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A renovação da espiritualidade e religiosidade

A REFORMA PROTESTANTE
-Críticas à Igreja
• O Renascimento faz provocar uma grave crise na Igreja. A nova visão do homem e
do mundo, mostra quanto as ideias veiculadas pela Igreja estavam erradas.
• Os humanistas, longe de se dissociarem da religião, pretendiam antes um retorno à
pureza do cristianismo primitivo. Condenavam não a religião em si, mas os que a
pregavam e davam o exemplo errado.
• A necessidade de uma prática mais autêntica e profunda, uma religiosidade em que
existisse uma verdadeira fé era o sentimento transmitido pela maior parte dos
humanistas.
• A devoção torna-se mais pessoal, bem como o sentimento de culpa (e a morte em
pecado).
-Primeiras crises religiosas
• Século XII-XIII: a Heresia dos Cátaros. A doutrina assentava na existência do Bem,
que tinha criado o mundo espiritual, e do Mal, que estivera na origem do mundo
material.
• As ordens mendicantes, que condenam o luxo e a imoralidade da Igreja.
• O aparecimento de cidades mercantis no norte da Europa, que conduz a um desligar
da doutrina cristã, desenvolvendo-se o ensino laico e a preparação dos novos quadros
fora da instituição religiosa. Também o facto de a Burguesia pretender o
enriquecimento, leva à crítica à Igreja, que se opõe à prática da usura e do juro.
-Primeiras crises religiosas
• o Cisma do Ocidente (1348/1417) - chega-se ao paradoxo da existência de dois
chefes da religião cristã. De um lado, o Papa de Avignon, Clemente VII, apoiado pela
França e seus aliados (Europa central). Do outro lado, o Papa italiano, residente em
Roma. Este era apoiado pela Espanha. O conflito só será resolvido no Concílio de
Constança, em que um novo Papa, que congrega o apoio de ambas as partes, é
nomeado, ainda que por alguns dias coexistam três Papas.
• Século XIV – heresia de John Wyclif, que contesta a autoridade do clero na Inglaterra
e o pagamento da dízima.
• Os flagelos do século: a guerra dos 100 anos; o avanço do Islão; a peste negra…
conduzem ao aparecimento de seitas e movimentos que se vão afastando da Igreja
cristã romana.
• Século XV: Jan Huss defende os checos contra o domínio do Império Alemão.
Segundo a sua opinião, ninguém se poderia considerar representante de Cristo, se
não seguisse o exemplo divino. Savonarola prega contra o luxo e corrupção na
Sociedade. Por isso é acusado, enforcado e depois queimado na praça pública.
• Grande parte da igreja do século XV tinha-se afastado dos princípios de pobreza
pregados por Cristo e pelos primeiros apóstolos, e vivia no luxo e na ostentação. A
corrupção alastrava dentro da igreja católica.
• Motivos para o descontentamento:
– Venda de cargos religiosos: a prática de simonia era frequente. Aos cargos mais
importantes como Arcebispados, Bispados, Cónegos... chegavam não os mais
piedosos, mas os filhos segundos da nobreza, que viam aí um meio fácil de enriquecer
e ter prestígio.
– Falta de preparação e vocação dos membros do clero.
– Luxo, ostentação, vida mundana e imoral dos clérigos. O Papa não era mais que um
importante “monarca” com família e onde a guerra e a política se sobrepunham à
prática do culto. O restante clero seguia o exemplo do seu chefe.
– Venda da Bula das Indulgências.
-Críticas
• Em 1513, o Papa Leão X, decide enviar monges por toda a Europa, solicitando aos
fiéis uma contribuição para a conclusão das obras da Basílica de S. Pedro. Em troca, o
Papa concedia uma Indulgência, isto é um documento que lhes perdoava a penitência
pelos seus pecados. Imediatamente vozes humanistas se revoltam contra esta prática.
• Erasmo de Roterdão (1466-1536), autor da obra “O elogio da Loucura” critica os
abusos do clero e defende a necessidade de uma purificação da moral e dos
costumes.
• Lutero, monge da ordem de Santo Agostinho, encontra a resposta à sua inquietação
nas casas de São Paulo, em que lê: o justo pode salvar-se pela fé. Revolta-se assim
contra a venda das indulgências.
-A rutura teológica
• Lutero pretende um retorno a um cristianismo primitivo, onde a fé era o mais
importante. Em 1517 afixa a sua obra “95 teses sobre as Indulgências”. É considerado
herético e finalmente excomungado. Foge e refugia-se na Saxónia, onde funda a
Igreja Alemã Independente e Luterana.
• Em França, um extremista revolta-se contra a Igreja Católica. O seu nome é Calvino.
Acredita na predestinação. O homem deve seguir uma fé intensa e ter uma vida
piedosa e austera de moral rígida. É seguido na Suíça, Holanda e Escócia.
• No caso inglês, surge o Anglicanismo, com Henrique VIII e a querela com o Papa
Clemente VII (1523/1534). O rei pretende o divórcio de Catarina de Aragão para casar
com Ana Bolena, o que lhe é negado. Resta-lhe então, separar-se também ele da
igreja Católica.
AS IGREJAS REFORMADAS
-Luteranismo
• Princípios Luteranos:
– Defende a autoridade única da Bíblia e a tradução do texto sagrado para alemão.
– Acredita na relação direta do crente com Deus. Assim:
• Rejeita o papel mediador do clero,
• Rejeita a autoridade do Papa.
– Defende a alteração da doutrina da Igreja:
• Aceita apenas dois sacramentos (batismo e eucaristia),
• Rejeita o culto dos santos e da Virgem,
• Institui como responsáveis pelo culto religiosos homens simples, designados por
pastores.
-Calvinismo
• Reforma Calvinista de João Calvino (1509-1564) que, com o apoio da Burguesia foge
para Genebra, onde estabelece uma verdadeira ditadura religiosa.
• Calvino defende que todas as leis de Deus deviam ser obedecidas. Explica a
salvação com a teoria da Predestinação: cada crente já estaria, desde a origem,
destinado por Deus à Salvação ou à condenação eterna.
• Defende o sacerdócio universal e a autoridade exclusiva da Bíblia.
• Acredita na salvação pela fé e na existência de dois sacramentos: O batismo e a
comunhão.
• Defende a teocracia (hierarquia dentro da igreja)
• O Calvinismo torna-se uma verdadeira ideologia revolucionária.
-Anglicanismo
• Fundada pelo rei Henrique VIII (1491-1547) foi motivada pelo interesse do rei em
anular o seu casamento com Catarina de Aragão e casar com Ana de Bolena.
• Com a recusa do Papa, Henrique VIII proclama o ato de supremacia (em 1534), que
o afasta da obediência a Roma e o torna chefe supremo da igreja na Inglaterra, a
igreja Anglicana.
• Henrique VIII dissolve os Mosteiros e confisca-lhes os bens. A nova religião inglesa
defende então:
- A justificação pela fé, mas não a predestinação absoluta;
- A autoridade da bíblia, os Sacramentos do Batismo e Eucaristia, mas nega o culto
aos santos, imagens ou relíquias;
- A Teocracia;
- A abolição do Celibato dos padres.
CONTRAREFORMA E REFORMA CATÓLICA
-A Reforma Disciplinar
-Em face das contestações de que foi alvo, a Igreja Católica iniciou um movimento de
renovação que ficou conhecido como a Contrarreforma.
-O Papa Paulo III, um notável humanista e diplomata, reconheceu a necessidade de
se avançar para uma renovação da Igreja. Assim, convocou o Concílio de Trento
(1545-63), onde ficaram estabelecidas as bases da Reforma da Igreja Católica.
-O Concílio de Trento
• Durante o longo período de reflexão do concílio, os Bispos confrontaram-se com
duas correntes de opinião: uma mais tolerante para com os reformistas e a que
condenava duramente os protestantes. Apesar das dificuldades, o Concílio realizou
uma obra notável:
– No plano dogmático: reafirmou a doutrina cristã face às teses protestantes,
confirmando a importância da fé e das boas obras para a salvação humana;
reconheceu a Bíblia e a tradição da Igreja como fontes da verdade e manteve os 7
sacramentos;
– No plano disciplinar: restabeleceu a disciplina na Igreja, determinando a formação do
Clero em seminários, manteve o celibato dos padres e obrigou os seus membros a
residir nas dioceses e paróquias a seu cargo.
-A Contrarreforma
• Surge a necessidade de se responder às ordens protestantes. Assim, emerge o
movimento de Contrarreforma, desenvolvendo-se instrumentos de “ataque” ao
protestantismo:
– A Companhia de Jesus, oficializada pelo Papa em 1540. Os Jesuítas destacaram-se
no ensino e na consolidação e expansão da fé cristã através da missionação.
– O Índex, catálogo que era periodicamente atualizado dos livros proibidos (não
podiam ser impressos, vendidos ou mesmo lidos sob pena de excomunhão ou morte).
– A Inquisição, instrumento repressivo que correspondia a um tribunal religioso, sujeito
à vontade régia, que inquiria a vida daqueles que eram suspeitos de atos contra a fé
católica.
-O combate ideológico: O Índex
• Index (Index Librorum Prohibitorum) era o Catálogo dos livros que a Igreja
considerava nefastos para a preservação da fé.
• Continha três seções:
– Lista de autores completamente proibidos;
– Lista de autores cujas obras poderiam conduzir à heresia;
– Lista de livros contendo doutrinas que não eram correspondentes às ideias da Igreja.
-A Inquisição
• A Inquisição era também apelidada de Tribunal do Santo Ofício.
• Era um tribunal eclesiástico destinado a defender a fé católica.
• Vigiava, perseguia e condenava aqueles que fossem suspeitos de praticar outras
religiões com vista a proteger a ortodoxia católica.
• Utilizando a tortura e a condenação pelo fogo, pretendia salvar as almas dos erros e
das heresias que levavam à condenação eterna.
-A Companhia de Jesus
• Também conhecidos por Jesuítas, foi criada por São Inácio de Loyola.
• Rompeu com os moldes tradicionais da vida nos Mosteiros.
• Tornou-se um símbolo da nova Igreja rejuvenescida e novamente pura.
• Tornou-se um instrumento eficaz na resposta ao protestantismo, uma vez que:
– Defendia o catolicismo,
– Promovia a sua difusão pelo mundo,
– Levava a cabo a missionação, pregação e ensino,
– Evangelizava os povos das terras recém-descobertas.
-Na Península
• A posição geográfica da Península Ibérica explica, em parte, a quase ausência de
movimentos religiosos reformistas protestantes.
• Existiam uma grande comunidade judaica, bem enraizada na sociedade portuguesa.
• No final do séc. XV, em Espanha, os Reis Católicos reativaram a Inquisição como
forma de limitar a poderosa comunidade judaica. Estes foram perseguidos não só
pelas suas diferenças religiosas, mas principalmente por razões económicas.
• Os judeus foram então expulsos ou forçados a converter-se ao Cristianismo. Esta
mesma medida faria parte do contrato de casamento de D. Manuel com a filha dos reis
católicos espanhóis.
-Em Portugal
• Após a expulsão dos judeus de Espanha, muitos fixaram-se me Portugal, sendo
aceites por D. João II.
• Em 1496 D. Manuel I ordena a expulsão dos judeus que não se convertessem à fé
católica. Para impedir a perda financeira que tal representaria, o rei ordena o batismo
forçado dos judeus, que passam a ser conhecidos pela designação de cristãos-novos.
Os misturados seriam os marranos.
• A nobreza não se misturou, tendo a assimilação ocorrido apenas nos estratos
populares e mercantis.
• Numa primeira fase do governo, o rei que se segue, D. João III demonstra abertura
aos ideais renascentistas e torna-se um príncipe do Renascimento.
• D. João III promove o desenvolvimento e a circulação de ideias, com a vinda de
estrangeiros para o reino, a criação do Colégio das Artes e a transferência da
Universidade para Coimbra.
• Na segunda fase do seu reinado, manifesta-se um encerramento à cultura
renascentista e ao humanismo cristão, considerado nefasto.
• A Inquisição instala-se então em Portugal, por insistência do rei junto do papado, e
viria a completar as ações que se levaram a cabo em nome da pureza da religião
católica.
• Os alvos preferenciais da Inquisição foram os judeus e os marranos, o que provocou
o enfraquecimento da Burguesia e a sua substituição no comércio por nobres e
cavaleiros-mercadores. Todavia, estes não tinham a mesma preparação, logo, o
mesmo sucesso.
• A presença da Inquisição em Portugal, embora solicitada desde cedo pelos reis, era
desnecessária, pois os protestantes eram quase inexistentes e os judeus, ou já tinham
sido expulsos ou tinham sido forçados à conversão (os que escolheram a conversão
forçada passaram a ser designados por cristãos novos).
• Para justificar a presença da Inquisição, iniciou-se uma grande perseguição contra os
cristãos-novos acusados de judaísmo. Outros alvos foram os homens cultos, como
Damião de Góis e todos os que eram acusados de bruxaria.
• A Inquisição tornou-se também um meio usado para a centralização do poder régio,
ao mesmo tempo que se exercia o controlo da ascensão social.
• A chegada da Companhia de Jesus em 1540 permitiu o processo de missionação em
terras portuguesas ultramarinas, bem como de domínio das mais importantes
estruturas educacionais portuguesas.
• Durante todo o século XVI verificou-se um domínio completo do país pela Inquisição
e pela Companhia de Jesus, amparado pela monarquia.
• Foram realizados milhares de autos-de-fé, cerimónia pública em que os condenados
pela Inquisição ouviam as acusações e as penas a que seriam sujeitos.
•Esta situação terminou, finalmente, com as medidas tomadas pelo Marquês de
Pombal.
• Em Portugal, as severas medidas da contrarreforma aplicadas, revelaram-se
extremamente nocivas face ao desenvolvimento que se iniciava. Foram assim
responsáveis por um atraso cultural que se prolongou por muitas décadas.
• A censura às obras escritas complexificou-se, sendo publicadas cada vez mais
frequentes e extensas listas de obras proibidas.
• A presteza das autoridades portuguesas em cumprir as medidas repressivas de
Roma levaram ao exílio de inúmeros intelectuais nacionais e grandes nomes do
panorama económico, em especial judeus que se refugiaram na Holanda, onde
refizeram a sua vida e o seu património.
• Deve-se ainda aludir à própria arte, uma vez que o catolicismo da Contrarreforma se
serviu do esplendor da arte barroca para atrair os fiéis à “luz da Verdade”, destacando-
se em Portugal o Convento de Mafra e a igreja de Santa Engrácia.

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