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Capítulo 9

DÉBITO CARDÍACO
Constantino José Fernandes Junior, Denis Faria Moura Júnior, Nelson Akamine

Introdução

Débito cardíaco é o volume de sangue (geralmente medido em litros) ejetado pelo


coroção a cada unidade de tempo (geralmente em minutos), sendo considerado o
principal determinante do transporte de oxigênio aos tecidos. Seu valor normal é de 5 a
6 l/m.
Conceitualmente:

Débito cardíaco (DC) =


volume sistólico (VS) x freqüência cardíaca (FC).

Mensuração
Pode-se mensurar o DC de forma invasiva ou não-invasiva. A monitorização
hemodinâmica invasiva permite a mensuração prática, rápida e repetitiva dessa
importante variável pelo método da termodiluição.
A equação do Stewart-Hamilton é a fórmula que relaciona o DC à temperatura:

Q = V (Tb - Ti) K1 K2
Tb (t) dt
Q: débito cardíaco; V: volume injetado; Tb: temperatura
sanguínea; Ti: temperatura do injetado; K1 K2: constantes
do computador; Tb (t) dt: alteração da temperatura
sanguínea em função do tempo.

Fundamentalmente, o débito cardíaco será inversamente proporcional a área sob a


curva de termodiluição ao longo do tempo.
A técnica da termodiluição utiliza o frio para criar um déficit térmico como variante da
técnica de diluição do indicador. Um computador integra a informação para definir uma
curva de débito cardíaco. A área sob a curva é inversamente proporcional ao débito
(Figura 1).
Figura 1 – Curva da diminuição de temperatura através do tempo. Área sob a curva Formatado: Fonte: Não Negrito, Cor
da fonte: Verde oliva
inversamente proporcional ao débito cardíaco.

Com o advento de novas tecnologias desenvolveu-se uma forma de monitorização


contínua e automatizada do débito cardíaco, mediante um novo tipo de cateter de
artéria pulmonar (CAP). Esse novo cateter conserva as características gerais dos
cateteres pulmonares quanto à sua constituição e técnica de introdução.
A novidade constitui-se na colocação de um filamento metálico espiralado que emite
calor quando percorrido por uma corrente elétrica. Dessa forma, o princípio de
termodiluição continua sendo empregado, porém de forma inversa à descrita
anteriormente, processando-se a diluição do aquecimento em vez do resfriamento do
sangue.
Com esse novo cateter é possível o acompanhamento do débito cardíaco a intervalos
de tempo curtos de cerca de um minuto, sem a necessidade de infundir qualquer
solução.
Nos últimos anos, segurança de uso, confiabilidade e custos associados foram
analisados em alguns estudos. A análise desses trabalhos e a experiência prática
inicial com os cateteres de débito cardíaco contínuo mostram grandes vantagens no
seu emprego, fazendo-se prever uma rápida substituição dos antigos cateteres nos
próximos anos (Figura 2).

Figura 2 – Esquema ilustrativo do cateter de artéria pulmonar para monitorização do


débito cardíaco contínuo.
A freqüente mensuração do DC em pacientes graves permite o acompanhamento e a
manipulação da função precípua da circulação que é o transporte de oxigênio.
Permite ainda calcular variáveis como a resistência vascular sistêmica, a resistência
vascular pulmonar e o trabalho.
Enquanto parâmetro isolado, sua aplicação clínica é limitada. Sua utilização como
indicador da função miocárdica sofre ressalvas, visto que um VS decrescente (por
redução de pré-carga ou deterioração contrátil) pode estar mascarado por um
aumento da FC.

Interpretação
A interpretação do DC deve ser feita à luz da demanda metabólica. Assim, não se
pode inferir que um DC é normal, elevado ou baixo, sem os parâmetros de oxigenação
tecidual.
A mensuração da SvO2 pode ser a forma mais simples de se aferir quão adequado
está o DC. Partindo-se do princípio de que, em indivíduos sadios, a SvO2 fica em torno
de 75%, medidas inferiores a esta podem indicar inadequação do DC (salvo algumas
exceções).

Tabela 1 – A interpretação do débito cardíaco deve obedecer à ordem abaixo


Indexar o DC, dividindo-o pela superfície corporal e obtendo-se assim o índice cardíaco
Verificar temperatura, hemoglobina e saturação arterial de oxigênio (SaO2)
Verificar SvO2 (adequeção metabólica)

Assim, a monitoração contínua do DC e da SvO 2 permite inferir a demanda metabólica


e monitorar as intervenções hemodinâmicas.
Um determinado valor de débito cardíaco é bom, normal ou ruim de acordo com sua
adequação metabólica.
Senão, vejamos: um débito cardíaco de 15 l/m pode ser baixo se não atende às
necessidades celulares e convive com um lactato elevado originado da hipóxia celular.
Da mesma forma, a SvO2 baixa (menor de 65%) atesta que óbices se interpuseram no
caminho do O2 ou que o consumo de O2 encontra-se elevado em relação à oferta. Isto
nos diz que o débito cardíaco deve ser incrementado ou que o VO2 deve ser reduzido
(Tabelas 2 e 3).

Tabela 2 – Fatores que interferem no débito cardíaco


Sexo Mulheres têm maior participação de gordura na composição de sua massa corpórea
O tecido adiposo tende a ser metabolicamente menos ativo
O débito cardíaco de uma mulher tende a ser 10% menor que o de um homem de
mesmo peso e altura
Taxa Sepse, fortes emoções, trauma ou cirurgias aumentam o metabolismo e, portanto, a
metabólica demanda de oxigênio
Tamanho Quanto maior e mais pesado o indivíduo for, maiores débitos cardíacos são necessários
para perfundir sua massa corpórea, que é proporcional à sua taxa metabólica (correção
pelo índice cardíaco)
Idade O índice cardíaco é mais elevado na criança, diminuindo progressivamente com a
idade. Assim, o neonato pode ter um índice cardíaco três vezes maior que o de um
adulto
Tabela 3 – Fatores de erro
Shunts Todos os métodos de mensuração do débito cardíaco pressupõem que os fluxos
intracardíacos arteriais sistêmico e pulmonar sejam equivalentes
A presença de comunicações anatômicas invalida quaisquer métodos de aferição
do débito cardíaco
Lesões cardíacas O tamanho do fluxo regurgitante é diretamente proporcional ao erro na correta
regurgitantes estimativa do débito cardíaco

Bibliografia recomendada

Cooper AB, Doig GS, Sibbald WJ. Pulmonary artery cathters in the critically ill: an
overview using the methodology of eveidence based medicine. In: Critical Care Clinics,
Philadelphia, WB Saunders, pp. 777-94, 1996.

Darovic GO, Yacone-Morton LA. Monitoring cardiac output. In: Darovic GO. Hemodynamic
monitoring: invasive and noninvasive clinical application. 2. ed. Philadelphia, W.B.
Saunders Company, pp. 323-46, 1995.

Fernandes Jr. CJ, Akamine N, Knobel E. Monitorização hemodinâmica, transporte de


oxigênio e tonometria. In: Knobel E. Condutas no paciente grave. Atheneu, São Paulo, pp.
75-102, 1998.

Fernandes Jr. CJ, Akamine N, Souza JAM et al. Red blood cell transfusion does not
increase oxygen consumption in critically ill septic patients. Crit Care 5(6)362-7, 2001.

Henning RJ, Darovic GO, Adler D. Specific monitoring considerations for patients with
cardiac disease. Hemodynamic monitoring: invasive and noninvasive clinical application.
2. ed. Philadelphia, W.B. Saunders Company, pp. 647-62, 1995.

Knobel E, Akamine N, Fernandes Jr. CJ. O cateter de Swan-Ganz deve ser indicado em
todo paciente de terapia intensiva? Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 7:285-99, 1997.

Pinsky MR, Vincent JL.Let us use the pulmonary artery catheter correctly and only when
we need it. Crit Care Med. 2005 May;33(5):1119-22.

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