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Resumo
Tem como objetivo verificar se a equipe multiprofissional está preparada para cuidar
e atender a demanda de saúde mental na atenção primária a saúde e conhecer as
facilidades e dificuldades da equipe em seu processo de trabalho em duas Unidades
Básicas de Saúde (UBS) de um município do interior paulista. Este estudo pauta-se
na pesquisa descritiva e exploratória amparada nos métodos quantitativo e
qualitativo, utilizado como instrumentos o roteiro de entrevista audiogravável. Os
resultados possibilitaram a comprovação da falta de afinidade e interesse com o
campo de saúde mental, evidenciado pela maioria equipe multiprofissional. Se faz
necessário capacitar as equipes de saúde em alto nível e investir na capacidade
crítica da equipe, focando na promoção da saúde mental, na prevenção, na ajuda ao
doente a enfrentar as pressões e na capacidade de assistir ao paciente, à família e à
comunidade, ajudando-os a encontrarem o verdadeiro sentido da doença que o
acomete.
Abstratct
Introdução
A Reforma Psiquiátrica no Brasil é um movimento histórico de cunho político,
social e econômico influenciado por grupos dominantes. O exercício da reforma
psiquiátrica faz parte do cotidiano de uma quantidade razoável de profissionais que
se dedicam à saúde mental. É defendida com uma maior conscientização da
sociedade, se tornando fruto de maturidade teórica e política alcançada ao longo das
últimas décadas.
O conceito de desinstitucionalização vem sofrendo uma grande metamorfose,
abrindo novas possibilidades da Reforma Psiquiátrica, exigindo que de fato haja um
deslocamento das práticas psiquiátricas para práticas de cuidado ofertado na
comunidade. A questão chave da desinstitucionalização é a devolução à
comunidade da responsabilidade em relação aos seus doentes e aos seus conflitos.
As substituições de manicômios por outras práticas terapêuticas e a cidadania do
doente mental vêm sendo objeto de discussão entre os profissionais de saúde e a
sociedade. Esse conceito restringe à substituição do hospital por um aparato de
cuidados externos envolvendo primordialmente questões de caráter técnico-
administrativo-assistencial.
No Brasil, a reorganização da assistência em saúde mental é recente. Os 15
anos de Reforma Psiquiátrica, traz uma nova perspectiva de tratamento baseada na
valorização do ser humano e no entendimento de que o transtorno mental pode não
ser apenas uma doença, mas também um problema social. Em um novo contexto de
pensamentos toma forma uma rede de assistência psicossocial, que traz
progressos, mas que também sofre críticas.
Junto à Reforma Psiquiátrica, emerge uma responsabilidade ainda mais
evidente, a de se solidarizar com as pessoas, os grupos, as famílias e as
comunidades, tendo como objetivo a cooperação mútua entre os indivíduos na
conservação e na manutenção da saúde. A família tem papel fundamental no
tratamento em saúde mental e no cuidar. Corroborando com este pensamento,
Villela e Scatena (2004) relatam que doar-se faz parte da experiência humana, e
cuidar faz parte da doação e da cientificidade que é esperada diante deste caminhar.
Ao passar dos séculos atribuiu-se à equipe multiprofissional a função de prestar o
melhor cuidado em saúde mental, as assistências acompanham as transformações
ocorridas na prática médica e, paralelamente, às tentativas de incorporação de
novas técnicas e políticas direcionadas ao tratamento do doente mental.
Existe uma tendência ao crescimento acentuado de portadores de transtornos
psíquicos, fazendo-se necessário a criação ou reformulação do cuidar,
principalmente aquele cuidado que é ofertado intimamente e diretamente aos
pacientes. No Brasil, estudos nacionais e estrangeiros indicam uma estimativa de 32
a 50 milhões de pessoas com algum transtorno mental, sendo que as doenças
mentais graves e persistentes atingem 6 e 3,1% dos brasileiros respectivamente. Já
a prevalência de transtornos mentais, para toda a vida, aponta os transtornos de
ansiedade, estados fóbicos, transtornos depressivos e a dependência ao álcool
como os mais frequentes, nessa população (MELLO; MELLO E KOHN, 2007).
Este trabalho tem como objetivo, desvelar o cuidado ofertado pela equipe
multiprofissional ao portador de transtorno psíquico nas Unidades Básicas de Saúde
(UBS) do município de Lins; analisar as ações da equipe relacionando-as com as
propostas da Reforma Psiquiátrica; compreender as ações desenvolvidas frente ao
cuidar, no modelo de atenção psicossocial; e conhecer os facilitadores e
dificultadores da equipe em seu processo de trabalho.
A problemática levantada se faz a partir da pergunta: A equipe
multiprofissional está preparada para cuidar e atender a demanda de saúde mental
na atenção primária?
Em resposta temos a seguinte hipótese: acredita-se que a equipe
multiprofissional tenha como entraves a falta de afinidade com o campo de saúde
mental, formação profissional pautada em doenças agudas, dificuldades do cuidado
embasado nos modelos substitutivos de atenção à saúde mental propostos pela
Reforma Psiquiátrica, já que as mudanças ocorridas nas esferas social, política,
econômica e cultural que hoje impulsionam a Reforma Psiquiátrica não se deram ao
acaso, não há mais possibilidade de um recuo deste movimento, os serviços
substitutos já são uma realidade e exigem a criação de novas formas de cuidar.
Método
Trata-se de uma pesquisa descritiva de caráter exploratório, amparada no
método qualitativo, uma vez que, para Minayo (1994), trata-se de uma investigação
que melhor se coaduna ao reconhecimento de situações particulares, grupos
específicos e universos simbólicos. Ainda para Minayo (1989), no campo da saúde,
a pesquisa qualitativa, oferece subsídios para a compreensão do ponto de vista dos
usuários, profissionais e gestores sobre os mais diferentes aspectos: a lógica do
sistema, a qualidade dos serviços, as concepções envolvidas nas tomadas de
decisões e na prestação de serviços e nas representações sobre saúde,
adoecimento, morte, entre outros temas.
Foram utilizados como instrumentos, o roteiro de estudo de caso e entrevista
audiogravável aos profissionais que compõem a equipe multiprofissional de duas
Unidades Básicas de Saúde.
A pesquisa seguiu os preceitos éticos da Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS) e foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) e
aprovado sob protocolo 1.568.144 em 31 de maio de 2016. Foram convidados para
coleta de dados os profissionais de saúde da equipe multiprofissional de nível médio
ou superior que realizavam assistência direta ao portador de transtorno psíquico,
destes foram excluídos os que não estavam ligados a assistência direta e com
admissão no serviço menor que trinta dias.
A aceitação foi condicionada ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), o qual foi disponibilizado aos sujeitos pelos pesquisadores. A entrevista
audiogravável foi estruturada com quatro questões abertas para discussão dos
profissionais. Após agendamos a entrevista audiogravável para coleta de dados, em
sala privativa e em horário estipulado pelos profissionais, para que não houvesse
prejuízo das atividades locais.
Resultados e Discussão
“...Nada, não sei muito, pois cabe aos familiares cuidar dos
seus próprios doentes em casa, dando atenção, carinho e
amor....” (E6)
“...Nenhuma ação, pois, não prestamos assistência a pacientes
psiquiátricos...” (E9)
Para Martins et al. (2012), o trabalho em equipe está pouco articulado, existe
um grupo que se organiza como equipe, mas se individualiza. Cada profissional
trabalha na sua área de atuação, não planejando e organizando as ações de saúde
mental, juntamente com a equipe multidisciplinar.
É importante que os profissionais desenvolvam as ações em equipe,
valorizando a participação de todos, englobando o portador de transtorno psíquico e
sua família, propiciando o atendimento do usuário de uma forma holística.
Outra dificuldade apresentada pelos profissionais é a falta de adesão ao
tratamento pelo paciente e família. A participação da família é importante tanto no
auxílio do tratamento, como agente transformador da sociedade, o portador de
transtorno psíquico necessita do apoio familiar para vencer as adversidades
apresentadas.
Conclusão
BRASIL. Lei 10216 de Abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Antigo Projeto de Lei Paulo Delgado. Diário Oficial
da União: Poder Executivo, 2001.