Você está na página 1de 8

PERDAS DE MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:

ALGUMAS MEDIDAS QUE FAZEM A DIFERENÇA NAS


OBRAS DO NORDESTE

maria de fátima resende


escola politécnica da universidade de pernambuco
rua benfica, madalena, recife-pe, fone: (081) 445-3855, e-mail: fresende@free.elogica.com.br

ana cristina taigy


universidade federal da paraiba
rua monteiro lobato, n.746, tambaú, joão pessoa-pb, fone: (083) 226-7264, e-mail:
taigy@equipenet.com.br

virgínia lúcia gouveia e silva


centro federal de ensino tecnológico – cefet/pe
av. professor luis freire, 500, cidade universitária, recife-pe, fone: (081) 453.3833

ABSTRACT

The civil construction sub-section is looking for alternatives to reduce the wastes in
materials and components used in its production. Inside of this focus, the present work
seeks to analyse the causes of identified loses in the stonemasons of works researched in
Paraíba and Pernambuco States in what it refers to the structure services of armed
concrete.
It seeks to adjust such loses in the classification adopted by groups of similar research that
act in the south area of the country and, to show that small measures in the procedures or
execution technology provoke significant improvements in the level of loses.

Área de Concentração: Gerência de Produção


Words - keys: loses in the civil construction; sub-section of constructions; quality
indicators

1.INTRODUÇÃO

A racionalização do uso de materiais e componentes em obras de construção de edifícios


tem sido motivo de estudos e pesquisas, além de permanente discussão desde há muito
tempo neste segmento industrial. O conhecimento da situação vigente e a proposta de
alternativas para melhorar o desempenho do setor quanto ao eventual desperdício existente,
torna-se uma necessidade no cenário atual frente a acirrada competição entre as empresas e
a crescente exigência por parte dos consumidores de obras de edifícios.

Nesta linha situa-se o projeto “Alternativas para a Redução do Desperdício de Materiais nos
Canteiros de Obras” que visa obter informações consistentes sobre o assunto e subsidiar
políticas de melhoria contínua do setor. Para alcançar tal fim, elaborou-se uma metodologia
para coleta e avaliação das informações sobre o consumo de materiais e componentes em
obra, a qual vem sofrendo um processo constante de aperfeiçoamento contínuo ao longo de
sua aplicação.

Como instrumento de trabalho a pesquisa contou com formulários de campo, distribuídos


em 6 séries , com os seguintes objetivos específicos: I. coletar dados relativos à empresa e
à obra; II Medição de estoques de materiais; III. medição dos serviços executados; IV.
Controle de recebimento e estoque de materiais; V. Coletar dados qualitativos relativos aos
materiais; VI. Coletar dados relativos aos serviços; e por fim, com formulários para cálculo
dos indicadores globais e parciais de materiais.

A aplicação da aludida metodologia deu-se inicialmente por um grupo de 7 universidades


(Universidade de São Paulo- USP; Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS;
Universidade Federal de Santa Maria- UFSM; Universidade Federal de São Carlos-
UFSCar; Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG; Universidade Federal do Ceará-
UFC; Universidade Estadual de Feira de Santana- UEFS); Universidade de Fortaleza-
UNIFOR; Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal do Espírito Santo- UFES,
compondo ao todo 50 canteiros de obras. Em seguida um novo grupo de Universidades do
Nordeste e Norte do Brasil (Universidade Federal da Paraíba; Universidade Estadual do
Maranhão; Universidade Federal do Piauí; Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
Universidade de Pernambuco; Universidade Federal de Sergipe), com o apoio do Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, foi treinado para aplicação da metodologia
desenvolvida e participa com 30 canteiros de obras.

O objetivo desse artigo é apresentar a análise qualitativa das perdas identificadas nos
canteiros de obras pesquisadas nos Estados da Paraíba e Pernambuco no que se refere aos
serviços de estrutura de concreto armado. Procura-se enquadrar tais perdas na classificação
adotada pelo grupo de pesquisa do Rio Grande do Sul e mostrar que pequenas medidas nos
procedimentos ou tecnologia de execução provocam melhorias significativas no nível de
perdas. Por fim, faz-se algumas considerações como contribuição para a melhoria da
qualidade e produtividade do setor, relacionado a minimização de perdas.

As ações voltadas para o controle de perdas na construção civil estão inseridas em um


programa de maior complexidade que consiste no Sub-Programa Qualidade e Produtividade
na Construção Civil. Considera-se como conceito da produtividade a relação entre a saída
(a medição da produção) e um dos fatores de produção (materiais, mão-de-obra ou
tecnologia). Entende-se que a produtividade global se subdivide em produtividade do
trabalho e de materiais. Por sua vez, a produtividade de material é entendida como a
quantidade produzida de determinado produto por quantidade de material empregado,
sendo, consequentemente, um instrumento de avaliação do nível de perdas de materiais.
Este estudo limita-se a avaliação desta produtividade, logo não contempla a produtividade
alusiva ao trabalho.

Neste contexto, conforme a metodologia desenvolvida para a pesquisa, perdas consistem na


variação do valor projetado do material ou componente estudado em relação ao
efetivamente utilizado na produção. A medição de perdas tanto pode ser pela expressão
matemática:
Perdas = (EI + Compras - transferencias - EF)/ projetado; onde EI= estoque inicial de
material; Ef = estoque final; como pela medição dos serviços executados em obra e
contabilizando a diferença entre o planejado e o executado.
2. ANÁLISE DAS PERDAS OBSERVADAS

A análise dos resultados, obtidos nas planilhas estruturadas para coleta de dados, seguiu a
ordem natural do processo de confecção dos componentes estruturais das obras
pesquisadas, quais sejam: materiais, equipamentos utilizados, dosagem, transporte e
lançamento, observando ainda questões relativas ao planejamento e organização da
produção, abrangendo aspectos tais como: logística, organização do posto de trabalho,
procedimentos de execução e controle e o processo de execução propriamente dito. Vale
salientar que foi atribuído um código para as nove obras pesquisadas, visando preservar o
sigilo das informações obtidas, assim tem-se: BR004, BR043, BR047, BR048, BR054,
BR062, BR074, BR081, BR088 e BR099.

2.1. Relativos aos materiais

AREIA

As obras pesquisadas utilizam areia média (2,4<MF<3,9) na produção dos componentes


estruturais e para os serviços de alvenaria, revestimento interno e externo, contrapiso e
estrutura de concreto armado. Observou-se que 80% das obras não possuem procedimentos
sistematizados de controle da quantidade no recebimento desse material, pois, não fazem
cubagem das caçambas, nem realizam controle tecnológico, logo o controle da qualidade
apresenta-se incipiente, o que contribuiu para causar perdas. A sonegação do material
entregue em quantidade inferior ao especificado também pode ser um dos fatores de perdas,
principalmente porque os pagamento aos fornecedores eram feitos com base na quantidade
de “carradas” e não pelo volume real entregue. Ressalta-se que o simples fato da
metodologia utilizada na pesquisa exigir a cubagem da areia, visando conferir a quantidade
recebida, contribuiu para que as empresas adotassem tal procedimento, intimidando os
fornecedores, que passaram a fazer entregas na quantidade especificada.
Verificou-se que é predefinido o local de estoque de areia em todas as obras pesquisadas,
contudo, em cerca de 80% delas, o local de estoque, apresenta as seguintes deficiências:
não há proteção contra chuvas e ventos, falta de um contrapiso de concreto, inexistência de
contenções laterais e separadores entre os materiais, causando, consequentemente, mistura
dos mesmos com o solo e materiais circunvizinhos, contribuindo para incrementar as
perdas.
Vale salientar que em uma das obras pesquisadas havia um agravante às perdas detectadas,
tratava-se do uso de estoque intermediário. A areia era estocada inicialmente na calçada de
um terreno vizinho, que servia como depósito, posteriormente era transportado para o local
de estoque definitivo, antes de ser empregado no serviço, ocasionando, perda adicional
devido ao duplo manuseio, gerando um índice de maior perda da ordem de 72,44%.
Em vista de fatos desta natureza, entre outros, as perdas do material areia apresentaram os
seguintes resultados: mediana de (29,86%), menor perda (14,00%) para a BR047,
exatamente a que detinha um controle sistemático de qualidade.

BRITA

Esses materiais correspondem as britas de números 1 e 2. No geral, os procedimentos de


recebimento foram os mesmos adotados para a areia, ou seja, sem qualquer tipo de controle
de recebimento, daí ter apresentado perdas da ordem de 11,6% como mediana, conforme
Tab.1.
CIMENTO PORTLAND

A maioria das obras pesquisadas, cerca de 60%, fazem uso do Cimento Portland Composto
com Pozolana (CP II-Z), 20% com cimento Portland composto com filler (CPII-F) e, no
caso da obra BR099 inclui-se o Cimento Portland Resistente a Sulfatos (CPII-Z RS). Em
todas as obras pesquisadas este material foi usado nos serviços de: estrutura de concreto,
revestimento interno e externo, contrapiso e alvenaria. Constatou-se que o controle da
qualidade do cimento é embrionário em todas as obras pesquisadas, ou seja, não se dispõe
de procedimentos sistematizados para o controle da quantidade no recebimento, limitando-
se a contagem dos sacos recebidos e rasgados. Além do que, não é realizada nenhum tipo
de verificação ou algum ensaio nas obras para aceitação do cimento, tais como: resistência à
compressão, finura e pega.
Quanto ao descarrego e armazenagem do cimento, contatou-se em todas as obras que
existe local de recebimento predefinido nos canteiros. Os sacos de cimento são retirados do
caminhão e transportados manualmente ou em carrinhos de mão convencionais, até o
depósito coberto e fechado, onde são estocados em pilhas de até 10 sacos, com
espaçamento lateral entre os sacos e as paredes. O acesso ao estoque é restrito, permitindo
um maior controle de saída dos materiais. Todas as obras utilizam estrados de madeira
como proteção à umidade do piso. O transporte do cimento para a betoneira é feito em
carrinho de mão convencional, ou seja, não utilizam carrinhos projetados especificamente
para esse fim.
É importante ressaltar que as obras que obtiveram menores perdas não só em relação ao
cimento, mas também correspondentes a areia e brita, foram as que adotaram sistemas
racionalizados de estruturas de concreto, no caso, uso de blocos em EPS e treliças pre-
fabricadas; bem como laje tipo cogumelo e premoldadas, nervuras com blocos pre-
moldados de concreto. Além disso, na obra BR088, onde se mediu a menor perda para a
cimento, da ordem de 0,9% da quantidade total de cimento tomado como referência, havia
um controle rigoroso de utilização dos sacos de cimento por idade, tal qual o sistema PEPS,
onde o primeiro que entra é o primeiro que sai.

AÇO EM VERGALHÕES

Com relação ao aço em vergalhões, verificou-se que não são feitos ensaios de controle de
recebimento, limitando-se apenas a observação dos aspectos quantitativos como bitolas e
quantidade, em metro linear, do material enviado à obra. Nenhuma das obras pesquisadas
realiza qualquer controle tecnológico e pesagem ou conferência das relações
peso/bitola/metragem, o que impediu a determinação da perda proveniente do
desbitolamento. O aço em bitola superior a 5.0 mm é comprado em vergalhões de 12m,
assim, como as obras pesquisadas não utilizam programas computacionais para
racionalização dos cortes, existe sempre sobra deste, sendo, conseqüentemente, o principal
responsável pelas perdas observadas, de valor mediano de 4,53%. A maior perda obtida foi
da ordem de 9,9%, decorrente da alteração na altura dos pavimentos em relação ao
projetado, ocorrida somente na fase de construção.
SERVIÇO MATERIAIS n. Obras PERDAS(%)
media Min. Max Mediana
Prod. de concreto Areia 04 36,54 14,00 72,4 29,86
Brita 04 10,28 2,34 16,9 11,60
Cimento 04 11,47 0,90 17,9 10,44
Lançam. de concreto Concreto usinado 06 4,63 0,00 11,8 4,20
prod. armadura aço em vergalhão 05 4,53 -3,80 9,9 4,65
TABELA 1: Perdas de materiais em estruturas de concreto armado

2.2- Relativo ao serviço: Produção de estrutura em concreto

Todas as obras pesquisadas utilizaram mão-de-obra própria para a produção de concreto na


obra, cuja forma de contratação foi por tarefa.

EQUIPAMENTOS/TRANSPORTE

Constatou-se que todas as obras pesquisadas utilizaram a decomposição de movimentos


para o transporte de materiais, ou seja, carrinhos-padiola, para o transporte da areia e brita
e para o concreto produzido em obra o carrinho de mão e/ou jerica e, como transporte
vertical utilizou-se o elevador de obra.
No ato da mistura foi utilizada a betoneira com carregador em todas as obras pesquisadas,
exceto na obra BR099 que, inicialmente, não a utilizava, adotando-a posteriormente. Aliás,
é interessante comentar que a mudança para betoneira com carregador reduziu
substancialmente os esforços do operador e as perdas de materiais, conforme as medições
realizadas e relato dos próprios trabalhadores.
Observou-se que, em cerca de 80% das obras, não se dispõe de um projeto de produção do
concreto no canteiro de obras, com exceção das obras BR047 e BR088, mas, mesmo
nestas, as baias de estoque de materiais não seguem uma concepção que permita o
aproveitamento da gravidade para alimentar o carregador da betoneira. Assim, há sempre
transporte de material do estoque até o equipamento de mistura(betoneira), sendo
necessário subir uma rampa com inclinação superior a 10% e sem proteção lateral de modo
a evitar a queda do operário ou do carrinho de transporte.
Os equipamentos de marcação, nivelamento e prumo ainda são os tradicionais, entre esses:
fio de nylon, trena, esquadro de metal, nível de mangueira, nível de bolha e prumo de
pedreiro, embora cerca de 40% das obras utilizarem o nível a laser.

PRODUÇÃO

Quanto a produção do concreto, atentou-se para a falta de acompanhamento, tanto no que


se refere a adoção do traço, sem uma definição prévia, quanto aos procedimentos de
dosagem e mistura, além de falta do controle da umidade da areia e quantidade de água de
amassamento. Apenas as obras BR043 e BR047 usam quadro visível e explicativo dos
traços a serem confeccionados, as demais dão recomendações verbais sobre os traços .
Contudo, há contrato com escritórios de controle tecnológico onde entregam relatórios
periódicos de ensaios de resistência à compressão e consistência do concreto.
No que se refere às condições para início do serviço, as obras pesquisadas vedam as juntas
entre os painéis da fôrma com as sobras de papel dos sacos de cimento, não sendo anotado
nenhum caso em que se usou fita adesiva; conferem as armaduras e molham as formas e
ferragens antes da concretagem. Apenas as obras BR043 e BR047 lançam, anteriormente à
concretagem, uma argamassa de cimento e areia, objetivando impregnar a fôrma e a
armadura. Nenhuma das obras pesquisadas possuía projeto de produção para lançamento do
concreto nas lajes, logo não se dispunha de painel de concretagem, nem sentido geral para
realização da mesma.
A concretagem dos pilares é feita em camadas, respeitando-se o comprimento da agulha do
vibrador, em 67% das obras pesquisadas. As demais obras não utilizam nenhum
procedimento de amortização da queda do concreto lançado(funis, mangueiras, aberturas de
janelas nos pilares, etc.). Além disso, notou-se, em um dos canteiros, um procedimento
totalmente improdutivo, visto que um operário, situado na laje, transfere o material com o
auxilio de uma pá para outro operário, que se encontra sobre um andaime, para este repetir
o mesmo procedimento para lançar o concreto nos pilares.
Vale salientar que 80% das obras pesquisadas apresentam lajes niveladas, com uso de nível
a laser, o que promoveu pequena variação nas espessuras das mesmas, observando-se
reduzida espessura de contrapiso.

LANÇAMENTO DO CONCRETO USINADO

O concreto usinado foi utilizado em todas as obras, e na maioria delas para a concretagem
das vigas e lajes, sendo produzido concreto na obra, em alguns casos, apenas para serviços
de fundação e pilares. Vale ressaltar que das obras pesquisadas 50% usam sistema
racionalizado nas lajes: 30% com treliças metálicas e blocos em EPS, 10% do tipo
cogumelo e 10% com nervura e blocos premoldados.
Tal qual os serviços analisados anteriormente, neste também não há procedimentos
padronizados de execução e controle e os cuidados para a preparação das vigas e lajes antes
do lançamento do concreto usinado são os mesmos do produzido em obra.
Verificou-se que, durante o lançamento e adensamento do concreto usinado, tem-se o
cuidado de não lançar o mesmo em pontos isolados da fôrma. Para garantir a espessura da
laje, 10% das obras pesquisadas utiliza gabaritos de madeira espaçados entre si por distância
em torno de 2m, e entre as mesmas são executadas mestras de concretagem; 30% utiliza
pedaço de ferro gabaritado e 60% faz uso das próprias nervuras ou vigotas treliçadas,
distante entre si de 2,5m por toda a extensão da laje, colocadas transversalmente ao sentido
da concretagem. Os resultados das medições de perdas demonstraram que esse ultimo
procedimento era o que levava a menores variações na espessura da laje, minimizando,
consequentemente, o nível de perdas, apesar de não ter sido a de menor índice de perdas
porque os blocos de EPS não foram posicionados perfeitamente ajustados aos trilhos,
provocando maior consumo de concreto devido ao deslocamento dos blocos ou
afundamento dos mesmos.
Utilizou-se em cerca de 90% das obras pesquisadas para acabamento da laje o rolo
assentador de agregado tipo” rollergug”e nas demais a desempenadeira de cabo longo tipo
“bull float”.

PLANEJAMENTO e ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

Em todas as obras pesquisadas não são verificados procedimentos documentados de


execução do lançamento do concreto e nem de verificação e controle da execução da
concretagem. Ademais não se dispõe de projeto de produção para lançamento de concreto
nas lajes, assim faltam atividades indispensáveis ao bom desempenho desse serviço, quais
sejam: planta do pavimento contendo a indicação do padrão de acabamento de cada
ambiente ou painel de concretagem, definição dos painéis de concretagem, o sentido geral
de concretagem, etc
A falta de procedimentos padronizados para controle de recebimento, estocagem,
transporte e produção de materiais, faz com que os resultados obtidos no levantamento de
perdas sejam diversos ao longo de todo o tempo transcorrido do processo produtivo, pois
qualquer mudança, acarreta um novo valor para o indicador medido, causando desvios
acentuados em relação à média praticada no subsetor.
A quase inexistência de um planejamento do arranjo físico dos canteiros, também é causa de
grandes variações nas medições dos indicadores.

3. ENQUADRANDO AS PERDAS OBSERVADAS EM UMA CLASSIFICAÇÃO

Pode-se sintetizar que as principais perdas encontradas nas obras pesquisadas enquadram-
se, segundo a classificação de perdas adotada por Formoso et alli(1998;6) em:

I. perdas por superprodução: encontrou-se esse tipo de perda principalmente no material


cimento, devido a variação de seu consumo/m3 de concreto ou argamassa em relação ao
especificado, ou seja, o seu consumo foi aumentado;
II. perdas por substituição: citamos o uso de aço em bitolas superiores aos projetado,
principalmente com o intuito de aproveitar sobras de aços de outra construção de
propriedade da mesma construtora;
III. perdas por transporte: foi uma das principais causas de perdas de materiais granulares (
areia e brita), principalmente devido ao uso de equipamentos inadequados( como carrinhos
de mão não projetados especificamente para esse fim) e ao enchimento excessivo dos
mesmos transbordando materiais no movimento e manuseio;
IV. perdas por processamento: nesse caso, algumas das principais causas de aumento dos
consumos dos materiais está no uso de instrumentos inadequados para a execução da tarefa,
como, por exemplo: a confecção de fôrmas estruturais sem seguir a risca o recomendado
pelas normas técnicas, principalmente no que se refere a contraflexas, escoramento e
contraventamento;
V. perdas por estoque: como exemplo, citamos o envelhecimento de cimento no depósito
por não haver uma rotinização de uso do mais velho para o mais novo;
VI. elaboração de produtos defeituosos: nesse caso foram detectados perdas devido a
demolição e retrabalho de componentes defeituosos, principalmente em relação a locação
de pilares e vigas, em posição desconforme com o projetado;
VII. outras: nesse caso, tanto observou-se desperdícios de materiais como aproveitamento
dos mesmos, em algumas obras. Como desperdícios, apontamos principalmente para os
traços em argamassa ou concreto, em que observou-se que, no intuito de aproveitar-se
sobras de materiais especificados para outros serviços, tais como areia fina para
revestimento e cascalhinho para capeamento de lajes, termina por utilizá-los em mistura
com o agregado recomendado pelo projetista para o serviço modificando,
consequentemente, o consumo dos materiais previstos anteriormente.

As perdas referentes ao processo de trabalho não foram medidas, daí não podermos fazer
análises de perdas por espera e movimentos desnecessários por parte dos trabalhadores.

4. CONCLUSÕES: Algumas medidas que fazem a diferença


Á luz da análise dos resultados obtidos, conclui-se que as perdas de materiais no subsetor
de edificações são muito variáveis e dependem do tipo de procedimento, organização do
trabalho e tecnologia adotada por cada empresa e cada canteiro de obra, de modo que o
papel do engenheiro lotado à obra é fundamental nesse processo de controle e redução de
perdas.
Frente ao exposto foram adotadas algumas medidas nas obras pesquisadas que, apesar do
pouco tempo de implementação, já vem surtindo efeitos significativos nos resultados das
perdas observadas, entre estas pode-se citar:
PROJETO: adotou-se projeto de lançamento do concreto nas lajes constando de planta do
pavimento abrangendo os aspectos: padrão de acabamento de cada ambiente, painéis de
concretagem, sentido geral de concretagem, posicionamento e nível das taliscas, posição
das caixas de passagem e caminhos de concretagem incluindo a posição inicial, remoção e
relocação dos caminhos de concretagem ( sistema de transporte composto por jericas e
elevador de obra).
PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA OBRA: planejamento da concretagem do
pavimento de tal forma que o lançamento do concreto termine junto a caixa de escada ou ao
acesso da laje;
ORGANIZAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO: dimensionamento das equipes de
trabalho, considerando-se o ciclo do transporte horizontal inferior, transporte vertical e do
transporte horizontal superior, no caso de concretagem com elevador e jericas.
PROCEDIMENTOS DE EXECUÇÃO E CONTROLE: elaboração de procedimentos
documentados de execução do lançamento do concreto, verificação e controle da execução.
PROCESSO DE EXECUÇÃO: tem-se o cuidado de não lançar grandes quantidades de
concreto em pontos isolados da fôrma; usam-se gabaritos para rebaixos de lajes; o nível das
taliscas é ajustado e conferido com o aparelho de nível a laser.

No caso do concreto usinado, foi elemento diferenciador do nível de perdas, o uso do


sistema racionalizado de laje, no caso, treliças metálicas e blocos em EPS, lajes tipo
cogumelo e laje premoldada com nervura; o uso de um bom gabarito de espessura de laje,
como a utilização da própria treliça e acompanhamento permanente de verificação e
controle da concretagem.

5.BIBLIOGRAFIA

FORMOSO et alli. Perdas na Construção Civil- uma proposta conceitual e ferramentas


para prevenção .ENTAC 98, abril, 1998.Florianopolis/SC
FORMOSO, C. T. et al. Desenvolvimento de um modelo para a gestão da qualidade e
produtividade em empresas de construção civil de pequeno porte. In: II
Seminário da Qualidade na construção Civil - Gestão e Tecnologia, Porto Alegre, 08
e 09 de junho de 1993. Anais. pp-55-95;
HEINECK, L. F. M. Organização dos Canteiros de Obras na cidade de Florianópolis-
SC. Congresso Técnico de Engenharia Civil, Florianópolis: UFSC, 1991.
SOUZA, U.E.L. Redução do desperdício de argamassa através do controle do consumo em
obra. In: II Simpósio Brasileiro de Tecnologia das Argamassas. ANTAC,
Salvador-BA, 1997, pp 459 - 468.

Você também pode gostar