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CARTILHA “LAMMA”

DO PRODUTOR RURAL
Semeadura Mecanizada de Amendoim

Cristiano Zerbato
Carlos Eduardo Angeli Furlani
Rouverson Pereira da Silva
Adão Felipe dos Santos
Antônio Tassio Santana Ormond

1ª Edição

Jaboticabal – SP
Associação Brasileira de Engenharia Agrícola
2015
ISBN: 978-85-64681-09-5

C327 Cartilha “LAMMA” do produtor rural : semeadura


mecanizada de amendoim / Cristiano Zerbato ... [et
al.]. -- Jaboticabal : Sbea, 2015
37 p. : il.

Inclui bibliografia
1. Amendoim. 2. Mecanização agrícola. 3.
Semeadora. I. Zerbato, Cristiano. II. Furlani, Carlos
Eduardo Angeli. III. Silva, Rouverson Pereira da. IV.
Santos, Adão Felipe dos. V. Ormond, Antônio Tassio
Santana. VI. Título.

CDU 633.368
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação
– Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal
Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola

Grupo de Pesquisas de Máquinas e Mecanização Agrícola da UNESP

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Exemplares desta publicação podem ser solicitados junto ao LAMMA –


Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola (Via de Acesso Prof. Paulo
Donato Castellane, s/n - 14884-900 Jaboticabal, SP. Telefone: (16) 3209-7283.

As informações contidas neste documento somente poderão ser reproduzidas


mediante citação da fonte.
APRESENTAÇÃO

A Cartilha “LAMMA” do produtor rural: Semeadura


mecanizada de amendoim tem por objetivo apresentar aos
produtores e profissionais da agricultura, informações
coletadas pelos autores e alguns colaboradores, na semeadura
mecanizada do amendoim, com base em resultados obtidos
em uma série de experimentos técnicos e científicos,
realizados nos últimos três anos, sob a orientação do Prof. Dr.
Rouverson Pereira da Silva e do Prof. Dr. Carlos Eduardo
Angeli Furlani (UNESP – Jaboticabal).

Com esta cartilha esperamos contribuir para o


desenvolvimento nacional tecnológico da cultura do
amendoim, oferecendo aos produtores e profissionais da área
subsídios para a realização de ensaios que possam melhorar
cada vez mais a qualidade da semeadura mecanizada de
amendoim.

Boa leitura!

Os autores.
AUTORES

Cristiano Zerbato
Engenheiro Agrônomo, Dr.
Doutor em Agronomia (Ciência do Solo)
Univ. Estadual Paulista, Câmpus de Jaboticabal
cristianozerbato@hotmail.com

Carlos Eduardo Angeli Furlani


Engenheiro Agrônomo, Prof. Dr.
Livre-docente em Máquinas Agrícolas
Univ. Estadual Paulista, Câmpus de Jaboticabal
furlani@fcav.unesp.br

Rouverson Pereira da Silva


Engenheiro Agrícola, Prof. Dr.
Livre-docente em Máquinas Agrícolas
Univ. Estadual Paulista, Câmpus de Jaboticabal
rouverson@fcav.unesp.br

Adão Felipe dos Santos


Engenheiro Agrônomo
Mestrando em Agronomia (Produção Vegetal)
Univ. Estadual Paulista, Câmpus de Jaboticabal
adaofeliped@gmail.com

ANTONIO TASSIO SANTANA


ORMOND
Engenheiro Agrícola, M.Sc.
Doutorando em Agronomia (Ciência do Solo)
Univ.Estadual Paulista, Câmpus de Jaboticabal
tassiormond@gmail.com
OBJETIVOS

O objetivo desta cartilha é auxiliar o produtor de


amendoim nas tomadas de decisões para a realização da
semeadura de sua lavoura. Por meio dela o produtor poderá:

a) Decidir dentre os indicadores de semeadura existentes, os


mais adequados para sua propriedade;
b) Conhecer novas tecnologias e aplicá-las na implantação da
cultura;
c) Realizar amostragens da sua lavoura corretamente,
conhecendo os fatores que mais interferem na
produtividade final, e
d) A partir dos resultados encontrados, escolher a melhor
opção para realizar uma semeadura de qualidade,
visando alta produtividade com o mínimo de custos.

Figura 1. Objetivo da semeadura com qualidade: alta


produtividade e baixo custo.

1
1. PROBLEMAS E SOLUÇÕES
PARA A SEMEADURA

1.1. Tamanho da semente


O tamanho da semente é fator extremamente importante
para que se obtenha sucesso na implantação da cultura do
amendoim. A classificação das sementes de amendoim por
tamanho, após o processo de limpeza, tem sido atualmente
adotada por vários produtores na região de Jaboticabal-SP.
Apesar de não existir ainda uma comprovação definitiva por
parte da pesquisa das vantagens desta prática, ela tem sido
usada e propaganda pelos produtores de sementes.

Em várias espécies, a classificação de lotes de sementes


por tamanho pode afetar o vigor inicial das plantas e os
componentes agronômicos de produção. A variação no
tamanho de sementes pode ocorrer nos lotes de sementes de
uma mesma cultivar, o que está relacionado com o tamanho
das células cotiledonares e não com seu número.

A variabilidade em tamanho não afeta a composição


química das sementes de amendoim, em que sementes
maiores apresentam maior conteúdo de aminoácidos e

2
proteína, o que confere maior porcentagem de germinação às
mesmas. Em teoria, a germinação é um aspecto de qualidade
das sementes, e pode influenciar a produção da cultura por
meio de efeitos diretos e indiretos e, portanto, a semente de
amendoim deve possuir bom poder germinativo (80-85%),
sendo este poder analisado pelo seu vigor, o qual é observado
pela primeira contagem de germinação.

O trabalho a seguir mostra resultados de desempenho


agronômico com a utilização de dois tamanhos de sementes
de amendoim utilizadas na semeadura mecanizada (peneiras
21 e 23 mm). O estudo foi realizado na UNESP – Jaboticabal,
SP, em solo argiloso sob preparo convencional, em cultivar de
amendoim do tipo Runner (IAC 886), semeada com uma
semeadora pneumática e espaçamento entre linhas de 0,90 m,
sendo avaliados os parâmetros descritos abaixo.

a) Números de dias para a emergência (NDE): reflete a


quantidade de dias desde a semeadura até a estabilização do
estande inicial de plântulas.

Semente Peneira 23 Peneira 21


NDE 13 dias 14 dias
Fonte: Zerbato, 2013.

Verifica-se 1 dia de diferença entre os dois tamanhos de


semente utilizadas. Isso demonstra que a maior semente
possui maior vigor devido à maior quantidade de reservas e,
por isso, emergem mais rapidamente. A maior velocidade de

3
emergência proveniente das sementes vigorosas (de maior
tamanho) pode proporcionar ao dossel das plantas vantagens
no aproveitamento de água, luz e nutrientes. Assim emergem
mais rapidamente, iniciam o processo fotossintético mais
cedo, favorecendo o crescimento da parte aérea e do sistema
radicular, assim espera-se que sejam mais produtivas.

b) Emergência a campo
A emergência a campo foi obtida pela relação entre
estande inicial (plântulas emergidas) e a densidade de
semeadura utilizada. Com isso, obtemos resultado de quantas
sementes emergiram do total semeado.
Semente Peneira 23 Peneira 21
Emergência (%) 80 72
Fonte: Zerbato, 2013.

Observa-se diminuição de 8% de emergência com a


utilização da semente menor. Este fato demonstra que a maior
quantidade de reservas da semente de peneira 23 lhe confere
maior eficiência na germinação resultando em maior número
de plantas emergidas.

A defasagem de 8% de emergência de plântulas na


utilização da semente de peneira 21 demonstra que, já no
início do ciclo da cultura, tanto a população quanto a
homogeneidade do arranjo espacial de plantas são
prejudicadas.

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1.2. Densidade de semeadura / População de plantas
Para a obtenção de bons resultados de produtividade com
menor custo, o número de plantas por metro na linha de
semeadura deve ser adequado, pois a população de plantas é
um dos fatores que se destacam por afetar diretamente os
componentes de produção.

Não há no Brasil um consenso entre os produtores de qual


densidade de semeadura utilizar, entretanto, a maior parte
semeia uma grande quantidade de sementes, chegando-se a
25 sementes m-1. Os produtores relatam que a utilização de
tão alta densidade de semeadura seria para compensar falhas
no estande final de plantas, devido a fatores externos como a
ocorrência de chuvas e também, à qualidade fisiológica das
sementes.

Em geral, a produtividade cresce à medida que aumenta a


população de plantas, até chegar a um ponto em que a
competição por luz, nutrientes e água começa a limitar o
desenvolvimento das plantas. A competição intraespecífica
determina em cada cultivar de amendoim a população de
plantas que propicia maior rendimento e melhor
aproveitamento dos recursos disponíveis. Em populações
suficientemente baixas a produção por planta é máxima;
aumentando-se a população, a produção por planta decresce;
havendo, no entanto, aumento na produtividade, sendo que o
decréscimo individual é compensado pelo aumento no número
de indivíduos por área.

5
Os resultados mostrados a seguir possuem as mesmas
características do descrito anteriormente, sendo avaliados
neste, as densidades de semeadura de 10, 14 e 18
sementes m-1.

a) População de plantas: é a quantidade de plantas por


hectare para cada densidade de semeadura avaliada.

Sementes m-1 10 14 18
População de plantas 91.200 128.000 141.000
Fonte: Zerbato, 2013.

Nota-se que quanto maior a densidade de semeadura


maior o estande, porém observa-se que mesmo possuindo
diferenças, a densidade de semeadura de 14 sementes m -1
apresentou a quantidade de plantas por hectare mais próxima
da densidade de semeadura de 18 sementes m-1 (diferença de
apenas 13.000 plantas) em comparação à de 10 sementes m-
1 (diferença de 36.800 plantas).

Este fato pode ter ocorrido devido ao menor espaçamento


entre sementes na densidade de semeadura de 18 sementes
m-1, que contribui para concorrência de água e nutrientes do
solo, chamada competição intraespecífica. Também podem ter
acontecido mais danos mecânicos nas sementes causados
pelo mecanismo dosador de sementes da semeadora, já que
a densidade maior exige maior rapidez do funcionamento do
mecanismo dosador no momento da semeadura, favorecendo

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o atrito entre as sementes e comprometendo sua qualidade
fisiológica.

Seguindo a recomendação de Godoy et al. (2014), que diz


que com uma população de 130.000 plantas ha-1 ótimas
produtividades podem ser conseguidas, a densidade de
semeadura de 14 sementes m-1 é a que mais se assemelha a
essa recomendação e por isso resulta em melhor desempenho
para este quesito.

b) Espaçamentos Normais: esta avaliação nos dá ideia da


homogeneidade da distribuição das plantas na área, sendo os
“espaçamentos normais” aqueles considerados corretos os
espaçamentos entre as plantas na linha de semeadura.

Sementes m-1 10 14 18
Espaçamentos Normais
66 70 58
(%)
Fonte: Zerbato, 2013.

Neste caso, o que não é espaçamento normal é porque é


falho. A densidade de 18 sementes m-1 apresentou menor
porcentagem de espaçamentos normais, ou seja, mais falhas,
sendo que a densidade de 14 sementes m-1 obteve melhores
resultados (12% e 4% melhor que a densidade de 18 e 10
sementes m-1, respectivamente).

Na maior densidade de semeadura (18 sementes m-1) o


disco dosador de sementes gira mais rapidamente,
dificultando a sucção das sementes nos furos do disco

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dosador. O que foi detectado é que o sistema de sucção
falhava por causa da velocidade de giro do disco e alguns furos
às vezes ficavam sem semente, causando as possíveis falhas.

Figura 2. Disco dosador pneumático da semeadora indicando a falta


de semente no furo, quando operado na densidade de semeadura de
18 sementes m-1.

Esses resultados mostram que a redução do espaçamento


entre sementes ocasionado pelo aumento da densidade
provoca perda na qualidade de distribuição do mecanismo
dosador.

c) Produtividade de vagens
Dentre as operações mecanizadas, a qualidade da
semeadura de uma cultura é importante para garantir um

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estande de plantas adequado, e consequentemente, o sucesso
da implantação da cultura e uma produtividade adequada.

É esperado que todo o desempenho na semeadura


mecanizada, aliado a correta condução da cultura e tratos
culturais, reflita em ganhos de produtividade.

A população de plantas é um dos fatores que mais afetam


a produtividade, por exercer influência direta nos
componentes da produção, assim, o arranjo espacial de
plantas também deve influenciar significativamente o
comportamento dessas variáveis, uma vez que é fator
determinante da densidade populacional.
Sementes m-1 10 14 18
Produtividade (kg ha-
1) 4.300 5.080 5.300
Fonte: Zerbato, 2013.

Verifica-se baixa produtividade quando utilizado 10


sementes m-1, com diferenças de 1.000 e 780 kg ha-1
comparado às densidades de 18 e 14 sementes m-1,
respectivamente. Isto indica que esta densidade de
semeadura não refletiu em uma população de plantas
necessária para se obter boas produtividades.

Comparando-se agora as densidades de 14 e 18 sementes


m-1, observa-se diferença de apenas 220 kg ha-1, entretanto
quando analisada estatisticamente, por um teste de médias,
tais médias obtidas não diferenciam entre si.

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Na densidade de 18 sementes m-1 a população de plantas
é acrescida podendo, portanto, ter ocorrido competição por
espaço, água e nutrientes do solo. Sendo assim, na densidade
de semeadura de 14 sementes m-1, com população de plantas
intermediária, houve efeito compensatório de produção por
planta, alcançando no montante final de produtividade
semelhante com a densidade de semeadura de 18 sementes
m-1.

Estes resultados concordam com estudos realizados por


outros pesquisadores:

- Balkcom et al. (2010) verificaram que uma densidade de


semeadura de pelo menos 13 sementes m -1 é recomendada
para reduzir as perdas de produtividade associadas com
populações de plantas de amendoim e também a ataque de
doenças.

- Bellettini e Endo (2001) relataram que a densidade de 15


sementes m-1 apresentou maior produtividade em relação à
densidades de 10, 20 e 25 sementes m-1.

- Nakagawa et al. (2000), constataram que houve


aumento da produtividade com os aumentos da densidade de
plantas, todavia com 14 plantas m-1, obteve-se valor
estatisticamente semelhante a 26 plantas m-1.

Estes resultados evidenciam que a busca de novas


alternativas de cultivo, com a utilização de novos arranjos
espaciais, se faz necessário, uma vez que, pode não ser
economicamente viável para o produtor de amendoim semear

10
convencionalmente com altas densidades de semeadura, já
que com menores densidades alcançam-se desempenhos
semelhantes, obtendo-se menores gastos com sementes.

1.3. Classes texturais e teor de água do solo


O solo é um fator que interfere de forma direta na
população de plantas, pois o mesmo fornece o ambiente
necessário para o crescimento da planta principalmente na
fase de germinação.

A classe de solo recomendada para o cultivo de amendoim


é a arenosa (GODOY et al., 2014) devido às melhores
condições proporcionadas para o desenvolvimento das vagens
em subsuperfície, porém o comportamento do solo está
diretamente atrelado ao teor de água do mesmo.

Os resultados mostrados a seguir foram fruto de um


experimento realizado em área agrícola dos municípios de
Tupã (solo arenoso), Dobrada (solo médio) e Luzitânia (solo
argiloso), estado de São Paulo, solo preparado pelo método
convencional, cultivar de amendoim do tipo Runner
(Granoleico), semeada com uma semeadora pneumática e
espaçamento entre linhas de 0,90 m e densidade de
semeadura de 20 sementes m-1.

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Areia Areia Classe
Argila Silte
fina grossa textural
Áreas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . g kg-1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
..

Tupã 76 35 561 328 Arenosa


Dobrada 153 43 348 456 Média
Luzitânia 497 126 222 155 Argilosa

No momento da semeadura os solos apresentavam teor de


água médio de:

- Arenoso: 10,7%
- Médio: 13,3%
- Argiloso: 24,7%

a) Espaçamentos Normais
É importante ressaltar que esta variável é mensurada entre
as plântulas emergidas e que as condições do ambiente para
a emergência influenciam diretamente o resultado desta
variável, ou seja, as alterações no ambiente onde as sementes
são depositadas podem prejudicar ou favorecer a emergência
das plântulas de amendoim.
Solos Arenoso Médio Argiloso
Espaçamentos Normais
51 44 48
(%)
Fonte: Zerbato, 2015.

O solo Médio apresentou o mais baixo valor de


espaçamentos normais. Verifica-se que o teor de água do solo

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no momento da semeadura estava baixo (13,25%) para este
tipo de solo. Por este motivo a emergência de plântulas pode
ter sido afetada resultando na menor média de espaçamentos
normais.

A diferença do desempenho qualitativo entre os solos


Arenoso e Argiloso está na classe textural de solo e nas
condições do solo na semeadura. Com nível adequado de
fertilidade, os solos de textura leve (arenosos) e bem drenados
são os preferíveis para o seu cultivo, pelo motivo de produzir
as vagens abaixo da superfície do solo, porém o amendoim
pode ser cultivado também em solos com até 20% de argila
(GODOY et al., 2014).

Verifica-se no presente trabalho que mesmo com um teor


de água baixo (10,65%) o solo Arenoso permitiu boa
emergência das plântulas pós-semeadura. Em solos argilosos
a emergência é dificultada pela sua estrutura mais firme,
porém, o preparo de solo correto juntamente com o teor de
água adequado ocorrido para a realização da semeadura neste
solo (24,65%), fez com que a emergência de plântulas se
assemelhasse ao solo Arenoso permitindo bom desempenho
com relação aos espaçamentos normais.

b) População de plantas: referente à quantidade de plantas


emergidas por hectare depois da estabilização da emergência.

Solos Arenoso Médio Argiloso


População de plantas 129.200 125.900 130.200
Fonte: Zerbato, 2015.

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O solo Médio demonstrou o menor valor com relação ao
estande inicial de plântulas. A mais baixa qualidade desta
classe textural de solo com relação à espaçamentos normais
influenciou negativamente no resultado desta variável, por
motivos já explicados anteriormente (baixo teor de água do
solo).

Seguindo a ideia do ocorrido para “espaçamentos


normais”, os solos Arenoso e Argiloso apresentaram população
de plantas semelhante com a diferença de 1000 plantas por
hectare a mais para o solo Argiloso. Porém, os dois solos
apresentam resultados satisfatórios considerando o valor de
130.000 plantas por hectare recomendado por Godoy et al.
(2014).

c) Produtividade de vagens
Vale ressaltar que a qualidade da semeadura aliado às
condições que cada tipo de solo se encontra no momento da
semeadura são primordiais para se obter uma população de
plantas adequada para se alcançar altas produtividades,
porém esta também é reflexo de fatores bióticos (pragas e
doenças) e abióticos (precipitação de chuvas) que podem
ocorrer durante o ciclo da cultura e que interferem na
produtividade final. Portanto, é de extrema importância
realizar uma semeadura com qualidade aliada a condução e
tratos culturais necessários.

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Solos Arenoso Médio Argiloso
Produtividade (kg ha-1) 5.300 5090 5.500
Fonte: Zerbato, 2015.

Observa-se que os dois solos que tiveram a população de


plantas mais próxima do recomendado (solos Arenoso e
Argiloso) resultaram em produtividades mais altas do que o
solo Médio que apresentava a mais baixa população de
plantas.

Estes resultados nos indicam que mesmo o amendoim


semeado em solo de classe textural não recomendado (solo
com alto teor de argila), em condições boas de teor de água
juntamente com um preparo adequado, permite condições
satisfatórias para o crescimento e desenvolvimento das
plantas de amendoim, resultando em boas produtividades.

Portanto, é possível a implantação da cultura do amendoim


em solos com texturas diferentes, entretanto é de suma
importância que estes se encontram em condições ótimas de
preparo e teor de água, ressaltando que estas condições
mudam para cada tipo de solo.

1.4. Uso de piloto automático na semeadura


A vantagem dos sistemas de direcionamento automático é
a redução de erros entre as passadas pela substituição do
operador no direcionamento durante as operações
mecanizadas. A viabilidade desta tecnologia no processo de

15
semeadura está na capacidade de georreferenciar linhas de
semeadura e posteriormente, direcionar precisamente outras
operações, como exemplo a colheita.

A seguir são apresentados resultados com o uso do piloto


automático na semeadura do amendoim, em área agrícola do
município de Dobrada, solo de textura Média preparado pelo
método convencional, 0,90 m de espaçamento entre linhas.

Foi utilizado direcionamento automático do trator por meio


de piloto hidráulico com navegação via satélite
(posicionamento cinemático em tempo real, RTK). O sinal de
correção RTK foi enviado via rádio UHF, emitido por uma base
fixa instalada numa torre. O receptor utilizado na estação base
foi da marca Topcon, modelo System 150. No trator utilizou-
se receptor também da marca Topcon, modelo AGI-3
conectado ao monitor GX-45.

Figura 3. Conjunto trator-semeadora com piloto automático.

O projeto das linhas semeadura foi confeccionado


utilizando-se o software Auto-CAD R14. Esse projeto foi
realizado a partir da área útil de trabalho da semeadora, com
as linhas do direcionamento automático espaçadas 3,60 m

16
(pois cada passada possui 4 fileiras de semeadura de 0,90 m
de espaçamento), conforme modelo:

Fileiras de semeadura previstas

Linha projetada para a semeadura

Paralelismo
O paralelismo é o espaçamento entre as passadas do
conjunto trator-semeadora, que no nosso caso, possuía 4
linhas de semeadura.
Tratamentos Com Piloto Sem Piloto
Paralelismo (cm) 90,6 100,1
Fonte: Zerbato, 2015.
Quando se utilizou do direcionamento manual realizado
pelo operador observa-se um aumento de 9,44 cm em média
no espaçamento comparado ao direcionamento por piloto
automático, o que significa que além de o espaçamento estar

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incorreto ainda há diminuição da área semeada quando
operado manualmente. Observa-se também, que em alguns
pontos o espaçamento é inferior ao desejado, podendo refletir,
neste caso, em competição entre as plantas.

Sendo o espaçamento ideal de 90 cm e considerando a


área útil da semeadora de 3,6 m (4 linhas), verifica-se um erro
médio de 0,61 cm quando direcionado via piloto automático e
10,05 cm quando operado manualmente. Transformando os
resultados em valores econômicos tem-se:

Tratamentos Com Piloto Sem Piloto


Paralelismo (cm) 90,6 100,1
Metros lineares 11037,5 9990,0
Diferença 9,5 %
Produtividade média 240 sc ha-1
Com piloto (+9,5%) Acréscimo de 22,8 sc ha-1
Preço amendoim 30 R$ sc-1 de 25 kg
Renda extra aproximada R$ 685,00 ha-1
Fonte: Zerbato et al., 2014.

Com o melhor alinhamento das passadas do conjunto


trator-semeadora, considerando que todo o aproveitamento
da área será convertido em produtividade, tem-se um ganho
considerável.

2. Metodologia para amostragem

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A amostragem das áreas deve ser mais criteriosa do que
comumente verificamos, em geral, nas propriedades. Se
errarmos na coleta dos dados estaremos errando nos
resultados obtidos e assim tomando decisões equivocadas
podendo trazer problemas futuros da lavoura.

Vale ressaltar que quanto maior o número de amostras,


maior será a confiabilidade nos resultados, ou seja, se
coletarmos somente uma amostra em um talhão,
potencialmente a probabilidade de estarmos errando é alta.

Por isso recomenda-se uma amostragem a cada 50 m, o


que refletiria em 4 amostras por hectare, sendo dependente
do tamanho do talhão. Em talhões maiores, e dependendo da
disponibilidade do produtor em amostra-los, pode-se reduzir o
número de amostras.

a) Número de dias para a emergência: a avaliação do número


médio de dias para emergência de plântulas de amendoim é
feita por meio de contagens diárias desde a primeira plântula
emergida até a estabilização da contagem, em dois metros de
cada fileira na parcela. Com os números da contagem aplica-
se a seguinte fórmula:

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[(𝑁1𝑥𝐺1) + (𝑁2𝑥𝐺2) + ⋯ + (𝑁𝑛𝑥𝐺𝑛)]
𝑁𝐷𝐸 =
(𝐺1 + 𝐺2 + ⋯ + 𝐺𝑛)

Em que:

NDE = Número médio de dias para emergência das plântulas


de amendoim;
N1 = Número de dias decorridos entre a semeadura e a
primeira contagem de plântulas;
G1 = Número de plântulas emergidas na primeira contagem;
N2 = Número de dias decorridos entre a semeadura e a
segunda contagem;
G2 = Número de plântulas emergidas entre a primeira e a
segunda contagem;
Nn = Número de dias decorridos entre a semeadura e a última
contagem de plântulas;
Gn = Número de plântulas emergidas entre a penúltima e
última contagem.

Figura 4. Contagem diárias das plantas no mesmo local em 2 metros.

b) População de plântulas: é considerada como população


inicial o número de plântulas resultante no último dia da
avaliação do número médio de dias para emergência, após a
estabilização da emergência das plântulas, sendo os valores

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convertidos em plantas por hectare, segundo a fórmula
(considerando o espaçamento entre linhas de 0,90 m):
𝐶𝑓 𝑥 11.111
𝑃𝑝 =
𝑚
Em que:
Pp = População de plantas;
Cf = Contagem de plantas após estabilização da emergência;
m = Número de metros amostrados (2 m segundo
recomendação).

c) Emergência a campo: obtida pela relação entre População


inicial (Pp) e estande teórico, sendo este último calculado
levando-se em consideração as densidades de semeadura
utilizadas e o espaçamento de 0,90 m entre linhas:
𝑆𝑚 ∗ 11.111
𝐸𝑐 =
𝑃𝑝

Em que:
Ec = Emergência a campo;
Sm = Número de sementes por metro;
Pp = População de plantas.

d) Espaçamentos Normais: são determinados mediante a


mensuração da distância entre todas as plântulas existentes
em 3 metros, em cada fileira de semeadura, sendo o
espaçamento entre plântulas medido com régua graduada.

21
Considerando um espaçamento de referência teórico entre
as plântulas, calculado com base no número de sementes por
metro, os espaçamentos medidos a campo que estiverem
entre 0,50 a 1,5 vezes o espaçamento de referência teórico
são considerados como normais:

100 (𝑐𝑚) 100 (𝑐𝑚)


d1) 𝑥 0,5 d2) 𝑥 1,5
𝑆𝑚 𝑆𝑚

Os espaçamentos medidos a campo que estiverem entre


os valores encontrados em d1 e d2 são considerados normais.

Figura 5. Mensuração dos espaçamentos entre as plântulas.

e) Produtividade: determinada por meio do arranquio de todas


as plantas de amendoim contidas na área de uma armação de
2 m2 (1,80 x 1,11 m), coletando-se em seguida as vagens que

22
ficaram sobre e sob o solo, até a profundidade aproximada de
0,15 m, colocando-as, após o peneiramento, em sacos de
papel para posterior pesagem para obtenção da
produtividade. O teor de água de todas as amostras é corrigido
para 8% (teor de água de armazenamento do amendoim), e
posteriormente esses valores foram convertidos para kg ha-1.
𝑀𝑖
𝑀𝑓 = 100 − 𝑇𝐴 𝑥 ( )
100 − 𝑇𝑎𝑝

Em que:
Mf = massa final que corresponde ao peso da amostra com
teor de água à 8% (kg);
TA = teor de água da amostra coletada (%);
Tap = teor de água de armazenamento do amendoim (8%);
Mi = massa inicial que corresponde ao peso da amostra
coletada (kg).

f) Paralelismo
O paralelismo entre as passadas do conjunto trator-
semeadora é avaliado medindo-se o espaçamento entre elas,
com ajuda de uma régua com resolução em centímetros.

23
e

e: espaçamento entre passadas da semeadora

Figura 6. Mensuração da distância entre as passadas da semeadora.

Os valores encontrados são comparados ao espaçamento


entre linhas desejado (0,90 m).

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3. Considerações finais

Existem vários fatores que acarretam falhas na


semeadura. Devido a estes fatores ocorrerem durante o
processo de semeadura, potencialmente acontece muita
variabilidade advinda das condições meteorológicas, da
condição do solo, dos sistemas mecanizados e dos índices de
qualidade de operações agrícolas.

Para a manutenção da qualidade das operações se torna


essencial o monitoramento do processo, detecção de
eventuais ações de causas especiais e, por fim, para criar um
plano de melhorias para eliminar a influência de ações
externas ao processo.

Os resultados e metodologias aqui apresentados tem a


finalidade de auxiliar a tomada de decisão à campo, afim de
que consiga adequar a semeadura para as condições
encontradas na propriedade, conseguir melhorias na
qualidade da operação, visando o sucesso da implantação da
cultura.

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4. Referências

GODOY, I. J.; BOLONHEZI, D.; MICHELOTTO, M. D.; FINOTO,


E. L.; KASAI, F. S.; FREITAS, R. S. Amendoim, Arachis
hypogaea L. In: Aguiar, A. T. E.; Gonçalves, C.; Paterniani, M.
E. A. G. Z.; Tucci, M. L. S.; Castro, C. E. F. Boletim IAC 200:
Instruções agrícolas para as principais culturas
econômicas. 7.ª Ed. rev. e atual. Campinas: Instituto
Agronômico, 2014, p. 22-27.
ZERBATO, C. Desempenho de máquinas para a
semeadura e o arranquio mecanizado na cultura do
amendoim em Latossolo vermelho. Dissertação
(Mestrado em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, p.
86. 2013.
ZERBATO, C.; FURLANI, C.E.A.; VOLTARELLI, M.A.;
COMPAGNON, A.M.; HOLANDA, H.V. Indicadores técnico-
econômicos na semeadura e arranquio mecanizados com uso
do piloto automático. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
AGRICULTURA DE PRECISÃO- CONBAP 2014, São Pedro.
Anais... CONBAP 2014, 2014.
ZERBATO, C. Qualidade da semeadura e do arranquio
mecanizado do amendoim. Tese (Doutorado em
Agronomia) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, p. 98. 2015.

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ANOTAÇÕES

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