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ISSN 1413-3873 Revista do Ministério Publico Rio de Janeiro ; autorizado de grégio Supremo Tribunal Federal Registro n° 25/99, de 22/04/1999 DIUM" 72, de 16/04/1999, pl Repositerioautorizado de do ipegetipeo eel cone A Interdic&o a partir da Lei Brasileira de Inclus&o da Pessoa com Deficiéncia (Estatuto da Pessoa com Deficiéncia) Luiz Céudio Carvalho de Almeida* ‘Sumario 1, Introdugdo. 2. Da Incidéncia da Convengéo sobre Direitos das Pessoas ‘com Deficiéncia sobre a Interdicéo. 3. A ‘Nova Interdicdo” a partir da Lei Brasileira de Inclusio da Pessoa com Deficiéncia. 4. A Nova interdi¢So e 0 Casamento. 5. A Interdigdo e 0 Voto. 6. Aspectos Processuais.7. Da Pericia, 8.0 Curador. 9. Prestacdo de Contas. 10. Conclusio. Referéncias Bibliogréficas. Palavras-chave Convengao sobre os Direitos das Pessoas com Deficiéncia. Lei Brasileira de Inclusdo da Peztoa com Deficifncia. Incapacidade Civil, Curatela de Interditos. Resumo ALelBrasileiradeinclusiodaPessoacomDeficiénciaalterousignificativamente ‘0 regime das incapacidades em atencao 20s principios consagrados no texto da Convencio sobre os Direitos das Pessoas com Deficiéncia, 0 qual foi incorporado. 2 Constituigdo Federal com o status de emenda constitucional. As alteragoes promovidas no Cédigo Civil restringiram o alcance da sentenca de interdico aos ‘tos de natureza patrimonial, Nesse sentido, a nova legislacgo tem como foco 0 melhor Interesse do Interditando, mantendo fora dos efeltos da senteriga direitos de natureza extrapatrimonial, como o direito a0 matriménio, a0 voto 20 trabalho. De igual mado busca-se um processo mais atento as circunstancias e peculiaridades do caso concreto e das necessidades do individue cuje interdigSo se pretende. ‘LIntrodugao © iinstituto da interdigo tem recebido a0 longo dos anos severas criticas quanto & sua aplicago no dia a dia forense, sobretudo pela insensibilidade dos ‘operadores do direito em observar durante o processo as caracteristcas pessoeis dos ‘Promotor de luis thular da Promotora de Justia de Prosecio ao Idosoe & Pessoa com Deficéncia we Wealee Campo dos Goytoconeys stuslmente Coordenader do Contra de Apeio Operseons Sot Promotorias de lusiga 20 Koso ea Pessoa com Defeléncle, Revista co Mnistro Pubico do a de Lutz Qauaio Carat de Ammeda intercitandos, o que estariatransformando o instituto num mecanismo de castracéo ede restrgSo de direites, ao invés de uma medida de protegéo em favor do incapaz. Consoante observa Anténio Menezes Cordeiro (In: Tratado de Direito Civil Portugués. vi, Tomo Il, Almedina, 2004, p. 413), “a medida radical dainterdigéo tem conotagées discriminators e surge, por vezes, deslocada. Aids: ela foi desviada, em Certas conjunturas histéricas recentes, do seu objetivo roménico, que ere atutela do pBupllo, Na formula usada sob o nacional-socialsmo, ainterdi¢éo era o*meio de luta a comunidade contra os associais espiritualmente anormais” CO advento da Let ne 13.146, de 06 de julho de 2015, denominada Lel Brasileira de Inclusdo da Pessoa com Deficiencia (ou Estatuto da Pessoa com Deficiéncia, ‘route profundas alteracdes ao tema, representando verdadeira quebra de Paradigma no regime das incapacidades. esse ponto cabe esclarecer que o presente texto ainda mantém o uso da palavrainterdigSo. Tal ressalva mostra-se relevante na medida em que se percebe da intengo do lecisiador da Let Brasileira de Inclusdo da Pessoa com Deficéncla, doravante indicada no texto apenas pela sigla LB a retirada do mundo juridico da referida nomenclatura. Note-seque o texto daLBIngo utiliza apalavraiinterdicoemnenhum ‘momento, preferindo substitul-la por curatela. Assim se observa, por exemplo, nos ats. 84 @ 85 da lel e da nova redacio dada pele LBI a0 Cédigo Civil em seus arts. 1.768 e 1.769, onde se verifica a preocupacdo em se substitur o termo “interdicso" pela expressao “processo que define os termos da curate’, Hé, sem davida, um desejo de expurgar a palavra interdicdo como se a mesma carregasse, em si, um espectro histrico de repressdo. imputa-se ao termoa responsabilidade pela atitude daqueles que subverteram o instituto em detrimento das pessoas com dehiciéncia Contudo, 0 esforco de exclusio do termo afigura-se init na medida em que, ‘em primeito lugar, o mesmo foi mantido na Lei n® 13.105, de 16 de marco de 2015 (Cédigo de Processo Civil), nos arts. 747 e seguintes, devendo ser lembrado que o novo CPC entraré em vigor apés o fim da vacatio da LB Nao bastasse a manutencéo do vocébulo ne legislago processual, € importante salientar que os termos interdigdo e curatela tem sentido préprio. Ne dicgdo de Pontes de Miranda’ a interdicéo é 0 “ato do poder puiblico pelo qual se declara ou se retira (= desconstitul) a capacidade negocal de alguém’, enquanto a curatela ¢ "0 cargo conterido por lela alguém para reger a pessoa e os bens, ou somente os bens” das pessoas com limitagdes em sua capacidade, Feito 0 pequeno comentério terminolégico, retoma-se 0 foco sobre as mudancas trazidas pela LBI no regime das incapacidades, sobretudo no que se refered acdo de interdicao. ‘Tre ratado de Diao rived, Tomo x. 1d, Campinas Bookseler, 2000 476 | Revise do Ministerio Pibica do Ro de Janeiro n# 58, jan/mar 2016 ‘A erica parti a Lai rasa Ge cho da Pessoa ‘som Defensa ca Hess com Defoe Antes de tudo, 6 neressério salfentar que a lel em comente presta-se a dar concretude a comando constitucional jé vigente no Brasil desde o ano de 2008, Nesse ano foi editado 0 Decreto Legisiativo n® 186, de 09 de junho, que aprovou, ‘os termos do § 3°, do art. 5°, da ConsttuicAn Federal, o texto da Convengéo sobre 0s Direitos das Pessoas com Deficiéncia e de seu Protocolo Facultative, assinados em ‘Nova lorque em 30 de marco de 2007, © referido parégrafo 3°, do art Se, da ConstituigSo Federal, com a redacdo dada pela Emenda Constitucional n° 45, de 2004, estabelece a natureza de emends Constitucional para tratados e convengées internacionais sobre direitos humanos _aprovades em cada casa do Congresso Nacional em rnis tures, por trée quintes, dos votos dos respectives membros. E bem verdade que em 22 de agosto de 2003, foi editado 0 Decreto n° 6.949, esta feita da lavra do Poder Executive federal, por meio do qual ze promulgou ¢ referida Convengéo, ainda que se possa perquirir sobre sua real necessidade, uma ‘vez que pelo rito estipulado pelo art. 60, § 3¢, da Constituicdo Federal, cabe & Meso da Camara dos Deputados e do Senado Federal 2 promulgacan de emendac & Constituicao e néo ao Presidente da Repiiblica, 2, Da Incidéncia da Convencta cobra os Direito: das Pessoes un Deficiéncia sobre a Interdicao Uma das mais importantes alteracSes normativas trazidas a0 ordenamento juridico patrio neta Convancio sobre oz Direitos das Pessuas com Deficiencia tol Justamente 0 novo conceito de pessoa com deficiénela, Atéentio,adotava-seo.conceito doDecreton® 3,298, de 20 de dezembrode 1999, Com a redagae dada pelo Decreto n” 5.296, de 02 ue dezembro de 2004, concelto este de cardter exclusivamente clinico. Nesse sentido, ser pessoa com deficiéncla resumiase bbesicamente a ter uma doenca enquadreda na codifcagsio internacional C1D-10 A anilize da deficiéncie levava ein conta tao somente 0 individuo e no 0 ambiente em que o mesmo se encontrava inserido e nem suas funcionalidades, A titulo de exemplo, permitia-se que duas pessoas com uma perna amputada fossem consideradas pescnas com deficiéncis « despeito das Leuiiloglas asistvas 2 que tiveram acesso, a despeito do apoio familar e a despeito da interacdo que tlveram ‘com as barreiras impostas pela sociedade. © neve conceito vei no art. 1° de Conventao, verbis: "pessoas com deficléncia sdo aquelas que tém impedimentos de longo prazo de naturezs fisca, ‘mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interacdo com dlversas barreiras, podem obstruir sua participagso plena e ofetiva ne sociedaue eit Igualcades de ‘condigées com as demals pessoas". ‘A pattir do novo paradigma, ser considerado pessoa com deficiencia exige dols elementac consttutives: ) impedimentos de longo prazo; b) obstrueao na Participacao plena e efetiva na sociedade em razéo de diversas barreitas, Revista do Minstério Publica do Rode Jeneor#39 jan mar 2015 | 477 a tudo Carvaihe de Aimeida Assim, duas pessoas com o mesmo quadro clinico (dois amputados, dois autistas) podem receber enquadramento diverst wonferme haja Ou nao plena ¢ efetiva participagao na sociedade, importando muito mais nesse contexto 2 funcionalidade do que a descricéo clinica de sua condicéo fisica/intelectual/ mental/sensorial? Outro ponto que merece destaque a partir do novo concelto & que a Convengéo inovou 20 fazer a distingdo, antes inexistente no ordenamento, entre a deficiancia intelectual ea deficiéneis mental. Na primeira hi o deficit wognltlve mals relacionado 20 aprendizado e na segunda a desorganizacdo mental, Ambos podem ser enquadrados como pessoas com deficiéncia Soba vigéncta do catélogodoDecreton*3.296/1999 apenas ofuncionamento intelectual significativamente inferior & média era considerado como deficiéncia, Sob aquele regramento tal circunsténcia era denominada como deficiéncia mental, No regime Inaugurada pela ConvencSo esta caracteristica se enquadia wind deficiencia intelectual. A Convencéo inova ao utilizar o termo defciéncia mental para uma nova espécie, qual seja, daqueles que apresentam desorganizaco mental sem que 2 mesma importe em atraso de anrendizadia, coma ecorre, por exemple, com pessoas com esquizofrenia, Para 0s fins a que se prope o presente estudo, o que importa dizer é que {0 abarcar as pessoas cam defciéncia mental a intelectual, o: principios vetores da Convencao passaram a iluminar o instituto da interdicéo como um todo, exigindo, mesmo antes da edicao da LBI, uma releitura do instituto em tela, Tal & preneupagio da Convengio com a restrigdo da cepacidade Lvl des pessoas com deficiéncia que @ mesma dedica um artigo exclusivo para o tema, qual seja, 0 12. Transcreve-se, em especial, o item 4: *Os Estados-partes assequrarao que ‘todas as medidas relativas a0 exercicin da caparidade legal incluam salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir abusos, em conformidade com o direito intemacional dos direitos humanos. Essas selvaguardas assequrardo que 2s ‘medidas relativas a0 exercicio da capacidade leaal respeitem os direitne, a vantace ¢25 preferéncias da pessoa, sejam isentas de conflto de interesses e de influéncia indevide, sejam proporcionais e apropriadas as circunsténclas da pessoa, se apliquem pelo periodo mais curto possivel e sejam submetidas 3 reviséo reaular Por uma autoridade ou 6rgo judiciério competente, independente e imparcial. AS salvaguardas serdo proporcionais 2o grau em que tals medidas afetarem os direitos einteresses da pessoa.” Do referido preceito é possvel extrar 5 (cinco) principios. T20 aie define » postos com deficéncie nfo ¢ falta Ux wm membro nem a visao ou audicso ‘reluidas.O que caracterie e pessoa com Geficiéncis ée dfculdade de se elcionar cose integer na socledade 0 gre de difculdade de se relalonay, de se Integra na sociedede, ae ester nchado Socialmente 0 grau de clficuldade para a inclusso socal ¢ que defiaré quem congo peer ey deficlénca® (Arado, Luiz Alberto Davi. A Proteceo Constitucional da Pets ram Derctoncs wee, Brasia: Sor, 201,820) 478 | Revsta do nisero Pubic do Re de deni nS, janmar 2016 A ieraiaoa parca Lei Braslera de cust de Pessoa O primeira dees principio do PROTAGONISMO DO INTERDITANDO. Via de regra, nas agbes de iterdicao hé pouca ou nenhuma partcipacéo do interditando, 2 qual multas vezes se limita a responder perguntas padronizadas do magistrado ¢ que nada acrescentam na afeticéo do teal desejo do paciente na contexte da acho lem quest6es relevantes como a escolha do curador ou os limites da interdicao. Outro principio extraido da Convencio é o do MELHOR INTERESSE DO INTERDITANDO, ou seia. a aco deve se reverter em medida ce protecio que tutele linteresse do nterditando e nao de terceltos, como s6iacontecer em casosem que 2 familia busca arestricdo de direitos de familiares idosos para impedi-los de praticar ato que, embora sejalcto e desejado live e conscientemente pelo paclente, pode comprometerinteressessucessérios. 0 terceiro principio que se elenca & 0 da PROPORCIONALIDADE, segundo © qual as restricdes na prética de atos juridicos devem se limitar an minima necessério. Esse, aliés, fo o fio conciutor da campanha capitaneada pelo Conselho Nacional do Ministério Publico (NMP) denominada "Interdicdo Parcial é Mais Legal’ em que se propunha a prioridade da interdigo parcial em detrimento da interdicéo totaP. Os dois tltimos principios 80 0 da TEMPORALIDADE e 0 do ‘ACOMPANHAMENTO PERIODICO, que se referem, respectivamente. & necessidade de reavaliagées periédicas para manutencSo da restrigao da capacidade nos moldes {em que oi deferidaoriginalmente ea necessidade de prestagSo de contasa respelto do.exercicio da curatela Conforme se perceberé a seguir, todos os principios previstos na Convenco inradiaram-se pelo texto da LB, que empresta aos mesmos a concretude de que ecessitam para a garantia dos direitos das pessoas com defcienca 3.A "Nova Interdicéo” a partir da Lei Brasileira de incluso da Pessoa com Deficigncia Muito do que se apregoa atualmente como novidades trazidas pela BI, na verdade, jé estava presente no ordenamento sob 2 forma de principios canstitucionais, desde a ratificagio da Convengo sobre os Direitos das Pessoas cui Deficiéncia pelo Congresso Nacional. ‘Todavia, até certo ponte de forma coerente com attradicéo Juridica brasileira, ‘edigSo de uma legislagie ordinéria teve o poder de chamar aaternyavdes operadores do direito para a revolugo que se propunha no regime das incapacidades, sob 0 enfoque dos anseios dos movimentos sociais que desembocaram na edigso da convencia + Pare mals informacbes basta acessar 0 sequinte endevec olmdnicn: he /hwur crm. goulb/patal/ acaovnacionalldretos fundarmertalsfpcotorinta/26h serena parcal @ mal legal60TS obj. {eral (Acesz0 em 17 nox. 2015), Revita do irstiie Pubice do Ro de Janevor®59 jan mar 2036 | 479 te uo Carano de Aria O primeiro ponto que chama atencéo ¢ 0 que se poderiaintitular como o fim da interdicéo total, decorrente da alteracio do texto do art. 1.772, do Cédigo Civi Mesmo antes do advento da LBI, a Interdicéo parcial era indicada como a alternativa mais coerente com o principio da dianidade da pessoa humana e.num plano ‘mais especifico, com 0s principios jé consagrados na Convencio sobre os Direitos das Pessoas com Deficiéncia agregados 2o texto cohstitucional sob o status de emenda*, Outro ponto que é relevante é que muita emhara usialmenta ce utilzacse {a expresso interdicgo total, 0s direltos Inerentes & personalidade néo eram afetados pela restricéo da capacidade, tendo sido objeto inclusive de entendimento ‘consagrado no enunciado n° 138 da Ill Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiga Federal. Transcreve-se:"A vontade dosabsolutamenteincapazes, nna hipotese do inc. | do art. 39, € juridicamente relevante na concretizagéo de situagées existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto’, (O que a alteragéo legislativa fez fol tornar como regra geral o que no regime anterior era uma possibilidade do juiz ao prolatar a sentenca. © texto anterior do art. 1.772, do Cédigo Civil, permitia ao magistrado circunscrever os limites da curatela as resttigdes constantes do art. 1.782, do mesmo diploma legal, relativas 20 prédiaoje que se referem @ atos de natureza ‘eminentemente patrimonial No regime inaugurado pela L8l o limite da curatela é fixado justamente pelo att. 1.782, do Cédigo Civil. uma vez que 0 novo texto do art. 1.772 6 imperative a preceituar que o juiz determinaré os limites da curatela de forma circunscrita ao rol do art. 1.782, que elenca os seguintes atos: Art. 1782. A interdigo do prédigo s6 0 privaré de, sem curador, ‘emprestar,transigir, dar quitacSo, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, om geral, o¢ atoz que nio ejam de mera administracio. Note-se que nesse ponto € possivel estabelecer um convivio harmonico centre @ LBI e 0 novo Cédigo de Processo Civil que, muito embora nao mencione ‘quais seriam 0s limites da curatela, estipula que os mesmos deverdo ser fixedos na sentenga, segundo o estado © o desenvolvimento mental do inteidito (al. 755, inciso |, do Novo CPC). Uma questo que se coloca ¢ de se estabelecer se a ago de interdicao, sob 9 nove regi, linile-se, ein leriius absolutos e Intranspontvels, a restringlt 27E nacelvelpartirae area curatelaplena quando existe a ahemativa de Nexbizé a. Desi modo, 2 ‘consagragao da Corte elaava no art 1/20 LL 200z surge coma mecida menos esr de retort ‘Sintered tot ABREL, Cela atoosa Cratlae rtrd Chl ioe ana! Laren Ju 2009, 228, 180 | Revista co Ministéro Pubico do Rie de dana n 59, janirnar 2016, [Amerigo a parti da Lei Bassa da incluso da Pessoe ‘comDefcica Esato da Pessoa com Decne 2105 exclusivamente de natureza pattimonial. A resposta a tal indagacSo possui Tepercussoes relevantes, tanto sob o prisma do dlreito material quanto’ do processual, o que se anallsaré com mais vagar nos itens subsequentes. Porém, numa primeira andlise, permite-se responder que se dlivisa uma intencao em restringiro objeto da aco de interdicso &esfera patrimonial. NZofosse assim 0 catélogo explicitode atos vinculados & curatela néo tera sido paremettizado em funcéo do prédigo®. Poroutrolado,oart.6°eoart.85,ambosda LB deixamclaroqueadefinicéoda ‘curateta ndo alcangaré mais direitos extrapatrimoniais tradicionalimenterestringldos pelos efeitos da sentenca de curatela,tais como oditeito a0 matriménio, 20 trabalho 20 Voto. Alias, 0 caput do art. 85 fol redigido de mado a no detar divides quanto 20 limites patrimonlals da agao de interdiclo.Transcreve-se: “A curatelaafetad tao somente os atos relacionados 20s direitos de natureza patrimonial e negocial” Todavia, remanescem resquicis do alcance da curatela a atos de natureza ‘no patrimonial, ainda que nao expressamente declarados na sentenca. Talsresquicios se divisam notadamente nocasodetratamentos de ctide, onde em funcZo do comprometimento mental ou intelectual do Intedltado, esgotadas todas as formas para obtengdo de consentimento, este se mostrar impossivel. Nesses 250s, a propria LB! cria uma excecdo, permitindo ao curador que faca a opcdo em ome do curatelado. Eo que estipulao parégrafo nico, do art. 1, da Lal. Em hipéteses como esses, hd o que jé se tem identifcado como auséncia da c2pacidade para consenti, que independe da condicéo da pessoa ser interditada ou no. Qualquer pessoa pode, ainda que momentaneamente, ser privada de tal capacidade (que néo se confunde com a capacidade de fato ou de direite), necessitando de um suprimento nos casos em que for exigivel manifesteco de vvontade, como no caso do tratamento médico. Outros dispositives legais jé previam essa atuagéo supletiva do curador nas questoes afetas & sade, permanecendo em vigor, iradiadas pelos principios «onstitucionaistrazidos pela Convenco sobre Direitos das Pessoas com Deficencia, Eo que:se verfce, por exemplo, no art. 17, paragrafo Unico inciso Ida Lein® 10.741/2003 (Estatuto do Idosoy. £ Nesse sentido Tepedino, Barbozee Moraes in: Cbdiga Cul Interred. ¥.N. Ro de Janeiro: Renova. 2014 p. 5231: "Portant, « incapacidade do prodiga nose refere a outosstos que nfo os Houses & ‘enosigso contin nortaserido vere 1702 epeteu seu antevenorant av GoLe geese ce uals, no toratva de ats privados questo vedados co incapaz po procigaleda exstasaree por ata de eos cvs de dsposicao patrmorial Eaardo Espinal, A Feria, 625-626" ‘Acapacidade para consentr pressupde quatro clemertosa) capaciade para deci sobre aces) scapacdace pare compreenderetbs<) 3 canatidace nara comprtende acaarnsiays)s capaci para se autedeterminar com base na iformacio obtida Neste serido PEREIRA, Andie Gontale Biss, ‘A Capacidace para Consentiz um novo ramo da capacidadejurdiea, in Cornemaroyoes os 5 Aros dO {Séigo Cle dos 2 nos ca Reforma de 1977 Colnbra Eaters. 2005, pags. 208 v0), AE. Ro dosoque estes no dorino de susfacidades mente avapro deo de opr peo teatamante de sade que orreputese mais faverdve Porégrafo rico, Néo estando o Koso em condicaes de broceder& opto, est ser feta Revista do Minstria Pabico do Ro de Janevor® $9 jan far 2016 | 182 ie suo Cavan de Almas 4. ANova Interdigéo e 0 Casamento Um dos aspectos mais impactantes na reforma do regime das incapacidades 6a manutencao da capacidace para o casamento para as pessoas interdtadas. ALBI tem uma manifesta preocupacao em enfatizar tal aspecto, conforme se observa do art 6% Inclso,e doar. ¥o,§ 12. Nao bastassem os dispostivosinsertos na propria le lem comento, houve a preocupagao em se alterar o Cédigo Civil no que se refere a invalidede do cesamento (vide @ nova redagao dos arts. 1.548, 1.550 1.557). Portanto, no novo regime posto pela LB, a pessoa interditada pode casar. © questionamento que se impbe refere-se &s condigdes do interditado para manifesta validamente sua vontade. A interdicgo, 2 despelto de eventuais distorgbes no seu uso, tem como finalidade precipua a protegao do individuo com deficiéncla mental ou intelectual. "esse sentido, também se prestava a impedira prética de atos elvados de vicio, 20s uais 0 incapaz estariasujeto em funcéo da acéo deletéra de terceiros. ‘Assim também ocorria em relago 20 casamento. A interdicéo se prestava a protegé-lo de goles. Entretanto, o novo recime estabelecido pela LAI precisa ser melhor analisado para néo gerar conclusdes equivocadas. Historicamente, muitas pessoas interditadas sentiam-se tolhidas em sua vida pela impossibilidade juridica de casar-see constitu fara. Muitas vere, tale pessoas jé mantinham unides estévels. Observava-se que tals potencialidades dos interditados sequer erem analisedas no curso do processo de interdicéo, 0 qual, invariavelmente, independentemente das caracterstcas do individuo, aerava ‘uma sentenca de interdigdo total, dando tratamento uniforme e profundamente restritivo a stuacées diferentes. Obviamente, hé uma aama diversa de pessoas interditadas, em que ac extremos vo desde limitagGes minimas até a impossibilidade de contato com 0 mundo exterior. © ponto chave da nova legislacao é que. diferantemanta do regime anteror, 2 incapacidade para casar néo é mais aferida a priori no bojo de uma acéo de interdigdo, mas sim caso a caso a partir de provocacées pontuals pelos legitimados para tanto. jo crador quando o ides for interctado; pelos famille, quando iso nao ier curador ou este no puder ser cantactado em tempo hibit I" ple mation uancin ara Iminanta ace te vida eh houses tampo Niel pars conauts © ‘cured ou amin IV peo proprio mécteo, quando née howver curadt ou familar conhecido, caso em cue deveré {omnunicar fate 20 Misti Plea Gem gifan origina). *Mosta-se perinente aio de Peto Peringien que 90 analsaro tema advert; “estado pesoal _peologio ands que permenente da pessoa, quad sea sosoivto ou toll mas graduscae parcial 0 Sepode reduzirem uma serie esterectinada de imta¢Bex,profogSere excusbes cue, no case coneict, listo & levando em conslderagbo 0 gre 2 qualcade do defi pakquc, nao sejstincam c seaoam ‘or representarcamisas-de-foea totalmente despropotcionadase prncoalmentecontrestantes com 2 vealancan da lana docoruntuimantn da panel betes Dh Sik nwodusso se cree Sel onattutonal ed, Rode oneirarRenover 2002, 9.164, 182 | Revista do minstro Pbico do Rio de Janeton® $8 jan/mar. 20:6 ‘Alncrdicto apart da el rasa de rh da Pesos ‘com Desens (statute da Pessoe corn Getconcad Mals complewns sero os casos em que higidez de vontade nfo seja t3o clara assim, devendo a andlise respectiva ser desenvolvida no boje de ars brocesso judicial onde se busque declaragdo judicial nesse sentido, ou, no Feo_em qe, o ato id tenha cide praticado e esteja sey questionsde, sus desconstituigéo. Mesmo no ambito da habilitagio permanece a possibilldade do Gusstionamento da higide7 da manifectagio de vorniade do interatado por melo 62 Impugnaséo aque se refee oat. 1.526, pardgrafo neo, do Codigo Ci, cujo texto permaneceu inalterado apés o advento da LBI. Porém. deve cer anotade que no casu em que o casamento for realizado 2 despeito da incapacidade para o consentimento (stuacao de fato) nde exene, thats aberta a possibilidade de reconhecimento da nulidade absoluta, em reas G2 revogacéo do inciso |. da art 1548, do Cédigo Civil, mas ido somente eorene ‘abertaa via da nulidade relativa, com fulero no art. 1.850, incso W, do COdlige Ga esse ponto, fragiliza-se a proteséo ao interditado, sobretudo em razio Ge gitstencia de prazo de decadancia para as agaes de anulagad (art TS6Gr ae Cédigo Civil, néo aplicaveis para as acées declaratérias de nulidade. Note'se que além de casar a pessoa interditada poderd decid quanto a0 Dumero de fhos. condo vedads zu esterlizeyau compulsoria (fart. nelscs fade {BD podendi inclusive adotar (at. 6 inciso VI, da LB). Contudo, da menrna forma como ocorrecom qualquer pessoa, pedido ‘de adogéo formulado por pessoa interditada seré analisado em funcio do melhor interesse da crlanga, devotee oor verlicadas as condigdes do candidato para o exerccio do poder familiar 5.A Interdicéo @6 Voto Je campo do Direito Eleitoral também se dlivisam repercussées olundas das alteragées legais determinadas pela LB, foc, No oe fe Tarte (Manual de Oreo Civil 4d, Rode Janet: Forense; So Pole: WMetoce, 2016 pags. 1152/1953), mini conc as HREM 0 asamento & consideradoinexistente, es que ete ¢ elemento miimoessencial pare eto eek oa nase Se vontde spot pels doutna qu aca et nest aque Seen Conese fica ouvs absolut (press ica querstra ttalmentes tones aes oe SieetgeMsrealeaoscom pssossadads ou hpmataataso Mural dofisae Beh ee ee So carmerno OR Ao ae eeTINa I SunGS0 Ge ebllade emcconal umes te ces ose ‘Seeatimento (Rs Acro 4091/1855, Camara Ce Ral ben Peco eee oeamease Revista do Mristeno Pico do Rede Janeen 58, janine 2016 | 185 ee luis Cio Cana de Amica Uma das alteracées trazidas pelo diploma legal em tele foi a nova edacao dada ao art. 3°, do Cédigo Civil, de mode a limitar apenas aos menores de 16 (dezesseis) anos a condicao de absolutamente incapazes. Logo, todos aqueles sujeitos @ interdicao passaram, indiscriminadamente, & condicéo de relativemente incapazes. Oart. 15, Inciso Il, da Constituigso Federal, possibilita a perda ou suspensio dos direitos politicos no caso de incapacidade absoluta que, até o advento de LBI, ecorria das sentencas de interdicao em que tal condicée era reconhecida. No regime inaugurado pela LB, as sentencas de interdi¢ao deixam de ter qualquer repercusséo no campo eleitoral, vez que 0 Interditado nao @ mais considerado absolutemente inepas. Nao bastasse tal aciocinio,o art. 85, § 15, da LBI, € expresso ao preceituar que a curatela néo alcanga o dieito a0 voto. Contudo, pode ocorrer uma impossibilidade do exerciclo de tal direito conforme 0 grau de comprometimento do interditado, sendo invocavel nesse caso a Resolucdo TSE n® 21.920, que isenta as pessoas com deficiéncia nessas condigoes das sangoes decorrentes do néo cumprimento das obrigagées eleitorais. O texto do pardgrafo unico, de seu art. 1, prevé: "Nao estard sujeita & sangéo 2 pessoa portadora de deficiéncia (sic) que torne impossivel ou demasiadanente uneruse o cumprimento das obrigacoes eleitorais,relativas 20 alistamento e a0 exercicio do voto", 6. Aspectos Processuais (© momento de vigéncia da LB! coincide com o do nove Cédigo de Processo Civil. Considerados 0s periodos de vacatio leas, o primelro tem sua vigéncia datada do dia 06 de janeiro de 2016 (exceto alguns dispositivos, fart, 125) eo segundo no dia 16 de marco de 206, Numa primeira impresséo, percebe-se uma falta de sintnnia entre os dois diplomas legais, que, contudo, néo chegaacomprometero sistema cujofundamento reside na Convengéo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiéncia’®, A desarmonia 6 verificavel Inga da proamio na comparagio do art. 717, do Novo CPC, com 0 art. 1.768, do Cédigo Civil, na redacéo determinada pela LB Os artigos em destaque referem-se & legitimidade para a deflagracéo da acao de interdigdo e ndo s8o coincidentes. {5h desarmonia entra os dos diplomeslegns mostra-ede forme fagrante ante a anise ¢o at 1.072, inci I, do nave Cécigo de Processo Civil, cue fevoga, ents qutas igne mun vara arated ‘oaincada pela S|. Asim se rsa um quscro attmente cmplore de Sretontertemporal ume Ses {ue os artigos revogados pelo novo CrC foram alteraconno cso ca vocotoacrescentance preceon ‘que no forem considerads peo legisadorrevogacar. Nesse context, auscasepresenernente, pelo setae opr une tere qu pose o cowie nneen eau Kant de erie ete inna opresente seu fete Pedic Dut fpstwoek Medledhdecom oe edtonlieciona- 187 Acesso em Te Gea. 2015) 184 | Revieta do Ministre Pdbico de Rio de Janeiro 59 jan/mar. 2086 A Interdigo apart da Lei Brasieta de ncusto da Peso ‘om Deflancia estan ia Doss non Daioh © Cécigo Civil apés a alteracéo determinada pela LB estabelece a seguinte ‘ordem (ef. art. 1.768):\- pais ou tutores; I~ eSnjuge, ou por quelquer perenterll-o Ministéro Pblico; Va prépria pessoa. Também regula, em sequéncia, a atuacdo do Ministéio Pablico como proponente da acéo, dando-Ihe abrangéncia de atuar Ros casos de deficiéncia mental ou intelectual, nas hipdteses de inexisténcia ou omissao dos demas legitimados (ide art. 1.769, inci). Por sua vez, © Novo CPC faz opcbes diversas, estabelecendo diferente leghtimidade ativa e critéio diverso para o ajuizamento da acdo por parte do Ministério Palco, Nas respectivas relacdes de leaitimados adotadas pelos diplomas lagals em ‘eferénciahé pontos de convergéncia que ndo demandam polémicas, els que ambos Preveem a legitimidade de conjuge, parentes e tutores. Quanto ao companhelro, muito embora o Cédigo Civil sea sllente a respelto, regime de equiparacéo entre ‘unizo estavel e casamento determinado pela Constituicéo Federal autoriza 0 seu enquadramento noo! de legtimados divisados pelo Cédigo Civil ainda que omissa sua meno expressa". © que, de fato, pode ser objeto de controvérsia séo as inovecées trazidas pelos diplomas legals e que no encontram reciproca previsto. Enquanto @ LI inova.o inseir entre os legitimados a propria pessoa com deficiéncia (nova redacéo oar. |./08, ncso v, do Codigo Civil), Nove CPC faza previsio, até entéo inédita, a leaitimidade do representante da entidade em que se encontra abrigado 0 inerdItando (art. 747, inciso I. No entanto, hé possiblidade de convivéncia de ambos dispositivos, uma ‘vez que € possivel admiti-se a legitimidade prevista em diploma legal civerso do Codigo de Processo Civil desde que nao confitante ‘Cumpre registrar que a legitimidade do proprio interditando muito embora ssa soar exética a alguns jé era admitida pela doutrina, ainda que de forma minoritaria®, 5 Nesse sentido Tepedio, Barbaza¢ Moraes Céaigo Cl interpretado.¥, Woe lane: Renover, 2014, 502: “Nesta inka, n rormpanhaira dave cer incutde ne cence don legtsneden torent interaigfo,mesmondointegrerdo exressamentes liste dosinicados opresenteerign.especlmenc pot sera unio esidvel entaade farliarconsttucionlmentsreconhesies (eR art 26 35- 1 Na vigéncia da legisiacgo anterior Alcides Mendonga de Lima jt acme tal possllidede lh: Comentirios a0 Codigo de Processo CW Xl. S60 Paulo evista dos burl 1982 0 @36) Tanscreve. os, "208, Peuldu do propio mcerdrando ~ A pessoe bode perceber que nioesige erm seu perio {hizo ¢ completo aiscernimente, mesmo em fases atermadss, A oulorge de procurayse a terest ‘io resolver, pole, qualquer momento, poderia roger. © pode havero ieresse manifesto de, Gefnitvemente (pelo menos enquanto dures anomalia psiuic), se respuetcace a propia asso maxima: seu patrminin ram's nomaario de curader pels hic Evbors st abe oer fentendemos potsivel,poraue ninguém velaré mais por si mesmo do que 0 prOstioiteresade. St os arentespréalmos © 0 cOnjuge, inclusive o Ministerio Pubic = este sentimentalmente slnels por intro 20 interdtando ~ poder requerer = daclracko, por que nfo ele proprio? Ou sed exposte 8 situagdo ao Ministério Pablo que promovers, ae entenaer ue & ceva: ou entao, ag cretareente, ore mdvogade, 0 misceigrubio Severs inter e Severdsernamends Cicse epee of Side, para regulraacaodo eto: Revista do Ministero Pubico do Rio de Sano andar 2006 | 188, Le Cludio Carvato de Ammede Quanto a legitimidade do Ministério Publico, percebe-se a mesma falta de sinconia entre a LBIe 0 novo CPC. A LBI promoveu alteracso no Cédigo Civil para conferir legitimidade irestrita para a defiagracao da acéo de interdicao sempre que ‘2 membro do Ministério Publico se deparar com hipétese de tutela de direitos de ‘pessoa corm Ucficléncia mental ou intelectual e ainda alterou a redago do art. 3° da Leino 7.853, de 24 de outubro de 1989, para inserir, na mesma linha de raciocinio, a tutela de direitos (ou interesses)individuaisindisponiveis de pessoas com deficiéncia re rol de dircitos cuja legitimidade foi cunferida a0 MP. Por outro lado, o nove Cédigo de Processo Civil manteve a legitimidade do Ministério Pdblico atrelada as hipdteses de doenca mental grave. 'Nesse ponto em particular percebe-se certa inadequagéo da terminologia ‘adotada pelo novo CPC aos conceitos juridicos presentes na Convengo sobreos Diretos das Pessoas com Deficiénciae, portanto, inadequada & prépria ConstituigSo Federal”, Quando a Lel n° 7.853/1989 confere ao MP a legitimidade para a tutela de Glireitos individuais indisponivels possibilita que o mesmo ajuize qualquer aco que ‘tenha como inalidadea protecaodetais interesses. Enesse sentido, considerando-se ‘que €3copo da interaicao é a protecéo do incapaz (agora somente o relativamente incapaz),ndo se vislumbra como se frustrara atuaczo ministerial na defesa de pessoa com deficiéncia, ao argumento de falta de previsio no Novo Cédigo de Proceso Givil de legitimiciade para tanto. Havendo a presenca de interesse de pessoa com deficiéncia, aplica-se a legitimidade prevista em lei especial, que acaba coincidindo com 0 que prevé 0 ‘texto du Couigo Civil alterado pela LB, deixando de ter relevancia a andlise do que seria doenca mental grave, expressao, aids, que carece de definicSo juridica,falha {ue no ocorre com o conceito de pessoa com deficéncia Deve-se lembrar, ainda, que mesmo apés a vigéncia da LBI, mantém-se bhigido © preceito insculpido no art. 74, inciso ll, da Lei n® 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), que confere ao Ministério Puiblco a legitimidade para a deflagracio da osfo de interdigdu es relacao a idosos, sem que haja qualquer ressalva 20 tipo de transtorne mental ou espécie de deficiéncia. 7.Vaventcia Apesar da legislacdo revogada néo fazer qualquer exigéncia expressa nesse sentido, a praxe forense nas acées de Interdi¢ao, na quastso da pericis, conferia prevaléncia ao saber médico. Gills Barbosa Abreu essinalova, antes da oromulanchn cla IR, am reine 4 manutengSo do terme ence menial grave pare legtimacio da stuacso do MP no novo CRC gus “o melhor polkioranens (aque que entende ser da maior relevincia a atuas20 do Parguet na Sefesa Ges mtersses eee ‘nividunsinisponivels’,entendendo nessecontexto que 3 nterpretaclo mais adeaeacs sxe eoce mengao& “doenca mental grave" se prestara apenas a confer o carder subscare’s asaseao Core eset situnedo atpocies (fs Piet Linn score @ eerdgao apes © Novo Cage fe Meneses Me rtoa: RV, 2018, 160. 186 | Revista do Ministerio Pabico do Rio dedaneto #59, jan/mar 2015, A lrtertiso a parca ei rai de incluso da Pessoa com Defeincia Esato da Pessos com Deters Contudo, muito embora em vérios casos tais pericias tenham cheaado @ resultado com a justica esperada, certo é que em muitas situagdes concretas ‘apenas 0 conhecimento médico limitado a descrever a doenga ou deficiéncia do individuo empobrecia a cogni¢éo processual na medida em que néo descrevia as otencielidedes do Interditando, Indicar em um laudo, por exemplo, que uma pessoa tem Sindrome de Down nada diz a respeito das funcionalidades deste individuo. Varias pessoas soin Sindrome de Down, apesar do mesmo diagnéstico, podem interagit com a sociedade de maneiras extremamente diferentes. O que a Convengéo apregoa é o tratamento individualizedo de cada caso ‘em que for investigada a possibilidade de interdicéo de uma pessoa, de modo {que a restrigdo seja a menor possivel e sempre proporcional as potencialidades do interditando. Por isso, tanto © Cédigo Civil, com a redacéo que Ihe dew a LBI, quanto 0 novo CPC exigem equipe multiiscipiinar pare a realizagdo de pericia, o que importa dizer ‘que doravante apenas olaudo mécico & insuficiente para a prova na acio de intercicéo, Cumpre ser registrado que, mesmo nesses casos extremos, a prova pode ser produzida por equipe multidisciplinar para a definicdo de outros aspectos cuja elucidacao se mostre necesséria para a prolacdo de sentenca, como, por exemplo, a escolna do curador. 8.0 Curador Em relagéo ao curador a LB! também inova ao alterar o texto do art. 1.772, pardgrafo Unico, para que dele conste que o juiz deverd levar em conta a vontade do interditanda para a eccatha de seu representante legal. Aids, nesse perticulr, 4 alteracdo legislativa apenas confere densidade normativa 20 principio do protagonismo da pessoa com deficiéncia previsto no art. 12, da Convencao Sobre (05 Direitos das Pessoas com Deficiéncia, que preva a aver dos Estados-parte de assegurar que ‘es medides relativas 20 exercicio da capacidade legal respeitem ireitos, a vontade e as preferéncias da pessoa’, Outropontoquemereredestaquadapossibilidadedacuratelacompartilheda (art. 1.775-A, do Codigo Civil, com a redacao determinada pela LB). Tal possibilidade 8 vinha sendo reconhecida pela jurisprudéncia™, mas agora a consagra aI Tamhém merace destaqua a revogasSo do art. 1.776 ¢ @ alteragso uu atl, 177, ambos do Cédigo Civil. 0 claro intuito da alteracéo legislativa foi evitar a REREAD NEL FO 0: suastrUlcAo DE CURADOR. Perino ne euiRaTEL cOMPARTIAAA ‘SIBLDADE Nash impedimeren ogy uu etna mac as em cunser soko hen eee fam manus qe deve ser ecto sempre cm fv do meer inerese do cutaeue Acie ee xsd concretoceprarade que o pedo ene ats nies ea anleada dex ea Sen eny Givcinconpartnace (8 eharn ee OCS, ALIN FCUPFE SEHUNTE,ApeAGD Wel A /OESETRAD (NY CX terra as isa 00 Revista do Minstrio Pubica do Ro Ge Janeiro nt $8 an man. 2016 | 187 ue Cudio Cava de Aimeiéa segregacao da pessoa com deficiéncia o consequente afastamento do canvivin familiar e social por meio de internagdes em estabelecimentos médico-hospitalares, Tals Internag6es historicamente acabavam tendo como resultado violagdes de diteitos e no 0 adequado tratamento médico. Em relagéo a tal aspecto © Cédigo Civil, com a redacdo determinada pela BI, € o novo Cédigo de Processo Civil mostram-se harménicos. A nova redac3o do art. 1.777, do Cédigo Civil, estabelece que a pessoa interditada deverd receber 0 polo necessario para a preservacdo do direito & convivéncia familar, evitando-se © recolhimento em estabelecimentos que obstem tal convivio. Na mesma toada 0 novo CPC, em seu art. 758, impde ao curador o dever de buscar tratamento e apoio @propriados & corquista Ga autonomia pelo interdito. 9. Prestacao de Contas Outre alteracao que se fez presente refere-se & prestagdo de contas que assoua ser anual. No tegime antatior, eanforme previsto no art. 1,701, do Céxliyu Civil, apllcava-se 2 curatela a mesma regra prevista para tutela, qual ej, a obrigatoriedade de prestaczo de contas a cada 2 (dois) anos (art. 1.757, do Cédigo Civil) e de apresentacéo anual de blanco (art. 1.756, do Cédigo Civ. ALBlinovaaocriarregra especiica paraacuratelaprevendoaobrigatoriedade de prestacdo de contas anual cumulativmente com a apresentagéo do balango Fespectivo (art. 84, § 40, Ebom que se registre que balango e prestacao de contas no se confundem, tenquanto o primelro trata-se de mera demonstragao contabillde receltase despesas © segunda nrascupée a instrugio com oz documentos que Il: seivern de base (conforme art. 551, do Nove CPC), 10.Conclusio As altciayOes legislativas trazicas pela LBI certamente causam profundo impacto no regime das incapacidades,iluminadas que s4o pelos principios trazidos 20 ‘ordenamento brasileiro pela Convencao sobre os Direltes das Pessoas com Deficiéncia, IMutro embora o espectro de pessoas submetidas as agdes de interdicdo seja bastente veriado, hd um foco para se limitar proporcionalmente os efeitos de uma sentence de interdicéo sobre a pessoa. esse modo, 0 que se deseja é a preservacéo da vontade do interditando, bbuscando-se tomé-lo um participe do processo e ainda um protagonista de sua propria existéncla, Por certo, essa mensuracéo a respeito da extenséo dada & protecio legal

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