expedição

Podem surgir acontecimentos entre o momento em que o declarante emite a declaração e a


altura em que se dá a sua eficácia.
São acontecimentos deste tipo as situações previstas pelos nº1 e 2 do Art.226 CC:
o Nº1 – considerando que a declaração emitida ficou desta forma objetivada, estabelece
o princípio: “A morte ou incapacidade (de exercício) do declarante, posterior à
emissão da declaração, não prejudica a eficácia (posterior) desta, salvo se o contrário
resultar da própria declaração”. A morte e a incapacidade do declarante não obstam,
portanto, a que uma declaração já emitida ganhe a sua perfeição ainda depois. Na
verdade, a partir da sua existência, que a autonomizou, a declaração percorre o seu
caminho, por si só, em direção à sua eficácia. Apenas quando o seu próprio conteúdo
o prever, a morte ou a incapacidade, podem obstruir o percurso e impedir a sua
perfeição. Então, a declaração caduca e fica ineficaz. (se o destinatário morrer naquele
período intermédio, depois da emissão pelo declarante, a declaração recetícia não se
pode tornar eficaz em virtude do disposto no nº1, 1ªParte, do Art.224 CC).
o Nº2 – Pode acontecer que já depois de emitida a declaração negocial, mas antes da
sua eficácia que o declarante perca o poder de disposição do direito. Ex. Suponha-se
que A, no dia 1, escreve uma proposta de contrato de compra e venda de um carro e
envia a proposta a B no dia 2. Entretanto, A é declarado insolvente (já não pode
vender o carro) e B recebe a proposta no dia 3. Neste caso, a declaração é ineficaz.

Art.225 CC - Aplica-se a declarações negociais recetícias (casos em que o paradeiro seja por
aquele ignorado) ou não recetícias (dirigem-se a uma pessoa desconhecida). Estas
declarações tornam-se eficazes quando o jornal é publicado, ou seja, logo que a vontade se
manifesta de forma adequada.
No caso da promessa pública poderá aplicar-se este artigo.

4. A conclusão do contrato. A proposta contratual e a sua aceitação. Os efeitos da


conclusão do contrato, nomeadamente os seus efeitos reais. A conclusão do contrato
com base em cláusulas contratuais gerais. Breve referência às relações contratuais de
facto. A culpa in contrahendo.
Momento de conclusão do contrato à Art.232 CC a contrario sensu. O contrato é concluído,
mediante uma declaração negocial, a proposta contratual, uma outra declaração negocial e a
aceitação desta proposta.
Catarina Ferreira da Silva

Perfeição de (qualquer) declaração negocial à Art.224 a 226 CC.


Conclusão do contrato à Art.227 a 235 CC.

A proposta contratual e a sua aceitação

A conclusão do contrato faz-se, portanto, mediante uma proposta, formulada pelo


proponente, e a aceitação desta proposta, proveniente do aceitante, que conduzem ao
acordo entre ambos (Art.232 CC).
A primeira declaração a considerar é, por isso, a proposta contratual, formulada pelo
proponente.

Proposta contratual ≠ convite a contratar – o convite a contratar sinaliza apenas o interesse


ou a disponibilidade para entrar em negociações com vista à posterior conclusão de um
contrato, ou seja, o convite a contratar constitui um incentivo para que alguém dirija uma
proposta contratual a quem convida, cabendo depois a este o papel de aceitar a proposta ou
não.
Além disso, o convite a contratar não é uma declaração de vontade, uma vez que falta a
vontade do autor do convite de se vincular juridicamente.
No entanto, esta delimitação nem sempre é tão clara. Por exemplo, o pedido para reservar
um quarto num hotel é por via de regra uma proposta contratual e não um convite a contratar
– ao contrário do pedido para reservar uma mesa num restaurante. Mas as dificuldades
surgem especialmente nos casos em que ambos se dirigem ao público. O Código Civil –
embora prevendo, no Art.230 nº3, a revogação da proposta dirigida ao público – não oferece
quaisquer critérios para qualificar determinado comportamento dirigido ao público como
proposta contratual, deixando tal qualificação aos usos, às regras do tráfico jurídico e às
circunstâncias do caso concreto. Apenas se pode falar de uma proposta contratual se o
público interessado considerar a atitude observada pelo anunciante como verdadeira
proposta contratual (havendo uma vontade firme e precisa), concluindo legitimidade pela
existência de uma vontade de declaração.

Assim, a exposição de mercadoria nas montras, mesmo com a indicação dos preços,
anúncios em jornais, o envio de catálogos, o convite do leiloeiro em praça pública, etc,
são, com toda a regularidade, convites a contratar; o anunciante está à espera de
propostas e reserva para si a inteira liberdade (Art.405 nº1 CC) para não aceitar as
mesmas, por exemplo, por suspeitar da solvabilidade do proponente ou para poder
escolher entre vários interessados.
Por outro lado, o “pôr á disposição” de quaisquer pessoas indeterminadas certas
mercadorias ou serviços para elas fazerem uso imediato da mercadoria ou dos
serviços, é uma proposta contratual. Ex: as vending machines, cabines públicas de
telefone, as bilheteiras mecanizadas, etc.
Catarina Ferreira da Silva

Nestes casos, a proposta é aceite e o contrato concluído, por declaração tácita,


quando o utilizador introduz o dinheiro no respetivo recipiente, obtendo acesso à
mercadoria ou serviço.

Para todos os efeitos, a proposta contratual tem de ser concreta, determinada, clara e
completa.

Princípio da irrevogabilidade da proposta à Art.230 CC: a partir do momento em que a


proposta é eficaz, esta torna-se irrevogável.
Exceções:
1. A própria proposta pode acautelar o contrário (“salvo disposição em contrário”)
permitindo assim a revogação da proposta.
2. Retratação da proposta (Art.230 nº2 CC)
3. É permitida a revogação de propostas ao público em determinadas situações (Art.230
nº3 CC)
Este princípio é completado pelo nº1 do Art.231 CC. Este preceito regula a situação prevista
em termos gerais no nº1 do Art.226 CC e que pode, de acordo com o conteúdo da própria
declaração, levar à caducidade.

Art.231 CC
o Nº1 – é na exceção feita que este artigo é menos exigente do que o Art.226 nº1 CC:
enquanto este, nas situações mencionadas, apenas considera caduca a declaração
negocial emitida ao impedir a sua perfeição posterior quanto esta consequência
resultar da própria declaração, o Art.231 nº1, subtrai à eficácia, posterior à emissão,
todos os casos em que haja fundamento para presumir que outra teria sido a vontade
do proponente, sem limitar o fundamento ou a causa desta presunção ao conteúdo
da própria proposta. Mas em todo o caso, em atenção à vontade do declarante
também o Art.231 nº1, admite como princípio que a proposta, uma vez emitida, ainda
pode ser aceite depois da morte do proponente, dando-se esta feita uma conclusão
do contrato post mortem (hipótese apenas viável ao abrigo do Art.234 CC).
o Nº2 – prevê que a morte ou a incapacidade do destinatário, a quem a proposta se
dirigiu, determina a eficácia da proposta. Esta regra, evidentemente, apenas se aplica
aos casos em que a morte ou a incapacidade do destinatário se verifica antes de uma
eventual aceitação sua se ter tornado eficaz, ou seja, antes da conclusão do contrato.
Esta alínea abrange assim a hipótese de, depois da eficácia da proposta, e
anteriormente à eficácia da sua aceitação, suceder a morte ou incapacidade do
aceitante.

Prazo da proposta - Já vimos que o proponente fica vinculado à sua proposta e num estado
de sujeição relativamente à aceitação de aceitante. No entanto, esta vinculação não vigora
para todo o sempre, há um prazo à Art.228 nº1 CC:
A) se o prazo para a eficácia da aceitação for fixado pelo proponente ou
convencionada pelas partes, a proposta vigora durante o período até o prazo
esgotar.
Catarina Ferreira da Silva

B) em situações em que, não houver prazo, mas o proponente exigir uma resposta
imediata a proposta mantem-se até que, em condições normais, a proposta e a
aceitação chegarem ao destinatário. Assim sendo, as “condições normais”
dependem da distância e dos meios de envio da proposta. Ex: uma carta de alguém
do Porto para outra pessoa do Porto (1 dia para chegar ao aceitante e outro para
a aceitação chegar ao proponente); se for por email há de ser mais curto (por
exemplo- se enviar o email de manhã há de ser razoável que o prazo dure até ao
fim do dia)
C) nos casos em que não se fixe um prazo e não se pede resposta imediata.
Pessoa ausente/presente - não tem a ver com a presença física, mas com a capacidade
de haver resposta imediata (telemóvel, Skype, pessoalmente), enquanto a pessoa
ausente (carta, fax, email com algumas nuances porque se estiver a haver interação).
Assim, esta alínea aplica-se quando não se fixa um prazo nem se peça resposta
imediata, se a proposta for feita a pessoa ausente ou por escrito a pessoa presente.
Neste caso, juntam-se 5 dias ao estipulado na alínea B- “até que, em condições
normais, a proposta e a aceitação cheguem ao destino” + 5 dias. Em situações em que
se sabe o dia de chegada da proposta só temos de calcular o tempo para a aceitação
chegar ao seu destino + 5 dias.
Se a proposta for feita a uma pessoa presente de forma oral/por diálogo a proposta
não tem nenhum prazo deste artigo. Ex: proposta a um cliente numa loja, no limite a
proposta prolongar-se-ia até que o cliente saísse da loja.

O princípio da irrevogabilidade da proposta e os prazos para a aceitação da mesma enquanto


irrevogável, existem para fomentar a segurança do tráfico jurídico e para proteger as
expectativas criadas pelo destinatário. Mas se este não aceitar a proposta atempadamente,
ou seja, dentro do prazo, ela extingue-se e caduca. A caducidade da proposta tem como efeito
que o proponente fica completamente desvinculado e desobrigado da mesma.
Por isso, se em consequência de uma aceitação tardia a proposta tiver caducado, a formação
do contrato depende de nova proposta e de nova aceitação (Art.229 nº2 2ªParte CC).
Apenas no caso de a aceitação ter sido expedida em tempo oportuno, mas não obstante, ter
chegado depois de expirado o prazo de vinculação do Art.228 nº1 CC, o proponente, que já
está desvinculado da sua proposta, pode considerar eficaz a aceitação tardia (Art.229 nº2
1ªParte CC).
Por outro lado, o proponente responde pelos danos causados ao aceitante nos termos do
Art.229 nº2 CC. Isto é, se o proponente não considera a aceitação eficaz, embora podendo
fazê-lo ao abrigo da 1ªParte do nº2 do Art.229 CC, mas também quando não tiver razões para
admitir que ela foi expedida fora de tempo, deve avisar imediatamente o aceitante de que o
contrato, contra a natural expectativa deste, não se conclui, sob pena de responder pelos
prejuízos (Art.229 nº1 CC).
Catarina Ferreira da Silva

A conclusão do contrato prossupõe sempre uma proposta e a sua aceitação, devendo a


aceitação ocorrer e tornar-se eficaz, em princípio, dentro do prazo em que a proposta de
contrato obriga o proponente. Assim, é no momento da eficácia da aceitação que o contrato
acaba por ficar concluído.
Há situações em que as regras do tráfico jurídico negocial não consideram necessário que a
aceitação, embora indispensável para a conclusão do contrato, seja levada ao conhecimento
ou poder do próprio proponente. Tendo em conta essas situações admitidas pelo tráfico
jurídico, o Art.234 CC contém uma regra de exceção, que dispensa declarar a aceitação ao
proponente.

Relativamente à aceitação (declaração negocial recetícia), existem 4 possibilidades:


o Aceitar
o Rejeitar
o Não dizer nada
o Fazer uma contraproposta (Art.233 CC)
Depois de se ter tornado eficaz, a aceitação é – tal como uma proposta – irrevogável pois,
caso contrário, implicaria que o aceitante pudesse, unilateralmente, alterar a conclusão do
contrato (iria contra o Art.406 CC). No entanto, esta pode ser revogada anteriormente, em
conformidade com as regras do Art.235 nº2 CC. Ex: a proposta estava em vigor ate dia 10, é
expedida por correio dia 6. Em condições normais chegaria dia 7 ao poder do proponente e
assim tornar-se-ia eficaz. No entanto, após enviar a aceitação, o aceitante arrepende-se e
manda um fax revogando a aceitação (é recebido dia 6).
Se a aceitação da proposta for feita dentro dos prazos, mas o aceitante, em vez de se limitar
a aceitar a proposta pura e simplesmente, introduz na sua aceitação, não apenas simples
precisões que não chegam a alterar o seu conteúdo, mas modificações, a proposta é tida
como rejeitada (Art.233 1ªParte CC), ficando o proponente, em consequência da rejeição,
desobrigado de todo da sua proposta, que deixou de ser vinculativa. Além disso, se a
modificação introduzida foi suficientemente precisa, equivale a nova proposta
(contraproposta) invertendo-se os papéis dos intervenientes no negócio.
Enquanto as partes não houverem acordado em todas as cláusulas sobre as quais uma delas
julga necessário o acordo, não há consenso entre elas, de modo que o contrato não fica
concluído (Art.232 CC) à Está-se perante uma situação de dissenso. Este, por sua vez, pode
ser manifesto ou oculto/latente. No caso do manifesto, o proponente e o destinatário não
estão de acordo e sabem-no. Já no oculto, as partes não estão de acordo, mas não o sabem.
Ex: relativamente à compra de laranjas no Sul de Itália em quantidades de dúzias, onde uma
dúzia é composta por 13 laranjas e não por 12 como, naturalmente, pensa quem não conhece
os hábitos locais.
Outros modelos de contratos além dos mencionados no Código Civil
- Declarações contratuais conjuntas - não é possível identificar a proposta e a aceitação
porque as declarações negociais fundem-se num documento. Ex: é mais frequente nos
contratos/negócios sujeitos a escritura pública (ex: contrato de compra e venda de bens
Catarina Ferreira da Silva

imóveis Art.874 CC). De facto, quando é celebrado um contrato por escritura pública ou
documento particular autenticado não é possível distinguir propriamente a proposta e a
aceitação, o proponente e o aceitante, daí que sejam “declarações contratuais conjuntas”.
Veja-se, nos grandes contratos, em que numa minuta sujeita a aprovação não existe uma
proposta contratual, uma vez que não é firme e precisa. As minutas que são constantemente
reenviadas num contrato com alguma dimensão económica, e não correspondem a propostas
contratuais, apenas num momento posterior as partes se reúnem num consenso, na
assinatura do documento, através do qual se irá celebrar o contrato, emitindo as designadas
“declarações contratuais conjuntas”, ou seja, guardam para o momento da assinatura a
proposta e a aceitação).
- Cláusulas contratuais gerais/contratos de adesão - nas empresas que estabelecem muitos
contratos, não há propriamente uma elaboração da proposta adequada ao cliente, mas antes
uma massificação de contratos e uma igualização das propostas. Estas cláusulas estão
reguladas no DL 446/85 de 25 de Outubro. A celebração de contratos de adesão através de
Clausulas Contratuais Gerais é também um modelo alternativo ao modelo clássico presente
no CC dos artigos 228 e seg.
NOTA: No fundo, importa saber que existem outros modelos de celebração de contrato não
presentes no CC, ainda que o modelo do CC seja a regra.

Efeitos da conclusão do contrato à Contrato de compra e venda: Art.879 CC:


e) Efeito real (transmissão de direitos reais). A par deste efeito, transfere-se o risco
(Art.796/1 CC). Este efeito, em regra, produz-se no momento da celebração do
contrato prevalecendo o Princípio do consensualismo do Art.408 CC.
b e c) Efeitos obrigacionais – constituição ou transmissão de direitos de crédito.

Responsabilidade pré-contratual/culpa in contrahendo – o início de negociações com vista à


conclusão de um contrato estabelece uma relação jurídica pré-contratual entre as partes
negociadoras, relação essa que dá origem a deveres de lealdade, obrigações de informar,
deveres no sentido de observar um comportamento segundo as regras da boa fé, etc...
Se este comportamento não for observado e na formação de um contrato ocorrerem danos,
pode haver uma obrigação de indemnizar ao abrigo do Art.227 CC por culpa na formação dos
contratos à culpa in contrahendo.
Esta obrigação de indemnizar existe independentemente da formação posterior do contrato
ou não. O Art.227 CC não tem nada a ver com o próprio contrato e o seu cumprimento, uma
vez que visa proteger um bem jurídico diverso. Desta forma, a aplicação deste artigo não tem
como pressuposto a imperfeição do contrato, visto o direito ao cumprimento, derivante do
contrato, ser diferente do direito à indemnização, decorrente da conduta ou do modo de
negociação lesivos. O Art.227 CC visa proteger o próprio processo de formação do contrato
em todas as suas fases (“tanto nos preliminares como na formação”). Deste modo, também
Catarina Ferreira da Silva

a celebração do contrato ou a sua posterior anulação ou declaração de nulidade não afastam


a aplicação do preceito em causa.
Por outro lado, a aplicação do Art.227 CC pressupõe culpa. Desta forma, também se
compreende que a simples rotura das negociações não dê lugar a responsabilidade. Esta
consequência decorre do princípio da liberdade contratual (neste caso liberdade de
conclusão). Contudo, não é lícito a uma das partes romper arbitrariamente as negociações
depois de estas terem alcançado um tal desenvolvimento que a outra parte podia julgar-se
autorizada a confiar na realização do contrato e, assim, a fazer despesas, a abster-se de outros
negócios etc...
Sendo o dever o de proceder de boa-fé, caso isso não aconteça há ilicitude, e portante
responsabilidade civil por factos ilícitos, nos termos dos Art.227 nº1 e 483 CC (havendo
necessidade de preencher os 5 requisitos da RC - facto voluntário, dano, nexo de causalidade,
ilicitude, culpa). Esta responsabilidade civil pré-contratual não se insere na responsabilidade
contratual, mas é antes, segundo Hörster uma responsabilidade extracontratual ou quase-
contratual que resulta do Art.227 CC e prescreve nos termos do Art.489 CC.
Assim, quais são os deveres específicos que resultam da atuação de boa-fé?
- Dever de sigilo – as partes têm a obrigação de não divulgar a terceiros informações
relevantes para o rumo do contrato. Ex: quando é celebrado um contrato de compra e venda
de ações de uma empresa em risco de insolvência e uma das partes informa a comunicação
social de tal situação, com vista a beneficiar com a eventual descida da importância das ações,
estamos perante uma omissão ou incumprimento do dever de sigilo.
- Dever de lealdade – quando as partes estão prestes a celebrar um contrato de compra e
venda de um bem imóvel e uma das partes não comparece no momento de efetiva
celebração do contrato ou, em bom rigor, de mera formalização do contrato, estamos perante
uma omissão ou incumprimento do dever de lealdade – rutura injustificada e arbitrária de
negociações (“não é lícito a uma das partes romper arbitrariamente as negociações depois de
estas terem alcançado um tal desenvolvimento que a outra parte podia julgar-se autorizada
a confiar na realização do contrato e, assim, a fazer despesas, a abster-se de outros negócios,
etc”).
- Dever de informação – quando é celebrado um contrato de compra e venda de um bem
imóvel que se apresenta degradado e em más condições, tendo o vendedor omitido tais
informações, estamos perante a omissão ou o incumprimento do dever de informação, ou
seja, as partes do negócio devem fornecer toda a informação relevante ou requerida pela
outra parte para a celebração daquele negócio.

Âmbito da indemnização na responsabilidade civil pré-contratual - O âmbito da indemnização


da responsabilidade pré-contratual releva para se saber se se tem em conta o:
o Interesse contratual negativo – colocar o lesado na situação em que se encontraria se
as negociações nunca tivessem tido lugar. Neste caso, o lesado não teria suportado os
encargos. Importa atender aos danos emergentes e aos lucros cessantes.
o Interesse contratual positivo – colocar o lesado na situação em que se encontraria se
o contrato tivesse sido celebrado e concluído. Os lucros de que a empresa beneficiaria
mediante a celebração do contrato de compra e venda já representam lucros
cessantes ao abrigo do interesse contratual positivo.
Catarina Ferreira da Silva

Em ambos os casos a indemnização abrange os danos emergentes e os lucros cessantes. Mas


no interesse positivo também se indemniza os benefícios que se obteriam com a celebração
do contrato, enquanto no negativo apenas se indemnizam o que de facto de perdeu.
A maioria da doutrina entende que a RC pré-contratual tem em conta o interesse contratual
negativo, porque de facto o contrato não se celebrou.
Em suma, e no entender do Prof.Hörster, uma vez que o Art.227 CC, visa proteger o próprio
processo de formação do contrato em todas as suas fases (“tanto nos preliminares como na
formação”), este aplicar-se-á, exigindo a obrigação de indemnizar, independentemente da
formação posterior do contrato, pelo que o âmbito da indemnização irá ser maior ou menor
consoante tenha sido ou não celebrado um contrato.

5. A representação na conclusão do contrato. Noção e distinção de figuras semelhantes.


A procuração e os seus efeitos.
Pode ser possível que alguém emita uma declaração negocial em nome de outrem – em
representação da mesma. Além disso, os efeitos jurídicos dos negócios jurídicos realizados
pelo representante produzem-se direta e imediatamente na esfera jurídica do representado.
Representação (Art.258 a 261 CC):
o Voluntária (Art.262 a 269 CC) - Esta representação não obsta que o representado
continue a realizar negócios jurídicos por si mesmo. Ex: procuração.
o Legal – não assenta num ato de vontade, mas sim ou diretamente da lei ou de uma
decisão judicial. Ex: menores (Art.1878, 124 CC), interdito, inabilitação (neste caso é
nomeado um curador que o assiste Art.153 CC).
Esta representação visa proteger os representados – a autonomia privada destes
últimos.
Requisitos para a representação (segundo o Prof. Hörster) Art.258 CC:
- Celebração de um negócio jurídico
- Atuação em nome de outrem (contemplatio domini)
- O representante atua nos limites que lhe competem
A representação, ou a função do representante, apresenta afinidades com outras figuras e
institutos e convém delimitá-los em relação a estes:
à Representante ≠ núncio – o núncio é alguém, encarregado por outrem, que se limita a
transmitir uma declaração negocial já formulada precisamente por este outrem. O
representante, pelo contrário, formula ele próprio a declaração negocial, embora em nome
de quem recebeu instruções para o efeito. O núncio transmite uma declaração alheia; o
representante formula uma declaração própria.
à Representante ≠ mandatário sem poderes de representação (Art.1157 CC) /agir em nome
próprio por conta de outrem - o mandato é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a
praticar um ou mais atos jurídicos por conta da outra. No caso de o mandatário não ter
Catarina Ferreira da Silva

poderes de representação, o mandatário pratica atos jurídicos por conta do mandante, mas
em seu nome, produzindo efeitos jurídicos na sua esfera, mas depois os desloque para a
esfera do mandante (sendo aquele que se torna proprietário, no seguimento de um contrato
de compra e venda – Art.1180 CC). Além disso, o mandatário é obrigado a transferir para o
mandante os direitos adquiridos em execução do mandato (nomeadamente o direito de
propriedade). Por fim, a representação não é um contrato (é um instituto jurídico)
contrariamente ao contrato de mandato.
à Representação ≠ agir sob o nome (e não em nome) de outrem - agir como se fosse outrem,
como por exemplo quando alguém que pernoita num hotel dá um nome falso.
à Representante ≠ agente/mediador (sem poderes de representação)
- O mediador aproxima as partes no contrato, mas não atua em nome das partes ou
parte (não emite declarações negociais).
- O agente normalmente não tem poderes de representação e pratica
fundamentalmente atos materiais (distinguindo-se assim do mandatário). Ex: agente
imobiliário.
à Representante ≠ órgãos inseridos nas pessoas coletivas – os órgãos destinam-se a fazer
agir as pessoas coletivas por atos próprios, ou seja, por meio da chamada representação
orgânica (Art.163 CC).
à Representação ≠ contrato a pessoa a nomear (Art.452 a 456 CC) e do contrato a favor de
terceiro (Art.443 a 451 CC) – a representação é uma categoria especial da conclusão do
negócio (um meio para prestar declarações negociais), enquanto os contratos referidos
constituem categorias especiais dentro das várias modalidades contratuais. Além disso:
- No contrato a pessoa a nomear reserva-se a uma das partes a faculdade de nomear
outra pessoa para ocupar a sua posição no contrato. Os efeitos são transferidos para
a esfera de outra pessoa com eficácia retroativa não se produzindo, assim, os efeitos
de forma direita e imediata na esfera de outrem.
- No contrato a favor de terceiro duas pessoas podem celebrar um contrato que
preveja uma prestação a favor de terceiro. Ex: contrato de seguro de vida.

Art.259 CC – Devemos atender à vontade do representante ou do representado?


Nº1 - É no representante que de devem verificar, para efeitos de nulidade ou
anulabilidade da declaração, a falta ou vício da vontade (ex: coação moral, alguém
encontrar-se em erro...) bem como o conhecimento ou ignorância dos factos que
podem influir nos efeitos do negócio.
Exceção: a regra não se aplica quanto aos elementos em que tenha sido decisiva a
vontade do representado para a conclusão do negócio.
Nº2 – prevalece a má-fé do representado. Este preceito procura evitar que os efeitos
decorrentes da má fé possam vir a ser contornados mediante a nomeação de um
representante de boa fé que celebre o negócio (é como que uma norma anti abuso).
Catarina Ferreira da Silva

Art.260 CC – A parte que trata com o representante tem a possibilidade de conhecer os


poderes exatos a ele conferidos, antes de celebrar quaisquer negócios em que aqueles
poderes poderão faltar.

Art.261 CC – Por razões de transparência e em ordem a evitar conflitos de interesses do


representante, este não pode concluir um “negócio consigo mesmo”. Ex: A quer vender uma
mota e deixa B como representante. B, por querer comprar uma mota, vende a mota de A a
ele mesmo tornando-se assim comprador e representante ao mesmo tempo (celebra um
negócio consigo mesmo) – autocontrato.
Exceções:
- “a não ser que o representado tenha especificadamente consentido” – o
consentimento tem de ser especificado, ou seja, tem de ser para aquele negócio em
concreto.
- “o negócio exclua por sua natureza a possibilidade de um conflito de interesses” –
geralmente estamos perante preços tabelados onde o representante não pode
influenciar o negócio. Ex: um vendedor de bilhetes de cinema comprar, pelo preço
tabelado, um bilhete para ele próprio.

Representação voluntária (Art.262 a 269 CC)

Este tipo de representação pressupõe uma procuração (=representante voluntário).

Art.262 CC – a procuração, como ato de atribuição e não como contrato, é assim um negócio
jurídico unilateral por meio do qual uma pessoa é nomeada procurador. Sendo um negócio
jurídico unilateral é, para a maior parte da doutrina, recetícia e que, portanto, se torna eficaz
quando chega ao poder/conhecimento do destinatário. Há quem diga que o destinatário é o
procurador e há quem ache que é o terceiro do negócio. No entanto, há outra parte da
doutrina, ainda que minoritária, que entende que é um negócio não recetício pelo facto de
poder, tal como no testamento, produzir efeitos antes de chegar ao poder ou conhecimento
do destinatário.
O procurador fica habilitado a utilizar os poderes de representação que lhe foram atribuídos,
mas não fica vinculado a exerce-los (não gerando obrigações na esfera de representante e
não carecendo de aceitação deste).
Nº2 - a lei limita-se a estabelecer uma equivalência entre a forma exigida para a celebração
do negócio que o procurador deva realizar e a celebração do negócio – procuração. Exceção:
Art.116 Código Notariado.

Capacidade do procurador à Art.263 CC – uma vez que os efeitos não se vão produzir na
esfera jurídica do procurador, este não necessita de ter mais do que a capacidade de entender
e querer exigida pela natureza do negócio que tenha de realizar.
Catarina Ferreira da Silva

Art.264 CC
Nº1 - O representado tem de autorizar a substituição (“com a faculdade de se
substabelecer”).
Nº2 - Ambos têm poderes de representação.

Do mesmo que a procuração deve a sua origem a um negócio jurídico unilateral, também a
sua extinção se procede por via unilateral à Art.265 CC
Nº1 e 2 – A procuração extingue-se quando:
- O procurador a ela renuncia
- A procuração é revogada pelo representado
- Cessação da relação jurídica de base – relação entre o representado e
representante. Ex: contrato de mandato, trabalho.
NOTA: Nem sempre tem de haver uma relação jurídica de base. Ex: um
amigo emite uma procuração a outro, Art.265 nº1 última parte CC.
Além destas:
- A procuração está sujeita a um termo final (sendo que posteriormente
a procuração caduca) ou condição resolutiva.
Nº3 - pode acontecer que a procuração possa ser também do interesse do procurador
ou terceiro. Ex: A quer comprar o apartamento de B, A celebra contrato de promessa
com B. Entretanto realiza-se a assembleia de condóminos daquele prédio. A ainda não
é proprietário, mas pode já ter interesse na assembleia de condóminos. Por esta razão,
B emite uma procuração ao A para que em seu nome, A possa estar na assembleia.
Procurações irrevogáveis – a irrevogabilidade é uma consequência (não é porque se
quer).
Do relacionamento autónomo entre a relação jurídica de base e a procuração resulta que esta
é um negócio jurídico abstrato, ou seja, ela não pressupõe necessariamente uma relação
jurídica que lhe serve de base ou abstrai da existência de um negócio de base.
Como a procuração pode existir por si só, uma eventual invalidade da relação jurídica que lhe
serve de base não a afeta, dada a sua autonomia jurídica (Princípio da abstração). Ex: pode a
relação jurídica de base ser inválida ou nula e a procuração ser válida (ou vice-versa Ex: a
procuração não observar a forma legal nos casos em que tal é exigida). Isto não invalida o
facto de elas terem um ponto em comum (Ex: Art.265 CC).
Art.266 CC – Proteção de terceiros.
Nº1 - No entanto, em termos práticos, esta situação não é tão linear uma vez que,
normalmente, são conferidos ao representante poderes muito amplos.
Art.267 CC – Para evitar que o representante possa agir de má-fé.
Art.268 CC – Representação sem poderes.
Nº1 - Ex: B se apresenta perante C como representante de A e em nome deste último
celebra um contrato de arrendamento com C. B agiu em nome de A, mas sem ter
poderes de representação para tal. Posto isto, A não fica vinculado com C – Falha o
último requisito do Art.258 CC. Consequência – ineficácia relativa.
Catarina Ferreira da Silva

Casos em que pode acontecer: nunca ter havido uma procuração; uma procuração
que já tenha caducado ou sido revogada; havia uma procuração, mas esta era inválida
ou nula; os poderes conferidos pela procuração estavam fora dos limites conferidos
(excesso de representação).
Exceto (“se não for por ele ratificado”) – Se o contrato celebrado por B fosse
conveniente a A e então este último conforma-se com o tal negócio.
Ratificação – o negócio jurídico unilateral pelo qual, alguém toma como seu
um negócio que até então não lhe era oponível. Este negócio jurídico seria
recetício com o destinatário a ser C.
o Expressa
o Tácita
Nº2 - Ex: no caso acima mencionado, a ratificação seria por escrito.
Eficácia retroativa – Ex: se o contrato tivesse sido celebrado no dia 1 de Abril e a
ratificação tinha sido realizada no dia 5 de abril. Esta última produz efeitos desde dia
1.
NOTA: a eficácia retroativa não pode por em causa os direitos de terceiros. Ex:
no dia 2 de Abril A tinha celebrado o contrato de arrendamento com o mesmo
imóvel com D.
Nº3 – C pode estabelecer um prazo para a ratificação de A. Caso esse prazo seja
ultrapassado o negócio jurídico entre B e C extingue-se. Daqui percebe-se que C já se
encontra vinculado ao negócio jurídico.
NOTA: não havendo ratificação, B nunca fica vinculado ao negócio.
A pessoa sem poderes de representação age sempre de má-fé?
Ex: a procuração podia ter sido revogada e o representante não o sabia, a
representação era nula e o procurador não sabia.
Neste caso o representante não poderia ser responsável civilmente pois não existe um
dos requisitos: culpa. Caso contrário, seria responsabilidade civil extracontratual
(Art.227 CC).
Art.269 CC – abuso da representação.
Quando a atuação do representante é desconforme aos fins que o representado tinha em
vista embora hajam poderes de representação - O negócio jurídico é ineficaz face ao
representado.
Estará o representado vinculado na mesma caso, mesmo o representante agindo dentro dos
poderes que lhe foram conferidos e em conformidade com o fim, o resultado não seja do seu
“agrado”?
Sim, pois o próprio foi “desleixado” pois deveria ter especificado melhor o fim dos
poderes que conferiu.
Catarina Ferreira da Silva Limites formais
Fim

Abuso de Representação sem


representação poderes Art.268 CC
Representação
Art.269 CC

Parte III – Os negócios jurídicos com eficácia limitada

Em certos condicionalismos os efeitos, muito embora o negócio seja perfeitamente válido,


não se produzem desde logo ou se produzem de forma precária ou não se produzem face a
todas as pessoas (são relativamente ineficazes). Estes condicionalismos podem encontrar a
sua origem na vontade das partes, só na lei ou na lei em conformidade com a vontade das
partes.

1. Negócios jurídicos com efeitos subordinados a condição ou termo. Breve referência


aos encargos ou cláusulas modais.
Com exceção dos negócios incondicionáveis ou inaprazáveis, as partes de um negócio jurídico
podem subordinar o início ou a cessação da produção dos seus efeitos à verificação de uma
condição ou de um termo.
O termo e a condição têm em comum a sua qualidade de acontecimentos futuros, mas eles
distinguem-se quanto à certeza do acontecimento:
- Na condição a sua verificação é incerta. Ex: só produz efeitos se o arrendatário for
colocado em Coimbra.
- No termo a sua verificação é certa. Ex: Datas, morte... – as partes estipulam que o
negócio só produz efeitos a partir do dia 3 de Abril.
Tanto a condição como o termo são exteriores ao negócio (são elementos acidentais –
clausulas acessórias que as partes, ao abrigo da sua vontade, acrescentam ao negócio jurídico).
O negócio pode ser celebrado independentemente da existência destes condicionalismos. No
entanto, estão ligados de forma umbilical ao negócio pois determinam a produção ou
cessação dos efeitos jurídicos (Art.270 e seg. CC).
d) A condição
A condição é, na definição dada pelo nº1 do Art.270 CC, um acontecimento futuro e incerto
ao qual as partes subordinam a produção ou resolução dos efeitos do negócio jurídico:
- Suspensiva: o contrato só começa a produzir efeitos quando/se se verificar o tal
acontecimento futuro e incerto.
Catarina Ferreira da Silva

- Resolutiva: o contrato produz efeitos até à verificação do acontecimento decisivo


futuro e incerto.
NOTA: em ambos os casos o contrato já foi celebrado.
A condição é um elemento com base na vontade das partes (é volitiva), acrescentado ao
negócio. Por ser voluntária, ela distingue-se das “condições legais” que não são condições
verdadeiras, mas exigências da lei como pressupostos para a verificação de determinados
efeitos jurídicos (Ex: Art.687 e 1669 CC). Assim, as “condições legais de eficácia” não são
condições no sentido do Art.270 CC.

A condição refere-se, necessariamente, a acontecimentos futuros. Se o acontecimento for


presente ou passado, em bom rigor, não estamos perante uma condição. No entanto, existem
casos em que não se sabe se o acontecimento futuro e incerto aconteceu ou não.
As cláusulas dirigidas a um negócio jurídico para condicionar a produção dos seus efeitos, que
não se refiram a um acontecimento simultaneamente futuro e incerto chamam-se “condições
impróprias”.
Condições impróprias são ainda as referidas no Art.271 nº2 1ªParte, ou seja, as condições que
são em termos objetivos física ou legalmente impossíveis (Ex: é celebrado um contrato onde
A se compromete a entregar a lua a B). Contudo, se uma condição impossível for resolutiva
ela considera-se como não escrita (inexistente – Art.271 nº2 2ªParte). Neste caso, o negócio
começou a produzir os seus efeitos desde logo e também continua a produzi-los sem a
ameaça de resolução (permanece válido).
Art.271 nº1 CC – são condições próprias, mas ilícitas por serem contrárias à lei ou à ordem
pública ou ofensivas dos bons costumes, aquelas que apesar de serem possíveis de facto não
são admitidas pela ordem jurídica. Mas este juízo sobre a ilicitude nem sempre é fácil: é
necessário apurar se a condição está a estimular a realização do facto ilícito. Caso tal se
verifique, o negócio jurídico é nulo.
NOTA: O caráter ilícito de uma condição não se determina em função da ilicitude do facto
posto como condição, mas em virtude do nexo criado entre o facto e a eficácia condicionada
do negócio. Ou seja, um facto lícito pode assim ser causa de uma condição ilícita, e uma
condição lícita pode ter por base um facto ilícito. Ex: Art.2232 (contexto no testamento): aqui
os factos são lícitos, mas a condição é ilícita uma vez que condiciona a autonomia privada dos
sucessores. à A doutrina tende a alargar este artigo para os negócios jurídicos entre vivos.
Nem todos os negócios jurídicos admitem condições. O caráter incondicionável pode resultar
da própria natureza do negócio que não comporta incertezas quanto à produção dos seus
efeitos ou pode decorrer de disposição expressa da lei. Ex: contrato de casamento (Art.1618
nº2 CC), de adoção, perfilhação (Art.1852 nº1 CC), declaração de compensação (Art.848 nº2
CC), resolução de um contrato com base no incumprimento.
Exemplo relevante – Reserva de propriedade (Art.409 CC)
Catarina Ferreira da Silva

Como sabemos, a transferência de direitos reais (neste caso, o de propriedade) sobre


coisa determinada dá-se por mero efeito do contrato (Princípio do consensualismo).
Ora bem, nos contratos de alienação e lícito ao alienante reservar para si a
propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial (no caso do pagamento a
prestações) das obrigações da outra parte ou até à verificação de qualquer outro
evento (Art.409 nº1 CC). Quer dizer, os efeitos do contrato concluído, isto é, a
transferência da propriedade, dependem ainda de outro facto, nomeadamente o
pagamento do preço, ao tratar-se de uma venda.
A estipulação de uma condição pelas partes conduz desta forma a um estado de
pendência. Não existe ainda um direito pleno na pessoa do adquirente; mas há já um
direito à aquisição plena que podemos designar por “expectativas jurídicas”.

Os negócios condicionais produzem efeitos preliminares (prodrómicos), é necessário que haja


uma proteção das expectativas jurídicas emergentes do próprio negócio.
Art.272 CC – Ex: A vende o seu computador a B, mas o contrato fica dependente de uma
condição suspensiva. O computador ainda é do A e este danifica-o.
Art.273 CC – atos conservatórios.
Art.274 nº1 CC – atos dispositivos.
Art.275 nº1 CC – verificação e não verificação da condição.
Art.276 CC – Verificada a condição, os seus efeitos retrotraem-se à data da conclusão do
negócio, a não ser que, pela vontade das partes ou pela natureza do ato, o momento dos
efeitos seja outro. Desta eventualidade de não retroação, mas também da definição legal do
Art.270 CC, é pouco preciso concluir-se que a retroatividade não constitui parte necessária
ou essencial do conceito de condição. Ex: um contrato é celebrado no dia 15/12 e há uma
condição suspensiva. Se a verificação da condição se der no dia 1/03 os efeitos do contrato
produzem-se a partir de 15/12.
Art.277 CC – casos onde não é permitida a retroatividade dos efeitos. Ex: contrato de locação
(arrendamento).

d) O termo
Termo (Art.278 e 279 CC) – cláusula acessória pela qual dá-se subordinação da produção ou
cessão dos efeitos jurídicos a um acontecimento futuro e certo. Pode ser:
- Inicial: determina o inicio da produção dos efeitos.
- Final: determina a cessação da produção dos efeitos.
- Indeterminado: não se sabe quando é que o acontecimento se verificará. Ex: a morte
de alguém.
- Determinado: não só a verificação é certa como o momento da verificação também
o é. Ex: data.
Catarina Ferreira da Silva

A ideia de resolução do negócio implica ela própria a retroatividade, já no termo não há


retroatividade.
Principais diferenças
Condição Termo
Futuro e certo Futuro e incerto
Regime: em princípio, tem eficácia Regime: tem eficácia ex nunc (prospetiva)
retroativa

Art.279 CC – Cômputo: contagem do termo. Tem natureza supletiva (“em caso de dúvida”).
Encargo/modo/cláusula modal – um encardo impõe uma liberalidade, mas não atinge – ao
contrário da condição ou termo – a produção dos efeitos do negócio que a prevê. Deste modo,
o não cumprimento do encargo não tem, só por si, qualquer influência sobre os efeitos da
liberalidade; para atingir os efeitos, é preciso acionar os meios previstos na lei para a
resolução dos negócios correspondentes. Ex: Art.963 e 966 CC, testamento (Art.2244 CC).
2. Os negócios jurídicos com efeitos dependentes de ratificação. Os negócios do
insolvente e os negócios celebrados sem poderes de vinculação.
Enquanto nos negócios jurídicos cujos efeitos estão subordinados a condição ou termo já
existe uma vinculação jurídica de parte a parte, nos negócios com efeitos dependentes de
ratificação, tal vinculação só se verifica em relação a um lado do negócio.
Quer dizer, celebrou-se um negócio, mas do lado de um dos intervenientes não havia poderes
para estabelecer um vínculo correspondente. Estas situações verificam-se nomeadamente no
caso da inibição do insolvente civil e do falido, no caso da representação sem poderes e no
caso do contrato para pessoa a nomear. Ex: Art.268 CC.
Ratificação – negócio jurídico unilateral, em princípio recetício, pelo qual alguém toma como
seus os efeitos do negócio jurídico que até então lhe eram inoponíveis.
Ratificação ≠ Confirmação
A ratificação refere-se a negócios válidos com eficácia limitada. Já a confirmação
(Art.288 CC) refere-se a negócios inválidos, anuláveis.
Negócios do insolvente
A insolvência corresponde (Art.3 do Código da Insolvência) a uma situação em que o devedor
se encontra impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas (dívidas). Pode ser
declarado insolvente não apenas as empresas enquanto pessoas coletivas, mas também as
pessoas singulares.
O processo de insolvência serve sobretudo para tutelar os interesses do credor e não, como
normalmente se pensa, do insolvente. Para tal, ou se recorre a um plano de recuperação de
empresas ou se passa à liquidação do património do insolvente para restituir aos credores o
património que for possível.
Catarina Ferreira da Silva

A declaração de insolvência compete aos tribunais, há uma sentença de insolvência, o que


significa que ela implica um processo no âmbito do qual se declara ou não a insolvência. Pode
ser o próprio ou os credores a requererem a insolvência e depois de sentenciada é dada
publicidade dela: no registo comercial, registo civil, publicação no Diário da República.
Efeitos da declaração de insolvência - o principal efeito é um efeito sobre o devedor (Art.81
Código Insolvência): a declaração de insolvência priva imediatamente o insolvente (por si ou
por administradores) dos poderes de administração e disposição dos bens integrantes da
massa insolvente. Esses bens passam a ser do administrador da insolvência. A massa
insolvente é um património autónomo que não importa todo o património da pessoa, há
determinados bens que não podem ser penhorados como a roupa, a totalidade do salário da
pessoa, etc. Assim, esta massa insolvente passa a estar à disposição e administração do
administrador da insolvência. Ex: depois de declarada a insolvência o insolvente não pode
vender imóveis ou automóveis que integram a sua massa insolvente.
Embora não o possa fazer, caso o faça o ato é relativamente ineficaz (nº6 do Art.81 CI), ou
seja, é ineficaz relativamente à massa insolvente porque é perfeitamente eficaz para o
comprador que deveria estar informado sobre a insolvência que é pública. É semelhante à
situação da representação sem poderes como que se o insolvente fosse o suposto
representante sem poderes e a massa insolvente o suposto representado. Caso o negócio
acabe por se revelar benéfico para os credores, a venda do imóvel, por exemplo, pode
produzir efeitos segundo a ratificação do negócio por parte do administrador da insolvência.
Assim, também os negócios celebrados pelo insolvente depois de lhe ter sido declarada a
insolvência relativamente a bens integrantes da massa insolvente, são negócios sujeitos a
ratificação.

Os negócios celebrados sem poderes de vinculação


Representação sem poderes – o negócio que uma pessoa sem poderes de representação
celebra em nome de outrem é ineficaz em relação a este (Art.268 nº1 1ªParte CC), mas já não
o é em relação à parte com o qual o falsus procurator contratou. Por isso, existe do lado desta
uma vinculação jurídica suscetível de ser chamada para si pelo “representado” ao ratificar o
negócio (Art.268 nº1 2ªParte, nº2 e 3 CC) e dar-lhe assim plena eficácia. Contudo, enquanto
o negócio não for ratificado, a outra parte tem a faculdade de desfazer a vinculação
estabelecida mediante a revogação ou rejeição do negócio (Art.268 nº4 1ªParte CC) (a não
ser que, no momento da conclusão, conhecesse efetivamente a falta de poderes do
representante – Art.268 nº4 2ªParte CC).
Neste caso, sujeita-se à decisão que o “representado” venha a tomar a respeito da ratificação,
da atribuição de eficácia, do negócio celebrado.
Contrato para pessoa a nomear – uma das partes pode reservar o direito de nomear um
terceiro que adquira os direitos e assuma as obrigações provenientes desse contrato (Art.452
nº1 CC), necessitando a nomeação de ser ratificada (Art.453 e 454 CC) sob pena de não
produzir efeitos em relação ao nomeado (Art.453 nº2, 455 nº2 a contrario sensu). Sendo a
nomeação feita e devidamente ratificada, a pessoa nomeada adquire os direitos e assume as
Catarina Ferreira da Silva

obrigações provenientes do contrato a partir da celebração dele (Art.455 nº1 CC). Se assim
não suceder, o contrato produz os seus efeitos relativamente ao contraente originário
(Art.455 nº2 CC).

3. Os negócios jurídicos com eficácia relativa. Os casos de falta de publicidade e de


inoponibilidade da invalidade.
Nos negócios jurídicos com eficácia relativa há uma vinculação entre as partes com plena
produção dos efeitos, não sendo estes, porém, oponíveis a “terceiros” que não os conhecem
devido à falta de publicidade dos negócios.
Os casos de ineficácia relativa a terceiros são precisamente aqueles em que um negócio devia
ter sido publicitado, respetivamente registado, mas não foi. Ex: Art.168 nº3, 185 nº5, 1711
nº1 CC.
Art.1 CRPr – a finalidade do registo é essencialmente dar publicidade à situação jurídica dos
prédios promovendo a segurança jurídica no tráfego jurídico imobiliário.
Art.2 nº1 CRPr – estão sujeitos a registo, entre outros, os factos jurídicos (Ex: contrato) que
importem a constituição, a aquisição ou a modificação do direito de propriedade ou de um
direito real limitado sobre um prédio. Ou seja, o respetivo direito constitui-se, adquire-se ou
modifica-se por mero efeito do contrato entre as partes (Princípio do consensualismo), e este
é depois levado a registo para aí ser inscrito em ordem a que o facto se torne oponível a
terceiros.
Ex: A vende a B um prédio urbano (moradia) – facto sujeito a registo Art.2 nº1 a) CRPr – no
entanto, B não regista. O contrato de compra e venda produz efeitos (reais e obrigacionais
nos termos do Art.879 CC).
Conclusão preliminar: o proprietário é B (Princípio do consensualismo Art.408 CC).
Art.4 nº1 CRPr: eficácia entre as partes - ausência do registo não implica a ineficácia
do negócio inter partes (natureza declarativa) mas sim a ineficácia erga omnes.
O registo tem, em princípio, natureza meramente declarativa. Há, contudo, exceções
(o registo tem natureza constitutiva): Ex: Art.687 CC – hipoteca.
Posteriormente, C encontra-se interessado na moradia e vai à conservatória do registo predial
e pede a certidão da mesma, certidão essa que declara que a moradia pertence ainda A (facto
que não corresponde à realidade).
O registo para ter algum valor tem de criar uma presunção de fé pública do registo.
Para o efeito, o registo constitui a presunção de que o direito existe e pertence ao
titular inscrito (neste caso a A) (Art.7 CRPr).
C vai ter com A e este último vende-lhe a tal moradia (Art.892 CC – venda de bens alheios.
Viola o princípio nemo plus iuris – ninguém pode transferir direitos de que não seja titular
nem mais fortes dos que é) – o negócio é nulo.
NOTA: a compra e venda de bens alheios não é sempre nula. Ex: A pode vender a B o
computador de C (pois futuramente A vai comprar o computador a B (Art.893 CC)).
Catarina Ferreira da Silva

Este aspeto também é aplicável à doação (Art.956 CC)


NOTA: mesmo quando os bens alheios são vendidos por conta própria, nem sempre o
negócio é nulo pois também é tratado no Direito comercial (aqui é perfeitamente
válido).
C não tinha como conhecer o negócio entre A e B pois não houve registo e, por isso, é normal
que o negócio não lhe seja oponível (Art.5 nº1 CRPr)
Quem é que é terceiro para efeitos de registo? Art.5 nº4 CRPr – é terceiro quem,
dentro do comércio jurídico imobiliário, adquire do mesmo transmitente, ou deduz

dele, um direito total ou parcialmente incompatível com direitos de outrem sobre o


mesmo objeto.
Art.892 CC – é nula a venda de bens alheios, como próprios, sempre que o vendedor
careça de legitimidade para a realizar; mas o vendedor não pode opor a nulidade ao
comprador de boa fé, como não pode opô-la ao vendedor de boa fé o comprador
doloso. Ou seja, A não pode opor a nulidade a C, mas este último e B podem faze-lo –
eficácia relativa do negócio (produz-se como efeito lateral de um negócio nulo por
comando da lei).
NOTA: este artigo é aplicável também a outros contratos onerosos pelos quais se
alienem bens ou se estabeleçam encargos sobre eles (Art.939 CC). Estes artigos, por
sua vez, constituem uma exceção à regra geral do Art.286 CC, segundo o qual a
nulidade pode ser invocada por qualquer interessado.
Se C registar primeiro que B então este primeiro tornar-se-á titular do imóvel (Art.6 CRPr). A
doutrina maioritária defende que o Art.6 CRPr só é aplicável a terceiros de boa-fé.
NOTA: No caso da doação, também é protegido o terceiro de boa-fé que adquiriu o
bem a título gratuito.

Mas B fica “a arder?”


Não. B pode exigir uma indemnização a A nos termos da responsabilidade civil
contratual (a ilicitude incide na violação do dever de “não vender a terceiro o bem já
vendido à contraparte do negócio”).

Pode-se considerar o registo um ónus jurídico?


Não é preciso afirmá-lo. O Art.8 CRPr enumera vários casos em que o registo é
obrigatório.

NOTA: “sujeito ativo” – o adquirente

Parte IV – A interpretação e integração da declaração negocial.


Com a interpretação da declaração negocial tem-se como por objetivo obter o significado
juridicamente relevante da própria declaração. A interpretação serve para captar o sentido,
Catarina Ferreira da Silva

o próprio conteúdo da declaração, mas não para avaliar o conteúdo sob o aspeto da sua
razoabilidade ou da sua conformidade ou não com a lei.
Objeto da interpretação – declaração enquanto elemento subjetivo (objetivação da vontade).
NOTA: a interpretação é sempre um passo prévio.

1. A interpretação da declaração negocial

Art.236 CC:
- nº1: releva o sentido que seria considerado por uma pessoa normalmente diligente, sagaz e
experiente (um bom pai de família) em face daquilo que o concreto destinatário da declaração
conhecia e daquilo até onde ele podia conhecer. à Teoria da impressão do destinatário
“Salvo se este (o declarante) não poder contar razoavelmente com ele (o sentido)” –
ex: é dirigida uma declaração negocial a uma pessoa que vive numa aldeia perdida no
Alentejo. Esta declaração é uma proposta para a compra de uma ferramenta
(“proponho a compra da ferramenta por X”). naquela aldeia, existe um hábito de
chamar ferramenta a um determinado tipo de doce. O destinatário da proposta envia
ao proponente o tal doce. (Estamos perante um caso de dissenso oculto)
- nº2: estabelece que, sempre que o declaratário conheça a vontade real do declarante, é de
acordo com ela que vale a declaração emitida. Ex: 2 traficantes de droga conversam entre si
ao telefone: um diz – “olha não queres comprar ½ Kg de farinha? São 100 mil €”. Aqui, é a
vontade real do declarante que deve ser considerada pois o declaratário conhece essa mesma
vontade (com farinha ambos queriam dizer droga). à Falsa demonstratio non nocet
Exceção a este artigo – Como interpretar as declarações negociais não recetícias (ex:
testamento)? à Art.2187 CC – o relevante para a interpretação é apenas a vontade do
declarante (testador), sendo que a interpretação ou conhecimento do declaratário não é tida
em conta até porque este último é indefinido.
NOTA: o Art.2187 CC é aplicável a todos os casos de declarações negociais não
recetícias.

Se mesmo após aplicarmos o Art.236 CC ainda nos restarem mais sentidos interpretativos
possíveis então é aplicável o Art.237 CC (caso nem este último artigo resolva o problema,
aplica-se o Art.224 nº3 CC).
Art.238 CC:
- nº1 à Teoria da alusão
- nº2: “esse sentido” – o que não tenha um mínimo de correspondência com o texto.

2. A integração da declaração negocial.


Catarina Ferreira da Silva

Art.239 CC – requisitos:
- Ausência de disposição especial
- Apurar a vontade conjetural das partes (consenso hipotético das partes)
NOTA: este ponto não é relevante se puser em causa a boa-fé.

Parte V – A invalidade do negócio jurídico

1. As causas e as modalidades típicas e atípicas da invalidade e suas consequências para


os efeitos do negócio jurídico: enunciado geral.

Os negócios jurídicos têm uma determinada função – concretizar a autonomia privada


permitindo a casa um de nós autorregulamentar os nossos interesses.
Com os negócios jurídicos temos em vista produzir determinados efeitos jurídicos. No entanto,
pode acontecer que um negócio sofra de uma invalidade (tenha uma deficiência genética).
Posto isto, esses negócios não se mostram idóneos a cumprirem a sua função.
Para os negócios jurídicos serem válidos é necessário que estes preencham os pré-requisitos
de validade:
- Sujeito à capacidade negocial (de gozo ou de exercício)
- Vontade à livre (sem coação moral e física, alguém não estar em erro) e
esclarecida. Além disso, deve haver uma coincidência entre a declaração de
vontade e a vontade (psicológica) + observância da forma legalmente exigida,
caso exista.
- Objeto à aquilo sobre que incide o negócio e os seus efeitos. Deve ser lícito, possível
e determinável.
Quando um destes pré-requisitos não esteja preenchido, o n.j é inválido.
Há uma ligação entre a invalidade e a eficácia do negócio jurídico. No entanto, estes conceitos
não se podem confundir pois existem casos em que esta ligação é inexistente:
A invalidade tem que ver com uma dimensão intrínseca do negócio (no interior) ao
passo que a eficácia constitui uma dimensão extrínseca. Além disso, o momento
relevante para aferir a validade da declaração é o momento da sua emissão. Já
relativamente à eficácia o momento é na perfeição da declaração.

Num sentido muito amplo, podemos englobar a invalidade na ineficácia em sentido amplo,
justamente por causa da suscetibilidade que a invalidade tem para afetar a eficácia da
declaração.
Invalidade (Art.285 e seg. CC):
- Nulidade
- Anulabilidade
Catarina Ferreira da Silva

- Inexistência (Art.245, 246, 1628 e 1630 CC) à Art.1630 CC: a inexistência pode ser invocada
por qualquer pessoa; os negócios inexistentes não produzem quaisquer efeitos
(contrariamente à nulidade pois nesta os efeitos produzem-se, mas não os pretendidos pelas
partes – efeitos laterais). Este é um caso de invalidade mais radical uma vez que declara que
o negócio nem chega a existir.
Consequência da invalidade (Art.285 e seg. CC) – Regime geral:

Nulidade vs Anulabilidade

Nulidade (Art.286 CC) – “invocar” Anulabilidade (Art.287 e 288 CC) – “arguir”


- Efeitos laterais (chega a produzir efeitos, mas - Efeitos pretendidos pelas partes a título
não os pretendidos pela(s) parte(s) – não os provisório/precário
efeitos “volitivo-finais”)
- Exemplos: Art.875 e 220, 240 nº2, 280, 892 CC - Exemplos: Art.125, 247, 255 e 256, 257, 877 CC
- Prazo: inexistente (“a todo o tempo”) - Prazo: 1 ano subsequente à cessação do vício (no
momento do conhecimento, quando a pessoa já não se
encontra em erro, quando já não está em coação...)
NOTA: Art.287 nº2 – enquanto o negócio ainda não for
cumprido, não há um prazo fixo para arguir a
anulabilidade. Ex: compra e venda a prestações
- Legitimidade: toda aquela pessoa que seja - Legitimidade: pessoas em cujo interesse a lei
titular de um direito subjetivo cuja consistência estabelece a anulabilidade. Ex: menores
jurídica ou prática possa ser posta em causa pelo (representados, posteriormente, pelos seus pais),
negócio (“qualquer interessado”) coagido...
- Interesses (tendencialmente) protegidos: para - Confirmação: é possível. Aquele que pode arguir a
além dos interesses particulares, também estão anulabilidade tem, também, legitimidade para
em causa interesses públicos (Ex: ofensivo à confirmar (tem como efeito a sanação da
ordem pública e aos bons costumes). anulabilidade) Art.288 CC
- Exercício do direito de anulação: exercício judicial
(pressupõe uma “ação de anulação”)

Art.289 CC – efeitos da declaração de nulidade e de anulação:


- Eficácia retroativa: da nulidade (neste caso, a retroatividade apenas se aplica aos efeitos
laterais) e da anulabilidade.
- Restituição: tudo o que houver sido prestado na execução do negócio tem de ser restituído.
NOTA: estes efeitos também abrangem terceiros.

Art.291 CC – exceção ao regime regra do Art.289 CC (caso estivermos numa situação violadora
do Princípio nemo plus iuris. Requisitos:
1. Bens imóveis ou móveis sujeitos a registo.
NOTA: Caso estivéssemos perante um bem móvel não sujeito a registo, é a
aplicável os termos da usucapião.
Catarina Ferreira da Silva

2. Aquisição, pelo terceiro, a título oneroso.


NOTA: Apenas é preciso que o negócio aquisitivo pelo terceiro seja oneroso
3. Terceiro de boa fé. Sentidos deste conceito:
- Padrão de conduta (ex: 227 CC): como é que se comportam as pessoas de
bem? à Sentido objetivo
- Estado psicológico (ex: 291 CC): conhecimento ou não conhecimento da
situação em concreto. à Sentido subjetivo.
Boa fé subjetiva ética – é necessário não haver culpa. É o sentido
aplicável neste caso!
4. Existência de um registo, por parte de terceiro, anterior ao registo de ação de nulidade
ou anulabilidade.
5. Art.291 nº2 CC: A ação de nulidade ou anulabilidade não tenha sido proposta nos 3
anos posteriores à conclusão do negócio de origem (“período de defeso”).

Caso estes requisitos se vejam preenchidos, o terceiro é protegido.

2. As causas de nulidade

c) Negócios celebrados sem capacidade de gozo.

Capacidade jurídica – Art.67 CC

Capacidade de agir
- Negocial
- De gozo: capacidade de participar no tráfego jurídico negocial
eminentemente pessoal (insuprível – os atos não podem ser exercidos por
outros). Ex: perfilhação (Art.1858 nº1 CC), casamento (Art.1601 CC),
testamento (Art.2189 CC).
- De exercício: capacidade de participar no tráfego jurídico negocial geral
(suprível).
- Delitual

Casamento (Art.1601 CC) – impedimentos dirimentes absolutos.


Causas de anulabilidade do casamento – Art.1631 a) CC
Proteção do instituto
Perfilhação (Art.1850 nº1 CC) jurídico familiar
Causas de anulabilidade da perfilhação – Art.1861 CC
Testamento (Art.2189 CC)
Causas de nulidade do testamento – Art.2190 CC

Pessoas coletivas – têm a sua capacidade negocial limitada (Princípio da especialidade do fim)
à Art.160 nº1 e 294 CC
Indisponibilidades relativas – nulidade
Proibições de contratar – nulidade Ex: Art.579, 876 CC
Catarina Ferreira da Silva

c) Negócios celebrados contra a lei.

Consequência à nulidade

Art.294 CC – Regime geral


- Os negócios jurídicos só são anuláveis nos casos em que o legislador assim o declarar.
- “salvo nos casos...”. Ex: Art.1306 nº1 última parte CC – a consequência não é a
nulidade, mas sim o facto de a restrição apenas ter caráter obrigacional (eficácia inter
parte).
- Negócios sucedâneos/em fraude à lei: negócios jurídicos com que os interessados
defraudam uma norma imperativa. Desta maneira, um negócio tanto pode ser nulo
por ser diretamente contrário à lei como pode ser nulo fraude à lei. Se a norma
proibitiva em causa pretende vedar não só o negócio que especificamente visou, mas
também quaisquer outros que conduzam ao mesmo resultado ou a um resultado
equivalente, a proibição vale também para eles.

c) Negócios com objeto ou fim desaprovado a ordem jurídica.

Art.280 CC à Objeto: aquilo sobre que incide a relação jurídica. Requisitos:


NOTA: todos estes requisitos têm de ser verificados no momento da celebração
do negócio jurídico.
Nº1:
- Fisicamente possível: é realizável nos domínios da natureza e da
física. Ex: vender a lua.
- Legalmente possível. Ex: venda de bens que integram domínio
público (praia, monumentos...).
- Conforme a lei. Ex: compra e venda de cocaína e de armas
- Determinável. Ex: A vende a B “algo”.
Nº2 (conceitos indetermináveis):
- Conforme os bons costumes: sentimento ético dominante na
sociedade. Ex: prostituição, contrato de suborno
- Conforme à ordem pública: relaciona-se com os Princípios jurídicos
fundamentais. Ex: contrato em que alguém se compromete a
atirar-se de uma ponte.
Art.281 CC à Fim

c) Negócios celebrados sem a observância da forma legal.

Princípio da liberdade de forma (Art.219 CC). No entanto, em determinadas hipóteses, o


legislador exige uma forma especifica para o negócio jurídico (Ex: Art.875, 185 CC...).
Consequência da inobservância da forma quando esta é legalmente exigida à nulidade
Catarina Ferreira da Silva

c) Negócios celebrados com falta de vontade: enunciado geral


Falta de vontade ≠ Vícios da vontade – Nesta última a vontade é bem manifestada. O
problema está a montante: a vontade real viciada do declarante é diferente da vontade
hipotética não viciada.

Declarante:
- Vontade psicológica (“vontade real”) Na falta de vontade, há uma divergência
- Declaração da vontade (“vontade declarada”) entre estes dois elementos

Casos de divergência entre a vontade e a declaração (falta de vontade) Art.240 a 247 CC:
- Simulação (Art.240 a 243 CC)
- Reserva mental (Art.244 CC) A divergência é intencional
- Declarações não sérias (Art.245 CC)
- Falta de consciência da declaração (Art.246 CC)
- Coação física (Art.246 CC)
- Erro na declaração (Art.247 a 250 CC)

Tendencialmente, estes casos levam à nulidade, salvo nos casos de erro na declaração.

Simulação
Requisitos cumulativos (Art.240 nº1 CC):
1. Existência de um acordo entre o declarante e o declaratário (“acordo/paco
simulatório”);
NOTA: é possível a existência de simulação nos casos da declaração negocial não
recetícia (Ex: testamento Art.2200 CC).
2. Divergência intencional entre a vontade e a declaração;
3. Intuito de enganar terceiros (enganar ≠ prejudicar)
- Simulação inocente: estão verificados os requisitos, mas no 3º quer-se apenas
enganar.
- Simulação fraudulenta: para além de se querer enganar, também se quer
prejudicar (relevante nos casos do Art.242 nº2 CC). Ex: A, divorciado, que
detesta os seus filhos B, C e D, simula a venda de um prédio rustico de que é
proprietário a E, quando na realidade doa esse prédio por forma a prejudicar
a legitima dos seus filhos (Art.2157 CC)
Consequência da simulação à nulidade (Art.240 nº2 CC)
Exceções (anulabilidade): Casamento simulado (Art.1635 d) CC) e testamento
(Art.2200 CC)
Catarina Ferreira da Silva

Simulação:
- Absoluta (Art.240 nº1 CC): só existe o negócio simulado, as partes não têm intenção de
celebrar, verdadeiramente, um negócio. Ex: A declara vender a B, e este declara comprar a
A, quando na realidade nenhum deles pretende a transmissão da propriedade, a entrega da
coisa vendida ou o pagamento do preço, apenas visando enganar terceiros, nomeadamente
os credores de A; casamento simulado. À partida é nulo
- Relativa (Art.241 nº1 CC): para além do negócio simulado, temos um outro negócio que as
partes queriam, efetivamente, celebrar (“negócio dissimulado”).
- Subjetiva: simulam-se os sujeitos
- Interposição fictícia de sujeito: acrescenta-se um sujeito que não constitui
verdadeiramente parte no negócio. Ex: quando há ilegitimidades ou
indisponibilidades que se pretendem contornar: aquele que deseja vender ou
doar a um terceiro, a fim de este ulteriormente passar os bens para o efetivo
comprador ou donatário.
≠ Mandato s/representação: no mandato, quer-se que o negócio seja
realmente celebrado com o mandatário, isto é, com a pessoa
interposta para todos os efeitos jurídicos. Por conseguinte, ao passo
que na interposição fictícia, a pessoa interposta é um sujeito simulado,
o interposto é, no mandato s/representação, parte verdadeira do
negócio.
Interposição fictícia do sujeito
A (parte) à pretende negócio (ocultado) com à C (parte)
(negócio dissimulado)
simula negócio com à B à simula negócio com
(negócio simulado)
Deste modo, na realidade, o negócio acaba por ficar concluído entre A
e C. B é apenas parte simulada.
Mandato s/representação
A (parte) à negocia com à B (parte) à transfere para C

Acordo/vinculação
Interna
Deste modo, o negócio fica concluído entre A e B, estando este obrigado a
transferir em seguida o resultado do negócio para C.
- Supressão do sujeito real: suprime-se um sujeito que constitui
verdadeiramente parte no negócio.
- Objetiva: simula-se o objeto
- Sobre a natureza do negócio. Ex: em vez de uma doação proibida, finge-se
uma venda.
Catarina Ferreira da Silva

- Sobre o valor do negócio. Normalmente, tem a ver com o preço (declarar um


valor inferior ao valor real).
Art.241 CC
- Nº1: a validade ou invalidade do negócio dissimulado decide-se em termos
perfeitamente autónomos e independentes do negócio simulado, e como tal
sempre nulo, visto estarem em causa duas realidades negociais diferentes.
- Nº2: se a lei exigir uma determinada forma para o negócio dissimulado, este
só é válido se a respeitar. No que diz respeito ao cumprimento da forma legal,
são pensáveis as seguintes hipóteses:
1. a forma exigida na lei foi observada apenas para o negócio
simulado à o negócio dissimulado é nulo (além da nulidade do negócio
simulado)
2. a forma legal apenas foi observada em relação ao negócio
dissimulado à o negócio dissimulado é válido (além da nulidade do
negócio simulado).
3. a forma observada na conclusão do negócio simulado corresponde
tanto à forma legal do negócio simulado como à do negócio
dissimulado à sempre que o negócio simulado e o negócio
dissimulado estejam sujeitos a forma solene, tendo essa forma sio
observada apenas para o negócio simulado, o negócio dissimulado será
nulo por vício de forma. Ou seja, a forma do negócio simulado não
aproveita ao negócio dissimulado.
Ex: A finge vender a B (contrato de compra e venda - negócio simulado
Art. 875 CC), mas na verdade as partes combinaram uma doação
(doação – negócio dissimulado). Temos de apreciar este último negócio
de forma autónoma: se a doação for de um imóvel, esta tem de ser
realizada por escritura pública ou documento particular autenticado
(Art.947 nº1 CC). Muito embora a forma solene exigida seja comum a
ambos os tipos de contratos, a observância da mesma no negócio
simulado (contrato de compra e venda) não é aproveitável ao negócio
dissimulado (contrato de doação) à a doação é nula.
Esta última hipótese diz respeito à simulação sobre a natureza do
negócio. Relativamente à simulação sobre o valor do negócio, o
negócio dissimulado é válido muito embora o preço real não conste de
documento (escritura pública ou não), pois o elemento essencial da
compra e venda é a existência de um preço, e não o quantitativo do
preço (Art.883 CC).
Art.242 CC – legitimidade para arguir a simulação:
- Nº1:
- Todo e qualquer interessado (todos aqueles que sejam titulares de um direito
subjetivo cuja consistência jurídica ou prática possa ser posta em causa pelo
negócio nulo). Ex: 605 nº1 CC (os credores)
Catarina Ferreira da Silva

- Os próprios simuladores (as partes): Não são admitidas provas testemunhais


(Art.394 nº2 e nº3 CC).
- Nº2 (Requisitos):
- Herdeiros legitimários (Art.2157 CC).
- Atuarem em vida do autor da sucessão.
- A simulação tenha como intuito prejudicar os herdeiros legitimários (não
basta o intuito de enganar).
No caso de a simulação ser relativa, após atacar negócio simulado, é necessário atacar
também o negócio dissimulado.
Art.243 CC (só protege o terceiro quando quem vai arguir a simulação é o simulador. Caso
seja outro interessado a arguir este artigo não é aplicável, mas sim o Art.291):
- Nº1: para o terceiro de boa-fé, tudo se passa como se não houvesse simulação.
- Nº2: conceito de terceiro de boa-fé.
- Nº3: conceito de terceiro de má-fé.

Reserva mental (Art.244 CC)

Requisitos (cumulativos):
- Declaração recetícia cujo conteúdo é contrário à vontade real do declarante.
- Intuito do declarante de enganar o declaratário.
- Inocente: não há intenção de prejudicar o declaratário. Ex: Por motivos morais ou de
caridade.
- Fraudulenta: há intenção de prejudicar.
A lei distingue duas modalidades:
- Reserva mental desconhecida do declaratário: a reserva mental não afeta a validade da
declaração negocial, feita pelo declarante, que produz os seus efeitos normais como se não
tivesse havido a reserva (Art.244 nº2 1ªParte CC). Isto vale tanto nos casos de reserva mental
inocente como nos da fraudulenta. A reserva mental é, portanto, irrelevante.
- Reserva mental conhecida do declaratário: a declaração negocial é nula (Art.240 nº2 CC) e o
declarante não fica vinculado à sua declaração, embora não possa opor a sua reserva mental
a terceiros de boa fé (Art.243 CC)
≠ Simulação: na reserva não houve um acordo simulatório nem o intuito de enganar
terceiros, mas sim de enganar o próprio declaratário.

Declarações não sérias (Art.245 CC)


Art.245 CC:
- Nº1: a declaração é nula e até inexistente.
Falta de consciência da declaração e coação física (Art.246 CC)
Estamos perante dois casos de divergência não intencional entre a vontade e a declaração.
Catarina Ferreira da Silva

Art.246 CC (Hipóteses) – a declaração não produz qualquer efeito, apesar da chegada ao


poder ou da tomada de conhecimento, se o declarante:
- Não tiver a consciência de fazer uma declaração negocial (não há consciência de se vincular
juridicamente). Ex: alguém levantar o braço num leilão para saudar um amigo à Falta de
consciência da declaração
OU
- For coagido pela força física a emiti-la (ausência de vontade de ação)à coação física.
NOTA: já na coação moral há vontade de ação.

3. As causas de anulabilidade
Não são, em princípio, ambas as partes que podem arguir a anulabilidade, mas sim a parte
cujos interesses são protegidos pela lei. Ex: num negócio com um menor, a contraparte não
pode arguir a anulabilidade do negócio, mas sim, por exemplo, o menor pois são destes os
direitos que a lei pretende proteger.
a) Os negócios celebrados sem capacidade (negocial) de exercício
Capacidade negocial – suscetibilidade de adquirir e exercer direitos, de assumir e cumprir
obrigações por ato próprio e exclusivo. Exceções: incapacitados, interditos e inabilitados;
- De exercício: capacidade de participar no tráfego jurídico geral (suprível – os atos
podem ser exercidos por outros).
Incapacidade de exercício - O legislador pretende proteger o incapacitado uma vez que, a seu
ver, não tem o discernimento para exercer a sua autonomia privada:
- Por menoridade (Art.122 a 129 CC)
- Incapacidade automática e, portanto, não pressupõe um processo judicial.
- Incapacidade de exercício genérica
- Por interdição (Art.138 a 151 CC)
- Coloca determinadas pessoas, maiores, numa posição equiparável à dos menores.
Ex: anomalia psíquica, cegueira, surdez...
- Pressupõe um processo judicial, desde logo para que haja um contraditório.
- Capacidade de exercício genérica
- Por inabilitação (Art.152 a 156 CC)
- Pressupõe um processo judicial
- Medida bastante menos gravosa que a interdição pois é uma incapacidade não
genérica (só é aplicável em determinados casos e categorias).

Suprimento da incapacidade:
- Representação legal: há alguém que, em nome do incapaz e no seu interesse, emite
declarações negociais. Tem lugar quer para a menoridade quer na interdição.
- Menoridade: Responsabilidade parentais (em princípio, cabe a ambos os pais
Art.1901 CC). No caso de morte dos pais: Tutor (subsidiariamente) – é o
Tribunal que nomeia.
Existem limites da atuação da representação legal – Art.1889 CC
Catarina Ferreira da Silva

- Assistência: há alguém (curador) que, em conjunto com o incapaz, assiste-o


autorizando ou não a celebração de determinados negócios jurídicos pelo incapaz.
Existem limites da atuação da assistência – Art.1937 e 1938 CC

Menoridade (Art.122 a 129 CC)

- Todo aquele que ainda não tenha completado 18 anos


- Art.124 CC: Suprimento da incapacidade dos menores
- Art.129 CC: Emancipação – a única causa de emancipação é o casamento de um menor
(Art.132 e 133 CC).
NOTA: menores, para este efeito, contam os com idade superior a 16 (pois só com esta
idade é que o menor pode contrair o casamento).
Emancipação irregular – quando o menor de 16 ou 17 anos casa sem autorização dos
pais o casamento é válido, no entanto este não se torna emancipado (continua a ser
considerado incapaz) (Art.1649 CC).
- Art.127 CC: Exceções às incapacidades dos menores
- Nº1:

a) “trabalho” – fruto do seu trabalho, não é necessário que haja um contrato


de trabalho. Ex: o menor faz um barco de madeira e vende-o.
“Maior de dezasseis anos” – 16 ou 17 anos
b) - Negócios jurídicos próprios da vida corrente. Ex: comprar o bilhete de
autocarro, o lanche...
- Estar ao alcance da sua capacidade natural: capacidade de entender e
querer do menor.
NOTA: depende da idade do menor em causa.
- Impliquem despesas, ou disposições de bens, de pequena importância
(Prof. Carvalho Fernandes – conceito objetivo; Prof. Horster – conceito
subjetivo).
- Nº2: não respondem os demais bens do menor dos quais este não possa dispor
livremente. Ou seja, existe uma parte do património do menor que responde por
dividas deste próprio.

Nos casos em que não se apliquem as exceções do Art.127 CC e que a incapacidade do menor
não seja suprida, a consequência é a anulabilidade – Art.125 CC:
- Nº1 (Requerimento – direito potestativo extintivo de ação judicial):
a) Refere-se à representação legal.
Art.131 CC - Alguém que sofra de uma anomalia psíquica muito grave
e os pais, mesmo após o menor atingir a maioridade, procedam a uma
ação de interdição ou inabilitação.
b) O menor pode exercer o direito de anulação sobre o seu próprio negócio
jurídico no prazo de 1 ano a partir do momento que atinge a maioridade ou é
emancipado. A aplicação deste preceito pressupõe que ainda não tenha havido
confirmação nem decurso do prazo para invocar a anulabilidade, de modo que
Catarina Ferreira da Silva

o negócio continua anulável, produzindo os seus efeitos a título provisório.


Possíveis atitudes dos pais:
- Deixar decorrer o prazo sem tomar nenhuma iniciativa. Agora, o seu
direito potestativo caducou, extinguindo-se. O negócio anulável já não
pode ser atacado, de modo que os seus efeitos provisórios se
consolidaram.
- Exercer o poder de anulação.
- Confirmar o negócio (expressa ou tacitamente).
c) Pressupõe, antes de tudo, um negócio que ainda continua anulável por não
se terem esgotado as hipóteses da sua anulação, decorrentes das alíneas a) ou
b) do nº1 do Art.125 CC, designadamente da alínea b). Dentro deste
condicionalismo o herdeiro tem para efeitos de anulação um prazo de um ano
a partir da morte do menor.
- Nº2: Existem atos para os quais os pais carecem de autorização do Tribunal.

- Art.126 CC: dolo do menor. Ex: utilizar um BI de alguém maior de idade para ir comprar
bebidas alcoólicas. Neste caso, o legislador pretende proteger a contraparte do negócio.
Quem pode exercer o direito de anulação neste caso?
Os pais (Prof. Horster e Prof. Fábio Russo).

Interdição (Art.138 a 151 CC)

Interditos – pessoas que não conseguem gerir a sua autonomia privada. Tem de se tratar de
um fenómeno duradouro e que assuma um determinado grau de gravidade. Ex: uma pessoa
que não consegue tratar da sua higiene.

Inabilitados (Art.152 a 156 CC)

Inabilitados:
- Indivíduos cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, embora de caráter
permanente, não seja de tal modo grave que justifique a sua interdição.
- Aqueles que, pela sua habitual (caracteriza uma atitude continuada e uma propensão nítida,
próprios de um estado ou de uma maneira de ser da pessoa) prodigalidade (comportamento,
originado por um defeito da vontade ou do caráter, que se define por gastos desapropriados
em relação à situação patrimonial do inabilitado, sendo os gastos improdutíveis e
injustificáveis) OU pelo abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem
incapazes de reger convenientemente o seu património.

b) Negócios celebrados contra a lei ou sem os necessários consentimentos

Nos casos em que a própria lei assim o estabelece, os negócios jurídicos celebrados contra a
lei podem ser anuláveis. Ex: regime de bens classificados (leis de base do património cultural
– Art.38 nº2 Lei nº107/2001 – não foi cumprido o dever de comunicação) – Efeitos: estabelece
uma determinada proteção do bem.
Catarina Ferreira da Silva

Sem os necessários consentimentos – Negócio consigo mesmo (“consentir


especificadamente”), venda de filhos ou netos (Art.877 CC), Art.1682-A (ilegitimidades
conjugais - independentemente da convenção nupcial), representantes legais (Art.1892 CC).

c) Negócios usurários

Uma das partes é mais fraca e reclama uma determina tutela jurídica (Regime geral: Art.282
a 284 CC. Exceções: Art.1146 nº1 CC).

Requisitos para classificação de um negócio usurário:


- Exploração (aproveitar-se conscientemente)
- O lesado encontrar-se numa situação de inferioridade:
- Situação de necessidade. Ex: estado de emergência que alguém se encontra por
motivos económicos, saúde, entre outros;
- Inexperiência (juventude, pessoas idosas, Prof. Horster: mentalidade não adaptadas.
Ex: um estrangeiro
- Ligeireza
- Dependência. Ex: trabalhador face o empregador
- Estado mental (mentalmente alterado)
- Fraqueza de caráter
- Benefícios excessivos ou injustificados (não é preciso que seja o próprio usurário a obter
estes benefícios - “para si ou para terceiros”). Avaliação do caráter excessivo ou injustificado:
Proposta doutrinal (Prof. Menezes Cordeiro) – quando uma das prestações tenha o dobro ou
mais da outra prestação. Ex: A vende a B um relógio que vale 500€ por 1500€.

Consequência – anulabilidade (legitimidade para arguir: o lesado – Regime Art.287 CC)

Art.283 CC – Modificação dos negócios usurários:


- Nº1: o pedido de modificação, ou a aceitação da modificação, implicam a
confirmação do negócio anulável nos precisos termos em que foi modificado.
- Nº2: o próprio usurário pode declarar que prefere, em vez de uma anulação, pedida
pelo lesado ao abrigo do Art.282 nº1 CC, a modificação nos termos do nº1 do Art.283
CC.

d) Negócios celebrados com erro na declaração. Regime jurídico.

Erro na declaração - hipótese de um negócio celebrado com falta de vontade (não


coincidência/divergência entre a vontade real e a declaração/vontade declarada). Neste caso,
a consequência não é a nulidade, mas sim a anulabilidade (Art.247 CC).

Erros na declaração:
- Erros na própria declaração (estamos perante um lapso de escrita, de língua...). Ex: Alguém
envia uma carta a propor a venda do seu automóvel por 10 mil €, mas na realidade queria
vende-lo por 100 mil €.
Catarina Ferreira da Silva

- Erros sobre o conteúdo da declaração (o declarante declara aquilo que quer, mas atribui à
sua declaração um significado diferente). Ex: alguém vai a um restaurante e pede uma salada
com mozarela. O declarante quando está a pedir pensa que mozarela é um tipo de salame
(expressão utilizada na sua terra). Aqui, o declarante declarou aquilo que efetivamente
queria, no entanto este atribuiu à sua declaração um significado diferente do seu sentido
objetivo (o sentido que um normal declaratário interpretaria).

Erro sobre os motivos/erro vício (há um erro sobre o porquê da vontade. Há divergência entre
a vontade viciada e a vontade hipotética não viciada). Ex: alguém que compra um presente a
pensar que era o aniversario da amiga, mas efetivamente não era o aniversario desta última.
≠ Erro da declaração/erro obstáculo (divergência entre a vontade real e a vontade declarada).
Como sabemos, há dissenso oculto quando as partes, sem se aperceberem disso, não
chegaram a um acordo sobre todas as cláusulas consideradas essenciais, de modo que a
declaração negocial não coincide com a vontade real do declarante, nem com a do
declaratário. Em princípio, e de acordo com o Art.232 CC, nenhum contrato fica concluído.
Há situações, porém, em que é possível atribuir a ambas as declarações) a ambas as
manifestações), de acordo com as circunstâncias, um sentido ou conteúdo objetivo comum
(no pedido pela salada com mozarela, o sentido objetivo comum resulta do uso linguístico da
terra do declaratário/empregado). É evidente que este conteúdo objetivo, comum a ambas
as declarações, não está em sintonia com ambas as vontades (caso contrário, não haveria
dissenso). A este tipo de casos de dissenso oculto deve aplicar-se, quanto às declarações, o
regime do erro na declaração: o contrato considera-se concluído, mas o declarante cuja
vontade real difere do conteúdo objetivo comum que foi atribuído à sua declaração (que será
o cliente/declarante) pode anular com base em erro, nos termos do Art.247 CC.
O legislador permite ao declarante desvincular-se da sua declaração através do seu poder de
anulação se se verificarem determinados requisitos:
- Essencialidade (para o declarante) do elemento sobre o qual incidiu o erro (no exemplo da
salada, o declarante não iria querer a mesma se não fosse com salame. O elemento da
divergência é essencial).
NOTA: erro incidental – o declarante se não tivesse em erro teria emitido na
mesma a declaração, mas noutros termos.
- Declaratário conheça ou não devesse ignorar a essencialidade (o empregado soubesse ou
não devesse ignorar o facto de o declaratário querer salame e não mozarela).
Consequência à anulabilidade;
“Cessação do vício”: quando o declarante deixa de estar em erro.
Legitimidade: o errante.
Confirmação – o declarante pode confirmar o negócio jurídico.
Art.248 CC – Ex: o empregado levar a salada para rás e trazer uma nova, mas esta já com
salame em vez de mozarela.
Erro de cálculo ou de escrita (Art.249 CC) – Ex: é celebrado um contrato de arrendamento por
6 meses. Neste diz -se que o contrato tem inicio no dia 1/08/2018 e cessa no dia 31/12/2018;
Catarina Ferreira da Silva

é celebrado um contrato de compra e venda de um terreno com 100 m2. Indica-se que o valor
é 100€/m2 e no fim, o valor que se indica é de 12 mil € (no entanto, feitas as contas deveria
ser 10 mil €).
Consequência à mero direito à retificação.

Erro na transmissão da declaração (Art.250 CC) – estes casos envolvem normalmente um


núncio ou então um representante, mas desde que este último apenas transmita uma
declaração:
- Nº1: o risco corre por conta do declarante, podendo apenas ser anulável nos
termos do 247 CC.

e) Negócios celebrado com vícios da vontade: enunciado geral. O erro sobre os motivos
e o seu regime jurídico. O dolo. A coação moral.

A deficiência genética não tem que ver com a manifestação da vontade, mas sim com a
própria formação da vontade.

Erro sobre os motivos (Art.251 e 252 CC)

Há uma série de circunstância que levam à emissão de uma determinada vontade em certos
termos. O princípio é o da irrelevância dos motivos.
“Erro” - deficiente representação intelectual (inexata) de declarante que não corresponde à
realidade.
No entanto, existem casos em que os motivos efetivamente são relevantes que conduzem à
anulabilidade:
- Erro sobre a pessoa do declaratário ou sobre o objeto (essencialmente o mediato – a coisa
sobre que incide) do negócio (Art.251 CC). O erro pode referir-se à identidade ou
qualidades/características do declaratário ou do objeto. Ex: Quanto ao declaratário -
contrata-se uma empregada doméstica julgando-se que ela sabe cozinhar quando na verdade
não sabe; quanto ao objeto – comprar-se um relógio a julgar-se que é verdadeiro quando é
uma falsificação.
NOTA: Quase todas estas hipóteses acabam por ser erros sobre o conteúdo da
declaração.
Este erro torna a declaração anulável sempre e apenas se se virem preenchidos os requisitos
do Art.247 CC.

Art.252:
- Nº1: erro sobre os outros motivos. Ex: João julgando que foi colocado em Coimbra,
celebra um contrato de arrendamento de um imóvel em Coimbra. Dá-se o caso de ele
afinal não estar colocado em Coimbra, mas sim em Évora (ele tinha lido mal a pauta
de colocações).
Catarina Ferreira da Silva

- Nº2: erro sobre a base negocial (a realidade circunstancial pressuposta por ambas as
partes – erro bilateral). Ex: alguém em Fevereiro contratar férias na neve e dá-se o
caso de já no momento de a celebração do contrato não haver neve naquele local.
Consequência à Art.437 CC.

Dolo (Art.253 e 254 CC)

O erro é provocado/criado. Ex: há um quadro exposto e há alguém que força a assinatura do


autor do quadro.
- Nº1:
- “induzir ou manter em erro” à Dolo positivo
- “dissimular” à Dolo negativo: não se cria o erro, mas também não se elimina
o mesmo quando este existe.
- Nº2. Ex: vai-se a um restaurante e pergunta-se ao empregado se a comida é boa – é
normal que ele diga que é. Neste caso, o dolo não é lícito.

Consequências à Art.254 CC

Coação moral (Art.255 e 256 CC)

Ameaça-se alguém com um determinado mal para que com isso obtenha uma determinada
declaração negocial.
NOTA: “fazenda” – património.

Consequência à Art.256 CC

Art.255 nº3 CC – Ex: “ou fazes isso ou levo-te para tribunal”


“Temor referencial” – o respeito por alguém.
Catarina Ferreira da Silva

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