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Enunciado: Analise a música de Tom Jobim, "Águas de Março", e dê uma sugestão de atividade em
que a canção possa ser utilizada em um trabalho com artigos definidos e indefinidos.
ÁGUAS DE MARÇO
Tom Jobim É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É pau, é pedra, é o fim do caminho É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É um resto de toco, é um pouco sozinho É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É peroba do campo, é o nó da madeira É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
Caingá, candeia, é o Matita Pereira É um resto de mato, na luz da manhã
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira É uma cobra, é um pau, é João, é José
É a chuva chovendo, é conversa ribeira É um espinho na mão, é um corte no pé
Das águas de março, é o fim da canseira
São as águas de março fechando o verão
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira É a promessa de vida no teu coração
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É o fundo do poço, é o fim do caminho É um belo horizonte, é uma febre terçã
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto São as águas de março fechando o verão
É um pingo pingando, é uma conta é um conto É a promessa de vida no teu coração
Objetivos
O objetivo principal da atividade é trabalhar interpretação de textos com características de fluxo
de consciência 2 e de textos ricos em imagens, com foco especial de levar os alunos a prestarem
atenção ao uso (ou não) de artigos definidos e indefinidos como elementos de construção dessas
imagens. Ao final da atividade, os alunos serão estimulados a escreverem suas descrições de um
momento ou evento (e.g.: festividade, evento cultural ou familiar, uma estação do ano), de um local que
tenha algum significado especial para eles. Assim, além do trabalho prático com um conceito
subjacente, busca-se um exercício de afetividade do estudante com o próprio idioma.
O que se espera
Ao final da atividade, os alunos deverão ser capazes de expressar suas percepções de locais,
eventos ou circunstâncias com suas próprias palavras, usando ou não a estrutura de fluxo de
Avaliação/consolidação da atividade
Não se trata, aqui, de dar “uma nota” ao aluno, mas avaliar os resultados da atividade (avaliação
da atividade em si) e de ajudar os alunos a desenvolverem a sua autopercepção do uso do idioma
(consolidação). Para tanto, serão realizados dois exercícios que serão avaliados:
1. Por que você acha que o autor diz o pé, é o chão, é a marcha estradeira (usando “o
pé” “a mão”, “a marcha”), mas Passarinho na mão, pedra de atiradeira (e não “o
passarinho” e nem “a pedra”)?
2. Por que você acha que ele diz É uma ave no céu, é uma ave no chão e não “a ave
no céu” e “a ave no chão”?
3. Tente reescrever a passagem trocando os artigos “o” e “a” por “um” e “uma”.
Depois tente reescrevê-la omitindo os artigos e inserindo artigos onde não há
(como em Passarinho na mão…). Que diferenças você nota no sentido das frases?
4. Como você relaciona É uma ave no céu, é uma ave no chão com Passarinho na
mão, pedra de atiradeira. Você acha que esta sequência conta uma história? Qual?
Para avaliação deste primeiro exercício, será usada a seguinte “rubrica”c, que será entregue
junto com as questões e explicada aos alunos, para que saibam o que se espera deles (e do exercício):
c - Do inglês rubric, representando um tipo de “checklist” para avaliação de trabalhos escolares ou acadêmicos, dando,
assim, clareza e transparência aos critérios e objetivos da avaliação e do próprio trabalho. O uso deste instrumento permite
que o aluno seja também capaz de avaliar o próprio trabalho e estimar o quanto atingiu ou se aproximou dos objetivos
propostos.
O segundo exercício consistirá na produção de um texto breve pelo aluno, em que este
deverá descrever sua percepção de um local, evento ou momento de um momento ou evento (e.g.:
festividade, evento cultural ou familiar, uma estação do ano), de um local que considere interessante
ou especial por qualquer motivo. Não será preciso explicar o motivo, a intenção é que seja algo que
o aluno queira/ache que vale a pena descrever. Na medida do possível, a atividade deve ser mais do
que apenas “uma tarefa”, mas algo que o aluno de fato tenha vontade de fazer.
Para avaliação deste segundo exercício, será usada a seguinte “rubrica”, que será explicada
aos alunos na proposta da atividade, para que saibam o que se espera deles (e da atividade):
Introdução
Em uma breve conversa com o grupo, conta-se parte da história desta canção, do seu autor e,
no caso de se integrar a atividade com as aulas de música, resgatar o que foi tratado lá.
Como ponto de partida, pode-se também contar a anedota da obra na casa de campo e discutir
algum outro aspecto da canção, relacionado ao interesse dos alunos, supondo que o professor conheça
a turma. Talvez falar da “Matita Pereira”, e perguntar se eles entendem o que são “as águas de março”
que “fecham o verão”.
Pergunta-se quantos alunos conhecem a canção e se tem alguma opinião a respeito.
Em seguida, entrega-se aos alunos a letra da música.
Lê-se a letra junto com os alunos (ou pede-se que se alternem na leitura) esclarecendo-
se o vocabulário e alguns aspectos de significado da letra. Essa etapa pode ser mais ou menos
longa, dependendo do interesse demonstrado pelos alunos e da necessidade/possibilidade de
aprofundamento da análise da letra. A intenção é não entediar os alunos com uma análise que se
torne desinteressante para eles e tampouco inibir sua curiosidade e vontade de discutir e
interpretar o texto, incluindo os aspectos da cultura popular (como o Matita Perêra, a Festa da
Cumeeira).
Dependendo dos recursos disponíveis, mostra-se o vídeo da canção (recomendo muito a
versão em vídeo do dueto da Elis Regina com o Tom Jobim 8) ou toca-se a canção para os alunos.
Em uma abordagem geral da poesia da letra, explica-se brevemente aos alunos o conceito de
“fluxo de consciência” e mostra-se como ele se aplica a este caso, discutindo-se uma ou duas
passagens características. Aproveita-se para mostrar como este tipo de estrutura se presta para a
poesia, porque permite um ritmo sincopado, com facilidade para a produção de frases de tamanhos e
ritmos semelhantes.
Escolhem-se algumas estrofes (a quantidade depende de conhecer a turma e saber estimar
quanto tempo conseguem manter a atenção). O ideal é não se usar a estrofe sobre a qual se baseia o
primeiro exercício. Então, faz-se, junto com os alunos, uma interpretação de cada uma delas,
internamente e no contexto do texto como um todo. Dá-se ênfase no uso (e no não-uso) dos artigos,
mostra-se como as frases ficariam se este uso fosse modificado e que consequências isso teria tanto
para o ritmo do poema (métrica, ritmo, etc) quanto para o significado das frases. Mostra-se
(idealmente “sem dissertar a respeito”, mas com exemplos e pedindo exemplos aos alunos) que o
uso dos artigos pode alterar o sentido do texto e que este uso deve ser consciente e intencional.
Notas e Referências