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Campus Académico de Silves

Escola Superior de Saúde Jean Piaget / Algarve

2010-2011

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR

UNIDADE CURRICULAR - MIE


METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM
EDUCAÇÃO
Prof. Doutor José Alberto Mendonça Gonçalves

TRABALHO INDIVIDUAL

Autonomia de Escolas – celebração de


contratos de autonomia

O Formando

Manuel Costa N.º 44957

27 de Julho de 2010
Índice

Índice ………………………………………………………………………………. i
Lista de quadros ……………………………………………………………………. iii
Introdução ………………………………………………………………………….. 1
1ª Parte - Enquadramento Conceptual ……………………………………………... 2
Capítulo I …………………………………………………………………………... 2
1. Autonomia ………………………………………………………………………. 2
2. Autonomia de Escolas …………………………………………………………... 3
Capítulo II ………………………………………………………………………….. 5
1. Aspectos legais ………………………………………………………………….. 5
2ª Parte – Estudo Empírico ………………………………………………………… 9
Capítulo III – Metodologia ………………………………………………………… 9
1. Natureza do Estudo ……………………………………………………………… 9
2. Campo de Estudo ………………………………………………………………... 10
3. Sujeito de Estudo ………………………………………………………………... 10
4. Objectivos do Estudo ……………………………………………………………. 10
5. Questão de Pesquisa …………………………………………………………….. 11
6. Procedimentos Metodológicos …………………………………………………... 11
6.1. De Recolha de Dados ………………………………………………………….. 11
6.2. De Tratamento de Dados ……………………………………………………… 12
Capítulo IV – Apresentação, Análise e Interpretação de Dados …………………… 14
1. Conceito de autonomia ………………………………………………………….. 15
2. Benefícios da autonomia ………………………………………………………… 15
3. Contrato de autonomia …………………………………………………………... 17
4. Efeitos do contrato de autonomia no combate ao abandono escolar ……………. 18
5. Efeitos do contrato de autonomia na melhoria dos resultados académicos dos
alunos ………………………………………………………………………………. 19
6. Divulgação das medidas contempladas no contrato de autonomia,
nomeadamente aos Encarregados de Educação ……………………………………. 21
7. Implementação do contrato de autonomia ………………………………………. 22
8. Benefícios para o agrupamento …………………………………………………. 25
9. Intenção de renovação do contrato de autonomia ……………………………….. 27
i
10. Alterações a efectuar ao contrato de autonomia, aquando da sua renovação ….. 27
Conclusão ………………………………………………………………………….. 28
Considerações finais ……………………………………………………………….. 30
Bibliografia ………………………………………………………………………… 30
Anexos ……………………………………………………………………………... 33
Anexo I - Guião de entrevista ……………………………………………………… 33
Anexo II - Protocolo da entrevista realizada ………………………………………. 35
Anexo III – Primeiro tratamento dos dados da entrevista …………………………. 45
Anexo IV – Pré-categorização dos dados da entrevista ……………………………. 51
Anexo V - Categorização dos dados da entrevista ………………………………… 58

ii
Lista de quadros

Quadro 1 – Grelha de categorização dos dados da entrevista …………………… 14


Quadro 2 – Definição de autonomia …………………………………………….. 15
Quadro 3 – Organização da escola ………………………………………………. 15
Quadro 4 – Sucesso e abandono escolar ………………………………………… 16
Quadro 5 – Processo de elaboração do contrato de autonomia ………………….. 17
Quadro 6 – Influência do contrato no combate ao abandono escolar …………… 18
Quadro 7 – Medidas tomadas no combate ao abandono escolar ……………….. 18
Quadro 8 – Influência do contrato de autonomia na melhoria dos resultados
académicos dos alunos …………………………………………………………… 19
Quadro 9 – Medidas tomadas para a melhoria dos resultados académicos dos
alunos ……………………………………………………………………………... 19
Quadro 10 – Divulgação das medidas …………………………………………... 21
Quadro 11 – Alterações que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia na
escola, ao nível das áreas disciplinares …………………………………………... 22
Quadro 12 – Alterações que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia na
escola, ao nível do serviço lectivo ………………………………………………... 24
Quadro 13 – Benefícios que o contrato de autonomia trouxe para o
agrupamento ……………………………………………………………………... 25
Quadro 14 – Intenção de renovação do contrato de autonomia …………………. 27
Quadro 15 – Medidas a manter no próximo contrato de autonomia …………….. 27
Quadro 16 – Sugestão de medidas a integrar no próximo contrato de autonomia.. 28

iii
Introdução

Este trabalho foi elaborado no âmbito da unidade curricular de Metodologia de


Investigação em Educação, integrada no Curso de pós-graduação em Administração e
Gestão Escolar.
Ao escolher a autonomia das escolas como tema central deste trabalho, tive
como principal razão o facto de pertencer à direcção de um agrupamento de escolas,
cuja política educativa é regida pelas medidas constantes no contrato de autonomia que
o mesmo celebrou com o Ministério da Educação, no ano lectivo 2007/2008.
Tendo sido membro da equipa que elaborou o contrato, tenho como interesse
particular auscultar professores que leccionam no agrupamento e que, apesar de neste
momento, no seu dia-a-dia lectivo, estarem a aplicar as medidas nele previstas, não
participaram no processo de elaboração do mesmo.
Essa auscultação tem como objectivos conhecer a opinião dessas pessoas sobre:
- conceito de autonomia e a importância desta para o sucesso educativo;

- processo de elaboração e evolução do contrato de autonomia do Agrupamento;

- medidas aplicadas no contrato e seus efeitos no combate do abandono escolar


e quanto à melhoria dos resultados académicos dos alunos;
- propostas de melhoria do contrato de autonomia.
Sendo um estudo de natureza exploratória, utilizarei a entrevista, semi-directiva,
efectuada a uma docente do Agrupamento, como instrumento principal que me
permitirá, espero, atingir os objectivos acima definidos. Assim sendo, quanto à natureza
do mesmo, utilizarei uma metodologia qualitativa/interpretativa.
Este estudo centra-se no quadro conceptual da autonomia, nomeadamente na
celebração de contratos como forma de a viabilizar e como instrumentos para a sua
concretização, no sentido de melhoria de funcionamento das escolas, numa perspectiva,
também, de melhoria dos resultados académicos dos alunos.
Encontra-se organizado em duas partes, após a introdução, constituídas pelo
enquadramento conceptual e pelo estudo empírico, respectivamente. Após as mesmas,
segue-se a conclusão e as considerações finais, bem como a bibliografia consultada e
respectivos anexos.

1
1.ª Parte – Enquadramento Conceptual
Capítulo I
1. Autonomia

A origem etimológica da palavra autonomia é: auto = a si mesmo + "nomos"


que, em grego significa lei, ordem. Um sujeito com autonomia é alguém que decide e
determina, ele mesmo, a lei e a ordem para cada circunstância. Ser autónomo é ser
capaz de tomar as próprias decisões em cada situação da vida.
Autonomia poderá significar independência, isolamento, onde o sujeito assume o
completo poder, ou controlo, em completa oposição ao poder e controlo exercido por
outros. Ser autónomo implica, desta forma, um corte radical e uma ausência total de
qualquer dependência dos outros. No entanto, tal independência e isolamento, como
características principais da autonomia, poderão ser contrariados, na medida em que o
ser humano é “intrinsecamente um ser de relação” (Pinto, 1998, p. 17) e é essa inter-
relação com os outros que lhe permite assumir um maior controlo sobre a sua
aprendizagem (Kerka, 1994; Brookfield, 1993; Long, 1992; Mezirow, 1985). Assim, “a
autonomia acontece quando a gestão das relações que tecem a nossa existência permite
a afirmação do sujeito, nomeadamente na concretização de projectos.” (Pinto, 1998, p.
17).
De acordo com Barroso (1996), conceito de autonomia está ligado à ideia de
autogoverno, onde os sujeitos se regulam por regras próprias. Contudo, isto não é
sinónimo de indivíduos independentes, pois a autonomia é um conceito relacional
(somos sempre autónomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua acção se
exerce sempre num contexto de interdependência e num sistema de relações. A
autonomia é também um conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos
mais, ou menos, autónomos; podemos ser autónomos em relação a umas coisas e não o
ser em relação a outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as
diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio
biológico ou social, de acordo com as suas próprias leis.” (p. 17)
Para outros autores, como Macedo (1991), autonomia pressupõe auto-
organização. “Ao auto-organizarem-se isto é, ao estruturar-se na realização de
objectivos que define o sistema diferencia-se de outros sistemas com quem está em
inter-relação, criando a sua própria identidade. É um sistema autónomo.” (p. 131).

2
Assim, a autonomia pressupõe que se seja capaz de identificar, e assim, se diferenciar
dos outros. Mas esta capacidade de diferenciação só é possível na inter-relação com os
outros. “Quanto mais são as trocas de energia, informação e matéria que um sistema
estabelece com o ‘meio’, maior é a sua riqueza, a sua complexidade, as possibilidades
de construção da autonomia.” (p. 132).

2. Autonomia de escolas

Muitos autores têm escrito sobre autonomia de escolas. Para Macedo (1991: p.
131), a autonomia da escola não é algo adquirido, mas sim algo que se
vai construindo na inter-relação, pois só assim a escola vai criando a sua própria
identidade. Entrando, também, no conceito de autonomia de escolas, Barroso (1995)
observa que este envolve duas dimensões: a jurídico-administrativa, e a socio-
organizacional. A primeira dimensão corresponde à competência que os órgãos
próprios da escola detêm para decidir sobre matérias nas áreas administrativa,
pedagógica, e financeira. Na segunda dimensão “a autonomia consiste no jogo de
dependências e interdependências que uma organização estabelece com o seu meio e
que definem sua identidade.” (Barroso, 1995: p. 3). A autonomia da escola pressupõe,
assim, uma concepção da escola como tendo uma identidade própria onde os diversos
actores interagem entre si. Se é verdade que existe um sistema, são contudo os
diversos actores que interagem na escola que, com as suas possibilidades de escolha,
alteram e criam novas regras, ou seja, também contribuem para a alteração do sistema.
Barroso (1996, 1997), diferencia “autonomia decretada” de “autonomia construída”.
Para ele, é no conceito de autonomia construída que reside a possibilidade de as escolas,
enquanto organizações sociais, mudarem as suas estruturas e as suas práticas, no
respeito por grandes princípios nacionais (comuns ao sistema público nacional de
ensino) e no respeito das suas especificidades locais. O mesmo afasta-se claramente
duma visão estreita que reduz a autonomia das escolas à sua dimensão jurídico-
administrativa. Para os defensores deste ponto de vista (autonomia decretada), a
autonomia existe pelo simples facto de serem decretadas as competências que são
transferidas da administração central e regional para as escolas. Na verdade, como a
experiência tem demonstrado, este tipo de normativos, ainda que consagrassem do
ponto de vista formal-legal a "autonomia da escola" em domínios mais ou menos

3
amplos, foram, por si só, insuficientes para instituírem formas de autogoverno nas
escolas (essência da própria autonomia). Por isso, o desenvolvimento de uma política de
reforço da autonomia das escolas, mais do que "regulamentar" o seu exercício, deve
criar as condições para que ela seja "construída", em cada escola, de acordo com as suas
especificidades locais e no respeito pelos princípios e objectivos que enformam o
sistema público nacional de ensino.
Importa, ainda, ter presente que a "autonomia da escola" resulta sempre da
confluência de várias lógicas e interesses (políticos, gestionários, profissionais e
pedagógicos) que é preciso saber gerir, integrar e negociar. A autonomia da escola não é
a autonomia dos professores, ou a autonomia dos pais, ou a autonomia dos gestores.
Uma das principais medidas da política educativa do Ministério da Educação
traduziu-se, em 1998, na publicação do Regime de Autonomia, Administração e Gestão
dos Estabelecimentos da Educação Pré - Escolar e dos Ensinos Básico e Secundário,
anexo ao Decreto-Lei nº115-A/98 de 04 de Maio. O Regime de Autonomia previsto
neste diploma, logo no seu preâmbulo, definia os princípios do novo quadro da
autonomia das escolas e a descentralização de competências, dos quais se destacavam
três desses princípios:

1. "A autonomia das escolas e a descentralização constituem aspectos


fundamentais de uma nova organização da educação, com o objectivo de
concretizar na vida da escola a democratização, a igualdade de oportunidades e
a qualidade do serviço público de educação".
2. "A escola, enquanto centro das políticas educativas, tem, assim, de construir a
sua autonomia a partir da comunidade em que se insere, dos seus problemas e
potencialidades, contando com uma nova atitude da administração central,
regional e local, que possibilite uma melhor resposta aos desafios da mudança.
O reforço da autonomia (...) pressupõe o reconhecimento de que, mediante
certas condições, as escolas podem gerir melhor os recursos educativos de
forma consistente com o seu projecto educativo.
3. "A autonomia não constitui, pois, um fim em si mesmo, mas uma forma de as
escolas desempenharem melhor o serviço público de educação, cabendo à
administração educativa uma intervenção de apoio e regulação, com vista a

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assegurar uma efectiva igualdade de oportunidades e a correcção das
desigualdades existentes".

Capítulo II
1. Aspectos legais

Em 1976, o Ministério da Educação emitiu legislação que regulava em detalhe


as actividades e funções da escola. O Decreto-Lei n.º 769-A/76 estabelecia a “gestão
democrática” da escola ao definir as estruturas colectivas de decisão eleitas pelos
professores. A estrutura das escolas era composta por três órgãos de gestão: o conselho
directivo, o conselho pedagógico e o conselho administrativo.
O conselho directivo era composto por três a cinco professores, dois
representantes dos alunos – nas escolas secundárias – e um representante do pessoal não
docente. Todos os membros deste conselho eram eleitos pelos seus pares. Nesta altura,
o conselho directivo parecia ter apenas um carácter representativo do poder central, não
tendo praticamente, ou mesmo nenhuma autonomia para decidir.
Na segunda década de 80, do século XX, começa a falar-se de autonomia de
escolas de uma forma mais consistente, começando a ser mais visível, através de
diplomas legais, uma intenção da Administração Central em alterar a forma de gestão
das escolas.
Assim, em 1986, é denunciada a “inadequação dos esquemas de gestão do
ensino superior e não superior, na perspectiva da autonomia das instituições, da
eficiência e da participação dos agentes educativos” (Plano Global de Actividades da
Comissão da Reforma do Sistema Educativo, 1986). Mediante esse diagnóstico, é
proposta a “implementação de medidas políticas de efectiva descentralização da
administração e a consagração legal e regulamentação do princípio da autonomia
relativas das escolas e centros no domínio administrativo e financeiro”.
No mesmo ano, é aprovada a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46//86,
de 14 de Outubro) que, para além de defender uma maior autonomia para as escolas e a
descentralização das decisões e procedimentos no que diz respeito ao sistema educativo,
proclamava um maior envolvimento da comunidade. Esta lei continuava a apoiar o
mesmo modelo de gestão colegial apesar de reconhecer a necessidade de formação
específica para a gestão educacional (Costa, 2004: 2).
5
Em 1989, é publicado o decreto-lei nº 43/89, que “estabelece o regime jurídico
da autonomia da escola e aplica-se às escolas oficiais dos 2º e 3º ciclos do ensino básico
e às do ensino secundário” (art. 1º). Mais conhecido por decreto da autonomia, refere
que “a autonomia da escola concretiza-se na elaboração de um projecto educativo
próprio, constituído e executado de forma participada” (preâmbulo). Desta forma, o
projecto educativo tem um papel importante na concretização da autonomia da escola.
Convém referir que projecto educativo não é sinónimo de autonomia, mas sim
expressão da autonomia da escola (Madeira, 1995; Macedo, 1991). Deve, por isso, levar
a escola a ser capaz de se identificar e de se relacionar com o meio em que está inserida.
Segundo Tripa (1994) “para que o Projecto Educativo possa responder às necessidades
reais da escola, têm de se colocar as questões: onde estamos?; quem somos?” (p. 62).
No entanto, este diploma, “não passa, no essencial, de uma declaração de intenções
gerais sobre a necessidade de as escolas desenvolverem um “projecto educativo” e de
um inventário de atribuições e contribuições avulsas que, nuns casos, já correspondiam
à prática corrente da administração das escolas, e que, em outros casos, eram
irrealizáveis por falta de meios (Barroso, 2004: p.57). A juntar a isso, além de não
abranger as escolas do primeiro ciclo e os jardins-de-infância, inicialmente, foi aplicado
num número restrito de escolas, sendo, posteriormente, “alargado a todas as escolas do
2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário, a partir do ano lectivo 1990/91”
(Barroso, 2004: p.57).
Oito anos após a publicação do Decreto-lei n.º 43/89, de 3 de Fevereiro, o
decreto-lei n.º 172/91, de 10 de Maio, considera, no seu preâmbulo, que “a gestão
democrática dos estabelecimentos dos ensinos básico e secundário constitui uma
referência importante na evolução da escola portuguesa. Os princípios de participação e
de democraticidade que a inspiram alteraram profundamente as relações no interior da
escola, favoreceram a sua abertura à mudança e despertaram nos professores novas
atitudes de responsabilidades.” Apelando à necessidade de alteração dos modelos de
gestão vigentes, de modo a satisfazerem as exigências na altura definidas, pressupõe
uma inserção da escola na estrutura da administração educacional que obriga à
transferência de poderes de decisão para o plano local. O diploma “define um modelo
de direcção e gestão que, nas suas linhas conceptuais, é comum a todos os
estabelecimentos de educação e de ensino, mas que se concretiza em modalidades
específicas. Introduz o conceito de área escolar para os estabelecimentos de educação
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pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico, com a dupla acepção pedagógica e
administrativa, permitindo agregar lugares de mono docência destes níveis educativos e
respondendo já à estrutura da nova rede escolar prevista. O diploma concretiza os
princípios de representatividade, democraticidade e integração comunitária”
(Preâmbulo).
Em 1998, com a aprovação do Decreto-lei n.º 115-A/98, a autonomia das
escolas, ou pelo menos a intenção de que a mesma seja uma realidade consistente,
assume uma preponderância nunca antes verificada nos diplomas anteriores. Este foi um
diploma ousado, tanto pela sua originalidade, como pelo seu alcance.
São várias inovações dignas de realce: é permitido às escolas (ou agrupamentos
de escolas) aprovar as suas próprias normas de organização, dentro do quadro da lei, e
definir até os direitos e deveres dos membros da comunidade escolar; prevê-se a
celebração de “contratos de autonomia” entre as escolas e a administração educativa;
reafirma-se e aprofunda-se a democracia escolar através da existência de uma
assembleia da escola, composta por representantes de todas as categorias que compõem
a comunidade escolar, nomeadamente os professores e o pessoal não docente, os alunos
(no ensino secundário), os pais e encarregados de educação e os municípios; estes
últimos estão representados na assembleia da escola e participam, juntamente com o
Estado, na negociação e celebração do contrato de autonomia com a escola; a escola
deixa de ser concebida simplesmente como estabelecimento público estadual, para
passar a ser percebida como instrumento institucional de uma “comunidade educativa”
que transcende o Estado, composta pelos agentes e destinatários da escola e passam a
beneficiar de um estatuto de auto-administração, em que as comunidades educativas se
governam a si mesmas (Conferência Fundação Gulbenkian, 2007).
Cada escola passa a ser um caso singular, seja por via do seu “regulamento
interno”, seja por efeito da definição do seu “projecto educativo”, seja finalmente por
efeito do contrato de autonomia. A diferenciação escolar, que pode ir ao ponto da
diferenciação curricular, constitui um dos efeitos mais importantes do regime da
autonomia.
Com a publicação do Decreto-lei 115-A/98, o principal instrumento da
geometria variável das escolas, sendo facultativo, passa a ser o “contrato de autonomia”
e abrange o aspecto curricular, financeiro e de gestão do pessoal das escolas.

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Dez anos após, o Governo publica o Decreto-lei n.º 75/2008, de 22 de Abril,
que, hoje em dia é o diploma que rege a organização das escolas em Portugal. No seu
preâmbulo, é assumida a “necessidade de revisão do regime jurídico da autonomia,
administração e gestão das escolas no sentido do reforço da participação das famílias e
comunidades na direcção estratégica dos estabelecimentos de ensino e no favorecimento
da constituição de lideranças fortes”. Com este diploma, pretende-se ainda “reforçar a
autonomia e a capacidade de intervenção dos órgãos de direcção das escolas para
reforçar a eficácia da execução das medidas de política educativa e da prestação do
serviço público de educação” (Preâmbulo).
É instituído um órgão de direcção estratégica (conselho geral) em que têm
representação o pessoal docente e não docente, os pais e encarregados de educação (e
também os alunos, no caso dos adultos e do ensino secundário), as autarquias e a
comunidade local, nomeadamente representantes de instituições, organizações e
actividades económicas, sociais, culturais e científicas. É este que aprova “as regras
fundamentais de funcionamento da escola (regulamento interno), as decisões
estratégicas e de planeamento (projecto educativo, plano de actividades) e o
acompanhamento da sua concretização (relatório anual de actividades). Além disso, é-
lhe atribuída a capacidade de eleger e destituir o director, que por conseguinte lhe tem
de prestar contas.
A gestão administrativa, financeira e pedagógica passa a ser função de um órgão
unipessoal, centrado na pessoa do director a quem, apesar de coadjuvado por um
subdirector e um pequeno número de adjuntos, serão assacadas as responsabilidades
pela prestação do serviço público de educação e pela gestão dos recursos públicos
postos à sua disposição.
Como foi referido anteriormente, o Decreto-lei n.º 75/2008 tem, também, como
objectivo principal, o reforço da autonomia das escolas. No entanto, no seu preâmbulo,
ressalva que “convém considerar que a autonomia constitui não um princípio abstracto
ou um valor absoluto, mas um valor instrumental, o que significa que do reforço da
autonomia das escolas tem de resultar uma melhoria do serviço público de educação. É
necessário, por conseguinte, criar as condições para que isso se possa verificar,
conferindo maior capacidade de intervenção ao órgão de gestão e administração, o
director, e instituindo um regime de avaliação e de prestação de contas. A maior
autonomia tem de corresponder maior responsabilidade.” Essa autonomia é facultada
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através da possibilidade que é dada às escolas de criarem as suas próprias estruturas de
orientação pedagógica e de as fazerem representar nos respectivos conselhos
pedagógicos. Neste domínio, o diploma apenas “estabelece um enquadramento legal
mínimo, determinando apenas a criação de algumas estruturas de coordenação de 1.º
nível (departamentos curriculares) com assento no conselho pedagógico e de
acompanhamento dos alunos (conselhos e directores de turma) ” (Preâmbulo).
Quanto à possibilidade de transferência de competências, o regime jurídico
aprovado pelo presente decreto-lei mantém o princípio da contratualização da
autonomia, estabelecendo os princípios fundamentais, mas flexibilizando e deixando
para regulamentação posterior os procedimentos administrativos. A associação entre a
transferência de competências e a avaliação externa da capacidade da escola para o seu
exercício constitui um princípio fundamental.

2.ª Parte – Estudo empírico


Capítulo III – Metodologia

1. Natureza do estudo

De forma a melhor atingir os objectivos propostos neste trabalho, é realizado um


estudo descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa, pois esta faculta maior
aproximação com o quotidiano e as experiências vividas pelos próprios sujeitos
(Minayo, 1993). Pretende-se com o mesmo aferir, através de entrevista, se a celebração
de Contratos de Autonomia entre o Ministério da Educação e as escolas/agrupamentos,
e todas as medidas neles aplicadas, será uma forma eficaz de fomentar o sucesso
educativo, nomeadamente na melhoria dos resultados académicos, e diminuir o
abandono escolar.
Como referido anteriormente, a entrevista é o instrumento base deste estudo.
Com a mesma, procura-se instaurar, segundo Quivy e Campenhoudt (1998, p.192),
“uma verdadeira troca, durante a qual o interlocutor do investigador exprime as suas
percepções de um acontecimento ou de uma situação, as suas interpretações ou as suas
experiências, ao passo que, através das suas perguntas abertas e das suas reacções, o
investigador facilita essa expressão, evita que ela se afaste dos objectivos da
investigação e permite que o interlocutor aceda a um grau máximo de autenticidade e de

9
profundidade”. Será do tipo individual (entrevistador e entrevistado), de natureza
semidirectiva, no sentido em que, de acordo com Quivy e Campenhoudt (1998, p.192),
“não é inteiramente aberta nem encaminhada por um grande número de perguntas
precisas”.

2. Campo de estudo

Este estudo foi realizado num Agrupamento Vertical de Escolas do Algarve que,
se encontra em processo de implementação de um contrato de autonomia, celebrado
entre o mesmo e o Ministério da Educação, em 2007. É composto por uma escola
E.B.2,3, quatro escolas E.B.1, dois jardins-de-infância e uma antiga escola E.B.1,
entretanto reaberta, para funcionamento de um curso PIEFF.

3. Sujeito de estudo

Relativamente ao sujeito de estudo, o mesmo é uma professora que se encontra a


leccionar no referido Agrupamento. É professora do 2.º Ciclo do Ensino Básico, e
lecciona a disciplina de Educação Visual e Tecnológica. Acumula o cargo de
coordenadora do Departamento de Educação Artística e Tecnológica. Foi seleccionada
para sujeito deste estudo por ser uma docente que conhece o Agrupamento ante e pós
implementação do contrato de autonomia, tendo, também, acompanhado todo o
processo de elaboração e negociação do mesmo, até à sua efectiva aplicação.

4. Objectivos do estudo

O principal objectivo deste estudo é aferir se a celebração de Contratos de


Autonomia entre o Ministério da Educação e as escolas/agrupamentos, e todas as
medidas neles aplicadas, será uma forma eficaz de fomentar o sucesso educativo,
nomeadamente na melhoria dos resultados académicos, e diminuir o abandono escolar.
Tem como outros objectivos gerais:
• Conhecer a representação do entrevistado sobre o conceito de autonomia e a
importância desta para o sucesso educativo;
• Conhecer os processos de elaboração e evolução do contrato de autonomia do
Agrupamento;

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• Identificar medidas aplicadas e os seus efeitos no combate do abandono escolar e
quanto à melhoria dos resultados académicos dos alunos;
• Identificar propostas de melhoria do contrato de autonomia.

5. Questão de pesquisa

Será a celebração de Contratos de Autonomia, e todas as medidas neles


aplicadas, uma forma eficaz de fomentar o sucesso educativo, nomeadamente na
melhoria dos resultados académicos, e diminuir o abandono escolar?

6. Procedimentos metodológicos
6.1. De recolha de dados

A definição de Análise Documental tem sido exposta por diferentes


investigadores e estudiosos do tema. Contudo, diferentes matizes e aspectos centrais
tem prevalecido ao longo de algumas décadas. Vickery (1970) refere que esta técnica
responde a três necessidades informativas dos utilizadores, sendo estas (i) conhecer o
que os outros investigadores têm feito sobre uma determinada área/assunto; (ii)
conhecer segmentos específicos de informação de algum documento em particular; e
(iii) conhecer a totalidade de informação relevante que exista sobre um tema específico.
Para Carmo & Ferreira (1998) a análise documental é um processo que envolve
selecção, tratamento e interpretação da informação existente em documentos (escrito,
áudio ou vídeo) com o objectivo de deduzir algum sentido. No processo de investigação
é necessário que o investigador recolha informação de trabalhos anteriores, acrescente
algum valor e transmita à comunidade científica para que outros possam fazer o mesmo
no futuro. Trata-se, portanto, de estudar o que se tem produzido sobre uma determinada
área para poder “introduzir algum valor acrescido à produção científica sem correr o
risco de estudar o que já está estudado tomando como original o que já outros
descobriram.” (Carmo & Ferreira, 1998:59).
A técnica da análise documental, pode caracterizar-se, assim, por ser um
processo dinâmico ao permitir representar o conteúdo de um documento de uma forma
distinta da original, gerando assim um novo documento (Piña Vera & Morilla, 2007).

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Coutinho et all. (2009) referem como dados primários àqueles que a própria
investigação produz, por exemplo, os dados recolhidos através da aplicação de uma
entrevista ou questionário. Os dados secundários são definidos como as informações já
produzidas que o investigador recolhe, ou seja, não há a influência do investigador
sobre a fonte de informação. Assim, os autores enfatizam que todo o acto de
investigação é necessário pensar sobre as formas de recolher as informações que a
própria investigação vai proporcionando ou de recolher informação já produzida.
Quivy & Campenhoudt (1992: 201) utilizam o termo “recolha de dados
preexistentes”, onde se pode enquadrar a análise documental. Estes, referem que o
investigador pode recolher dados para estudá-los por si próprios ou para encontrar
informações úteis para estudar outros objectos. Estes documentos podem ser
manuscritos, impressos ou audiovisuais, oficias ou públicos, privados ou de algum
organismo, contendo texto ou números.
Enquadrada nos diversos paradigmas de investigação - qualitativo, quantitativo e
misto -, segundo Quivy & Campenhoudt (1992), a análise de documentos é
especialmente importante na análise de (i) fenómenos macro sociais, demográficos e
socioenonómicos; (ii) mudanças sociais e do desenvolvimento histórico; (iii) mudanças
a nível organizacional; e (iv) ideologias, sistemas de valores e da cultura.
No caso concreto do presente estudo, o processo iniciou-se com a elaboração do
guião da entrevista /(ANEXO I), que serviu de base à entrevista propriamente dita. Com
o guião elaborado, a pessoa a entrevistar foi contactada e esclarecida sobre todos os
aspectos que rodeavam o estudo. Acedendo em colaborar, procedeu-se, então à
marcação da entrevista que, dias mais tarde teve lugar, na escola sede do agrupamento
em que a mesma lecciona.
Efectuada a entrevista, gravada com a autorização da entrevistada, a mesma foi
transcrita e, posteriormente, apresentada, já em texto, à mesma, sob a forma de
protocolo (ANEXO II), para que a validasse, para posterior tratamento de dados.

6.2. De tratamento de dados

A análise de conteúdo é um dos instrumentos de recolha de dados a que a técnica


de análise documental mais recorre e, neste estudo, foi o instrumento utilizado para
tratamento da entrevista que foi realizada.

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A análise de conteúdo é um instrumento que permite o investigador estudar o
comportamento humano de forma indirecta, através da análise das suas comunicações.
Geralmente são analisados os conteúdos escritos de uma comunicação, mas, por
exemplo, uma imagem ou um som podem ser foco de uma análise de conteúdo
(Fraenkel & Wallen, 2008). Periódicos, artigos, filmes, músicas, grafitti, fotos, objectos
de artesanato, enfim, uma série de espécies de comunicações que reflectem o
comportamento humano pode ser alvo de uma análise de conteúdo.
Genericamente Denscombe (1998) caracteriza este instrumento como um
recurso que ajuda o investigador a analisar o conteúdo de documentos, podendo ser
aplicado em qualquer conteúdo de comunicação, reproduzida através de escrita, som ou
imagem.
Focado sobre os objectivos do estudo e do quadro de referência teórico, a
Análise de Conteúdo é realizada através de uma série de etapas. Com base nos autores
Bardin (2004), Carmo & Ferreira (1998) e Pardal & Correia (1995), estabelece-se as
seguintes fases:
1. Definição de categorias para separar os dados observáveis;
2. Definição de unidades de análise;
3. Distribuição das unidades de análise pelas categorias anteriormente
estabelecidas;
4. Interpretação dos resultados obtidos nas perspectivas qualitativas e/ou
quantitativas.
Assim, após leitura flutuante do protocolo da entrevista, foi efectuado o primeiro
tratamento da entrevista (ANEXO III), onde foram retiradas todas as questões e
deixadas apenas as respostas com a informação considerada necessária para a
prossecução dos objectivos do presente estudo.
Em seguida, foi efectuada a pré-categorização dos dados da entrevista, de forma
a dividir a informação constante no primeiro tratamento da entrevista em unidades de
sentido (ANEXO IV).
Posteriormente, foi efectuada a categorização dos dados da entrevista (ANEXO
V) e respectiva grelha, abaixo apresentada (Quadro 1), de maneira a enquadrar toda a
informação em unidades de sentido que correspondessem e fossem ao encontro dos
objectivos definidos no presente estudo.

13
Quadro 1 – Grelha de categorização dos dados da entrevista

Temas Categorias Subcategorias

1.1. Conceito de autonomia 1.1.1. Definição

1.2.1. Organização da
escola

1. Autonomia 1.2.2. Sucesso escolar


1.2. Benefícios da autonomia
1.2.3. Abandono escolar

1.2.4. Áreas
disciplinares/alunos

2.1.1. Participação
2. Contrato de autonomia 2.1. Processo de elaboração
2.1.2. Procedimentos

3.1.1. Influência
3.1. Abandono escolar
3.1.2. Medidas

3. Efeitos do contrato de autonomia 3.2.1. Influência

3.2. Resultados académicos 3.2.2. Medidas

3.2.3. Divulgação

4.1.1. Áreas disciplinares


4.1. Influência no dia-a-dia na
Escola/Sala de aula
4.1.2. Serviço lectivo
4. Implementação do contrato de
4.2. Benefícios decorrentes para o
autonomia 4.2.1. Recursos humanos
Agrupamento

4.3. Renovação do contrato de


4.3.1. Intenção
autonomia

5.1.1. A manter
5. Alterações ao contrato de
5.1. Sugestão de medidas
autonomia
5.1.2. A integrar

Capítulo IV – Apresentação, análise e interpretação dos dados


De acordo com os dados recolhidos na entrevista e após tratamento e
categorização dos mesmos, no presente capítulo, proceder-se-á à sua respectiva
apresentação, análise e interpretação.

14
1. Conceito de autonomia

A entrevistada, de acordo com a sua experiência e conhecimento sobre a


temática, apresenta o seu conceito de autonomia (Quadro 2).

Quadro 2 – Definição de autonomia

(…) a autonomia numa escola, portanto, é, a meu ver (…) o poder que é dado pelo
Ministério da Educação às escolas em determinados campos. (…)
(…) nomeadamente no campo (…) pedagógico (…)
(…) a nível administrativo
(…) financeiro (…)
(…) de organização (…)
(…) e de estratégias a adoptar dentro do Agrupamento. (…)

Através da análise deste quadro, pode-se inferir que, para o entrevistado a


autonomia abrange vários domínios, não se cingindo apenas ao pedagógico, mas
também ao administrativo, financeiro e organizativo. O entrevistado demonstra, assim,
possuir um conhecimento generalizado sobre toda uma organização de escola e todas as
áreas que poderão ser alvo de adaptações num contexto de implementação de um
contrato de autonomia.

2. Benefícios da autonomia

No âmbito do conceito de autonomia e da organização das escolas, os dados


apresentados nos próximos quadros (Quadro 3 e 4) poderão ajudar a perceber, de uma
forma genérica, até que ponto a autonomia é benéfica para as escolas, tanto na sua
organização como na contribuição que a mesma poderá ter para o aumento do sucesso
escolar e o combate ao abandono escolar.

Quadro 3 – Organização da escola

[Se a autonomia, em termos genéricos, é boa para a escola] É assim: para mim é
um pouco complicado responder a isso… eu vou-te explicar porquê… (…)
(…) eu dou aulas há quinze anos… (…)
(…) já havia muitas coisas que se faziam nesta escola que não se faziam noutras
(…)
(…) o contrato de autonomia, realmente, veio a permitir-nos fazer uma série de

15
coisas (…)
(…) não consigo distinguir muito bem o que é que nós estamos a fazer actualmente
que, realmente, é a proposta do contrato de autonomia, ou que tem a ver com a
própria legislação em vigor (…) Tenho, às vezes, uma certa dificuldade em
perceber realmente (…) essa diferença.
(…) esta escola sempre foi um pouco diferente e sempre andou muito à frente (…)
Claro que o contrato de autonomia oficializou (…) aquilo que nós já pretendíamos
fazer (…)
(…) De resto, vejo isto com muito bons olhos. (…)
De resto, parece-me que estamos no bom caminho.

Relativamente aos benefícios que a autonomia traz para o funcionamento da


escola, nomeadamente na sua organização, percebe-se que a mesma, pela experiência
que a entrevistada tem em termos de docência, apesar de importante, em alguns campos,
apenas veio oficializar muitas das medidas que já eram implementadas anteriormente,
derivado de, segundo ela, a escola onde lecciona, ser um pouco diferente das outras. Daí
as dificuldades, por vezes sentidas, em distinguir o que são as medidas que, por força
dessa autonomia, foram implementadas e quais as que já existiam, por livre iniciativa da
escola, antes da autonomia. Desta interpretação, surge, ainda nesta fase inicial, uma
questão: se a escola já implementava medidas que a distinguia das outras escolas e se a
entrevistada denota alguma dificuldade em distinguir o que era feito antes da autonomia
e o que é feito agora, será, então, necessária a implementação de contratos de autonomia
para que as escolas possam adoptar medidas “arrojadas” que as distingam umas das
outras?
Pode também perceber-se que, apesar de um ou outro aspecto negativo que
possa advir da implementação da autonomia, a opinião da entrevistada em relação à
autonomia nas escolas, bem como à sua implementação é positiva.

Quadro 4 – Sucesso e abandono escolar

(…) acho que o contrato de autonomia (...) embora vá tocar em vários campos, mas
o campo principal e que pretende o grande objectivo, é melhorar o insucesso escolar
dos alunos (…)
(…) fazer com que eles continuem na escola, portanto, também melhorar o
abandono escolar (…) que eles não abandonem tanto.

16
O combate ao insucesso e ao abandono escolar são, como se pode constatar
pelas afirmações da entrevistada, os principais objectivos do contrato de autonomia,
apesar de as medidas previstas no mesmo abarcarem várias áreas do funcionamento da
escola.

3. Contrato de autonomia

Neste ponto, através da informação apresentada no quadro abaixo (Quadro 5),


tenta-se compreender de que modo foi elaborado o contrato de autonomia, mais
concretamente ao nível dos intervenientes e dos procedimentos adoptados.

Quadro 5 – Processo de elaboração do contrato de autonomia

[Como decorreu o processo de elaboração do contrato de autonomia e quais os seus


intervenientes] Foi uma fase muito complicada. Foi uma fase muito dolorosa mesmo,
aqui no Agrupamento.

(…) muito trabalho (…)

(…) eu não sei como é que o contrato de autonomia foi desenvolvido noutros
Agrupamentos e noutras escolas (…) Mas eu sei que aqui foi um trabalho
extremamente partilhado.

Partilhado entre quem? (…) entre vários elementos da comunidade educativa (…)
tentámos, acho eu, por aquilo que me apercebi, quem estava a elaborar o contrato,
tentou (…) ir a vários sítios, a realidades diferentes, para em primeiro lugar perceberem
como é que as coisas funcionavam nos outros sítios (…)

(…) depois cá dentro, todas as decisões que eram propostas eram sempre muito
discutidas e muito debatidas.

E claro que isto é um processo muito complicado. (…)

Porque vinha do Conselho Pedagógico, ou vinha da própria equipa que estava a


elaborar o contrato de autonomia e descia aos departamentos.

Os departamentos, por sua vez, emitiam o seu parecer (…) Que, às vezes, não era em
consenso com aquilo que se propunha.

Logo, subia (…) E depois estou a falar do meu departamento, (…) que já somos
muitos, não é?... Já são muitas pessoas, que já existem muitas opiniões divergentes…

Com os outros departamentos todos, quando nos voltávamos a juntar, novamente uma
discussão, porque mais uma vez, todos os departamentos, nem todos tavam de acordo
(…)

(…) Isto é muito complicado de gerir (…) daí o nosso nono contrato de autonomia (…)
17
Nona proposta…

É simples concluir, através das declarações da entrevistada, que todo o processo


de elaboração do contrato de autonomia, no agrupamento em que a mesma lecciona, foi
“extremamente partilhado”. Apesar de ter sido constituída uma equipa para elaborar o
contrato, que tentou conhecer variadas realidades, as estruturas de orientação
pedagógica do agrupamento, tais como o Conselho Pedagógico e os Departamentos
Curriculares não foram deixadas de parte e a sua opinião foi tida em conta, num
processo muito complicado de gestão de opiniões muito variadas e divergentes. Deduz-
se ainda que terá sido um processo moroso, uma vez que todas as propostas foram
analisadas e reanalisadas, tendo percorrido, as mesmas propostas, mais do que uma vez,
as estruturas de orientação pedagógica do agrupamento e resultado em nove versões
diferentes do contrato.

4. Efeitos do contrato de autonomia no combate ao abandono escolar


Já no âmbito da implementação propriamente dita do contrato de autonomia,
tenta-se esclarecer, através dos quadros seguintes (Quadros 6 e 7), até que ponto as
medidas contempladas no mesmo contribuem para a diminuição do abandono escolar no
Agrupamento, bem como quais as medidas que o mesmo tomou, através do contrato,
para que esse contributo fosse eficaz.

Quadro 6 – Influência do contrato no combate ao abandono escolar


(…) haver menos abandono escolar (…)

As declarações proferidas pela entrevistada, apesar de curtas e directas, são um


pouco vagas, levando, no entanto, a deduzir, que o abandono escolar tem vindo a
diminuir desde a implementação do contrato de autonomia.

Quadro 7 – Medidas tomadas no combate ao abandono escolar

[Tipo de apoios prestados aos alunos] (…) eu acho que (…) também devido ao
contrato de autonomia e das condições que nós temos de gerir tudo isto, tem-se feito
um excelente trabalho relativamente ao apoio a dar aos alunos. (…)

18
(…) os alunos neste Agrupamento são extremamente apoiados. Eles têm apoios a tudo.
(…)

(…) nós também tínhamos muitos alunos a abandonar a escola, sem lhes poder dar
uma, outra, uma opção. (…) neste momento, temos sempre uma saída para o aluno.
(…)

As medidas contempladas no contrato de autonomia que, de certa forma, contribuíram


para a diminuição do abandono escolar centram-se, essencialmente na oferta a
proporcionar aos alunos, nomeadamente ao nível dos apoios e opções a apresentar-lhes.

5. Efeitos do contrato de autonomia na melhoria dos resultados


académicos dos alunos

Nos quadros apresentados abaixo (Quadros 8 e 9), no seguimento do ponto 4,


tenta-se perceber se o contrato de autonomia e as medidas que do mesmo derivam
influem na melhoria dos resultados académicos dos alunos e, ao mesmo tempo,
identificar essas medidas.

Quadro 8 – Influência do contrato de autonomia na melhoria dos


resultados académicos dos alunos

[Se o contrato de autonomia está a ter repercussões nos resultados académicos dos
alunos] (…) continuo no Conselho Pedagógico e nós fazemos a monitorização de todo
o processo de avaliação.

(…) fazemos tratamento estatístico de todos os dados relativos à avaliação e


conseguimo-nos aperceber que realmente está a haver uma evolução do sucesso pleno
por aluno (...)

Através da monitorização da avaliação dos alunos, por parte do Conselho


Pedagógico, é possível, segundo a entrevistada, perceber se os resultados escolares dos
mesmos estão a registar uma evolução positiva. De acordo com a mesma, conclui-se
que o sucesso escolar está a subir no agrupamento onde lecciona.

Quadro 9 – Medidas tomadas para a melhoria dos resultados académicos dos


alunos

19
(…) por vezes, pode-se pensar que nós estamos a facilitar (…) E não estamos (…) de
forma nenhuma.

(…) alterámos os critérios de progressão, nesta escola são diferentes das outras, à
excepção do nono ano.

(...) Os alunos aqui têm, têm que trabalhar mais (…)

(...) Mais apertados. (...)

(...) E considero uma medida benéfica… (...)

(...) Porque eu acho que não é importante o aluno passar com muito boas notas, quando
isso, depois, não corresponde, realmente, às suas capacidades, ou seja, o aluno chega a
uma secundária, passou com excelentes notas, porque (…) o ensino foi mais
facilitador, mas depois não tem ferramentas (…) destreza suficiente, não leva
competências para se aguentar numa secundária (…)

(…) aqui, acho que somos rigorosos, aumentámos o rigor, muito a nível das disciplinas
mais importantes, portanto, Língua Portuguesa e Matemática, mas também noutras
disciplinas.

(…) nós não exigimos apenas que eles melhorassem (…)

(…) não começámos a ser exigentes sem dar condições. (…)

(…) Nós demos ferramentas de trabalho (…)

(…) exigimos sim, mas também demos. (…)

(…) os Conselhos de Ano desenvolveram todos os esforços e mais alguns para que o
aluno progrida. Se ele não progride, ou é porque ele realmente não tem competências,
então é bom que ele as volte (…) a ter (…) A desenvolver, para as adquirir (…) de uma
forma sólida e eficaz, ou então (…) fica retido, pronto. (…)

(…) Não vale a pena passar só por passar. (…)

A exemplo do ponto quatro, as medidas implementadas no contrato de


autonomia que visam melhorar os resultados académicos dos alunos, centram-se neles
mesmos, ou seja, no seu trabalho e nos apoios a prestar-lhes. Tentando sempre dar as
melhores condições possíveis aos alunos, nomeadamente através dos Conselhos de Ano,
aumentou-se o grau de exigência. A alteração dos critérios de progressão é prova disso,
uma vez que os mesmos são diferentes dos existentes nas outras escolas. Segundo a
entrevistada, são mais apertados e exigem que os alunos se esforcem mais, no sentido
20
de não só atingirem melhores resultados como adquirirem as ferramentas de que
necessitam para enfrentarem o ensino secundário com segurança e consistência.

6. Divulgação das medidas contempladas no contrato de autonomia,


nomeadamente aos Encarregados de Educação

Neste ponto, esclarece-se qual e de que modo é feita a divulgação das medidas
contempladas no contrato de autonomia, mais concretamente aos encarregados de
educação dos alunos que frequentam o agrupamento. As informações contidas no
quadro seguinte (Quadro 10) contribuirão para isso.

Quadro 10 – Divulgação das medidas

[Divulgação das medidas contempladas no contrato de autonomia, nomeadamente aos


Encarregados de Educação] (…) temos feito também, uma excelente sensibilização a
nível de encarregados de educação. (…)
(…) estão plenamente conscientes dos critérios de progressão, dos critérios de
avaliação, dos instrumentos de avaliação (…)
(…) o processo aqui nesta escola, todo ele, é muito transparente (…)
(…) publicitamos na página da escola (…)
(…) temos o Boletim Informativo que sai regularmente (…) em cada período e que dá
essas informações aos encarregados de educação (…)
(…) só o encarregado de educação (…) que não esteja bem informado é que (…) pode
dizer que nós aqui somos exigentes, ou queira mudar o seu educando para outra escola,
porque de resto não me parece, de todo (…)
(…) mas é assim: nós não podemos mandar na vontade dos pais. É a vontade deles que
prevalece (…)
(…) e há pais que (…) tão-se pouco importando se o filho realmente sai com
competências adquiridas, ou se chumba. (…) eles não querem é que o filho reprove.
(…)
(…) eles querem é que ele passe, independentemente de ter competências ou não. (…)
(…) não é isso que nós pretendemos. O aluno aqui passa se tiver competências. (…) se
não tiver, fica mesmo retido (…)

21
Pela leitura dos dados constantes no quadro acima (Quadro 10), percebe-se que
há um esforço do agrupamento na tentativa de que os encarregados de educação sejam
parte integrante no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. A divulgação, sob
diversos meios (Web, Boletim Informativo), das medidas tomadas no contrato de
autonomia é uma realidade, procurando esclarecer os encarregados de educação sobre as
mesmas, para que estes compreendam o grau de exigência implícito em todo o processo
e possam decidir se é o que pretendem para os seus educandos, cabendo-lhes, depois,
tomar a decisão sobre a continuidade, ou não, dos mesmos no agrupamento.

7. Implementação do contrato de autonomia

Este ponto contempla a implementação do contrato de autonomia propriamente


dita e, mais concretamente, qual a influência das suas medidas no dia-a-dia da
escola/sala de aula. As informações contidas no quadro abaixo (Quadro 11) demonstram
essa influência ao nível das áreas disciplinares.

Quadro 11 – Alterações que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia na escola,


ao nível das áreas disciplinares

[Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia


da escola, ao nível das áreas disciplinares] E eu sou defensora de que é muito
importante a Língua Portuguesa, é muito importante a Matemática, mas, para mim, a
minha área disciplinar, portanto, a área artística (...) A educação pela arte, pra mim,
acho que é tão importante como (…)

(…) Há quem defenda que o importante é a Matemática e a Língua Portuguesa. Eu


acho que a outra é tão importante como (…)

[Áreas que, ao abrigo do contrato de autonomia e de acordo com as medidas previstas


no mesmo, foram reforçadas] E daí eu ter sempre defendido que havia necessidade,
também, de se investir na área da educação pela arte, porque contribui muito para o
desenvolvimento da personalidade dos alunos, do bem-estar deles e, no nosso contrato
de autonomia, conseguimos isso. (…)

(…) Portanto, conseguimos, realmente, reforçar essas áreas a nível do Pré-escolar, do


Primeiro Ciclo e do Terceiro Ciclo, com a introdução da disciplina nova. (…)

(…) Eles têm o reforço na língua (…)

(…) têm dificuldades na língua Portuguesa, então têm o apoio na Língua Portuguesa
(…)

22
(…) eles têm uma dificuldade na Matemática, eles têm o apoio na Matemática (…)

(…) o Plano da Leitura (…)

(…) as assessorias que começaram a ser feitas este ano directamente com outro
professor dentro da sala de aula e que surtiram bastante efeito (…)

[Mais medidas do contrato de autonomia que beneficiaram o dia-dia na escola, ao


nível das áreas disciplinares] Em primeiro lugar, eu sou professora de EVT, segundo
ciclo (…) eu tou a dar a disciplina de Artes no terceiro ciclo (…) noutra escola (…)
dificilmente estaria com a disciplina de Artes (…) essa disciplina foi criada (…) foi um
trabalho que eu já venho idealizando (…) é tipo um sonho (…) Que se tornou realidade
(…) e tornou-se realidade devido ao contrato de autonomia, verdade seja dita (…)

(…) esta disciplina surgiu para abrir um pouco mais os horizontes dos nossos alunos e
lhes dar uma perspectiva de futuro para além daquelas áreas que eles conhecem (…)

(…) a área artística era uma área muito apagada e neste momento nós temos alunos a
chegar ao nono ano (…) A escolher a área de Artes (…) e não temos um nem dois (…)
Temos às vezes quatro, cinco, seis (…) Já tivemos aqui oito alunos, num ano, a
escolher a área de Artes. (…)

(…) acho que é um trabalho em que o professor sente um enorme prazer (...) E eu,
realmente, gosto imenso do trabalho que faço (…

Acho que também (…) houve um grande reforço na área da educação pela Arte, ao
nível de um Pré-escolar e de um Primeiro Ciclo e que englobe tudo, a nível de TIC, a
nível também físico-motor (…)

(…) também sinto que houve um grande reforço a nível de Educação Musical (…)

Portanto, eu acho que todo esse reforço, todo esse trabalho (…) só foi possível devido
ao contrato de autonomia.

Sendo coordenadora do Departamento de Educação Artística e Tecnológica e


professora de Educação Visual e Tecnológica, a entrevistada, neste âmbito, centrou-se,
naturalmente, na sua área de leccionação. Frisando e admitindo a importância da Língua
Portuguesa e da Matemática no desenvolvimento global dos alunos, bem como todos os
apoios a eles prestados na sua aprendizagem, considera também que a educação pela
arte atinge o mesmo grau de importância que as anteriores. O contrato de autonomia foi
o instrumento que permitiu que todo o reforço que agora existe nessa área, desde a
educação pré-escolar até ao terceiro ciclo seja uma realidade.

23
Como grande alteração que o contrato de autonomia permitiu implementar,
salienta a criação de uma disciplina nova, por si leccionada (Artes) que, sendo um sonho
antigo, concretizou-se por força da existência do contrato de autonomia e, segundo a
entrevistada, permitiu aos alunos abrir os seus horizontes, dando-lhe bastante prazer no
trabalho que está a desenvolver.
Noutras medidas previstas no contrato de autonomia, é, também, de salientar a
existência de um reforço noutras disciplinas, nomeadamente a Educação Musical e TIC,
em todos os ciclos de ensino que o agrupamento engloba.

Quadro 12 – Alterações que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia na escola,


ao nível do serviço lectivo

Pretende-se, com as informações constantes neste quadro (Quadro 12), perceber,


a nível do serviço lectivo distribuído, de que forma é que o contrato de autonomia
permite que a escola melhore a sua qualidade de serviço de educação prestado.

[Cumprimento do serviço lectivo, previsto no contrato de autonomia e que melhora a


qualidade do serviço de educação prestado pela escola] relativamente às aulas
previstas e dadas foi um passo muito à frente. (…)
(…) noutra escola, se calhar, é um choque (…) quem vem doutra escola, não consegue
perceber logo inicialmente (…) tem alguma dificuldade em perceber quais os
benefícios de ter que repor aulas e trocar e tudo isso, mas chega ao final do ano (…)
uma percentagem extremamente elevada já está convencida e consegue ver os
benefícios disso (…)
(…) Nós conseguimos cumprir com as aulas que se prevêem (…) conseguir cumpri-la
na totalidade, acho que é uma mais-valia. Para a escola, para os alunos e para nós,
enquanto docentes que não precisamos de recorrer a outras estratégias.
Acho que reforçámos muito os apoios aos alunos. Temos tomado medidas nesse
sentido.

Pela leitura dos dados acima expostos, é de salientar a evidência que a


entrevistada coloca numa medida implementada pelo agrupamento, através do contrato
de autonomia. A mesma centra-se na reposição e troca de aulas, por parte dos
professores, sempre que faltem. Essas trocas, permitirão que, no final do ano lectivo, as
24
aulas que, de acordo com o calendário escolar, estavam previstas ser leccionadas ao
longo do ano sejam iguais às efectivamente leccionadas. Isso resulta em maiores apoios
aos alunos, uma vez que não perdem aulas. O esforço de adaptação, necessário, de quem
chega de novo e se depara com esta medida, mais tarde é compensado ao verificar os
benefícios que a mesma traz para a melhoria do desempenho escolar dos alunos.

8. Benefícios decorrentes para o agrupamento

A entrevistada enuncia os benefícios decorrentes do contrato de autonomia, mais


concretamente ao nível dos recursos humanos (Quadro 13).

Quadro 13 – Benefícios que o contrato de autonomia trouxe para o agrupamento

[Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia


da escola, ao nível dos recursos humanos, nomeadamente na contratação do pessoal
docente] (…) a continuidade relativamente ao corpo docente, devido à forma como nós
podemos contratá-lo (…)

(…) Podemos realmente escolher um professor que cá teve e que trabalhou e que já
conhece (…)
Da contratação do pessoal docente. (…) nós, todos os anos, estarmos a fazer um
trabalho de sensibilização.
(…) quem vem de outra realidade chega aqui e isto é um choque. (…) Porquê? Porque
o grau de exigência é muito maior. E não há dúvida nenhuma disso (…)
Há muitas escolas que trabalham tanto, se calhar, como nós, mas aqui trabalha-se
muito. (…)
(…) Mas também não sinto que seja um trabalho em que as pessoas se sintam assim tão
revoltadas, ou tão descontentes. Não! (…)
Temos situações pontuais, mas isso acontece em todo o lado (…) Pessoas que não se
encaixam e é normal, porque todos nós somos diferentes (…)
[Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia
da escola, ao nível dos recursos humanos, nomeadamente na contratação do pessoal
não docente] Havia uma coisa que me incomodava imenso e que eu todos os anos (…)
apontava como aspecto negativo (…) que era a limpeza da escola. Este ano houve
melhorias. (…)

25
(…) Acho que foi possível contratarmos uma equipa de limpeza (…) conseguiu-se
gerir as verbas de forma a arranjar dinheiro para isso, porque isso, realmente era um
aspecto muito importante. (…)
(…) Uma coisa que me continua a preocupar imenso e que eu acho que ainda não
resolvemos é precisamente a segurança, na escola, quanto a funcionários. (…)
(…) Não temos funcionários para vigiar, para cuidar dos alunos (…) nos intervalos e
não só… não temos funcionários. (…)
(…) temos uma sala TEACCH, que conseguimos mantê-la, em parte devido ao
contrato de autonomia, mas continuamos a não ter as condições ideais. Porque ter um
autista dentro de uma sala de aula sem uma pessoa para o acompanhar, a pessoa em
quem ele confia, é complicado. É complicado para o aluno, que não evolui; é
complicado para os colegas que também, em parte, são um pouco prejudicados. Esta é
uma das grandes realidades. Isso, se calhar, para mim, são os aspectos mais negativos.
(…)
[Confronto entre aspectos positivos e aspectos negativas do contrato de autonomia]
Mas é assim: eu tenho falado só em aspectos positivos do contrato de autonomia. Não
quer dizer que eu concorde com todos eles (…)
(…) muito sinceramente, existem aspectos mais negativos (…)
(…) mas eu, no todo, tenho mesmo que fazer um balanço positivo. Porque eu só
consigo ver coisas boas. Não sei se é porque eu sou optimista (…)
(…) mas existem situações pontuais [não positivas] (…)

A análise deste quadro (Quadro 13) permite aferir que, segundo a entrevistada,
os recursos humanos assumem um elevado grau de importância no funcionamento do
agrupamento e na implementação do contrato de autonomia, salientando a necessidade
de fixação do corpo docente, pois, refere, não é fácil estar, todos os anos, a sensibilizar e
enquadrar um professor que chega de novo, sobre todas as medidas constantes no
mesmo. Apesar de essa integração e adaptação não ser, em alguns aspectos, simples,
evidencia o facto de apenas um ou outro professor não a conseguir, considerando isso
normal.
Ainda a nível dos recursos humanos, a entrevistada refere que, no âmbito do
pessoal não docente, as considerações já não podem ser tão favoráveis. Apesar de,
segundo a mesma, a limpeza da escola – uma preocupação sua há muito tempo – ter

26
melhorado, continua a haver um défice de pessoal auxiliar, que acaba por se traduzir em
falta de segurança e vigilância na escola.
Salienta a existência no agrupamento de uma sala TEACCH (Unidade de ensino
Estruturado, que presta apoio a crianças com autismo) que continua a não ter as
condições ideais, por falta desses mesmos auxiliares.

No entanto, de acordo com a entrevistada, é notória a prevalência dos aspectos


positivos sobre os aspectos negativos, apesar de não negar que estes últimos existem.

9. Intenção de renovação do contrato de autonomia

Neste ponto, através da informação contida no quadro seguinte (Quadro 14), a


entrevistada divulga se renovaria, ou não, o contrato de autonomia, quando o actual
terminasse o seu período de vigência.

Quadro 14 – Intenção de renovação do contrato de autonomia

[Se renovaria, ou não, o contrato de autonomia] Renovaria. Sem sombra de dúvida.

É clara a intenção que a entrevistada demonstra ter na possibilidade de renovar o


contrato de autonomia.

10. Alterações a efectuar ao contrato de autonomia, aquando da sua


renovação

Após divulgada a intenção de renovar o contrato de autonomia, são referidas,


nos quadros abaixo (Quadro 15 e 16) as medidas previstas no actual contrato que seriam
alvo de melhoria e as não previstas, a integrar no próximo contrato.

Quadro 15 –Medidas a manter no próximo contrato de autonomia

(…) temos feito pequenos reajustes daquilo que achamos que está bem ou não está
bem, devido à nossa reflexão.
[Que medidas não previstas, mas que considere importantes, sugere para a consecução
dos objectivos a que o contrato se propõe] (…) o que é que eu faria? Em primeiro
lugar, quando chegarmos ao final desta etapa (…) vai ser feita uma avaliação (…)
todos os anos temos avaliado (…) todos os anos temos monotorizado o trabalho que
temos feito (…)
(…) temos mesmo que fazer um balanço destes anos todos: aspectos positivos e
aspectos negativos. (…)

27
(…) É assim: iria manter os aspectos que foram extremamente positivos (…) e iria
pegar nos aspectos negativos e iria arranjar forma de os tentar incluir no contrato (…)
quais aspectos? Estes que eu acabei de falar (...)
(…) De resto, mantinha o que nós temos, fazendo pequenos reajustes naquilo que
correu menos bem (…)

Dando ênfase à necessidade de se efectuar uma reflexão sobre os anos de


implementação do contrato e fazendo questão de referir que essa avaliação tem sido
feita todos os anos, a entrevistada refere que manteria, no próximo contrato, todos os
aspectos que anteriormente considerou positivos, realizando um ou outro ajuste, onde
fosse necessário. Relativamente aos aspectos negativos, salienta que, através da
integração de medidas novas no contrato, tentaria combatê-los.

Quadro 16 – Sugestão de medidas a integrar no próximo contrato de autonomia

(…) Relativamente ao nível do pessoal auxiliar: arranjar medidas, ou através da parte


financeira (…) Ou através dos recursos (…) Tal como nós conseguimos recrutar
pessoal docente, consegui-lo fazer através do pessoal auxiliar (…)
(…) continuar a haver (…) alguma verba para investir na manutenção e na limpeza dos
espaços escolares que (…) para mim, é extremamente importante. (…)

Neste quadro (Quadro 16), são especificadas as áreas mais deficitárias que
seriam alvo de integração de medidas no próximo contrato de autonomia, de forma a
combatê-las. Essas medidas centram-se, essencialmente, na necessidade de contratação
de pessoal não docente, se possível, nos mesmos moldes com que é efectuada a do
pessoal docente e na limpeza da escola.

Conclusão

Relativamente ao âmbito deste estudo, pode-se inferir que é cada vez mais
importante a aposta na autonomia das escolas, seja através da utilização de instrumentos
tais como os contratos de autonomia, seja de qualquer outra forma. A necessidade de
adaptação das escolas ao meio em que se inserem é grande e o objecto deste estudo,
como se pode verificar através da análise dos quadros do capítulo IV é um exemplo em
como se podem implementar medidas que vão ao encontro das necessidades de todos os
intervenientes no processo de ensino dos alunos.
Se autonomia significa mais apoio aos alunos, alteração do currículo,
cumprimento integral do serviço lectivo, traduzido em melhores resultados académicos
28
e menor abandono escolar, como foi verificado neste estudo, então, a mesma deve ser
não só implementada, mas também reforçada.
Neste estudo, fica bem patente a importância a forma como as medidas
implementadas através do contrato de autonomia têm sido benéficas para a prossecução
dos principais objectivos a que o mesmo se propõe. Aliado à melhoria dos resultados
escolares dos alunos e à redução do abandono escolar, está um corpo docente motivado
e mobilizado em torno do contrato de autonomia que, no fundo, representa todo um
modo de funcionamento do agrupamento.
De referir que um contrato de autonomia não se constrói com meia dúzia de
pessoas fechadas num gabinete. São as comunidades envolventes e todas as pessoas que
as constituem que formam os agrupamentos e o seu espírito e o contrato de autonomia
deve ser um instrumento em que todas elas se revejam e abracem como parte integrante
do mesmo que são. O facto de, neste agrupamento em particular, todo o processo de
elaboração do contrato ter sido partilhado, contribui para que a motivação de quem, no
seu dia-a-dia, implementa as medidas constantes no mesmo seja uma realidade. A forma
como a divulgação das medidas é feita à comunidade envolvente, seja através da página
Web do agrupamento, ou de qualquer outra forma, também contribui para que os
encarregados de educação compreendam um pouco melhor que autonomia significa
mais rigor, responsabilidade e prestação de contas e que, com isso, quem tem a ganhar
são os seus educandos.
Apesar de serem muitos os aspectos positivos enunciados neste estudo, o facto
de existir um contrato de autonomia neste agrupamento não significa que está tudo bem.
Continuam a existir aspectos a melhorar e, num sistema educativo em que muitos
pensam e aplicam ideias, sem deixar amadurecer as presentes, é muito difícil estabilizar.
Pode-se considerar que os contratos de autonomia são um instrumento essencial na
busca dessa estabilização e que, no final do período de vigência de cada um deles, após
uma avaliação séria, ponderada e consistente, possam ser efectuados ajustes para
preencher lacunas que os anteriores não conseguiram colmatar.
Para concluir, saliente-se que, devido ao facto de o sujeito de estudo ser uma
docente de um grupo disciplinar específico, naturalmente, as conclusões que se podem
retirar deste estudo incidem, predominantemente nessa área, que é a das artes. Pode-se,
então concluir que o agrupamento onde a docente lecciona aproveitou a celebração de
um contrato de autonomia para efectuar um reforço nessa área, em todos os ciclos de
29
ensino. Seria, por isso, interessante, estender este estudo a outras áreas disciplinares,
com o objectivo de aferir sob que forma as medidas implementadas no contrato de
autonomia afectam as restantes áreas.

Considerações finais

Com a elaboração deste estudo, foram muitas os conceitos que, anteriormente


apreendidos e já um pouco esquecidos, foram reciclados. A metodologia de
investigação em educação abrange um vasto leque de técnicas, instrumentos e
procedimentos que, devidamente utilizados, permitem a qualquer investigador efectuar
um estudo consistente e consentâneo com os objectivos que o mesmo se propõe atingir.
Foi com ponderação que foram seleccionados os instrumentos para conseguir, o
mais aproximadamente possível, atingir os objectivos nele delineados. Seleccionados os
instrumentos e técnicas, com grande motivação, enveredou-se por toda uma panóplia de
autores conceituados na área das metodologias da investigação em educação, em busca
do suporte teórico/prático que permitissem levar o estudo avante.
Foi recordada: a forma como deve ser preparada uma entrevista, através da
elaboração de um guião; a forma como a mesma deve ser conduzida, de acordo com a
sua natureza; e apreendida a forma como se processa toda a recolha, análise e
interpretação dos dados contidos na entrevista efectuada.
De referir que este trabalho permitirá olhar com outros olhos tudo o que envolva
o funcionamento de uma escola, pois, num sistema de ensino cada vez mais virado para
os resultados e apresentação dos mesmos, a análise desses mesmos resultados, de uma
forma consistente e coerente, é muito importante, para que, independentemente do
âmbito em que se integrem, possam ser fidedignos. Tudo o que se possa aprender no
âmbito das metodologias de investigação em educação, será bastante útil no
desempenho de qualquer função, seja ela de coordenação ou mesmo de direcção, num
agrupamento de escolas.

Bibliografia

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Web consultada:

José Eduardo Lemos, http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=685 (Consulta


realizada em 15/07/2010)

Legislação consultada

Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro (Lei de Bases do Sistema Educativo).

Decreto-lei nº 43/89, de 3 de Fevereiro.

Decreto-lei n.º 172/91, de 10 de Maio.

Decreto-lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio.

Decreto-lei n.º 75/2008, de 22 de Abril.

Anexos

Anexo I - Guião de entrevista

Anexo II - Protocolo da entrevista realizada

Anexo III – Primeiro tratamento dos dados da entrevista

Anexo IV – Pré-categorização dos dados da entrevista

Anexo V - Categorização dos dados da entrevista

Anexo I - Guião de entrevista

TEMA: Autonomia de Escolas – celebração de contratos de autonomia.

ENTREVISTADO: Coordenador(a) de Departamento de Expressões

Objectivos gerais:

• Conhecer a representação do entrevistado sobre o conceito de autonomia e a


importância desta para o sucesso educativo;
• Conhecer os processos de elaboração e evolução do contrato de autonomia do
Agrupamento;
• Identificar medidas aplicadas e os seus efeitos no combate ao abandono escolar e
quanto à melhoria dos resultados académicos dos alunos;
• Identificar propostas de melhoria do contrato de autonomia.
33
OBJECTIVOS FORMULÁRIO P/ QUESTÕES OBS.
ESPECÍFICOS
BLOCOS

BLOCO A

Legitimação da - Legitimar a entrevista; - Apresentações dos intervenientes; 5 -10 min


entrevista e
motivação do - Apresentação dos objectivos da entrevista e Informações em
entrevistado garantia do feedback da investigação; continuidade do
- Motivar o entrevistado. contacto prévio.
- Garantir a confidencialidade e o anonimato;

- Pedir autorização para gravar a entrevista;

BLOCO B

Conceito de - Conhecer como é - Solicitar ao entrevistado que defina autonomia e se, 5 min
autonomia representado o conceito de na sua opinião, a considera benéfica para as escolas.
autoonomia de escola.

BLOCO C

Processo - Conhecer o processo que - Questionar o entrevistado sobre a forma como 5 min
conducente ao conduziu à elaboração do decorreu todo o processo de elaboração do contrato
contrato de contrato de autonomia, da de autonomia do seu agrupamento e o seu papel no
autonomia. avaliação externa à sua mesmo.
assinatura.
BLOCO D

Grau de - Conhecer o grau de - Questionar acerca das medidas tomadas e acerca 10 m


consecução dos consecoção dos diferentes dos seus efeitos quanto à evolução:
objectivos do objectivos definidos.
contrato de . da taxa de abandono escolar;
autonomia.
. dos resultados académicos dos alunos

BLOCO F - Avaliar o processo de - Solicitar um balanço da implementação do contrato


implementação do contrato de de autonomia, nomeadamente quanto:
Balanço da autonomia. 15 min
implementação do . à sua influência no dia-a-dia da escola/sala de
contrato de aula;
autonomia.
. aos benefícios dele decorrentes para o
Agrupamento;
- Identificar outras medidas,
não previstas no contrato de . à possibiliddae ou não de renovação do contrato.
autonomia, mas importantes
para a consecução dos Solicitar a sugestão de medidas não previstas, mas
objectivos a que o mesmo se que considere importantes para a consecução dos
propõe. objectivos a que o contrato se propõe.

34
Anexo II - Protocolo da entrevista realizada

Entrevistador: Bem, antes de mais nada, bom-dia.

Entrevistada: Bom-dia.

Entrevistador: Hã… já nos conhecemos não é? (risos)

Entrevistada: Sim. (sorri)

Entrevistador: Tu és a C. e eu sou o Manuel… hã… tu és coordenadora do


departamento de…

Entrevistada: … de Educação Artística e Tecnológica.

Entrevistador: Ok… hã… C. …

Entrevistada: Coordenadora pedagógica.

Entrevistador: Muito bem, Então é assim: eu vou… antes de mais nada quero garantir
o anonimato e a confidencialidade deste, desta entrevista… hã… no trabalho não
constará o teu nome… hã… no entanto, se desejares, ou se não colocares algum… se
desejares que seja referido o teu nome, basta dizê-lo que eu o farei. Hã… entretanto,
peço-te autorização para gravar a entrevista, não é?

Entrevistada: Autorização concedida.

Entrevistador: Hã… então vamos passar já ao tema. Portanto, é a autonomia das


escolas, celebração de contratos de autonomia. Eu tenho como objectivo geral deste
trabalho… objectivos gerais: conhecer a representação do entrevistado sobre o conceito
de autonomia e a importância desta para o sucesso educativo; segundo: conhecer os
processos de elaboração e evolução do contrato de autonomia do agrupamento;
identificar medidas aplicadas e os seus efeitos no combate ao aban… do abandono
escolar e quanto à melhoria dos resultados académicos dos alunos; e identificar
propostas de melhoria para o contrato de autonomia.

Portanto, esta entrevista está dividida em cinco blocos. Vamos passar agora ao bloco B,
onde, portanto, o que eu te peço é que, dentro do teu… portanto… dos teus
conhecimentos que tens e da experiência que já tens aqui no Agrupamento…hã … que
me definas, na tua opinião, o que é que consideras ser a autonomia numa escola.

Entrevistada: Pronto… a autonomia numa escola, portanto, é, a meu ver… hã… o


poder que é dado pelo Ministério da Educação às escolas em determinados campos.

Entrevistador: Mm…

35
Entrevistada: … nomeadamente no campo da… no campo pedagógico, a nível
administrativo, financeiro… hã… de organização e de estratégias a adoptar dentro do
Agrupamento.

Entrevistador: Mm… hã… então dentro dessa autonomia, tendo a experiência que
tens, já, de… estamos com o terceiro ano de contrato… hã… achas que é benéfica para
as escolas? Assim, de uma forma geral… não peço, não peço que te cinjas… hã… só a
este agrupamento.

Entrevistada: É assim: para mim é um pouco complicado responder a isso… eu vou-te


explicar porquê… eu dou aulas há quinze anos…

Entrevistador: Mm…

Entrevistada: …este é o meu décimo...(não se percebe)… e só estive, para além desta


escola… já estou cá há dez anos… tive em mais duas… portanto, tive um ano numa
escola e tive quatro anos noutra… na altura não se falava em autonomia nas escolas, não
é? Portanto, eu não faço… não tenho noção, muito sinceramente, para além daquilo que
converso com colegas meus, não é?... quando nós saímos para tomar um café, ou para
jantar e que se fala nisso, não tenho muita noção, hã, do que é neste momento, hã… a
falta de autonomia noutras escolas… o não existir um contrato de autonomia, porque
realmente estou um pouco a leste do paraíso, como se costuma dizer não é? Porque eu
estou aqui há dez anos. Portanto, já passei nesta escola por muitas fases… fases boas,
fases menos boas e, neste momento, realmente, não tenho muita noção do que se passa
lá fora. Sinto que nós estamos muito à frente. Est… estamos mais organizados e
fazemos coisas que eu acho que são extremamente benéficas para os
alunos…principalmente para os alunos… que eu acho que o contrato de autonomia, não
é?... embora vá tocar em vários campos, mas o campo principal e que pretende o grande
objectivo, não é?... é melhorar o insucesso escolar dos alunos, não é?... e fazer com que
eles continuem na escola, portanto, também melhorar o abandono escolar, não é ?... que
eles não abandonem tanto.

Entrevistador: Quando falas em sentes que estamos, neste agrupamento, mais


organizados falas em relação a antes contrato de autonomia, ou falas em relação aos
outros agrupamentos?

Entrevistada: Hã… é assim, eu acho que, eu entrei no contrato de autonomia, mas já


havia muitas coisas que se faziam nesta escola que não se faziam noutras… pelo aquilo
que eu me apercebia…portanto, o contrato de autonomia, realmente, veio a permitir-nos
fazer uma série de coisas, que, hã… que eu às vezes não consigo muito bem
distinguir… claro que eu sei, porque eu tenho o contrato, eu leio o contrato, mas às
vezes, fico um pouco… há coisas… não consigo distinguir muito bem o que é que nós
estamos a fazer actualmente que, realmente, é a proposta do contrato de autonomia, ou
que tem a ver com a própria legislação em vigor…tás a perceber? Tenho, às vezes, uma
certa dificuldade em perceber realmente a dif…essa diferença… porque esta escola
36
sempre foi um pouco diferente… e sempre andou muito à frente, não é? Claro que o
contrato de autonomia oficializou, ao fim ao cabo, aquilo que nós já pretendíamos fazer,
não é?

Entrevistador: Ok. Hã…

Entrevistada: Não respondi muito à tua pergunta.

Entrevistador: Sim… sim… em relação, em relação à, portanto, ao processo de


elaboração do contrato de autonomia, portanto, apesar de não teres pertencido à equipa
que o elaborou e negociou com o Ministério, hã, sei que fizeste., fizeste parte, de uma
forma indirecta, não é? Hã… portanto, o que eu queria pedir-te era que fizesses uma
descrição sumária, do teu ponto de vista, como é que as coisas correram.

Entrevistada: Foi uma fase muito complicada. Foi uma fase muito dolorosa mesmo,
aqui no Agrupamento. Hã… muito trabalho… e muito trabalho porquê? Porque, hã, eu
não sei como é que o contrato de autonomia foi desenvolvido noutros Agrupamentos e
noutras escolas, não é? Mas eu sei que aqui foi um trabalho extremamente partilhado.
Partilhado entre quem? Entre… entre vários elementos da comunidade educativa… e
não só…portanto, tentámos, acho eu, por aquilo que me apercebi, quem estava a
elaborar o contrato, tentou, hã, ir a vários sítios, a realidades diferentes, para em
primeiro lugar perceberem como é que as coisas funcionavam nos outros sítios…depois
cá dentro, todas as decisões que eram propostas eram sempre muito discutidas e muito
debatidas. E claro que isto é um processo muito complicado. Porquê? Porque vinha do
Conselho Pedagógico, ou vinha da própria equipa que estava a elaborar o contrato de
autonomia e descia aos departamentos. Os departamentos, por sua vez, emitiam o seu
parecer, não é? Que, às vezes, não era em consenso com aquilo que se propunha.

Entrevistador: Claro…

Entrevistada: …Logo, subia, não é?... E depois estou a falar do meu departamento, que
já, que já somos muitos, não é?... Já são muitas pessoas, que já existem muitas opiniões
divergentes…

Entrevistador: Mais opiniões.

Entrevistada: Hã… Com os outros departamentos todos, quando nos voltávamos a


juntar, novamente uma discussão, porque mais uma vez, todos os departamentos, nem
todos tavam de acordo, não é? E depois, cada um tenta ver sempre a sua parte, não é?...
A que lhe interessa mais, como é óbvio, não é? Isto é muito complicado de gerir…daí o
nosso nono contrato de autonomia, não é?... Nona proposta…

Entrevistador: Nove versões.

Entrevistada: Nove versões, exactamente.

37
Entrevistador: Ok. Pronto. Hã… então já percebi o teu papel no… na aut… no
decorrer da elaboração do contrato. Agora o que eu te perguntava era: tendo
conhecimento do… e… também…tiveste que trabalhar muito e tinhas que ter um
conhecimento, além de seres professora neste Agrupamento apanhaste a parte de…
apanhaste um ano em que eras presidente do Conselho Pedagógico, não é?...e tinhas que
estar dentro de todas as medidas que estão… que estamos a implementar no contrato de
autonomia. Portanto, conhecendo tu essas medidas, portanto, e os efeitos que elas
podem ter, portanto, o que é que tu achas que… qual será o grau de eficácia delas…o
que é que tu consideras que é o grau de eficácia delas em relação à diminuição da taxa
de abandono escolar, no Agrupamento, mesmo dos resultados, na melhoria dos
resultados dos miúdos.

Entrevistada: Olha, eu senti que… eu sinto e tenho essa noção precisa porque
continuo, apesar de não ser presidente do Conselho Pedagógico, continuo no Conselho
Pedagógico e nós fazemos a monotorização de todo o processo de avaliação, não é?
Logo, fazemos tratamento estatístico de todos os dados relativos à avaliação e
conseguimo-nos aperceber que realmente está a haver uma evolução, mas o estar a
haver uma evolução, um aumento do sucesso escolar, do sucesso pleno por aluno, o… o
menor… como é que eu hei-de dizer?... haver menos abandono escolar, hã… eu acho
que, por vezes, pode-se pensar que nós estamos a facilitar… não é? E não estamos… de
forma nenhuma. O facto de estarmos a aumentar não tem a ver com o facto de estarmos
a ser menos exigentes. Antes pelo contrário. Porquê? Porque nós alterámos os critérios
de progressão, nesta escola são diferentes das outras, à excepção do nono ano. Logo
isso, não é?... Os alunos aqui têm, têm que trabalhar mais, não é?

Entrevistador: Portanto assim os critérios, hã…

Entrevistada: Têm que trabalhar…

Entrevistador: …de progressão, consideras então…

Entrevistada:… benéficos.

Entrevistador: …são mais apertados.

Entrevistada: Mais apertados.

Entrevistador: Pronto. Só para ficar esclarecido.

Entrevistada: E considero uma medida benéfica…

Entrevistador: Ok.

Entrevistada: Porque eu acho que não é importante o aluno passar com muito boas
notas, quando isso, depois, não corresponde, realmente, às suas capacidades, ou seja, o
aluno chega a uma secundária, passou com excelentes notas, porque, hã, o ensino foi
mais facilitador, mas depois não tem ferramentas, não tem, hã, destreza suficiente, não
38
leva competências para se aguentar numa secundária, não é? E nós, aqui, acho que
somos rigorosos, aumentámos o rigor, muito a nível das disciplinas mais importantes,
portanto, Língua Portuguesa e Matemática, mas também noutras disciplinas. Porque
este Agrupamento, hã… hã… pronto, eu sou de uma área completamente diferente, não
é?

Entrevistador: Mmm.

Entrevistadora: E eu sou defensora de que é muito importante a Língua Portuguesa, é


muito importante a Matemática, mas, para mim, a minha área disciplinar, portanto, a
área artística, não é?... A educação pela arte, pra mim, acho que é tão importante
como… Há quem defenda que o importante é a Matemática e a Língua Portuguesa. Eu
acho que a outra é tão importante como… E daí eu ter sempre defendido que havia
necessidade, também, de se investir na área da educação pela arte, porque contribui
muito para o desenvolvimento da personalidade dos alunos, do bem-estar deles e, no
nosso contrato de autonomia, conseguimos isso. Portanto, conseguimos, realmente,
reforçar essas áreas a nível do Pré-escolar, do Primeiro Ciclo e do Terceiro Ciclo, com a
introdução da disciplina nova. Mas, acho que fugi um bocadito à tua questão.

Entrevistador: Hã… Não… Em termos de resultados académicos, hã… portanto,


quando falas de… podemos relacionar os resultados académicos com a taxa de
abandono escolar. Falamos de critérios de progressão mais rígidos, não é?

Entrevistada: Sim sim.

Entrevistador: Mais apertados, chamemos-lhe assim.

Entrevistada: Um grau de exigência maior.

Entrevistador: Não se trata de abandono escolar, nesta situação, mas achas que esses
critérios hã, de progressão, hã, do teu ponto de vista, achas que são… hã… poderão ser
uma…uma das… uma causa para os alunos saírem deste Agrupamento e irem para
outros?

Entrevistada: Não não não...

Entrevistador: Tens sentido isso?

Entrevistada: Não não não. De modo nenhum. Inicialmente, achei que isso poderia vir a
acontecer. Só que eu acho que, hã, também se tem feito um excelente trabalho, isso
também devido ao contrato de autonomia e das condições que nós temos de gerir tudo
isto, tem-se feito um excelente trabalho relativamente ao apoio a dar aos alunos.
Portanto, os alunos neste Agrupamento são extremamente apoiados. Eles têm apoios a
tudo. Eles têm o reforço na língua… nós não exigimos apenas que eles melhorassem, ou
não, não começámos a ser exigentes sem dar condições. Nós demos ferramentas de
trabalho, ou seja, eles têm hipótese de… têm dificuldades na língua Portuguesa, então

39
têm o apoio na Língua Portuguesa; eles têm uma dificuldade na Matemática, eles têm o
apoio na Matemática, não é? Portanto, tudo isto com o Plano da Leitura, com as
assessorias que começaram a ser feitas este ano directamente com outro professor
dentro da sala de aula e que surtiram bastante efeito, portanto, exigimos sim, mas
também demos. E, para além disso, temos feito também, uma excelente sensibilização a
nível de encarregados de educação. Como? Em primeiro lugar, os encarregados de
educação estão plenamente conscientes dos critérios de progressão, dos critérios de
avaliação, dos instrumentos de avaliação, porque nós… eu acho que o processo aqui
nesta escola, todo ele, é muito transparente, não é? Nós publicitamos na página da
escola, nós temos o Boletim Informativo que sai regularmente, hã, em cada período e
que dá essas informações aos encarregados de educação, portanto, só o encarregado de
educação, que esteja, que não esteja bem informado é que, hã, pode dizer que nós aqui
somos exigentes, ou queira mudar o seu educando para outra escola, porque de resto não
me parece, de todo, que… deves ter tido uma ou outra situação dessas, mas é assim: nós
não podemos mandar na vontade dos pais.

Entrevistador: Claro.

Entrevistada: É a vontade deles que prevalece e há pais que tão pouco, tão-se pouco
importando se o filho realmente sai com competências adquiridas, ou se chumba. Eles
são, eles não querem é que o filho reprove, não é?... Fique retido. Portanto, eles querem
é que ele passe, independentemente de ter competências ou não. E nós, não é isso que
nós pretendemos. O aluno aqui passa se tiver competências. Porque, se não tiver, fica
mesmo retido, não é? Porque os Conselhos de Ano desenvolveram todos os esforços e
mais alguns para que o aluno progrida. Se ele não progride, ou é porque ele realmente
não tem competências, então é bom que ele as volte a…a ter, não é?... A desenvolver,
para as adquirir, hã, de uma forma sólida e eficaz, ou então, hã, fica, fica, fica retido,
pronto. Não vale a pena passar só por passar.

Entrevistador: Pronto, resumindo então, só para ficar o registo também,


hã…Consideras então que as medidas tomadas no con… implementadas no contrato de
autonomia contribuem para a redução da taxa de abandono escolar aqui neste
Agrupamento e…

Entrevistada: Sem sombra de dúvida.

Entrevistador: …e para a melhoria dos resultados académicos também?

Entrevistada: Sem sombra de dúvida. Porquê? Porque nós também tínhamos muitos
alunos a abandonar a escola, sem lhes poder dar uma, outra, uma opção. E nós, neste
momento, temos sempre uma saída para o aluno. Ou neste Agrupamento, ou noutro,
temos sempre, que são as ofertas formativas, não é? Essas ofertas, realmente, eu acho
que, essas são excelentes. Embora os encarregados de educação, por vezes, hã, tenham
uma noção errada do que é… do que são os CEFs, os Percursos Alternativos, mas, para
mim, são uma mais-valia para um aluno. Um aluno poder fazer um… uma
40
profissionalização, tirar um curso, fazer um estágio e ter oportunidade de ficar, hã, logo
a trabalhar na, na, portanto, no sítio onde fez o estágio, não é?... Na empresa onde fez o
estágio, eu acho que isso, nos dias de hoje, é, é ouro sobre azul. Mas mesmo.

Entrevistador: Pronto. Entrando agora no último bloco da entrevista, o que eu te pedia


era um, que me fizesses um balanço da implementação do contrato de autonomia, ainda
temos mais um ano, não é? Mas, hã, tu tendo experiência, experienciado, hã, desde o
início, e estavas cá antes também, queria que me fizesses um balanço em relação à
implementação do contrato de autonomia, nomeadamente em relação à influência no
dia-a-dia da escola em si, sala de aula. Quando falamos na escola, sala de aula; hã, em
relação aos benefícios que o contrato possa ter trazido para o Agrupamento…aqui acho
que na questão anterior já, já, já referiste alguns; e se consideras, em relação à
possibilidade, ou não, de renovação do contrato.

Entrevistada: Eu, a primeira questão, não consegui, a primeira, o primeiro ponto que
focaste, contrato de autonomia dentro da sala de aula.

Entrevistador: Influência do contrato. As medidas que estão no contrato. Se tu, dentro


da tua sala de aula, dentro da tua sala de aula… neste caso, aqui vais-te dirigir para o teu
Departamento, não é?... Para a tua área… Os benefícios que… Quais foram as medidas
que tu consideras benéficas dentro da sala de aula.

Entrevistada: Ora bem…

Entrevistador: Ou seja, o que é que o contrato te trouxe em termos de melhoria no teu


trabalho?

Entrevistada: Pronto. Em primeiro lugar, eu sou professora de EVT, segundo ciclo…


eu tou a dar a disciplina de Artes no terceiro ciclo. E realmente, hã, falando de mim
própria, não é?... eu, noutra escola, não estaria… dificilmente estaria com a disciplina
de Artes, não é? E, hã, essa disciplina foi criada, hã… como é que eu vou dizer? Foi
criada… foi um trabalho que eu já venho idealizando…é tipo um sonho, não é?... Que
se tornou realidade…e tornou-se realidade devido ao contrato de autonomia, verdade
seja dita, não é? E, realmente, eu acho que, hã, esta disciplina surgiu para abrir um
pouco mais os horizontes dos nossos alunos e lhes dar uma perspectiva de futuro para
além daquelas áreas que eles conhecem, porque a área artística era uma área muito
apagada e neste momento nós temos alunos a chegar ao nono ano, não é?... A escolher a
área de Artes… e não temos um nem dois… Temos às vezes quatro, cinco, seis… Já
tivemos aqui oito alunos, num ano, a escolher a área de Artes. Portanto, eu acho que é
um trabalho em que o professor sente um enorme prazer, não é?... E eu, realmente,
gosto imenso do trabalho que faço. Hã… Acho que também houve um reforço, agora
falando não daquilo que eu faço propriamente dito, mas houve um grande reforço na
área da educação pela Arte, ao nível de um Pré-escolar e de um Primeiro Ciclo e que
englobe tudo, a nível de TIC, a nível também físico-motor, não é? Há… Que também
sinto que houve um grande reforço; a nível de Educação Musical e temos feito pequenos
41
reajustes daquilo que achamos que está bem ou não está bem, devido à nossa reflexão.
Portanto, eu acho que todo esse reforço, todo esse trabalho, hã, só foi possível devido ao
contrato de autonomia. Quanto a…

Entrevistador: Ao nível do Agrupamento.

Entrevistada: Mas é assim: eu tenho falado só em aspectos positivos do contrato de


autonomia.

Entrevistador: Sim.

Entrevistada: Não quer dizer que eu concorde com todos eles, não é?

Entrevistador: Estamos a fazer um balanço.

Entrevistada: Claro, claro, não é, não é?

Entrevistador: Num balanço podes falar a nível dos positivos como dos negativos.

Entrevistada: Pronto. Aspectos positivos como os negativos, vá! Mas, muito


sinceramente, existem aspectos mais negativos, mas eu, no todo, tenho mesmo que fazer
um balanço positivo. Porque eu só consigo ver coisas boas. Não sei se é porque eu sou
optimista, mas, hã,, existem situações pontuais que não são tão, hã…

Entrevistador: Mas podemos partir daqui a bocadinho para essas. Só queria que agora
então que me falasses a nível do Agrupamento. Portanto, falaste a nível da tua
disciplina, mais concretamente, agora, benefícios decorrentes do contrato de autonomia
a nível do Agrupamento. O que é que sentiste?

Entrevistada: A nível do Agrupamento: senti hã, a continuidade relativamente ao corpo


docente, devido à forma como nós podemos contratá-los, não é? Podemos realmente
escolher um professor que cá teve e que trabalhou e que já conhece, porque não é
fácil… não é fácil…

Entrevistador: A nível da contratação do pessoal docente…

Entrevistada: Da contratação do pessoal docente. Porque não é fácil, hã, nós, todos os
anos, estarmos a fazer um trabalho de sensibilização. Porque quem vem de outra
realidade chega aqui e isto é um choque. Apanha um choque. Porquê? Porque o grau de
exigência é muito maior. E não há dúvida nenhuma disso, não é? Há muitas escolas que
trabalham tanto, se calhar, como nós, mas aqui trabalha-se muito. Hã… Mas também
não sinto que seja um trabalho em que as pessoas se sintam assim tão revoltadas, ou tão
descontentes. Não! Temos situações pontuais, mas isso acontece em todo o lado, não é?
Pessoas que não se encaixam e é normal, porque todos nós somos diferentes…hã…
relativamente, hã, à continuidade do pessoal docente, relativamente às aulas previstas e
dadas: eu acho que isso para nós…isso foi um passo muito à frente. E não se
conseguiu… é… começámos a trabalhar, não é?... hã… com alguma antecedência, mas

42
cada vez acho que está mais enraizado e já fazemos isto… noutra escola, se calhar, é um
choque, também… quem vem doutra escola, não consegue perceber logo inicialmente…
tem alguma dificuldade em perceber quais os benefícios de ter que repor aulas e trocar e
tudo isso, mas chega ao final do ano, o… uma percentagem extremamente elevada já
está convencida e consegue ver os benefícios disso, não é? E são muitos, são muitos.
Nós conseguimos cumprir com as aulas que se prevêem… conseguir cumpri-la na
totalidade, acho que é uma mais-valia. Para a escola, para os alunos e para nós,
enquanto docentes que não precisamos de recorrer a outras estratégias. Acho que
reforçámos muito os apoios aos alunos. Temos tomado medidas nesse sentido. Havia
uma coisa que me incomodava imenso e que eu todos os anos dizia, que apontava como
aspecto negativo, na reflexão que era a limpeza da escola. Este ano houve melhorias.
Acho que foi possível contratarmos uma equipa de limpeza, não sei como, porque…
hã… conseguiu-se gerir as verbas de forma a arranjar dinheiro para isso, porque isso,
realmente era um aspecto muito importante. Uma coisa que me continua a preocupar
imenso e que eu acho que ainda não resolvemos é precisamente a segurança, na escola,
quanto a funcionários. Não temos funcionários para vigiar, para cuidar dos alunos nos
tempos, nos intervalos e não só… não temos funcionários. Não tínhamos para
limpeza… isso tentou ser resolvido um pouco com uma equipa de limpeza, mas
continuamos a ter um problema a nível de funcionários, porque eu vejo que há escolas,
por aquilo que eu sei, têm menos funcionários e nós aqui não temos auxiliares de
educação, praticamente… temos uma sala TEACCH, que conseguimos mantê-la, em
parte devido ao contrato de autonomia, mas continuamos a não ter as condições ideais.
Porque ter um autista dentro de uma sala de aula sem uma pessoa para o acompanhar, a
pessoa em quem ele confia, é complicado. É complicado para o aluno, que não evolui; é
complicado para os colegas que também, em parte, são um pouco prejudicados. Esta é
uma das grandes realidades. Isso, se calhar, para mim, são os aspectos mais negativos.
De resto, vejo isto com muito bons olhos.

Entrevistador: Renovarias o contrato?

Entrevistada: Renovaria. Sem sombra de dúvida.

Entrevistador: Ok. Então, se renovasses o contrato, hã… tendo conhecimento do que


aqui está e já… a descrição toda que me fizeste, que… que medidas que não estão
previstas neste momento, o que é que sugerias para alterar? Não digo alterar, ou mesmo,
quando digo alterar, pode ser medidas de alteração ao contrato já vigente, ou ainda,
acrescentar. O que é que acrescentarias ao contrato, para essa renovação?

Entrevistada: Ora bem. É assim: eu… o que é que eu faria? Em primeiro lugar, quando
chegarmos ao final desta etapa, não é?... vai ser feita uma avaliação… hã… todos os
anos temos avaliado… todos os anos temos monotorizado o trabalho que temos feito,
mas realmente, quando chegarmos ao final do ano temos mesmo que fazer um balanço
destes anos todos: aspectos positivos e aspectos negativos. É assim: iria manter os
aspectos que foram extremamente positivos, não é?... e iria pegar nos aspectos negativos

43
e iria arranjar forma de os tentar incluir no contrato, não é?... E… e quais aspectos?
Estes que eu acabei de falar, não é?... Relativamente ao nível do pessoal auxiliar:
arranjar medidas, ou através da parte financeira, não é?... Ou através dos recursos, não
é?... Tal como nós conseguimos recrutar pessoal docente, consegui-lo fazer através do
pessoal auxiliar, não sei, digo eu e pronto e continuar a haver alguma, alguma verba
para investir na manutenção e na limpeza dos espaços escolares que eu, para mim, é
extremamente importante. Acho que é o brio de uma escola, é também o seu aspecto,
hã… Estético. Relativamente à parte estética, não é? De resto, mantinha o que nós
temos, fazendo pequenos reajustes naquilo que correu menos bem, não é? De resto,
parece-me que estamos no bom caminho.

Entrevistador: Muito bem. Resta-me então agradecer a tua disponibilidade…

Entrevistada: De nada.

Entrevistador: Pronto…

Entrevistada: Espero ter ajudado.

Entrevistador: Quero também deixar aqui registado que quando, quando terminar esta
fase deste trabalho, eu vou-te enviar um exemplar, tá bem?

Entrevistada: Hum hum…

Entrevistador: Depois, mais lá para a frente, quando terminar o grande trabalho final,
depois também te envio já com os entrevistados, está bem?

Entrevistada: Ok. Tá bom.

Entrevistador: Muito obrigado.

Entrevistada: Nada. Sempre às ordens.

44
Anexo III – Primeiro tratamento dos dados da entrevista

[Definição, do ponto de vista do entrevistado, de autonomia de escolas](…) a


autonomia numa escola, portanto, é, a meu ver (…) o poder que é dado pelo Ministério
da Educação às escolas em determinados campos.

(…) nomeadamente no campo (…) pedagógico, a nível administrativo, financeiro (…)


de organização e de estratégias a adoptar dentro do Agrupamento.

É assim: para mim é um pouco complicado responder a isso… eu vou-te explicar


porquê… eu dou aulas há quinze anos…

[Se a autonomia, em termos genéricos, é boa para a escola e] Sinto que nós estamos
muito à frente (…) estamos mais organizados e fazemos coisas que eu acho que são
extremamente benéficas para os alunos (…) principalmente para os alunos (…) acho
que o contrato de autonomia (...) embora vá tocar em vários campos, mas o campo
principal e que pretende o grande objectivo, é melhorar o insucesso escolar dos alunos,
(…) fazer com que eles continuem na escola, portanto, também melhorar o abandono
escolar (…) que eles não abandonem tanto.

(…) eu entrei no contrato de autonomia (…) já havia muitas coisas que se faziam nesta
escola que não se faziam noutras (…) pelo que eu me apercebia (…) o contrato de
autonomia, realmente, veio a permitir-nos fazer uma série de coisas (…) não consigo
distinguir muito bem o que é que nós estamos a fazer actualmente que, realmente, é a
proposta do contrato de autonomia, ou que tem a ver com a própria legislação em vigor
(…) Tenho, às vezes, uma certa dificuldade em perceber realmente (…) essa diferença
(…) porque esta escola sempre foi um pouco diferente e sempre andou muito à frente
(…) Claro que o contrato de autonomia oficializou (…) aquilo que nós já pretendíamos
fazer (…)

[Como decorreu o processo de elaboração do contrato de autonomia e quais os seus


intervenientes] Foi uma fase muito complicada. Foi uma fase muito dolorosa mesmo,
aqui no Agrupamento. (…) muito trabalho (…) eu não sei como é que o contrato de
autonomia foi desenvolvido noutros Agrupamentos e noutras escolas (…) Mas eu sei
que aqui foi um trabalho extremamente partilhado. Partilhado entre quem? (…) entre
vários elementos da comunidade educativa (…) tentámos, acho eu, por aquilo que me
apercebi, quem estava a elaborar o contrato, tentou (…) ir a vários sítios, a realidades
diferentes, para em primeiro lugar perceberem como é que as coisas funcionavam nos
outros sítios (…) depois cá dentro, todas as decisões que eram propostas eram sempre
muito discutidas e muito debatidas. E claro que isto é um processo muito complicado.
(…) Porque vinha do Conselho Pedagógico, ou vinha da própria equipa que estava a
elaborar o contrato de autonomia e descia aos departamentos. Os departamentos, por sua
vez, emitiam o seu parecer (…) Que, às vezes, não era em consenso com aquilo que se
propunha.

45
(…) Logo, subia (…) E depois estou a falar do meu departamento, (…) que já somos
muitos, não é?... Já são muitas pessoas, que já existem muitas opiniões divergentes…

(…) Com os outros departamentos todos, quando nos voltávamos a juntar, novamente
uma discussão, porque mais uma vez, todos os departamentos, nem todos tavam de
acordo (…) E depois, cada um tenta ver sempre a sua parte (…) A que lhe interessa
mais, como é óbvio (…) Isto é muito complicado de gerir (…) daí o nosso nono
contrato de autonomia (…) Nona proposta…

[Se o contrato de autonomia está a ter repercussões nos resultados académicos dos
alunos] (…) continuo no Conselho Pedagógico e nós fazemos a monotorização de todo
o processo de avaliação (…) fazemos tratamento estatístico de todos os dados relativos
à avaliação e conseguimo-nos aperceber que realmente está a haver uma evolução, mas
o estar a haver uma evolução, um aumento do sucesso escolar, do sucesso pleno por
aluno (...) haver menos abandono escolar (…) por vezes, pode-se pensar que nós
estamos a facilitar (…) E não estamos (…) de forma nenhuma. O facto de estarmos a
aumentar não tem a ver com o facto de estarmos a ser menos exigentes. Antes pelo
contrário. Porquê?

[Medidas tomadas e previstas no contrato de autonomia que levam os alunos a


melhorar o seu desempenho escolar] Porque nós alterámos os critérios de progressão,
nesta escola são diferentes das outras, à excepção do nono ano. Logo (...) Os alunos aqui
têm, têm que trabalhar mais (…)

(…) Têm que trabalhar…

(…) benéficos.

Mais apertados.

E considero uma medida benéfica…

Porque eu acho que não é importante o aluno passar com muito boas notas, quando isso,
depois, não corresponde, realmente, às suas capacidades, ou seja, o aluno chega a uma
secundária, passou com excelentes notas, porque (…) o ensino foi mais facilitador, mas
depois não tem ferramentas (…) destreza suficiente, não leva competências para se
aguentar numa secundária (…) aqui, acho que somos rigorosos, aumentámos o rigor,
muito a nível das disciplinas mais importantes, portanto, Língua Portuguesa e
Matemática, mas também noutras disciplinas.

[Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia


da escola, ao nível das áreas disciplinares] E eu sou defensora de que é muito
importante a Língua Portuguesa, é muito importante a Matemática, mas, para mim, a
minha área disciplinar, portanto, a área artística, (...) A educação pela arte, pra mim,
acho que é tão importante como (…) Há quem defenda que o importante é a Matemática
e a Língua Portuguesa. Eu acho que a outra é tão importante como (…)
46
[Áreas que, ao abrigo do contrato de autonomia e de acordo com as medidas previstas
no mesmo, foram reforçadas] E daí eu ter sempre defendido que havia necessidade,
também, de se investir na área da educação pela arte, porque contribui muito para o
desenvolvimento da personalidade dos alunos, do bem-estar deles e, no nosso contrato
de autonomia, conseguimos isso. Portanto, conseguimos, realmente, reforçar essas áreas
a nível do Pré-escolar, do Primeiro Ciclo e do Terceiro Ciclo, com a introdução da
disciplina nova.

[Tipo de apoios prestados aos alunos] (…) eu acho que, hã, também se tem feito um
excelente trabalho, isso também devido ao contrato de autonomia e das condições que
nós temos de gerir tudo isto, tem-se feito um excelente trabalho relativamente ao apoio
a dar aos alunos. Portanto, os alunos neste Agrupamento são extremamente apoiados.
Eles têm apoios a tudo. Eles têm o reforço na língua (…) nós não exigimos apenas que
eles melhorassem (…) não começámos a ser exigentes sem dar condições. Nós demos
ferramentas de trabalho, ou seja, eles têm hipótese (…) têm dificuldades na língua
Portuguesa, então têm o apoio na Língua Portuguesa; eles têm uma dificuldade na
Matemática, eles têm o apoio na Matemática, não é? Portanto, tudo isto com o Plano da
Leitura, com as assessorias que começaram a ser feitas este ano directamente com outro
professor dentro da sala de aula e que surtiram bastante efeito, portanto, exigimos sim,
mas também demos.

[Divulgação das medidas contempladas no contrato de autonomia, nomeadamente aos


Encarregados de Educação] E, para além disso, temos feito também, uma excelente
sensibilização a nível de encarregados de educação. Como? Em primeiro lugar, os
encarregados de educação estão plenamente conscientes dos critérios de progressão, dos
critérios de avaliação, dos instrumentos de avaliação, porque nós… eu acho que o
processo aqui nesta escola, todo ele, é muito transparente (…) Nós publicitamos na
página da escola, nós temos o Boletim Informativo que sai regularmente (…) em cada
período e que dá essas informações aos encarregados de educação, portanto, só o
encarregado de educação (…) que não esteja bem informado é que (…) pode dizer que
nós aqui somos exigentes, ou queira mudar o seu educando para outra escola, porque de
resto não me parece, de todo (…) mas é assim: nós não podemos mandar na vontade dos
pais.

É a vontade deles que prevalece e há pais que (…) tão-se pouco importando se o filho
realmente sai com competências adquiridas, ou se chumba. (…) eles não querem é que o
filho reprove. Portanto, eles querem é que ele passe, independentemente de ter
competências ou não. E nós, não é isso que nós pretendemos. O aluno aqui passa se
tiver competências. Porque, se não tiver, fica mesmo retido (…) os Conselhos de Ano
desenvolveram todos os esforços e mais alguns para que o aluno progrida. Se ele não
progride, ou é porque ele realmente não tem competências, então é bom que ele as volte
(…) a ter (…) A desenvolver, para as adquirir (…) de uma forma sólida e eficaz, ou
então (…) fica retido, pronto. Não vale a pena passar só por passar.
47
(…) nós também tínhamos muitos alunos a abandonar a escola, sem lhes poder dar uma,
outra, uma opção. (…) neste momento, temos sempre uma saída para o aluno.

[Mais medidas do contrato de autonomia que beneficiaram o dia-dia na escola, ao nível


das áreas disciplinares] Em primeiro lugar, eu sou professora de EVT, segundo ciclo
(…) eu tou a dar a disciplina de Artes no terceiro ciclo. E realmente, hã, falando de mim
própria (…) noutra escola (…) dificilmente estaria com a disciplina de Artes (…) essa
disciplina foi criada (…) foi um trabalho que eu já venho idealizando (…) é tipo um
sonho (…) Que se tornou realidade…e tornou-se realidade devido ao contrato de
autonomia, verdade seja dita (…) E, realmente, eu acho que, hã, esta disciplina surgiu
para abrir um pouco mais os horizontes dos nossos alunos e lhes dar uma perspectiva de
futuro para além daquelas áreas que eles conhecem, porque a área artística era uma área
muito apagada e neste momento nós temos alunos a chegar ao nono ano (…) A escolher
a área de Artes… e não temos um nem dois… Temos às vezes quatro, cinco, seis (…) Já
tivemos aqui oito alunos, num ano, a escolher a área de Artes. Portanto, eu acho que é
um trabalho em que o professor sente um enorme prazer (...) E eu, realmente, gosto
imenso do trabalho que faço (…) Acho que também houve um reforço, agora falando
não daquilo que eu faço propriamente dito, mas houve um grande reforço na área da
educação pela Arte, ao nível de um Pré-escolar e de um Primeiro Ciclo e que englobe
tudo, a nível de TIC, a nível também físico-motor (…) Que também sinto que houve um
grande reforço a nível de Educação Musical e temos feito pequenos reajustes daquilo
que achamos que está bem ou não está bem, devido à nossa reflexão. Portanto, eu acho
que todo esse reforço, todo esse trabalho (…) só foi possível devido ao contrato de
autonomia.

[Confronto entre aspectos positivos e aspectos negativas do contrato de autonomia]


Mas é assim: eu tenho falado só em aspectos positivos do contrato de autonomia.

Não quer dizer que eu concorde com todos eles (…)

(…) muito sinceramente, existem aspectos mais negativos, mas eu, no todo, tenho
mesmo que fazer um balanço positivo. Porque eu só consigo ver coisas boas. Não sei se
é porque eu sou optimista, mas (…) existem situações pontuais que não são tão…

[Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia


da escola, ao nível dos recursos humanos, nomeadamente na contratação do pessoal
docente] A nível do Agrupamento: senti (…) a continuidade relativamente ao corpo
docente, devido à forma como nós podemos contratá-lo (…) Podemos realmente
escolher um professor que cá teve e que trabalhou e que já conhece, porque não é fácil
(…)
Da contratação do pessoal docente. (…) nós, todos os anos, estarmos a fazer um
trabalho de sensibilização. Porque quem vem de outra realidade chega aqui e isto é um
choque. (…) Porquê? Porque o grau de exigência é muito maior. E não há dúvida
nenhuma disso (…) Há muitas escolas que trabalham tanto, se calhar, como nós, mas
aqui trabalha-se muito. (…) Mas também não sinto que seja um trabalho em que as
48
pessoas se sintam assim tão revoltadas, ou tão descontentes. Não! Temos situações
pontuais, mas isso acontece em todo o lado (…) Pessoas que não se encaixam e é
normal, porque todos nós somos diferentes (…)

[Cumprimento do serviço lectivo, previsto no contrato de autonomia e que melhora a


qualidade do serviço de educação prestado pela escola] (…) relativamente às aulas
previstas e dadas: eu acho que isso para nós (…) foi um passo muito à frente. (…)
noutra escola, se calhar, é um choque (…) quem vem doutra escola, não consegue
perceber logo inicialmente (…) tem alguma dificuldade em perceber quais os benefícios
de ter que repor aulas e trocar e tudo isso, mas chega ao final do ano (…) uma
percentagem extremamente elevada já está convencida e consegue ver os benefícios
disso (…) Nós conseguimos cumprir com as aulas que se prevêem (…) conseguir
cumpri-la na totalidade, acho que é uma mais-valia. Para a escola, para os alunos e para
nós, enquanto docentes que não precisamos de recorrer a outras estratégias. Acho que
reforçámos muito os apoios aos alunos. Temos tomado medidas nesse sentido.

[Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia


da escola, ao nível dos recursos humanos, nomeadamente na contratação do pessoal
não docente] Havia uma coisa que me incomodava imenso e que eu todos os anos dizia,
que apontava como aspecto negativo, na reflexão que era a limpeza da escola. Este ano
houve melhorias. Acho que foi possível contratarmos uma equipa de limpeza, não sei
como, (…) conseguiu-se gerir as verbas de forma a arranjar dinheiro para isso, porque
isso, realmente era um aspecto muito importante. Uma coisa que me continua a
preocupar imenso e que eu acho que ainda não resolvemos é precisamente a segurança,
na escola, quanto a funcionários. Não temos funcionários para vigiar, para cuidar dos
alunos nos tempos, nos intervalos e não só… não temos funcionários. Não tínhamos
para limpeza… isso tentou ser resolvido um pouco com uma equipa de limpeza, mas
continuamos a ter um problema a nível de funcionários (…) nós aqui não temos
auxiliares de educação, praticamente… temos uma sala TEACCH, que conseguimos
mantê-la, em parte devido ao contrato de autonomia, mas continuamos a não ter as
condições ideais. Porque ter um autista dentro de uma sala de aula sem uma pessoa para
o acompanhar, a pessoa em quem ele confia, é complicado. É complicado para o aluno,
que não evolui; é complicado para os colegas que também, em parte, são um pouco
prejudicados. Esta é uma das grandes realidades. Isso, se calhar, para mim, são os
aspectos mais negativos. De resto, vejo isto com muito bons olhos.

[Se renovaria, ou não, o contrato de autonomia] Renovaria. Sem sombra de dúvida.

[Que medidas não previstas, mas que considere importantes, sugere para a consecução
dos objectivos a que o contrato se propõe] (…) o que é que eu faria? Em primeiro lugar,
quando chegarmos ao final desta etapa (…) vai ser feita uma avaliação (…) todos os
anos temos avaliado (…) todos os anos temos monotorizado o trabalho que temos feito,
mas realmente, quando chegarmos ao final do ano temos mesmo que fazer um balanço
destes anos todos: aspectos positivos e aspectos negativos. É assim: iria manter os
49
aspectos que foram extremamente positivos (…) e iria pegar nos aspectos negativos e
iria arranjar forma de os tentar incluir no contrato (…) e quais aspectos? Estes que eu
acabei de falar (...) Relativamente ao nível do pessoal auxiliar: arranjar medidas, ou
através da parte financeira (…) Ou através dos recursos (…) Tal como nós conseguimos
recrutar pessoal docente, consegui-lo fazer através do pessoal auxiliar (…) digo eu e
pronto e continuar a haver alguma, alguma verba para investir na manutenção e na
limpeza dos espaços escolares que (…) para mim, é extremamente importante. (…) De
resto, mantinha o que nós temos, fazendo pequenos reajustes naquilo que correu menos
bem (…) De resto, parece-me que estamos no bom caminho.

50
Anexo IV – Pré-categorização dos dados da entrevista

1. (…) a autonomia numa escola, portanto, é, a meu ver (…) o poder que é dado pelo
Ministério da Educação às escolas em determinados campos. (…)

2. (…) nomeadamente no campo (…) pedagógico (…)

3. (…) a nível administrativo

4. (…) financeiro (…)

5. (…) de organização (…)

6. (…) e de estratégias a adoptar dentro do Agrupamento. (…)

7. [Se a autonomia, em termos genéricos, é boa para a escola] É assim: para mim é um
pouco complicado responder a isso… eu vou-te explicar porquê… (…)

8. (…) eu dou aulas há quinze anos… (…)

9. Sinto que nós estamos muito à frente (…) estamos mais organizados e fazemos coisas
que eu acho que são extremamente benéficas para os alunos (…) principalmente para os
alunos (…)

10. (…) acho que o contrato de autonomia (...) embora vá tocar em vários campos, mas
o campo principal e que pretende o grande objectivo, é melhorar o insucesso escolar dos
alunos (…)

11. (…) fazer com que eles continuem na escola, portanto, também melhorar o
abandono escolar (…) que eles não abandonem tanto.

12. (…) já havia muitas coisas que se faziam nesta escola que não se faziam noutras
(…)

13. (…) o contrato de autonomia, realmente, veio a permitir-nos fazer uma série de
coisas (…)

14. (…) não consigo distinguir muito bem o que é que nós estamos a fazer actualmente
que, realmente, é a proposta do contrato de autonomia, ou que tem a ver com a própria
legislação em vigor (…) Tenho, às vezes, uma certa dificuldade em perceber realmente
(…) essa diferença

15. (…) esta escola sempre foi um pouco diferente e sempre andou muito à frente (…)
Claro que o contrato de autonomia oficializou (…) aquilo que nós já pretendíamos fazer
(…)

16. [Como decorreu o processo de elaboração do contrato de autonomia e quais os


seus intervenientes] Foi uma fase muito complicada. Foi uma fase muito dolorosa
mesmo, aqui no Agrupamento.
51
17. (…) muito trabalho (…)

18. (…) eu não sei como é que o contrato de autonomia foi desenvolvido noutros
Agrupamentos e noutras escolas (…) Mas eu sei que aqui foi um trabalho extremamente
partilhado.

19. Partilhado entre quem? (…) entre vários elementos da comunidade educativa (…)
tentámos, acho eu, por aquilo que me apercebi, quem estava a elaborar o contrato,
tentou (…) ir a vários sítios, a realidades diferentes, para em primeiro lugar perceberem
como é que as coisas funcionavam nos outros sítios (…)

20. (…) depois cá dentro, todas as decisões que eram propostas eram sempre muito
discutidas e muito debatidas.

21. E claro que isto é um processo muito complicado. (…)

22. Porque vinha do Conselho Pedagógico, ou vinha da própria equipa que estava a
elaborar o contrato de autonomia e descia aos departamentos.

23. Os departamentos, por sua vez, emitiam o seu parecer (…) Que, às vezes, não era
em consenso com aquilo que se propunha.

24. Logo, subia (…) E depois estou a falar do meu departamento, (…) que já somos
muitos, não é?... Já são muitas pessoas, que já existem muitas opiniões divergentes…

25. Com os outros departamentos todos, quando nos voltávamos a juntar, novamente
uma discussão, porque mais uma vez, todos os departamentos, nem todos tavam de
acordo (…)

27. (…) Isto é muito complicado de gerir (…) daí o nosso nono contrato de autonomia
(…) Nona proposta…

28. [Se o contrato de autonomia está a ter repercussões nos resultados académicos dos
alunos] (…) continuo no Conselho Pedagógico e nós fazemos a monotorização de todo
o processo de avaliação

29. (…) fazemos tratamento estatístico de todos os dados relativos à avaliação e


conseguimo-nos aperceber que realmente está a haver uma evolução do sucesso pleno
por aluno (...)

30. (…) haver menos abandono escolar (…)

31. (…) por vezes, pode-se pensar que nós estamos a facilitar (…) E não estamos (…)
de forma nenhuma.

32. (…) alterámos os critérios de progressão, nesta escola são diferentes das outras, à
excepção do nono ano.

52
33. (...) Os alunos aqui têm, têm que trabalhar mais (…)

34. (...) Mais apertados. (...)

35. (...) E considero uma medida benéfica… (...)

36. (...) Porque eu acho que não é importante o aluno passar com muito boas notas,
quando isso, depois, não corresponde, realmente, às suas capacidades, ou seja, o aluno
chega a uma secundária, passou com excelentes notas, porque (…) o ensino foi mais
facilitador, mas depois não tem ferramentas (…) destreza suficiente, não leva
competências para se aguentar numa secundária (…)

37. (…) aqui, acho que somos rigorosos, aumentámos o rigor, muito a nível das
disciplinas mais importantes, portanto, Língua Portuguesa e Matemática, mas também
noutras disciplinas.

38. [Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-


dia da escola, ao nível das áreas disciplinares] E eu sou defensora de que é muito
importante a Língua Portuguesa, é muito importante a Matemática, mas, para mim, a
minha área disciplinar, portanto, a área artística (...) A educação pela arte, pra mim,
acho que é tão importante como (…)

39. (…) Há quem defenda que o importante é a Matemática e a Língua Portuguesa. Eu


acho que a outra é tão importante como (…)

40. [Áreas que, ao abrigo do contrato de autonomia e de acordo com as medidas


previstas no mesmo, foram reforçadas] E daí eu ter sempre defendido que havia
necessidade, também, de se investir na área da educação pela arte, porque contribui
muito para o desenvolvimento da personalidade dos alunos, do bem-estar deles e, no
nosso contrato de autonomia, conseguimos isso. (…)

41. (…) Portanto, conseguimos, realmente, reforçar essas áreas a nível do Pré-escolar,
do Primeiro Ciclo e do Terceiro Ciclo, com a introdução da disciplina nova. (…)

42. [Tipo de apoios prestados aos alunos] (…) eu acho que (…) também devido ao
contrato de autonomia e das condições que nós temos de gerir tudo isto, tem-se feito um
excelente trabalho relativamente ao apoio a dar aos alunos. (…)

43. (…) os alunos neste Agrupamento são extremamente apoiados. Eles têm apoios a
tudo. (…)

44. (…) Eles têm o reforço na língua (…)

45. (…) nós não exigimos apenas que eles melhorassem (…)

46. (…) não começámos a ser exigentes sem dar condições. (…)

47. (…) Nós demos ferramentas de trabalho (…)


53
48. (…) têm dificuldades na língua Portuguesa, então têm o apoio na Língua Portuguesa
(…)

49. (…) eles têm uma dificuldade na Matemática, eles têm o apoio na Matemática (…)

50. (…) o Plano da Leitura (…)

51. (…) as assessorias que começaram a ser feitas este ano directamente com outro
professor dentro da sala de aula e que surtiram bastante efeito (…)

52. (…) exigimos sim, mas também demos. (…)

53. [Divulgação das medidas contempladas no contrato de autonomia, nomeadamente


aos Encarregados de Educação] (…) temos feito também, uma excelente sensibilização
a nível de encarregados de educação. (…)

54. (…) estão plenamente conscientes dos critérios de progressão, dos critérios de
avaliação, dos instrumentos de avaliação (…)

55. (…) o processo aqui nesta escola, todo ele, é muito transparente (…)

56. (…) publicitamos na página da escola (…)

57. (…) temos o Boletim Informativo que sai regularmente (…) em cada período e que
dá essas informações aos encarregados de educação (…)

58. (…) só o encarregado de educação (…) que não esteja bem informado é que (…)
pode dizer que nós aqui somos exigentes, ou queira mudar o seu educando para outra
escola, porque de resto não me parece, de todo (…)

59. (…) mas é assim: nós não podemos mandar na vontade dos pais. É a vontade deles
que prevalece (…)

60. (…) e há pais que (…) tão-se pouco importando se o filho realmente sai com
competências adquiridas, ou se chumba. (…) eles não querem é que o filho reprove.
(…)

61. (…) eles querem é que ele passe, independentemente de ter competências ou não.
(…)

62. (…) não é isso que nós pretendemos. O aluno aqui passa se tiver competências. (…)
se não tiver, fica mesmo retido (…)

63. (…) os Conselhos de Ano desenvolveram todos os esforços e mais alguns para que
o aluno progrida. Se ele não progride, ou é porque ele realmente não tem competências,
então é bom que ele as volte (…) a ter (…) A desenvolver, para as adquirir (…) de uma
forma sólida e eficaz, ou então (…) fica retido, pronto. (…)

64. (…) Não vale a pena passar só por passar. (…)


54
65. (…) nós também tínhamos muitos alunos a abandonar a escola, sem lhes poder dar
uma, outra, uma opção. (…) neste momento, temos sempre uma saída para o aluno. (…)

66. [Mais medidas do contrato de autonomia que beneficiaram o dia-dia na escola, ao


nível das áreas disciplinares] Em primeiro lugar, eu sou professora de EVT, segundo
ciclo (…) eu tou a dar a disciplina de Artes no terceiro ciclo (…) noutra escola (…)
dificilmente estaria com a disciplina de Artes (…) essa disciplina foi criada (…) foi um
trabalho que eu já venho idealizando (…) é tipo um sonho (…) Que se tornou realidade
(…) e tornou-se realidade devido ao contrato de autonomia, verdade seja dita (…)

67. (…) esta disciplina surgiu para abrir um pouco mais os horizontes dos nossos alunos
e lhes dar uma perspectiva de futuro para além daquelas áreas que eles conhecem (…)

68. (…) a área artística era uma área muito apagada e neste momento nós temos alunos
a chegar ao nono ano (…) A escolher a área de Artes (…) e não temos um nem dois
(…) Temos às vezes quatro, cinco, seis (…) Já tivemos aqui oito alunos, num ano, a
escolher a área de Artes. (…)

69. (…) acho que é um trabalho em que o professor sente um enorme prazer (...) E eu,
realmente, gosto imenso do trabalho que faço (…)

70. Acho que também (…) houve um grande reforço na área da educação pela Arte, ao
nível de um Pré-escolar e de um Primeiro Ciclo e que englobe tudo, a nível de TIC, a
nível também físico-motor (…)

71. (…) também sinto que houve um grande reforço a nível de Educação Musical (…)

79. (…) temos feito pequenos reajustes daquilo que achamos que está bem ou não está
bem, devido à nossa reflexão.

72. Portanto, eu acho que todo esse reforço, todo esse trabalho (…) só foi possível
devido ao contrato de autonomia.

73. [Confronto entre aspectos positivos e aspectos negativas do contrato de autonomia]


Mas é assim: eu tenho falado só em aspectos positivos do contrato de autonomia. Não
quer dizer que eu concorde com todos eles (…)

74. (…) muito sinceramente, existem aspectos mais negativos (…)

75. (…) mas eu, no todo, tenho mesmo que fazer um balanço positivo. Porque eu só
consigo ver coisas boas. Não sei se é porque eu sou optimista (…)

76. (…) mas existem situações pontuais [não positivas] (…)

77. [Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-


dia da escola, ao nível dos recursos humanos, nomeadamente na contratação do
pessoal docente] (…) a continuidade relativamente ao corpo docente, devido à forma
como nós podemos contratá-lo (…)
55
78. (…) Podemos realmente escolher um professor que cá teve e que trabalhou e que já
conhece (…)

79. Da contratação do pessoal docente. (…) nós, todos os anos, estarmos a fazer um
trabalho de sensibilização.

80. (…) quem vem de outra realidade chega aqui e isto é um choque. (…) Porquê?
Porque o grau de exigência é muito maior. E não há dúvida nenhuma disso (…)

81. Há muitas escolas que trabalham tanto, se calhar, como nós, mas aqui trabalha-se
muito. (…)

82. (…) Mas também não sinto que seja um trabalho em que as pessoas se sintam assim
tão revoltadas, ou tão descontentes. Não! (…)

83. Temos situações pontuais, mas isso acontece em todo o lado (…) Pessoas que não se
encaixam e é normal, porque todos nós somos diferentes (…)

84. [Cumprimento do serviço lectivo, previsto no contrato de autonomia e que melhora


a qualidade do serviço de educação prestado pela escola] relativamente às aulas
previstas e dadas foi um passo muito à frente. (…)

85. (…) noutra escola, se calhar, é um choque (…) quem vem doutra escola, não
consegue perceber logo inicialmente (…) tem alguma dificuldade em perceber quais os
benefícios de ter que repor aulas e trocar e tudo isso, mas chega ao final do ano (…)
uma percentagem extremamente elevada já está convencida e consegue ver os
benefícios disso (…)

86. (…) Nós conseguimos cumprir com as aulas que se prevêem (…) conseguir cumpri-
la na totalidade, acho que é uma mais-valia. Para a escola, para os alunos e para nós,
enquanto docentes que não precisamos de recorrer a outras estratégias.

87. Acho que reforçámos muito os apoios aos alunos. Temos tomado medidas nesse
sentido.

88. [Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-


dia da escola, ao nível dos recursos humanos, nomeadamente na contratação do
pessoal não docente] Havia uma coisa que me incomodava imenso e que eu todos os
anos (…) apontava como aspecto negativo (…) que era a limpeza da escola. Este ano
houve melhorias. (…)

89. (…) Acho que foi possível contratarmos uma equipa de limpeza (…) conseguiu-se
gerir as verbas de forma a arranjar dinheiro para isso, porque isso, realmente era um
aspecto muito importante. (…)

90. (…) Uma coisa que me continua a preocupar imenso e que eu acho que ainda não
resolvemos é precisamente a segurança, na escola, quanto a funcionários. (…)

56
91. (…) Não temos funcionários para vigiar, para cuidar dos alunos (…) nos intervalos
e não só… não temos funcionários. (…)

92. (…) temos uma sala TEACCH, que conseguimos mantê-la, em parte devido ao
contrato de autonomia, mas continuamos a não ter as condições ideais. Porque ter um
autista dentro de uma sala de aula sem uma pessoa para o acompanhar, a pessoa em
quem ele confia, é complicado. É complicado para o aluno, que não evolui; é
complicado para os colegas que também, em parte, são um pouco prejudicados. Esta é
uma das grandes realidades. Isso, se calhar, para mim, são os aspectos mais negativos.
(…)

93. (…) De resto, vejo isto com muito bons olhos. (…)

94. [Se renovaria, ou não, o contrato de autonomia] Renovaria. Sem sombra de dúvida.

95. [Que medidas não previstas, mas que considere importantes, sugere para a
consecução dos objectivos a que o contrato se propõe] (…) o que é que eu faria? Em
primeiro lugar, quando chegarmos ao final desta etapa (…) vai ser feita uma avaliação
(…) todos os anos temos avaliado (…) todos os anos temos monotorizado o trabalho
que temos feito (…)

96. (…) temos mesmo que fazer um balanço destes anos todos: aspectos positivos e
aspectos negativos. (…)

97. (…) É assim: iria manter os aspectos que foram extremamente positivos (…) e iria
pegar nos aspectos negativos e iria arranjar forma de os tentar incluir no contrato (…)
quais aspectos? Estes que eu acabei de falar (...)

98. (…) Relativamente ao nível do pessoal auxiliar: arranjar medidas, ou através da


parte financeira (…) Ou através dos recursos (…) Tal como nós conseguimos recrutar
pessoal docente, consegui-lo fazer através do pessoal auxiliar (…)

99. (…) continuar a haver alguma, alguma verba para investir na manutenção e na
limpeza dos espaços escolares que (…) para mim, é extremamente importante. (…)

100. (…) De resto, mantinha o que nós temos, fazendo pequenos reajustes naquilo que
correu menos bem (…)

101. De resto, parece-me que estamos no bom caminho.

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Anexo V - Categorização dos dados da entrevista

1. AUTONOMIA
1.1. CONCEITO DE AUTONOMIA
1.1.1. DEFINIÇÃO

[definição de autonomia, no ponto de vista do entrevistado]


(…) autonomia (...) o poder que é dado pelo Ministério da Educação às escolas em
determinados campos (…) nomeadamente no campo (…) no campo pedagógico, a nível
administrativo, financeiro (…) de organização e de estratégias a adoptar dentro do
Agrupamento.

1.2. BENEFÍCIOS DA AUTONOMIA


1.2.1. ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA

[benefícios que a autonomia traz à Escola]


Sinto que nós estamos muito à frente (…) estamos mais organizados (…)

1.2.2. SUCESSO ESCOLAR

(…) é melhorar o insucesso (engano do entrevistado) escolar dos alunos (…)

1.2.3. ABANDONO ESCOLAR

(…) fazer com que eles continuem na escola, portanto, também melhorar o abandono
escolar (engano do entrevistado) (…)

1.2.4. ÁREAS DISCIPLINARES/ALUNOS

(…) fazemos coisas que eu acho que são extremamente benéficas para os alunos (…)
principalmente para os alunos (…)
(…) o contrato de autonomia oficializou (…) aquilo que nós já pretendíamos fazer (…)
(…) havia necessidade, também, de se investir na área da educação pela arte, porque
contribui muito para o desenvolvimento da personalidade dos alunos, do bem-estar
deles e, no nosso contrato de autonomia, conseguimos isso (…)
(…) devido ao contrato de autonomia (…) tem-se feito um excelente trabalho
relativamente ao apoio a dar aos alunos (…)
(…) muito sinceramente, existem aspectos mais negativos, mas eu, no todo, tenho
mesmo que fazer um balanço positivo. Porque eu só consigo ver coisas boas (…)

2. CONTRATO DE AUTONOMIA
2.1. PROCESSO DE ELABORAÇÃO
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2.1.1. PARTICIPAÇÃO

[descrição do processo de elaboração do contrato de autonomia]


Foi uma fase muito complicada. Foi uma fase muito dolorosa mesmo, aqui no
Agrupamento (…) muito trabalho (…) foi um trabalho extremamente partilhado (…)
entre vários elementos da comunidade educativa (…)

2.1.2. PROCEDIMENTOS

(…) quem estava a elaborar o contrato tentou ir a vários sítios, a realidades diferentes,
para em primeiro lugar perceberem como é que as coisas funcionavam nos outros sítios
(…) todas as decisões que eram propostas eram sempre muito discutidas e muito
debatidas. (…) vinha do Conselho Pedagógico, ou vinha da própria equipa que estava a
elaborar o contrato de autonomia e descia aos departamentos. Os departamentos (…)
emitiam o seu parecer (…) às vezes, não era em consenso com aquilo que se propunha
(…) são muitas pessoas (…) muitas opiniões divergentes (…) nem todos estavam de
acordo (…) cada um tenta ver sempre a sua parte (…) A que lhe interessa mais (…) Isto
é muito complicado de gerir…daí o nosso nono contrato de autonomia (…) Nona
proposta (…)

3. EFEITOS DO CONTRATO DE AUTONOMIA


3.1. ABANDONO ESCOLAR
3.1.1. INFLUÊNCIA

[influência do contrato de autonomia na redução do abandono escolar]


(…) acho que o contrato de autonomia (…) fazer com que eles continuem na escola,
portanto, também melhorar o abandono escolar (…)
(…) está a haver uma evolução (...) haver menos abandono escolar (…)

3.1.2. MEDIDAS

(…) devido ao contrato de autonomia e das condições que nós temos de gerir tudo isto,
tem-se feito um excelente trabalho relativamente ao apoio a dar aos alunos. (…) os
alunos neste Agrupamento são extremamente apoiados. Eles têm apoios a tudo.
(…) tínhamos muitos alunos a abandonar a escola, sem lhes poder dar (…) uma opção
(…) neste momento, temos sempre uma saída para o aluno (…)

3.2. RESULTADOS ACADÉMICOS DOS ALUNOS


3.2.1. INFLUÊNCIA

[influência do contrato de autonomia na melhoria dos resultados académicos dos


alunos]

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(…) está a haver uma evolução (…) um aumento do sucesso escolar, do sucesso pleno
por aluno (…)

3.2.2. MEDIDAS

Alterámos os critérios de progressão, nesta escola são diferentes das outras, à excepção
do nono ano. Os alunos aqui têm, têm que trabalhar mais (…)
(…) aqui, acho que somos rigorosos, aumentámos o rigor, muito a nível das disciplinas
mais importantes, portanto, Língua Portuguesa e Matemática, mas também noutras
disciplinas.
(…) não é importante o aluno passar com muito boas notas, quando isso (…) não
corresponde, realmente, às suas capacidades, ou seja, o aluno chega a uma secundária,
passou com excelentes notas, porque (…) o ensino foi mais facilitador, mas depois não
tem ferramentas (…) não leva competências para se aguentar numa secundária (…) nós,
aqui, acho que somos rigorosos, aumentámos o rigor (…)

3.2.3. DIVULGAÇÃO

(…) os encarregados de educação estão plenamente conscientes dos critérios de


progressão, dos critérios de avaliação, dos instrumentos de avaliação (…) o processo
aqui nesta escola, todo ele, é muito transparente (…)
(…) há pais que (…) tão-se pouco importando se o filho realmente sai com
competências adquiridas, ou se chumba (…) não querem é que o filho reprove (…)
querem é que ele passe, independentemente de ter competências ou não. E nós, não é
isso que nós pretendemos. O aluno aqui passa se tiver competências.
Não vale a pena passar só por passar.

4. IMPLEMENTAÇÃO DO CONTRATO DE AUTONOMIA


4.1. INFLUÊNCIA NO DIA-A-DIA DA ESCOLA/SALA DE AULA
4.1.1. ÁREAS DISCIPLINARES

[Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia


da escola, ao nível das áreas disciplinares]
(…) sou defensora de que é muito importante a Língua Portuguesa, é muito importante
a Matemática (…) A educação pela arte (…) acho que é tão importante como (…) daí
eu ter sempre defendido que havia necessidade, também, de se investir na área da
educação pela arte, porque contribui muito para o desenvolvimento da personalidade
dos alunos, do bem-estar deles e, no nosso contrato de autonomia, conseguimos isso.
Portanto, conseguimos, realmente, reforçar essas áreas a nível do Pré-escolar, do
Primeiro Ciclo e do Terceiro Ciclo, com a introdução da disciplina nova.
(…) eu sou professora de EVT, segundo ciclo (…) tou a dar a disciplina de Artes no
terceiro ciclo (…) noutra escola (…) dificilmente estaria com a disciplina de Artes (…)
essa disciplina foi criada (…) foi um trabalho que eu já venho idealizando (…) é tipo
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um sonho (…) tornou-se realidade devido ao contrato de autonomia (…) surgiu para
abrir um pouco mais os horizontes dos nossos alunos e lhes dar uma perspectiva de
futuro para além daquelas áreas que eles conhecem, porque a área artística era uma área
muito apagada e neste momento nós temos alunos a chegar ao nono ano (...) A escolher
a área de Artes (…) não temos um nem dois (…) Já tivemos aqui oito alunos, num ano,
a escolher a área de Artes.
(…) também houve um reforço (…) na área da educação pela Arte, ao nível de um Pré-
escolar e de um Primeiro Ciclo (…) a nível de TIC, a nível também físico-motor (…)
também sinto que houve um grande reforço; a nível de Educação Musical (…) acho que
todo esse reforço, todo esse trabalho (…) só foi possível devido ao contrato de
autonomia.

4.1.2. SERVIÇO LECTIVO

(…) relativamente às aulas previstas e dadas (…) isso foi um passo muito à frente (…)
quem vem doutra escola, não consegue perceber logo inicialmente (…) tem alguma
dificuldade em perceber quais os benefícios de ter que repor aulas e trocar (…) mas
chega ao final do ano, (…) uma percentagem extremamente elevada já está convencida
e consegue ver os benefícios disso (…) Nós conseguimos cumprir com as aulas que se
prevêem… conseguir cumpri-las na totalidade, acho que é uma mais-valia. Para a
escola, para os alunos e para nós, enquanto docentes que não precisamos de recorrer a
outras estratégias. Acho que reforçámos muito os apoios aos alunos.

4.2. BENEFÍCIOS DECORRENTES PARA O AGRUPAMENTO


4.2.1. RECURSOS HUMANOS

[Alterações e respectivos benefícios que o contrato de autonomia trouxe ao dia-a-dia


da escola, ao nível dos recursos humanos]
(…) relativamente ao corpo docente, devido à forma como nós podemos contratá-los
(…) Podemos realmente escolher um professor que cá teve e que trabalhou e que já
conhece (…)
(…) o grau de exigência é muito maior (…) Mas também não sinto que seja um trabalho
em que as pessoas se sintam assim tão revoltadas, ou tão descontentes (…) Temos
situações pontuais, mas isso acontece em todo o lado (…) Pessoas que não se encaixam
(…) quem vem doutra escola, não consegue perceber logo inicialmente (…)
(…) como aspecto negativo, na reflexão que era a limpeza da escola. Este ano houve
melhorias. Acho que foi possível contratarmos uma equipa de limpeza.
Uma coisa que me continua a preocupar imenso e que eu acho que ainda não
resolvemos é precisamente a segurança, na escola, quanto a funcionários. Não temos
funcionários para vigiar, para cuidar dos alunos nos tempos, nos intervalos (…)
(…) temos uma sala TEACCH, que conseguimos mantê-la, em parte devido ao contrato
de autonomia, mas continuamos a não ter as condições ideais. Porque ter um autista
dentro de uma sala de aula sem uma pessoa para o acompanhar, a pessoa em quem ele
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confia, é complicado. Isso (…) são os aspectos mais negativos. De resto, vejo isto com
muito bons olhos.

4.3. RENOVAÇÃO DO CONTRATO DE AUTONOMIA


4.3.1. INTENÇÃO

[Possibilidade ou não de renovação do contrato de autonomia]


Renovaria. Sem sombra de dúvida.

5. ALTERAÇÕES AO CONTRATO DE AUTONOMIA


5.1. SUGESTÕES DE MEDIDAS
5.1.1. A MANTER

[Sugestão de medidas não previstas, mas que considere importantes para a consecução
dos objectivos a que o contrato se propõe]
(…) iria manter os aspectos que foram extremamente positivos (…) mantinha o que nós
temos, fazendo pequenos reajustes naquilo que correu menos bem (…)

5.1.2. A INTEGRAR

(…) pegar nos aspectos negativos (…) arranjar forma de os tentar incluir no contrato
(…) Relativamente ao nível do pessoal auxiliar: arranjar medidas (…) Tal como nós
conseguimos recrutar pessoal docente (…) haver alguma, alguma verba para investir na
manutenção e na limpeza dos espaços escolares (…)

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