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Coleção Estudos Espiritualistas

“Assim, quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que morre se vestir com o que não
pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: a morte está destruída; a vitória é
total”

(Paulo – Carta aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – versículo 54).

Consciência crística
volume 2
(Estudo dos evangelhos canônicos)

Este livro contém textos de palestras espirituais realizadas por incorporação


pelo amigo espiritual JOAQUIM DE ARUANDA e organizados por FIRMINO
JOSÉ LEITE, MÁRCIA LIZ CONTIERI LEITE

ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL

R. Pedro Pompermayer, 13 – Rio das Pedras – SP

(19) 3493-6604

WWW.meeu.com.br

FEVEREIRO - 2012
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 4

Índice

 Objetivo do trabalho .................................................................................................... 5

 Quem entra no reino do céu ........................................................................................ 7


 A ovelha perdida ........................................................................................................ 14

 Prática do amor universal .......................................................................................... 15

 O messias .................................................................................................................. 19

 A humanidade odeia Cristo ....................................................................................... 22

 Interpretações ............................................................................................................ 34

 Apego à vida material ................................................................................................ 35


 A coisa mais importante desta vida ........................................................................... 41

 A cura ........................................................................................................................ 45

 Doação do eu ............................................................................................................ 46
 Pais, mestres e líderes .............................................................................................. 48

 Você está preparado para morrer? ........................................................................... 52


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 Objetivo do trabalho

O objetivo deste trabalho é entendermos o caminho crístico que leva a Deus e com isso
entendermos também aquilo que é chamado de „consciência crística‟.

Podemos definir consciência crística como o conjunto de valores sobre as coisas deste
mundo que Cristo possuía. Aquele que alcança a „consciência crística‟, ou seja, que possui os
mesmo valores que ele possuía passa, então, a ver as coisas sob o mesmo prisma que ele via.

Por isso, o objetivo deste trabalho é estabelecer esse prisma nos mais diversos aspectos
da vida humana. Estabelecida estas bases, o ser humanizado pode, então, promover a sua
mudança, ou seja, entender as situações da vida como Cristo entendia.

Este estudo nem seria necessário, pois se Cristo é o amor em ação, o Verbo, bastaria
apenas ao ser humanizado trocar todas as múltiplas interpretações que têm das coisas do mundo
pelo amor. Se ele ao invés de ver bom e mau ou certo e errado nos acontecimentos da vida e visse
apenas amor, já teria alcançado a mesma visão que Cristo tinha das coisas.

Viver com a consciência crística é viver com o amor. O problema é que os seres
humanizados não conhecem o amor que Cristo pregou. Mas, por que o ser humanizado não
conhece o amor que Cristo pregou?

O amor crístico é algo universal. Ele é vivenciado dentro de verdades universais. Estas
verdades não estão presentes na visão humana das coisas porque os seres humanizados vivem
um mundo relativo, ou seja, vivem um mundo que é regido por valores individuais e transitórios que
são fundamentados pelo egoísmo, no amor a si mesmo acima de tudo.

Sendo assim, o que precisamos fazer é destruir as idéias humanas sobre o amor de Cristo.
Na verdade, Cristo nos ensinou o que é amar através de ensinamentos, mas os seres
humanizados interpretam estes ensinamentos a partir de suas próprias verdades que, como já
disse, são individuais, transitórias e fundamentadas no amor a si mesmo acima de tudo.

Em resumo, o objetivo deste estudo é desmistificar os ensinamentos de Cristo como


conhecidos pelos seres humanizados. Falo em desmistificar porque cada ser humanizado
interpretando o amor crístico por seus valores criou mitos que são formados por falsas verdades.
Fez isso porque, coadunando a verdade universal com suas próprias verdades, ou seja, dizendo
que ele está „certo‟, cada ser humanizado eliminou a necessidade de sua própria mudança.

Coadunando a verdade universal com suas próprias verdades, cada ser humanizado
coloca Cristo ao seu próprio serviço, coloca os ensinamentos como elementos para corroborar a
sua própria intenção. Transformou o amor crístico em algo humanitário e não universal.
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Transformou algo que é fundamentado principalmente no doar-se em alguma coisa onde acima de
tudo possa receber individualmente, ganhar.

Alterando o sentido dos ensinamentos crísticos, o ser humanizado transformou Cristo em


um ser mágico que possa auxiliá-lo a alcançar seus desejos. Os reis da antiguidade tinham sempre
ao seu serviço um grupo de mágicos. Estes homens eram utilizados pelo rei nos momentos onde
ele precisava de ajuda para alcançar seus objetivos individuais, Fazendo „porções mágicas‟,
previsões de futuro ou agradando aos deuses, os mágicos eram considerados como elementos
importantes para que o rei alcançasse seus propósitos individuais. Foi isso que a humanidade fez
com Cristo, seus ensinamentos e amor.

O ser humanizado transformou Cristo num mago da corte onde ele é o rei e seus
ensinamentos e amor como instrumentos da sua vitória individual. Dentro dessa visão, Cristo,
então, ficou incumbido de fazer mágicas (milagres) para que o rei humano possa alcançar suas
vontades, ganhar sempre...

Repare. Ninguém vai a Cristo perguntando o que quer que seja feito por ele; todos vão a
ele pedindo que realize o que cada um quer. Por isso afirmo que Cristo para o mundo humano
passou a ser o mágico da corte onde o ser humanizado é o rei.

Por isso o objetivo deste trabalho é desmascarar esta visão. Isso é preciso porque não foi
esta a missão de Cristo. Ele não veio a este mundo para servir ao ser humano, mas sim a Deus. É
através do seu serviço a Deus que Cristo serve ao ser humano.

Nesta missão ele serve ao ser humano, mas não como instrumento para alcançar o que
cada um quer ou gosta, mas para mostrar o caminho para se chegar a Deus. Ele não veio para
fazer o que cada ser humanizado quer, mas para ensiná-lo a respeitar a vontade de Deus („seja
feita a Vossa vontade assim na Terra como no céu‟).

É preciso mudar muita coisa a respeito da compreensão que o ser humanizado tem de
Cristo. Por exemplo: a passividade e candura de Cristo. Onde está a passividade em quem pega o
chicote para meter nas costas daqueles que estão contra a lei de Deus? Onde está a candura
naquele que diz aos seus apóstolos: „vermes, até quando vou ter que agüentar vocês‟? Ou ainda
naquele que chama os que pensam diferente dele de hipócritas?

São essas coisas que precisamos desmistificar. Cristo foi cândido sim, mas com uma
candura espiritual. Isso quer dizer que ele é cândido com o espírito no mundo espiritual, mas não
com o ser humano no mundo material. Para o ser humano, vendo-se sem misticismo as passagens
bíblicas, podemos afirmar que ele não era cândido, pois brigou, ofendeu e bateu em diversos seres
humanizados. Fez isso não por maldade ou porque não tinha amor por eles, mas porque sabia que
esta era a forma necessária para auxiliar estes seres a reencontrar-se com Deus.

Cristo não poderia estar ao lado da humanidade, ou seja, a serviço de suas vontades e
desejos individualistas ou do seu amor a si próprio porque ele sabia que esta forma amar separa o
ser do Todo. Por isso ele não poderia ter vindo para servir à humanidade como os seres
humanizados interpretam este serviço. Aliás, na verdade, ele veio para destruir a humanidade que
o ser vive e que o afasta do Todo.
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Ele não veio destruir a humanidade fisicamente, acabar com o mundo, mas sim no sentido
da visão humana sobre as coisas do mundo, a visão que premia o individual em detrimento do
Todo. Ele veio fazer isso porque sabe que apenas quando o ser universal destruir a humanidade
que toma quando vem à carne pode vivenciar a plenitude de sua própria espiritualidade.

É neste sentido que este trabalho pretende desmistificar os ensinamentos de Cristo. Não
estamos aqui para acabar com Cristo, dizer que ele nunca existiu, mas sim para retirar da
compreensão de seus ensinamentos os valores que o ser humano atribui (valores que premiam o
bem individual) e devolver a eles o sentido do caminho para a união ao Todo.

Jesus Cristo aconteceu na matéria carnal. Os fatos que a humanidade conhece através da
bíblia quase todos são realidades, mas a interpretação que a humanidade dá aos ensinamentos
dele é falsa. É a respeito dessa falsidade que se pauta este trabalho.

É sobre este aspecto que realizaremos este trabalho. Vamos ler diversos versículos dos
chamados evangelhos canônicos e mostrar o que realmente Cristo ensinou e o que o ser
humanizado entende que ele ensinou.

 Quem entra no reino do céu

Nem todo o que me chama ‗Senhor, Senhor‘ entrará no Reino do Céu, mas
somente aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu. Quando aquele
dia chegar, muitos vão me dizer: ‗Senhor, Senhor, em seu nome anunciamos a
mensagem de Deus e pelo seu nome expulsamos muitos demônios e fizemos
muitos milagres!‘ Então eu responderei: Nunca os conheci. Afastem-se de mim,
vocês só fazem o mal.

Neste trecho, Cristo designa aqueles que entrarão nos Reino dos Céus, mas antes de
começarmos a falar deste caminho ensinado pelo mestre, busquemos compreender o significado
do termo “Reino do Céu”.

Para os seres humanos ocidentais daquela época, havia, espiritualmente falando, o céu, a
Terra e o inferno. Só após Kardec e os ensinamentos do Espírito da Verdade é que as subdivisões
do mundo espiritual ficaram conhecidas entre os seres humanos.

Portanto, o céu daquela época pode ser comparado ao que hoje é conhecido como plano
espiritual positivo, onde existem as chamadas “cidades espirituais” e os espaços entre elas. Mas,
não será neste sentido que entenderemos o termo “Reino dos Céus”.
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Para nós do Espiritualismo Ecumênico Universal que estamos buscando alcançar o


monismo (perfeita integração do Todo no Um), o termo Reino do Céu refere-se ao próprio
Universo. Ao local de habitação de espíritos que não estão mais apegados aos Cinco Agregados
que nos ensinou Buda. Portanto, a prática do ensinamento de Cristo neste trecho – assim como o
de Buda, Krishna e outros mestres já foram vistos – serve como orientação para o ser universal
agora humanizado atingir a unidade com Deus.

Voltando à palavra de Cristo, podemos afirmar que quem alcança a unidade com Deus é
aquele que faz a vontade do Pai. Ou seja, aquele que tem Deus como causa primária das suas
coisas.

Este é o ensinamento fundamental deste texto: só se atinge a unidade com Deus através
da prática da entrega das criações ao Criador, abstendo-se, portanto, de imaginar-se como tal ou
de ver outro criando qualquer coisa.

Mas, não foi esta a primeira vez que Cristo falou do caminho para se unir a Deus.
Anteriormente ele já havia dito: eu sou o caminho, a verdade e a vida – ninguém chega a Deus a
não ser através de mim. Juntemos agora os dois ensinamentos.

Chegar a Deus através de Cristo não é conseguido pela adoração a ele. Em diversos
momentos o mestre sempre afirmou que se tratava apenas um enviado de Deus e que tinha como
missão transmitir a Boa Nova e o caminho para alcançá-la.

Cristo, no entanto, não somente ensinou o caminho para unir-se a Deus, mas o vivenciou.
A prova desta vivência é o resultado de sua encarnação: a ressurreição, a união perfeita ao Pai.

Portanto, para se chegar a Deus não se deve idolatrar o mestre ou seus seguidores, mas
viver uma vida semelhante a que ele viveu. Não digo em atos, pois os dias de hoje são diferentes
neste aspecto, mas em essência. O caminho para se chegar a Deus é viver os acontecimentos da
vida com a mesma essência com que Cristo vivenciou os seus.

Qual a essência da vida de Cristo? Como ele vivenciou os acontecimentos de sua


existência? Amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Agora nossa resposta está completa: para se unir perfeitamente a Deus é preciso amá-lo
acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Aliás, o próprio mestre nazareno já tinha
deixado isso muito bem claro quando ensinou os dois mais importantes mandamentos para que
um ser humanizado possa aproveitar a sua encarnação e promover a reforma íntima.

Sabedor da importância da prática destes ensinamentos é que ele disse: estes são os dois
maiores mandamentos, aos quais vocês devem se entregar de corpo, mente e alma.

Voltando, então ao nosso texto de hoje, pergunto: como entrar no Reino dos Céus?
Fazendo a vontade de Deus com AMOR. Só isso. Foi isso que Cristo ensinou nestas e em todas
as palavras que proferiu.

Mas, neste texto ele fala mais: “nem todos aqueles que me chamarem Senhor, Senhor, eu
falarei por eles no reino de Deus”. O que quis Cristo dizer com isso?
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Quis dizer que não adianta o ser humanizado ir para igreja e rezar: isso não o faz integra-
se ao Todo. Não adianta fingir que gosta de Cristo (se dizer cristão), não adianta praticar todos os
rituais que a sua religião manda – como acender vela, fazer oração, jejuar, guardar o sábado, etc.
– sem fazer a vontade do Pai com AMOR. Isso não levará a lugar algum...

Não adianta ser o primeiro a chegar e o último a sair em qualquer templo porque Cristo não
falará por você. Não adianta marcar presença em todos os cultos: isto não lhe levará a promover a
reforma íntima. De que adianta se freqüentar um culto um ou duas vezes por semana e depois não
viver o resto da semana amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo?

Ainda falando de religião, há outro detalhe para aquele que pretende aproximar-se do Pai.
Cristo não tinha religião... Portanto, o caminho que leva a Deus não passa por nenhuma religião,
mas pela prática constante do AMOR.

Para a realização do trabalho que leva à reforma íntima, não adianta freqüentar uma
religião, pois a elevação espiritual não se consegue com o contato com os ensinamentos ou
presença aos cultos de uma religião. Ela é fruto da vivência dos acontecimentos com a consciência
de estar vivendo a vontade de Deus. Mas, mesmo esta consciência ainda não é a totalidade do
trabalho, pois o conhecimento sem ação é nulo. A ela precisa ser acrescida o „amar‟...

A compreensão de que apenas a freqüência a um determinado culto ou o apego a uma


doutrina não confere por si só o resultado esperado, está bem claro neste texto de Cristo. Quando
ele fala daqueles que o chamam de Senhor e afirma que não falará por eles, está se referindo
àqueles que o idolatram.

Ele está falando daqueles que freqüentam ou têm igrejas, templos ou casas espíritas, onde
o amor universal não é a base do lugar. Fala daqueles que se consideram “certos”, “puros” e que
condenam e criticam os outros, apropriando-se do próprio Cristo como seu.

Repare que para Cristo o amor incondicional supera tudo, mesmo os chamados benefícios
que um ritual religioso pode trazer. Para Cristo amar universalmente é mais importante do que
expulsar demônios ou fazer milagres, ou seja, trazer benefícios para a vida do ser humanizado.
Isto ele deixa bem claro quando afirma que nem os que arrolarem estes benefícios em seu
currículo serão atendidos, se não houverem amado a Deus acima de todas e ao próximo como a si
mesmo.

Agora, quando o ser humanizado se conscientizar da ação da Causa Primária em suas


vidas e vivenciá-las com AMOR, Cristo falará por eles, agirá em seu benefício. Mas, enquanto este
ser não praticar isso, por mais que se dedique aos cultos ou que traga benefícios para os outros,
Cristo não falará por ele.

Portanto, foi isso que Cristo ensinou: para se chegar ao Reino do Céu (atingir a unidade
com o Pai) é necessário que se vivencie os acontecimentos da existência compreendendo que
tudo é fruto da Vontade de Deus, que é o Amor em ação. É preciso sentir-se amado pelo Pai a
cada instante, independente da compreensão que tenha sobre o acontecimento, mas ainda é
preciso amar o amor de Deus.
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Ou seja, para se alcançar a unidade é preciso estabelecer uma ligação constante de amor
entre você e Deus: amar e sentir-se amado....

Foi isso que Jesus quis dizer não só nesta passagem, mas em toda a sua pregação.
Vamos falar muito mais sobre esta conclusão nos demais estudos deste livro, mas este é o ponto
fundamental de tudo o que iremos dizer ainda.

Por agora, aproveitando este ensinamento, falemos de um aspecto que está bem nítido
aqui: não é um religioso fervoroso que vai entrar no Reino do Céu.

A partir do ensinamento do mestre, podemos afirmar que o acesso ao Reino do Céu


(conseguir a elevação espiritual) pode ser, inclusive, franqueado para aquele que nem mesmo
acredite em Deus: basta ter AMOR no coração. Se o ser humanizado amar os acontecimentos de
sua existência carnal sem se apegar às suas paixões, desejos e posses, mesmo que não saiba
que eles são frutos da Vontade de Deus, alcançará, ao acabar a encarnação, o Reino dos Céus, a
unidade com o Pai.

Entretanto, para aqueles que, mesmo freqüentando regularmente os cultos e praticando os


ritos de sua doutrina, se achem muito sábios - conhecem “certo e o errado” – e por isso imaginam
que podem julgar os outros, de nada adiantou a sua religiosidade. Para aqueles religiosos
fervorosos que ainda imaginam que os seus desejos, paixões e posses são mais importantes do
que a Vontade de Deus, o Reino dos Céus está longe...

Claro que estes ainda poderão reencarnar diversas vezes e assim conseguirem realizar um
dia o caminho que leva ao Reino dos Céus. Mas, a espiritualidade como um todo vem avisando:
um novo tempo está nascendo...

Neste novo tempo não haverá lugar no orbe terrestre para aqueles que ainda não
aprenderam a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Por isso, estas
novas encarnações não se darão mais neste planeta, mas este ser terá que reiniciar toda a sua
caminha em outro orbe, em outro mundo de provações.

Baseado nisso que estamos falando, fica aqui um recado para as casas espíritas, para as
igrejas e para os templos evangélicos ou orientais: de nada adianta transmitir ensinamentos
(doutrinas) que se fundamentem em idolatria a mestres ou que criem o “certo e o errado”. É preciso
ensinar aos seres humanizados a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo em todos os acontecimentos da existência carnal. Isso para que Cristo e os trabalhadores
espirituais possam falar por vocês quando disserem “Senhor, Senhor”.

Os que ensinam desta forma ou participam de doutrinas que contenham esta propriedade,
são como os “professores da lei” citados por Cristo. A estes, deixo um recado: aprendam com
Paulo. Ele foi o exemplo de um professor da lei que aprendeu no mais alto céu, como ele mesmo
cita, que o AMOR de suplantar todo e qualquer código normativo.

Apesar disso ter ocorrido com Paulo há mais de dois mil anos e todo o seu ensinamento
está estampado na Bíblia Sagrada, ainda hoje muitas casas de oração, independente de religião,
ainda discutem a “posse” de Deus. Estas casas não conseguem trazer o AMOR porque acham que
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o mais importante é ensinar as leis de Deus (códigos normativos que criam padrões certos de
comportamento), fazer milagres, curar e expulsar “demônios”.

Não importa o que cada religião faz (culto): o importante é ensinar a amar...

Para isso o fundamental é levar o ser humanizado compreender, como ensinou Cristo em
diversas vezes, que Deus é a Causa Primária de todas as Coisas. Sem essa compreensão o amor
incondicional jamais será alcançado, pois as posses, paixões e desejos não deixam o ser
humanizado amar universalmente.

Veja: não é necessário se ensinar a lei de Deus para quem conhece a verdade da Causa
Primária. Isto porque Deus não se baseia no “certo e errado”, mas na Justiça e no AMOR. Além
do mais, quem conhece o AMOR de Deus em ação, já conhece toda a lei na essência.

NOTA: Esta afirmação prende-se a um ensinamento de Cristo onde ele afirma


que não veio mudar a lei, mas ensinar o real sentido dela, que será objeto de
estudo mais tarde.

Para que fazer milagres para quem já alcançou a sintonia amorosa com Deus? Aqueles
que aprenderam a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, já
calaram em si a voz das paixões, posses e desejos e por isso não precisam, esperam ou querem
milagre algum...

Como expulsar “demônios” de seres que apenas amam? Quem compreende e busca trilhar
o caminho do Reino dos Céus não tem inimigo, neste ou em outro mundo, pois ama a todos
indistintamente...

Assim sendo, não há necessidade de tanto misticismo nem de tantos ritos nas religiões.
Quando elas incorporarem aos seus ensinamentos o real caminho para o Reino dos Céus, o ser
humanizado que é fiel a ela viverá com Deus no coração e reagirá amorosamente a todos as
acontecimentos.

Quem chega a esta consciência não precisa de mais nada. Ele não precisa de vela, de
psicografia, de incorporação, de médium... Ele não precisa de nada porque já tem tudo: Deus...

Este ensinamento do Novo Testamento, apesar de existir a tanto tempo, nunca foi
observado por este ângulo. As doutrinas religiosas sempre ensinaram a necessidade de se fazer a
vontade de Deus com amor, mas a isso foi acrescido que esta forma de proceder só seria
alcançada quando houvesse a submissão aos códigos normativos da religião.

Para estas pessoas Cristo deixou o aviso neste texto (“Não são todos que me chamarem
Senhor, Senhor, que eu falarei por eles frente ao Pai”), mas parecem que eles não leram...

Foi esta reflexão que Cristo deixou bem gravada neste texto: aquele que entra no Reino do
Céu é o que vivencia a vontade do Pai amando...

Este ensinamento não foi só para ontem, quando Cristo vivia encarnado, mas também para
a eternidade. Ontem o mestre falou diretamente com os professores da lei e ensinou Saulo, mas
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 12

parece que eles não aprenderam, pois até hoje estão vivendo as mesmas hipocrisias descritas na
Bíblia.

NOTA: Refere-se ao capítulo bíblico Jesus e os Hipócritas, que também será


estudado neste livro.

Mas, nós não nos esquecemos e, por isso, voltamos ao tema hoje. No entanto, assim
como quando o mestre falou para os professores da lei de então, nós também não estamos
criticando ninguém. Amamos os senhores dos templos modernos como irmãos espirituais que são,
mas precisamos ensinar o que Cristo disse.

Como já afirmamos, é preciso se viver cada acontecimento como fruto da Vontade de


Deus. Portanto, se os daquela época ou os de hoje agiram assim, esta era a Vontade de Deus.
Mas, se também estamos conseguindo agir na forma como falamos hoje, esta também era a
Vontade de Deus.

Portanto, só nos resta amar aos professores da lei e a eles nos amar, para que possamos
todos entrar no Reino do Céu...

Por isso digo... Se você freqüenta uma religião, continue indo. Isso não é “ruim” nem
“errado”. Agora, saiba que é necessário viver vinte e quatro horas por dia, independente de estar lá
ou não, amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

É preciso que se entenda isso. É preciso que se entenda que a vida é uma só: espiritual.
Que não existe a vida material e o “ser humano”: a única coisa que é Real no Universo é DEUS e
Sua ação, que comanda todos os espíritos e que cria tudo que acontece.

Vamos mudar um pouco de assunto. Até agora nesta mensagem de Cristo falamos dos
professores da lei religiosos. No entanto, este mesmo ensinamento pode ser aplicado na vida não
religiosa. Senão vejamos...

Quem diz para você senhor, senhor, ou seja, lhe louva? Aqueles que vivem lhe bajulando,
que dizem amém ou têm um elogio para tudo o que faz. Você acha que estes são os seus
grandes amigos?

Quando Cristo ensina que não vai falar a Deus (engrandecer) pelas pessoas que lhe
bajulam, também está ensinado você a abrir os olhos com relação a isso na sua vida material. Está
lhe dizendo que os que lhe bajulam não são na verdade seus amigos.

Seu amigo não é aquele que vem passar a mão na sua cabeça, mas, na maioria das
vezes, aquele que briga com você. É quem aponta os seus erros e defeitos, da mesma forma que
você age com os outros. Aquele que grita o está avisando que um dia você gritou com outra
pessoa...

A vida do ser humanizado é como se fosse uma peça de teatro: Deus escreve um “script”
onde outras pessoas entrarão em “cena” para lhe apontar os erros.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 13

NOTA: Para melhor entendimento deste texto ver o texto ―Função Espelho‖ que
está no livro ―Visão Universal - Volume III – Palestras‖ também do
Espiritualismo Ecumênico Universal.

As palavras que as pessoas falam, nada mais são do o enredo de uma história criada por
Deus. Mas, como o Pai é incapaz de outra coisa a não ser amar, estas palavras não se tratam de
ofensas ou acusações, mas servem apenas para lhe mostrar os momentos onde não agiu com
AMOR.

Enquanto você não perceber que “grita” com os outros, vai haver sempre um que chegará
à sua frente e “gritará” com você. Enquanto não notar que aponta os erros dos outros, sempre
haverá um que apontará os seus erros.

Enquanto não verificar que ofende os outros, haverá alguém que o ofenderá. Enquanto não
perceber que não é justo, ou seja, protege um em detrimento de outro, mesmo que este um seja
você mesmo, sempre alguém lhe desprotegerá para proteger outro. Esta proteção será sempre
dada para aquele que você acha que não tem o merecimento para ser protegido.

Isto é a ação de Deus. Esta é lei da ação e da reação. Isto é a Justiça ocorrendo a cada
segundo... É, também, a forma de Deus falar com você e ensiná-lo de que está andando em
desacordo com o caminho que leva ao Reino do Céu.

Os mandamentos deixados por Cristo são muito claros: basta apenas amar... Entretanto, a
humanidade quer inventar leis, normas, códigos de ética, de educação que regulamente a vida do
outros... Isto não é cristão, amoroso...

Baseado nestas leis, a humanidade julga-se no direito de apontar erros dos outros. Só que
não sabe que existem outros apontando os seus próprios enganos ao proceder fundamentado
nestas leis.

Não acredite que todos que lhe chamam de senhor, Senhor, que dizem “amém” a tudo o
que você faz. Não acredite que esses são seus amigos, pois são os seus inimigos. Estes, na
verdade, são os primeiros a serem utilizados por Deus para fazer a fofoca sobre você, se isso for
preciso.

Neste trecho tão pequeno da Bíblia Cristo falou tanta coisa, não?

Mandou recado para a vida particular dos seres humanizados em geral e para os religiosos
especificamente. Disse maravilhas só neste trecho e sobre ele poderíamos ficar falando horas, dias
e nunca esgotaríamos este assunto.

Apesar disso, pouco se ouve falar destes ensinamentos. Por que isso? Porque algumas
religiões acham que apenas “partes” da Bíblia estão certas, outras não... Por que não estudar o
Evangelho? Por que não ver o que Deus fez? Por que não entender a lição que Cristo trouxe?

A maioria daqueles que não acreditam na Bíblia agem desta forma porque estão
preocupados em “aparecer” fazendo milagres, expulsando “demônios” ou aprendendo a língua dos
anjos (conhecimentos técnicos espirituais). No entanto, são eles que mais precisavam ouvir isso,
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 14

pois foi para eles que Cristo disse: não adianta você se dizer muito religioso ou sábio, porque o
que realmente adianta é ser submisso a Deus e viver a vida apenas amando.

É isso que todos os espíritos precisam alcançar para entrar em comunhão com Deus.
Como interpenetrar no todo quando ainda existe uma individualidade ativa? Somos todos filhos do
Pai e não Ele mesmo. Ninguém é deus ou rei de nada. Todos somos filhos de Deus e moramos no
mundo Dele. Habitamos na casa Dele, comemos da comida que Ele nos dá...

Apesar de saber que é filho de Deus e que está vivo (encarnou) apenas para realizar um
trabalho de aproximação a Ele (interpenetrar no Todo), os seres humanizados não estão
preocupados com o que o Pai espera deles: sua única preocupação é com o que quer para si
mesmo.

Um ser humanizado pode até atingir, dentro da visão humana, uma existência onde
apenas vivencie atos que se digam “santos”, mas se durante eles não estiver em perfeita sintonia
amorosa com Deus, nada terá conseguido. Neste caso, de nada adiantará todo senhor, senhor,
com o qual ele viveu, pois Cristo não falará por este ser universal...

 A ovelha perdida

Certa ocasião, muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama


chegaram perto de Jesus para o ouvirem. Os fariseus e os professores da Lei o
criticavam, dizendo: Este homem se mistura com gente de má fama e come
com eles. Então Jesus fez esta comparação: Se algum de vocês tem cem
ovelhas e perde uma, por acaso não vai procurá-la? Assim deixa no campo as
outras noventa e nove e vai procurar a ovelha perdida até achá-la. Quando a
encontra, fica muito contente e volta com ela nos ombros. Chegando à sua
casa, chama os amigos e vizinhos e diz: Alegrem-se comigo, porque achei a
minha ovelha perdida Pois digo que, do mesmo jeito, vai haver mais alegria no
céu por uma pessoa de má fama que se arrepende do que por noventa e nove
de boa fama que não precisam se arrepender.

Os seres humanizados costumam – e isso é um processo do ego – classificar as pessoas


de acordo com as suas próprias convicções e a partir do momento que as classificam como
erradas, ruins, más, as abandonam. Através desta história Cristo está falando exatamente ao
contrário desta postura. Ele diz: se o ser humanizado tem uma ovelha perdida no seu rebanho –
alguém de quem não gosta, que acha errada – deve largar todos os amigos e buscar a ovelha
perdida.

É desta forma que o verdadeiro cristão deve viver. Ele não deve ter classificações e
expulsar de seu rebanho, do seu nível de convivência, aqueles que ele classifica como má. Em
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 15

Mateus, nesta mesma parábola, Cristo diz assim: quando achar esta ovelha diga a ela que a ama
mais do que as outras...

É preciso procurar as ovelhas perdidas, achá-las e amá-las mais do que as outras. Este é
o ensinamento de Cristo. Ele é fundamental Para a elevação espiritual, pois como também disse o
mestre, é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino do
céu. É mais fácil alguém que o ser humano considera perdido entrar no reino do céu do que você
que vai a todos os cultos religiosos e vive rezando, mas não busca as ovelhas perdidas de seu
rebanho.

Por que isso? Porque aquele que se arrepende de verdade ainda hoje estará no reino do
céu com Cristo, como o mestre prometeu ao bandido que estava ao seu lado na cruz.

O arrependimento só surge quando há a convicção do que está „errado‟, do caminho que


não leva a Deus. Não importa se um ser humanizado foi a vida inteira egoísta. Conscientizando-se
da existência do egoísmo e de que este não é o caminho que leva a Deus, esta pessoa chegará à
frente daqueles que freqüentam os templos e vivem de mãos postas orando... Isto acontece desta
forma porque aquele que alcança o arrependimento venceu a si mesmo.

Pensem nisso...

 Prática do amor universal

Mais tarde, Jesus estava comendo na casa de Levi. Junto com Jesus e os seus
discípulos estavam muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má
fama que o seguiam. Os professores da Lei, do grupo dos fariseus, vendo
Jesus comer com aquela gente e com os cobradores de impostos, perguntaram
aos discípulos: Porque ele come e bebe com esta gente?Jesus ouviu a
pergunta e disse aos professores da Lei: Os que têm saúde não precisam de
médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores e não os bons.

Esta passagem bíblica é por demais esquecida pelos seres humanizados quando colocam
em ação seus conceitos. Eles imaginam que existam lugares “bons” e “maus”. À época de Jesus,
os cobradores de impostos e as prostituas eram considerados a escória da sociedade: ninguém
que fosse “bom” poderia se juntar a estes, pois passaria a ser discriminado também.

Cristo ao abandonar os seus discípulos e ir jantar na casa de um cobrador de impostos


com pessoas de má fama afirma que procedeu desta forma porque não veio para chamar os bons,
mas sim os pecadores (maus). Ao proceder dessa forma, nos ensina que não viemos para esta
vida viver com os “bons”, ou seja, aqueles que satisfazem nossos conceitos, mas que aqui
estamos para conviver com os “maus”, ou seja, com aqueles que entendemos como “errados”.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 16

Para o ser humanizado as coisas e pessoas são sempre divididas em binômios. Umas são
chamadas de “certas” (aquelas que contemplam os conceitos do ser) e outras de “erradas” (as que
destoam das “verdades” que o ser possua). As “certas” são chamadas de “boas”, enquanto que as
“erradas” são taxadas como “más”.

Esta forma de ver o mundo acaba com a igualdade necessária entre todos para a
existência do amor universal. O ser humano que pratica esta divisão não consegue deixar de
provocar sofrimento a outras pessoas, pois contesta as “verdades” delas e também não vive com
alegria, pois encontra sofrimento quando os demais colocam seus conceitos em prática.

Com a intenção de preservar sua satisfação individual, o ser humanizado acaba isolando-
se destas pessoas que ele considera “erradas” ou “más”. Age desta forma achando que é o único
meio de preservar seus sentimentos “bons”. Entretanto, ao agir desta forma, ele demonstra que
seus sentimentos não estão de acordo com a lei de Deus. Na verdade está protegendo suas
próprias verdades.

Para se alcançar à verdadeira evolução é preciso não se encontrar “erros” ou “maldades”


nos atos de outros. Apenas fugir dos outros não leva o espírito à evolução, pois ele não passa por
provas (contestação de suas verdades). É preciso que esteja perto de quem combata seus
conceitos praticando o amor universal.

Essa prática requer que o ser se exponha a todo e qualquer sentimento, sem “culpar”
aqueles que o possui. A reforma íntima é transformar o individualismo em universalismo. Para isso
é preciso compreender que existem outras “verdades” que são verdadeiras e isso só se alcança
com a exposição ao individualismo alheio. Este é o ensinamento de Cristo.

Quando o Mestre ensina que não devemos ir apenas aos sãos, mas que devemos procurar
os doentes, está nos conclamando a vivermos junto com nossos “inimigos” para poder aprender a
vê-los como companheiros de jornada. Amá-los da forma que são sem julgamentos ou críticas para
que eles aprendam essa forma de proceder. Isto será “chamar os pecadores a fim de que mudem
de vida”.

Se resguardar dentro de igrejas, templos ou clausuras onde existem, aparentemente,


apenas sentimentos positivos de adoração a Deus é deixar de amar ao próximo. Os sentimentos
dentro destes locais não são, então, propriamente positivos, mas ali existe muito egoísmo,
individualismo. O poder de julgar e condenar os outros, o egoísmo de não dividir as propriedades
espirituais entre todos.

Aqueles que se isolam com o sentido de preservar a pureza de seus sentimentos, dizem
que fazem isso para encontrar Cristo e viver com ele. Acreditam que nestes locais encontrarão o
mestre por causa da pureza dos sentimentos que passarão a manter. Mas, quando possuírem
estes sentimentos, perderão Cristo, pois serão sãos e ele não virá para os que o procura desta
forma.

Para amar os outros, encontrar Cristo, o ser humanizado deve ir onde se encontram
aqueles que necessitam deste amor, ou seja, os doentes. Para isso, os seres humanizados devem
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 17

freqüentar locais considerados “errados”, onde freqüentam gentes “más”. Ali o ser encontrará
Cristo que está sempre buscando os “doentes”.

Entretanto, quando freqüentar estes locais não deve se “envolver” com os sentimentos que
ali existem. Tem que manter a sua pureza sentimental que só será alcançada quando não ver
“erro” ou “maldade” no que está sendo praticado. Todos os atos são “certos” para quem o está
fazendo, pois possuem conceitos (verdades individuais) que justificam a prática do ato. Quando o
ser condenar ou rotular a ação do próximo estará utilizando o mesmo sentimento que ele: amando
as suas verdades acima de Deus.

Um ser humanizado pode freqüentar um bar, mas não deve se envolver com o sentimento
de poder gerado pela bebida; pode ir a casas noturnas, sem “respirar” a luxúria existente; pode se
encontrar em qualquer lugar, mas não “praticar” o que ali é praticado sentimentalmente.

Mas, só isso não basta para manter a sua pureza sentimental. Deve, além de não praticar,
dar a cada um o direito de fazer o que quiser, sem considerar isto “errado” ou “certo”, “bom” ou
“mal”. Para tanto precisa compreender que todos os seres do universo são “filhos de Deus” e que,
portanto, possuem a luz dentro de si. Essa luz pode estar encoberta pelos “conceitos” (verdades
individuais), mas está presente.

Os seres humanizados possuem sentimentos conceituais, ou “verdades individuais” e se


guiam por eles. A visão das coisas geradas por essas verdades individuais é sempre de que está
“certo”. Por isso praticam atos de determinada forma.

Isso ocorre porque todo ser possui o livre arbítrio concedido por Deus para escolher o
sentimento que quiser para “viver” (praticar atos). Se o próprio Pai concede este livre arbítrio,
quem, então, seremos nós para contestar qualquer coisa? Com essa verdade universal o ser
humanizado pode permanecer fora da acusação ao próximo mesmo estando em um lugar de “má”
fama.

Aqueles que se expõem, sem gerarem críticas ou acusações, conseguem transmitir aos
freqüentadores destes locais a exemplificação do amor e com isto podem promover a “cura” destes
doentes. Enquanto o ser humanizado tiver os seus conceitos (“certo” e “errado”) e fugir deste
contato, promovendo a marginalização de determinados locais ou pessoas, será ele mais doente
que os aqueles.

A rotulagem de determinadas pessoas a partir das verdades individuais fere a luz que cada
um carrega por sua origem. O ser humanizado que acusa o outro de ser alguma coisa negativa
não o vê como oriundo de Deus e, por conseguinte, está ferindo o próprio Deus.

Para se praticar tudo o que aqui estamos comentando e que Cristo nos ensinou, não existe
a necessidade de se pertencer a qualquer religião, mas apenas de se praticar o amor universal.
Isto Cristo também nos ensinou através do Evangelho de Mateus: “Eu não quero que me ofereçam
sacrifícios de animais, mas que sejam bondosos”.

Os que criticavam Cristo pela decisão de jantar na casa do cobrador de impostos eram os
professores da lei, ou seja, aqueles que imaginavam conhecer o “certo” e o “errado”. No caso
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 18

específico desse ensinamento, os professores da lei eram os sumos sacerdotes da religião


hebraica. Por isto o mestre chama-os à razão dizendo que não entenderam os textos que leram.

Ao referir-se a sacrifícios de animais, Cristo estava falando do rito da religião da época.


Para os israelitas daquele tempo, pois uma das obrigações religiosas era oferecer animais em
sacrifício para que Deus os protegesse. Com sua frase, o mestre disse que a proteção de Deus
não é dada pelo cumprimento de ritos religiosos, mas pela prática de coisas bondosas, de sua lei.

De nada adianta um ser humanizado freqüentar a todos os cultos de sua religião, cumprir
todas as ordens do seu clero enquanto ele ainda possuir sentimentos conceituais que separem o
mundo entre “certo” e “errado”, entre “bom” ou “mal”. Não é a prática ou o cumprimento das
ordenações religiosas que pode garantir a evolução espiritual.

Para se elevar com o cumprimento das leis de Deus, o ser humanizado precisa ser
bondoso, ou seja, necessita praticar o amor universal. Para tanto é necessário ter-se sempre em
mente seus três pilares básicos: alegria, compaixão e igualdade.

Todo aquele que encontra o “errado” sofre, pois ainda possui conceitos que foram
ofendidos pelo ato do irmão. Para se amar verdadeiramente de nada adianta colocar a esmola na
caixa da igreja, mas existe a necessidade de não se encontrar “erros” no irmão.

Quantas pessoas freqüentam os cultos e ali mesmo, no local que chama de sagrado,
esquecem das palavras e sentimentos que estão sendo proferidos e prefere ficar prestando
atenção na “forma” que outro está cultuando. Analisa e conclui que ele está errado, pois está com
a mão direita mais levantada que à esquerda, não está lendo a página que deveria.

Não existem formas de se cultuar a Deus a não ser com a prática do amor e este amor tem
que passar pela compaixão. O espírito tem que ter a consciência do sofrimento que causa a
outros. Quando observa e considera “errada” alguma atitude do seu irmão, mesmo que não
comente com palavras com ninguém, ele está emitindo sentimentos negativos contra aquele,
promovendo o sofrimento.

Ao “ver” uma atitude como errada, o ser humanizado quebrou a igualdade, pois sempre se
considerará “certo”: Mais uma vez este ser abandona o amor universal. Nesse caso, ainda diz que
o faz em nome da perfeição de um sentimento: o amor a Deus.

Enquanto o espírito possuir forma certa para se cultuar Deus estará se importando com o
animal que será ofertado, mas esquecerá a bondade que Deus pede que pratiquemos.

Cristo não veio, portanto, afirmar a necessidade de se freqüentar uma religião, mas sim
ensinar o ser humanizado a amar a Deus. Esse amor tem necessariamente que passar pela não
crítica ao seu irmão. Quanto mais alguém afirma que sua religião é a melhor ou a mais pura está
afirmando que Cristo está longe dela, pois ele não veio para os sãos e sim para os doentes.

Apenas entendendo que qualquer templo de qualquer religião é um hospital onde seres
doentes comparecem para serem atendidos pelo médico Cristo, o ser humanizado pode deixar de
imaginar o seu lugar de religação com Deus como o “perfeito”, o “certo”. Isso encerrará o fim da
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 19

crítica e marcará a compreensão que todos têm o direito de procurar a “especialidade médica” que
mais atenda suas necessidades.

O ser humanizado necessita compreender que todos são “doentes”, possuem verdades
individuais, pois existe apenas uma única verdade no Universo: Deus. Somente essa compreensão
poderá eliminar seus conceitos (verdades) e o fim delas é fundamental para que possa conferir a
cada um o direito de fazer o que quiser (sentimentalmente) sem constatar erros.

Aqueles que se dizem detentores de Cristo (da verdade de seus ensinamentos) e por isso
estão na pureza ouçam o aviso do Mestre: “eu vim para os doentes e não para os sãos”.

Em resumo, este ensinamento de Cristo nos faz entender que viemos a este planeta e
matéria carnal para fazermos o que não “queremos” e conviver com as pessoas que não
“gostamos”, pois viver diferente seria se satisfazer. Todos vêm para os “doentes”, ou seja, aqueles
que consideram “errados” e não para os “sãos”, aqueles que consideram “certos”, pois esse modo
de proceder é que leva à nossa própria cura.

É através da prática da não observação do “bem” e do “mal”, do “certo” ou “errado”, com a


prática do amor universal, que o espírito alcançará a sua evolução.

 O messias

Nem devem chamar ninguém de líder, porque vocês têm um líder: o Messias.

Cristo diz que os seres humanizados têm um mestre, o messias. Apesar das igrejas cristãs
afirmarem que Cristo é o messias, repare que ele próprio não se coloca nesta posição. Ele não diz
que os seres humanizados o têm como líder, mas que há um messias. Está, portanto falando de
outra pessoa. Mas, quem é o messias?

Para responder esta pergunta vamos começar entendendo o que quer dizer o termo
„messias‟. Este termo era utilizado pelos judeus de então para designar o salvador, aquele que
seria enviado por Deus para libertar o povo hebreu. O messias era a pessoa esperada para salvar
o povo hebreu do domínio estrangeiro e ia governar o país trazendo Deus para a Terra.

Compreendido isso, pergunto: quem é o messias da vida do ser humanizado? Quem pode
libertar o ser humanizado do jugo de estrangeiros e lhe levar a uma vida mais feliz? Quem pode
libertar o ser do jugo em que vive e levá-lo até a nova vida, até a terra prometida da „Nova
Jerusalém‟?

Participante: Deus?
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 20

Não, Deus está longe de vocês... Como vocês não O vêem, não O conhecem, não pode
ser ele...

Participante: O próximo?

Sim, o próximo. Aquele ser com quem o ser humanizado convive e desta convivência
nascem as provas que podem levar o ser humanizado à elevação espiritual, à consciência crística.

Mas, quem é o seu próximo? Quem é o próximo do ser humanizado? Para poder entender
isso vamos ter que comentar outra parábola bíblica: a do bom samaritano. Nela Cristo responde
exatamente a esta pergunta feita pelos fariseus e professores da lei: quem é o próximo a quem o
mestre diz que devemos amar?

Quem lê esta parábola nos dias de hoje se confunde com o termo „samaritano‟. Hoje esta
palavra ganhou a conotação de pessoa boa, caridosa, mas no tempo de Cristo este termo não
possuía este sentido. Naquele tempo samaritano era usado para designar as pessoas que nasciam
na Samaria, uma região da Judéia de então, não importando se eram pessoas caridosas ou não.
Este povo era inimigo dos judeus, ou seja, as pessoas dos dois povos, apesar de não estarem em
guerra, não mantinham boas relações.

Na parábola do bom samaritano Cristo fala de um judeu que viajando por uma estrada é
atacado por ladrões e ferido, ficando caído ao chão. Dois judeus passam pelo homem caído em
diversos momentos durante a narrativa da parábola. O primeiro, um sacerdote, passa pelo outro
lado da estrada; outro, um levita, que era um povo amigo dos hebreus, para olha, mas nada faz.
Depois desses, passa, então, um samaritano, que tem pena dele. Faz curativo para as feridas e
depois leva o judeu até uma hospedaria pagando a hospedagem até que ele se recupere e possa
voltar à sua viagem.

Cristo termina a parábola perguntando o seguinte: “Em sua opinião qual desses três foi o
próximo do homem assaltado”, ou seja, o judeu. Quando o professor da lei responde que foi o que
o socorreu, Cristo diz: „Pois vá e faça a mesma coisa”...

Recuperando-se o valor histórico do termo samaritano, podemos, então, compreender o


significado da parábola: o próximo do ser humanizado é o seu inimigo... Portanto, o messias de
cada ser humanizado a que o mestre se refere no ensinamento que estamos vendo agora é o seu
inimigo...

Sim, o messias, aquele que pode libertá-lo do jugo do inimigo e guiá-lo até a terra
prometida, a elevação espiritual, citado no presente ensinamento e que é uma pessoa diferente de
Cristo, é o seu inimigo.

Quem pode ajudar o ser humanizado na busca da elevação espiritual, da formação da


consciência crística, não é um guru, um mentor ou o próprio Cristo. De nada adianta para o ser
humanizado que quer alcançar a consciência crística freqüentar os cultos para pedir a Cristo que o
afaste do seu inimigo, que o livre da perseguição daqueles que não gosta, pois o seu messias, o
seu mestre, é o seu inimigo.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 21

Somente o inimigo do ser humanizado pode ajudá-lo realmente a vencer. O amigo do ser,
aquele só sabe concordar com tudo que o ser fala e que só sabe passar a mão na cabeça, no
sentido da elevação espiritual não vale nada. Não serve de nada para aquele que busca obter a
consciência crística. Na verdade o amigo só serve para inflamar o ego do ser humanizado, ou seja,
atrasá-lo na corrida pela elevação espiritual.

Somente o seu inimigo pode lhe fazer alcançar a bem aventurança, ou seja, a felicidade
incondicional. Já repararam que quando Cristo fala da bem aventurança diz: “Bem aventurado são
vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus
seguidores”. Quem é que lhe calunia, insulta e persegue: o seu amigo ou inimigo?

Apesar de o mestre ser tão explícito, os seres humanizados ainda vão para os templos
pedir a Cristo e aos santos ou mentores para afastar o inimigo de suas caminhadas. Isso não é
hipocrisia? Pior: quem faz isso ainda diz que usa de amor com o inimigo, pois pede a Cristo que
apenas o afaste sem fazer mal a ele.

Falei que era hipocrisia porque o ser humanizado que se diz cristão, que busca alcançar a
consciência crística através dos ensinamentos de Cristo, não deveria afirmar que possui inimigos.
Se realmente tivesse lido os ensinamentos do mestre com certeza teria a consciência de que só
tem amigos.

Sabe quem é a pessoa que lhe bate? Seu amigo... Vou explicar...

Quando a pessoa está histérica, qual a primeira coisa que precisamos fazer?

Participante: Dar um tapa para retirá-la da histeria...

Pois é, quando o ser está histericamente humanizado Deus providencia uma pessoa para
dar um tapa nela. Não faz isso para castigar, mas para ver se o ser acorda para a sua realidade:
não dá para acontecer na existência de cada um apenas aquilo que ele quer.

Este ensinamento de Cristo é mais longo do que o trecho que citamos no início e
estudaremos o restante depois. O assunto que estamos abordando é apenas uma pequena parte
do ensinamento e por isso não é percebido pelos seres humanizados, mas ele está lá. Aquele que
busca alcançar a consciência crística, portanto, deve compreender que os seus inimigos são os
seus mestres e amá-los.

Aliás, é isso que está bem claro na parábola do bom samaritano. Socorra o seu inimigo,
cure suas feridas, alimente-o enquanto ele estiver se restabelecendo. É isso que aquele que busca
a elevação espiritual precisa compreender, mas para isso necessita descer da posição de
professor da lei. Enquanto vivenciar a vida a partir de suas próprias regras, o ser humanizado terá
sempre amigos, aqueles que cumprem suas regras, e inimigos, os que não cumprem.

Por isso afirmo: não adianta querer amar o inimigo enquanto tiver conceitos para balizar e
valorizar os acontecimentos da vida. Enquanto houver conceitos o ser humanizado terá inimigo e
enquanto isso acontecer, não estará amando a todos como a si mesmo.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 22

Tentar amar um inimigo possuindo conceitos é um caminho sem fim. O ser humanizado,
para fazer aquilo que o mestre ensina, tenta desesperadamente amar o inimigo, mas não
consegue fazer. Isso acontece porque ele não atacou o mau pela raiz, não se enfrentou, não
destruiu os seus conceitos que fazem existir um inimigo.

É por isso que Paulo diz: a lei cria o pecado. Se não houver lei, ou seja, um conjunto de
conceitos que baliza comportamentos e os valoriza, não há pecado. Se não houver um conceito
que diga que existe um lugar certo para se guardar o copo, não há mais lugar errado para colocá-
lo. Neste momento, não haverá mais seres humanizados que serão considerados errados, ou seja,
inimigos...

 A humanidade odeia Cristo

Durante o transcorrer da nossa conversa de hoje, gostaria que vocês tivessem a máxima
atenção, para que não houvesse mal-entendidos. Digo isso porque, aparentemente, pode parecer
que com o que vou falar estarei acusando ou brigando com alguém. Mas isso é ilusão.

Aqueles que me conhecem sabem que não brigo com ninguém. Apesar disso, o que não
posso deixar de fazer é mostrar a hipocrisia que é a vida humana vivida de modo humano,
principalmente para aqueles que se dizem religiosos ou que estão buscando a Deus.

Sim, a vida humana daqueles que se dizem religiosos, se vivenciada pelos valores
humanos, é uma hipocrisia. Isso porque quem diz que busca a Deus deveria ter uma postura
completamente diferente face aos acontecimentos da vida daquele que não busca, mas não tem.
Estes seres humanos deveriam ouvir Cristo: se você só faz o que os pagãos fazem, que vantagem
leva...

Cristo, portanto, ensinou: aqueles que estão buscando a Deus precisam fazer mais do que
o normal, mais do que fazem os simples pagãos. Mas, não fazem, apesar de dizerem-se cristãos,
seguidores do mestre nazareno.

Portanto, o que vou fazer hoje é mostrar que a maioria da humanidade afirma que está
caminhando numa direção, mas em verdade caminha em outra.

Jesus continuou: Se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou


primeiro.

Alguém já ouviu esta frase – se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou primeiro –
como ensinamento de Cristo? Acho que não, pois ela muitas vezes é esquecida por aqueles que
ensinam o que o mestre disse. Mas, nem por isso deixa de ser verdade.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 23

Atentando-nos aos acontecimentos da encarnação Jesus Cristo, no entanto, veremos que


ela é uma verdade líquida e cristalina. Ele foi odiado pelos romanos, pelos senhores do Cinéreo e
pelo próprio povo judeu, que o preferiu a Barrabás.

Mas, isso foi no passado. Será que no presente a humanidade odeia Cristo?
Respondendo, eu diria que ela afirma que ama o mestre, mas odeia os “Jesus Cristo”, ou seja,
aqueles que vivenciam os ensinamentos do mestre.

É neste sentido que estou falarei a respeito da hipocrisia que vive os religiosos que se
comportam frente aos acontecimentos do mundo como seres humanos comuns. Esta hipocrisia se
reflete exatamente na frase que disse acima: a humanidade diz que ama Cristo, mas odeia os
“Jesus Cristos”.

Sabe por que isso? Porque a humanidade afirma que ama Cristo, mas odeia aqueles que
quebram as leis. A humanidade diz que ama Cristo, mas são os primeiros a acusarem, julgarem e
condenarem aqueles que são pegos em flagrantes delitos. Mas, Cristo não fez isso...

Quando a mulher adultera lhe foi apresentada, Cristo disse: quem não tem pecado que
atire a primeira pedra. Quando ninguém mais ficou ele disse: se ninguém lhe condena, não sou eu
que vou lhe condenar...

Portanto, para se portar como Cristo, os seres humanos deveriam eximir-se de julgar
qualquer um, mesmo aqueles que forem pegos em flagrante delito. Mas, o mundo detesta os
“Jesus Cristos” e por isso chama de fraco, inconseqüente e outros adjetivos pejorativos aqueles
que não cumprem a “obrigação” de julgar, acusar e condenar os outros.

A humanidade diz que ama Cristo, mas odeia aqueles que, como o mestre, não seguem
rigorosamente a lei humana. Acontece que aqueles que se eximem de culpar os outros (os “Jesus
Cristo” ou aqueles que buscam o caminho que leva a Deus) praticam o perdão, o que, aliás, foi
ensinamento do mestre e serve como caminho para Deus: Pai perdoa, eles não sabem o que
fazem...

Apesar do mestre ter ensinado assim e a humanidade dizer que quer seguí-lo, ela não quer
perdoar. Diz que ama Cristo, que o aceita como legítimo guia e pastor, mas não quer praticar o
perdão que ele ensinou. Prefere julgar, condenar e acusar a todos... Pior... Quem não segue estas
premissas é chamado de bobo, de otário.

Mas, se a humanidade diz que busca a Cristo, deveria, não digo nem aclamar aqueles que
buscam viver como Cristo, mas pelo menos não odiá-los. Deveria, pelo menos, não taxá-los com
palavras que demonstrem menosprezo.

A humanidade diz que ama Cristo, mas o ser humano, mesmo os que se dizem cristãos,
estão preocupados com o que vão comer e vestir hoje. Cristo nunca teve esta preocupação...

Cristo dizia: se Deus dá o alimento aos bichos e dá roupa às flores, porque eu vou me
preocupar com isso. Apesar deste ensinamento, a humanidade ainda se preocupa e, para aqueles
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 24

que vivem do jeito que deveria ser o ideal de todos os que dizem que buscam seguir a Cristo,
existe a acusação de serem alienados. São menosprezados, considerados bobos.

A humanidade diz que ama Cristo, mas se preocupa não só com o que vestir, mas como
se vestir. A humanidade preza muito mais a aparência física do que o interior. Preza ver se está
arrumado, limpo ou cheiroso.

Esquecem-se do que Cristo afirmou: ai de vocês que lavam o copo e o prato por fora, mas
por dentro estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância. Para
descrever aqueles que se preocupam com o exterior Cristo fez a seguinte comparação: são como
túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos
mortos e de podridão...

Se estes chegassem perto de Cristo não iam se sentir confortáveis, pois o mestre não era
de se preocupar muito com estas coisas... Sabe, aquela imagem do manto sempre branco é
apenas uma figura. Isso porque Cristo andava no meio do deserto. Sendo assim, no mínimo o seu
manto era coberto de pó...

A humanidade diz que ama Cristo, mas aqueles que não cumprem os rituais religiosos, são
colocados na cruz. São acusados de hereges, de pagãos... Mas, Cristo nunca cumpriu um ritual
religioso de sua época... Pior, quebrou todos...

Cristo se alimentou e fez cura nos sábados... Expulsou os vendedores do templo, o que
era aceito pela doutrina religiosa de então... Foi contra as bases doutrinárias dos professores da
lei, falando em amor e perdão...

Sabe, hoje é muito fácil para vocês não cumprirem as leis religiosas, pois elas foram
adaptadas para servir à humanidade. Mas, naquele tempo não... Era tão complicado não se seguir
a religião oficial dentro de todos os parâmetros que ela continha, que Cristo foi crucificado
justamente por isso...

A humanidade diz que ama Cristo, mas tem como objetivo principal na sua vida realizar-se
materialmente. Está preocupado em estudar, em se formar numa boa faculdade para poder
arrumar um emprego melhor para ganhar mais dinheiro e ter mais ascensão.

Cristo nunca teve esta preocupação... E se ele é o caminho a verdade e a vida e só


através dele se chega a Deus, aquele que ama o mestre não deveria ter estas preocupações, não
deveria ter estes objetivos como primários na sua vida...

É isso que Cristo afirma quando diz que a humanidade o odiou. Só que ela não o odiou
apenas naquele tempo, mas continua odiando-o até hoje através daqueles que seguem os seus
ensinamentos.

Continuam criticando, acusando, chamando os seguidores de Cristo de não evoluídos. Isso


porque a humanidade continua presa a um padrão de evolução que não foi a que o Cristo ensinou.
Eles ainda continuam querendo exercer o poder de ser, estar e fazer, enquanto Cristo dizia:
Senhor honra seu nome através de mim...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 25

Aí está o problema: a humanidade diz que ama Cristo, mas não quer mudar a forma
humana de viver... A humanidade, para poder se dizer seguidora de Cristo, precisa alterar os
valores da sua vida. Aliás, o próprio mestre deixou isso bem claro: eu não vim trazer a paz, mas a
espada. Enquanto você não abandonar suas paixões humanas, pegar a sua cruz e me seguir, não
serve para mim...

Não adianta se dizer seguidor de Cristo e querer levar uma vida humana igual a dos
outros, porque não se chega, espiritualmente falando, a lugar algum. Só se chega à elevação
espiritual através do exemplo deixado por ele, pois “eu sou o caminho a verdade e a luz; ninguém
chega a Deus a não ser através de mim”.

Esta sentença proferida pelo mestre quer dizer que ninguém chega a Deus a não ser
vivendo a vida como ele viveu. Por isso a vida daqueles que querem se dizer seguidor de Cristo
tem que ter como objetivo primário a mesma intenção que o mestre teve: vivenciar a cada
momento a glória do Pai sem se preocupar com os acontecimentos materiais...

Mas, a humanidade odeia Cristo, odeia os “Jesus Cristos”: odeia aqueles que não se
preocupam com os elementos materiais de sua vida. Aliás, a vida “Jesus Cristo”, ou seja, aquilo
que deveria ser o objetivo primário de ser vivido por um espírito encarnado, é a antítese de tudo o
que a humanidade sonha para si. Isso porque o fundamento da vida humana é alcançar a glória
material (estar “certo” dentro dos padrões humanos), a fama (ser reconhecido como um ser
humano adaptado às realidades humanas) e a felicidade material.

Participante: Porque a sociedade hoje é tão individualista se a Terra está


mudando para o Mundo de Regeneração. Não era para ter uma evolução com
relação ao universalismo?

Não... Era para piorar mesmo, porque a quem muito foi dado, muito será cobrado...

Repare: se a prova de um espírito é vencer o individualismo, quanto mais ele se aproxima


da prova final, mais individualismo tem que vivenciar... O individualismo precisa hoje lhe chamar
mais fortemente, precisa lhe tentar mais fortemente, para que você esteja sempre fazendo provas
dentro do seu nível de elevação...

Se vocês pertencessem ao mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele.

Um rápido comentário...

Quando você segue os padrões da humanidade, o mundo lhe ama. Ele age assim porque
você é humano, porque vive humanamente a vida: porque você se preocupa em arrumar-se, em
trabalhar; porque sonha em crescer materialmente; porque sonha com a submissão dos outros aos
seus padrões de “certo”; porque quer ter o poder ao seu lado.

Agora, quando para você nada disso tem valor, o mundo lhe odeia. Tem este sentimento
porque você não é mais humano, porque não se preocupa com a humanidade, mas sim em
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 26

pertencer a Cristo, a quem nada disso faz sentido. É como Paulo diz: para mim o mundo está
morto porque eu pertenço a Cristo...

Esta é uma coisa que precisávamos entender para continuar ouvindo o que Cristo falou...

Mas, eu os escolhi entre a gente do mundo e vocês não pertencem mais a ele.
Por isso o mundo os odeia.

Por estarem ligados a Cristo, ou seja, por tudo que é humano não fazer mais sentido para
vocês, o mundo lhes odeia. O mundo não vê em você alguém que pode ser seguido, que mereça
ser ouvido. Isso porque o mundo ama apenas quem fala o que ele quer ouvir...

A humanidade ama aqueles que servem ao humanismo do ser e não aqueles que servem
a Cristo. Mas, este tipo de proceder não leva o espírito a se aproximar do Pai. Para entender bem
isso, temos que nos lembrar de outra frase de Paulo: o ser humano é inimigo de Deus...

Sim, o ser humano é inimigo de Deus porque ele só é amigo dele mesmo. O ser humano
não é amigo de mais ninguém...

Mesmo quando considera alguém como amigo, a consideração está subordinada ao “bem”
que este amigo lhe traz. Se este “bem” deixar de existir, o amigo se transforma logo em inimigo...
Sendo assim eu afirmo: ele só está preocupado consigo mesmo e não com o outro.

Você acha que estou exagerando? Ouça este ensinamento que o Espírito da Verdade fala
em O Livro dos Espíritos.

Pergunta 913: Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? Temo-lo
dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai os vícios e vereis
que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não
chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não
lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse
efeito. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral,
deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o
egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas
as outras qualidades.

Aí está a base da humanização a qual o espírito se expõe: todo ser humano é egoísta, já
que este sentimento é a base dos egos formados no planeta Terra.

Quem é egoísta ama a si acima de Deus e dos outros. Por isso Paulo nos diz que o ser
humano é o inimigo de Deus, já que ele quer para si, enquanto que o Pai quer para todos...

Esta é uma conclusão que precisa ser tirada por aqueles que querem seguir Cristo, pois no
mestre não residia o egoísmo: ele vivia para servir os outros. Já o ser humano vive para se servir e
para isso serve-se dos outros.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 27

Afirmo isso porque o ser humano é incapaz de ser, por exemplo, caridoso de uma forma
universal. Mesmo quando ele quer ajudar o próximo, estipula condições que são aceitas por ele
mesmo para auxiliar.

Esta é a base que todos aqueles que dizem que estão buscando a elevação espiritual
precisam compreender: a humanidade, os valores ditos humanos são forjados no egoísmo. Por
isso, enquanto o ser for humano não conseguirá amar a Cristo de verdade. Por conseguinte, odiará
Cristo, pois ele não foi humano.

A existência de “Jesus Cristo”, que iniciou-se depois do batismo foi uma existência
espiritualizada e universalista. No momento em que João Batista batiza Jesus, acaba-se a
humanidade desta personalidade. Ela passa a funcionar como um espírito na carne e não mais
como humano.

O espírito na carne é aquele que não é egoísta, que vive no universalismo e no


espiritualismo pleno. Ou seja, aquela personalidade onde o amor a Deus acima de todas as coisas
e ao próximo como a si mesmo está presente. É por isso que esta personalidade afirma: a
humanidade me odeia.

Sabe quem são os humanos cristãos de hoje? Os mesmos professores da lei do tempo de
Cristo.

Não estou falando em reencarnação, afirmando que são os mesmos espíritos. O que estou
dizendo é que os elementos humanos de hoje, como os de então, ainda se avocam em ter a
verdade e usá-la para julgar o próximo. São os mesmos para os quais Jesus Cristo falou: ai de
vocês, professores da lei, que põem fardo nas costas dos outros e não ajudam a carregar nem
com nenhum um dedo. Por isso continuam julgando e criticando os “Jesus Cristos”, como fizeram
com o mestre...

A partir desta constatação, deve surgir para vocês que estão querendo seguir o exemplo
de Cristo, uma verdade: não esperem que a humanidade vá aplaudir os seus esforços de elevação
espiritual. Todo mundo acha que se entrar nesta revolução espiritual será considerado bonzinho ou
santinho. Isso é ilusão.

A humanidade vai lutar contra vocês... Vai querer lhes ridicularizar, vai querer, como
instrumento do carma, lhes colocar a todas as provas para lhes testarem no sentido de ver se
vocês permanecem no amor em Cristo...

É preciso atentar para este detalhe. É preciso estar atento a este detalhe: ninguém chega a
Deus através de Cristo, ou seja, ninguém chega a Deus a não ser sendo um “Jesus Cristo”.

Depois de compreender isso, é preciso, ainda, compreender outra coisa: quem quiser
chegar a Deus sendo um “Jesus Cristo” não pode querer ser humano e nem esperar que a
humanidade lhe apóie neste intento.

Participante: O mundo gosta de quem faz o que ele quer. Concordo com isso.
Agora, se formos seguir Cristo, vamos nos tornar individualistas e egoístas
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 28

também, pois não poderemos contar com ninguém, já que o mundo não apoiará
quem seguir Cristo.

Concordo com você. Só que seguindo Cristo, você não será individualista, mas individual.

Falo assim, porque individualista é aquele que quer para isso enquanto que o individual é
aquele que se reconhece como individualidade, mas que não quer para si prioritariamente.

Sim, para seguir Cristo você precisa ser uma individualidade sem individualismo, sem
egoísmo. Mas, isso é impossível para quem segue os padrões humanos de vida, porque a
humanidade lhe cobra que seja egoísta, ou seja, que se imponha individualmente a cada
momento.

Vamos continuar...

Vocês poderiam dizer: você está sendo radical. Eu diria: estou... E complementaria: sem
radicalismo não há elevação espiritual. Sem você radicalizar espiritualmente a vida, não há
elevação espiritual. Querem ver um exemplo...

Há entre os espíritas uma frase muito interessante. Quando se fala nas influências dos
espíritos sobre a vida nos meios espíritas eles dizem: ah, nem tudo que acontece em nossa vida
são os espíritos que fazem...

Os que respondem desta forma são humanos, ou seja, vivem apenas a partir das suas
percepções. Mais, são professores da lei porque citam O Livro dos Espíritos, mas não vivem o que
ele diz...

Segundo esta obra do Pentateuco Espírita, a influência dos espíritos na vida humana é
muito maior do que o ser humano possa imaginar. Portanto, para ser espírita verdadeiro, os
seguidores desta religião deveriam radicalizar (ter isto como Verdade Absoluta).

Mas, para não serem egoístas, deveriam radicalizar não porque se acham certos, mas
porque esse é o ensinamento do mestre que seguem. Se não radicalizam e atacam os que dizem
isso, posso afirmar que os espíritas odeiam os “Espíritos das Verdades” também...

Participante: Por favor, fale deste ensinamento...

Ele começa na pergunta 459:

Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? Muito mais do


que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem.

Esta é a lei da doutrina espírita. Tanto isso é verdade que o seu próprio fundador,
comentando a influência dos espíritos nos acontecimentos da vida diz:

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que


suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por
determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 29

que tenham em vista, eles obraram de tal maneira que o homem crente de que
obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre
arbítrio.(Comentários de Kardec à pergunta 525).

Isso, por si só já diria tudo. Mas tem mais... À frente (pergunta 527) o Espírito da Verdade
diz que se alguém tem que morrer por causa da ação de um raio que caia do céu (determinismo de
destino) nenhum ser desencarnado alterará a rota do elemento da natureza, mas fará com que o
homem se dirija para o lugar onde ele sabe que o raio cairá...

Ou seja, a vida é completamente dominada pelos espíritos. Todas as suas ações são
comandadas de fora para dentro e você, como diz Kardec, achando que mantém o livre arbítrio,
faz o que precisa ser feito.

Portanto, para se dizer seguidor do Espírito da Verdade é preciso que os espíritas


radicalizem e vivam com esta realidade: tudo na vida é intervenção dos espíritos.

Mas os espíritos não agem à toa. A pergunta 525a traz uma informação importante:

Exercem essa influência por outra forma que não apenas pelos pensamentos
que sugerem, isto é, têm ação direta sobre o cumprimento das coisas? Sim,
mas nunca atuam fora das leis da Natureza.

Reparem que a letra “n” está escrita de forma maiúscula. Isso quer dizer que o Espírito da
Verdade se refere a Deus. Ou seja, os espíritos agem sobre o cumprimento das coisas, mas esta
ação segue a ordenação do Senhor.

Agora o radicalismo está completo: o espírita, para poder se dizer seguidor do Espírito da
Verdade tem que aceitar que tudo que acontece durante a sua existência tem a direção do mundo
espiritual menos denso, mas que eles agem sobre o comando de Deus. Para eles nada mais pode
ser real...

Quem não radicalizar nesta questão não pode dizer-se espírita. Aliás, será como os
cristãos que estamos comentando: dirão que amam o espiritismo, mas que odeiam os “Espíritos da
Verdade”.

Mas, este conhecimento não deveria pertencer apenas aos espíritas. Os próprios cristãos
não espíritas, que dizem não acreditar na existência do mundo espiritual ativo, para poderem
demonstrar o seu amor por Cristo, deveriam acreditar nisso.

Falo assim porque o mestre conhecia esta Verdade. Cristo sabia que tudo o que vai
acontecer está predeterminado (até os fios de vossas cabeças estão contados) e participava dos
acontecimentos com esta consciência. Isto ele deixou bem claro quando respondeu aos apóstolos
que lhe avisaram sobre a morte do seu amigo Lázaro: vamos lá, pois ele não morreu. Só está
daquele jeito para que a glória de Deus seja alcançada...

Sei que muitos cristãos não espíritas acreditam nesta verdade (que suas existências são
dirigidas pelos espíritos), mas há uma diferença na forma como Cristo acreditava e na que os
humanos cristãos acreditam. Enquanto que humanos estão eternamente querendo investigar o
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 30

porque e o para que das coisas, Cristo deixava Deus fluir através dele, ou seja, tinha consciência
de que era Deus agindo sempre e por isso não precisava se preocupar com os porquês e os para
quês...

Essa é mais uma razão pela qual eu afirmo a humanidade não ama Cristo: aqueles que se
entregam a Deus deixando o Senhor fluir por eles sem seguirem normas e padrões humanos, são
considerados doidos. Isso no mínimo, para não dizer idiota...

Anti Cristo não é aquele que se contrapõe aos ensinamentos das doutrinas cristãs não
espíritas, mas sim aqueles que não levam em consideração esta informação do Espírito da
Verdade por não estar de acordo com suas próprias crenças, apesar de declaradamente estar
presente na consciência “Jesus Cristo”...

Mas, existem outros aspectos que me levam a afirmar que a humanidade odeia Cristo...
Um deles é a aceitação do destino.

A humanidade luta para criar um destino melhor para ela mesma. É raro o humano que
aceita que os acontecimentos de sua existência estão perfeitos da forma que estão.

Para Cristo, tudo era fruto do amor de seu Pai, mesmo aquilo que a humanidade chama de
“errado” ou “ruim”... O mestre, por exemplo, sabia volitar, era capaz de proezas como andar em
cima das águas, mas não fugiu do seu destino...

Ele poderia muito bem ter volitado e desaparecido da cena da crucificação e continuado a
sua vida. Por que não fez isso? Para entender é preciso ouvir a resposta que ele deu a Pilatos
quando este lhe perguntou por que não se salvava: se o Pai quisesse que eu não passasse por
isso, mandaria pelo menos vinte legiões de anjos para me salvar...

Aí está uma grande verdade que a humanidade odeia ouvir: Cristo não foi crucificado pelos
romanos, nem pelos judeus. Ele foi crucificado por determinação de Deus...

É a humanidade odeia ouvir isso, porque ela quer preservar a vida material. O ser humano
quer continuar vivo, materialmente falando, porque quer continuar humanizado, quer continuar
ganhando migalhas (as poucas vezes em que o desejo é realizado) aqui e ali...

Cristo morreu na cruz sem aflição, sem medo, sem acusações. Entregou-se a este
momento porque sabia que aquilo era apenas uma história pré-montada para lhe dar aos seus
seguidores o seguinte ensinamento: se você estiver sendo levado ao cadafalso, vá em paz,
amando e perdoando seus algozes. Não queira fugir do seu destino...

Mas, os humanos cristãos não querem ouvir este ensinamento que já tem dois mil anos e
continuam lutando para ganhar sempre...

Sabe, é até compreensível que ao ir para o seu cadafalso você fique perturbado e reja
como Cristo, que se perturbou com a aproximação de sua hora segundo relato de João: Sinto
agora uma grande aflição... Mas, para poder se dizer cristão, continue a frase como ele continuou,
ainda segundo relato de João: mas, o que vou dizer agora? Pai afasta de mim este cálice... Mas eu
nasci para isso... Pai glorifica o seu nome em mim.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 31

Quanto aqueles que vivem que não reagem aos acontecimentos do mundo, que se
entregam passivamente às suas cruzes mantendo intacta a sua relação amorosa com Deus, estes
são criticados pela humanidade. Criticam porque os humanos egoístas não querem ser
crucificados, ou seja, não querem ver os seus supostos direitos serem afetados.

Esta é a realidade... Por favor, não digam que estou radicalizando... Estou simplesmente
pegando ensinamentos que existem em O livro dos Espíritos e na Bíblia para mostrar que o
ensinamento é um e a prática é outra...

Agora, quanto à afirmação de Cristo que o mundo o odeia, também não a inventei: está há
quase dois mil anos no Evangelho de João... Cabe a nós não discuti-la, mas entendê-a,
compreendê-la, que é isso que estamos falando neste trabalho.

Como disse, ao estudar os ensinamentos do Novo Testamento gostaria de falar da prática


da vida e é exatamente isso que estou fazendo hoje: mostrando que a prática da vida daqueles
que se dizem seguidores de Cristo é hipócrita, porque amam a Cristo, mas não querem viver como
o mestre viveu.

Não querem doar-se como o mestre doou-se. Preferem manter a sua humanidade intacta a
se entregar ao espiritualismo, mesmo sabendo que com isso não alcançam a evolução espiritual,
ou seja, não caminham o caminho que leva a Deus...

Lembrem-se do que eu disse: o empregado não é mais importante do que o


patrão. Se me perseguiram, também perseguirão vocês; se obedeceram aos
meus ensinamentos, também obedeceram aos ensinamentos de vocês. Por
causa de mim, vão lhes fazer tudo isso porque não conhecem aquele que me
enviou. Eles não teriam nenhum pecado se eu não tivesse vindo e falado a
eles. Mas agora não têm desculpa para o seu pecado.

Neste ensinamento a fonte da célebre frase: a quem muito foi dado, muito será cobrado.

O pecado – pecado como transgressão ao espiritual – não nasce do ato que se pratica
durante a vida, mas sim da transgressão ao conhecimento que cada um possui.

Veja... O católico tem um ensinamento, o protestante outro e o espírita outro ainda. Mas,
todos estes conjuntos doutrinários contêm ensinamentos fundamentados no que Cristo ensinou...

Acontece que apesar disso, o humano considera os ensinamentos de sua seita mais
importantes do que realmente está descrito como ensinamento do mestre. Mas, isso não é
verdade... Toda doutrina que se diga cristã precisa ensinar o que Cristo ensinou...

Para isso é preciso se deixar de lado as diferenças... Que importa se só há esta vida ou
outras (reencarnação)? O importante é fazer o que Cristo ensinou: amar a tudo e a todos... Por
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 32

isso, quando o ser humanizado recebe os ensinamentos de quaisquer de uma destas seitas, ele se
torna responsável por colocar em prática o que o mestre nazareno ensinou...

Se Cristo diz que você deve amar o inimigo, não importa o que o padre diz: você tem que
amar o inimigo. Se ele afirma que não deve julgar, não importa o que o médium diga na palestra do
centro: você precisa abrir mão disso.

Se Cristo diz que deve perdoar a todos, deixe o pastor condenar aqueles que participam de
outras doutrinas, mas você perdoe todo mundo. Se Cristo diz ao bandido que ainda hoje ele estará
no reino do céu por arrepender-se, não importa o que o código moral de sua religião fale a respeito
do crime: você precisa compreender que o bandido que se arrepender de seus pecados irá para o
reino do céu.

Aí está a hipocrisia que eu tenho falado: não adianta se dizer católico, espírita ou
evangélico e não seguir Cristo, mas sim ao que ouve na sua religião... O problema é que todos
querem ser religiosos, mas não abrem mão do seu humanismo que se caracteriza em ser e
acreditar no que quiser.

Na verdade, este é o tema da palestra de hoje: ser cristão...

Para ser cristão de verdade é preciso lembrar-se do que Cristo disse: em verdade vos digo:
quem não nascer de novo não verá o reino do céu. Por causa desta afirmação, saiba que enquanto
não renascer do espírito e da água não conseguirá a elevação espiritual, por mais que decore os
ensinamentos, por mais que se diga cristão. E, para renascer do espírito e da água é preciso ser
como Cristo foi...

Mas, para ser igual a ele, é preciso que você se lembre de algo importante que ele disse:
não se serve a dois senhores ao mesmo tempo. Não se serve à materialidade, à humanidade e a
Deus ao mesmo tempo...

Não há se manter humano e ser ao mesmo tempo cristão. Isto porque a humanidade lhe
cobra o seu humanismo enquanto que Cristo lhe cobra a sua espiritualização, a sua ligação com
Deus: o seu viver em Deus, com Deus e para Deus...

Se nós não compreendermos isso, ficaremos batendo cabeça contra parede. Ficaremos
querendo ser humano sem conseguir e querendo ser espírito e não conseguindo também...

Este é o assunto que precisa ser rapidamente conscientizado por todos os que se dizem
buscadores. A compreensão deste tema precisa servir como instrumento para espiritualizar
verdades. Sem isso, o espírito encarnado ficará empacado no tocante a elevação espiritual, como
está há milhares de encarnações lutando entre servir ao mundo ou a Deus.

Isso é o que precisamos pensar... Mas, esta é uma decisão difícil, pois a partir do momento
que você decidir seguir a Cristo, tem que passar a ser um “Jesus Cristo” e amar os “Jesus Cristos”.

Mas, se por outro lado não decidir por isso, você tem todo direito de viver a sua
humanidade. No entanto, compreenda que este caminho não lhe leva a Deus. Além disso, para
não ser hipócrita, é preciso você pare de bater nos peitos e dizer que é cristão.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 33

Esta é a bifurcação, a encruzilhada, onde estão todos os espíritos encarnados hoje: de um


lado o chamamento de Deus, da espiritualidade; do outro o da humanidade para viver uma vida de
forma humana. Isto precisa ficar bem claro para os que se dizem buscadores de Deus...

Além do mais, é preciso ficar bem claro que a partir do momento que você opte por Deus
não deve esperar da humanidade respeito, amor e atenção porque ela lhe cobrará mudanças, pois
deixou de ser um humano.

Participante: Você já falou por diversas vezes que é preciso amar a todos, mas
acho que eu não sei bem o que é o amar universal. Poderia nos dizer o que é
este amar e citar alguns exemplos na vida prática?

Posso, é fácil fazer isso...

O que é amar universalmente? É não amar egoisticamente.

Como na prática se sabe que está mando universalmente? Quando você não distinguir
“certo” nem “errado”, “limpo” ou “sujo”, “arrumado” e “desarrumado”, “bonito” e “feio”...

Quando você, por exemplo, vê na atitude de outro uma arrumação e gosta, você elogia,
mas isso não se traduz em amar universalmente. Isso porque você só elogia o que lhe convém
elogiar... Quando vê um “errado” na atitude de outro é porque você não acha aquilo certo. Em
qualquer dos dois casos não amou universalmente porque seu estado de espírito amoroso existiu
a partir de seus próprios conceitos. Ou seja, amou egoisticamente...

Amar é viver a vida sem aplicar adjetivos a nada e a ninguém. Amar é simplesmente amar
e quem ama não vê “feio” ou “bonito”, “certo ou errado”. Quem ama, só ama...

Então, amar universalmente é isso: participar da vida sem colocar adjetivos nela. Isto
porque qualquer adjetivo que se coloque é fundamentado no egoísmo, ou seja, é fundamentado no
que você acha daquilo...

Participante: Mas, como eu vou amar uma pessoa que pratica o ―mal‖? Eu não
ia estar apoiando esta pessoa...

Mas eu acabei de dizer que não se dá adjetivos. O “mal” é um adjetivo que você coloca a
algo que é perfeito que vem de Deus...

Quanto ao apoiar, eu não falei que deve apoiar qualquer pessoa, mas que deve amar a
todos. O ato de apoiar só ocorre quando há um “certo” presumido, mas eu não estou falando em
“certo”, mas em perfeito. Eu, como Cristo, estou afirmando que o “bem” e o “mal” são frutos do
amor de Deus que são adjetivados a partir dos conceitos humanos e pela ação egoísta como tal...

Para poder viver isso, eu não julgo ou acuso, mas também não elogio. Vivencio tudo na
neutralidade, ou equanimidade como Krishna chama este estado de espírito.

Foi assim Que Cristo viveu ou você acha que ele morreu com raiva de quem enfiou a lança
nele ou dos doutores do Cinéreo que o acusou? Claro que não...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 34

Mas ao não ter raiva deles, o mestre não compactuou com as ações por eles praticadas.
Ele compactuou com Deus que estava fazendo aquilo acontecer...

Participante: Isso é difícil demais...

Sim, para o ser humano é difícil demais amar, mas para o espírito ou para aqueles que,
como Cristo, se abstém de ganhar e levar vantagem nos acontecimentos da vida, não.

 Interpretações

Participante: Por que Cristo não mostra clareza no que fala e deixa a
interpretação a quem lê? Existem milhares de interpretações. A pessoa não
vai saber o verdadeiro sentido para interpretar o que Cristo quis dizer. Por
que isso?

Antes de qualquer coisa deixe-me lhe dizer que ninguém interpreta o que lê. As
interpretações são criadas pelo ego através de pensamento. Para quê? Para gerar individualidades
que são a prova de cada ser humano.

Portanto, Cristo falou em parábolas justamente para que cada personalidade humana
pudesse fazer a sua livre interpretação. Ele agiu desta forma para que houvesse a múltiplas
interpretações do texto e com isso possibilitar a prova do „eu sei‟. Se cada um acredita saber
alguma coisa (crê na interpretação que a mente humana cria) eis aí uma boa prova: amar e
respeitar a interpretação do outro ou discutir para provar que está certo.

Mas, ele também disse assim: o primeiro e maior mandamento que você deve se entregar
de corpo, mente, alma e espírito é amar a Deus sobre todas as coisas; e o segundo ao qual
também deve se entregar completamente é amar ao próximo como a si mesmo. A partir disso lhe
afirmo que não importa que compreensão você tenha, ame a Deus acima dela; não importa que
compreensão tenha, ame ao próximo acima dela. Quem se apega a uma interpretação para criar
uma verdade não cumpriu nem o primeiro nem o segundo mandamento.

Portanto, Cristo falou por parábolas justamente para isso: para ver se o ser humanizado vai
ficar procurando interpretações ou se irá simplesmente amar. Para complementar esta visão posso
ainda lhe citar mais um ensinamento de Cristo: louvado seja Deus que esconde do sábio, ou seja,
aquele que sabe interpretar, o que mostra aos simples, aquele não sabe nem ler, mas ama a Deus
acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Apesar de lhe dizer tudo isso, afirmo: Cristo não poderia ser mais claro do que foi.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 35

 Apego à vida material

Participante: Qual o nosso maior fator de não aceitar e acreditar tanto na


vida espiritual? Medo, descrença, educação ou amor mesmo.

É o apego à vida material. Aliás, excelente pergunta, porque este é o tema de hoje. Mas,
de início lhe digo que aquele que reluta em aceitar os valores universais é porque tem apego à
vida material, ou seja, quer estar vivo dentro dos valores da humanidade.

Entre o povo que tinha ido a Jerusalém para tomar parte na festa, havia alguns
gregos. Eles foram falar com Filipe, que era da cidade de Betsaida, na Galiléia,
e pediram: Senhor, queremos ver Jesus. Filipe foi dizer isso a André e os dois
foram falar com Jesus. Então ele respondeu: Chegou a hora de o Filho do
Homem receber grande glória. Eu afirmo a vocês que se o grão de trigo não for
lançado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se
morrer, dará muito trigo.

Aí está o ensinamento de Cristo: se o grão de trigo não morrer sob o solo, ele não
germinará; mas se morrer, servirá de alimento para outros. Ou seja, somente o desencarne –
aquilo que a humanidade chama de morte – que trás a confirmação do resultado do trabalho na
encarnação: a elevação espiritual.

Durante a existência carnal não se pode falar nada sobre ninguém. Um grão de trigo que
não esteja sob a terra não serve para nada. É preciso de ele morra para que só aí floresça.

Os seres humanizados têm o hábito de classificar pessoas pelos seus atos materiais. Por
exemplo: afirmam que Chico Xavier foi um santo por causa dos atos que ele praticava. Mas, o ato
não existe, é maya, é ilusão. Trata-se apenas de uma ilusão criada por Deus através da Causa
Primária de todas as coisas, a Inteligência Superior que administra as inteligências inferiores. Se
levarmos em conta apenas os atos, temos que dizer que o santo não era o Chico Xavier, mas sim
Deus.

O que interessa para Deus e o Universo não são os atos que cada ser humanizado pratica,
mas a intenção com que cada um vivencia a ação que Deus cria. Isso só se conhece realmente, ou
seja, o ser só se liberta da ilusão criada pelo ego qualificando as ações (pensamentos) depois do
desencarne.

Enquanto encarnado, o ego do ser humanizado apegado ao egoísmo vai criar razões que
justificarão a intencionalidade de cada um. Vou dar um exemplo onde isso fica bem claro...

Havia uma pessoa que quando afirmei que a intencionalidade de todo ser humanizado é o
egoísmo, ela me disse que não era egoísta. Querendo saber porque ela se considerava não
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 36

egoísta ouvi-a dizer que ela se preocupava com os outros. Para mostrar a sua preocupação falou
de outra pessoa que ali participava da conversa. Disse que se preocupava com aquela pessoa
porque ela continuava fumando apesar de já ter tido diversos problemas no coração.

Explorando o assunto perguntei: qual o problema dela continuar fumando e morrer. Todos
não vão morrer um dia? A resposta da pessoa que não se considerava egoísta: Porque se ela
morrer eu sentirei saudades...

Repare: aquilo que parecia ser um ato altruísta, um pensamento no outro, na verdade
estava amarrado a uma intencionalidade egoística. Ela estava preocupada apenas com ela e não
com o outro.

Isso é fácil para nós aqui, mas não era para ela. Por quê? Porque a autoconsciência da
ação egoísta só acontece ao ser depois do desencarne. Quando o ser se livra da influência que
justifica a ação egoísta pode, então, florescer.

É isso que Cristo está dizendo aqui: o grão de trigo só terá valor quando for enterrado e
morrer, porque aí florescerá.

Portanto a morte, o desencarne, não é o momento ruim, de desgraça, mas sim de júbilo
para aquele que sabe que era antes de nascer. Que sabe que era um ser universal, que continua
universal durante a humanização apesar de estar iludido pelo egoísmo do ego, e que sabe que
sempre estará universal.

Mas, para poder entender isso é preciso lembrar-se de outra coisa que cristo ensinou: meu
reino não é deste mundo. A partir desta convicção o ser humanizado pode despreocupar-se com o
prato de comida, pois sabe que ele não é do seu mundo. Não se preocupará em ganhar um salário
melhor, porque o salário não pertence ao mundo dele. Aquele que alcança esta consciência vai se
preocupar sim com outro ensinamento de Cristo que afirma que é preciso ter óleo suficiente na
lamparina para que quando o noivo chegue possa adentrar no recinto do casamento.

Este é o primeiro aspecto do ensinamento de Cristo que queria falar hoje: você só se
conhecerá e só poderá ajudar realmente o próximo depois que estiver morto, fora da carne, livre da
consciência dual, da personalidade humana que cria justificativas para a intencionalidade egoísta.

Quem ama a sua vida, vai perdê-la; mas quem não se apega à vida neste
mundo vai conservá-la para a vida eterna.

Neste trecho Cristo diz: quem quiser manter sua vida irá perdê-la. Querer manter a vida é
trabalhar para ganhar dinheiro, estudar para ter uma projeção social, querer pertencer a grupos
para ter amizades... Enfim, viver a vida pelos valores materiais. Quem quiser viver assim, perderá a
vida.

Não que irá morrer, desencarnar, mas perderá a vida no que ela é de verdade: uma
encarnação, uma oportunidade de elevação espiritual. Portanto, quem quiser viver a vida pelos
valores materiais perderá esta oportunidade.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 37

É isso que Cristo está querendo dizer. Mas, diz mais: quem não ligar para a vida, receberá
a vida. Ou seja, quem não se apegar aos valores materiais de uma existência humana, receberá a
existência eterna. Ganhará a vida, a elevação espiritual.

Agora sim posso responder plenamente a pessoa que me fez a pergunta que deu origem a
esta conversa. Por que é tão difícil acreditar na vida espiritual? Porque está apegado à vida
humana e quem vive a existência carnal desta forma não tem condições de vivenciar o seu lado
espiritual. Aquele que na primeira dor de cabeça em tomar o remédio para melhorar – não se trata
de tomar ou não, mas da intencionalidade com que faz, a preocupação - vai perder a elevação
espiritual, pois quer viver a vida: estar bem de saúde. Antes que vocês digam que estou
exagerando, que ninguém pode perder a elevação espiritual apenas porque toma um remédio para
melhor a saúde, eu digo que sim, que isso pode acontecer. Entendam: não há pequenos detalhes
que não importem na vida para a elevação espiritual.

Compreendam: não existe vida humana, só há a encarnação de um ser universal. Os seres


universais não vivem uma vida humana, mas se ligam a personalidades transitórias que são
conhecidas como ser humano. Estes seres estão assim para realizar provações, para vivenciar
carmas que correspondem às intencionalidades e vivenciando estas coisas de forma desapegada
libertar-se do egoísmo. Os seres universais não vêem ao mundo carnal para viver, para curtir as
coisas deste mundo.

Essa é uma reflexão que todo ser humanizado precisa fazer: o que eu quero para mim? O
que você quer para você? Quer viver a vida, ter uma família unida, ter um emprego bom – não
estou dizendo que não possa ter, mas querer? É esse o seu objetivo, é este o seu anseio? Sendo,
perderá a outra vida, pois como o próprio cristo também ensina não se pode servir a dois mestres
ao mesmo tempo: ou você serve ao dinheiro, mundo material, vida material ou serve a Deus.

Não tem como se coadunar o desejo de ter um bom emprego, de ter um salário no fim do
mês – não estou dizendo que não possa ter, mas sim do desejo de ter -, de ter uma família unida,
organizada, onde todos se respeitem com a busca espiritual. Não há como ter estes desejos e ao
meso tempo querer a elevação espiritual.

As duas coisas são como água e óleo: não combinam. Família, emprego, posição social e
dinheiro não pertencem ao mundo de Deus.

Alcançar a elevação espiritual, a consciência crística, é muito difícil para o ser humanizado
porque ele ainda não compreendeu que é necessário fazer uma profunda reflexão sobre o que é a
vida e a partir dela, usando o seu livre arbítrio espiritual, optar entre a elevação espiritual ou a vida
material. Sem a conscientização nascida desta opção, o ser humanizado será conduzido pela
personalidade humana (ego) para viver a vida e neste momento perde a vida espiritual.

Participante: Em Mateus, 6,33 há o seguinte texto: buscai em primeiro lugar


o reino de Deus e a sua justiça e todas as demais coisas o serão
acrescentadas. Um folhetim da Igreja Universal dá a seguinte interpretação
para este trecho: não será um casamento, um emprego ou um carro que o
fará feliz, mas se você for feliz poderá desfrutar dessas bênçãos como
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 38

ninguém. Isso é uma interpretação de alguém, mas se no reino de Deus não


há casa nem casamento, como fica a esperança dessa pessoa?

Mas, é o que eu falei. Sendo colocado como primeira opção o casamento, o carro o
emprego não ganhará na vida eterna. Isso porque a única coisa que há para se ganhar na vida
eterna é a felicidade incondicional, o estado de graça.

Agora, se você consegue este estado de graça (a felicidade incondicional), realmente


conseguirá aproveitar o casamento, a casa e o emprego muito melhor do que quem não tem.
Aquele que não prioriza a sua relação com Deus nos acontecimentos da vida e por isso vive as
conquistas materiais em primeiro plano, quando o carro quebra fica com raiva, quando a mulher o
contraria sente-se traído e quando perde o seu emprego não se desespera. Quem está em estado
de graça, ou seja, vive a felicidade incondicional porque priorizou antes de tudo sua relação com
Deus, não vai vivenciar estas coisas.

Mas, isso está no texto que você leu: se você for feliz poderá desfrutar dessas bênçãos
como ninguém. O problema é o que é desfrutar para você. Para aquele que prioriza a sua relação
com Deus o desfrute depende de ser contentado, satisfeito, pelos anseios humanos. Já aquele que
prioriza os valores humanos na sua existência, para ele o desfrute será esperado satisfazendo
todas as suas condições, todos os seus desejos.

Portanto, nas palavras, tanto o texto evangélico quanto um preto velho de umbanda que
trabalha na linha do monismo falam a mesma coisa: aquele que prioriza as coisas espirituais sobre
as materiais alcança maior felicidade ao vivenciar acontecimentos humanos.

O que estou tentando dizer é que para se vivenciar o lado espiritual não é necessário
morrer, mas sim viver com o objetivo espiritual em primeiro plano. O que estou tentando dizer é
que o ser humanizado que prioriza a sua relação pode ter um carro. A diferença entre este ser e
aquele que prioriza os anseios humanos, é que o primeiro vivenciará todos os acontecimentos do
carro, bons ou maus, em paz, sem perder a sua tranqüilidade, enquanto que o segundo dependerá
sempre do que acontecer com o carro para viver assim. É este o resultado da opção por priorizar a
vida espiritual e não a pobreza, como muitos pensam.

Quem quiser me servir siga-me; e, onde eu estiver ali ele estará também. E o
meu Pai honrará quem me serve.

Quem quiser me servir, siga-me...

Quem é Cristo? Segundo João é o Verbo. Verbo é a ação de uma frase. Portanto, Cristo é
a ação da vida. Esta ação marcou-se o tempo inteiro pela prática do amor incondicional. Portanto,
quem quiser servir ao mundo espiritual, que ame incondicionalmente: isto oi o Cristo disse nesta
frase.

Não se serve ao mundo espiritual queimando incensos em louvor a Deus. Não se serve ao
mundo espiritual dando prato de comida ou cobertor aos necessitados. Não se serve ao mundo
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 39

espiritual indo a igreja, ao centro ou ao templo. Não se serve ao mundo espiritual trabalhando
mediunicamente. Serve-se a este mundo simplesmente amando incondicionalmente...

Quando falo que não se serve realizando atos, não estou falando contra os atos. Aquele
que vive para o serviço ao mundo espiritual pode realizar todos os atos, mas para ele não é ação
em si que importa, mas a intencionalidade com que se vivencia a ação. Aquele que serve ao
mundo espiritual vivencia as suas ações independente de suas vontades e sem pró ou contra
nada.

Essa é uma realidade que os seres humanizados precisam compreender. A beata que não
sai da igreja porque acha melhor estar lá, não serve a Deus. O médium que não falta a nenhuma
sessão do centro espírita porque gosta da gira, não serve a Deus. Os espíritas que organizam
campanhas de doações aos necessitados não servem a Deus se naquele e em outros momentos
estiver amando incondicionalmente.

Este é o grande recado de Cristo. Ninguém serve a Deus porque faz um carinho em outra
pessoa, porque quando se faz isso apenas porque gosta da pessoa ou porque acha que deve
fazer não está se amando ao outro, mas a si mesmo, pois está fazendo aquilo que gosta, que acha
certo, que quer. Mesmo que o ser humanizado diga que neste momento está amando, não está,
pois este amor não incondicional.

Quando o ser humanizado faz um trabalho mediúnico porque acha que ele é importante,
não está servindo a Deus, está servindo a si mesmo, ao seu achar importante. Quando o ser
humanizado faz campanhas de doação porque tem pena dos necessitados, não está servindo a
eles, mas a si mesmo: à sua pena. Quando freqüenta o culto de uma religião porque acha que nele
pode ganhar (alcançar mais paz, mais elevação espiritual) não está servindo a Deus, mas à sua
própria busca.

Este é o recado de Cristo. Não importa o que o ser humanizado faça, não importa que
situação ele esteja vivenciando: acabe com as condições do amor. Deixe de amar porque, para
que, quando e onde e simplesmente ame. Para alcançar este „simplesmente ame‟, ou seja, ser
pobre de espírito, é preciso que o ser humanizado compreenda que qualquer opinião ou desejo
seu acaba com a incondicionalidade necessária para o amor.

Mas, Cristo diz mais neste pedaço. Ele fala assim: e Deus honrará quem me serve.

Dar honras a um ser universal não é dar medalha, colocar fotografia numa galeria ou dizer
que ele é melhor do que os outros. Dar honra a um espírito é aproximá-lo de Deus. Mas, isso não
acontece fisicamente, mas sim na compreensão. Aquele que busca a incondicionalidade evitando
saber alguma coisa passa a saber tudo, sem nada saber...

É isso que Cristo está ensinando. Esta é a honraria maior que um ser universal pode
receber: receber de Deus a compreensão que nada para ser sabido...

Participante: Quanto à questão do amor incondicional, como saber se é o


ego ou a pessoa que está sabendo? Seria simplesmente dizer não sei a
tudo?
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 40

São duas coisas que você me pergunta.

Primeiro: como saber se é o ego que está lhe dando a raiva, a tristeza ou a decepção com
outra pessoa. Esta questão é muito simples: quando estas emoções ou sensações forem
acompanhadas de uma compreensão racional – eu não gosto de fulano por causa disso, estou
sofrendo porque não gostei do que aconteceu, tal pessoa me decepcionou porque fez isso – é
sempre do ego. Isso porque há uma compreensão racional que justifica o sentir.

Portanto, tudo que contiver uma motivação, seja pensamento ou emoção, é carma. Ou
seja, ter raiva de uma pessoa é o seu carma e o de quem recebe esta emoção, pois você se
transforma num instrumento dela.

Segunda pergunta sua: como conviver com este carma (ter raiva de uma pessoa) para
conseguir a consciência crística? Diga para si mesmo: to com raiva sim, e daí? Compreenda: o ser
humanizado não pode fazer nada contra as emoções ou sensações que a personalidade humana
cria. O máximo que ela pode fazer é não vibrar na mesma sintonia.

Para isso é preciso que você tenha a consciência de que a raiva não é sua, mas sim uma
criação da personalidade humana para você se você entra na dele, ou seja, vibra na mesma
emoção. Quando isso acontece o ego continua a colocar motivações (é mesmo, aquela pessoa fez
isso de propósito, fez para me machucar mesmo) para servir de justificativa para que você continue
vibrando naquela emoção.

Quando o ser humanizado aceita como dele aquilo que a personalidade humana cria, esta
sempre irá inventar novas razões que justifiquem a emoção. Continuando a compactuar com estas
idéias, a personalidade humana aumentará a potência da emoção e o ser humanizado cada vez
ficará mais negativado.

Portanto, saiba que a realização da consciência crística não é não ter raiva de ninguém,
mas aprender a conviver com ela sem dar a ela valor algum. Ter a raiva é carma, conviver com ela
sem lhe dar valor algum é alcançar a elevação espiritual.

Compreendam: não queiram ser diferente daquilo que são. A reforma íntima não é na
verdade uma transformação da personalidade humana, mas a mudança na forma como o ser
humanizado convive com ela. A reforma íntima consiste-se em alterar a forma como se convive
com a personalidade humana: viver sem estar subjugado àquilo que a personalidade humana diz
que o ser humanizado precisa sentir ou pensar.

Participante: Só poderemos amar incondicionalmente quando acabarmos


com o ego, pois as condições são dele. Mas a personalidade humana
sempre existirá na vida carnal e por isso sempre iremos amar de acordo com
as condições do ego?

Se você fala neste amar de uma forma racional, eu sei que eu amo, sim, só amará
condicionalmente porque está preso à personalidade humana. Mas, neste caso, não está amando
a outra pessoa ou coisa, mas sim ao ego.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 41

Amar ao próximo de uma forma incondicional é diferente do que o ser humanizado entende
por amor. Um ser ama o próximo simplesmente quando ele não aceita a opinião que a
personalidade humana dá sobre o próximo, seja boa ou má.

Dizer que uma pessoa é bonita não é amar a ela, mas aos seus próprios padrões de
beleza. Isso é egoísmo...

Portanto, durante a existência carnal, mesmo com a personalidade humana em ação, o ser
humanizado pode amar incondicionalmente sim: basta não querer amar, não aceitar os padrões de
amor que a personalidade humana cria.

Encerrando, digo que o grande alerta de hoje está baseado na primeira pergunta: por que
ninguém quer morrer, mesmo acreditando piamente na existência de um mundo espiritual ativo?
Porque não optou em servir a Cristo e a Deus.

Este é um alerta constante nos ensinamentos de Cristo. Aliás, nos estudos que estamos
realizando sobre os textos bíblicos, esse tema tem sido uma constante: o alerta de que é preciso
uma tomada de posição durante a existência carnal sobre de que forma se vivencia os
acontecimentos carnais.

Esta tomada de posição é fundamental porque o dia chegará, disso não tenham dúvida...

 A coisa mais importante desta vida

Ai de vocês, guias de cegos, que ensinam assim: se alguém jurar pelo templo
não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se alguém jurar pelo ouro do
templo é obrigado a cumprir o que jurou. Qual é mais importante: o ouro ou o
templo que santifica o ouro? Também ensinam isso: se alguém jurar pelo altar
não é obrigado a cumprir o juramento; mas, se jurarem pela oferta que está no
altar, então é obrigado a cumprir o que jurou. Cegos, qual é mais importante, a
oferta ou o altar que santifica a oferta?

O que é mais importante: o ouro ou o templo que o santifica? O que é mais importante para
você: a sua casa ou o Deus que a santifica? Esta é a pergunta que Cristo faz aos seus seguidores
de então, mas que também continua fazendo aos de hoje... Responda...

Para os seres humanizados eu sei que é a casa. Eles se preocupam antes de qualquer
coisa em ter uma casa, porque não imaginam como pode se viver sem tê-la. Se ele estiver sem
casa vai sofrer, chorar, ranger os dentes. Mas, o que é mais importante: ter uma casa ou ter Deus,
ter um carro ou ter Deus ao seu lado?
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 42

Santificar o ouro é dar a ele um valor espiritual, dar um valor santo às coisas do mundo.
Não se trata de santificar o ouro, mas sim em dar a ele o seu valor universal.

Durante todo esse tempo estamos falando que não existe vida material, mas sim existência
espiritual que se vivencia em diferentes planos. Se isso é verdade, é preciso que o ser humanizado
santifique a vida material. Para isso, não estou dizendo que não se pode ter casa, mas sim ter uma
casa no seu sentido espiritual.

Ter uma casa dentro deste sentido é não possuir a casa („ele é minha‟), mas habitar um
lugar que pertence a Deus. É saber que a casa está sob sua guarda por empréstimo feito por Deus
e que Ele pode dispor dela da forma que quiser: jogá-la abaixo, sujar a parede, inundá-la, etc.
Quem convive com a casa onde mora numa relação espiritualizada, mora nela, mas não se diz
capaz de definir o seu destino, pois sabe que é apenas um locatário e não um proprietário.

Mas, os seres humanizados não vivem assim: se imaginam proprietários do imóvel. É por
isso que quando aparece um defeito na casa ele diz que ela não presta. Quando está velha, diz
que não serve para nada. Isso porque o ser humanizado vive a casa sem santificá-la. Ele não dá o
valor espiritual a casa, mas a utiliza pelo ouro, pela matéria. Se ela estiver bonita, limpa e
arrumada, os ser humanizado gosta dela, mas se isso não acontecer, não gosta mais dela.

É por não dar o valor espiritual à casa que Deus, o proprietário, despeja o ser humanizado.
Como vive pelo ouro, este ser, então, xinga a Deus com o seu sofrimento. Mas, que culpa tem
Deus disso? Ele teve que tirá-lo de lá porque ele não estava satisfeito com ela, não convivia
harmonicamente com a casa no estado que estava.

O ser humanizado vive pelo ouro do templo e não pelo próprio templo. Se Deus lhe dá um
carro ele já quer um modelo mais novo, com mais acessórios; se o Pai lhe dá uma roupa, o ser
humanizado diz que ela está fora de moda e quer outra; se o Senhor lhe dá um salário, o ser
humanizado reclama dizendo que é pouco e que quer mais. É isso que é viver o ouro do templo.

Aquele que busca a consciência crística age ao contrário, santifica o ouro do templo: se o
carro está velho ou sem novas tecnologias, o ser humanizado vive com ele em paz; se a roupa
está gasta ou puída, vive harmonizado com ela; se o salário é pouco, vive com felicidade o pouco
que pode desfrutar. Quem vive assim esta usando o ouro de uma forma santa, ou seja, está
amando tudo que tem no estado que está e contendo o que contêm.

O ser humanizado não aceita o que tem. Está sempre buscando mudar aquilo com o que
convive para satisfazer os seus conceitos de bom, certo, moderno, melhor. Santificar o que tem é
vivenciar em paz, harmonia e felicidade o que tem sem achar que merece mais ou melhor.
Santificar o ouro é agradecer a Deus tudo o que tem.

Não se está falando aqui em não ter desejos de outras coisas. O desejo é inerente ao ser
humanizado. Ele sempre irá querer além daquilo que tem. Isso é algo normal e aquele que vivencia
a consciência crística também quer, mas vivencia o que tem santificando-o, ou seja, convivendo
com o que tem neste momento de uma forma harmônica, enquanto quem não santifica o ouro
sofre com o que tem.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 43

Além de falar em santificar o ouro, Cristo nos diz ainda que aquele que tem a consciência
crística santifica a oferta. O que quer dizer isso?

A oferta a Deus é a existência que o ser humanizado vivencia. A vida humana de um ser é
uma oferta ao Senhor.

Aquele que santifica a sua oferta a Deus vive harmonizado com aquilo que tem. Aquele
que santifica o altar ao invés da oferta vive sempre buscando ter mais do que tem.

Quem só tem um prato de comida simples para comer, mas louva a Deus por isso santifica
a sua existência. Aquele que sofre porque só tem um prato para o dia inteiro e quer fazer todas as
refeições santifica o altar e não a oferta.

Estes são os dois ensinamentos de Cristo neste trecho. Mas, a amplitude deste
ensinamento pode ser maior se extrapolarmos as possessões individuais e analisarmos o
ensinamento na vida societária.

O que é santificar o ouro e o altar no tocante a convivência com os outros? É aceitar tudo o
que o outro faz sem críticas, sem julgamentos. Quem santifica o ouro e o altar vive
harmonicamente com o próximo mesmo que ele não faça ou não diga aquilo que o ser humanizado
espera dele.

É isso que Cristo está dizendo. Aquele que alcança a consciência crística santifica, ou seja,
vive harmonicamente, tudo aquilo que possui e tudo aquilo que os outros fazem para ele.

Existe algo que já falamos aqui e que os seres humanizados esquecem: se alguém não
fizer algo contra ele ou se sua existência estiver perfeita dentro dos seus padrões individuais, não
existe elevação. Alcançar a consciência crística depende totalmente do que se vivencia, pois ela é
o resultado da santificação que se faz destas coisas.

Sabe, o seu filho deixar um quarto bagunçado é lhe dar a oportunidade de elevação... Uma
pessoa lhe contrariar, dizer que você não sabe nada, lhe ofender, morar numa casa que não se
gosta, ter algo que se acha atrasado, é oportunidade de elevação.

Tudo o que ser humanizado tem e vivencia é uma ação que dá a oportunidade do ser
humanizado santificar a sua existência. Pergunto: se o ser universal não passar por estas coisas,
para que encarnou. Para se divertir? No Universo, o ser universal se diverte de outras formas.

O ser humanizado precisa compreender que tudo o que tem e vivencia é necessário para
que ele se liberte dos conceitos com que vive. Alcançar esta consciência é santificar tudo o que
tem e todos os atos que as pessoas praticam à sua frente. Isso é santificar o ouro. Quem não vive
assim, simplesmente utiliza o ouro, ou seja, sobrevive, passa pela vida.

Sem compreender que cada pessoa com a qual o ser humanizado convive faz exatamente
o que ele precisa para a sua elevação espiritual, ele não santifica o ouro e o altar, ou seja, a sua
oportunidade de encarnação. Quem não age assim vive na hipocrisia. Vive na falsidade de que o
que ele quer e acha correto é o certo para o Universo.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 44

Quem alcança a consciência crística santificando o que tem e o que vivencia não se sente
vítima nem tem algoz. Sabe que tudo e todos são instrumentos necessários ao seu trabalho
durante a encarnação.

O ser humanizado precisa mudar a visão que tem sobre as coisas e as pessoas do mundo.
Precisa acabar com a visão do ouro pelo ouro e começar a ver de uma forma santa o ouro e o
altar. Para isso é preciso alcançar a compreensão da santidade do ouro.

Tudo o que existe e acontece é santo. Não importa se estamos falando de uma simples
ofensa („você é bobo‟) ou de um assassinato: tudo faz parte do plano divino para a elevação
espiritual de um ser universal. Tudo o que existe e acontece para um ser é o melhor para ele, pois
é a justa medida daquilo que precisa para o seu trabalho de alcançar a consciência crística. Nem
mais nem menos...

Vida é oportunidade de elevação; é carma em ação: mais nada... Um homem não se


apaixona por uma mulher e vive junto com ela. Se estes dois seres humanizados estão juntos é
porque cada um é o carma do outro, ou seja, cada um possui os elementos necessários para que o
outro possa fazer a sua elevação. Se isso não fosse realidade, jamais estes dois seres teriam se
encontrados nem estariam juntos. Para que estariam juntos? Para se divertir? No sentido espiritual,
isso seria uma perda de tempo e no Universo isso não acontece...

Será que Deus colocaria dois seres convivendo juntos para que eles pudessem gozar o
prazer de estarem juntos? Isso, no sentido da existência eterna, seria uma perda de tempo... Sobre
isso, deixe-me dizer uma coisa: Deus não perde tempo, até porque Ele não tem tempo para
perder... O que Ele quer é resolver a questão da elevação de cada ser. Fazer isso é dar a cada o
que merece e precisa para realizar o trabalho necessário para alcançar a consciência crística.

Participante: Não há algo que um ser possa gerar por sua vontade mesmo
que não esteja programado para o trabalho da elevação espiritual?

Impossível... Existe um Senhor que é onipotente, onipresente e onisciente e que por isso
comanda pessoalmente todo o programa do trabalho da elevação espiritual.

O ser humanizado pode ter a ilusão de achar que faz o que quer, mas isso não pode
acontecer. Sendo isso possível, pelo objetivo que lhe move (viver o ouro pelo ouro) e que é
diferente de quando não humanizado, o ser não realizaria o trabalho necessário para a evolução.

Sendo isso verdade, não existe nada errado. Tudo que acontece e o que o ser humanizado
possui é sempre uma oportunidade para que ele possa conhecer os conceitos que possui sobre os
elementos do mundo e libertar-se deles. Tudo está sempre perfeito segundo a intenção de Deus:
que o ser universal possa prosseguir na sua caminhada eterna. Apesar disso afirmo que apenas
Deus conhece realmente a necessidade de cada um.

O ser quando se conscientiza de que a sua jornada humana é escrita por Deus para a sua
elevação quer saber porque está trilhando este ou aquele caminho, mas isso é impossível. O ser
humanizado não pode perscrutar as ações de Deus: só pode santificá-las ou não.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 45

 A cura

- Quem foi que tocou a minha roupa?

...

- Minha filha, você sarou porque teve fé. Vá em paz; você está curada.

Essa citação bíblica fala de uma mulher que se curou de uma longa doença (doze anos). O
Mestre afirma que ela foi curada não por ele, mas pela sua própria fé. Como vimos no tema cura,
esse é o fator preponderante para ser curado.

Entretanto, neste trecho existe um detalhe importante de analisarmos: Cristo não pratica
ato algum para que aconteça a cura. A mulher apenas toca na barra da sua roupa e está curada.
Na verdade, o mestre nem sabe quem tocou na sua roupa: apenas pressente que houve uma cura.

Fica, portanto, o ensinamento: não existe necessidade de fatores externos para que a cura
seja alcançada, mas apenas a mudança dos sentimentos internos para a confiança em Deus.

Não existe a necessidade de médicos, médiuns, padres, pastores ou qualquer outro tipo de
intermediário entre o ser humano doente e Deus para que a cura seja alcançada. Esse processo
se dá dentro do interior de cada um com a promoção da reforma dos sentimentos e com a
confiança que Deus dará a cura.

Para se curar de um mal não existe necessidade de novena, rezar terço, penitência,
energização ou qualquer outra atitude externa. Ela é alcançada quando o espírito pratica a lei de
Deus: amar a Deus, a si e aos outros. Este amor é o remédio eficaz para qualquer doença. Para
que isto se concretize, existe a necessidade da confiança e entrega total a Deus como Causa
Primária das Coisas.

O ser humano pode, pelo seu grau de evolução, necessitar de médiuns, de imagens ou
objetos para curar-se, mas para que se reforme totalmente, é preciso não creditar a esses
instrumentos a sua cura. Participar do universo é compreender que estes elementos são apenas
instrumentos da ação de Deus. Acreditando nas coisas materiais estará entregando a eles a causa
primária e, portanto, colocando-as no lugar de Deus.

As coisas materiais servem de canalização das ordenações divinas para que o espírito
possa escolher entre amar a Deus ou aos “instrumentos”. Na verdade, a utilização de coisas
materiais nos processo de curas torna-se mais uma prova para o espírito: encontrar Deus como
Causa do instrumento material da cura.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 46

Utilizando-se este mesmo raciocínio para o remédio, que é uma forma material igual à
estátua ou ao terço, a sua ingestão deve ser feita não esperando que ele faça o efeito, mas
acreditando que Deus agirá por ele para promover a cura. As formas materiais são percepções
para que o espírito possa praticar a sua fé.

Por analogia, podemos dizer também que não são os locais que podem promover a cura.
Não existe necessidade de se freqüentar centros, igrejas, templos para se alcançar à cura: em
qualquer lugar o espírito pode curar-se, desde que promova a sua reforma íntima com fé em Deus.

Desta forma, as promessas, novenas, lugares santos, águas milagrosas sozinhas de nada
fazem efeito sem a reforma e a fé, assim como o remédio, a operação ou os exames. Tudo isto e
mais os médicos, os médiuns, os padres, os pastores envolvidos são apenas instrumentos que
Deus utiliza para dar a quem “merece” o seu merecimento.

Com estes ensinamentos podemos então concluir que o espírito na carne pode receber
uma cura de mal físico, sem precisar ser religioso ou freqüentar algum local de culto: para tanto
basta viver com felicidade, na satisfação ou insatisfação, promover a felicidade de seus irmãos
através da aceitação das pessoas como são, criando, assim, uma igualdade entre todos.

Todas as pessoas que foram curadas pelo Mestre sempre receberam a informação de que
isto aconteceu por causa de sua fé e não pela interseção dele. Mesmo que Jesus não houvesse
vindo á matéria densa, elas seriam curadas, pois tinham o merecimento. O Mestre serviu apenas
de canalizador do desejo de Deus face ao merecimento individual.

 Doação do eu

Ai de vocês, professores da lei e fariseus hipócritas! Pois dão a Deus a décima


parte até mesmo do hortelão, da erva-doce e do cominho, mas deixam de
obedecer os ensinamentos mais importantes como a justiça, a bondade e a
obediência a Deus. Vocês deviam fazer essas coisas sem desprezar aquelas.
Vocês deviam fazer estas coisas, sem desprezar aquelas. Guias cegos! Coam
um mosquito, mas engolem um camelo.

Os seres humanizados oferecem a Deus até dez por cento de tudo o que é seu,
materialmente falando, mas são incapazes de entregar qualquer coisa que seja do seu próprio
íntimo, de seu interior. É isso que o Cristo está ensinando.

Os seres humanizados são até capazes de dizer, da boca para fora, que quem lhes deu a
casa foi Deus, mas são incapazes de dar um pequeno pedaço que seja da posse a Ele. São
capazes de dizer que „graças a Deus‟ possuem um carro, mas não dão nem a buzina para Ele.
Tudo é do ser humanizado...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 47

É isso que Cristo está ensinando: é hipocrisia dizer que graças a Deus comprou a casa,
mas depois achar que ela é sua. Sendo pela graça de Deus que ela foi comprada, a casa é de
Deus. Sendo graças a Deus que o ser humanizado está vivo, a vida dele é de Deus; sendo pela
graça do Senhor que o ser humanizado tem filho, ele é de Deus.

Mas, os seres humanos não são capazes de doar a Deus nada do seu interior, apesar de
da boca para fora dizerem que tudo o que têm e vivem é alcançado através da graça de Deus.
É por não doarem o que vai ao íntimo, a posse das coisas, que os seres humanizados julgam-se
capaz de comandar as coisas que são Dele. Querem comandar o destino das coisas materiais, das
pessoas que os cercam e mesmo dos inimigos.

Isso nos faz entender que o ser humanizado vive para Deus sem abrir mão do eu, sem
abrir mão de si mesmo. É por vivenciar os acontecimentos desta forma é que Cristo chama os
seres humanizados de hipócritas. Sim, viver desta forma é hipocrisia. Enquanto o ser humanizado
não abrir mão, doar a Deus, o seu interior não está vivendo para o Senhor.

Para que não seja preciso abrir mão do eu o ser humanizado é capaz de até engolir um
camelo, ou seja, é capaz de suportar todos os infortúnios da existência sem conscientizar-se que
esperar que a vida lhe traga felicidade depende de uma mudança interna: a doação do seu eu a
Deus.

Há quantos anos os mestres vêm ensinando que é preciso abrir mão do eu para poder se
tornar um com o Todo? Quantas vezes os seres humanizados já não leram ensinamentos que lhes
falasse deste caminho para a consciência crística? Fizeram alguma coisa neste sentido? Não, ao
contrário: usaram os ensinamentos dos mestres para fortalecer o eu, ou seja, para dizer que
conhecem verdades.

Estes mesmos seres humanos são aqueles que Cristo diz que são capazes de engolir
camelos, ou seja, vivenciam sofrimentos seguidamente, mas não mudam a sua forma de vivenciar
os acontecimentos. Preferem continuar vivenciando situações com sofrimento a abrir mão de suas
verdades, de seus conceitos, de seus padrões de certo e errado, bonito ou feio.

Preferem continuar brigando com quem brigam a muito tempo do que abrir mão do eu, da
razão; preferem continuar debatendo assuntos para provar que estão certos do que abrir mão do
eu, da idéia de estarem certos; preferem continuar sonhando em ganhar, conquistar, ter, do que
abrir mão do eu, viver com felicidade aquilo que têm. Os seres humanizados preferem continuar
absorvendo os sofrimentos, dizendo que ele é inerente ao ser humanizado, para não ter que abrir
mão do eu: das verdades, dos conceitos, das posses, das paixões e desejos.

Pior: ainda dizem que fazem isso por amor próprio, por amor a si. Acreditam que não
podem abrir mão do eu para poder ser alguém. Na verdade fazem isso não por amor a si, mas por
causa da natureza egoísta do ser humanizado. Fazem isso para poderem ganhar, para poderem
ter prazer, para serem reconhecidos e ganharem elogios.

Os seres humanizados não abrem mão do eu porque têm medo de perder, de serem
considerados bobos. Mas, quem foi o maior bobo da história? Cristo... Ele tinha tudo para ser o rei
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 48

dos reis, mas acabou pendurado numa cruz; tinha tudo para dominar a todos e a tudo, mas deixou-
se dominar por uma pequena quantidade de soldados.

Os seres humanizados dizem que querem alcançar a consciência crística, mas não fazem
o primeiro trabalho para isso: a doação do eu. Por isso não conseguem...

Imagine se um ser humanizado defensor do eu atingisse a consciência crística e tivesse


todo o poder que o mestre tinha? Imagine se esse ser humanizado conseguisse saber tudo o que a
outra pessoa estivesse pensando, que tivesse feito? Imagine se ele possuísse o poder de
persuasão que o mestre tinha? Será que este ser humanizado se entregaria à cruz ou construiria
um império para sentar no trono e reinar sobre os outros? Por isso Cristo ensina: louvado aqueles
que forem bobos, pois dele será o reino dos céus.

A maior prova de amor por si mesmo que o ser humanizado pode dar é honrar a
encarnação que está tendo.

Nenhum ser humanizado pensa porque está vivo naquele momento. Ele vive sem pensar
porque nasceu, porque Deus o mandou a este nível de consciência, porque acordou de manhã ou
porque inspirou e expirou oxigênio, o que lhe dá um novo momento de vida. Para que tudo isso
acontece? Para que o ser humanizado continua vivenciando esta existência? Já pensaram nisso?

Deus faz tudo isso para que o ser humanizado possa vivenciar as suas provas e através da
doação do eu unir-se a Deus (Todo) e assim vivenciar a consciência crística. Ou seja, fez o ser
humanizado começar a existir (nascer) e o mantém existindo para que, através do convívio com
outras pessoas, possa receber palavras e ações que ofendam suas verdades, conceitos, desejos e
paixões para que este ser compreenda que se mantiver-se apegado a estas coisas sofrerá. Ter
esta consciência a cada acontecimento da existência é honrar a encarnação.

Aliás, mesmo que o ser humanizado não se preocupe com a elevação espiritual, deveria
viver assim em agradecimento a Deus por tê-lo acordado nesta manhã ou tê-lo feito inspirar e
expirar oxigênio no último momento. Deveria doar o seu eu ao Pai mesmo que não busque
aproximar-se Dele, em louvor a Ele por ter mantido-o na carne enquanto muitos seres universais
esperam a sua oportunidade de encarnar.

Apesar de Deus fazer tudo isso pelo ser, o que ele faz com o dia? Vivencia-o apegado ao
eu buscando sempre solidificá-lo através da vitória sobre os demais. Pior: ainda diz que tem que
fazer isso justamente para ser feliz, por amor a si mesmo. Vivem assim porque os seres
humanizados não fazem a mínima idéia do que este proceder faz a ele mesmo... Mas, isto é
assunto para outra vez...

 Pais, mestres e líderes


Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 49

Vocês não devem ser chamados de mestres porque são irmãos uns dos outros
e têm somente um mestre. E aqui na Terra não chamem ninguém de pai,
porque vocês têm somente um pai que está no céu. Nem devem chamar
ninguém de líder, porque vocês têm um líder: o Messias. Dentre vocês o mais
importante é aquele que serve. Quem se engrandece será humilhado; quem se
humilha será engrandecido.

Não chamem ninguém de mestre, pois esta figura não existe. Cada ser humanizado é
irmão do outro e todos estão ligados a um mestre.

Este ensinamento à primeira vista é fácil de entender: não chame ninguém de mestre. Mas,
tem algo mais por trás disso: não queiram ser mestre de ninguém...

Não chame ninguém de mestre, mas não busque a posição de mestre para você. Isso faz
parte da consciência crística. Aliás, uma parte importante, pois o ser humanizado vive buscando
ser líder, ser mestre, ser o certo, aquele que sabe o que os outros têm que fazer.

O que pode ser considerado como reforma íntima é exatamente cada um buscar destruir
dento si as leis que lhe fazem buscar a posição de mestre, as leis que automaticamente levam o
ser humanizado a querer ser mestre dos outros. Não há como reformar mais nada. De nada
adianta, por exemplo, o ser humanizado querer ser humilde, pois enquanto ele acreditar em
determinadas leis irá quere ser mestre de alguém.

É preciso abrir mão da posição de mestre, de se julgar certo, de querer ditar normas para a
vida dos outros. Mas, para isso, é preciso antes de qualquer coisa, abrir mão de suas próprias
verdades que constituem o código de normas e leis que dão o valor de certo a atitudes humanas.

Uma vez me perguntaram que conselho daria para alguém que quisesse se suicidar. Eu
respondi: nenhum. A pessoa, então, me acusou dizendo que eu não tinha amor. Respondi: falta
de armo é a sua que quer acabar com a vontade do outro se matar, obrigá-lo a ficar vivo. Para que
vou obrigá-lo a ficar vivo?

Os seres humanizados acham que devem ajudar o outro no sentido de mantê-lo vivo, mas
quem disse que esta vida tem a importância que vocês humanizados dão a ela? Quem disse que,
espiritualmente falando, conseguir um emprego tem grande importância? Quem disse que para a
eternidade o fato de conseguir um diploma de doutro tem a mesma importância que se dá a este
fato no mundo material?

Eu já cansei de usar como exemplo a função de lixeiro. Disse por diversas vezes que se
não houvesse lixeiro todos se afundariam no lixo. Com esta visão chegamos a conclusão que a
figura do lixeiro é importante. Todos concordam com isso, mas querem este destino apenas para
os outros ou para o filho deles. Para ele e para os seus filhos este futuro é inglório. Mesmo que o
filho dele sonhe ou goste de ser lixeiro, o ser humanizado pai ou mãe vai sempre agir contra esta
intenção.

Por isso não tenho nenhum conselho a quem quer se suicidar. Querendo fazer que o faça.
A única coisa que alerto a quem quer seguir este caminho é que ele não morrerá.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 50

O mais importante não é saber do que „morreu‟ o ser humanizado, mas o que fez na sua
estada na matéria carnal. Neste aspecto, dar um tiro na cabeça ou querer ser mestre dos outros
leva ao mesmo destino: o desencarne sem morte. Apenas a reforma íntima (libertação das
verdades que norteiam a vida) pode garantir um futuro auspicioso depois do desencarne. Isso é o
que vocês ainda não compreenderam.

Quem acredita em reencarnação sabe que já teve muitas vidas. Em alguma delas, aquele
que hoje é homem, foi mulher, esteve casada com um homem e teve filhos. A esses pergunto:
como poderiam estar vivendo hoje a vida como homem se ainda acreditassem que ainda eram
mulheres, que eram casados com determinados homens, que um determinado ser humanizado é
seu filho? Como poderia estar na encarnação de hoje com a história de vida que possui agora?

Repare: o ser teve que destruir as verdades daquele personagem que viveu anteriormente
para assumir as do ser humanizado de hoje. Se isso é verdade, antes da próxima encarnação
aqueles que hoje vivem um personagem humano terão que destruir todas as verdades desta
encarnação. Isso é ponto pacífico: o ser universal não pode encarna de novo enquanto se imaginar
um determinado ser humanizado.

Outro ponto importante: não existe mágica naquilo que os seres humanizados chamam de
morte ou desencarne. Ou seja, não há um processo exterior que faça o ser universal deixar de
imaginar-se o humano que vive durante uma determinada encarnação. Da mesma forma que o ser
luta durante a encarnação para vencer suas verdades, depois do desencarne continuará lutando
para destruir as verdades do ser humanizado que vivenciava. Este processo persiste até que ele
retorne à sua consciência espiritual. Só aí o ser poderá retornar ao processo de encarnação.

Portanto, na vida ou fora dela, o ser terá que destruir as verdades. Só que quando o ser
está na vida (com corpo carnal), isso vale para a elevação espiritual. Depois do desencarne o
processo de libertação de suas verdades será obrigatório, mas não valerá para mais nada. Será
apenas um processo de depuração para voltar em outra vida, pois as provações acabaram.

Portanto, tanto na carne quanto fora dela, o ser que vivencia o processo de humanização
terá que libertar-se das verdades da personalidade humana. Acontece que durante o que é
chamado de vida conta ponto para a elevação espiritual; depois não.

Ou seja, um dia todos terão que libertarem-se de suas verdades: se fizerem isso durante a
vida ganham algo, se fizerem depois, de nada vale... Nem que seja por isso, façam agora...

Outro aspecto importante dentro do mesmo assunto.

O que é uma encarnação? Uma oportunidade para o ser realizar a reforma íntima. O ato de
encarnar apenas não garante que seja realizada a mudança do interior de cada um, ou seja, não
conta ponto para a elevação espiritual. O objetivo da encarnação (elevar-se) só será alcançado por
aqueles que promoverem a reforma íntima.

A partir destas afirmações pergunto: para que ficar discutindo se existe ou não
reencarnação? Para que querer ser mestre e provar que a reencarnação existe? Exatamente
porque querer mostrar que sabe, este ser estará perdendo a oportunidade da elevação.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 51

Outra coisa. Se a libertação das verdades é o objetivo da encarnação, numa delas o ser
terá que realizar este trabalho, certo? Se você está agora encarnado, porque esperar a próxima
para fazer? Faça hoje...

Para que ficar adiando o trabalho se algum dia ele terá que ser realizado? Numa das
encarnações este trabalho terá que ser realizado mesmo... Eu pessoalmente acho que quem adia
para a próxima encarnação este trabalho age como um idiota, pois é inevitável que se faça.

Para que deixar para outra? Na próxima encarnação o ser terá que nascer novamente, ter
as limitações de um bebê e de uma criança, vivenciar os problemas da juventude para só então
fazer o trabalho que pode ser realizado hoje.

Portanto, resolva logo. Faça agora... Para isso, pare de discutir se existe ou não
reencarnação. Se você acredita nisso e está vivo sabe que tem um trabalho a realizar. Realize-o
já...

É isso que estamos fazendo quando falamos em desmistificar os ensinamentos de Cristo.


Cada ser humano nasceu para morrer, mas aqueles que alcançam a consciência crística sabem
que é preciso matar o ser humano em vida e não esperar a morte física para aí então realizar
alguma coisa por sua existência eterna. Quando se mata o ser humanizado, ou seja, liberta-se das
verdades humanizadas da personalidade, acontece o renascimento.

Por isto este ensinamento de Cristo é muito importante.

Não chame ninguém de pai. O que é o pai? Aquele que lhe ampara, aquele que faz as
coisas para você... Se não é para dar a ninguém a figura de pai, Cristo está dizendo que não deve
se esperar amparo de ninguém, que não se deve esperar que os outros façam aquilo que
esperamos deles... Não espere que os outros vão abrir mão de suas intenções para satisfazer as
suas...

Não chame ninguém de mestre, ou seja, não deixe ninguém lhe dominar e não queira
dominar os outros... Não procure líderes, ou seja, aqueles que você seguirá, porque cada um tem
o seu próprio caminho. Trilhe o seu caminho... Esta é uma questão fundamental para quem quer
alcançar a consciência crística.

O caminho de cada um é individual. Não adianta o ser humanizado querer vencer as suas
verdades através do exemplo de outro. Isso porque as verdades de cada um são únicas e cada
uma delas cria exemplos diferentes. Não queiram impor suas verdades aos outros, pois cada um
tem seu próprio caminho.

Cada deve vivenciar a sua vida e não ficar babando em cima daqueles que se dizem
mestres. Se o mestre aceita a sua bajulação ele não é um mestre de verdade, pois todos aqueles
que alcançam a compreensão dos ensinamentos dos mestres sabem que cada um possui o seu
próprio caminho e que a experiência de vida não pode ser transmitida de um para o outro.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 52

Para se alcançar a consciência crística é preciso que haja a conscientização que cada um
tem que ser líder de si mesmo. Compreender que cada um tem a sua própria vida, que possui os
seus problemas individuais e que só ele pode resolver.

De nada adianta chorar nos ombros dos que se dizem mestres ou líderes, porque quem
tem que resolver seus problemas é você mesmo. Não estou chamando ninguém de menor, mas
cada um daqueles que se dizem mestres ou líderes vão lhe dar a solução que eles acham boa,
que eles adotariam, mas essa pode não ser a sua solução.

No máximo o que estes seres humanizados podem fazer é mandar um recado que pode
lhe auxiliar a pensar o seu próprio problema de uma forma diferente. Ou seja, eles podem lhe
ajudar a repensar, mas quem tem que tomar atitudes nos acontecimentos de sua vida é você
mesmo.

No início deste trabalho eu dava muitas consultas individuais. Falava com todas as
pessoas que me procuravam. Um dia parei de fazer isso. Por quê? Porque dava instruções para
agir sentimentalmente de uma forma numa determinada situação e quando vinham novas
situações com novos enredos e personagens, mas presas na mesma essência, a pessoa não
sabia como agir. Na verdade os seres humanizados querem um líder para que ela viva a vida deles
por eles. Agem assim porque não querem ter o trabalho de viver a sua própria vida.

Para que um ser humanizado cria um código normativo de certo e errado na sua vida?
Para não precisar pensar a cada acontecimento, para não precisar vivê-lo. Ele cria as verdades e
suas qualificações para que a cada acontecimento possa comparar o que está acontecendo a um
código de normas e ter uma realidade já pronta.

A cada acontecimento o ser humanizado não quer ter o trabalho de analisá-lo. Busca logo
em sua mente o código a que se refere aquele acontecimento e já tem, então, toda a conclusão
pronta. Quando encontra algo errado, por exemplo, o ser humanizado não se preocupa em
analisar o que aconteceu, mas apenas vive o conceito erro que já está pré-concebido em sua
mente para aquele acontecimento e critica.

É para isso que os ser humanizado cria os conceitos de certo e errado: para poder parar
de viver e aí só passar pela vida.

Portanto, não queiram ser mestres nem chamem alguém de mestre; não liderem nem
aceitem liderança alguma na sua vida; não transformem ninguém em pai, ou seja, não concedam a
paternidade para ninguém, nem queiram ser paterno com os outros

 Você está preparado para morrer?


Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 53

Jesus disse: — Naquele dia o Reino do Céu será como dez moças que
pegaram as suas lamparinas e saíram para se encontrar com o noivo. Cinco
eram sem juízo, e cinco ajuizadas. As moças sem juízo pegaram as suas
lamparinas, mas não arranjaram óleo de reserva. As outras levaram vasilhas
com óleo para as suas lamparinas. O noivo estava demorando e, então, a
cochilar, pegaram no sono. À meia-noite se ouviu este grito: ―O noivo está
chegando! Venham se encontrar com ele!‖ Então as dez moças acordaram e
acenderam as suas lamparinas. Aí as moças sem juízo disseram às outras:
―Dêem um pouco de óleo para nós, pois as nossas lamparinas estão se
apagando.‖ ―De jeito nenhum‖, responderam as moças ajuizadas. ―O óleo que
nós temos não dá para vocês e para nós. Se querem óleo, vão comprar!‖ Então
as moças sem juízo saíram para comprar óleo, e, enquanto estavam fora, o
noivo chegou. As cinco moças que estavam com as lamparinas prontas
entraram com ele para a festa do casamento, e a porta foi trancada. Mais tarde
as outras chegaram e começaram a gritar: ―Senhor, senhor, nos deixe entrar!‖ O
noivo respondeu: ―Eu não sei quem são vocês!‖. E Jesus terminou, dizendo: —
Portanto, fiquem vigiando porque vocês não sabem qual será o dia nem a hora.

Vamos entender primeiro os elementos dela para depois falarmos sobre o assunto de hoje.

Na Bíblia, Cristo é codificado como o noivo da humanidade, dos espíritos que habitam o
planeta Terra. Assim, cada ser humano é uma noiva de Cristo e está se preparando para o
casamento. Esse é o primeiro aspecto dessa historinha.

Outro aspecto: as noivas (os espíritos humanizados) ficam na escuridão esperando o


noivo. Mas, repare, não os noivos! Existe apenas um noivo para todas as noivas e ele é Cristo, o
amor.

Para estar vigilante é preciso ter luz. Algumas têm a luz e outras não. As que não têm, não
conseguem se unir ao noivo, não conseguem entrar no recinto do casamento, ou seja, no reino
espiritual.

De tudo isso podemos compreender o seguinte: os espíritos que estão vivendo no orbe
terrestre um dia casarão com Cristo, ou seja, alcançarão a elevação espiritual. Mas, enquanto
esperam por esse momento precisam se manter preparados para o encontro, pois não sabem qual
será o dia e a hora que irão casar, ou seja, o dia e a hora em que voltarão para o mundo espiritual.
Em outras palavras: o dia e a hora em que morrerão!

Esse é o tema da palestra de hoje e a pergunta que eu quero fazer inicialmente é a


seguinte: você está preparado para morrer? Será que você está pronto para abandonar a
encarnação e viver só no mundo espiritual?

Essa é a minha pergunta e o tema da conversa de hoje, que será realizada a partir da
parábola das dez moças esperando o casamento. Será que você esta pronto para morrer? Será
que dá para sair da carne nesse exato momento e ter luz suficiente para ingressar no recinto do
casamento?
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 54

Participante: Sócrates dizia que a filosofia era uma preparação para a morte.
Seria algo semelhante ao conhecimento espiritual? A Filosofia como um
instrumento de transformação da consciência?

Sim. A transformação da consciência é a preparação para a morte. Vamos falar sobre isso
com muita calma, pois estar preparado para a morte é saber se tem a consciência necessária para
desligar-se da Terra.

Por quê é preciso ter uma consciência específica para poder desligar-se da Terra?

Só para começar o assunto, morrer nada mais é do que isso: desligar-se da Terra, das
coisas mundanas. Morrer não é nada diferente disso. Quem morre apenas se desliga das coisas
mundanas.

É sobre isso que eu quero falar hoje: a transformação da consciência através da Filosofia,
da Espiritologia, do Espiritismo, da Psicologia, do Cristianismo é o caminho para preparar-se para a
morte.

Participante: E o que a gente faz depois da morte?

Depende...

Se você gosta de conviver com a sua família, vai ser isso que vai fazer depois que morrer.
Vai ficar preso aqui junto aos seus familiares. Se gosta do Tibete, vai morrer e ficar preso lá.

Preste atenção: a morte não é algo físico, mas uma transformação de consciência. Por isso
pergunto: será que você está vivendo para morrer? Esse é o ponto fundamental da vida para
aqueles que se dizem buscadores.

Você vai morrer um dia e a encarnação, a sua existência, é um preparatório para a morte.
Não há mais nada a se fazer na vida, a não ser se preparar para voltar ao reino do céu, para voltar
ao mundo espiritual.

É isso que precisa ficar bem claro, pois tudo que você faz durante a vida carnal não é real,
não existe. Tudo vale por um determinado tempo e só vale para você. Sendo assim, a vida
humana é relativa, não absoluta.

Acontece que alguma coisa para ser Real tem que ser absoluta. Por isso nada do que você
faz durante a vida interessa para a Realidade. Ou seja, se estuda, se casa, se tem filho, se planta
uma árvore... Nada disso interessa. O que vai interessar é se ao vivenciar essas coisas, está, ao
mesmo tempo, se preparando para morrer.

Ou seja, você vive hoje com a consciência de que vai morrer? Vive hoje com a consciência
de que a família que tanto preza vai acabar na morte? Vive hoje com a consciência de que o
prazer que busca tão enfaticamente não terá nenhum valor depois da morte? Quando torce pelo
seu time de futebol, vive com a consciência que vai morrer e ele vai continuar existindo?
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 55

A cada momento da sua vida, você vive com a consciência de que pode ser o último? Vive
preparado para esse retorno a pátria espiritual ou só vai se lembrar disso no momento da morte?
Ou será que só vai se lembrar que tem que voltar a viver como espírito depois do desencarne?

Essas são as primeiras perguntas que faço, pois, como disse, nós estamos lendo a Bíblia
para trazer o ensinamento de Cristo para a nossa vida. Trazer o ensinamento do Cristo é dizer:
você é uma das cinco noivas que têm o querosene de reserva para esperar o noivo ou é uma das
que vai esperar a hora do noivo chegar para saber que está sem luz?

Participante: E se eu não for preso a nada, o que vou fazer depois da morte?

Se você não for preso a nada material, depois da morte, vai viver o espiritual. Agora se for
preso ao material, vai morrer e vai continuar aqui, sem corpo, mas preso às coisas materiais.

Para responder a tudo o que perguntei antes, vamos começar falando da morte...

Um casamento ou uma faculdade, por exemplo, podem durar anos. Já o tempo de uma
viagem dura horas e o de um jogo de futebol minutos. Enfim, todos os acontecimentos da vida têm
uma extensão de tempo. Menos um: a morte.

A morte não dura meses, anos, minutos, horas. A morte acontece em uma micro fração de
tempo. Num momento você está vivo e no outro está morto.

Essa é outra consciência que é preciso ter! Você não pode e não deve contar com a
perspectiva de entrar num processo de morte porque não existe tal processo. A morte acontece
subitamente.

Você pode achar que vai sentir a morte chegando e que poderá correr para se preparar,
mas isso é ilusão! Mesmo os doentes que estão em fase terminal ainda acham que vão viver dias,
semanas ou meses, mas a morte não tem essa característica. Ela é igual ao machado que desce
de uma vez só.

Sendo assim, não dá para esperar... Não dá para deixar para se preparar para a morte
depois...

Durante o casamento você pode até relaxar porque se hoje fizer uma besteira terá tempo
para se recompor. Durante a escola pode relaxar porque se fizer uma besteira terá tempo para
mudar o que fez. Agora, na morte, não há volta. Não há como fazer o que não fez a não ser em
outra existência. Na morte, não há como dizer: 'eu fiz errado, dá licença, eu vou começar tudo de
novo'.

Viver é se preparar para morrer e compreender que ela vai acontecer de súbito. Por isso é
preciso que você esteja atento e vigilante como Cristo ensina. Mas você vive, completamente, ao
contrário.

A cada dia, a cada hora, a cada minuto programa mais coisas para fazer na Terra, como se
fosse eterno, imortal. Age como se o momento da morte pertencesse a todos, menos a você.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 56

Não se pode viver a vida desse jeito. Quem vive a vida desse jeito não consegue libertar-
se da Terra, não consegue casar com Cristo, não consegue sair do ciclo das encarnações.

É preciso que a cada minuto, a cada problema diga: 'e se esse for meu ultimo minuto,
estarei pronto para morrer agora? Estarei pronto para abandonar isso agora'?

Participante: Sabemos de alguma forma quando iremos morrer? Temos essa


consciência?

Racionalmente, não. O espírito sabe quando, pois isso lhe é revelado antes da
encarnação. Esta informação foi respondida pelo Espírito Verdade em O Livro dos Espíritos, mas,
racionalmente, você não sabe.

Participante: Em um centro espírita, minha mãe recebeu uma mensagem


dizendo que meu avô já estava esperando por ela e foi uma semana antes dela
morrer.

O Espírito pode ter uma noção, mas não sabe o dia ou a hora.

Cristo diz assim: 'o dia e a hora vai chegar, isso é certo; mas só Deus sabe quando será o
dia e à hora'. Por isso, nós, os espíritos desencarnados, podemos ter uma noção e receber uma
ordem de Deus para falar, mas não sabemos o dia e hora precisa.

Participante - Alguém consegue saber que desencarnou logo após a morte?

Perceba: você fala em saber que desencarnou, mas isso é um processo racional. Todo
processo racional é ego.

Sendo assim, o Ego pode criar a informação que você desencarnou, mas isso vai
acontecer quando merecer. Somente quando, por merecimento, tiver a condição de receber essa
informação, Deus vai permitir que a tenha.

Apesar disso, afirmo que noventa e nove por cento dos que desencarnam não sabem de
imediato. Eu costumo sempre dizer que o próprio irmão do Arjuna, que era seguidor fiel de Krishna,
teve que passar pelo Umbral, pelo menos por um minuto.

Respondia as perguntas, vamos, então, começar a conversar sobre essa preparação para,
a qualquer momento, estar pronto para libertar-se do mundo material. Como é que um ser se
liberta da Terra? Quando é que ele vai estar apto a se libertar da Terra? Quando passar a viver o
presente...

Ou seja, passar a viver o que se tem hoje e não o futuro. O futuro não existe e quem
projeta ou cria futuros está preso a Terra, está gerando tempo para estar na Terra ou, pelo menos,
uma previsão de tempo para estar.

Se você está pensando no que vai fazer amanhã, não está pronto para morrer. Isso porque
não sabe se vai estar vivo amanhã. E se desencarnar essa noite? Se isso acontecer, vai querer
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 57

viver o amanhã que projetou e não vai conseguir se desligar do mundo material, do mundo que
projetou para ter amanhã.

A vida foi feita não para viver amanhãs, mas sim o hoje. É por querer viver o amanhã que o
espírito humanizado torna a vida é completamente instável.

Hoje você sai à rua e não sabe se volta para casa. Mesmo tendo a consciência dessa
instabilidade, continua projetando futuros como se fosse normal sair de casa e voltar. Mas você
não sabe se voltará...

É essa consciência que denota uma preparação para a morte: 'estou saindo de casa; vou
voltar? Não sei... Não sei se vou voltar, não sei o que vai acontecer na rua, não sei o que poderá
suceder. Quando voltar, eu verei se voltei'

Preparar-se para a morte é isso: viver o que está vivendo neste momento sem se
preocupar com mais nada, sem projetar mais nada. Mas, você vive sempre preparando o dia de
amanhã, mesmo dizendo que sabe que ele pertence a Deus.

Quem vive projetado para o futuro não está preparado para morrer. Enquanto você disser
que hoje de noite, amanhã de manhã, na semana que vem, no mês que vem, no ano que vem vai
fazer isso e aquilo, saiba que deixou de se preparar para a morte. Quando ela vier, vai estar
comprando óleo para a sua lamparina e não vai casar com o Cristo, não vai entrar no recinto do
casamento.

Participante: Para se desligar da matéria, devemos fazer uma evolução na


consciência... É possível morrer e só depois fazer essa evolução na
consciência, nos desprendendo da matéria?

Não é pode: vai.

Se você não se desprender na carne agora, vai se desprender depois da morte. Isso
porque ninguém pode assumir uma nova encarnação enquanto estiver preso a uma anterior. Ou
seja, enquanto você achar que é o João, vai estar preso a essa encarnação e para vir em outra
vida como Maria, Josefina ou qualquer outro nome, terá que se libertar do João.

Porém, libertando-se durante a ligação com a matéria carnal, isso conta pontos para a sua
elevação espiritual. Depois que sai da carne, tal libertação não conta mais pontos para a evolução.

O Espírito Verdade diz: a evolução só se dá no mundo material. Fora dele existem os


intervalos entre encarnações para o espírito se preparar para uma nova encarnação. Por isso, o
libertar-se do João após a morte será parte do preparatório para uma nova encarnação e não uma
elevação espiritual.

Vamos continuar...

Outra coisa que lhe prende a matéria carnal, são os desejos carnais.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 58

Não estou falando em sexo; estou falando em desejar estar vivo, em desejar ganhar um
presente, em desejar ganhar na loteria, em desejar saúde para você, em desejar que a sua mulher
ou o seu marido o trate bem. Qualquer desejo baseado em elementos materiais lhe prende ao
mundo material. Você fica na dependência daquilo acontecer para ser feliz.

Quem se prepara para a morte não cria raízes na Terra, não se fixa na Terra, por isso não
deseja nada da Terra. Não deseja nem um prato de comida, nem uma casa para morar, nem um
carinho de quem quer que seja. Ele é auto-suficiente, tendo Deus no seu coração.

Esse é outro aspecto do preparatório para a morte...

Quem está com a sua lamparina acessa, com o seu querosene em ordem no momento em
que o noivo chega, não tem desejo algum. Se tivesse, a única coisa que desejaria é que o noivo
chegasse antes. Sabe por quê? Porque a noiva que quer que o noivo chegue logo, valoriza
positivamente o casamento, ou seja, a morte.

A morte, para quem está preparado para ela, é um momento de felicidade, é um momento
de ternura, é um momento de realização. Mas, o ego induz o espírito a acreditar que deve
permanecer vivo e que viver é bom e morrer é ruim. É por isso que você cria desejo em cima de
desejo e, pior que isso, nenhum desejo realizado lhe satisfaz.

Repare bem nisso! Você deseja uma coisa e, no momento que consegue o que deseja,
pode ter alguns momentos de satisfação, mas logo vem o ego e cria um novo desejo. Para quê?
Para lhe manter preso, para lhe manter enraizado na Terra e distraído quanto à perspectiva da
chegada do noivo.

Quem quer casar com Cristo vive atento e esperando, ansiosamente, a chegada do noivo.
Não estou falando em se matar, mas sim em viver para morrer, em transformar a morte no
coroamento de uma ação espiritual chamada encarnação.

O ego não deixa você se lembrar que é um espírito encarnado. Ele diz que é um ser
humano. Ele diz que é um elemento da Terra, mas você é um Espírito.

Para que a sua lamparina esteja acessa e você não tenha que voltar para buscar mais
querosene, é preciso não viver o futuro, não programar ou esperar futuro e também não acreditar
em desejos, sonhos, planejamentos, esperança...

Você diz que sonhar não custa nada, mas custa muito caro. Custa perder a hora do
casamento... É isso que custa sonhar, programar, viver a ilusão. Você não está errado se continuar
vivendo assim, mas se quer casar com o Cristo precisa reformar-se.

Essa reforma é a elevação espiritual, é a reforma da consciência: não ser mais um ser
humano e sim um espírito na carne. O espírito na carne é aquele que tem a consciência de que é
um espírito eterno. Esta consciência leva à morte do ser humano.

Muitos já foram os avisos dos espíritos desencarnados a este respeito. Aliás, este é o
significado do último segredo de Fátima: o fim da raça humana. Maria avisou que vai haver o fim
da existência de espíritos que se acreditam como humanos e se iniciará a geração dos espíritos
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 59

que sabem que eram antes de existir. Assim será a transformação da Terra, deixando de ser um
planeta de provas e expiações para se tornar de regeneração.

Mas, tem outra coisa que precisa ser alcançada para se libertar da Terra: não ter paixões...

Não ser apaixonado positiva ou negativamente por nada desse mundo. Não achar nada
certo e nem errado, bom ou mal. Não querer ganhar sempre ou ter medo de perder; não ter prazer
ou desprazer com alguma coisa; não desejar ter fama ou ter medo da infâmia; não querer elogios e
nem ter medo da crítica...

Quem nutre paixões terrestres capazes de gerar o bem e o mal, o prazer e a dor, a fama
ou a infâmia, o elogio ou a critica, está fincado na Terra e não tem como sair disso, pois toda a sua
vida depende dessas paixões. Quem passa o dia inteiro julgando o certo e o errado, que aquilo
deveria ser feito de outra forma, que aquilo não poderia estar acontecendo ou mesmo dizendo
gostei disso, não gostei daquilo, vai se enraizando, se enraizando, se enraizando...

São dessas paixões que surge o desejo: 'eu gosto daquilo', 'eu quero que aquilo aconteça'
e quando isto é aceito como real, você se prende à condicionalidade, à dualidade que só existe no
planeta Terra.

Quem se prepara para morrer luta contra essas paixões. Não se deixa levar pelas paixões
que o ego cria, não acha nada bonito ou feio, não acha nada certo ou errado...

Se preparar para morrer é abrir mão das paixões humanas. É abrir mão daquilo que você
gosta, daquilo que quer. Mas, também é abrir mão de não gostar de nada ou de não querer alguma
coisa. É soltar todas as amarras que lhe prende ao mundo carnal.

Quem não se solta, quem só acha bonito o que está fazendo ou o que acha certo, vive
preso ao desejo, vive amarrado a Terra...

É por isso que usei essa parábola para tocar neste assunto. Ela é perfeita...

Será que você está preparado para morrer? Será que não tem nada para fazer amanhã
para poder morrer hoje em paz? Será que não tem nenhum desejo pendente que lhe impeça de
morrer hoje em paz? Será que não tem alguma paixão que lhe impeça de morrer hoje em paz?

Porque você tiver o que fazer amanhã, se estiver esperando alguma coisa ou se tiver algo
que você não é capaz de abrir mão, sinto muito: você não está preparado para o casamento e não
vai conseguir entrar no ambiente do casamento.

Participante: Certo! Desligo-me de tudo, nada sei, nada desejo, nada possuo...
Eu consigo viver assim, mas como ficam os compromissos assumidos com a
família? E os filhos?

Que compromisso você assumiu com a sua família e filhos? De representar determinado
papel para que o ego dos filhos e da família viva determinadas provas? Esses atos vão acontecer.
Deus não vai deixar de dar a cada um o que necessita e merece.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 60

Agora, internamente, você tem que estar desligado de tudo. Eu não falei em se desligar
externamente. Eu falei em se desligar de desejos, de paixões, de planejamentos e não de atos.

Eu falei em não desejar um carro novo, mas não falei em não ter um carro novo. Eu não
falei em não ter uma casa nova, mas falei em não ser apaixonado pela casa que tem.

Porque você se preocupa com o que vai comer amanhã, se é Deus que dá comida aos
bichos, será que não vai dar a você? Este é um ensinamento de Cristo. Repare que ele não falou
que você não deve comer, mas disse que não deve se preocupar.

A preocupação é uma paixão: é o resultado do fato de estar apaixonado pela ideia de que
tem que dar o alimento para os seus. Se você acredita nisso, não está pronto para morrer. Sabe o
que vai acontecer se morrer agora? Vai dizer assim: 'e agora, meu Deus, minha mulher e meus
filhos, como vão ficar'? Ou seja, vai voltar para trás e perder o noivo.

Participante – Eu acho que as variações do mundo são boas porque provém de


Deus. Não importa se somos tristes ou alegres, mas saber que tudo é
passageiro e curtir cada momento sem esperar o próximo ou comparar ao
anterior.

Então o bom não é a variação do mundo, mas sim o estado de espírito com o qual você
vive a avaliação do mundo.

O que você chama de bom, eu chamo de Bem. Bem é tudo aquilo que provêm de Deus;
bom é uma parte do Bem que você acha boa... O Bem não é bom e nem mal: é apenas Bem. É
essa a diferença!

Agora, se você achar a tristeza boa, será masoquista. A tristeza não é boa é Bem, porque
bom é aquilo que você gosta e Bem é aquilo que não importa se gosta ou não, mas existe como
fruto do amor do Pai por seus filhos.

Por isso, além do planejamento do futuro, dos desejos, das paixões, você precisa se
desligar ainda das posses. São elas que criam as paixões e os desejos.

Deixe o mundo enterrar os mortos e venha comigo. Você já cumpre a lei, então abandone
todas as suas posses e me siga! Não foram essas as palavras do Cristo?

Só que, quando se fala em possuir, vocês pensam logo em objetos, em posse material, em
posse das coisas. Você precisa se libertar delas, é claro. Precisa se libertar do seu carro, da sua
casa e do seu emprego se quiser morrer em paz. Caso contrário, vai morrer preocupado com o que
seu filho vai fazer com a herança que deixar; vai morrer preocupado com o que seu filho ou a sua
mulher vai fazer com a casa que deixou...

Mas, você precisa libertar-se de outras posses também. Além da posse material, precisa
se libertar da posse sentimental: o meu filho, a minha mulher, o meu amigo, o meu inimigo...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 61

A ideia do 'meu' é uma posse. Quando o 'meu' é dirigido a outro ser humano, denota uma
posse sentimental. Se você não se libertar desse 'meu filho', não está pronto para morrer, para se
encontrar com o Cristo.

Se estiver preocupado com o 'seu filho', vai ficar aqui querendo tomar conta dele; se não
se libertar da 'sua esposa', vai morrer e ficar aqui tomando conta dela; se não se libertar do 'seu
inimigo', vai morrer e virar obsessor dele, pois estará preso a necessidade de se vingar.

Para se estar preparado para a morte, é necessário que você se liberte dos sentimentos
que lhe leva a possuir o próximo.

Estas são duas possessões das quais você precisa se libertar: a posse material, do objeto,
e a posse sentimental. Mas, existe uma terceira da qual também precisa se libertar. Trata-se da
posse moral que é reconhecida pelo 'eu sei'.

'Eu sei' o que vai acontecer depois da morte; 'eu sei' como é o mundo espiritual... Quem diz
isso não está preparado para morrer porque o ego não conhece a Realidade do Universo, mas
apenas cria ideias humanas sobre ela. Quem se prende a estas ideias não consegue saber o que
acontece do outro lado da vida.

Por isso, preparar-se para a morte não é buscar cultura: é libertar-se das culturas.
Aprender a morrer não é adquirir novas verdades que sejam mais ou menos espiritualizadas, mas
alcançar o 'eu não sei nada'. Só quando você não souber de nada, poderá aprender algo.

Cristo disse: louvado seja Deus que mostra ao simples, aquele que não sabe nada, o que
esconde dos sábios. Não que Deus queira esconder alguma coisa de alguém, mas porque Ele não
pode chegar a um sábio e ensinar porque o sábio 'sabe'.

Depois de me ouvir falar que você não deve programar futuro, que não deve prender-se a
desejos, que não deve apaixonar-se por nada nesse mundo, que não deve possuir as coisas desse
mundo, seja materiais, pessoas ou culturas, será que você está preparado para morrer? Não...

Mas, não pensem que acabou: até agora eu falei apenas de elementos do mundo humano.
Disse que você tem que doar o que quer, o que é apaixonado, o que você possui. Agora vou falar
algo muito mais importante que precisa ser feito: você tem que se libertar de você...

A última coisa que você precisa fazer para se preparar para morrer é deixar de ser quem é.
Tem que deixar de ser o José, a Maria, o Pedro... Enquanto for José, Maria ou Pedro, estará preso
na Terra. Isso porque o José, a Maria e o Pedro são da Terra e não espíritos. Quem não se liberta
do ego não se prepara para voltar a ser só um espírito.

Libertar-se do ego é a coisa mais importante, porque quem se liberta do ego acaba com o
egoísmo, o querer para si...

Todos os que se identificam com uma personalidade humana são egoístas. É dela que
surge a paixão, o desejo, o esperar o amanhã...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 2 página 62

Então, para se preparar para morrer você tem que vir realizando o despossuir dentro da
escala que conversamos hoje: libertando-se do planejamento, do futuro, do desejo, das paixões,
das posses... Mas, esta realização só será conseguida quando se libertar do José, da Maria, do
Pedro...

É por isso que eu deixei esta parte para o final, porque esse final é o início. Sabe por quê?
Porque o José, a Maria e o Pedro vão morrer na sua morte...

O José que você é hoje, essa personalidade transitória, vai morrer e quem se apega ao
José, quer prolongar a existência dele, um dia vai ficar sem saber o que fazer.

'Por que o José morreu! O José acabou e agora meu Deus? O José morreu, como é que
eu faço? Como é que eu vivo se o José está morto? Cadê a minha masculinidade, a minha
feminilidade, cadê ao meu corpo bonito ou feio'?

Esse é o ponto fundamental da vida: quem não se prepara para morrer não viveu; quem
não se prepara para morrer perdeu a encarnação...

Portanto, seja vigilante com o seu ego. Não o deixe planejar futuros, criar desejos, paixões,
posses e uma personalidade, pois você não sabe a hora do casamento, a hora que o noivo vai
chegar...

Não deixe para se preocupar com isso no momento da morte porque ela não lhe dá tempo
para se preocupar com ela. Para morrer, basta estar vivo. Ocupe-se o tempo inteiro em estar
preparado para o casamento, pois morrer sem ser para se casar com o Cristo não vale de nada.

Se isso acontecer, simplesmente será mais uma encarnação perdida e você terá que viver
outras até chegar o dia em que a noiva prometida terá que se casar com o Cristo. Sendo assim,
para que ficar adiando o casamento? Quem adia o casamento com Cristo está simplesmente
jogando o tempo fora, perdendo oportunidades de criar uma grande família, de viver uma relação
que satisfaz por si só.

Se você quer um conselho: passe a acordar de manhã e se veja se está preparado para
morrer naquele dia...

Outro conselho: se você trabalha na apometria, na umbanda, no centro espírita, na igreja


católica, na evangélica ou em qualquer segmento religioso e não ajudar o próximo a se preparar
para morrer, não fez nada. A única ajuda que pode dar a alguém que está vivo, no sentido de estar
ligado ao ego, preso à matéria, é o ensinar a morrer...

É isso que este preto-velho faz e é isso que o pastor, o padre e você devem fazer:
preparar-se para morrer e ensinar os outros a morrer, ensinar a estar preparadíssimo para o
casamento com Cristo.

Que a graça de Deus esteja com todos.

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