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Desastre de Mariana: um mês de


violações de direitos humanos
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05/12/2015 K

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Passado um mês do maior desastre ambiental da história do país, graves violações


de direitos humanos seguem ocorrendo na região da Bacia do Rio Doce, em Minas
Gerais. O acesso precário à água limpa, à moradia segura para as comunidades
atingidas e a informações confiáveis têm sido a regra desde o rompimento da
barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco, controlada pela Vale e
BHP Billiton, no início de novembro.  

O rio de lama tóxica não apenas condenou o direito à subsistência dos pescadores
e de outros trabalhadores que dependem direta ou indiretamente das águas do rio
Doce, mas revelou, de forma nua e crua, as contradições do atual modelo de
desenvolvimento em relação a justiça social e ambiental, a garantia de direitos e a
proteção da vida das pessoas, animais e ecossistemas.

Ancorado em processos de licitação inconsistentes e incompletos, sem


envolvimento das comunidades diretamente afetadas, sem planos de contingência
estruturados para minimizar impactos de desastres e primando pela falta de
transparência e desrespeito às salvaguardas socioambientais, o rompimento das
barragens era considerado por muitos uma "tragédia anunciada".

Nos últimos dias, algumas medidas judiciais começaram a ser encaminhadas. Em


27 de novembro, os governos federal e dos Estados de Minas Gerais e Espírito
Santo anunciaram ação civil pública contra a Samarco e suas controladoras
(http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/11/1712139-governo-anuncia-
acao-judicial-de-r-20-bi-contra-samarco-vale-e-bhp.shtml) para criar um fundo
de R$ 20 bilhões para iniciativas de minimização dos impactos e indenização. O
Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais declarou a intenção de pedir
bloqueio dos bens da Vale e da BHP caso a Samarco não garanta ajuda financeira
aos pescadores e outros trabalhadores afetados.

Essas e outras iniciativas são cruciais, mas ainda há muito por fazer. Faltam
informações precisas sobre a extensão dos danos ao meio ambiente e à saúde, os
custos de reconstrução das comunidades atingidas e as perspectivas de
despoluição e recuperação da fauna e flora locais. Também não há garantias de
moradia adequada e água limpa e potável para a população atingida –índios e
comunidades ribeirinhas necessitam de especial atenção.

Direitos enfraquecidos

Enquanto o rio de metais pesados se espalha e arrasa vidas em Minas Gerais, em


Brasília os instrumentos legais de proteção ambiental, de direitos de populações
afetadas por grandes empreendimentos e de regulação da indústria extrativa
mineral correm risco de serem ainda mais enfraquecidos.

Os processos vigentes de licenciamento de grandes empreendimentos geralmente


desconsideram as vozes de defensores locais de direitos humanos e de territórios
tradicionais, priorizando a viabilidade econômica acima da responsabilidade
socioambiental e permitindo que as empresas transfiram os custos como poluição,
gestão de resíduos, remoções de populações e outros impactos.

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E até mesmo estes processos débeis de licenciamento estão sendo desmontados:


dias após a tragédia de Minas Gerais, uma Comissão Especial do Senado aprovou
um mecanismo de aceleração de licenciamento ambiental de projetos
considerados estratégicos (http://acritica.uol.com.br/noticias/Manaus-
Amazonas-Amazonia-Avanca-liberacao-licencas-ambientais-
estrategicas_0_1474052602.html), como a usina hidrelétrica de Belo Monte, por
exemplo.

Existe ainda o risco de que o novo Código de Mineração, em tramitação no


Congresso, seja votado a qualquer momento por uma maioria de deputados cujos
dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registram doações de mineradoras em
suas campanhas (http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-
estado/2015/11/16/deputados-que-debatem-acidente-e-lei-de-mineracao-
receberam-r-66-mi-do-setor.htm)eleitorais (http://noticias.uol.com.br/ultimas-
noticias/agencia-estado/2015/11/16/deputados-que-debatem-acidente-e-lei-de-
mineracao-receberam-r-66-mi-do-setor.htm). As comunidades afetadas por
empreendimentos da indústria extrativa mineral temem que o novo Código amplie
os poderes das mineradoras para extrapolarem margens de lucros financeiros e
reduzam compromissos com regulações sociais e ambientais.

O rompimento destas barragens, a flexibilização dos procedimentos de


licenciamento ambiental e as pressões das mineradoras na elaboração do novo
Código de Mineração ocorrem em meio ao forte aumento da participação dos
minérios na pauta de exportações do Brasil, tendo como principal destino a China.

Um desastre com a magnitude do ocorrido em Minas Gerais deveria mudar o curso


da discussão sobre o Código da Mineração e criar um novo paradigma para a
atividade no país, obrigando a indústria a acatar e respeitar compromissos com a
regulação socioambiental. O papel do Estado de regulador e fiscalizador tampouco
poderia ser relativizado: de acordo com as normas internacionais de direitos
humanos, o Estado tem a obrigação de gerar, avaliar, atualizar e disseminar
informação sobre o impacto ao meio ambiente e substâncias e resíduos perigosos,
e as empresas têm a responsabilidade de respeitar os direitos humanos".

Existem centenas de barragens e sítios de mineração em operação em quase todos


os Estados brasileiros. A segurança das comunidades e do meio ambiente no
entorno desses empreendimento deve ser prioridade para governos de todas as
esferas, com o monitoramento e implementação das premissas do licenciamento
pelas empresas responsáveis. O trágico desastre de Minas Gerais e as simultâneas
ameaças de fragilização da regulação ambiental são um alerta sobre os riscos do
atual padrão de desenvolvimento. A sociedade brasileira precisa se mobilizar e
debater a plena garantia de direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais
frente a um modelo extrativista que promove tantos danos e ameaças à vida.

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