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Brasília, 11 a 15 de maio de 2020 Nº 977

Data de divulgação: 21 de maio de 2020


Este Informativo, elaborado com base em notas tomadas nas sessões de
julgamento das Turmas e do Plenário, contém resumos de decisões proferidas pelo
Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja
uma das metas perseguidas neste trabalho, somente poderá ser aferida após a publicação
do acórdão no Diário da Justiça Eletrônico.

SUMÁRIO
Plenário
Covid-19 e restrições da Lei de Responsabilidade Fiscal
Covid-19: suspensão de prazos para filiação partidária, comprovação de domicílio eleitoral e
desincompatibilização de função pública
Clipping das sessões virtuais
Inovações Legislativas
Outras Informações

PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL – FINANÇAS PÚBLICAS

Covid-19 e restrições da Lei de Responsabilidade Fiscal


O Plenário, por maioria, referendou a medida cautelar anteriormente deferida e extinguiu a ação
direta de inconstitucionalidade por perda superveniente de objeto.

A cautelar referendada concedeu interpretação conforme à Constituição Federal (CF) aos arts. 14,
16, 17 e 24 da Lei Complementar 101/2000 (1) — Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) — e 114, caput
(2) e § 14 (3), da Lei 13.898/2019 — Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2020 (LDO/2020) —, para,
durante a emergência em saúde pública de importância nacional e o estado de calamidade pública
decorrente do novo coronavírus (Covid-19), afastar a exigência de demonstração de adequação e
compensação orçamentárias em relação à criação/expansão de programas públicos destinados ao
enfrentamento do contexto de calamidade gerado pela disseminação de Covid-19. Além disso, a medida
se aplicou a todos os entes federativos que, nos termos constitucionais e legais, tivessem decretado estado
de calamidade pública decorrente da pandemia de Covid-19.

O autor da ação direta argumentava que o estabelecimento de novas despesas necessárias em


virtude da pandemia acabaria sendo passível de responsabilização se não houvesse a interpretação
conforme.

Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes (relator), que referendou a liminar para
garantir maior segurança jurídica.

Com relação à LDO/2020, explicitou que o art. 114 foi alterado por lei posterior. O preceito passou
a estabelecer que, na ocorrência de calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional e durante
sua vigência, fica dispensada a compensação tratada em seu caput (LDO/2020, art. 114, § 16).

O relator observou que, em suma, o pedido formulado na ação objetivou afastar a aplicabilidade de
restrições para fins de combate integral da pandemia na saúde pública e em seus reflexos, como a
manutenção de emprego e de empresas e a subsistência dos seres humanos.

Esclareceu que o afastamento não afetaria de forma alguma o mandamento constitucional de


transparência, de prudência fiscal, consubstanciado na LRF. Os dispositivos impugnados pretendem evitar
gastos não previstos, a improvisação nas finanças públicas, e não vedar gastos orçamentários
absolutamente necessários destinados à vida, à saúde, ao trabalho e à subsistência dos brasileiros.

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Ademais, a única válvula de escape seria o art. 65 da LRF, que afasta alguns dispositivos. O
mencionado artigo estabelece regime emergencial para casos de reconhecimento de calamidade pública,
afasta a necessidade de contingenciamento de recursos e sanções pelo descumprimento de limites de
gastos com pessoal. Contudo, não prevê expressamente a possibilidade de criação de novas despesas
emergenciais e necessárias no combate a uma pandemia, sem que tenham sido previstas anteriormente no
orçamento.

O ministro lembrou que o surgimento da pandemia do Covid-19 seria fato superveniente,


imprevisível, cujas consequências gravíssimas eram impossíveis de serem programadas e exigem a
atuação direta do Poder Público municipal, estadual e federal. Essa excepcionalidade foi considerada para
a suspensão dos dispositivos questionados. Do ponto de vista jurídico e lógico, seria impossível a
previsão dos efeitos econômicos quando aprovadas as leis orçamentárias.

Sublinhou que a interpretação conforme dada na cautelar se baseou nos princípios da razoabilidade
e da dignidade da pessoa humana, na valorização do emprego e na saúde pública. Esses preceitos e
princípios constitucionais seriam totalmente afastados se não houvesse a possibilidade de os entes
combaterem a pandemia, auxiliando a população, inclusive, com recursos públicos. Se os dispositivos
adversados fossem aplicados rigidamente, por exemplo, não seria possível a concessão do auxílio
emergencial de R$ 600,00 (seiscentos reais) durante a pandemia.

A respeito do art. 42 da LRF (4), o relator rejeitou o pedido formulado pelo amicus curiae no
sentido de que o dispositivo fosse abrangido pela cautelar, haja vista não ter sido impugnado pelo autor da
ação. Na ação direta de inconstitucionalidade, a causa de pedir é aberta, mas o pedido não. Portanto,
eventual análise do art. 42 deve ser feita na via própria.

Noutro passo, o ministro Alexandre de Moraes julgou extinta a ação direta de


inconstitucionalidade em virtude da superveniência da Emenda Constitucional (EC) 106/2020, que
instituiu regime extraordinário fiscal, financeiro e de contratações para enfrentamento de calamidade
pública nacional decorrente de pandemia.

Sublinhou não ter havido, na EC do “Orçamento de Guerra”, constitucionalização superveniente, e


sim convalidação de atos praticados (EC 106/2020, art. 10).

O relator consignou o prejuízo da ação, porquanto presentes, no art. 3º da EC 106/2020 (5), os


requisitos que conduziram à concessão da liminar. Os gastos não devem implicar despesas permanentes e
objetivam enfrentar, durante a vigência da pandemia, a calamidade pública e as suas consequências.

Por fim, acentuou que o art. 3º da EC substitui o próprio entendimento da cautelar deferida, desde
que aplicado à União, aos Estados-membros e aos municípios. A perda de objeto se dá com a
interpretação de que o art. 3º vale para os três entes da Federação.

Em obiter dictum, o ministro Roberto Barroso sinalizou que a regra do art. 42 da LRF não deverá
ser aplicada aos prefeitos nos dois últimos quadrimestres, porque ainda coincidirão com a pandemia.

Vencidos o ministro Edson Fachin, que não extinguiu a ação, e o ministro Marco Aurélio, que não
referendou a cautelar.

O ministro Edson Fachin se ateve em ratificar a liminar e endossou o voto do relator no tocante ao
art. 42 da LRF. A respeito da perda de objeto, anotou que demandaria análise para verificar se há simetria
entre a EC 106/2020 e o objeto da cautelar. A medida anteriormente deferida cobre nitidamente os demais
entes federativos e o art. 3º da EC faz referência ao Poder Executivo no singular. Abrir-se-ia campo de
exame que, a rigor, não estaria pautado na ambiência do referendo. Ainda aduziu que a questão poderia
ser apreciada em momento posterior.

Por seu turno, o ministro Marco Aurélio assentou o prejuízo da ação direta. Enfatizou que o
enfrentamento da calamidade pública não é realizado apenas pela União, mas também é feito pelos
estados e municípios. No art. 2º da EC, há alusão a dispositivos observáveis nos três níveis. Dessa
maneira, ter-se-ia disciplina linear, que alcança União, estados e municípios. Além disso, rememorou que
o legislador, a quem cabia atuar, dispôs sobre a convalidação dos atos de gestão praticados a partir de 20
de março de 2020 (EC 106/2020, art. 10).

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Segundo o ministro, há incongruência em extinguir-se a ação e referendar-se a cautelar. A seu ver,
os atos praticados com base na medida anteriormente deferida foram encampados pelos congressistas
mediante o art. 10 da EC 106/2020. Além disso, a interpretação conforme pressupõe preceito que
contemple duas interpretações e o legitimado para a ação não pode vir ao Supremo Tribunal Federal pedir
carta em branco para descumprir lei.

(1) Lei Complementar 101/2000: “Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da
qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que
deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das
seguintes condições: I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei
orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes
orçamentárias; II – estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de
receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. § 1º A
renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de
alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que
correspondam a tratamento diferenciado. § 2º Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput
deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas
no mencionado inciso. § 3º O disposto neste artigo não se aplica: I – às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I,
II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1º; II – ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos
respectivos custos de cobrança. (...) Art. 16. A criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento
da despesa será acompanhado de: I – estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos
dois subsequentes; II – declaração do ordenador da despesa de que o aumento tem adequação orçamentária e financeira com a lei
orçamentária anual e compatibilidade com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias. § 1º Para os fins desta Lei
Complementar, considera-se: I – adequada com a lei orçamentária anual, a despesa objeto de dotação específica e suficiente, ou que
esteja abrangida por crédito genérico, de forma que somadas todas as despesas da mesma espécie, realizadas e a realizar, previstas
no programa de trabalho, não sejam ultrapassados os limites estabelecidos para o exercício; II – compatível com o plano plurianual e
a lei de diretrizes orçamentárias, a despesa que se conforme com as diretrizes, objetivos, prioridades e metas previstos nesses
instrumentos e não infrinja qualquer de suas disposições. § 2º A estimativa de que trata o inciso I do caput será acompanhada das
premissas e metodologia de cálculo utilizadas. § 3º Ressalva-se do disposto neste artigo a despesa considerada irrelevante, nos
termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias. § 4º As normas do caput constituem condição prévia para: I – empenho e
licitação de serviços, fornecimento de bens ou execução de obras; II – desapropriação de imóveis urbanos a que se refere o § 3º do
art. 182 da Constituição. (...) Art. 17. Considera-se obrigatória de caráter continuado a despesa corrente derivada de lei, medida
provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois
exercícios. § 1º Os atos que criarem ou aumentarem despesa de que trata o caput deverão ser instruídos com a estimativa prevista
no inciso I do art. 16 e demonstrar a origem dos recursos para seu custeio. § 2º Para efeito do atendimento do § 1º, o ato será
acompanhado de comprovação de que a despesa criada ou aumentada não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo
referido no § 1º do art. 4º, devendo seus efeitos financeiros, nos períodos seguintes, ser compensados pelo aumento permanente de
receita ou pela redução permanente de despesa. § 3º Para efeito do § 2º, considera-se aumento permanente de receita o proveniente
da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. § 4º A comprovação
referida no § 2º, apresentada pelo proponente, conterá as premissas e metodologia de cálculo utilizadas, sem prejuízo do exame de
compatibilidade da despesa com as demais normas do plano plurianual e da lei de diretrizes orçamentárias. § 5º A despesa de que
trata este artigo não será executada antes da implementação das medidas referidas no § 2º, as quais integrarão o instrumento que a
criar ou aumentar. § 6º O disposto no § 1º não se aplica às despesas destinadas ao serviço da dívida nem ao reajustamento de
remuneração de pessoal de que trata o inciso X do art. 37 da Constituição. § 7º Considera-se aumento de despesa a prorrogação
daquela criada por prazo determinado. (...) Art. 24. Nenhum benefício ou serviço relativo à seguridade social poderá ser criado,
majorado ou estendido sem a indicação da fonte de custeio total, nos termos do § 5º do art. 195 da Constituição, atendidas ainda as
exigências do art. 17. § 1º É dispensada da compensação referida no art. 17 o aumento de despesa decorrente de: I – concessão de
benefício a quem satisfaça as condições de habilitação prevista na legislação pertinente; II – expansão quantitativa do atendimento e
dos serviços prestados; III –reajustamento de valor do benefício ou serviço, a fim de preservar o seu valor real. § 2º O disposto neste
artigo aplica-se a benefício ou serviço de saúde, previdência e assistência social, inclusive os destinados aos servidores públicos e
militares, ativos e inativos, e aos pensionistas.”
(2) Lei 13.898/2019: “Art. 114. As proposições legislativas e as suas emendas, conforme o art. 59 da Constituição, que,
direta ou indiretamente, importem ou autorizem diminuição de receita ou aumento de despesa da União, deverão estar
acompanhadas de estimativas desses efeitos no exercício em que entrarem em vigor e nos dois exercícios subsequentes, detalhando
a memória de cálculo respectiva e correspondente compensação para efeito de adequação orçamentária e financeira, e
compatibilidade com as disposições constitucionais e legais que regem a matéria.” (redação anterior à dada pela Lei 13.983/2020)
(3) Lei 13.898/2019: “Art. 114. (...) § 14. Considera-se atendida a compensação a que se refere o caput nas seguintes
situações: I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da Lei Orçamentária de
2020, na forma do disposto no art. 12 da Lei Complementar nº 101, de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal, e de que não afetará
as metas de resultados fiscais previstas no Anexo IV; ou II – estar acompanhada de medidas de compensação, no período
mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo,
majoração ou criação de tributo ou contribuição.”
(4) Lei Complementar 101/2000: “Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois
quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha
parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito. Parágrafo único. Na
determinação da disponibilidade de caixa serão considerados os encargos e despesas compromissadas a pagar até o final do
exercício.”
(5) EC 106/2020: “Art. 3º Desde que não impliquem despesa permanente, as proposições legislativas e os atos do Poder
Executivo com propósito exclusivo de enfrentar a calamidade e suas consequências sociais e econômicas, com vigência e efeitos
restritos à sua duração, ficam dispensados da observância das limitações legais quanto à criação, à expansão ou ao aperfeiçoamento
de ação governamental que acarrete aumento de despesa e à concessão ou à ampliação de incentivo ou benefício de natureza
tributária da qual decorra renúncia de receita. Parágrafo único. Durante a vigência da calamidade pública nacional de que trata o art.
1º desta Emenda Constitucional, não se aplica o disposto no § 3º do art. 195 da Constituição Federal.”

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ADI 6357 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 13.5.2020. (ADI-6357)

DIREITO ELEITORAL – SISTEMA ELEITORAL

Covid-19: suspensão de prazos para filiação partidária, comprovação de domicílio eleitoral e


desincompatibilização de função pública
O Plenário, por maioria, referendou decisão que indeferiu pedido de medida cautelar, formulado
em ação direta de inconstitucionalidade, na qual se pleiteava a suspensão por trinta dias, a contar de 4 de
abril de 2020, do prazo previsto no art. 9º, caput, da Lei 9.504/1997 (Lei das Eleições) (1), bem como dos
prazos previstos no art. 1º, IV, V e VII, da Lei Complementar 64/1990 (2) e, por arrastamento, do art. 10,
caput e § 4º, da Resolução 23.609/2019 do Tribunal Superior Eleitoral, que dispõem sobre a escolha e o
registro de candidatos para as eleições, e das disposições correlatas da Resolução 23.606/2019 do
Tribunal Superior Eleitoral, relativa ao Calendário para as Eleições de 2020.
O autor alegava a necessidade da aludida suspensão dos prazos, a fim de garantir ao máximo a
possibilidade de participação dos cidadãos nos pleitos eleitorais. Sustentava que, embora os atos
normativos impugnados consubstanciem leis ainda constitucionais, estariam, em virtude do estado de
coisas produzido pelas medidas de enfrentamento da pandemia da Covid-19, em transição para a
inconstitucionalidade, por inviabilizarem, nas eleições de 2020, a plena prevalência do princípio
democrático e da soberania popular.
O Tribunal reputou ausentes, na hipótese, as circunstâncias excepcionais justificadoras da
suspensão da eficácia dos preceitos normativos impugnados.
Considerou inadequada a aplicação da técnica da lei ainda constitucional, conforme pretendido
pelo autor, para a solução da problemática sob análise. Em primeiro lugar, porque não demonstrado
satisfatoriamente que o parâmetro fático-social decorrente da implementação das medidas de
enfrentamento da pandemia da Covid-19 traduza, pelo menos até o momento, situação justificadora da
suspensão da vigência de direito cuja validade não é de outro modo questionada. No ponto, observou que,
ao imporem restrições a diversas atividades cotidianas, as medidas voltadas a implementar o chamado
distanciamento social provocam transtornos também a atividades de caráter político-partidário.
Entretanto, não é possível vislumbrar as supostas ofensas que os dispositivos normativos impugnados
ocasionam aos princípios democrático e da soberania popular. Em segundo lugar, a imediata suspensão
dos prazos previstos nos atos normativos impugnados teria como inadmissível consequência o
enfraquecimento das proteções contra o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
Administração direta ou indireta. Isso aumentaria de modo desproporcional o risco para a normalidade e a
legitimidade das eleições [Constituição Federal (CF), art. 14, § 9º] e, consequentemente, produziria um
estado de coisas com potencial ainda maior de vulneração ao princípio democrático e à soberania popular.
Além disso, colocaria em risco a cláusula pétrea da periodicidade do sufrágio (CF, art. 60, § 4º, II) e, em
consequência, a soberania popular e o Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º, parágrafo único).
Explicou que a tutela jurisdicional do pleito eleitoral tem como pressuposto a prevalência da
Constituição, que instituiu um Estado Democrático de Direito marcado pela independência e harmonia
entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Isso porque todos os Poderes da República têm a sua
origem e fundamento na CF, manifestação da soberania popular representada em momento histórico pela
Assembleia Nacional Constituinte e atualizada pelos procedimentos reveladores da manifestação do
Poder Constituinte derivado. Nesse contexto, as regras conformadoras dos ritos e procedimentos ínsitos à
democracia devem ser reverenciadas como o que são: garantias de existência perene do regime
democrático.
A ideia de democracia, particularmente, de democracia representativa, não pode ser tratada,
juridicamente, como conceito meramente abstrato, ideal vago ou simples retórica, sem densidade
semântica e normativa aptas a determinar, na vida prática da República, os modos de funcionamento do
Estado e de relacionamento entre as instituições e os poderes.
Prazos como o de desincompatibilização não são meras formalidades, mas visam a assegurar a
preponderância da isonomia, expressão que é do próprio princípio republicano, na disputa eleitoral. Sua
inobservância pode vulnerar a própria legitimidade do processo eleitoral, valor consagrado no art. 14, §
9º, da CF.

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Ademais, a exigência da anterioridade da lei eleitoral (CF, art. 16) consubstancia marco temporal
objetivo que tem por escopo impedir mudanças abruptas na legislação eleitoral, como forma de assegurar
o devido processo legal eleitoral, o direito das minorias e a paridade de armas na disputa eleitoral.
Desdobramento do postulado da segurança jurídica, o princípio da anterioridade – ou da anualidade – da
lei eleitoral tem sido consistentemente prestigiado pelo Supremo Tribunal Federal, que já assentou a sua
extensão às decisões judiciais que impliquem alteração de jurisprudência.
Asseverou que, em face das medidas excepcionais de enfrentamento da pandemia da Covid-19, a
ideia de ampliar prazos eleitorais, com a antecedência buscada, pode ser tentadora. Não obstante, a
história constitucional recomenda que, especialmente em situações de crise, se busque, ao máximo, a
preservação dos procedimentos estabelecidos de expressão da vontade popular, das instituições
conformadoras da democracia, que, não obstante sua falibilidade, pode ser uma das poucas salvaguardas
da normalidade.
Ponderou que, obviamente, a inviabilidade de condições fáticas pode impor suspensão,
prorrogações, adiamentos. No ponto, entretanto, mencionou decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
em sessão administrativa de 19.3.2020, que rejeitou requerimento de prorrogação do prazo de filiação
partidária, tendo em vista a pandemia da Covid-19, e registrou, à unanimidade, a plena possibilidade de
os partidos adotarem meios outros para assegurar a filiação partidária.
Na ocasião, a ministra Rosa Weber (relatora), após reafirmar os fundamentos da decisão
denegatória da liminar sob referendo, apresentou outras considerações. Dentre elas, frisou não estar em
discussão o exame da lide pelo enfoque suscitado a título de atualização do pedido inicial. Após, ressaltou
que, de acordo com o último relatório semanal divulgado pelo Grupo de Trabalho constituído no TSE
para monitorar os impactos da pandemia da Covid-19, com vista às eleições municipais de 2020, foi
mantida a posição de que, à luz do calendário eleitoral vigente, a Justiça Eleitoral, até o presente
momento, tem condições materiais para a implementação das eleições no corrente ano. Acrescentou ter
sido, ainda, amplamente noticiado o consenso dos ministros daquela corte de que só em junho haverá
definição a respeito, a exigir, em qualquer hipótese, a atuação do Congresso Nacional, em se tratando de
datas e balizas fixadas na CF. Reafirmou que uma situação de crise não prescinde de uma permanente
reavaliação das estratégias jurídico-políticas mais efetivas para a preservação da incolumidade da ordem
constitucional.
Concluiu que o risco de fragilização do sistema democrático e do próprio Estado de direito
relacionado à perturbação dos prazos eleitorais, em decorrência do acolhimento da pretensão cautelar,
afigura-se como um risco, a toda evidência, manifestamente mais grave do que o prejuízo alegado em
razão da manutenção dos prazos nas circunstâncias atuais. No equacionamento da controvérsia, a
importância intrínseca do processo democrático e o valor sagrado do sufrágio não devem ser esquecidos.
Vencido o ministro Marco Aurélio que extinguiu a ação por julgá-la inadequada. Segundo o
ministro, a disciplina da matéria — adiamento de atos alusivos ao calendário eleitoral — cabe ao Poder
Legislativo.

(1) Lei 9.504/1997: “Art. 9º Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva
circunscrição pelo prazo de seis meses e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo.”
(2) Lei Complementar 64/1990: “Art. 1º São inelegíveis: (...) IV – para Prefeito e Vice-Prefeito: a) no que lhes for
aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e
Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para a desincompatibilização; b) os
membros do Ministério Público e Defensoria Pública em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito, sem
prejuízo dos vencimentos integrais; c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício no Município, nos 4 (quatro) meses
anteriores ao pleito; V – para o Senado Federal: a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República
especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tratar de repartição pública, associação
ou empresa que opere no território do Estado, observados os mesmos prazos; b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis
para os cargos de Governador e Vice-Governador, nas mesmas condições estabelecidas, observados os mesmos prazos; (...) VII –
para a Câmara Municipal: a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal e para a
Câmara dos Deputados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização; b) em cada Município, os inelegíveis
para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização.”

ADI 6359 Ref-MC/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 14.5.2020. (ADI-6359)

Sessões Ordinárias Extraordinária Julgamentos Julgamentos por meio


s eletrônico*

555
Em curso Finalizado
s
Pleno 13.05.202 14.05.2020 1 4 187
0
1ª Turma — — — — 151
2ª Turma — — — — 131

* Emenda Regimental 52/2019-STF. Sessão virtual de 8 a 14 de maio de 2020.

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS


DJE DE 11 A 15 DE MAIO DE 2020

ADI 6.222
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar
a inconstitucionalidade do art. 3º, §§ 2º a 5º e § 8º; e do trecho "bem como a saída de massas e biscoitos
derivados de farinha de trigo efetuada por indústrias pertencentes à produção integrada" do art. 6º do
Decreto 31.109/2013, do Estado do Ceará, com as alterações dos Decretos 31.288/2013 e 32.259/2017,
nos termos do voto do Relator. O Ministro Roberto Barroso acompanhou o Relator com ressalvas. Não
participou deste julgamento, por motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello
(art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de 10.4.2020 a 17.4.2020.
Ação direta de inconstitucionalidade. Tributário 2. Decreto 31.109/2013, do Estado do Ceará, com as
alterações promovidas pelos Decretos 31.288/2013 e 32.259/2017. 3. ICMS. Produtos derivados do trigo.
4. Instituição de regime de substituição tributária com diferenciação da base de cálculo entre indústrias
com produção no Estado do Ceará (indústria com produção integrada) e as demais indústrias. 5. Benefício
fiscal. 6. Ausência de convênio interestadual, conforme exigido pelo art. 155, § 2º, XII, “g”, da
Constituição Federal. 7. Tratamento diferenciado em razão da procedência. Afronta ao art. 152 da
Constituição Federal. 8. Ofensa ao princípio da neutralidade fiscal, previsto no art. 146-A da Constituição
Federal. 9. Ação direta julgada procedente.

ADI 3.199
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a
inconstitucionalidade do art. 2º; do art. 5º; do art. 7º, parágrafo único e alínea “b”; do art. 10, II e XII; e
do art. 11, todos da Lei Complementar do Estado de Mato Grosso nº 98/2001, com efeito ex nunc,
fixando-se a seguinte tese de julgamento: “A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível
superior constitui ascensão funcional, vedada pelo art. 37, II, da CF/88”, nos termos do voto do Relator,
vencido parcialmente o Ministro Marco Aurélio apenas quanto à modulação dos efeitos da decisão.
Falaram: pelo amicus curiae Sindicato dos Profissionais da Tributação, Arrecadação e Fiscalização de
Mato Grosso - SIPROTAF, o Dr. Cláudio Pereira de Souza Neto; pelo amicus curiae Sindicato dos Fiscais
de Tributos Estaduais de Mato Grosso, o Dr. Marcus Vinicius Furtado Coêlho; e, pelo amicus curiae
Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, o Dr. Francisco Edmilson de Brito Junior. Não
participou deste julgamento, por motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello
(art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de 10.4.2020 a 17.4.2020.
Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
UNIFICAÇÃO DE CARREIRAS. PROVIMENTO DERIVADO. SÚMULA VINCULANTE Nº 43.
INCONSTITUCIONALIDADE. 1. A Lei Complementar nº 98/2001, do Estado de Mato Grosso, unificou
as carreiras de “Agente Arrecadador de Tributos Estaduais” e de “Agente de Fiscalização e Arrecadação
de Tributos Estaduais” em carreira única denominada “Agente de Tributos Estaduais”, reunindo cargos
com atribuições e requisitos de ingresso distintos em uma mesma carreira. 2. Hipótese de provimento
derivado que viola a regra do concurso público para acesso a cargo efetivo (art. 37, II, CF/88 e Súmula
Vinculante nº 43). 3. O art. 10 da referida lei, que atribui aos Agentes de Tributos Estaduais competências
para constituição do crédito tributário viola o disposto nos arts. 37, II e XXII, da CF/88. 4. A lei em
exame vigorou por mais de 18 (dezoito) anos, com presunção formal de constitucionalidade. Nesse
contexto, atribuição de efeitos retroativos à declaração de inconstitucionalidade promoveria ônus
excessivo e indesejável aos servidores admitidos com fundamento nas normas impugnadas. 5. Ação
Direta de Inconstitucionalidade cujo pedido se julga procedente, com modulação de efeitos temporais a

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partir da publicação do acórdão. 6. Tese de julgamento: “A equiparação de carreira de nível médio a outra
de nível superior constitui ascensão funcional, vedada pelo art. 37, II, da CF/88”.

ADI 3.931
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou improcedente a ação direta de inconstitucionalidade, nos termos
do voto da Relatora, vencido o Ministro Marco Aurélio. Falaram: pelo amicus curiae Associação Nacional
dos Procuradores do Trabalho - ANPT, o Dr. Mauro de Azevedo Menezes; e, pelo amicus curiae
Confederação Nacional do Sistema Financeiro - CONSIF, a Dra. Isabel Bueno. Não participou deste
julgamento, por motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da
Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de 10.4.2020 a 17.4.2020.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 21- A DA LEI N. 8.213/1991 E §§
3º E 5º A 13 DO ART. 337 DO REGULAMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. ACIDENTE DE
TRABALHO. ESTABELECIMENTO DE NEXO ENTRE O TRABALHO E O AGRAVO PELA
CONSTATAÇÃO DE RELEVÂNCIA ESTATÍSTICA ENTRE A ATIVIDADE DA EMPRESA E A
DOENÇA. PRESUNÇÃO DA NATUREZA ACIDENTÁRIA DA INCAPACIDADE. AUSÊNCIA DE
OFENSA AO INC. XIII DO ART. 5º, AO INC. XXVIII DO ART. 7º, AO INC. I E AO § 1º DO ART. 201
DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
JULGADA IMPROCEDENTE. 1. É constitucional a previsão legal de presunção de vínculo entre a
incapacidade do segurado e suas atividades profissionais quando constatada pela Previdência Social a
presença do nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, podendo ser elidida pela perícia
médica do Instituto Nacional do Seguro Social se demonstrada a inexistência. 2. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente.

ADI 5.080
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para
declarar a inconstitucionalidade da Lei estadual 12.069/2004, em sua redação original, e do artigo 5º da
Lei estadual 12.585/2006, todas do Estado do Rio Grande do Sul, com eficácia ex nunc a partir da data do
presente julgamento, nos termos do voto do Relator, vencidos parcialmente os Ministros Edson Fachin e
Marco Aurélio apenas quanto à modulação dos efeitos da decisão. Não participou deste julgamento, por
motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019).
Plenário, Sessão Virtual de 3.4.2020 a 14.4.2020.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL 12.069/2004, EM
SUA REDAÇÃO ORIGINAL, ARTIGO 5º DA LEI ESTADUAL 12.585/2006, AMBAS DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL. DISPONIBILIZAÇÃO AO ESTADO DE 85% DOS RECURSOS DE
DEPÓSITOS JUDICIAIS PARA FINALIDADES DISCRICIONÁRIAS. DESACORDO COM AS
NORMAS FEDERAIS DE REGÊNCIA. INVASÃO DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA
LEGISLAR SOBRE DIREITO PROCESSUAL E SOBRE NORMAS GERAIS DE DIREITO
FINANCEIRO (ARTIGOS 22, I, E 24, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE CONHECIDA E JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO.
MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO. 1. A administração da conta dos depósitos judiciais e
extrajudiciais, porquanto constitui matéria processual e direito financeiro, insere-se na competência
legislativa da União. Precedentes: ADI 2.909, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJe de 11/6/2010; ADI
3.125, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJe de 18/6/2010; ADI 5.409-MC-Ref, Rel. Min. Edson Fachin,
Plenário, DJe de 13/5/2016; ADI 5392-MC, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 19/9/2016; ADI 5.072-MC,
Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 16/2/2017. 2. A iniciativa de lei visando a disciplinar o sistema
financeiro de conta de depósitos judiciais não cabe ao Poder Judiciário, mercê de a recepção e a gestão
dos depósitos judiciais terem natureza administrativa, não consubstanciando atividade jurisdicional.
Precedente: ADI 2.855, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, DJe de 12/5/2010. 3 In casu, a Lei
12.069/2004, do Estado do Rio Grande do Sul, em sua redação original e com as alterações da Lei
estadual 12.585/2006, ao autorizar a disponibilização ao Estado de percentual dos recursos dos depósitos
judiciais efetuados perante a Justiça estadual, bem como ao disciplinar sua utilização pelo Poder
Executivo, usurpa competência da União para legislar sobre direito processual (artigos 22, I, da
Constituição Federal). 4. As leis estaduais sub examine, ao permitirem a utilização dos recursos de
depósitos judiciais em percentual superior ao previsto na legislação nacional, e ainda para finalidades
discricionárias, bem como ao estabelecer o repasse de rendimentos dos depósitos judiciais ao Fundo de
Reaparelhamento do Poder Judiciário, contrariam o âmbito normativo das normas em vigor (artigo 101,
§§ 2º, I e II, e 3º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e Lei Complementar federal
151/2015) e da Lei federal 10.482/2002, vigente à época da edição da Lei estadual impugnada, e invade a

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competência da União para legislar sobre direito processual e sobre normas gerais de direito financeiro
(artigos 22, I, e 24, I, da Constituição Federal). 5. A segurança jurídica impe a modulação dos efeitos da
declaração de inconstitucionalidade das leis estaduais objurgadas, a fim de que a sanatória de um vício
não propicie o surgimento de panorama igualmente inconstitucional, máxime porque as normas
possibilitaram ao Poder Executivo estadual a utilização de percentual dos recursos em finalidades não
previstas na legislação federal, que poderiam ficar desamparadas pela aplicação fria da regra da nulidade
retroativa. 6. Ação direta de inconstitucionalidade CONHECIDA e julgado PROCEDENTE o pedido,
para declarar a inconstitucionalidade da Lei estadual 12.069/2004, em sua redação original, e do artigo 5º
da Lei estadual 12.585/2006, todas do Estado do Rio Grande do Sul, com eficácia ex nunc, a partir da
data do presente julgamento.

ADI 5.391
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ação direta para
conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 5º da Lei n° 13.464/2017, para fixar a exegese de
que os cargos de Analista Tributário e de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil configuram carreiras
distintas que não se confundem, nos termos do voto da Relatora, vencido o Ministro Marco Aurélio.
Falou, pelo amicus curiae Sindicato Nacional dos Analistas Tributários da Receita Federal do Brasil -
SINDIRECEITA, o Dr. Antonio Nabor Areias Bulhões. Não participou deste julgamento, por motivo de
licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário,
Sessão Virtual de 10.4.2020 a 17.4.2020.
EMENTA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO ADMINISTRATIVO.
SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. PERTINÊNCIA
TEMÁTICA. ART. 103, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. ALEGAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DO ARTIGO 5º DA LEI Nº 10.593, DE 6 DE DEZEMBRO
DE 2002, COM AS ALTERAÇÕES POSTERIORES. AUSÊNCIA DE ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL.
MODIFICAÇÃO MERAMENTE TERMINOLÓGICA. O ARTIGO 5º DA LEI N° 13.464/2017
APENAS CONFERIU NOVA DENOMINAÇÃO À CARREIRA, DORAVANTE CARREIRA
TRIBURÁRIA E ADUANEIRA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, COMPOSTA DOS CARGOS
DE AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL E DE ANALISTA TRIBUTÁRIO DA
RECEITA FEDERAL DO BRASIL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO EXAME DO MÉRITO.
JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DESTE SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE IMPEDE
ASCENSÃO, TRANSFERÊNCIA, ENQUADRAMENTO, MUDANÇA OU TRANSFORMAÇÃO EM
OUTRO CARGO. SÚMULA VINCULANTE Nº 43 DESTA CORTE. IMPRECISÃO
TERMINOLÓGICA: USO DO CONCEITO DE CARREIRA DE MODO APARTADO DO SEU
SENTIDO CONSTITUCIONAL. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO.
PROCEDÊNCIA PARCIAL. 1. Legitimidade ativa ad causam da Associação Nacional dos Auditores-
Fiscais da Receita Federal do Brasil – UNAFISCO NACIONAL (art. 103, IX, da Constituição da
República). Exemplo nítido de representatividade de uma categoria profissional. Reconhecimento da
pertinência temática com o objeto da demanda. Entidade representativa, em âmbito nacional, dos
interesses dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil, ou seja, de uma inteira classe, e não de uma
representação parcial ou fracionária. 2. O objeto de controle da presente ação direta de
inconstitucionalidade permanece o art. 5º da Lei n° 10.593/2002, com as alterações posteriores, que foram
meramente terminológicas, sem acarretar alteração substancial na composição nem na estrutura da
Carreira impugnada. Ausência de prejuízo ao exame do mérito. 3. Alegação de inconstitucionalidade
material do artigo 5º da Lei nº 13.464/2017, que conferiu nova denominação à carreira de que trata o art.
5º da Lei nº 10.593, de 6 de dezembro de 2002, que passou a ser chamada de Carreira Tributária e
Aduaneira da Receita Federal do Brasil, composta dos cargos de Auditor-Fiscal da Receita Federal do
Brasil e de Analista Tributário da Receita Federal do Brasil. À luz do conceito de carreira, podem ser
identificadas a lato sensu, atinente à Carreira Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil, que,
como grande carreira guarda-chuva, compõe-se dos dessemelhantes e independentes cargos de Auditor-
Fiscal da Receita Federal do Brasil e de Analista Tributário da Receita Federal do Brasil, ambos de nível
superior e organizados em carreira, stricto sensu. Os Auditores Fiscais possuem uma carreira organizada
em várias classes. O mesmo ocorre com os Analistas Tributários: classes com remunerações distintas que
compõem o escalonamento da carreira em sentido estrito. Não há falar em ascensão, transferência,
enquadramento, mudança ou transformação em outro cargo, ainda que sob o manto denominador único de
Carreira Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil, forte na jurisprudência consolidada deste
Supremo Tribunal Federal e na Súmula Vinculante nº 43. 4. Uma vez realizado o concurso para Analista
Tributário, o único percurso possível é o de evolução funcional por meio da promoção dentro desta
carreira específica. Vedado galgar outro cargo – o de Auditor-Fiscal – sem a realização de prévio concurso

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público, mesmo que componente da mesma grande carreira (lato sensu). Inexistente elo ou continuidade
entre os dois cargos que integram a Carreira Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil, afigura-
se inconstitucional a interpretação que oriente à concessão de aposentadoria com base em um sentido de
carreira que não seja aquele stricto sensu. Permanecem paralelas e impenetráveis – salvo mediante
concurso público – as carreiras stricto sensu de Analista Tributário e de Auditor-Fiscal, sem que se possa
atribuir à grande Carreira Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil o sentido que permita a
contagem de tempo de carreira para fins de aposentadoria, conforme previsto no artigo 3º da Emenda
Constitucional nº 47/2005. A legislação objeto da presente ação direta de inconstitucionalidade, ao se
valer do termo carreira, o fez de modo genérico, em sentido amplo, a significar simplesmente o quadro de
pessoal estruturado em cargos díspares entre si. Tal emprego terminológico não tem o alcance que
expresse a carreira em sentido estrito, a denotar a organização dos cargos em um percurso evolutivo
funcional que permita a promoção do servidor público e, por fim, a sua aposentadoria. Impõe-se restringir
este emprego de carreira ao seu sentido amplo, a fim de afastar equivocadas interpretações que lhe
possam inquinar o vício de inconstitucionalidade, por afronta à exigência da prévia aprovação em
concurso público para investidura em cargo público (art. 37, II, da Lei Maior) e aos princípios da
legalidade, da moralidade e da eficiência administrativa (art. 37, caput, da Constituição da República).
Viável dar interpretação conforme a Constituição à expressão Carreira Tributária e Aduaneira da Receita
Federal do Brasil, porque o seu uso no texto normativo impugnado não guarda conformidade e
convergência com carga semântica constitucionalmente estabelecida para a palavra carreira. Deve-se
limitar a expressão Carreira Tributária e Aduaneira da Receita Federal do Brasil ao sentido amplo,
condizente com quadro de pessoal, composto das carreiras em sentido estrito dos cargos de Analista
Tributário e de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, distintas entre si, excluindo, portanto,
qualquer interpretação que lhe confira o sentido estrito correspondente a escalonamento de cargos de
forma verticalizada a proporcionar evolução funcional para fins de promoção ou mesmo aposentadoria. 5.
Pedido julgado parcialmente procedente, para conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 5º da
Lei n° 13.464/2017, para fixar a exegese de que os cargos de Analista Tributário e de Auditor-Fiscal da
Receita Federal do Brasil configuram carreiras distintas que não se confundem.

ADI 5.416
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado
para declarar a inconstitucionalidade das expressões "e o Procurador-Geral da Justiça", no caput do artigo
57, e "e ao Procurador-Geral da Justiça", no parágrafo segundo do mesmo artigo, da Constituição do
Estado do Espírito Santo, nos termos do voto do Relator. Não participou deste julgamento, por motivo de
licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 27.3.2020 a 2.4.2020.
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Constituição do Estado do Espírito Santo. Emenda 8/1996. 3.
Convocação do Procurador Geral da Justiça para prestar informações, sob pena de crime de
responsabilidade. 4. Não podem os Estados-membros ampliar o rol de autoridades sujeitas à convocação
pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade, por violação ao princípio da simetria e à
competência privativa da União para legislar sobre o tema. Precedentes. 5. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade das expressões “e o
Procurador-Geral da Justiça” e “e ao Procurador-Geral da Justiça”, no caput e no parágrafo segundo do
artigo 57 da Constituição do Estado do Espírito Santo.

ADI 5.456
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para
declarar a inconstitucionalidade da Lei estadual nº 12.069/2004, em sua redação original, do artigo 5º da
Lei estadual nº 12.585/2006, e da Lei estadual nº 14.738/2015, todas do Estado do Rio Grande do Sul,
com eficácia ex nunc a partir da data do presente julgamento, nos termos do voto do Relator, vencidos
parcialmente os Ministros Edson Fachin e Marco Aurélio apenas quanto à modulação dos efeitos da
decisão. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro
Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de 3.4.2020 a 14.4.2020.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL 12.069/2004, EM
SUA REDAÇÃO ORIGINAL, ARTIGO 5º DA LEI ESTADUAL 12.585/2006 E LEI ESTADUAL
14.738/2015, TODAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. DISPONIBILIZAÇÃO AO ESTADO
DE 95% DOS RECURSOS DE DEPÓSITOS JUDICIAIS PARA FINALIDADES DISCRICIONÁRIAS.
DESACORDO COM AS NORMAS FEDERAIS DE REGÊNCIA. INVASÃO DA COMPETÊNCIA DA
UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO PROCESSUAL E SOBRE NORMAS GERAIS DE
DIREITO FINANCEIRO (ARTIGOS 22, I, E 24, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). AÇÃO DIRETA

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DE INCONSTITUCIONALIDADE CONHECIDA E JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO.
MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO. 1. A administração da conta dos depósitos judiciais e
extrajudiciais, porquanto constitui matéria processual e direito financeiro, insere-se na competência
legislativa da União. Precedentes: ADI 2.909, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJe de 11/6/2010; ADI
3.125, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJe de 18/6/2010; ADI 5.409-MC-Ref, Rel. Min. Edson Fachin,
Plenário, DJe de 13/5/2016; ADI 5392-MC, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 19/9/2016; ADI 5.072-MC,
Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 16/2/2017. 2. A iniciativa de lei visando a disciplinar o sistema
financeiro de conta de depósitos judiciais não cabe ao Poder Judiciário, mercê de a recepção e a gestão
dos depósitos judiciais terem natureza administrativa, não consubstanciando atividade jurisdicional.
Precedente: ADI 2.855, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, DJe de 12/5/2010. 3 In casu, a Lei
12.069/2004, do Estado do Rio Grande do Sul, em sua redação original e com as alterações das Leis
estaduais 12.585/2006 e 14.738/2015, ao autorizar a disponibilização ao Estado de percentual dos
recursos dos depósitos judiciais efetuados perante a Justiça estadual, bem como ao disciplinar sua
utilização pelo Poder Executivo, usurpa competência da União para legislar sobre direito processual
(artigos 22, I, da Constituição Federal). 4. As leis estaduais sub examine, ao permitirem a utilização dos
recursos de depósitos judiciais em percentual superior ao previsto na legislação nacional, e ainda para
finalidades discricionárias, bem como ao estabelecer o repasse de rendimentos dos depósitos judiciais ao
Fundo de Reaparelhamento do Poder Judiciário, contrariam o âmbito normativo das normas em vigor
(artigo 101, §§ 2º, I e II, e 3º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e Lei Complementar
federal 151/2015) e da Lei federal 10.482/2002, vigente à época da edição da Lei estadual impugnada, e
invade a competência da União para legislar sobre normas gerais de direito financeiro (artigo 24, I, da
Constituição Federal). 5. A segurança jurídica impe a modulação dos efeitos da declaração de
inconstitucionalidade das leis estaduais objurgadas, a fim de que a sanatória de um vício não propicie o
surgimento de panorama igualmente inconstitucional, máxime porque as normas possibilitaram ao Poder
Executivo estadual a utilização de percentual dos recursos em finalidades não previstas na legislação
federal, que poderiam ficar desamparadas pela aplicação fria da regra da nulidade retroativa. 6. Ação
direta de inconstitucionalidade CONHECIDA e julgado PROCEDENTE o pedido, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei estadual 12.069/2004, em sua redação original, do artigo 5º da Lei estadual
12.585/2006, e da Lei estadual 14.738/2015, todas do Estado do Rio Grande do Sul, com eficácia ex
nunc, a partir da data do presente julgamento.

ADI 5.484
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para
declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 7.675/2014 do Estado de Alagoas, com eficácia ex nunc a partir
da data do presente julgamento, nos termos do voto do Relator, vencido parcialmente o Ministro Marco
Aurélio, apenas quanto à modulação dos efeitos da decisão. Não participou deste julgamento, por motivo
de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019).
Plenário, Sessão Virtual de 3.4.2020 a 14.4.2020.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 7.675/2014 DO ESTADO DE
ALAGOAS. EXIGÊNCIA DE DIPLOMA DE LICENCIATURA ESPECÍFICA PARA A DOCÊNCIA DA
DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE ESTADUAL DE
ENSINO. CONTRARIEDADE EM RELAÇÃO AO ARTIGO 62 DA LEI FEDERAL 9.394/1996 (LEI
DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL). USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA
PRIVATIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
NACIONAL (ARTIGO 22, XXIV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
AMPLA ACESSIBILIDADE A CARGOS PÚBLICOS. VEDAÇÃO DA EXIGÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DE INSCRIÇÃO OU REGISTRO EM CONSELHO PROFISSIONAL NOS
EDITAIS DE CONCURSOS PÚBLICOS PARA O PROVIMENTO DAS VAGAS DE PROFESSOR DE
EDUCAÇÃO FÍSICA. CONTRARIEDADE EM RELAÇÃO À LEI FEDERAL 9.696/1998.
USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE
CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE PROFISSÕES (ARTIGO 22, XVI, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL). AÇÃO CONHECIDA E JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO. MODULAÇÃO DOS
EFEITOS DA DECISÃO. 1. O magistério na educação básica, que compreende a educação infantil e o
ensino fundamental e médio, submete-se à competência legislativa privativa da União para legislar sobre
diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV, da Constituição Federal). Precedente: ADI 1399,
Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 3/3/2004, DJ 11/6/2004. 2. A Lei 7.675, de 30 de
dezembro de 2014, de Alagoas, ao dispor sobre a formação específica exigida para a docência de
disciplina na educação básica, exorbita o âmbito normativo da Lei federal 9.394/1996, que dispõe sobre
diretrizes e bases da educação nacional, usurpando competência privativa da União. 3. O princípio

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constitucional da ampla acessibilidade é conformado por lei que estabeleça os requisitos necessários para
o exercício do cargo, emprego ou função públicos, adstritos à obediência das normas constitucionais
pertinentes, como a impessoalidade e a eficiência administrativas (artigo 37, I, da Constituição Federal).
4. Os artigos 1º e 2º, caput, da Lei estadual 7.675/2014, ao exigirem diploma de licenciatura específica
também para o exercício do magistério na educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental,
violam o princípio da ampla acessibilidade a cargos públicos (artigo 37, I, da Constituição Federal),
porquanto estabelecem requisito que excede a natureza e complexidade das atribuições, comprometendo a
competitividade do certame. 5. O livre exercício profissional, atendidas as qualificações estabelecidas em
lei federal, exige disciplina de caráter nacional, não se admitindo a existência de diferenças entre os entes
federados quanto aos requisitos ou condições para o exercício de atividade profissional (artigos 5º, XIII, e
22, XVI, da Constituição Federal). 6. A competência privativa da União para legislar sobre condições para
o exercício de profissões impede que estados-membros e municípios, a pretexto de estipular requisitos
para a ocupação dos respectivos cargos, empregos e funções públicas, estabeleçam normas relativas ao
exercício profissional destoantes daquelas previstas na legislação federal de regência, que, in casu,
estabelece que o exercício das atividades de educação física e a designação de profissional de educação
física é prerrogativa dos profissionais regularmente registrados nos Conselhos Regionais de Educação
Física (artigo 1º da Lei federal 9.696/1998). 7. O parágrafo único do artigo 2º da Lei 7.675/2014 do
Estado de Alagoas, ao vedar a exigência de comprovação de inscrição ou registro em conselho
profissional nos editais de concursos públicos para o provimento das vagas de professor de educação
física, usurpou a competência privativa da União para legislar sobre condições para o exercício de
profissões. Precedentes: ADI 4.387, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, DJe de 10/10/2014; ADI 3.610, Rel.
Min. Cezar Peluso, Plenário, DJ de 22/9/2011; ADI 3.587, Rel. Min. Gilmar Mendes, Plenário, DJ de
22/2/2008. 8. A segurança jurídica impõe a modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade
da Lei estadual 7.675/2014, a fim de que a sanatória de um vício não propicie o surgimento de panorama
igualmente inconstitucional, máxime porque a anulação dos concursos públicos realizados tem potencial
de causar prejuízo aos alunos da educação básica estadual, em razão da possível insuficiência de
professores para ministrar a disciplina de educação física, de modo que a aplicação fria da regra da
nulidade retroativa implicaria desamparo ao direito constitucional à educação. 10. Ação direta de
inconstitucionalidade CONHECIDA e julgado PROCEDENTE o pedido, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 7.675/2014 do Estado de Alagoas, com eficácia ex nunc a partir da data do
presente julgamento.

ADI 5.747
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu parcialmente da ação direta e, nesta parte, julgou procedente
o pedido para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 12.787/2007 do Estado de São Paulo e, por
arrastamento, do Decreto nº 52.780/2008 do Estado de São Paulo, com eficácia ex nunc, a partir da data
do presente julgamento, nos termos do voto do Relator, vencidos parcialmente os Ministros Edson Fachin
e Marco Aurélio no tocante à modulação de efeitos. Falou, pelo interessado Governador do Estado de São
Paulo, o Dr. Celso Alves de Resende Junior. Não participou deste julgamento, por motivo de licença
médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão
Virtual de 3.4.2020 a 14.4.2020.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 12.787/2007 DO ESTADO DE
SÃO PAULO E DECRETO ESTADUAL REGULAMENTADOR 52.780/2008. TRANSFERÊNCIA AO
ESTADO DE 70% DOS DEPÓSITOS JUDICIAIS E ADMINISTRATIVOS REFERENTES A
PROCESSOS EM QUE O ESTADO SEJA PARTE, PARA FINS DE INVESTIMENTOS E
INFORMATIZAÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO, PAGAMENTO
DE PRECATÓRIOS E OBRIGAÇÕES DE PEQUENO VALOR, SEGURANÇA PÚBLICA, SISTEMA
PENITENCIÁRIO, REFORMA E CONSTRUÇÃO DE FÓRUNS, ESTRADAS VICINAIS, OBRAS DE
INFRAESTRUTURA URBANA, DE SANEAMENTO BÁSICO E AUXÍLIO A HOSPITAIS.
DESACORDO COM AS NORMAS FEDERAIS DE REGÊNCIA. INVASÃO DA COMPETÊNCIA DA
UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO PROCESSUAL E NORMAS GERAIS DE DIREITO
FINANCEIRO (ARTIGOS 22, I, E 24, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). DECRETOS ESTADUAIS
46.933/2002 E 51.634/2007. EFICÁCIA NORMATIVA EXAURIDA. DECRETOS ESTADUAIS
61.460/2015 E 62.411/2017 E PORTARIA 9.397/2017 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO. ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS. AUSÊNCIA DE AUTONOMIA NORMATIVA.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA
PARTE, JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO. MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO. 1. A
administração da conta dos depósitos judiciais e extrajudiciais, porquanto constitui matéria processual e
direito financeiro, insere-se na competência legislativa da União. Precedentes: ADI 2.909, Rel. Min.

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Ayres Britto, Plenário, DJe de 11/6/2010; ADI 3.125, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJe de 18/6/2010;
ADI 5.409-MC-Ref, Rel. Min. Edson Fachin, Plenário, DJe de 13/5/2016; ADI 5392-MC, Rel. Min. Rosa
Weber, DJe de 19/9/2016; ADI 5.072-MC, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 16/2/2017. 2. A iniciativa de
lei visando disciplinar o sistema financeiro de conta de depósitos judiciais não cabe ao Poder Judiciário,
mercê de a recepção e a gestão dos depósitos judiciais terem natureza administrativa, não
consubstanciando atividade jurisdicional. Precedente: ADI 2.855, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, DJe
de 12/5/2010. 3. In casu, a Lei 12.787, de 27 de dezembro de 2007, do Estado de São Paulo, ao autorizar
a transferência à conta única do Tesouro do Estado de 70% (setenta por cento) dos depósitos judiciais e
administrativos referentes a processos em que o Estado seja parte, bem como ao disciplinar sua utilização
pelo Poder Executivo, usurpa competência da União para legislar sobre direito processual (artigos 22, I,
da Constituição Federal). 4. A lei estadual sub examine, ao permitir a utilização de percentual dos
recursos de depósitos judicias e administrativos em finalidades não previstas na legislação federal, como
investimentos e informatização do Tribunal de Justiça e do Ministério Público, pagamento de precatórios
e obrigações de pequeno valor, segurança pública, sistema penitenciário, reforma e construção de fóruns,
estradas vicinais, obras de infraestrutura urbana, de saneamento básico e auxílio a hospitais, contraria o
âmbito normativo da Lei 11.429, de 26 de dezembro de 2006, lei federal de regência à época de sua
edição, bem como as normas federais em vigor (artigo 101, §§ 2º, I e II, e 3º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias e Lei Complementar federal 151/2015), o que configura invasão da
competência da União para legislar sobre normas gerais de direito financeiro (artigo 24, I, da Constituição
Federal). 5. A segurança jurídica impõe a modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade
da Lei estadual 12.787/2007 e do Decreto 52.780/2008 que a regulamenta, a fim de que a sanatória de um
vício não propicie o surgimento de panorama igualmente inconstitucional, máxime porque as normas
vigeram por mais de uma década, possibilitando ao Poder Executivo estadual a utilização de percentual
dos recursos de depósitos em finalidades sociais que poderiam ficar desamparadas pela aplicação fria da
regra da nulidade retroativa. 6. Os Decretos 46.933/2002 e 51.634/2007 do Estado de São Paulo foram
editados com vistas a regulamentar, no âmbito estadual, a aplicação das Leis federais 10.482/2002 e
11.429/2006, revogadas ao tempo da propositura da presente ação, não podendo ser objeto de ação direta
de inconstitucionalidade, por terem sua eficácia normativa exaurida. Precedentes: ADI 4.365, Rel. Min.
Dias Toffoli, Plenário, DJe de 8/5/2015; ADI 4.663-MCRef, Rel. Min. Luiz Fux, Plenário, DJe de
16/12/2014. 7. Os Decretos 61.460/2015 e 62.411/2017 do Estado de São Paulo e a Portaria 9.397/2017
do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo regulamentam, no âmbito estadual, a aplicação da Lei
Complementar federal 151/2015 e da Emenda Constitucional federal 94/2016, que, embora integrem a
totalidade do complexo normativo que rege a matéria, não foram objeto de impugnação na presente ação,
o que configura vício processual que compromete o conhecimento. Precedentes: ADI 2.595-AgR, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, Plenário, julgado em 18/12/2017; ADI 4.324-AgR, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, Julgado em 18/12/2017; ADI 3.148, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJe de 29/9/2011; ADI
2.422-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJe de 30/10/2014; ADI 2.423-AgR, Rel. Min. Celso de
Mello, Plenário, DJe de 30/10/2014. 8. Os atos regulamentares ou de cunho interno dos órgãos da
Administração não podem ser impugnados em ações de controle concentrado de constitucionalidade,
porquanto a controvérsia a respeito da harmonia de decreto executivo em face da lei que lhe dá
fundamento de validade não caracteriza questão de constitucionalidade, mas sim de legalidade, o que
impede o conhecimento da presente ação quanto à Portaria 9.397, de 28 de março de 2017, do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo. Precedentes: ADI 4.176-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, DJe de
1º/8/2012; ADI 2.862, Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, DJe de 9/5/2008; ADI 3.132, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de 9/6/2006; ADI 996-MC, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJ de
6/5/1994. 9. Ação direta de inconstitucionalidade PARCIALMENTE CONHECIDA e, nesta parte,
julgado PROCEDENTE o pedido, para declarar a inconstitucionalidade da Lei 12.787/2007 do Estado de
São Paulo e, por arrastamento, do Decreto 52.780/2008 do Estado de São Paulo, com eficácia ex nunc, a
partir da data do presente julgamento.

ADI 5.817
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para
declarar a inconstitucionalidade material da Lei Complementar nº 1.260, de 15 de janeiro de 2015, do
Estado de São Paulo, nos termos do voto da Relatora, vencido o Ministro Marco Aurélio. Falaram: pelo
amicus curiae ASSOJURIS - Associação dos Servidores do Poder Judiciário do Estado de São Paulo, o
Dr. Marcos Eduardo Miranda; e, pelo amicus curiae Sindicato União dos Servidores do Poder Judiciário
de São Paulo, o Dr. Eduardo Sergio Labonia Filho. Não participou deste julgamento, por motivo de
licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário,
Sessão Virtual de 10.4.2020 a 17.4.2020.

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EMENTA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO ADMINISTRATIVO.
SERVIDORES PÚBLICOS. LEI COMPLEMENTAR N. 1.260/15 DO ESTADO DE SÃO PAULO.
TRANSFORMAÇÃO E EXTINÇÃO DO CARGO DE AGENTE ADMINISTRATIVO JUDICIÁRIO
EM ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO. PROVIMENTO DERIVADO. IMPOSSIBILIDADE.
OFENSA AO ARTIGO 37, II, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – NECESSIDADE DE
OBSERVÂNCIA DA EXIGÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
IGUALDADE. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DESTE SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
QUE IMPEDE ASCENSÃO, TRANSFERÊNCIA, ENQUADRAMENTO, MUDANÇA OU
TRANSFORMAÇÃO EM OUTRO CARGO. SÚMULA VINCULANTE Nº 43 DESTA CORTE.
PROCEDÊNCIA. 1. Alegação de inconstitucionalidade material da Lei Complementar 1.260/15 do
Estado de São Paulo, que dispõe sobre a transformação e extinção do cargo de Agente Administrativo
Judiciário em Escrevente Técnico Judiciário, ambos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Uma
vez aprovado em concurso e investido no cargo de Agente Administrativo Judiciário é vedado ao servidor
galgar outro cargo – o de Escrevente Técnico Judiciário – sem a realização de prévio concurso público.
Situação caracterizadora de transposição ou reenquadramento de cargos sem concurso público. A Lei
Complementar 1.260/15 do Estado de São Paulo realizou provimento derivado. Inconstitucionalidade por
afronta à exigência da prévia aprovação em concurso público para investidura em cargo público (art. 37,
II, da Lei Maior) e ao princípio da igualdade (art. 5º, caput, da Constituição da República). Incidência da
jurisprudência consolidada deste Supremo Tribunal Federal e da Súmula Vinculante nº 43. 2. Pedido da
ação direta julgado procedente.

ADI 6.068
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
Decisão: O Tribunal, por maioria, converteu o julgamento da cautelar em definitivo de mérito e julgou
procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 17.691/2019
de Santa Catarina, nos termos do voto da Relatora, vencido o Ministro Marco Aurélio. O Ministro Edson
Fachin acompanhou a Relatora com ressalvas. Não participou deste julgamento, por motivo de licença
médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão
Virtual de 10.4.2020 a 17.4.2020.
EMENTA: MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONVERSÃO EM JULGAMENTO DEFINITIVO. LEI N. 17.691/2019 DE SANTA CATARINA.
PROIBIÇÃO A CONCESSIONÁRIAS DE TELECOMUNICAÇÕES DE COMERCIALIZAÇÃO DE
SERVIÇOS DE VALOR ADICIONADO, DIGITAIS, COMPLEMENTARES, SUPLEMENTARES OU
QUALQUER OUTRO DE FORMA AGREGADA A PLANOS DE SERVIÇOS DE
TELECOMUNICAÇÕES. INVASÃO DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO. INC. XI DO ART. 21 E INC.
IV DO ART. 22 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE.

ADI 6.124
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
Decisão: O Tribunal, por maioria, converteu o julgamento da cautelar em definitivo de mérito e julgou
procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 17.691/2019
de Santa Catarina, nos termos do voto da Relatora, vencido o Ministro Marco Aurélio. O Ministro Edson
Fachin acompanhou a Relatora com ressalvas. Não participou deste julgamento, por motivo de licença
médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão
Virtual de 10.4.2020 a 17.4.2020.
EMENTA: MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
CONVERSÃO EM JULGAMENTO DEFINITIVO. LEI N. 17.691/2019 DE SANTA CATARINA.
PROIBIÇÃO A CONCESSIONÁRIAS DE TELECOMUNICAÇÕES DE COMERCIALIZAÇÃO DE
SERVIÇOS DE VALOR ADICIONADO, DIGITAIS, COMPLEMENTARES, SUPLEMENTARES OU
QUALQUER OUTRO DE FORMA AGREGADA A PLANOS DE SERVIÇOS DE
TELECOMUNICAÇÕES. INVASÃO DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO. INC. XI DO ART. 21 E INC.
IV DO ART. 22 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE.

REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA ADPF 620


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Decisão: O Tribunal, por maioria, referendou a liminar concedida para determinar: (i) a suspensão dos
efeitos de quaisquer decisões judiciais que impliquem a constrição de valores oriundos de contas
vinculadas ao Convênio n° 046/2012 – SICONV 775967/2012 para a quitação de obrigações estranhas ao

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objeto desse pacto, bem como (ii) a imediata devolução das verbas já bloqueadas, mas ainda não liberadas
aos destinatários, até o julgamento definitivo da presente arguição de descumprimento de preceito
fundamental, nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio. Não participou deste
julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de
27.3.2020 a 2.4.2020.
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ARGUIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. BLOQUEIOS JUDICIAIS DE VALORES
VINCULADOS A CONVÊNIO ENTRE ESTADO E UNIÃO. 1. Arguição de descumprimento de
preceito fundamental contra decisões judiciais, no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande
do Norte, que determinaram o bloqueio de verbas destinadas à implementação de Tecnologia Social de
Acesso à Água, oriundas de repasses de recursos financeiros da União Federal. 2. Depósitos de recursos
federais promovidos por força do Convênio n° 046/2012 – SICONV 775967/2012, firmado entre o Estado
do Rio Grande do Norte e a União. 3. Verbas bloqueadas, todavia, destinadas ao cumprimento de projetos
sociais especificamente previstos no convênio, consistentes no aprimoramento e desenvolvimento de
capacidades gerenciais na captação e uso de água, sobretudo para populações de baixa renda em contato
com o semiárido. 4. Presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora. Efetividade dos
princípios constitucionais da legalidade orçamentária, da separação dos poderes e da eficiência
administrativa. Risco de, se não suspensos os atos jurisdicionais, continuarem sendo vertidas para
finalidade diversa verbas federais já destinadas, por convênio, ao cumprimento de política pública
socialmente relevante. 5. Precedentes (ADPF 33, Rel. Min. Gilmar Mendes; ADPF 114 MC, Rel. Min.
Joaquim Barbosa; ADPF 405 MC, Rel. Min. Rosa Weber; ADPF 387 MC, Rel. Min. Gilmar Mendes;
ADPF 275, Rel. Min. Alexandre de Moraes). 6. Medida cautelar deferida para: (i) suspender os efeitos de
quaisquer decisões judiciais que impliquem a constrição de valores oriundos de contas do Convênio n°
046/2012 – SICONV 775967/2012 para a quitação de obrigações estranhas a esse pacto; (ii) determinar a
imediata devolução de verbas já bloqueadas, mas ainda não liberadas aos destinatários.

ADPF 90
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ação para
declarar não recepcionada a expressão "não podendo afastar-se sem prévia autorização superior, salvo
para atos e diligências de seus encargos" constante do artigo 244 da Lei Complementar estadual
3.400/1981 do Espirito Santo, nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio, que
julgava improcedente o pedido. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o
Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 27.3.2020 a 2.4.2020.
EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. DIREITO
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ESTATUTO CONSTITUCIONAL DAS LIBERDADES.
OBRIGAÇÃO DE POLICIAL RESIDIR NA SEDE DA UNIDADE EM QUE ATUA.
COMPATIBILIDADE COM A CARTA DE 1988. PROIBIÇÃO DE AUSENTARSE DA COMARCA
COMO REGRA PREVISTA EM ESTATUTO JURÍDICO DE SERVIDOR PÚBLICO. NÃO
RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. ARTIGO 5º, XV E LIV, DA CRFB. ADPF JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental é
cabível para definir a recepção de norma anterior à Constituição de 1988, ex vi do artigo 1º, I, da Lei
9.882/99, restando atendido o requisito da subsidiariedade quando não existir outro meio para sanar a
controvérsia com caráter abrangente e imediato. Precedentes: ADPF 190, Relator Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 29/9/2016; ADPF 33, Relator Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
julgado em 7/12/2005. 2. O estatuto constitucional das liberdades, dentre as quais figura o artigo 5º, XV,
da Constituição, é parâmetro válido de controle em Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental, consoante consignado em diversos precedentes deste Plenário: ADPF 388, Relator Min.
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 9/3/2016; ADPF 187, Relator Min. CELSO DE
MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 15/6/2011; ADPF 130, Relator Min. CARLOS BRITTO, Tribunal
Pleno, julgado em 30/4/2009. 3. A regra que estabelece a necessidade de residência do servidor no
município em que exerce suas funções é compatível com a Constituição de 1988, a qual já prevê
obrigação semelhante para magistrados, nos termos do seu artigo 93, VII (“o juiz titular residirá na
respectiva comarca, salvo autorização do tribunal”). 4. A proibição de saída do município sede da unidade
em que o servidor atua sem autorização do superior hierárquico configura grave violação da liberdade
fundamental de locomoção (artigo 5º, XV, da Constituição de 1988) e do devido processo legal (artigo 5º,
LIV, da Constituição), mercê de constituir medida de caráter excepcional no âmbito processual penal
(artigo 319, IV, do CPP), a revelar a desproporcionalidade da sua expansão como regra no âmbito
administrativo. 5. A investidura em cargo público não afasta a incidência dos direitos e garantias

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fundamentais assegurados pela Carta Magna, consoante já definido pelo Plenário desta Corte mesmo no
âmbito militar (ADPF 291, Relator Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
28/10/2015), de modo que o agente público não pode ficar confinado aos limites do Município no qual
exerce suas funções, submetido ao alvedrio de seus superiores para transitar pelo território nacional. 6.
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental a que se julga PARCIALMENTE
PROCEDENTE para declarar não recepcionada a expressão “não podendo afastar-se sem prévia
autorização superior, salvo para atos e diligências de seus encargos” constante do artigo 244 da Lei
Complementar estadual 3.400/1981 do Espírito Santo.

ADI 3.953
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar
a inconstitucionalidade, in totum, da Lei Distrital nº 3.916/2006, nos termos do voto do Relator. Plenário,
Sessão Virtual de 17.4.2020 a 24.4.2020.
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DISTRITAL 3.916/2006.
REGULAMENTA O EXERCÍCIO DE ATIVIDADES PROFISSIONAIS. CABELELEIRO,
MANICURO, PEDICURO, ESTETICISTA E PROFISSIONAIS DE BELEZA. OFENSA AOS ARTS.
21, XXIV, e 22, I E XVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. I - São
inconstitucionais normas locais que tratam de matérias de competência privativa da União. II - Lei
distrital que reconhece e regulamenta o exercício profissional das atividades de cabeleireiro, manicuro,
pedicuro, esteticista e profissional de beleza. III - Afronta o disposto nos arts. 21, XXIV, e 22, I e XVI, da
Constituição Federal. IV – Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI 5.100
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou parcialmente procedente o
pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do artigo 2º da Lei
nº 15.945/2013 do Estado de Santa Catarina, de forma a excluir do âmbito de aplicação da lei as
condenações judiciais já transitadas em julgado ao tempo de sua publicação, nos termos do voto do
Relator. Falaram: pelo requerente, o Dr. Tullo Cavallazzi Filho; pelo interessado Governador do Estado de
Santa Catarina, o Dr. Weber Luiz de Oliveira, Procurador do Estado; e, pelo amicus curiae Estado de São
Paulo, o Dr. Rodrigo Trindade Castanheira Menicucci, Procurador do Estado. Plenário, Sessão Virtual de
17.4.2020 a 24.4.2020.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL.
ARTIGOS 1º E 2º DA LEI 15.945/2013 DO ESTADO DE SANTA CATARINA. REDUÇÃO DO TETO
DAS OBRIGAÇÕES DE PEQUENO VALOR PARA 10 (DEZ) SALÁRIOS MÍNIMOS. A VIGÊNCIA
DO REGIME ESPECIAL DE PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS PREVISTO NO ARTIGO 97 DO
ADCT NÃO SUSPENDEU A COMPETÊNCIA DOS ENTES FEDERADOS PARA ALTERAR O TETO
DAS REQUISIÇÕES DE PEQUENO VALOR. POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE VALOR
INFERIOR AO DO ARTIGO 87 DO ADCT PARA AS OBRIGAÇÕES DE PEQUENO VALOR,
SEGUNDO A CAPACIDADE ECONÔMICA DOS ENTES FEDERADOS. JUÍZO POLÍTICO.
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE IRRAZOABILIDADE. APLICAÇÃO DA REDUÇÃO DO
TETO DAS REQUISIÇÕES DE PEQUENO VALOR ÀS CONDENAÇÕES JUDICIAIS JÁ
TRANSITADAS EM JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. OFENSA À SEGURANÇA JURÍDICA. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE CONHECIDA E JULGADO PARCIALMENTE
PROCEDENTE O PEDIDO. 1. As Requisições de Pequeno Valor - RPV consubstanciam exceção à regra
de pagamento de débitos judiciais pela Fazenda Pública na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, permitindo a satisfação dos créditos de forma imediata. 2.
Os entes federados são competentes para estabelecer, por meio de leis próprias e segundo a sua
capacidade econômica, o valor máximo das respectivas obrigações de pequeno valor, não podendo tal
valor ser inferior àquele do maior benefício do regime geral de previdência social (artigo 100, §§ 3º e 4º,
da Constituição Federal, na redação da Emenda Constitucional 62/2009). 3. O § 12 do artigo 97 do ADCT
é regra transitória que não implicou vedação à modificação dos valores fixados para o limite das
obrigações de pequeno valor, mas, tão-somente, evitou que eventual omissão dos entes federados em
estabelecer limites próprios prejudicasse a implementação do regime especial de pagamento de
precatórios. 4. As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor
em patamares inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em consonância com sua
capacidade econômica. Precedente: ADI 2.868, Redator do acórdão Min. Joaquim Barbosa, Plenário, DJ
de 12/11/2004. 5. A aferição da capacidade econômica do ente federado, para fins de delimitação do teto
para o pagamento de seus débitos por meio de requisição de pequeno valor, não se esgota na verificação

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do quantum da receita do Estado, mercê de esta quantia não refletir, por si só, os graus de endividamento
e de litigiosidade do ente federado. Precedente: ADI 4.332, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Plenário, DJe
de 8/5/2018. 6. In casu, o artigo 1º da Lei 15.945/2013 do Estado de Santa Catarina reduziu o teto das
obrigações de pequeno valor do Estado para 10 (dez) salários mínimos, com a justificativa de que, nos
exercícios de 2011 e 2012, foi despendido, com o pagamento de requisições de pequeno valor no patamar
anterior de 40 (quarenta) salários mínimos, o equivalente aos gastos com os precatórios, em prejuízo à
previsibilidade orçamentária do Estado. 7. A ausência de demonstração concreta da desproporcionalidade
na fixação do teto das requisições de pequeno valor do Estado de Santa Catarina impõe a deferência do
Poder Judiciário ao juízo político-administrativo externado pela legislação impugnada, eis que o teto
estipulado não constitui, inequívoca e manifestamente, valor irrisório. 8. A redução do teto das obrigações
de pequeno valor, por ser regra processual, aplica-se aos processos em curso, mas não pode atingir as
condenações judiciais já transitadas em julgado, por força do disposto no artigo 5º, XXXVI, da
Constituição Federal, que resguarda o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Precedentes: RE 632.550-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de 14/5/2012; RE 280.236-
AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJ de 2/2/2007; RE 293.231, Rel. Min. Maurício
Corrêa, Segunda Turma, DJ de 1º/6/2001; RE 292.160, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma,
DJ de 4/5/2001; RE 299.566-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 1º/3/2002; RE
646.313-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 10/12/2014; RE 601.215-AgR, Rel.
Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 21/2/2013; RE 601.914- AgR, Rel. Min. Celso de Mello,
Segunda Turma, DJe de 25/2/2013. 9. O artigo 2º da Lei 15.945/2013 do Estado de Santa Catarina,
consectariamente, é parcialmente inconstitucional, por permitir a aplicação da redução do teto das
obrigações de pequeno valor às condenações judiciais já transitadas em julgado, em ofensa ao postulado
da segurança jurídica. 10. Ação direta CONHECIDA e julgado PARCIALMENTE PROCEDENTE o
pedido, para declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do artigo 2º da Lei
15.945/2013 do Estado de Santa Catarina, de forma a excluir do âmbito de aplicação da Lei as
condenações judiciais já transitadas em julgado ao tempo de sua publicação.

ACO 967
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação, revogou a decisão que concedeu a
imissão provisória da posse do imóvel em favor da autora, condenando-a ao pagamento de honorários
advocatícios fixados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), com fundamento no art. 85, § 8º, do Código de
Processo Civil. Determinou, ainda, que, transitada em julgado a decisão, seja expedido auto de imissão de
posse da área em favor do Estado de Pernambuco, a ser cumprido por meio de carta de ordem, instruída
com os documentos necessários, dentre eles o de fls. 134-5, nos termos do voto da Relatora. O Ministro
Edson Fachin acompanhou a Relatora com ressalvas. Plenário, Sessão Virtual de 17.4.2020 a 24.4.2020.
EMENTA CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. DEMANDA DA
UNIÃO OBJETIVANDO A EXPROPRIAÇÃO DE PROPRIEDADE RURAL ONDE LOCALIZADA
CULTURA ILEGAL DE PLANTA PSICOTRÓPICA. ART. 243 DA CF/88. IMÓVEL PÚBLICO.
PROPRIEDADE DO ESTADO DE PERNAMBUCO. EXPROPRIAÇÃO COM CARÁTER DE
CONFISCO. DESCABIMENTO EM FACE DE BEM PÚBLICO. AÇÃO QUE SE JULGA
IMPROCEDENTE. 1. Dado o caráter sancionatório da medida, pressupõe-se a prática de delito ou sua
aquiescência pelo titular do imóvel, o que se mostra inviável se este é pessoa jurídica de direito público.
2. Não se justifica, para fins da expropriação, com caráter de confisco, de que trata o art. 243 da
Constituição Federal, a invocação da primazia da União sobre os Estados. 3. Em se tratando de bem já
público, sua expropriação para mera alteração de titularidade nada contribui para o alcance da finalidade
do instituto. 4. Ação julgada improcedente.

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
10 A 15 DE MAIO DE 2020

Medida Provisória nº 966, de 13.5.2020 - Dispõe sobre a responsabilização de agentes públicos por ação e
omissão em atos relacionados com a pandemia da covid-19. Publicado no DOU em 14.05.2020, Seção 1,
Edição 91, p. 6.
Lei nº 13.998, de 14.5.2020  - Promove mudanças no auxílio emergencial instituído pela Lei nº 13.982, de
2 de abril de 2020; e dá outras providências. Publicado no DOU em 15.05.2020, Seção 1, Edição 92, p. 2.

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OUTRAS INFORMAÇÕES
10 A 15 DE MAIO DE 2020

Resolução STF nº 681, de 9.5.2020 - Decreta luto no Supremo Tribunal Federal, por três dias, em
memória das mais de dez mil vítimas oficiais da COVID-19.
Decreto nº 10.344, de 11.5.2020 - Altera o Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020, que regulamenta a
Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, para definir os serviços públicos e as atividades essenciais.
Publicado no DOU em 11.05.2020, Seção 1-Extra, Edição 88-A, p. 1.
Resolução STF nº 682, de 12.5.2020 - Prorroga a suspensão de prazos de processos físicos no Supremo
Tribunal Federal.
Supremo Tribunal Federal – STF
Secretaria de Documentação
Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
cdju@stf.jus.br

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