RAZZAH Publishers
Av. Mem de Sá, 126 – Lapa
20230-152 – Rio de Janeiro/RJ
www.razzapublishers.com
Para Gustavo.
E para todos aqueles que sabem
nos tirar do lugar.
Nietzsche
tinha razão.
Não há ceticismo perante o
amor. Mas há um emaranhado
louco, que no transcurso de uma
vida – ainda que consigamos a
tão afamada descoberta de seu
sentido – não é possível
desenrolar; há o amor.
8
O (não) lugar do amor
9
CAROLINA GAIO
10
O (não) lugar do amor
***
11
CAROLINA GAIO
12
O (não) lugar do amor
13
CAROLINA GAIO
14
O (não) lugar do amor
***
15
CAROLINA GAIO
16
O (não) lugar do amor
17
CAROLINA GAIO
18
O (não) lugar do amor
19
CAROLINA GAIO
20
O (não) lugar do amor
21
CAROLINA GAIO
22
O (não) lugar do amor
24
O (não) lugar do amor
25
CAROLINA GAIO
27
CAROLINA GAIO
28
O (não) lugar do amor
29
CAROLINA GAIO
30
O (não) lugar do amor
31
CAROLINA GAIO
- Ok, boa-noite.
- Boa-noite!
A hora tinha passado de um jeito estranhamente rápido e
o caminho do bar até sua casa continuava caótico, apesar de
praticamente só precisar atravessar a rua. Um casal, apoia-
do no portão do prédio, ralhou com Leo quando ele foi abrir
o portão. Mas antes que a chave girasse, ouviu um som de
buzina, e aquela voz grave inconfundível.
- Leo? Você ainda está assim?!
- Manuela?! Assim como? Tá fazendo o que aqui?
- Sabia que você ia esquecer. Bodas dos meus avós, Leo!
Se arruma logo que estou sem nenhuma paciência hoje. E já
vai pensando em uma ótima desculpa por ter passado no bar
e ter se atrasado. E por ter fumado! Mas que merda!
- Manu... – Leonardo apoiou na porta do carro sem en-
tender o furacão que Manuela trouxe consigo.
- A Fernanda passou por você hoje. Ela disse que você
falou algum desaforo e nem olhou pra cara dela!
- Ela que esbarrou em mim? E por que não falou comigo?
- Ah, sei lá! Anda, Leo, já estamos atrasados.
- Manu, hoje não dá. É que eu. – Merda, merda. Ele tinha
planejado pedir Manuela em casamento nessa festa. – Se-
gunda é a arguição do projeto, não quero sair esse final de
semana, quero revisar a bibliografia, olhar alguns pontos.
- Ah, Leo! Você prometeu que iria. O que vou dizer agora
pros meus pais? Você precisa dessa insegurança, Leo? Fala
sério! Sabemos que vai passar.
32
O (não) lugar do amor
33
CAROLINA GAIO
34
O (não) lugar do amor
35
CAROLINA GAIO
37
CAROLINA GAIO
38
O (não) lugar do amor
39
CAROLINA GAIO
40
O (não) lugar do amor
sem ação. Mas até que ele gostava, talvez isso representasse
uma fase anal mal resolvida. Quase que literalmente, nesse
caso.
Entrar no carro de Manuela dessa vez foi diferente. Toda
aquela sensação de leveza e aventura que ele tinha ao lado
dela não estava ali. Manuela tinha presenciado o assassinato
da tia e tinha sido ameaçada. Ele queria perguntar, queria
saber tudo, mas não, não podia. De repente a intimidade que
tinham se esvaiu, e nem se deveria abraçá-la ele sabia. Os
planos de Leonardo ruíram diante disso, o conto de fadas es-
tava tomando um rumo diferente.
- Fica na minha casa hoje? Não queria dormir sozinha.
- Fico sim, Manuela.
41
Capítulo 2 | fevereiro
43
CAROLINA GAIO
44
O (não) lugar do amor
- É uma escolha.
- Que subversiva!
- Estou longe. – E o olhar de Melissa também ficou longe.
Distante daquilo ali.
- Continue me contando. Agora conte-me o mas.
- Mas?
- Sei que tem um mas. Sempre tem.
- Sempre? Acha que o ser humano é eternamente insatis-
feito? – Leo deu de ombros – Ah, nenhum amigo foi assistir.
Meus amigos acham um saco isso tudo.
- E aposto que você vai nas apresentações de todos eles,
não é?!
- Exatamente.
- Algumas pessoas não têm estômago para essas coisas
que você pesquisa. – Os dois riam com um olhar de cum-
plicidade que era esquisito. E, de alguma forma ainda mais
esquisita e que não fazia sentido nenhum, Leo sabia que não
eram os amigos o problema.
- Não têm mesmo! – Melissa sorria. – Mas irei na sua.
Quando vai defender?
- Nem tão cedo. Não se esqueça de que ainda estou na-
quela rotina.
- Sei, sei, limpando piscina por uns trocados, enrolando a
faculdade, levando a vida de bar em bar.
- Olha aí. – Leonardo gesticulou mostrando o ambiente
em volta. – Daí pra pior! Deve faltar uns quatro anos pra eu
46
O (não) lugar do amor
47
CAROLINA GAIO
49
CAROLINA GAIO
***
52
O (não) lugar do amor
53
CAROLINA GAIO
55
CAROLINA GAIO
- Melissa, a gente nem ouviu o que vai ser, deixa eles co-
meçarem.
- Eu sei, ô medroso – disse imitando o mesmo tom de Leo-
nardo.
- Como o casal Sadomaso está meio inseguro, o casal
Bombástico vai começar!
- Estamos inseguros? – Leonardo olhou indignado para
Melissa.
- Que situação ridícula. Nós começaremos, Patrícia.
- Certo. A primeira prova é o jogo das perguntas! – Patrí-
cia puxou o que parecia um monte de cartas.
Sua empolgação era tremenda, dava vontade de rir, mas
Leonardo segurou.
- Essas fichas contêm perguntas que serão feitas para o
casal. Cada um deve anotar sua resposta – Patrícia atirou um
bloquinho com caneta na direção de Melissa e na de Leonar-
do – para fins de verificação. O outro deve acertar a resposta.
– Patrícia puxou uma das fichas do monte – Melissa, qual a
cor preferida do seu cônjuge? – Melissa segurou uma risada.
- Amarelo – respondeu Melissa.
- Como sabia disso? – perguntou Leo surpreso, que nem
chegara a terminar de escrever a palavra.
- Me lembro de você igual a um pintinho amarelinho,
várias vezes em que nos encontramos na infância. E aquele
dia em que nos reencontramos, no bar, você estava com uma
camisa tão amarela que ardeu meu olho. Acho que nem te
56
O (não) lugar do amor
57
CAROLINA GAIO
58
O (não) lugar do amor
59
CAROLINA GAIO
60
O (não) lugar do amor
62
O (não) lugar do amor
63
CAROLINA GAIO
64
O (não) lugar do amor
65
CAROLINA GAIO
***
***
67
CAROLINA GAIO
68
O (não) lugar do amor
71
CAROLINA GAIO
73
CAROLINA GAIO
***
74
O (não) lugar do amor
75
CAROLINA GAIO
76
O (não) lugar do amor
77
CAROLINA GAIO
78
O (não) lugar do amor
79
CAROLINA GAIO
80
O (não) lugar do amor
82
Capítulo 3 | março
85
CAROLINA GAIO
88
O (não) lugar do amor
89
CAROLINA GAIO
91
CAROLINA GAIO
92
O (não) lugar do amor
- E aí?
- Daí pra frente é clichê.
- As fotos caíram no chão? Eram fotos da Joana?
- Não caíram, mas ele estava bem nervoso, vociferou
umas ofensas por causa do esbarrão, gesticulava sem
parar, e isso permitiu que eu visse as fotos. Sim, eram
fotos recentes da Joana e do Jorge.
- Isso não quer dizer nada.
- Uma foto em especial. – Júlio colocou a mão no bol-
so de trás da calça como se fosse puxar algo. – Essa da-
qui.
- Como roubou essa foto? – disse Leonardo surpreen-
dido com Júlio.
- Essa ficou no chão depois que o Villa e o cara estra-
nho saíram. – Leonardo olhou a foto.
- Ele está nessa foto. E essa roupa da tia Joana foi a
que Manuela me descreveu que ela usava no dia da festa,
o tal vestido.
- Exatamente, Leozão. – A foto mostrava Joana e Jor-
ge de um lado, pareciam acuados, e Sebastião do outro,
como se discutisse com os dois. Parecia ter sido tirada
em um local próximo à chácara em que ocorreu a tal fes-
ta, no dia seguinte. As roupas e o tempo reforçavam isso.
Mas o que chamou mais a atenção de Leonardo foi que a
foto parecia ter sido tirada por alguém escondido.
- Quem tirou essa foto? Acha que a Manuela já des-
confiava de algo? Que o Villa entrou em contato e ela os
seguiu, ou algo do tipo?
95
CAROLINA GAIO
96
O (não) lugar do amor
97
Capítulo 4 | abril
100
O (não) lugar do amor
***
103
CAROLINA GAIO
104
O (não) lugar do amor
105
CAROLINA GAIO
107
CAROLINA GAIO
108
O (não) lugar do amor
109
CAROLINA GAIO
110
Capítulo 5 | maio
113
CAROLINA GAIO
114
O (não) lugar do amor
- O quê?
- Um pacote de biscoito Gufy.
- Gufy? Isso ainda existe? A mulher vai morar em ou-
tro continente e você me diz que comprou um pacote de
Gufy pra ela? Nem era tão bom assim e no mínimo está
fora da validade. Que tipo de presente é esse?
- Tem um significado pra gente.
- Biscoito Gufy?
- É. Quando estávamos no colégio sempre dávamos
um pacote de Gufy vazio um pro outro, era uma impli-
cância boba nossa. Não lembro quem começou, mas nós
dois gostávamos muito de Gufy, oferecíamos o biscoito
um pro outro, o pacote sempre vazio. Ficávamos meio
frustrados em todas as vezes, sempre achávamos que o
outro teria alguma solidariedade de dar um pacote com
algum biscoito dentro, mas era sempre vazio.
- Por isso é que a Nanda sempre guardava as embala-
gens? Até quando eu comia, ela me pedia a embalagem.
- Com certeza. Quando brigávamos e queríamos rea-
tar, dávamos um pacote com alguns biscoitos dentro.
Quando ela decidiu que trabalharia embarcada, já não
existia mais por aqui, mas eu fui pro norte e encontrei lá.
Estávamos separados há uns três anos, devíamos ter 18,
por ai.
- Dezoito você ou ela?
- Eu. A Nanda é um ano mais velha que você e a
Manu, não é?
115
CAROLINA GAIO
116
O (não) lugar do amor
- Eu era desenvolvido.
- Onde? Não desenvolveu até hoje! Só pra cima! – dis-
se Júlio debochando e Leonardo ignorou.
- Ela estava com 16, na verdade, foi no dia do aniver-
sário dela, uns meses antes de vocês entrarem no ensino
médio.
- O primeiro beijo de vocês foi no aniversário dela?!
Pensei que tivesse sido nas férias. Por que só me contou
quando as aulas voltaram?
- Não deu tempo, você viajou em seguida pra Disney
e depois eu fiquei praticamente morando na casa da Ma-
nuela, foi quando ela quebrou o braço, lembra? Eu nunca
me esqueço do quanto ela chorou quando foi tirar o ges-
so, porque você não falou com ela nenhum dia.
- A Manu chorou por que eu não a vi quando quebrou
o braço?
- Muito, ela só falava de você. – Júlio ficou pensativo
por alguns instantes e o clima contagiou Leonardo. – Eu
achava que vocês namoravam naquela época, mas nun-
ca perguntei porque tinha um pouco de medo da Manu.
– Júlio sorriu, e seu olhar denunciou alguma coisa que
Leonardo preferiu não interpretar. Talvez Júlio tivesse
percebido as entrelinhas, pois cortou o assunto com na-
turalidade.
- E quando a Fernanda voltou, Gufy pra lá, e-mail pra
cá, ficou por isso mesmo?
- Ficou. Ela pareceu bem clara pra mim.
- Foi quando ela namorou o Pedro?
117
CAROLINA GAIO
118
O (não) lugar do amor
119
CAROLINA GAIO
- No meio da subida?
- É. – O jeito que Melissa falou fez aquilo parecer natural.
E talvez fosse.
- Fazendo o que aqui?
- Uma amiga vai participar de um sarau, a Francisca.
Lembra dela?
- Claro. – Leonardo lembrou, e lembrou, inclusive, de uma
Francisca que costumava se insinuar pra ele sem discrição,
pensou que estava indo embora na hora certa.
- Vai ficar?
- Infelizmente, não. Faço um curso aqui, já estou indo em-
bora.
- De quê?
- Fotografia.
- Que legal, Leo! Seu portfólio é sobre o quê? – Leonar-
do respirou fundo num misto de preocupação e vontade de
rir, lembrou da foto que tirou dela nu, que, aliás, foi a foto
central do projeto do portfólio. Pensou no silêncio que seus
pensamentos tinham instaurado, mas ele não podia falar a
verdade.
- Sobre mulheres que trabalham na Zona da Mata.
- Nordeste?
- Isso. – Leonardo começou a buscar referências na sua
mente caso aquilo se alongasse. Teria que mudar de assunto,
não tinha nada.
120
O (não) lugar do amor
***
121
CAROLINA GAIO
122
O (não) lugar do amor
123
CAROLINA GAIO
***
124
O (não) lugar do amor
125
CAROLINA GAIO
129
Capítulo 6 | Junho
132
O (não) lugar do amor
133
CAROLINA GAIO
134
O (não) lugar do amor
135
CAROLINA GAIO
136
O (não) lugar do amor
138
O (não) lugar do amor
139
CAROLINA GAIO
***
140
O (não) lugar do amor
141
CAROLINA GAIO
***
142
O (não) lugar do amor
- Não. Melissa.
- A Melissa? Ih, cara, tá pagando paixão mesmo pra
chatinha?!
- Fala sério, Júlio! Não tem nada a ver.
- Você acha que essa mulher está no seu destino, é
isso?! Se for, você sabe que não sou pai de santo, não
posso ajudar.
- Não é nada disso. Isso não existe! Eu só queria en-
tender por que eu vi o rosto dela.
- Liga pra ela, é psicóloga, deve conseguir explicar.
Não podia esperar até amanhã pra me ligar?
- Você tem razão, desculpa. Vou desligar.
- Ah! Agora me acordou. Quer que eu vá pra sua casa?
- Quero.
Júlio desligou. Leonardo estava confuso. Sentia o
cheiro de Melissa no quarto. Sua presença era tão forte
e real. E se perguntava se ela ao menos pensava nele en-
quanto uma trilha sonora vinha à cabeça. Por que “Anun-
ciação” o fazia pensar nela? Logo Alceu Valença, isso não
fazia sentido. Mas o que é que faz? Leo resolveu entrar
no grupo enquanto esperava Júlio chegar. Ninguém esta-
va online. Havia uma publicação nova feita por Barbarel-
la. Ela pedia de novo para darem sugestões para o título
da publicação, o livro sairia em quatro meses e eles não
faziam ideia do título. Tudo que havia sido sugerido soava
muito familiar e óbvio. Leonardo olhava em volta buscan-
do alguma ideia e viu o livro de Melissa. Estava jogado na
última prateleira da estante, nem lembrava que estava
143
CAROLINA GAIO
ali. Ele subiu na cama e deu pra ver a capa. Nunca tinha
reparado. A foto da capa era o lugar em que Melissa e ele
tinham se visto pela última vez. Onde ele rasgou o bilhete
da passagem, foi a última vez que se falaram, aliás. Por
que ela marcara com ele lá? Qual era o significado da-
quele lugar para ela? Leonardo estava encharcado desse
desejo de posse de dar significado a tudo. Mas tinha que
existir, talvez descobrir resolvesse os seus problemas.
Talvez não fizesse a menor diferença. Aquele lugar o ha-
via marcado de uma forma não tão boa quanto ele es-
perava, ou não esperava, já que, de alguma forma, sabia
que não podia esperar. Um não lugar. Olhou para o grupo
novamente e o título do livro era óbvio: O (não) lugar do
amor. Rogozov ficou online e viu a sugestão de Leonardo.
- Temos uma vítima de criatividade noturna aqui? –
escreveu ele.
- E uma de insônia, é o que parece – Leonardo retru-
cou. Rogozov apenas digitou uma risada. Leonardo viu
que ele começou a digitar qualquer outra coisa, mas o
interfone tocou. Era Júlio. Fechou o notebook e foi aten-
dê-lo.
- Satisfeito? Aqui estou, chore suas mágoas.
- Arranjei um título pro nosso livro. O (não) lugar do
amor, entre parênteses, saca?
- Espero que eu não tenha vindo aqui só pra ouvir isso.
- Não gostou? É o nosso livro!
- Esse pessoal que nunca escreveu uma dissertação
fica empolgado por qualquer coisa – Júlio desdenhava
144
O (não) lugar do amor
145
CAROLINA GAIO
146
Capítulo 7 | Julho
149
CAROLINA GAIO
150
O (não) lugar do amor
151
CAROLINA GAIO
152
O (não) lugar do amor
154
O (não) lugar do amor
155
CAROLINA GAIO
158
O (não) lugar do amor
***
159
CAROLINA GAIO
160
O (não) lugar do amor
161
CAROLINA GAIO
162
O (não) lugar do amor
163
Capítulo 8 | agosto
166
O (não) lugar do amor
167
CAROLINA GAIO
168
O (não) lugar do amor
***
169
CAROLINA GAIO
170
O (não) lugar do amor
171
CAROLINA GAIO
172
O (não) lugar do amor
173
CAROLINA GAIO
***
174
O (não) lugar do amor
175
Capítulo 9 | Setembro
178
O (não) lugar do amor
179
CAROLINA GAIO
180
O (não) lugar do amor
***
181
CAROLINA GAIO
182
O (não) lugar do amor
183
CAROLINA GAIO
184
O (não) lugar do amor
185
CAROLINA GAIO
186
O (não) lugar do amor
187
CAROLINA GAIO
189
CAROLINA GAIO
190
O (não) lugar do amor
191
CAROLINA GAIO
192
Epílogo | Outubro
195
CAROLINA GAIO
196
O (não) lugar do amor
-P or quê, Melissa?
- Por quê? Tá falando do quê, Leo?!
- Eu te amo. – Melissa ficou muda, o sorriso debochado
em seu rosto se transformou em uma expressão fechada. Ela
engoliu em seco e desviou o olhar.
- Leo... eu não quero te enganar.
- Me enganar? Você bate à minha casa de madrugada,
me liga de madrugada bêbada. Aparece no meu trabalho
chorando. O que mais?! – Leonardo olhava em volta como se
pudesse encontrar uma resposta. - Lembra o dia em que eu
te liguei, bêbado?
- Lembro, Leonardo.
- Victório do seu lado, você me disse que estava escreven-
do o dia inteiro, lembra?
- Claro. – Melissa olhava em volta como se quisesse fugir
daquilo, enquanto dava uma golada no chope. – Leonardo, eu
tenho visto o Victório.
197
CAROLINA GAIO
198
O (não) lugar do amor
***
- Por isso que o Tucão veio me cobrar uns chopes que “Leo-
nardo e uma garota não pagaram”!
- Ele te cobrou? Que cara de pau!
- A cara de pau não foi dele, né, Leozão?! Isso não pode fi-
car assim – disse Júlio enquanto pegava o celular e começava
a digitar alguma coisa.
- Não precisa disso tudo, eu te pago.
199
CAROLINA GAIO
***
200
O (não) lugar do amor
201
CAROLINA GAIO
ças. – Leonardo percebeu que Júlio riu com gosto, parecia que
a “magricela chatinha” estava subindo no conceito dele.
- Quer dizer que o seu rompimento com Victório foi as-
sim, com ares de poesia?
- Ele sabia que eu terminaria. Disse que o pedido de ca-
samento foi um teste. Nós dois sabíamos que o fim já tinha
acontecido, só demoramos a aceitar. Sabe como é?
- Se sei! – Houve uma pausa e Leonardo ficou tenso, que-
ria falar algo para Júlio no telefone, mas Melissa podia escu-
tar. – Espera. Melissa, isso aconteceu há poucos meses, bem
depois do lançamento do seu livro.
- É, você é mais esperto do que o Leonardo. – Melissa des-
viou o olhar e Leonardo teve a sensação de que ela sabia que
ele estava ouvindo, de alguma forma. Júlio manteve a postu-
ra inquiridora, Melissa sentou-se, parecendo, com esse gesto,
ceder. - Eu estava sem ver o Leonardo há algum tempo, e nós
combinamos de nos reencontrar... Não sei pra quê, nunca nos
demos bem, talvez pressão dos nossos pais em forçar uma
amizade. Devíamos estar com uns 24 anos nessa época...
- Deviam? Você, né?! Leozão ainda era menor de idade,
pelos meus cálculos, 16, certo?
- É. Ele sempre foi alto e sério, sempre tive a sensação de
que era da minha idade. Enfim, ele levou o violão e tocou uma
música linda que ele havia feito pra uma garota de quem
gostava. Eu fiquei balançada com aquilo. Sei que não havia
motivo, mas pensei que a música era pra mim, até chegar ao
refrão em que ele repetia “Fernanda, Fernanda”. Eu me sur-
preendi com como aquilo mexeu comigo. Tentei falar com ele
202
O (não) lugar do amor
203
CAROLINA GAIO
204
O (não) lugar do amor
205
CAROLINA GAIO
206
O (não) lugar do amor
207
CAROLINA GAIO
208
O (não) lugar do amor
210
O (não) lugar do amor
211
RA
ZZ
AH