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Política

Por Maria Cristina Fernandes


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Cassação da chapa é o labirinto mais curto


Se cabo, soldado e Centrão deixarem, bastam quatro votos no TSE

21/05/2020 05h00 · Atualizado há 3 horas

Das saídas constitucionais para o fim do governo Jair Bolsonaro, a da cassação da


chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral é aquela que parece mais simples. Não carece
de convencer o capitão a renunciar, nem de alargar o funil dos 343 votos
necessários à chancela parlamentar para um processo de impeachment. Bastam
quatro votos. O caminho para esta maioria pró-cassação, porém, é de um sinuoso
labirinto.

São seis os processos que correm no TSE. Tem de tudo lá, mas nenhuma das
acusações agrega maior apelo hoje do que o disparo de mensagens falsas. Andam
com o vagar próprio dos processos da Justiça Eleitoral, mas podem ser pressionados
por duas investigações em curso.

Se cabo, soldado e Centrão deixarem, bastam 4 votos no TSE

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A primeira é aquela que apura a manipulação da investigação do desvio de verbas
no gabinete do senador Flávio Bolsonaro na campanha de 2018. Não tem
repercussão processual para o TSE mas joga água no moinho da percepção de que
um gol de mão contribuiu para o resultado eleitoral. Foi esta, aliás, a tese que
prevaleceu no processo de impeachment de Richard Nixon, abreviado por sua
renúncia.

A segunda investigação é aquela conduzida, no Supremo Tribunal Federal, sobre a


máquina de notícias falsas. Este inquérito pode vir a compartilhar provas com a
Justiça Eleitoral, a exemplo do que aconteceu no processo que julgou a chapa Dilma
Rousseff/Michel Temer.

O inquérito é conduzido, a sete chaves, pelo ministro Alexandre de Moraes. Apesar


de dispor de policiais federais para as investigações, apenas os juízes auxiliares e o
delegado da Polícia Civil de São Paulo lotados em seu gabinete têm acesso ao
conjunto de provas colhidas. O comando é de um ministro que, de tão obcecado por
investigações, fez fama em São Paulo por chegar às 4h da manhã na sede da
Secretaria de Segurança Pública, sob seu comando, para participar de operações
policiais.

Com a saída da ministra Rosa Weber, na segunda-feira, Moraes assume um assento


no TSE. Comporá, junto com Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, que presidirá o
tribunal, a trinca de ministros do Supremo que atuarão como juízes eleitorais no
restante do mandato presidencial.

A nova composição do TSE impulsionou a campanha de 100 entidades que atuam


no campo da corrupção eleitoral (reformapolitica.org.br) pela agilização dos
processos que hoje correm no TSE. Esta campanha pode dar amplitude ao que hoje
está restrito a alguns gabinetes brasilienses. É uma articulação ora favorecida pela
reaproximação de antigos adversários, como os ministros Gilmar Mendes e Luís
Roberto Barroso, ora contida por espantalhos como o artigo do vice-presidente
Hamilton Mourão atacando as instituições.

Ao contrário do que se passou por ocasião do julgamento da chapa Dilma/Temer,


em que a cassação foi derrotada por 4x3, os carpinteiros da tese da separação da
chapa, hoje estão de quarentena. Se for para cassar, que seja o presidente e seu
vice. Por isso, o artigo de Mourão assustou.

Ao proteger o titular do cargo e bater em todas as demais instituições da República,


o vice-presidente, na leitura dos artífices da “saída TSE”, buscou blindagem das
Forças Armadas contra qualquer desfecho que o alije. A ocupação do Ministério da
Saúde e a negociação com o Centrão hoje são vistos como um sinal de que, seja com
Bolsonaro, seja com Mourão, os militares não pretendem arredar pé.

As dúvidas não se limitam à reação da farda em relação à cassação da chapa.


Estende-se à composição do TSE. Ao contrário do tribunal que inocentou Dilma e
Temer, aquele que estará empossado a partir de segunda-feira, conta com três
ministros do Supremo que não são de sentar em cima de provas.

Três ex-ministros do TSE, em anonimato, concordam que o quarto voto não viria de
nenhum dos dois ministros do Superior Tribunal de Justiça com assento na Corte
eleitoral. O mandato do atual relator, Og Fernandes, se encerra em agosto. Como
Fernandes também é o corregedor da Casa, o processo ficará com o futuro
ocupante do cargo, o também ministro do STJ, Luis Felipe Salomão, que passará a
ter, como colega, também no TSE, Mauro Campbell.

Nenhum dos dois desfruta, em Brasília, da mesma reputação do independente


Herman Benjamin, o ministro relator do processo Dilma/Temer que votou pela
cassação. Sobre Salomão pesam ainda as expectativas de que ambiciona uma vaga
no Supremo, situação que o deixaria em pé de igualdade com o procurador-geral
Augusto Aras na condição de personagens-chave a quem o presidente poderia
buscar atrair com as duas vagas que terá a preencher até julho de 2021.
Ainda que ambos venham a jogar no time anti-cassação, o quarto voto poderia ser
buscado nos dois advogados do tribunal. A expectativa de recondução ao cargo,
prerrogativa do presidente da República, pode vir a inibir um deles (Sergio Banhos),
mas é inócua em relação ao segundo (Tarcísio Vieira), que está no último mandato
na Corte. Somados os quatro votos, restaria ainda a dúvida sobre o prosseguimento
do processo com um relator que venha a se mostrar desinteressado no desfecho.

Os percalços não param por aí. A lei diz que se a chapa é cassada no primeiro biênio
do mandato presidencial, faz-se nova eleição. Se for no segundo, convoca-se eleição
indireta, em até 90 dias. “Na forma da lei”, diz a Constituição. Lei esta que não existe.
Teria que ser formatada e votada em pontos sensíveis, como desincompatibilização
e filiação partidária, em meio ao caos de uma pandemia que, além de vidas,
também vitima o bom combate da política.

E, finalmente, o processo de escolha de um presidente-tampão seria conduzido


pelas futuras mesas da Câmara e do Senado, a serem escolhidas num Centrão
repaginado pelo bolsonarismo, visto que os mandatos de Rodrigo Maia e Davi
Alcolumbre se encerram em fevereiro. A pergunta de um ex-ministro do TSE resume
o drama: “Quanto custaria esta eleição”?

Se a pedreira é tão grande, por que a “opção TSE” continua sobre a mesa? Porque
todas as demais saídas parecem tão ou mais difíceis. A ver, porém, se os percalços
permanecerão em pé se o país, no balanço dos milhares de mortos e milhões de
desempregados, decidir que não dá para seguir adiante sem afastar o principal
culpado.

Maria Cristina Fernandes é jornalista do Valor. Escreve às quintas-feiras


E-mail: mcristina.fernandes@valor.com.br

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