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28º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

UNIVERSIDADE E ESCOLA NA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA –


ESCREVENDO O FUTURO
Educação

Clara Dornelles1(Coordenadora da Ação de Extensão)

Clara Dornelles
Miriam Kelm2
Vera Medeiros3
Helen Roratto4
Letícia F. Coutinho5
Maria Angélica P. Brum6
Jociele Barcelos Corrêa7
Raquel Ferro da Cunha8

Palavras-chave: Olimpíada de língua portuguesa, formação de professores, ensino


de português, ensino de literatura.

Resumo: Através de uma parceria entre a UNIPAMPA e a SMED de Bagé/RS,


iniciamos um trabalho de formação continuada com escolas da região. A primeira
ação do projeto envolveu a oferta de um curso baseado na proposta metodológica
da Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP). Desta ação, resultou a colaboração de
duas professoras da Escola Municipal Arideo Monteiro em um evento dos
estudantes de graduação da universidade. A próxima ação do projeto será refletir
sobre os efeitos do envolvimento na OLP nas ações dos professores da escola e da
universidade.

Introdução

Nos últimos anos, a Secretaria Municipal de Educação (SMED) de Bagé/RS


tem possibilitado aos professores da educação básica a participação em programas
de formação continuada voltados para a área de língua portuguesa (LP). Como
esses programas são respaldados em orientações que não fizeram parte da
formação inicial desses professores, as novas propostas muitas vezes têm efeito
tímido na mudança levada a cabo em sala de aula. Por esse motivo, alguns
professores formadores do curso de Letras da Universidade Federal do Pampa
(UNIPAMPA) do campus de Bagé iniciaram parceria com a SMED, para a oferta de
um curso de formação continuada baseado na proposta metodológica da Olimpíada

1
Docente do Curso de Letras da UNIPAMPA/Bagé. E-mail: claradornelles@unipampa.edu.br
2
Docente do Curso de Letras da UNIPAMPA/Bagé.
3
Docente do Curso de Letras da UNIPAMPA/Bagé.
4
Participante externo: Coordenadora de Língua Portuguesa na Secretaria Municipal de Educação de Bagé.
5
Participante externo: Docente de Língua Portuguesa na Escola Municipal Arideo Monteiro/Bagé.
6
Participante externo: Docente de Educação Artística na Escola Municipal Arideo Monteiro/Bagé.
7
Acadêmica do Curso de Letras da UNIPAMPA/Bagé.
8
Acadêmica do Curso de Letras da UNIPAMPA/Bagé.
de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro (OLP), e para o acompanhamento dos
efeitos da experiência na OLP nas práticas pedagógicas escolares.
A OLP é coordenada pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e resulta da parceria entre o Ministério da
Educação e a Fundação Itaú Social. Conforme informação no site da Fundação, a
OLP “desenvolve ações de formação de professores, com o objetivo de contribuir
para ampliação do conhecimento e aprimoramento do ensino da escrita”9. A
metodologia da OLP envolve o trabalho com seqüências didáticas (DOLZ;
NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004) para leitura e produção dos seguintes gêneros
textuais/discursivos (MARCUSCHI, 2008): poesia, memória literária, crônica e artigo
de opinião10. As escolas públicas de ensino fundamental e médio de todo o país
recebem materiais e orientações para o desenvolvimento dessas seqüências. Após
a execução do trabalho, as escolas realizam concurso para a escolha das melhores
produções textuais em cada gênero, que concorrem, também, em nível municipal,
estadual e nacional. A OLP se configura como uma iniciativa que visa à promoção
do letramento do aluno e do professor (KLEIMAN, 1995; KLEIMAN; MATENCIO,
2005). O conhecimento técnico que sustenta o concurso é o mesmo que respalda os
discursos oficiais (BRASIL, 1998; RIO GRANDE DO SUL, 2009) e as pesquisas
acadêmicas sobre o ensino de língua portuguesa e literatura (BUNZEN;
MENDONÇA, 2006; ROJO, 2000; SIGNORINI, 2007; ZILBERMAN; RÖSING, 2009).
Embora o concurso aconteça a cada dois anos, existe uma comunidade virtual11 em
que são oferecidos cursos de formação, publicados textos e compartilhadas
experiências e reflexões sobre o ensino de língua e literatura.
Através da associação com a OLP, pretendemos, além de contribuir com
formação técnica para os professores participantes do concurso, promover a
participação dos professores universitários no processo de formação continuada dos
professores de língua portuguesa (LP) da educação básica da região de Bagé.
Entendemos que a interação entre professores em serviço, professores formadores
e órgãos gestores da educação viabiliza o estabelecimento de parâmetros mais
concretos e locais para a implementação das políticas oficiais de ensino. Além disso,
o diálogo entre os diferentes atores envolvidos no processo educacional produz
conhecimentos sobre as culturas escolar e docente (ROJO, 2009), o que é essencial
tanto para a formação inicial, quanto para a formação continuada dos professores
das escolas e dos professores universitários dos cursos de licenciatura.

Metodologia

O curso se desenvolveu em 12 horas, de março a abril de 2010, e contou com


a participação de cerca de 40 professores do ensino fundamental (5º ao 9º ano) dos
municípios de Bagé, Candiota, Dom Pedrito e Aceguá, localizados na região do
extremo sul do estado do RS12. Esses professores atuaram no papel de
9
Site: https://ww2.itau.com.br/itausocial/olimpiadas2010/web/site/index.htm, com acesso em 30 de julho de
2010.
10
Os gêneros devem ser produzidos de acordo com os anos escolares: 5º e 6º ano, poesia; 7 e 8º, memória
literária; 9º e 1º do médio, crônica; 2º e 3º, artigo de opinião.
11
Para acesso: http://escrevendo.cenpec.org.br
12
Embora a parceria tenha se realizado com a SMED de Bagé, os professores dos municípios vizinhos também
foram convidados para participarem da formação. Esta ação surgiu da conversa da coordenadora do projeto
multiplicadores da formação da OLP em suas escolas, levando para seus contextos
de trabalho as aprendizagens obtidas no curso de formação e, também, trazendo
para o curso de formação aprendizagens e questionamentos da escola.
O primeiro passo do trabalho foi a definição dos objetivos e da metodologia do
curso, em conversas entre a coordenadora da área de língua portuguesa na SMED
e as professoras formadoras da universidade. Definimos, então, a seguinte base
metodológica para a ação de formação: possibilitar, primeiro, que os professores se
colocassem na posição de leitores dos gêneros que seriam trabalhados; segundo,
que eles refletissem, coletivamente, sobre as concepções que embasam a proposta
da OLP e sobre as práticas pedagógicas incentivadas na proposta. O curso foi
coordenado pela professora responsável por este projeto que, juntamente com duas
colegas do curso de Letras e com a coordenadora de LP na SMED, propôs os
seguintes temas para os quatro encontros realizados:

1º encontro (23/03/2010): Conceito, situação de produção e elementos do gênero


(memórias); Conceito e aplicações de gênero textual no ensino de língua.
2º encontro (09/04/2010): Conceito, situação de produção e elementos do gênero
(poesia). Conceito, organização e finalidades de uma sequência didática.
3º encontro (19/04/2010): Conceito, situação de produção e elementos do gênero
(crônica). Conceito e aplicação de avaliação formativa no ensino de gêneros
textuais.
4º encontro (24/04/2010): Objetivos de ensino e aprendizagem no trabalho com
gêneros textuais. Discussão sobre os planos de trabalho em andamento.

Uma das professoras participantes da OLP e do curso de formação iniciou o


trabalho na Olimpíada com uma de suas turmas de 9º ano, em parceria com uma
colega da área de Artes, possibilitando a realização de um trabalho interdisciplinar.
Convidamos as duas professoras para integrarem a equipe executora deste projeto
e sua primeira ação foi ofertar aos alunos da universidade uma oficina sobre a
experiência em andamento na escola. Nessa oficina, realizada durante a Semana
Acadêmica do curso de Letras da UNIPAMPA, em junho de 2010, as professoras
dialogaram com 40 alunos do curso e provocaram discussão sobre estratégias para
se colocar em prática a proposta da OLP, além de apresentarem resultados parciais
obtidos com essa proposta em sala de aula.
A próxima ação do projeto será refletir sobre os efeitos do envolvimento na
OLP nas ações dos professores da escola e da universidade. Os procedimentos
mais específicos para esta ação serão definidos pela equipe executora a partir de
agosto de 2010.

Conclusões

Como pode ser observado, o projeto já beneficiou diretamente cerca de 40


professores da rede municipal de ensino, 40 alunos de graduação, 1 gestora
municipal e 3 professoras da universidade. Contudo, os efeitos do trabalho em
realização vão além desse número, pois cada um dos atores envolvidos tem levado
a experiência no projeto e na OLP para diferentes contextos de formação. Outro

com a coordenadora da área de LP na SMED e tem como objetivo promover a integração dos municípios
menores nas ações governamentais de formação. Entendemos que Bagé pode surgir como um novo pólo de
formação continuada.
aspecto a ser considerado é que o projeto se realiza em interface com o ensino e a
pesquisa, além de servir de subsídio para novas ações extensionistas, como a idéia
de criação de um “Centro de Formação Continuada” para a região de Bagé.
Ainda, o projeto possibilitou a formação de um grupo interessado em
fortalecer os laços entre a universidade, instituição formadora de professores, e a
escola, lugar de atuação profissional docente. Como a UNIPAMPA é a primeira
universidade federal da região de Bagé, é recém estabelecida nesse local e tem o
compromisso de qualificar o magistério e possibilitar a oferta de uma educação
básica de mais qualidade, a concretização de uma relação produtiva entre as
comunidades escolar e acadêmica é importantíssima. Contudo, sabemos que essa
relação é também permeada de conflitos, uma vez que a universidade tem
assumido, historicamente, uma posição academicista e descompromissada com a
realidade social. Nesse sentido, precisamos nos lembrar do que diz Signorini (2001,
p. 246): “um acordo - ou uma perspectiva comum - é antes uma meta, algo a ser
construído em função de um projeto de ação também a ser construído. E a
perspectiva acadêmica, mesmo quando valorizada e aceita, não pode justamente
ser tida como essa perspectiva comum [...]”. Para escrever um novo futuro para a
educação, a universidade precisa aprender a dialogar com a comunidade em que
está inserida. As ações de extensão têm possibilitado relevantes avanços nessa
direção.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa – 5ª à 8ª série do ensino
fundamental. Brasília: MEC/SEC, 1998.
DOLZ, Joaquim. NOVERRAZ, Michèle. SCHNEUWLY, Bernard. Sequências
didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In:DOLZ,
Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard e colaboradores. Gêneros orais e escritos na
escola. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras, 2004. p. 95-128.
BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (orgs.) Português no Ensino Médio e formação do
professor. São Paulo: Parábola, 2006.
KLEIMAN, Angela; MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles (org.). Letramento e
formação do professor: práticas discursivas, representações e construção do
saber. Campinas: Mercado de Letras, 2005.
KLEIMAN, Angela B. (org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva
sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.
MARCUSCHI, Luis Antonio. Produção textual, análise de gêneros e
compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado de Educação. Departamento
pedagógico. Lições do Rio Grande: Referencial curricular para as escolas
estaduais. Porto Alegre: SE/DP, 2009. 1 v.
ROJO, Roxane (org.) A prática de linguagem em sala de aula: Praticando os
PCNs. São Paulo: EDUC; Campinas: Mercado de Letras, 2000.
ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo:
Parábola Editorial, 2009.
SIGNORINI, Inês. A interação universitário/alfabetizador em programas de formação
em serviço: ação entre díspares ou comunicação entre pares? In: KLEIMAN, Angela
B.; SIGNORINI, Inês (orgs.). O ensino e a formação do professor: Alfabetização
de jovens e adultos. 2ª. ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001a. p. 244-261.
SIGNORINI, Inês (org.). Significados da inovação no ensino de língua
portuguesa e na formação de professores. Campinas: Mercado de Letras, 2007.
ZILBERMAN, Regina; RÖSING (org.). Escola e leitura: velha crise, novas
alternativas. São Paulo: Global, 2009.

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