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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................................2
2. OBJECTIVOS.....................................................................................................................................3
2.1. Objectivo geral............................................................................................................................3
2.2. Objectivos específicos.................................................................................................................3
4.1. Orçamento...................................................................................................................................5
4.2. Tipologia de Orçamentos.............................................................................................................5
4.2.1. Orçamento Anual Tradicional..............................................................................................6
4.2.2. Orçamento Incremental........................................................................................................7
4.2.3. Orçamento Base Zero..........................................................................................................7
4.2.4. Orçamento Contínuo............................................................................................................8
4.2.5. Orçamento Baseado nas Actividades...................................................................................8
4.2.6. Orçamento flexível..............................................................................................................9
4.2.8. Orçamento do Estado.........................................................................................................11
4.2.8.1. Importância do Orçamento do Estado............................................................................13
4.2.8.2. Características de um bom orçamento de Estado...........................................................14
4.2.8.3. Funções do Orçamento do Estado..................................................................................15
4.2.8.3.1. Representação gráfica das Dimensões e funções do orçamento.....................................16
4.2.8.4. Composição do orçamento do Estado............................................................................16
4.2.8.4.1. Composição do orçamento do Estado em Moçambique (em milhões de meticais)........17
4.2.8.4.2. Receitas públicas............................................................................................................17
4.2.8.4.2.1. Impostos.....................................................................................................................18
4.2.8.4.2.2. Empréstimos e Doações.............................................................................................19
4.2.8.4.3. Défice orçamental..........................................................................................................19
4.2.8.5. Ciclo Orçamentário ou Orçamental do Estado...............................................................21
4.2.8.5.1. Representação Gráfica do Ciclo Orçamental no Contexto Moçambicano......................30
4.2.8.5.2. Periodização do Ciclo de Planeamento e Orçamentação em Moçambique....................30
5. CONCLUSÃO...................................................................................................................................32
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................................33

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1. INTRODUÇÃO
“O Estado ao prosseguir os seus fins tem, naturalmente, necessidades económicas cuja satisfação
implica despesas. Não importa o regime político prosseguido, o que importa é que qualquer
Estado, quer ele siga formas de desenvolvimento do tipo capitalista, quer siga as do tipo
socialista, necessita de realizar despesas com as diversas necessidades colectivas que prossegue,
como sejam de saúde, educação, defesa da soberania, entre outras” (Ibraimo, 2000:10). Chega
um momento em que o governo deve cumprir o que prometeu nas eleições, o cumprimento
dessas promessas são materializados nos orçamentos. Os governos enfrentam os mesmos tipos
de problemas como quaisquer cidadãos quando elaboram o seu orçamento. Eles usam recursos
limitados e fazem decisões difíceis quando decidem como gastar o dinheiro. Governos precisam
prestar atenção nos seus gastos. Precisam planear para despesas imprevistas que podem resultar
de desastres naturais ou não. Para SANDE (2012) o Orçamento do Estado faz parte de um
processo contínuo de decisão sobre recursos públicos, localizado dentro de um sistema mais
geral de gestão e de avaliação das despesas do país e politica tributária. Quando analisarmos o
orçamento, é importante tomar em conta o processo sobre o qual o orçamento é elaborado,
aprovado, implementado e avaliado. O presente trabalho de investigação tem como objectivo
descrever como funciona o ciclo Orçamentário em Moçambique.

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2. OBJECTIVOS
2.1. Objectivo geral:
 Analisar o ciclo orçamentário ou orçamental.
2.2. Objectivos específicos:
 Identificar as etapas que compõem o ciclo orçamentário ou orçamental;
 Descrever cada uma das etapas que compõem o ciclo orçamentário ou orçamental;
 Explicar sobre as etapas que constituem o ciclo orçamentário ou orçamental.

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3. METODOLOGIA
Para a concretização dos objectivos deste trabalho utilizamos como metodologia a
pesquisa bibliográfica e documental, não foi necessário um estudo de caso. Pois o presente
trabalho de pesquisa foi meramente de revisão de literatura. Esta pesquisa bibliográfica assentou-
se também em artigos técnicos e científicos estrangeiros relacionados com esta matéria
(principalmente dos países lusófonos, por causa da facilidade do idioma, concretamente de Brasil
e Portugal por terem mais conteúdos publicados e disponíveis e pela facilidade de obtenção dos
conteúdos com os recursos que detemos).
O tipo de pesquisa utilizado neste presente trabalho foi o descritivo (pois o que se
pretende é apresentar o ciclo orçamentário vigente em Moçambique, o que já esta previsto por
lei).
A técnica de pesquisa adoptada neste trabalho foi a seguinte: efectuou-se uma pesquisa
bibliográfica, através da consulta de manuais, que abordam assuntos ligados à finanças e
contabilidade pública, das despesas públicas, auditoria, fez-se também a consulta de artigos
científicos, teses, dissertações, monografias, pesquisas cientificas, e algumas explanações ou
definições de conceitos importantes utilizados durante a pesquisa desse trabalho, e por outro lado
foi feita a pesquisa na internet como forma de conhecer as actuais abordagens acerca da
Orçamentação do Estado.
No que diz respeito à pesquisa documental recorreu-se à legislação vigente, com maior
atenção para a Lei do SISTAFE e o seu respectivo Decreto de Regulamento do SISTAFE, que
enumera o processo de Orçamentação do Estado (contabilização e controlo das despesas
públicas) em Moçambique.

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4. CICLO ORÇAMENTÁRIO EM MOÇAMBIQUE

4.1. Orçamento

Orçamento, em sentido amplo, e a previsão de receitas e despesas de uma família,


empresa ou outra organização. Em sentido restrito, com base nos princípios e regras de
orçamentação, o orçamento é o cálculo prévio ou estimativa das receitas e a fixação das despesas
necessárias para realizar uma actividade, relativas a um determinado período de tempo,
geralmente um ano.
O orçamento para Horngren (2005) apud Simão (2013), “é a expressão quantitativa da
proposta de plano de acção definido para um certo período, contribuindo também para a
coordenação do que é necessário implementar para atingi-lo”.
Orçamentação para Jordan et al (2002: 77) apud Simão (2013) é a que o «orçamento é
um instrumento de gestão de apoio ao gestor no processo de alcançar os objectivos definidos
para a empresa, ou seja, um instrumento de decisão e acção», interessando para isso atingir os
objectivos.
O Orçamento é uma prévia autorização do poder legislativo para que se realizem receitas
e despesas dum ente público, obedecendo a um determinado período de tempo. Por meio do
orçamento podemos verificar a real situação económica do Estado, evidenciando os seus gastos
com a saúde, educação, saneamento, obras públicas, etc. (FORTES, 2002:70).
Para Bhimani et al (2008) apud Simão (2013) o orçamento é a expressão quantitativa do
plano de acção para um período futuro, devendo conter dados financeiros e não financeiros.
Rayburn (1996) apud Simão (2013) apresenta uma definição do orçamento, referindo que
é o meio de coordenar e combinar os recursos de toda a organização, para um plano de acção.
Segundo o mesmo autor, este plano é baseado na actividade passada e influenciada pelos factores
do negócio no futuro. Jordan et al (2002) apud Simão (2013) classificam os objectivos, os planos
de acção e os orçamentos como elementos chave para o funcionamento de qualquer empresa.

4.2. Tipologia de Orçamentos


Walther (2012) apud Medeiros (2013), refere que os orçamentos envolvem uma boa dose
de prospectiva, situação que por si só, envolve uma quantidade de erro inevitável,
independentemente da tipologia de orçamento utilizada. Este ponto faz uma abordagem aos

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diversos tipos de orçamento, defendidos por diversos autores com Vanderbeck, Needle, Caiado,
Edwards, Horngren e Lunkes.

4.2.1. Orçamento Anual Tradicional


Van Derbeck (2010, p. 338) apud Medeiros (2013) refere que o orçamento anual
tradicional é preparado com um ano de antecedência face ao ano fiscal da empresa. O mesmo
autor refere também que este tipo de orçamento é normalmente dividido em quadrimestres e
detalhado por meses.
O orçamento tradicional visava assim, controlar a actividade financeira do Estado,
garantindo que os meios postos à disposição dos entes públicos eram obtidos e utilizados em
conformidade com o legalmente previsto, ou seja, procura-se assegurar a legalidade, Morais
(2013, p.16). Segundo a OCDE (2008) apud Morais (2013, p.17), a orçamentação tradicional
assenta numa cultura administrativa, é hierárquica e concentrada essencialmente na
conformidade legal e na regularidade da despesa pública, da qual resulta um sistema orçamental
inflexível e incremental.
Needle (2010, p. 256) apud Medeiros (2013) refere que um orçamento tradicional é
composto por um conjunto de orçamentos operacionais e financeiros que detalham o
planeamento financeiro de uma organização por um período contabilístico específico. Os
orçamentos operacionais servem de base aos orçamentos financeiros. Os orçamentos
operacionais de uma empresa de retalho incluem normalmente orçamentos de vendas, compras,
custos comerciais, despesas administrativas e custo dos produtos vendidos.
Caiden (1988) apud Morais (2013, p.17) identifica várias críticas aos orçamentos
tradicionais, entre as quais: i) têm uma perspectiva de curto prazo e originam défices orçamentais
excessivos, persistentes, incontroláveis e imprevisíveis com efeitos na estabilidade financeira a
médio e longo prazo; ii) potenciam o crescimento orçamental sem qualquer ligação à estratégia
governativa e aos resultados da despesa pública, não responsabilizando os políticos; iii) são
orientados para os recursos e não para as realizações (outputs) e resultados (outcomes); iv) são
rígidos e geradores de desperdícios devido à ausência de incentivos para a eficiência; e por
último, v) são elaborados numa óptica de caixa, resultando numa ineficiente gestão de activos a
médio prazo.

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4.2.2. Orçamento Incremental
Orçamento incremental é um orçamento com base em pequenas alterações de resultados
orçados no período anterior, por comparação com base nos resultados reais. Esta é uma
abordagem comum em empresas onde a gestão não pretende gastar uma grande quantidade de
tempo com a formulação de orçamentos, ou não tem grande necessidade de realizar uma
avaliação criteriosa do negócio.
“O orçamento incremental é historicamente a forma mais comum de construir
orçamentos, porque é um modelo que assume de forma simples que os resultados do ano actual
servem de base para o próximo ano”. O nome “orçamento incremental” deriva do facto de
assumir que cada rubrica do orçamento varia positivamente ou negativamente na mesma
percentagem, no período seguinte” (Thompson et al., 2008) apud Medeiros (2013).
Para Thompson et al. (2008) apud Medeiros (2013), o orçamento incremental apela ao
senso comum, pois tenta simplificar a complexidade da realidade económica do mundo. O
orçamento incremental normalmente utiliza tendências agregadas (mais generalistas) e falha na
análise mais detalhada das receitas e despesas.

4.2.3. Orçamento Base Zero


Em economia diz-se orçamento base zero, a Projecção orçamental em que se analisa, revê
e justifica todas a despesas, em função de objectivos e programas a cumprir e não em função de
orçamentos anteriores.
O orçamento de base zero, tradução da sigla americana Z.B.B. («Zero Base Budgeting»),
constitui um processo de planeamento e orçamentação que exige que cada sector justifique todas
as despesas e que a unidade organizacional ou unidade de decisão opere eficiente e eficazmente
com um dado nível de recursos (Caiado, 2008, p. 482) apud Medeiros (2013).
Para Edwards et al. (1993) e Needle (2010) apud Medeiros (2013), o orçamento base
zero é uma alternativa ao orçamento tradicional e determina que os responsáveis operacionais
tenham de justificar detalhadamente todos os recursos solicitados e todas as despesas que
prevêem efectuar, sempre que elaboram um novo orçamento.
De acordo com Caiado (2008) apud Medeiros (2013), as etapas que integram os
procedimentos do orçamento de base-zero são as seguintes:
1. Identificação das unidades de decisão;

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2. Fixação das hipóteses de base do planeamento e dos pacotes orçamentais;

3. Análise das unidades de decisão e proposta das versões-base e aditamentos;

4. Classificação das versões-base e dos aditamentos;

5. Preparação dos orçamentos definitivos; e

6. Controlo de resultados.

Este tipo de orçamento parte do zero. A elaboração do orçamento para cada ano é um
exercício de previsão e planeamento independente, que identifica as actividades essenciais,
possibilitando uma alocação de recursos mais eficiente (Edwards et al., 1993) apud Medeiros
(2013).

4.2.4. Orçamento Contínuo


O orçamento contínuo é um orçamento que é constantemente actualizado, acrescentando-
se um novo período à medida que o tempo vai decorrendo, não sendo elaborado somente uma
vez por ano. Na medida em que se adapta constantemente à realidade, assegura que o
planeamento seja mais flexível e realista. Em contrapartida, também exige mais recursos e mais
tempo para a sua elaboração (Horngren et al., 1999) apud Medeiros (2013).
VanDerbeck (2010) apud Medeiros (2013), refere que muitas empresas utilizam o
orçamento contínuo, pois este confere uma perspectiva mais de longo prazo, em vez de se
concentrarem apenas no próximo mês ou trimestre.

4.2.5. Orçamento Baseado nas Actividades


Para Lunkes (2003, p. 124) apud Medeiros (2013), o orçamento por actividade é mais
amplo e conecta-se com outras funções da gestão. Além de ser parte do sistema de custos, é parte
do processo de planeamento estratégico global e parte do sistema de controlo que monitoriza as
operações de um período específico.
O orçamento por actividades proporciona informação às empresas e um maior controlo
de recursos, o que permite aos gestores direccionar recursos para as actividades que serão
orçadas no futuro.

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Quando se planeia uma actividade em que é necessário reduzir os custos este método de
orçamento torna-se eficiente no que se refere à aplicação de recursos, pois é capaz disciplinar e
controlar mais eficientemente o uso dos recursos financeiros.

4.2.6. Orçamento flexível


O orçamento flexível é elaborado para um conjunto de actividades que a empresa poderá
desenvolver. Para a implementação de um orçamento flexível a empresa tem de decidir como vai
responder a uma série de condições (Vanderbeck, 2010, p. 351) apud Medeiros (2013).
A base para elaboração do orçamento flexível é a perfeita distinção entre custos fixos e
custos variáveis, pois estes últimos seguirão o volume de actividade da empresa.
O conceito de orçamento flexível dificulta a continuidade do processo orçamental, uma
vez que as principais variáveis de nível de actividade não são fixadas à partida. A aplicação deste
tipo de orçamento é importante em ambientes de grande volatilidade, onde é difícil prever o que
vai acontecer.

4.2.7. Orçamento por Programas


Segundo a Comissão para Orçamentação Por Programa (COP, 2007; 6) apud Morais (2013,
p.16-17) Orçamentação Por Programa “é uma forma de orçamentação que procura associar as
dotações orçamentais1 aos resultados obtidos, tendo em conta as prioridades definidas pelo
Governo, prioridades essas traduzidas em Programas”
Para cada programa, com a respectiva hierarquia nas prioridades do Governo, temos
objectivos a atingir (definidos de forma objectiva e mensurável) e recursos afectos à sua
concretização. As dotações de um determinado programa partilham o mesmo objectivo e servem
para financiar a produção de bens e serviços no âmbito do programa em questão.
Cada programa poderá depois ser alvo de avaliação, isto é, aferição da concretização dos
objectivos. Esta informação sobre o desempenho no processo orçamental poderá ser utilizada
para efeitos de atribuição de recursos no futuro (OCDE, 2007).
Orçamento por Programas: artigo 17 da Lei 9/2002, de 12 de Fevereiro. 1. Sem prejuízo
da sua especificação de acordo com as classificações orgânica, territorial, económica e funcional,
1
Dotações orçamentárias são valores autorizados/ montante inscrito em cada rubrica orçamental ou por outra,
consignados na Lei Orçamentaria Anual para atender a uma determinada programação orçamentaria.
Acrescido dos esforços e deduzidos das anulações, constituindo o limite máximo de despesa a realizar no
respectivo ano económico.

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as despesas que integram o Orçamento do Estado podem estruturar-se, no todo ou em parte, por
programas. 2. Com o objectivo de racionalizar a preparação e reforçar o controlo da gestão e da
execução orçamental, a estruturação da programação orçamental é composta por programas,
medidas e projectos ou acções.
Artigo 18 Da mesma Lei. 1. O programa orçamental inclui as despesas correspondentes a
um conjunto de medidas ou projectos ou acções de carácter plurianual que concorrem, de forma
articulada e complementar, para a concretização de um ou vários objectos específicos, relativos a
uma ou mais políticas públicas, dele fazendo necessariamente parte integrante um conjunto de
indicadores que permitam avaliar a economia, a eficiência e a eficácia da sua realização; 2. O
programa orçamental pode ser executado por uma ou várias entidades gestoras; 3. Para efeito do
disposto no número anterior, consideram-se entidades gestoras dos programas orçamentais todos
os órgãos e instituições do Estado incluindo serviços e organismos com autonomia
administrativa e financeira, competentes para realizar as despesas compreendidas naqueles
programas; 4. Cada programa orçamental pode dividir-se em medidas, podendo existir
programas com uma única medida; 5. Os programas orçamentais que não se dividirem em
medidas, dividir-se-ão em projectos ou acções, podendo existir programas com um único
projecto ou acção; 6. Os projectos ou acções integrados ou não em medidas, poderão ser criados
no decurso da execução do Orçamento do Estado.
Artigo 19. 1. O programa orçamental inclui as despesas correspondentes a um conjunto
de medidas ou projectos ou acções de carácter plurianual que concorrem, de forma articulada e
complementar, para a concretização de um ou vários objectos específicos, relativos a uma ou
mais políticas públicas, dele fazendo necessariamente parte integrante um conjunto de
indicadores que permitam avaliar a economia, a eficiência e a eficácia da sua realização;
2. O programa orçamental pode ser executado por uma ou várias entidades gestoras;
3. Para efeito do disposto no número anterior, consideram-se entidades gestoras dos
programas orçamentais todos os órgãos e instituições do Estado incluindo serviços e organismos
com autonomia administrativa e financeira, competentes para realizar as despesas compreendidas
naqueles programas;
4. Cada programa orçamental pode dividir-se em medidas, podendo existir programas
com uma única medida;

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5. Os programas orçamentais que não se dividirem em medidas, dividir-se-ão em
projectos ou acções, podendo existir programas com um único projecto ou acção;
6. Os projectos ou acções integrados ou não em medidas, poderão ser criados no decurso
da execução do Orçamento do Estado.

Vantagens do Orçamento por Programa


O modelo de Orçamento por Programa apresenta muitas vantagens relativamente ao
modelo tradicional (Comissão para Orçamentação por Programa 2007; OCDE 2007): permite
avaliar os benefícios que resultam da despesa pública e identificar os desperdícios; o enfoque
passa a estar nos resultados, no planeamento e não na execução; as despesas passam a ser
planeadas de forma plurianual, com vantagens evidentes para o planeamento.
Aumenta a intervenção da Assembleia da República que passa a discutir e aprovar não só
a afectação dos meios financeiros, mas também, os objectivos que se pretendem atingir. Pode
também sair com papel reforçado no debate sobre os resultados atingidos pelo Governo.
Contrariamente ao que acontecia antes, a OP dá maior ênfase à responsabilização pelo
desempenho.
Com uma orçamentação baseada em programas há também uma afectação estratégica dos
recursos públicos às prioridades do Governo, passando os ministérios e os respectivos
responsáveis políticos a ter um papel mais estratégico e menos operacional. Por outro lado, a
definição de objectivos claros para cada organismo constitui um factor de motivação para os
recursos humanos, que saberão o que a organização espera deles.
Comparado com o orçamento tradicional, esta nova metodologia permite dispor de um
orçamento em que: i) a despesa é menos rígida já que os programas têm um horizonte temporal
superior e estão sujeitos a avaliação periódica; ii) é mais facilmente compreendido pelos
políticos e pelos cidadãos; iii) facilita a delegação de responsabilidade financeira e de gestão para
os responsáveis dos programas, o que, em teoria, melhora a eficiência; e iv) através da
hierarquização dos programas é possível ter a percepção das prioridades da acção governativa.

4.2.8. Orçamento do Estado


Orçamento do Estado é a previsão das receitas e a fixação das despesas da Administração
Publica relativas a um ano.

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O orçamento do Estado é “o documento onde são previstas e computadas as receitas e as
despesas anuais, competentemente autorizadas” (Ribeiro, 1997 p.49) apud BASÍLIO (2013), o
orçamento é sempre um mapa de previsão, as receitas e despesas 2 que nele constam não são
passadas, nem presentes, mas futuras.
Contudo, o futuro é incerto, e portanto torna-se ilusório prevê-lo, daí que o orçamento tenha
de cingir-se a determinado período de tempo: “limitação no tempo”3. Podemos, então, definir
orçamento do Estado como o documento onde se prevêem as receitas e as despesas públicas
autorizadas para o período financeiro.
O orçamento do Estado é uma lei. O governo apresenta a proposta de lei do orçamento e a
Assembleia da República aprova (ou não) essa mesma proposta.
Com base no artigo 12 da SECÇÃO II da Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro, das normas do
ordenamento jurídico Moçambicano, o Orçamento do Estado é o documento no qual estão
previstas as receitas a arrecadar e fixadas as despesas a realizar num determinado exercício
económico e tem por objecto a prossecução da política financeira do Estado.
Segundo a International Budget Project (2002) A Guide to Budget Work for NGOs. Centre
on Budget and Policy Priorities. Washington DC apud SANDE (2012) o Orçamento do Estado
deve na sua elaboração conter os seguintes conteúdos:
• O orçamento expressa as prioridades de políticas do governo e expectativas acerca do
desempenho da economia que se traduzem em proposta de receitas e alocação de despesas.
• Orçamento é um dos instrumentos que o governo usa para fazer a gestão da economia.
• Orçamento representa os objectivos e aspirações do governo que está no poder.
• Temos que pensar no orçamento como tendo dois lados: por um lado mostra em que é que o
governo pretende gastar o dinheiro e por outro lado mostra onde é que vai adquirir o dinheiro
que pretende gastar.
• Orçamentos são documentos, descrições, explicações e discursos de preferências.
• O orçamento governa a alocação de recursos escassos – ele reflecte (ou devia reflectir) as
prioridades da comunidade ou da nação.
• O orçamento é uma proposta: não é o registo de despesas e colecta de receitas que já tenha
acontecido, mas sim, apenas intenções do governo.

2
As receitas e as despesas têm de ser autorizadas pelas assembleias representativas.
3
Regra geral o orçamento é anual, ou seja, tem a duração de um ano, as previsões de despesas e receitas
que nele constam prevalecem por um ano.

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 Nem todos governos têm tido sucesso, ou conseguem alinhar as despesas e receitas correntes
com a proposta que se reflecte no orçamento.
• O orçamento reflecte as políticas prioritárias do governo – que podem ou não coincidir com
as promessas eleitorais. O orçamento mostra realmente as políticas que o governo conseguiu
traduzir num compromisso financeiro. Isto revela se o governo cumpre o que prometeu.
• Uma vez que o governo usa o dinheiro público, o orçamento numa sociedade democrática
deve reflectir as necessidades e esperanças da maioria da população. Isso requer que o
governo use os recursos limitados e disponíveis de forma eficiente, efectiva e equitativa de
modo a maximizar os resultados que promovem as necessidades e esperanças do eleitorado.

Quando pessoas falam do orçamento do Estado, eles se referem muitas vezes ao documento
que os parlamentares recebem do governo (em especial do Ministro das Finanças) e debatem
anualmente na Assembleia da República. No entanto, o domínio do orçamento do Estado é muito
mais amplo do que o documento do orçamento em si.
O Guide to Budget Work for NGOs do IBP apud SANDE (2012), encoraja-nos a pensar no
orçamento como apenas uma faceta da manifestação do processo de decisão orçamental. O
orçamento, quando é entregue, reflecte apenas um aspecto de um vasto processo para gerir os
recursos do país:
• “Orçamentação é transformar recursos financeiros em objectivos humanos” (Aaron
Wildavsky, 1964) apud SANDE (2012).
• “Orçamentação pública envolve tanto a selecção de fins como a selecção de meios para
atingir os fins” (Robert Lee & Ronald Johnson, 1998) apud SANDE (2012).
Orçamento de Estado é um documento fundamental das entidades públicas pois toda a
execução da receita e da despesa está assente nele.

4.2.8.1. Importância do Orçamento do Estado


Para SANDE (2012) são algumas das boas razões para tomar à sério o orçamento do Estado:
• Em democracia, o orçamento deveria reflectir os objectivos e aspirações do povo.
• O governo é um dos principais actores na economia. As compras governamentais assim
como a maneira como o governo arrecada o dinheiro para fazer as suas compras afecta toda a
gente.

13
• O orçamento é conexão vital que traduz a política em prestação de serviços
• Orçamento é um instrumento poderoso para conduzir ao desenvolvimento e redistribuição na
sociedade.
O orçamento pretende atingir os seguintes resultados económicos e sociais SANDE (2012):
• Estímulo: Um bom orçamento deve ser capaz de estimular o crescimento económico, a
criação de emprego e investimento.
• Desenvolvimentista: o orçamento deve ser direccionado para sectores estratégicos, grupos de
população e assuntos que permitem maximizar o papel desenvolvimentista do retorno das
despesas realizadas.
• Equidade: o orçamento opera no sentido de reduzir as desigualdades (por exemplo
desigualdade de género) através de acções que procuram alocar o orçamento para favorecer
os excluídos ou desfavorecidos.
• Estabilidade: o orçamento tem a função de estabilizar a economia como um todo. Isso pode
significar o ajustamento das receitas e despesas para influenciar mudanças no
comportamento dos agentes económicos e sociais. Inclui também que as despesas e receitas
devem ser mais racionais e previsíveis.

O foco do Banco Mundial4 e Fundo Monetário Internacional (FMI)5 é usar o orçamento como
instrumento de disciplina e eficiência na política e sistema orçamental. O banco e FMI referem-
se sempre a disciplina fiscal, eficiência alocactiva e eficiência operacional. SANDE (2012).

4.2.8.2. Características de um bom orçamento de Estado

• Orçamento participativo: toma em conta as necessidades básicas da maioria da população.


• Maior parte das receitas é gerada dentro do país
• Projectos do governo devem ser sustentáveis sem depender do financiamento dos doadores
• Transparência: para que o governo possa prestar contas quando gastar menos ou mais do que
devia.
• Prioriza as necessidades mais prementes do país
• Flexibilidade
4
Banco Mundial é uma instituição financeira internacional que efectua empréstimos a países em
desenvolvimento. É o maior e mais conhecido banco de desenvolvimento do mundo.
5
FMI é um organismo intergovernamental criado pela ONU, cujos objectivos são promover políticas cambiais
sustentáveis a nível mundial, facilitar o comércio internacional e reduzir a pobreza a nível mundial.

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Segundo SANDE (2012) muitos dos orçamentos governamentais estão entre a descrição de
“bom” e “mau” acima descrita. O orçamento de um país pode apresentar algumas das boas como
das más características acima. No entanto, parece que quanto mais atenção e mais exame
minucioso é dado ao orçamento do país: pelo governo, parlamento, sociedade civil e órgãos de
informação, maiores são as oportunidades/probabilidades de transitarmos para um processo
orçamental que tende a ser “bom”.

4.2.8.3. Funções do Orçamento do Estado


De acordo com Franco (2008, p. 338 a 341) apud BASÍLIO (2013), podemos agrupar as
funções do orçamento em três grandes grupos, nomeadamente, funções económicas, funções
políticas e funções jurídicas, as quais se podem subdividir. Assim temos:
1. Funções Económicas: dentro do domínio económico, como já vimos, o orçamento é uma
previsão. Distinguem-se, então nesta área, duas perspectivas:
a. Racionalidade Económica: a relacionação entre receitas e despesas facilita a busca pelo
máximo bem-estar/utilidade com o mínimo de gasto/custo possível, uma vez q o orçamento
permite uma gestão mais racional e eficiente dos dinheiros públicos;
b. Eficácia, como quadro de elaboração de políticas públicas: aqui o orçamento assume um
papel fundamental na definição e execução das políticas financeiras das entidades, por meio
deste, conhece-se a política económica global do Estado;
2. Funções políticas: o orçamento, como não podia deixar de ser, passa também por ser uma
autorização política, que visa conseguir o seguinte:
a. Garantia dos direitos fundamentais: através do orçamento garante-se, por um lado, que os
rendimentos só são tributados para cobrir os gastos públicos mediante decisão dos
representantes dos titulares desses rendimentos 6: trabalhadores, proprietários, capitalistas; por
outro lado, que a propriedade privada só é atribuída na medida em que tal seja consentido
pelos representantes dos proprietários7;
b. Garantia do equilíbrio e da separação dos poderes: através do orçamento, é atribuído às
Assembleias Parlamentais um papel financeiro importantíssimo: elas autorizam os recursos e

6
Que como cidadão, estão representados pelos deputados no Parlamento
7
Os deputados.

15
a sua afectação o Executivo executa o orçamento e as contas são tomadas pelo Parlamento
e/ou por um órgão jurisdicional;
3. Funções Jurídicas: pode dizer-se que as funções jurídicas decorrem do elemento político8 do
orçamento e consubstancia-se no aparecimento de toda uma panóplia de normas que se
destinam a concretizar o fim de garantia que o orçamento visa prosseguir. Disto resulta que, a
administração tem uma “limitação jurídica” mais forte, uma vez que, os seus poderes devem
ser autorizados anualmente e por isso tornam-se, assim, mais limitados.

4.2.8.3.1. Representação gráfica das Dimensões e funções do orçamento

Dimensão Função
Politica Autorização política do plano • Tributação e despesas dependentes da
financeiro do Estado aprovação pela Assembleia da República.
• Assegurar equilíbrio e separação de
poderes
Jurídica Limitação dos poderes financeiros • (De) limitação dos poderes políticos do
do Estado Estado
Económica Previsão da gestão orçamental e • Gestão racional e eficiente de fundos
uma exposição do plano financeiro públicos
do Estado • Definir e executar a política económica e
social do governo

4.2.8.4. Composição do orçamento do Estado


Segundo SANDE (2012) o Orçamento de Estado pode ser dividido em três componentes:
Receitas, Despesas e o Saldo Orçamental.
• Receitas: Esta componente diz respeito a todos os recursos financeiros cujo beneficiário é o
Estado, e tem em vista o financiamento de despesas públicas. No sentido restrito são
consideradas receitas do Estado as obtidas através do pagamento de impostos ou de
obrigações ao Estado pela provisão de determinados bens e serviços, vendas patrimoniais,
portanto todos os recursos resultantes da própria actividade do Estado. No sentido mais
amplo, as receitas públicas incluem para além destes itens os recursos provenientes de
donativos e empréstimos.

16
• Despesas8: Esta é a componente dos gastos do governo e também se designam por “despesas
públicas” ou “gastos públicos”. Governos podem gastar seus recursos, por exemplo, no
procurement (aquisições) de bens e provisão de serviços, para pagar o serviço de dívidas,
fazer investimento, e outras despesas com vista a satisfazer as necessidades públicas.
• Saldo Orçamental: este poderá ser um superavit ou um deficit. O superávit orçamental ocorre
quando as receitas do Estado são maiores que as despesas. Um deficit no orçamento ocorre
quando as despesas do governo são maiores que as receitas, e neste caso deverão ser
encontradas alternativas de financiamento às despesas não cobertas.

4.2.8.4.1. Composição do orçamento do Estado em Moçambique (em milhões de meticais)

2006 2007 2008 2009


Receita 27 794 34 474 39 190 46 216
Despesa 47 197 59 477 69 695 98 142
Saldo Orçamental -19 402 -25 003 -30 505 -51 926
Fonte: Fonte: Instituto Nacional de Estatística - INE (vários anuários) e Conta Geral do Estado -
CGE (vários anos) apud Sande (2012)

4.2.8.4.2. Receitas públicas


A Organização da Sociedade Civil envolvida no trabalho orçamental aplicado, com
frequência, tem focado a sua análise nas despesas. No entanto, é preciso dar igual atenção ao
lado das receitas e das formas de financiamento do défice orçamental. O rendimento que o
Estado tem ao seu dispor, e como esse rendimento é obtido, tem implicações importantes para o
desenvolvimento, equidade e participação do cidadão, Sande (2012).
Receita pública9 refere-se ao rendimento anual do governo arrecadado das várias fontes de
financiamento. Estas fontes podem ser:
 Impostos;
 Miscelânea de taxas e quotizações;
 Comercialização de serviços;
 Lucros dos empreendimentos estatais;

8
Constitui despesa pública todo o dispêndio de recursos monetários ou em espécie, seja qual for a sua
proveniência ou natureza, gastos pelo Estado, com ressalva daqueles em que o beneficiário se encontra
obrigado à reposição dos mesmos.
9
Receita pública constitui todos os recursos monetários ou em espécie, seja qual for a sua fonte ou natureza,
postos à disposição do Estado, com ressalva daquelas em que o Estado seja mero depositário temporário.

17
 Venda de activos.
` Como acima foi mencionado, para Sande (2012) se for considerado o conceito de receita
pública no sentido lato, à lista acima deverão ser acrescentados os donativos/ajuda, a emissão de
dinheiro e os empréstimos que correspondem às fontes de financiamento do défice orçamental.
Ou seja, deverão ser acrescentadas as seguintes fontes:
 Doações/ajuda10;
 Empréstimos externos;
 Empréstimo doméstico;
 Emissão de dinheiro.

4.2.8.4.2.1. Impostos
Impostos: contribuição monetária exigida pelo Estado a pessoas singulares e colectivas para
fazer face às despesas públicas; tributo.
Segundo Sande (2012) existem dois tipos de impostos: impostos directos e impostos indirectos:
 Impostos directos; imposto que não pode ser repercutido no preço de um produto, incidem
sobre o rendimento ou riqueza de pessoas e empresas. Inclui por exemplo impostos sobre
rendimento de pessoas colectivas (IRPS), imposto sobre rendimento de pessoa singular
(IRPC), ganhos de capital (imposto sobre o rendimento derivado da aplicação de capitais),
imposto sobre propriedade.
 Impostos indirectos: imposto que pode ser repercutido no preço de um produto, incidem
sobre o consumo de bens e serviços. O exemplo típico é o imposto sobre valor acrescentado
(IVA). Este imposto incide sobre o preço de venda de bens e serviços e corresponde a uma
taxa que tem de se pagar ao Estado para além do valor de um bem ou serviço que se adquire,
estando sujeitas também as transacções comerciais e as importações.
 No caso do imposto progressivo, a taxa de imposto aumenta quando o rendimento aumenta.
 Quando o imposto é regressivo, a taxa de imposto diminui quando o rendimento aumenta.
 Imposto proporcional significa que a taxa de imposto é a mesma para todos níveis de
rendimentos.

10
Donativos e ajuda externa – constitui uma das fontes de financiamento do deficit orçamental, geralmente
atribuído por Governos ou Agencias de cooperação.

18
4.2.8.4.2.2. Empréstimos e Doações
Os governos podem pedir empréstimo 11 de seus próprios cidadãos assim como nos
mercados de capital internacional. Também podem ter acesso a empréstimos concessionais
(baixa taxa de juro) das instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e
Banco Mundial. A capacidade de um país pedir emprestado dinheiro no estrangeiro depende de
vários factores. Por exemplo, credores podem tomar em conta o volume ou nível de dívida
existente, sua capacidade para gerar receitas fiscais, suas necessidades em termos de despesa
pública, as opções de financiamento disponíveis, assim como considerações políticas e sistemas
de valor, Sande (2012).
Empréstimos concessionais das instituições multilaterais são dependentes da capacidade
ou vontade do país em satisfazer certas condições, como manter um nível baixo de inflação e
redução do défice orçamental. Doações são oferecidas ao país recipiente para um propósito
específico, como ajudar na luta contra HIV/SIDA ou ajudar a reconstrução pós guerra ou ajudar
o país a sair duma catástrofe, Sande (2012).
Naturalmente, quanto mais o país pede emprestado, mais vai precisar pagar de volta,
incluindo juros da dívida. Prestaremos mais atenção as implicações da dívida pública, Sande
(2012).

4.2.8.4.3. Défice orçamental


Muitos governos, especialmente dos países em vias de desenvolvimento como
Moçambique, apresentam défices orçamentais. Como você viu isso significa que o governo
planeia gastar mais do que espera arrecadar das receitas fiscais, Sande (2012).
Quando as despesas planeadas excedem as receitas a recolher, o governo deve procurar
fontes adicionais de receitas para financiar as suas despesas. Isso envolve pedir emprestado
dinheiro e, desse modo, aumentar a dívida pública. A dívida pública é, portanto, consequência do
crédito concedido ao governo que é reportado no orçamento anual como défice orçamental.
Constitui o total do saldo do passivo financeiro do sector público, com o ónus sobre o governo a
reembolsar o montante emprestado, incluindo juros, Sande (2012).

11
Empréstimo Contrato pelo qual, sob condições definidas, uma pessoa entrega temporariamente a outra
pessoa dinheiro ou artigos de valor.

19
Para Sande (2012) quando existe um défice orçamental, o governo pode arrecadar fundos
para financiá-lo através de:
 Emissão de novas notas: esta opção vai aumentar a moeda em circulação. Numa economia
robusta e feita de maneira prudente, esta opção pode ser sustentável. No entanto, em países
em vias de desenvolvimento enfrentando turbulências económicas, esta opção pode resultar
em inflação em espiral.
 Empréstimos externos: esta opção adiciona ao existente ónus da dívida externa do governo.
Embora esta opção permita libertar fundos para financiamento de curto prazo, o pagamento
da dívida pode levar uma boa proporção dos orçamentos futuros se os fundos recebidos não
forem usados para investimentos produtivos. Isto pode conduzir ao caso de armadilha de
dívida com impacto perpétuo sobre o défice orçamental.
 Empréstimos domésticos: esta opção também aumenta o ónus da dívida do governo e deixa
poucos recursos para despesas sociais. Nesta opção, o governo compete com o sector privado
pelo acesso a finanças, deste modo reduzindo o montante de finanças disponível para o sector
privado. Isto chama-se “crowding out” do investimento privado. O governo tem a vantagem
pois pode oferecer uma taxa de juro alta ou outras formas de pagamento, assim como
garantias de pagamento.

Segundo Sande (2012) se o défice não pode ser financiado ou se as opções acima não forem
sustentáveis para o governo, quais são as outras alternativas possíveis? Assim, o governo deveria
considerar:
 Reduzir as despesas: por exemplo, pode optar por reduzir os fundos alocados a algumas
rubricas, referentes a salários ou cancelar investimento planeado ou reduzir os salários do
sector público.
 Intensifica esforços para cobrar mais impostos: por exemplo através da introdução de novos
impostos, aumentar as taxas de imposto, melhorar a capacidade da administração fiscal.

4.2.8.5. Ciclo Orçamentário ou Orçamental do Estado

Por processo orçamental entendemos tudo quanto, em termos de substância e de forma


tenha a ver com o Orçamento do Estado; não só directa e proximamente como indirectamente,
seja a montante seja a jusante daquele, Santos (2011).

20
O processo orçamental, no seu conjunto, é Denominado por três fases ou funções: a de
planeamento, a de execução e a de acompanhamento ou controlo, Santos (2011). Dito de outro
modo, seja qual for a vertente ou o lado de que olhemos o processo orçamental, deparamos
sempre, ou vamos ter a todas ou a cada uma daquelas três funções ou fases, Santos (2011). O
processo orçamental existe tão só para servir a correcta gestão de dinheiros públicos, Santos
(2011).
O orçamento do Estado faz parte de um processo contínuo de decisão sobre recursos
públicos, localizado dentro de um sistema mais geral de gestão e de avaliação das despesas do
país e politica tributária. Quando analisares o orçamento, é importante tomar em conta o
processo sobre o qual o orçamento é elaborado, aprovado, implementado e avaliado, Sande
(2012).
Segundo Sande (2012) o processo de orçamentação ideal obedece a um ciclo em que
actividades estão organizadas sequencialmente e de forma cíclica. De uma forma resumida, o
ciclo orçamental no contexto moçambicano compreende os seguintes grandes eventos e estágios
que segundo a Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro são: (i) elaboração do orçamento, (ii) estudo e
aprovação do orçamento, (iii) execução do orçamento e (iv) auditoria e avaliação do orçamento.

1. Elaboração do Orçamento
A elaboração do Orçamento do Estado é anual e da competência do Governo. Os órgãos e
instituições do Estado apresentam ao Ministério que superintende a área das Finanças, nos prazos
legalmente definidos, as suas propostas orçamentais tendo em vista as acções a desenvolver no
âmbito das suas funções. As propostas orçamentais, aludem com base nas directrizes orçamentais
fixadas pelo Governo, através do Ministério que superintende a área das Finanças, os limites
quantitativos, bem como os objectivos concretos a atingir para o período considerado do
Orçamento do Estado, também são fixados, os cálculos dos recursos necessários (humanos,
materiais e financeiros, tecnológicos), para a materialização e concretização do mesmo.

1.1. Políticas e plano de médio e longo prazo


O orçamento começa com o estabelecimento de objectivos, políticas e planos de médio/longo
prazo de natureza social, económica, administrativa e política. Com base nos objectivos e nas
metas definidas, estabelecem-se as políticas económicas e sociais anuais e plurianuais.

21
Os documentos chaves nesta fase constituem os Planos Quinquenais do Governo, Planos
Indicativos como por exemplo Agenda 202512, Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
(ODM)13, Plano de Acção Para Redução de Pobreza (PARP)14 (Ex- Plano de Acção Para
Redução de Pobreza Absoluta - PARPA)15 e outros documentos de suporte, Sande (2012).
Os intervenientes: Governo, Ministério das finanças, Ministério de Planificação
Desenvolvimento (MPD), Ministérios sectoriais, Governos provinciais, Distritos, Assembleia da
República e provinciais.

1.2. Planeamento orçamental de médio prazo (Cenário Fiscal de Médio Prazo)


Esta fase inclui o desenvolvimento de planos financeiros de médio prazo: realização de
projecções e previsões no tempo e formulação de critérios para a selecção de programas. Estes
programas implicam necessariamente, uma priorização de sectores e áreas, de acordo com as
políticas seleccionadas e as metas e objectivos traçados, Sande (2012).
O documento chave é Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP, sujeito a actualizações que
dá lugar a orçamento anual) é um instrumento que contém a previsão de receitas e definição de
despesas para vários anos, elaborado de modo a servir de guia de orientação para as acções
orçamentais do governo, Sande (2012).

12
A Agenda 2025 é um exercício estratégico de reflexão sobre o futuro de Moçambique tendo como
objectivos: criar, através de um processo participativo, uma Visão Nacional de longo prazo; preparar, através
de um processo participativo, uma estratégia Nacional de Desenvolvimento que defina as políticas e os
programas necessários para dar resposta aos objectivos identificados na visão nacional de desenvolvimento.
13
Os ODM são uma declaração do Milénio adoptada em 2000, por todos os Estados Membros da Assembleia
das Nações Unidas. Veio lançar um processo decisivo de cooperação global no século XXI e a serem atingidos
num prazo de 25 anos, nomeadamente: erradicar a pobreza externa e a fome; alcançar a educação primaria
universal; promover a igualdade de género e capacitar as mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a
saúde materna; combater HIV/SIDA, a malária e outras doenças; assegurar a sustentabilidade ambiental;
desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.
14
O PARP é um instrumento de política pública do Governo de Moçambique. Inspira ‐se nos ‘Documentos
Estratégicos para a Redução da Pobreza’ (Poverty Reduction Strategy Papers‐ PRSPs), concebidos e adoptados
pelo FMI e Banco Mundial (BM), em 1999, como ‘uma nova estratégia para nortear sua assistência aos países
de baixa renda” (Ames et al. 2002; IMF 2003, p.3).
15
PARPA do Governo de Moçambique tem em vista alcançar o objectivo de diminuir a incidência da pobreza,
tem as prioridades em áreas do desenvolvimento do capital humano na educação e saúde, da melhoria na
governação, do desenvolvimento das infra-estruturas básicas e da agricultura, do desenvolvimento rural, e de
melhoria na gestão macro-económica e financeira. Centra a atenção nas formas de solução do baixo nível de
vida das camadas mais desfavorecidas, que actualmente corresponde ao nível de pobreza absoluta. É um
instrumento flexível, ajustado e actualizado anualmente através do Cenário Fiscal de Médio Prazo, do Plano
Económico e Social e do Orçamento do Estado, que são instrumentos de operacionalização do Programa
Quinquenal do Governo.

22
Intervenientes: Ministério das finanças / Ministério de Planificação Desenvolvimento
/Ministérios sectoriais, Governos provinciais, Distritos, Assembleia provinciais, Massarongo
(2010).

1.3. Planeamento e Orçamentação Anual


Para cada ano deve ser elaborado o orçamento respectivo com detalhes sobre receitas e
despesas a serem realizadas. Este orçamento resulta do CFMP mas com informação actualizada e
contextualizada de modo a responder as necessidades do respectivo ano. O mesmo é
acompanhado pelo Plano Económico e Social (PES) 16 que contém as actividades que o governo
se propõe a atingir no âmbito económico e social. Depois de ser elaborado, o orçamento deve ser
estudado e aprovado, juntamente com o PES, pela Assembleia da República (AR) antes de ser
executado.

1.4. Proposta do Orçamento do Estado (Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro)


A proposta do Orçamento do Estado observa estrita conformidade com a política económico-
financeira e o programa anual do Governo.
A proposta do Orçamento do Estado compõe-se do articulado da respectiva proposta de Lei
Orçamental e respectivos mapas.
Os mapas orçamentais a que se refere o n.º 2 deste artigo compreendem: a) Mapas globais
das previsões de receitas, dos limites das despesas e financiamento do défice; b) Mapas das
previsões das receitas correntes e de capital, de âmbito central e provincial, classificados de
acordo com os critérios orgânico, territorial e por fontes de recursos; c) Mapas dos limites das
despesas correntes, de âmbito central e provincial, classificados de acordo com os critérios
orgânico, territorial, económico e funcional. d) Mapa das despesas de capital, de âmbito central e
16
O Plano Económico e Social é um instrumento de programação e de gestão da actividade
económica e social que orienta a acção governativa, no processo da materialização das
Prioridades do Programa Quinquenal do Governo com a concentração de esforços para a
materialização do seu objectivo central que é de “melhorar as condições de vida do Povo
moçambicano, aumentando o emprego, a produtividade e a competitividade, criando riqueza e
gerando um desenvolvimento equilibrado e inclusivo, num ambiente de paz, segurança,
harmonia, solidariedade, justiça e coesão entre os moçambicanos. Toma em consideração a
envolvente macroeconómica internacional, bem como das condições favoráveis dos preços das
principais mercadorias no mercado internacional.

23
provincial, classificados de acordo com os critérios orgânico, territorial, económico, funcional e
por fontes de financiamento.
O Governo apresenta ainda à Assembleia da República, com a proposta do Orçamento do
Estado, todos os elementos necessários à justificação da política orçamental, nomeadamente: a) o
Plano Económico e Social do Governo; b) o balanço preliminar da execução do Orçamento do
Estado do ano em curso; c) a fundamentação da previsão das receitas fiscais e da fixação dos
limites da despesa; d) a demonstração do financiamento global do Orçamento do Estado com
discriminação das principais fontes de recursos; e) a relação de todos os órgãos e instituições do
Estado, assim como de todas as instituições autónomas, empresas públicas e autarquias; f) a
proposta de orçamento de todos os organismos com autonomia administrativa e financeira,
autarquias e empresas do Estado.

2. Estudo e Aprovação (Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro)


O Governo submeterá até ao dia 30 de Setembro de cada ano à Assembleia da República a
proposta do Orçamento do Estado.
A Assembleia da República delibera sobre a proposta de Lei do Orçamento do Estado até 15
de Dezembro de cada ano.
Aprovado o Orçamento do Estado, o Governo fica autorizado a: a) proceder à gestão e
execução do Orçamento do Estado aprovado, adoptando as medidas consideradas necessárias à
cobrança das receitas previstas e à realização das despesas fixadas; b) proceder à captação e
canalização de recursos necessários, tendo sempre em conta o princípio da utilização mais
racional possível das dotações orçamentais aprovadas e o princípio da melhor gestão de
tesouraria; c) proceder à abertura de créditos públicos para atender ao défice orçamental; d)
realizar operações de crédito por antecipação da receita, para atender a défices momentâneos de
tesouraria.
Aprovado o Orçamento do Estado, os deputados e as Comissões da Assembleia da
República não podem tomar iniciativas de lei que envolvam o aumento das despesas ou a
diminuição das receitas.
Não sendo aprovada a proposta do Orçamento do Estado, é reconduzido o do exercício
económico anterior, com os limites nele definidos, incluindo os ajustes verificados ao longo
desse exercício, mantendo-se assim em vigor até à aprovação de novo Orçamento do Estado.

24
A manutenção da vigência do Orçamento do Estado reconduzido nos termos do número
anterior abrange a manutenção da autorização para cobrança das receitas e realização de
despesas nele previstas, salvo aquelas cujos regimes vigorariam apenas até ao final do respectivo
exercício.
A realização das despesas previstas no Orçamento do Estado reconduzido deve obedecer ao
princípio da utilização por duodécimos das verbas nele fixadas.

3. Execução: produção e pagamentos


A execução do orçamento começa quando o governo inicia a realizar os gastos e a
colectar as receitas autorizadas pela Lei Orçamental. Entretanto, sendo acompanhado de
produção periódicas de relatórios execução orçamental, pois, na prática orçamentos não são
sempre implementados da forma exacta como foram aprovados, Massarongo (2010). Desvios
podem acontecer como resultado de alterações das condições anteriormente usadas como
pressupostos.
A execução do orçamento permite também que seja produzida informação e
documentação comprovativa de que (não) foi possível atingir ou ultrapassar as metas definidas
no orçamento. Esses documentos servem para elaborar a Conta Geral do Estado. Documentos
que podem ser produzidos nesta fase são os seguintes: relatórios anuais, semestrais sobre
despesas e receitas, entre outros documentos de suporte.

3.1. Execução do Orçamento do Estado (Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro)


Para dar início à execução orçamental, o Governo aprova as disposições que se mostrem
necessárias, sem prejuízo da imediata aplicação das normas da Lei do Orçamento do Estado que
sejam directamente exequíveis.
A execução das receitas compreende as três fases seguintes: a) lançamento, procedimento
administrativo de verificação da ocorrência do facto gerador da obrigação correspondente; b)
liquidação, cálculo do montante da receita devida e identificação do respectivo sujeito passivo; c)

25
cobrança, acção de cobrar, receber ou tomar posse da receita e subsequente entrega ao Tesouro
Público.
A realização das despesas compreende as três fases seguintes: a) cabimento, acto
administrativo de verificação, registo e cativo do valor do encargo a assumir pelo Estado; b)
liquidação, apuramento do valor que efectivamente há a pagar e emissão da competente ordem
de pagamento; c) pagamento, entrega da importância em dinheiro ao titular do documento de
despesa.
As despesas que sejam reconhecidas judicialmente no exercício em curso, pertencentes a
exercícios anteriores mas neles não liquidadas, são pagas na rubrica adequada do Orçamento do
Estado desse exercício em curso.
Pode ser autorizada a realização de despesas sob o regime de adiantamentos em
numerário, denominado fundo de maneio, para atender despesas cujos valores sejam de pequena
monta e para as quais se dispense o cumprimento do normal processo de realização de despesas.
Compete ao Governo aprovar quer os limites máximos para a realização das despesas a
que se refere o número anterior, quer as dotações orçamentais a este regime sujeitas, quer ainda à
regulamentação sobre a sua concessão, aplicação e prestação de contas.
Relativamente ao período do exercício económico em curso, devem ser observadas as
seguintes regras: a) constituem despesas por pagar as despesas liquidadas e não pagas até 31 de
Dezembro; b) as despesas por pagar devem ser anuladas, caso não sejam pagas, decorrido um
ano.
Reverte à respectiva dotação o valor da despesa anulada no exercício; Quando a anulação
do valor da despesa ocorrer após o encerramento do respectivo exercício económico, o valor
anulado é considerado receita do ano em que a anulação se efectivar;
A restituição da receita arrecadada indevidamente, quando ocorra no respectivo exercício
da sua arrecadação, é efectuada nesse exercício mediante anulação do valor na rubrica
orçamental respectiva;
A restituição da receita arrecadada indevidamente, quando ocorra em exercícios
posteriores, é realizada em rubrica orçamental de despesa adequada do exercício em que ela
ocorrer.

26
Os valores relativos a contribuições e impostos e demais créditos fiscais do Estado,
liquidados e não cobrados dentro do exercício financeiro de origem, constituem dívida activa e
são incorporados em conta própria, findo o exercício, pela contabilidade pública.
As alterações dos limites fixados no Orçamento do Estado são efectuadas por Lei sob
proposta do Governo devidamente fundamentada.
O Governo pode efectuar reforços de verbas no Orçamento do Estado, utilizando, para o
efeito, a dotação provisional prevista no n.º 3 do artigo 13 da presente Lei, desde que as mesmas
sejam devidamente fundamentadas.
É ainda da competência do Governo a redistribuição das verbas dentro dos limites
estabelecidos pela Assembleia da República.
A transferência de verbas de um órgão ou instituição do Estado para outro deve ser
tratada no Orçamento do Estado a crédito daquele e a débito deste.

3.2. Contabilidade e monitoria


O executivo deve adoptar práticas contabilísticas transparentes e credíveis no processo de
execução orçamental assim como garantir que o mesmo executivo produza instrumentos de
monitoria e controlo da execução orçamental, Sande (2012). Assim o processo de execução é
acompanhado de monitoria do Orçamento, Massarongo (2010).

3.3. Relatórios de execução orçamental e balanços dos planos


Quando o governo faz a execução orçamental deve produzir os respectivos relatórios que
servem para compará-los com o orçamento aprovado pelo parlamento. Sande (2012) ao mesmo
tempo o governo deve elaborar os balanços dos planos definidos no âmbito do orçamento (no
caso de Moçambique é o Balanço do PES semestral) e devera ser feita a fiscalização,
Massarongo (2010).
Artigo 35 da Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro, prevê: o Governo presta informação
semestral sobre a execução do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado, à Assembleia
da República, até 45 dias após o semestre. O Governo presta ainda informação trimestral à
Assembleia da República sobre a execução do Orçamento do Estado, devendo esta ser publicada
no Boletim da República.

27
4. Auditoria e Avaliação do Orçamento
O último estágio do processo orçamental inclui várias actividades que têm o objectivo de
medir se os recursos (despesas) públicos foram ou não usados efectiva e eficientemente. As
despesas devem ser sujeitas a revisão (auditoria) regular por profissionais de uma instituição
independente como uma empresa de auditoria. Os resultados de pesquisa da instituição de
auditoria devem ser submetidos ao poder legislativo que deve exigir que o executivo seja
responsável pelas suas práticas orçamentais. Conta Geral do Estado (a síntese), Relatório e
Parecer da administração Conta Geral Estado e por fim a Aprovação.
Ao abrigo do Artigo 45 da Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro, a Conta Geral do Estado tem
por objecto evidenciar a execução orçamental e financeira, bem como apresentar o resultado do
exercício e a avaliação do desempenho dos órgãos e instituições do Estado.
A Conta Geral do Estado deve ainda ser elaborada com clareza, exactidão e simplicidade,
de modo a possibilitar a sua análise económica e financeira.
A Conta Geral do Estado deve reflectir a observância do grau de cumprimento dos
princípios de regularidade financeira, legalidade, economicidade, eficiência e eficácia na
obtenção e aplicação dos recursos públicos colocados à disposição dos órgãos e instituições do
Estado.
Tendo em vista reflectir a situação financeira e os resultados da execução orçamental dos
órgãos e instituições do Estado, a Conta Geral do Estado deve ser elaborada com base nos
princípios e regras de contabilidade geralmente aceites.
A Conta Geral do Estado deve conter informação completa relativa a: a) receitas
cobradas e despesas pagas pelo Estado; b) financiamento ao défice orçamental; c) fundos de
terceiros; d) balanço do movimento de fundos entrados e saídos na Caixa do Estado; e) activos e
passivos financeiros e patrimoniais do Estado; f) adiantamentos e suas regularizações.
A Conta Geral do Estado deve conter os seguintes documentos básicos: a) o relatório do
Governo sobre os resultados da gestão orçamental referente ao exercício económico; b) o
financiamento global do Orçamento do Estado, com discriminação da situação das fontes de
financiamento; c) o balanço; d) os mapas de Execução Orçamental, comparativos entre as
previsões orçamentais e a receita cobrada e daquelas com a despesa liquidada e (ou) paga; e) a
demonstração de resultados; f) os anexos às demonstrações financeiras; g) o mapa dos activos e

28
passivos financeiros existentes no início e no final do ano económico; h) o mapa consolidado
anual do movimento de fundos por operações de tesouraria.
O Governo apresenta como anexo à Conta Geral do Estado, o inventário consolidado do
património do Estado.
O Governo deve ainda apresentar, como anexo informativo à Conta Geral Do Estado, um
resumo das receitas, despesas e saldos por cada instituição com autonomia administrativa e
financeira.
As instituições com autonomia administrativa e financeira devem proceder à entrega ao
Ministério do Plano e Finanças, da informação referida anteriormente, até ao dia 31 de Março de
cada ano.
O Governo deve apresentar à Assembleia da República e ao Tribunal Administrativo a
Conta Geral do Estado, até ao dia 31 de Maio do ano seguinte àquele a que a referida conta
respeite.
O relatório e o parecer do Tribunal Administrativo sobre a conta Geral do Estado devem
ser enviados à Assembleia da República até ao dia 30 de Novembro do ano seguinte àquele em
que a Conta Geral do Estado respeite.
A Assembleia da República aprecia e aprova a Conta Geral do Estado, na sessão seguinte
à entrega do Relatório e Parecer pelo Tribunal Administrativo.

4.2.8.5.1. Representação Gráfica do Ciclo Orçamental no Contexto Moçambicano.

1. Elaboração
1.1. Políticas e planos de
Médio e longo prazo

4. Auditoria e avaliações 1.2. Planeamento orçamental


de médio prazo (CFMP)

29
1.3. Planeamento e
3.2. Relatórios de execução
orçamentação anuais 2.
Orçamental e balanços
dos planos estudo e aprovacao

3.1. Contabilidade e 3. Execução: produção e


Monitorização pagamentos

Fonte: adaptado de Hodges e Tibana (2005) apud SANDE (2012)

4.2.8.5.2. Periodização do Ciclo de Planeamento e Orçamentação em Moçambique


Período Actividades
Após as Eleições Gerais Planeamento Estratégico (plano Quinquenal)
Novembro – Abril Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP)
Maio Envio de Circulares aos Sectores
Julho Submissão do Orçamento e PES dos Sectores ao Ministério de
Finanças e MPD
Setembro Submissão da Proposta Orçamental na AR
Outubro e Novembro Comissão Parlamentar
Dezembro Aprovação do Orçamento
45 Dias após o término do trimestre Relatório de Execução Orçamental
Maio Submissão da Conta Geral do Estado ao Tribunal
Administrativo
Setembro Parecer do Tribunal Administrativo a Conta Geral do Estado
Fonte: SANDE (2012)
As fases do ciclo orçamental podem estar sobrepostas uma da outra. É possível que
orçamentos diferentes estejam em diferentes fases do ciclo orçamental. Muitos países possuem
legislação que prescreve quando é que os diferentes estágios devem ocorrer durante o ano fiscal.
O funcionamento efectivo do ciclo orçamental depende da qualidade do sistema orçamental mais
vasto da qual faz parte o processo orçamental. SANDE (2012).

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5. CONCLUSÃO
A realização da despesa pública nesta entidade é feita seguindo os estágios previstos na Lei do
SISTAFE, nomeadamente: Elaboração, Estudo e aprovação, Execução, e Avaliação. O
Orçamento do Estado é um instrumento importante na prossecução dos objectivos
socioeconómicos do Governo, na medida em que guia a mobilização e a alocação dos recursos
públicos. A eficácia da sua execução determina a disponibilidade dos bens e serviços públicos
necessários para a melhoria das condições económicas e sociais da sociedade.

Ao aprovar o orçamento, a Assembleia da República (Parlamento) autoriza o Governo a, dentro


dos parâmetros da lei, proceder à mobilização e aplicação dos recursos públicos para fins
determinados, seguindo procedimentos também especificados nas leis e nos regulamentos que

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guiam o processo orçamental. Ao deliberar sobre o Orçamento do Estado, o Parlamento fá-lo no
exercício da soberania que lhe é conferida pelo voto popular. Assim, a transparência e
responsabilidade com que o Governo (o executivo) prepara, apresenta ao Parlamento e executa o
Orçamento do Estado são fundamentais ao pleno exercício da soberania do povo. Porém, a
soberania popular não se exerce somente pela representação parlamentar, estendendo-se à acção
organizada do escrutínio da Sociedade Civil sobre as acções do Executivo. Nisto, a Sociedade
Civil organizada também complementa e potencia a eficácia do Parlamento no controle dos
planos do Governo e seus resultados.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 BASÍLIO, Joana Sofia Gonçalves. A Contabilidade Digráfica aplicada ao Setor Público: O


caso do Tribunal da Relação de Coimbra. Coimbra, setembro 2013
 COELHO, Liliana Sofia Reis Jacinto. A importância do processo e controlo Orçamental para
o alcance da estratégia, numa Empresa de TI. Projecto de Mestrado em Finanças. Outubro
2013.
 MASSARONGO, Fernanda. Composição do Orçamento do Estado e o Ciclo orçamental.
Beira, Dezembro de 2010
 MEDEIROS, Aldo Luís Pacheco. Gestão orçamental – estudo de caso no sector retalho.
Dissertação de mestrado em ciências económicas e empresariais. Ponta Delgada, Setembro
de 2013.

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 Moçambique, Decreto n°23/2004 de 20 de Agosto, Maputo
 Moçambique, Lei n° 09/2002 de 12 de Fevereiro, Maputo.
 MORAIS, Paulo. Orçamentação por programas e a avaliação de resultados da gestão pública.
Universidade Técnica de Lisboa. Instituto Superior de Economia e Gestão. Mestrado em
Economia e Políticas Públicas. Dissertação de Mestrado. Portugal. ISEG/UTL, 30 de
Setembro de 2013
 SAL & CALDEIRA. A Reforma do Sistema de Administração Financeira do Estado. Maputo
 SANDE, Zaqueo. Monitoria e Advocacia da Governação com base no Orçamento de Estado:
Manual de Formação 2011. Editor: IESE: Instituto de Estudos Sociais e Económicos.
Impressão: Maputo 2012.
 SANTOS, Doutor Rui Teixeira. Curso de Verão: Finanças Públicas. Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologia - Escola De Administração De Lisboa. Setembro de 2011
 SIMÃO, Ricardo Jorge Fernandes. Projectos estratégicos: o controlo orçamental - estudo da
construção de redes de nova geração por parte da zon. Lisboa, Julho de 2013.

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