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Introdução
Desse modo, para aqueles que suas raízes permaneciam no Japão, não
tinha sentido criar ou construir um templo vazio de espírito ou deus protetor. Os
imigrantes passaram a batizar seus filhos na Igreja Católica para obter
benefícios de apadrinhamento, criando laços com os brasileiros, geralmente
pessoas de destaque na sociedade local. Com o passar do tempo e melhora na
situação econômica e financeira, aos poucos retomaram a prática religiosa
japonesa na sua comunidade.
As religiões no Japão
2Na cultura japonesa credita-se que o espírito do falecido continua existindo além do mundo
terrestre. Esses espíritos são cultuados ou consolados através de oferendas e orações e
concedem proteção aos que necessitam. Assim, é frequente avistar na casa dos japoneses os
altares xintoístas ou budistas com as oferendas.
Em relação ao budismo, pode se afirmar que essa religião também se
faz presente na vida dos japoneses de forma bastante significativa. Inicialmente
surgido na Índia, o budismo foi introduzido ao Japão por volta do século V,
sendo que atualmente há teoria que essa religião chegou ao Japão no ano 538
d.C. e, no fim do século VI, apesar de ter pequenos conflitos internos com o
xintoísmo, havia-se difundido por todo o país, inclusive se sincretizando com as
religiões pagãs locais (GORAI, 1984, p. 557).
Handa comenta que isso talvez tenha sido uma forma de manifesto do
sentimento de imigrantes terem encontrado um espírito protetor no túmulo de
um nativo.
4 Torii: portal feito de madeira, construído ao longo da entrada do templo xintoísta. Pode ser de
madeira cru ou pintado de vermelho.
5 No santuário de Oyamazumi, realiza-se cerimonia de boa colheita de arroz no dia cinco de
maio e no dia nove de setembro. Nessas datas, durante a oração, um indivíduo que representa
a comunidade apresenta a luta de sumo contra a divindade imaginária. Para quem fica olhando
a,luta, o homem se move sozinho, até parecendo uma mímica. (INE, 2010).
japonesas após a Segunda Guerra Mundial, fortalecendo os laços da própria
família e da sua comunidade. Os eventos como Natal e Páscoa tomam
posições importantes para reunião de família, ao lado do Ano Novo e Obon, dia
correspondente ao Dia dos Finados cristão.
6 Nikkei: termo utilizado para indicar alguém que pertence a etnia japonesa ou que possua
alguma relação de consanguinidade com o japonês.
7 Oihai é uma tábua da família com formato de uma Sotoba onde está inscrito o nome budista
do falecido. No Japão, quando alguém falece, é comum pedir o monge atribuir ao falecido um
nome post mortem e escreve-lo no oihai, sendo que ao cônjuge sobrevivente, lhe atribui
igualmente o nome porém escrito com tinta vermelha, no verso desta mesma tábua.
oferenda em dinheiro, devidamente acondicionada em envelope e, se muito for
ofertado, nomear mais uma pessoa para fazer a contabilidade. Esta pessoa fica
sentada numa mesa com bilhete na frente escrito “recepção”, recebendo o
dinheiro e anotando os nomes das pessoas que o entregam. Enquanto isso,
algumas pessoas encarregadas de servir chás circulam entre os presentes,
distribuindo a bebida. Depois de encerrado o funeral, com enterro ou cremação,
junta-se todo valor que recebeu como oferenda para pagar parte do custo com
funerária e outras despesas decorrentes do falecimento.
Assim, uma parte das despesas de enterro é coberta com esta doação,
aliviando o custo do funeral que a família do morto despenderia. Na
comunidade japonesa, o dinheiro faz parte da cerimônia do rito de passagem
por morte, podendo ser considerado uma sabedoria que surgiu da necessidade
de auxílio mútuo. Por outro lado, o oferecimento do dinheiro por parte da
comunidade fortalece o pertencimento e laços de cada um dos indivíduos
daquela comunidade, pois a participação de cada um resulta na ajuda aos seus
semelhantes e também na criação da sensação de servir um ao outro a nível
psicológico.
trouxeram o koden, dinheiro que são levados no funeral dentro de um envelope, geralmente
simbolizando a entrega de incenso ou ramo de flores em oferenda.
monge, padre e o pastor, devidamente convidados ao evento para celebrarem
os cultos, principalmente em língua japonesa.
Esses cultos têm sido realizados em língua japonesa sendo que, nos
últimos anos, têm-se observado a presença de brasileiros que não
compreendem a língua japonesa nos cultos, o que é bastante compreensível
visto que os descendentes japoneses de segunda e de terceira geração estão
formando casais interétnicos. Esses brasileiros, embora não tenham a sua
origem a prática religiosa como a do budismo, integram-se aos presentes no
culto e queimam os incensos e cultuam o espírito dos antepassados dos
companheiros.
Considerações finais
Referências
BURAJIRU Nihon imin 80nen shi. Imin 80nen shi hensan iinkai. São Paulo:
Burajiru Nihon Bunka Kyokai, 1991.
CARDOSO, Ruth Corrêa leite. Estrutura familiar e mobilidade social: estudo
dos japoneses no estado de São Paulo. Tradução de Masato Ninomiya. São
Paulo: Primus, 1995.
GORAI, Shigueru. Bukkyô. In: OSHIMA, Takehiko et al. Nihon wo shiru jiten.
Tóquio: Shakai shiso-sha, 1984.
ISHIZUKA, Takatoshi. Izumo shinkô. In: YAMAORI, Tetsuo (Org.). Sekai shukyô
daijiten. Tóquio: Heibon-sha, 1991.
GONOI, Takashi. Kirishitan kinsei. In: YAMAORI, Tetsuo (Org.). Sekai shukyô
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MIYAZAWA, Satoshi. Ise jingu. In: YAMAORI, Tetsuo (Org.). Sekai shukyô
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OCHIAI, Hidekuni. Meiji jingu. In: YAMAORI, Tetsuo, Org., Sekai shukyô
daijiten. Toquio: Heibon-sha, 1991.
SANTOS, Geraldine Alves; DOLL, Johannes; GAUDIOSO, Tomoko Kimura. A
integração cultural do japonês na cultura brasileira: a experiência da Colônia de
Ivoti. Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Porto Alegre, v.1, n. 3, nov. 2003.
Edição especial.