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FACULDADE DE DIREITO

Unidade III

ANALISE DO REGIME JURIDICO DA CONCONCORRÊNCIA EM


MOÇAMBIQUE

Estudante: Nhamaze Domingos João

Código: 12-971

Supervisora: Romana Sitoe

Maputo, Maio de 2020


FACULDADE DE DIREITO

ANÁLISE DO REGIME JURÍDICO DA CONCORRÊNCIA EM MOÇAMBIQUE

Estudante: Nhamaze Domingos João

Código: 12-971

Maputo, Maio de 2020


1Conteúdo
21. lntrodução.........................................................................................................................................1

31.1. Contextualização............................................................................................................................1

41.2. Definição do problema e questão de partida.................................................................................1

51.3. Justificativa da escolha do tema.....................................................................................................2

61.4. Objectivos.......................................................................................................................................2

71.4.1. Geral............................................................................................................................................2

81.4.2. Específico.....................................................................................................................................2

91.5. Metodologia...................................................................................................................................2

101.6. Estrutura do Trabalho.....................................................................................................................3

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131. Introdução
14O presente artigo científico tem como tema análise do Regime Jurídico do Direito da
15Concorrência. A concorrência entre os agentes económicos num certo mercado, ocorre desde
16as primeiras trocas comerciais que se tem na memória. E essa concorrência é tão natural que
17sem ela, o comércio perderia a sua essência. Contudo, o espírito da concorrência entre os
18agentes económicos, nunca foi assimilado pacificamente, de maneiras que coube ao Estado
19adoptar medidas tendentes a controlar as apetências dos vários agentes económicos.

20A concorrência é um assunto extremamente ambíguo devido aos diversos possíveis vieses de
21análise. O senso comum tende a dividir o tema em dois macros grupos: a concorrência
22perfeita, um mero parâmetro analítico e normativo em que nunca fora posta em prática de
23facto, e pensamento simplista de que um benefício público é gerado a partir da concorrência
24entre particulares.

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271.1. Contextualização
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29O tema no qual propomo-nos a abordar, enquadra-se na cadeira de Direito Economico, por
30tanto enfatizando a importância do estudo da análise do regime jurídico da concorrência em
31Moçambique.
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331.2. Definição do problema e questão de partida


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35A concorrência é algo saudável para o mercado, uma vez que a disputa entre concorrentes
36gera uma melhoria da actividade exercida pelas empresas, ou uma redução no preço
37praticado, o que consequentemente resulta num benefício ao consumidor. Entretanto há casos
38em que a concorrência não é benéfica, uma vez praticada com má-fé, desaguando na
39concorrência desleal. O direito repreende a concorrência desleal para que se mantenham
40harmónicos os interesses dos empresários, consumidores e sociedade em geral. Em situações
41em que algumas empresas agem de má-fé, como exemplo: provocar a oscilação de preços
42sem justa causa, impedir o acesso de novas empresas ao Mercado, divulgar informações
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43falsas sobre um produto de um concorrente, denigrindo a imagem, entre outras situações,


44cabe questionar. Qual a proteção Jurídica que gozam as Empresas em sede que casos de
45práticas anti concorrências?

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471.3. Justificativa da escolha do tema


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49O tema que nos propomos abordar é de suma importância pois Constitui tema de grande
50relevância para atualidade, na medida em que com a liberalização do comércio, quer ao
51âmbito nacional, regional assim como mundial regista-se o crescimento maior da procura e
52oferta nos mercados, afigurando-se importante que o Estado garanta a eficácia das normas
53que defendam e protejam a concorrência com vista a torna-la leal, justa e eficaz.

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551.4. Objetivos

561.4.1. Geral
57  Analisar a Eficácia do Regime Jurídico do Direito da Concorrência no Ordenamento
58 Jurídico Moçambicano

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601.4.2. Específico
61  Determinar a noção jurídica e doutrinaria do Direito da Concorrência
62  Identificar diferentes formas de mercado concorrencial
63  Discutir a importância do Regime Jurídico da Concorrência.
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651.5. Metodologia
66Quase todas as pesquisas nas ciências jurídicas são do tipo qualitativa, pelo que o estudo em
67apreço não foge a regra, pois não pretende mensurar realidade quantitativa, mas sim analisar
68fenómenos qualificáveis. A pesquisa qualitativa tem "(...) como objectivo primordial a
69descrição das características de determinada população ou fenómeno ou, estabelecimento de
70relações entre variáveis," GIL (1999: 44). Para o nosso caso, iremos para o efeito analisar,
71descrever variáveis, como: Planeamento Económico.

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72A técnica de colecta de informação a ser empregue para esta pesquisa é a bibliográfica e
73documental e o recurso a internet, legislação, onde o autor terá de retirar destes os aspectos
74que os julgar relevante para a parte do desenvolvimento e conclusão do trabalho.

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761.6. Estrutura do Trabalho


77O trabalho compreende os seguintes itens imprescindíveis: introdução, desenvolvimento e
78conclusão. O desenvolvimento do trabalho, compreende três capítulos a saber:

79Capítulo I- Abrange a parte introdutória.

80Capítulo II- Fundamento Teórico do Tema.

81Capítulo II-Analise e Discussão de Resultados: onde vamos discutir a importância do Regime


82face a práticas anti concorrências.

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96CAPÍTULO II

97ESTADO DA ARTE

982. Direito da Concorrência

992.1. Origem, Conceitos e Concepções Doutrinarias

100 1. O mercado caracterizado pelo número de participantes ao qual se alia automaticamente a


101 importância deles, sendo este um critério fundamental usado pelos economistas para a
102 compreensão do seu comportamento. Se um determinado mercado existir um grande
103 número de vendedores e compradores, e, se a entrada de novos produtos ou de novos
104 consumidores for completamente livre, então, estamos em presença de uma concorrência
105 perfeita. A concorrência é o antagonismo entre os agentes económicos. De notar que
106 durante muito tempo, os economistas defenderam a teoria de que a concorrência se
107 restringia aos preços, opondo pequenos empresários, satisfazendo na procura sobre a
108 qual tinha uma influência nula. Entretanto, a concorrência abrange além das pessoas
109 singulares grandes, medias pequenas empresas.

110A concorrência assenta basicamente em 3 vetores fundamentais a saber:

111 1- A actividade do mercado quanto à oferta e à procura dado o numero infinito de


112 unidades que ocorrem ao mercado. A saída ou entrada de tais unidades não afeta a
113 oferta e a procura.

114 2- Homogeneidade do produto, no sentido de que o vendedor oferece todos um


115 produto idêntico, colocando os compradores na situação de não terem a preferência
116 por um outro produto.

117 3- Perfeita transparência do mercado, compreendendo o sentido de que a informação


118 sobre o mercado é de natureza tal que todos os agentes económicos (vendedores e
119 compradores) têm pleno conhecimento sobre o mesmo (preço, produto, etc).

120O aparecimento, duma disciplina jurídica da concorrência verificou-se no início do seculo


121XIX e teve a sua evolução ao longo do seculo XX e esteve intimamente ligado ao princípio
122do livre exercício da actividade económica, da liberdade da empresa e da livre iniciativa
123económica. Com base no princípio de liberdade económica, começaram as empresas a utilizar
124processos, actos que fugiam das normas que limitavam a concorrência. Surge então, a

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125concorrência desleal, que levava a que varias empresas fossem demandadas nos tribunais,
126embora não existisse na época normas para diminuir os conflitos que foram surgindo.

127Embora a França possuísse uma jurisprudência que na época (1952) pudesse tratar os
128conflitos resultantes da concorrência desleal, tal não permitiu resolver todos os conflitos
129emergentes, porquanto, o fundamento jurídico era pouco solido1. No entanto o intuito jurídico
130de concorrência desleal nasceu da expressão defendida por Bonfarte 2, embora inicialmente
131não tivesse uma clara definição e compreensão.

132Por isso, carece de qualquer justificação, por evidente, a afirmação de que para se poder
133verificar a concorrência desleal é necessário haver, antes de mais, possibilidade da
134concorrência. A concorrência desleal é, oficialmente, uma forma patológica da liberdade de
135comércio, um ilícito que resulta duma actividade que é em si licita. Falar de concorrência
136desleal, implica falar de todo o acto de concorrência com determinadas características que
137preenche a reprovação social no âmbito da actividade económica. No entanto muitas
138dificuldades se colocam na diferenciação entre as duas formas de atuação: o acto de
139concorrência que é necessariamente permitido, lícito, sob pena de não poder verificar-se o
140acto de concorrência desleal que é proibido, porque ilícito. Por isso, falar da concorrência
141implica porem que sejam idênticos ou afins as actividades económicas prosseguidas por dois
142ou mais agentes económicos.

143A expressão concorrência provem de Concorrer3, e decorre do latim “Cumcurrere” que


144significa correr em conjunto para a conquista de um bem: o cliente ou o mercado e que, só
145em face de cada caso concreto, se pode determinar se existe ou não concorrência. Os
146Economistas consideram a concorrência uma forma de mercado onde confrontam a oferta e a
147procura, onde existe a possibilidade de os interessados aceitarem ou não uma certa
148mercadoria a um certo preço e os produtores aceitarem ou não o preço reclamado pelos.

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150_____________________

1511. Roubier, Paul (1952), “le droit de la propriété industrielle”, Partie Générale, pags 315 ss.

1522. Bonfarte. IL direito al nome commercicle e la concorrenze sleale, in Rreviste del Diritto Commercile 1908.
153IIPG. 164

1543. FRANCESCHELLI (1959), Studi Riunitti di Diritto Iindustriale, Giufré, Mmilano, pag. 356

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155Compradores em condições consideradas mais vantajosas, tendo em atenção as condições de


156mercado. É o mesmo que dizer que só compra quem quiser e só vende quem também quiser
157se achar que existem vantagens na transação a efectuar. A concorrência, é, no entanto, um
158fenómeno económico e social, e tem como origem os efeitos da transformação do Estado
159liberal para um Estado social, onde a actividade económica passa a ser parte das
160preocupações do Estado, dando lugar à intervenção cada vez mais acentuada do poder
161político. O espaço económico, viu-se, a dado momento, invadido pelas decisões políticas em
162prol da justiça social4.

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1642.2. Actos da Concorrência5

165 a) Actos de confusão: traduzem-se, regra geral, a atuação de pirataria ou publicidade


166 enganosa que um consumidor medio pode avaliar. Uma das formas mais importantes
167 dos actos de confusão é, portanto a chamada imitação servil que se traduz na
168 reprodução dos produtos de um concorrente, quanto as características de formato,
169 confecção ou apresentação. A pirataria é uma prática condenável de produzir e
170 disseminar um bem sem que tal tenha sido autorizado pelo seu autor ou proprietário
171 com intuito de enganar o consumidor.

172 b) Actos de desacreditamento

173 São actos que, traduzindo-se na disseminação de informações falsas, afectam a


174 reputação do outro concorrente, pondo em causa o seu crédito comercial, afectando o
175 aviamento do seu estabelecimento. É o caso da publicidade comparativa feita por um
176 vendedor que exaltando que os seus produtos denigrem a imagem dos outros
177 vendedores pondo em causa os produtos destes.

178 c) Actos de apropriação: a utilização de referências ou inovações não autorizadas,


179 abrangendo a utilização da marca alheia, corresponde aos actos de apropriação que se
180 integram no conceito da concorrência desleal. Todavia, as referências verdadeiras,

181______________________

182 4. conforme dispõe o artigo 1 alinea c) da constituição da República de Moçambique, um dos objectivos da
183República de Moçambique é a edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem-estar material e
184espiritual dos cidadãos. (cfr. artigo 11 da CRM)

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185Como são os casos de referência técnica de produtos alheios (mas sem relação de segredos de
186sua produção), necessárias para caraterizar o próprio produto. Mas, já seria referencia licita a
187que surgisse como maneira de se aproveitar do prestígio do outro.

188 d) Actos de desorganização: constituem as condutas pelas quais o adversário ataca a


189 própria empresa do concorrente através, por exemplo, de desvio de trabalhadores,
190 incitamento a greve, venda de produtos ao desbarato e outros constituintes de
191 desorganização.

192 e) Actos ilícitos: o Dumping por exemplo, constitui uma das formas usada pelos agentes
193 económicos para competir de forma desleal, colocando os seus produtos abaixo dos
194 preços do mercado, em resultado, por exemplo, de práticas ilícitas de fuga ou evasão
195 fiscal ou subfacturação. O Estado é chamado a reprimir a concorrência desleal,
196 usando, para o efeito os meios de que dispõe (jus puniendi). Uma das formas que o
197 Estado usa para reprimir a concorrência desleal é o dirigismo estatal” com vista a
198 disciplinar o mercado, quando o interesse público é posto em causa.

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200Conceito de Direito da Concorrência

201 Importa abordar primeiro o conceito de Direito. O termo Direito pode ser entendido em dois
202sentidos. Objectivo e subjectivo.

203O Direito em sentido objectivo, pode ser entendido como um sistema de normas, “como uma
204das ordens normativas que regulam a vida em sociedade” 6. Neste sentido, o Direito Objectivo
205seria o conjunto de regras que regem as relações numa dada sociedade. Regras essas dotadas
206de características como: generalidade, abstração, necessidade, hipoteticidade e coercibilidade.

207O Direito da concorrência em sentido objectivo, constitui um conjunto de normas e


208princípios da concorrência por que se devem pautar os agentes económicos entre si7.

209________________________

210 5. ALFREDO, Benjamim. Noções Gerais do direito Economico. 2ª Edição, Maputo, 2011. pag. 297 sgts

211 6. EIRO, Pedro, Noções Elementares de Direito, Editorial verbo, 1999, p.15.

212 7. SIMOES, Patrício, J., Direito Economico (aspectos gerais), publicações gravadas, 1982, p.46

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214 Ou o Direito da concorrência pode ser caracterizado como uma parte do sistema legal,
215 tendente à fixação de normas aplicáveis ao exercício da actividade económica através de
216 regras relativas ao estabelecimento das empresas, à comercialização dos seus produtos,
217 às relações concorrências e a proteção do consumidor8.

218 A concepção do Direito em sentido objectivo é visto na perspectiva do Homem em


219 relação a essas mesmas normas, tendo em conta a situação que para ele é criada por elas,
220 isto é, não pode ser tomado como um conjunto de normas 9, neste sentido, “Direito
221 subjectivo corresponde ao poder ou faculdade-provindos do Direito Objectivo de que
222 dispõe uma pessoa, e que se destina a realização de um interesse juridicamente
223 relevante10.

224 Portanto, o Direito da Concorrência em sentido subjectivo, refere-se a liberdade de


225 atuação dos agentes económicos, ou seja, a liberdade de ingressar e actuar num mercado
226 determinado. Trata-se de uma prerrogativa de cada individuo.

227 Conceito de Mercado

228 Na acepção primitiva, a palavra mercado dizia respeito a um lugar determinado, onde os
229 agentes económicos realizavam transações11. Por tradição histórica este conceito chegou
230 ate os dias actuais. O mercado permanece, por tradição, como, um lugar definido,
231 especialmente edificado, para o encontro de produtores e consumidores, com o propósito
232 de ajustarem a procura e oferta, através da formação dos preços. Assim, pode definir-se o
233 mercado como conjunto das ofertas e das procuras de um certo bem, postas em contacto
234 em determinado momento para gerar a troca na base de um preço.

235 Na acepcao económica mais ampla, o conceito de mercado esta bem distante dessa
236 tradição da conotação geográfica. Mercado é agora “um espaço abstracto onde se
237 encontram a procura e a oferta agregada dos agentes económicos, cujos objectivos

238 ______________________

239 8. FEREIRA, Eduardo Paz, Direito Economico, AAFDL, Lisboa, 2001, p. 474

240 9. EIRO, Pedro, ob. cit. p. 16.

241 10.PRATA, Ana, Dictionaries Juridical, 3ª edictal, Almeira, Coimbra, 1992, p. 354

242 11. ROSSETTI, Jose Paschoal, introdução à economia, 20ª ed. Novo texto reestruturado e actualizado, São
243 Paulo, 2009, p.395.

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244Contraditórios se harmonizam, em cada momento, através dos preços de transação entre


245eles12.

246De modo geral, um mercado dir-se-á concorrencial quando exista uma pluralidade de
247vendedores e de compradores, tal que, para determinado produto, haja uma liberdade de
248escolhas: “faculdade de eleger entre um grande número de possibilidades e, portanto, de
249excluir aquelas, que, em termos comparativos, são as menos satisfatórias”13.

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2512.3. Diferentes Formas de Mercado concorrencial

252O mercado concorrencial pode caracterizar-se sob forma de quatro estruturas referenciais,
253quais sejam:

254 I. Concorrência perfeita;

255 II. Monopólio

256 III. Oligopólio e

257 IV. Concorrência monopolista.

258As classificações mais simples de estruturas de mercado fundamentam-se apenas no número


259de agentes envolvidos em cada um dos dois lados – o da procura (compradores) e o da oferta
260(vendedores). STACKELBERG, em 1934 propôs este tipo. Na concepção d de
261STACKELBERG, as estruturas do mercado que se observam na realidade não se limitam às
262hipóteses da concorrência perfeita (em que se fundamentou a tradição teórica dos secs XVIII
263e XIX) e do monopólio puro (em que se fundamentaram as criticas mais agudas aos
264pressupostos clássicos e neoclássicos). Demonstra que entre esses dois extremos, há varias
265possibilidades intermediarias, que se podem definir pelo numero dos que se encontram em
266cada um dos dois lados, em diferentes situações do mercado14.

267_____________________

26812. De SOUSA, e F.P. de Moura, citados por Santos, António Carlos dos et al, Direito Economico, 5ª edição,
269Coimbra, 2004, p. 269

27013. MARQUES, M. Manuel Leitão, um curso de direito da concorrência, Coimbra editora, 2002, p. 19.

27114. Idem, p. 398

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272Neste sentido, tomando o número dos agentes económicos como diferenciador, a


273concorrência perfeita vai pressupor grande número dos participantes nos dois lados,
274considerados, ou seja, grande número de vendedores por um lado e consumidores por outro.
275A concorrência perfeita caracteriza-se por reunir condições ideais, como: a atomização dos
276agentes, a homogeneidade dos produtos, a perfeita mobilidade dos concorrentes, a total
277permeabilidade para ingresso e saída dos agentes económicos, a plena transparência e
278apenas um preço, definido pelas forças da oferta e da procura, ao qual todos se submetem15.

279

2802.4. Sistemas de defesa da concorrência

281O direito comparado oferece várias modalidades da defesa da concorrência que podem reunir
282se em sistemas típicos que exprimem as três grandes orientações do legislador quanto a esta
283questão, por trás das quais estão, como é evidente, diversas opções de política económica
284fundamentadas em diferentes entendimentos a estrutura dos mercados e em distintas
285valorações do comportamento dos agentes económicos. Em sede geral, pode dizer-se que
286existem dois grandes sistemas teóricos da defesa da concorrência: Em primeiro lugar temos
287os sistemas de proibição (ou da per se condemnation), aqueles que proíbem as práticas
288restritivas da concorrência por produzirem um dano potencial na economia. Estes sistemas
289tendem a privilegiar uma noção estrutural da concorrência e avaliar este como um bem em si
290mesmo (teoria de concorrência-condição). Daí estabelecerem uma proibição genérica e a
291priori de todos os acordos e práticas susceptíveis de atingirem a estrutura concorrencial do
292mercado, combatendo por tanto a concentração através de proibição das práticas que a ela
293possam conduzir.

294Este sistema abstrai dos resultados efectivos das restrições à concorrência para centrar a sua
295atenção no perigo que estas, por si mesmas, representam. Trata-se de um sistema, a título de
296exemplo, o da legislação dos Estados Unidos da América, que defende que as leis da defesa
297da concorrência, devem proibir práticas consideradas lesivas da concorrência pelo simples
298perigo (ainda que presumido) que estas representam.

299__________________

30015. Ibidem, p. 401.

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302O sistema de abuso ou da rule of reason (igualmente conhecido por sistema de controlo a
303posteriori, concorrência-meio ou ainda de dano efectivo). Para este sistema, tende-se a
304privilegiar os comportamentos efectivos dos agentes económicos. Nesta perspectiva, a
305concorrência, é um bem entre outros e não um bem em si mesmo (teoria de concorrência-
306meio), como tal, pode, em certas circunstâncias ser afastada em nome da protecção de outros
307bens ou realização de outros fins socialmente relevantes, daí que este sistema não pretende,
308em abstracto, combater os acordos, oligopólios, monopólios, ou quaisquer outros factores de
309domínio no mercado através dos quais concretamente se manifeste a concentração
310económica. Procura apenas reprimi-los quando por particulares condicionalismos, se revelam
311prejudicais ao "interesse geral" declarando ilícitos os acordos ou práticas que produzam
312efeitos negativos na concorrência, não justificando por outras razões.

313No pólo oposto aos dois sistemas, temos os sistemas mistos da defesa da concorrência, que
314congregam os aspectos dos dois sistemas acima mencionados, a título de exemplo, o francês,
315alemão, inglês e também canadiano, onde os acordos restritivos da concorrência são
316sancionados como ilícitos, embora com excepções, mas quanto às posições de domínio só o
317abuso é reprimido.

318De maneira geral, a lei da defesa da concorrência tem por objecto acordos entre empresas
319mantendo estas a sua autonomia, concentrações de empresas nas suas diversas formas e o
320exercício de uma posição de domínio de mercado imputável a várias causas. O objectivo das
321leis é, naturalmente, a manutenção de uma estrutura do mercado e de um comportamento
322empresarial concorrenciais16. A opção por um dos sistemas de defesa da concorrência revela
323uma determinada concepção económica. Na verdade, proibir acordos e práticas concertadas
324entre empresas revela a concepção segundo a qual a concorrência é uma questão de
325comportamento, de conduta empresarial, seja qual for o tipo concreto de mercado em que as
326empresas desenvolvem as actividades.

327Pelo contrário, proibir certos abusos de posições de domínio do mercado ou certas formas de
328concentração empresarial, indica-nos que a concorrência decorre de uma certa estrutura do
329mercado caracterizada por uma relativa dispersão das unidades produtivas, cada uma delas, se
330tomada isoladamente, incapaz de alterar substancialmente as condições do mercado em seu
331exclusivo benefício de tal sorte que daí decorreria o seu controlo tendencial do mercado ou
332pelo menos de parte apreciável dele.36 “Sobre o sistema a adoptar o nosso legislador
333ordinário, analisando a política da concorrência, aprovada pelo Conselho de Ministros a 24 de
35 11

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334Junho de 2007, precisamente no ponto (estratégia de implementação do quadro legal),


335podemos concluir que privilegia a adopção de legislação que se inclua no grupo dos sistemas
336legislativos que correspondem àquilo que se designa por Concorrência – Condição. Ou seja, a
337concorrência é vista como um bem em si mesmo. Daí que se estabelece uma proibição
338genérica, a priori, de todos os acordos e práticas susceptíveis de atingirem a estrutura
339concorrencial do mercado moçambicano. Mas no nosso entendimento, o legislador ordinário
340moçambicano devia orientar-se no sentido de adoptar o sistema misto de defesa e protecção
341da concorrência que privilegie tanto o dano potencial, quanto o efectivo, garantindo, deste
342modo, um controlo a priori e/ou a posteriori conforme necessário”.

343

3442.5. Liberdade Concorrencial

345De ponto de vista subjectivo, a liberdade de concorrência representa a faculdade ou


346possibilidade teórica de todos e qualquer agente económico aceder como fornecedor de
347produtos e serviços, a um mercado e daí desenvolver a sua actividade: é o direito de qualquer
348empresário competir com os demais.38 Na perspectiva objectiva, a liberdade da
349Concorrência, significa a situação do mercado no qual todos os intervenientes se encontram
350em situação de igualdade, é a competição em si considerada. Trata-se de noções distintas,
351mas interligadas, na medida em que a liberdade de concorrência em sentido subjectivo é a
352condição necessária, ou seja, é a “condition sine quan non”, mas não suficiente da
353concorrência em sentido objectivo, na medida em que só há mercado concorrencial quando
354verificar-se a liberdade de cada empresário competir com os demais agentes económicos.
355Mas pode haver liberdade para competir sem que exista uma efectiva liberdade de
356concorrência em sentido objectivo, sem que exista um mercado concorrencial. Para que exista
357liberdade de concorrência em sentido objectivo, é necessário que cada agente económico
358tenha autonomia em relação aos demais intervenientes no mercado e não esteja imune aos
359mecanismos da oferta e da procura, isto é, é indispensável que cada agente, individualmente
360considerado ou concertado com os demais, não possa determinar as condições do mercado.

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363Constituição Económica e Protecção da concorrência

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364A Constituição Económica refere-se ao conjunto de princípios e normas fundamentais por


365que se regem juridicamente a organização e o funcionamento económico de uma comunidade
366política, ou seja, é o conjunto de princípios que regulam a relação entre a economia, o Estado
367e os cidadãos.

368Independentemente da definição adoptada, há que reter dois sentidos: (a) constituição


369económica formal e (b), constituição económica material. Em sentido formal, a constituição é
370a fonte ou conjunto de fontes que possuem uma característica identificável, como a de
371pertença a um texto legal, com formalidades e requisitos particulares de aprovação ou
372modificação.

373 Em sentido material é um conjunto de normas e princípios que estruturam e legitimam


374determinada ordem jurídica.

375Em sede da protecção constitucional da concorrência, Moçambique trilhou um importante


376percurso histórico que entendemos relevante fazer a sua resenha histórica e se divide em três
377fases, quais sejam:

378 De 1975-1990, fase correspondente à Primeira Constituição da República de Moçambique;


379De 1990-2004, fase correspondente à Segunda Constituição da República de Moçambique e a
380De 2004, até os dias de hoje.

381___________________

38216. DE MONCADA, Luís S. Cabral, Direito Economico, Coimbra editora, 200, p. 374

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