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Questões relativas à interlocução e à circulação nos espaços não institucionalizados

remetem ao sentido e ao legado de 1968.

Se retomarmos mais uma vez Foucault, podemos constatar que ele estava em total sintonia
com o seu tempo político e era até mesmo o sismógrafo de rupturas das quais foi
contemporâneo e de suas possíveis consequências futuras. Sabemos quanto o seu
engajamento era constante e como perseguia as causas mais diversas. Exímio polemista e
sempre irônico, Foucault atribuiu a si a função de "mercador de instrumentos" ( Foucault, 2001a).
Essa boutade é cheia de significados, e enfatiza duas dimensões: a posição do intelectual
que, por ser eventualmente próximo de causas que ele defende, permanece separado da
produção política ("mercador"); e a dimensão estratégica dos saberes nas lutas e
resistências ("instrumentos"). A figura do "intelectual específico", que emergiu no contexto
pós-1968 e foi elevado à condição de um paradigma por Foucault, exerceu alguma
influência sobre a sua formação? De que maneira pode ser vislumbrada em seus trabalhos
recentes?

A maneira pela qual Foucault fala dos "intelectuais específicos" conduz, às vezes, a uma
interpretação equivocada. A expressão designa todos aqueles que não são intelectuais
profissionais e que tomam posição ou se envolvem em lutas em nome de um saber
específico. Não são pesquisadores, nem professores universitários, nem escritores, nem
jornalistas. Essas categorias estão relacionadas com os saberes oficiais e reconhecidos. 

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