Você está na página 1de 13
LUIS AUGUSTO SANZO BRODT FLAVIA SIQUEIRA [Orgs.] yy 05 7 At, onan ng ke, acct Pitot eet Bletenaelie annie sas agama Baha atigasce sins Creo ete Tesco sess ‘etcetera ob ern pate em Samwengayeios Pleats ego Peta) Pct But av SH eg rind ecedodegin Bear maine soe memraseoses tps cea A Editor 0 Pliddo 1. Bs 183, Svs Bec Horan Tel 32612801 wo Stevan Tadeu Soares de Oliveira’ 19.1. Dos Protestos as Prisdes Talir, Trafalgar Square, Wall Street, Plaza Puerta del Sol, Esplanada dos Ministérios, Esses foram alguns dos palcos de tandes protestos que se espalharam pelo mundo entre os anos de 2010 e 2013, Denere outros elementos comuns, 2 presenga de manifestantes mascarados levaram personagem dos qua- dirinhos “V" de Vendeta? a se tornar um dos simbolos desses A onda de grandes protestos aportou no Brasil is vésperas a Copa das Confederagdes da FIFA. Juntamente com as més~ cara se-viu pelas ruas atos de violencia. Carros e énibus incen- diados, bancos saqueados, fachadas de lojas destruidas, prédios histéricos danificados, Paraa midia sensacionalista e para aqueles que a fomentam, a violéncia transformou-se em espeticulo, Horas ¢ horas de vandalismo e de confronto com a policia foram incessantemente char Mastrando 7 Die pla UFNIG, Bachar em Ciénis Milt eh UEMGIAPM, Becta em Dicity Miltsrpea Uniendade Anbongio Gay Fawkes fi um dos lideres de una centativa de expo 0 patamento tedingn go tla NVI eto can ne mesa ee ¢ Davi Ley crintam o poanager de gibi Vde Vingans (Vf inten, Su lt pars detrbar do poser tn pared trio En 30S on goad Sos cogram 1 Hollywood em ne ca Han Br Em 2008 sas te hackeratvisas Gnomes willzou 4 mascot proest, Ms bee {dies gras protestors coono Eads Union Egat lng Ssndearasnovamene frm wtleadan. a7 reprisadas na televisio, deixando a impressio pata o telespectador desatento de que essa foi a ténica dos protestos. Com a morte de Santiago Andrade, cinegrafista que cobria os protestos para um canal de TV, chegou-se ao climax. A grande midia cobrava posturas das autoridades enquanto a populagio alarmada retroa- limentava 0 ciclo vicioso do clamor pela repressio, No misto entre oferecer uma resposta para tentar acalmar a opiniao pablica e o aproveitamento da situagio para ganharem visibilidade, parlamentares propuseram normas que tocavam © tema. A proibicio do uso de mascaras em manifestacdes, a criminalizagao de condutas e o rigor penal foram as propostas apresentadas. Nesse contexto, a presente pesquisa tem por objetivo ana. lisar criticamente dados empiricos coletados sobre as normas surgidas no Brasil em consequéncias dos protestos de 2013 Assim, © mote da leis antimascaras serviu de recorte para proble matizar a produgio legislativa ¢ a penalizagio como estratégias recorrentes no pais quando se pretende solucionar problemas de seguranga piblica, Nao se pretendeu discutir 9 acerto ou no da proibigio das masearas em manifestagdes nem os argumentos Jjuridicos utilizados contririos ou favoraveis is medidas, mas, antes disso, © processo legislativo no Brasil e o popalisino penal no trato com as manifestagdes piblicas. 19.2. A producao legislativa nas Camaras de Vereadores e nas Assembleias Legislativas © Estado do Rio de Janeiro foi pioneiro na aprovagio de lei an- siméscaras ainda em 1I_desetembro de 2013. Entre a apresentagio do projeto e aprovagio da lei passaram-se apenas 13 dias, Se a celeridade do proceso suscita diividas sobre a qualidade do debate, analisi-lo ‘mais detidamente reforga.a suspeigio. Nesse exiguo tempo de processo :mietajuridico transeorrido em regime de urgéncia, das treze propostas de alteragées a0 projeto que foram enviadas antes da votagio, apenas dluas foram incorporadas. Todavia, mesmo as propostas recusadas niio trariam grandes alteragSes na norma. Como exemplo das mudangas indeferidas, tem-se o acréscimo de parigrafo que previa 0 dever de se observar a Constituigio do Estado ao se cumprir a lei ¢ a sugestio de se modificar a ementa, Durante a votagio outros ts pardgrafos foram acrescentados ao projeto inicial, entretanto, 0 eserutinio evi~ dencia baixa qualidade técnica na redagio' ou alteragdes irrelevantes'. ‘Se a qualidade da norma pode ser questionavel, o envolvimento democritico na elaboragio da lei também nio foi dos melhores. Mesmo com a exploragio mididtica das cenas de violencia, parcela considerivel da sociedade, ao se anunciar o projeto de lei, posicio- house contriria a utilizagio dessa estratégia como meio legitime para proporcionar mais seguranga nas manifestacSes. OAB, académicos*, ‘movimentos sociais e ONG afirmavam a inconstitucionalidade ou ‘a arbitrariedade da medida, ‘Contudo, parece que grande parte dos perlamentares cariocas no se preocuparam coma construcio de comsensos posiveis, com as estra> tgs de persuasio e com a aveitagio social do ato normativo durante © processo de elaborago da lei, necessidades estabelecidas pela teoria da Tegislagao e que contribuem para o nivel de eficéeia social da norma” Poxteriormente, o'TJ-RJ decidin pela constitucionalidade da medica ‘Com a reiteragio das imagens da violncia nas manifestagdes fe com o exemplo da legislagio Auminense, uma avalanche de pro- ‘posicdes semelhantes espalharam-se pelo pais. © texto aprovado ios en apenas um sem difculdades. © § jue “Pua os fins do cho V do eaput, a omancegio iar vei on peo me ie Sess pus pars antag Je pence”, eoguantoo "date seine dao, port, di qu 3 comunicacio devera ser ks ao bx, gion "(4 Pe fns dono V do caput dst argo a comuanicasto Tela ao buctito cn cu cicumserie se refi ou, pelo menos siicascunid polis par a manifagiodo penament.” Axim, vse qpe Ghee é ques mesa conunicago ses feta is Policia Cie Malia + 0 § nico, art. 2° do PL tinhaa redagio "E vedada qualquer forma de anor mato no exertcio do diteto consticuciona] reunito pablic para manifests de pensamento”, redo sido alterado na versio final par ea manies0 stands vedo © anonimato”, Alm dene dior deslerasio do pena ode Mega now edagio mrs ope do no He Ceaanrse de Reps de 988, panos dplment iti » TEIXEIRA, 203, © LAUREANO, 2013 * SOARES, 207, p. 128 cn + sess qu julgou ages ropowas pla OAD/AJe Paro a Repiblien To a ers O0zTS6 3023190000 e00SI07- Sa2013 80000, 549 ‘em menos de duas semanas no Rio passou a servir de modelo para diversos projetos de lei em outros Estados e Municipios, " No Rio Grande do Sul a pulsio para legislar foi intensa, Al- guns dias apés ser atacado prédio onde residia o prefeito de Porto Alegre foi apresentado na Assembleia Legislativa (AL) o Projeto de ‘Camara de Vereadores da capital, de forma que o prefeito que teve sua residéncia alvo do vandalismo foi o mesmo que promulgou lei _—— pas i em abril de 2014, im més e dez dias apés a. Gio rto-alegrense a Cima- Municipio Porto Alegre Santa Maria Data Propostura | 36 desetombro de 2013 | 2 de feversiro de 2014 Bats Aprovario Tae wilde 4 12 de aio de 2018 Fragmento do Texto | Art 1. Fieam ov ciadios proibides de wtlzar "Arts Fican or eidadon tok ident capo os smanitstagSespablicas no | manifetasSes péblica, 20 {pia de Porto Alegre. | Municipio de Sant Macs ‘Art. 20 diceto connitecionsl do cided 8 participasio em reaniso plies para manitestagio te peatanento veh 1 pacifcamentes sem 0 porte o# 0 80 de ‘ou qualquer mio capas de cultar ¢toxto om aifculear sa identifica; bal Pela comparagio dos fragmentos verifica-se 2 identidade dos textos, alterando-se unicamente © nome dos municipios. Em San- ta Maria a norma foi aprovada por unanimidade ¢ sem neni alteracio no projeto inicial. Sob a ti 2 di legistica material, essa mera reprodugio de leis idénticas por cimaras distintas traz preocu pagdes 20 expor 3 fragilidade do debate parlamentar na elaboragao Yo diteito positive ¢ a auséncia de uma discussio substancial sobre fo contetide normativo, que deveria ocorter no legislative, Ademais, fsa postura fere 0 que hi de mais fundamental na existéncia do legislaivo municipal: o olhar para a zealidade local naquilo que cla difere do rest. ‘A também gaticha Pelotas foi brindada com lei sobre © tema, © processo iniciado em novembro de 2013 levou 40 surgimento da Lei 6.083 em janeiro de 2014. Apesar de nio ser espelho das normias de Porto Alegre ¢ de Santa Maria, tem contetido bastante similar’ ‘A lei da AL-Rj ainda serviu de modelo para o PL 238/2013 apresentado na Cimara Municipal de outro munieipio endicho, ‘Caxias do Sul, que repete ipsis litefs quase a totalidade da norma fluminense. Um dos poucos pontos nao reproduzidos a obriga- toriedade de se comunicar 0 protesto 4 delegacia da Policia Civil tao Batalhio da PM da rea onde iri ocorrer a manifestagao. Na contramio do esperado, a lei de Caxias do Sul repetiu a vaga ¢x- prescio constitucional® “autoridade competente” como destinats- Fo do prévio aviso, Assim, mantém a indefini¢io de quem seria a futoridade para o recebimento da comunicagio" € acaba por filhar “An I Fics probido, em logradouros pablicos, © wo de mnisearas ou quais- auer pega que eubram 0 resto do cidadio com o propésio de imped wat TAtadlicagas no ambito do Municipio de Peloray/ BS. ‘Ane 2 © dicito Constitucional de reuniZo piblica para manifestagio de ppemsainento sors exercido: T= de forma pact 1 sen 0 porte ou us de quaisqucr arm TIL som o uso de andscaras nem quaisquer pegas que cubram @ resto do cidadio ou difcultem sua idemficagios [-] 1 “age. 5*, XVI. Todes Podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locals aberto a0 publico,independente de mtarizacio, desde que mi frostem outs seanigo anteriormente convocuda para o mesmo Toeal, sendo apenas exigide previo vino aufridade competent.” Entse outras dvds possves, nfo bé eBid legal de quem seria a autoridade competente para receber 9 avi80. 1 Para wm esrmdo acerca da regulamentacio do direito de reanio ver: OLIVE TVA, Stecvan Tadeu Soares de, A Reativiracio de Direitos Fundamentais no ‘Contexto Jo Baadlo Democritica de Direitos: 0 direito de reunto ese inites Cxpresnse implicitos. 2012, Monografia Bacharclado cm Dist) ~ Faculdade seijewo da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012, 551 za regulamentagio da lei, posto que nao realiza a densificagio nor- sativa esperada, Da mesma forma irrompeu em Passo Fundo © entusiasmo legiferante para proibir as misearas em protestos. Apés arquivado © PL, pedido de desarquivamento trouxe novamente a discussio & tona, o que culminou na aprovagio em 9 de setembro de 2015 sem nenbuma alteragio no texto inicial Na cidade gaticha Novo Hamburgo surgia 0 PL 146/13 que terminou arquivado em dezembro de 2013 ao argumento de incons- titucionalidade. Em maio de 2014 6 autor do projeto arquivado em 2013 apresentou novamente © tema no PL 71/2014 assinando em conjunto com outro parlamentar, com a mesma proibigao e texto de Justificativa idéntico, © PL recebeu parecer de inconstitucionalidade pelo procurador da Camara Municipal, ainda assim foi ao plenirio tendo sido aprovado ¢ encaminhado para o Prefeito para sangio. Na prefeitura, outra vez recebeu parecer de inconstitucionalidade, agora pela procuradoria do municipio c nio foi sancionado pelo prefeito, © veto do preféito foi derrubado na Cimara e convertida em lei em agosto de 2014. Na cidade vizinha Campo Bom 0 ambiente harmonioso das imanifestagdes no impediu o surgimento de PL para proibir 0 uso de méscaras em manifestagées. Desconsiderando que para a legis oposigzo prudéncia a criagio de regras juridicas ¢ alternativa valida somente quando a interagio social ¢ a comunicagio entre 0s individuos falham," 0s vercadores aprovaram a proibigio sob 0 argumento de imitigar a violéncia mesmo tendo sido paeificas as manifestagdes na cidade. Assim como em Passo Fundo, 0 projeto de Iei de Porto Alegre foi copiado na integra. Até a justificativa foi reproduzida ‘em sua totalidade, omitindo-se no projeto de Campo Bom apenas uuma frase que na justificativa do projeto de lei porto-alegrense fazia mengio A cidade de Porto Alegre. Apés aprovada na Camara 4 iniciativa foi barrada pelo prefeito municipal. © veto do prefeito com o argumento de inconstitucionalidade nao foi questionado por nenhum dos vereadores."* 4 ISOLA-MIETTINEN, 2013p. ® JORNAL REPERCUSSAO, 2014, ™ SPENGLER, 2014 Assim como em Campo Bom/RS, 0 medo referente a algo distante foi utilizado em Pernambuco para legitimar a necessidade de proibigio das mascaras em manifestagdes. No dia seguinte a0 6bito de Santiago Andrade surgiu em Pernambuco lei antimascaras que fundamentava a necessidade da norma na morte do cinegrafista ocorrida no Rio de Janeiro, A distincia de 2.300 quilémetros entre 6 local da morte do cinegrafista ¢ 0 local onde cla ensejow a lei no mitigou o impulso legislativo, Assim, a justificativa da legislagio demonstra que ocorzeu 0 que s¢ denomina transferéncia do medo, ou sindrome da violéncia urbana, na qual um elemento objetivo acontecido em determinado lugar afeta a sensago de seguranga de pessoas em lugar distinto, Fendmeno ji conhecido por pesquisadores policiais como Amauri Meireles ¢ Litcio Emilio Espirito Santo pelo menos desde a década de 80 do século passado.” Outro estado do sul do pais atingido pelo frenesi legislativo fot Santa Catarina, Com texto idéntico 20 projeto de lei fluminense , portanto, semelhante a varios outros projetos pais afora, surgitt em terras catarinenses o Projeto de Lei 0376/13, Por sua vez, na Cimara ‘Municipal de Joinville surgiu o PL 53 em 25 de margo de 2014. Tgualmente segundo 0 molde da lei do Rio de Janeiro foi apro- vyvado no Mato Grosso a Lei 10.191 em 26 de novembro de 2014. Na justificativa, a depredagio da Assembleia mato-grossense em 20 de Junho de 2013 fai um dos fatores motivadores para a propositura. No mesmo dia que toi assinada a lei luminense surgiu no Espi- tito Santo projeto com redagio extremamente semclhante, Quatorze dias apos.a proposi¢io a autora pediu 0 arquivamento do projeto, © gue foi deferido pelo presidente da AL. O municipio capixaba Ca- riacica teve seu projeto apresentado na Cémata Municipal em 2013, (© PL foi elaborado a partir da lei fluminense tendo uma redagio um pouco melhor do que a norma originiria”. "Em Alagoas foi sancionada sem modificagio no projeto inicial lei estadual 7.962, em 8 de Abril de 2015 com texto praticamente idéntico 20 da norma fluminense de 2013. A proposigio foi de de- putado do Partido dos Trabalhadores (PT) ¢ lider do governo do 5 MEIRELES, 2007, p. 91 MEIRELES; ESPIRITO SANTO, 1985, © Algumaseviticas na redagZo da norma fluminense, mostradas acima, foram. ccorrigidas no PL de Cariacica, Estado na Assemibleia. O projeto recebeu fortes criticas de deputados de 2013. No ritmo do lema “Cain no Horto esté morto”, alusio do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), oposigao a0 ao baitro do estivlio de futebol no qual o Atlético-MG realizou a governo estadual, Se no Alagoas 0 PT propés a norma ¢ © PSDI} ‘maior parte dos joyos na conquista do titulo da Libertadores, os alegava a inconstitucionalidade da medida, em outros lugares com) torcedores comegara a ir para o evento com a méscara da perso~ Novo Hamburgo/RS 0 PSDB propdse o PT mostrou-se contririo, nagem “Morte”, do filme Pinico. Assim, ainda no inicio do ano, Assim, verifica-se que ser favorivel ou nao A proibi parece estat valendo-se do seu poder dle policia e de preceitos do Estarueo do vinculado a posicio dos atores no censrio politico ¢ no 3 uma ‘Torcedor,” a Policia proibius a utilizagio de mascaras nos Estidios. Zio ideolégica ou A eletiva preocupagio com 0 tema da seguran:s Pega tres in oelinide k Ainaecivanaaker de Que wari nas manifestagdes. Neste sentido, constata-se evidencias de que ox estimulava © cometimento de delitos no meio da torcida, legisladores nao reconheceram 0 acerto ou erro da proposigie em Apés os protestos da Copa das Canféderagics o impulso que decorréncia do contesido da norma, mas sim em virtude de un disputa partidéria, © perpecti-se um jogo de soma zero no qual a aprovagio de uma lei apresentada por um lado pode ser percebids ‘como derrota para 0 outro, No Parani, tanto a Assembleia Legislativa quanto a Camara fscaras em mani festagées puiblicas. Curitiba teve seu projeto de lei apresentado en Junho de 2014 e ainda esta em tramitagio, No més seguinte foi a ‘ver de surgir a proposigio na AL, O PL estadual recebeu parecer de inconstitucionalidade pela Comissio de Constituigao e Justiga, 0 que nio foi questionado pelo autor da proposta, tendo sido arguivado 4 meses aps a propositura A grande quantidade de leis praticamente idénticas, quase tod surgidas no intervalo de um ano, pode suscitar algumas questées ecoava pelo pais reverberou no legislative mineiro, Em um in- tervalo de 30 dias trés projetos de lei sobre a proibigZ0 do uso de miscaras em manifestagdes foram propostos apenas na AL-MG. (© primeiro ~ PL 4.474 ~ foi apresentado em regime de urgéncia. Neste observa-se uma redagio distinta das demais propostas que se vvia pelo pais, entre clas a previsio de multa pecuniaria para os que no obedecerem a ordem policial para tirar a miscara. Entretanto, 5 parlamentares parecem nfo acompanhar as proposi¢des de seus pares. Mesmno jd existindo © PL visundo impedir 0 uso de mascaras has manifestagdes, na semana seguinte foi apresentado o PL 4.516 -manas depois o PL 4.596 que em quiase sua toralidade tem ‘a mesina redagio do projeto da AL-RJ e dos demais que o repli- cam. Cabe ainda a mengio de que 6 autor do projeto surgido por relativas aos respectivos procesios de elaboragié. A aprovagio fltimo & do mesmo partido do autor do primeiro projeto, © que 2 ramitagdo urgenve ou a partir da reprodugo de lei aprovada ett parece indicar que nio hi didlogo sobre os temas nem quando os regime de urgéncia, sem lastros em pesquisas ou estudos; a auséneis Parlamentares pertencem 4 mesma sigla partidaria. O primeiro dos de um efetivo debate parlamentar que’ pode ser evidenciada pelg ‘Projetos foi sancionado pelo governador do Estado cinco dias apos aprovagio das Iei sem nenhuma alteragio no projeto inicial e pel abertura da Copa do Mundo FIFA de 2014, cépia de textos de outras cass legislativas a forte oposigao de parce ‘Na capital Belo Horizonte desde janeiro tramitava 6 PE. 180/13 considerivel da sociedade, entre outros aspectos, atingem um ponte) _que visava impedir 0 uso de capacetes em estabelecimentos privados. de extrema relevancia para a teoria da legislacio. Isto porque, pa O foco era coibir roubos. Entretanto, nesse projeto de ei ja constava ‘Winegens,"* a legisprudéncia ndo se preocupa apenas com o tex\ a proibigio de se ocultar a face em eventos com aglomeragio de final da lei, mas também com a forma na qual as norms so feitay pessoas, aspecto esse frisido por vereadores quando eclodiram os (how they are made) [protestos de 2013 em Belo Horizonte, mostrando que o legislative Em Minas Gerais 0 banimento de mascaras em ambientes coi ‘municipal estava preocupado em demonstrar que estava cumprindo aglomerages de pessoas é havia ocorrido meses antes dos protestoy suas obrigagdes. ® WINTGENS, 2013, p. 1. Art. 13-A, I, da lei n, 10.671/2008, asa coy Assim como no Rio Grande do Sul, em Minas 0 impeto ck legislar sobre © tema nio ficou restrito & capital. Em setembro «k 2014 0 municipio de Juiz de Fora, na zona da mata mineira, pro mulgou a let 13.029 que proibia a utilizacio de artificios para iin pedir a identificagao dentro de repartigSes piblicas. No caso da ler Juiz-forana, aparecem sintomas do nia dda discussio parlamentar, pois, lei n. 13.175 que estendeu a e avenidas da cidade. Na também mineira Governador Valadares surgiu © Projet de Lei 098/14 que em duas discusses e duas votagdes, todas mn) mesmo dia, foi aprovado por unanimidade em 15 de agosto «le 2014. Ourra cidade do interior de Minas Gerais com proposici sobre a proibigaio de mascaras em manifestagdes foi que teve PL em 2014 Os casos das cidades mineiras de Governador Valadares & de Juiz de Fora explicitam ainda outro ponto, Em ambos a proibicio municipal de se ocultar a fice nos protestos ocorreu quando ji em vigor lei estadual que proibia a conduta. Assim, as leis municipais Proibiam conduta expressaniente ji proibida por norma estadual, Esse fato aponta pata a conclusio que os vereadores desses muni nao observaram as leis jé existente uo ordena © impacto da legislaga0 no mundo da vida. A constatagio acima pode evidenciar algo além do que uma simples negligencia acerca do cariter sistémico do dircito. Ein rea. lidade, a menos outras duas eriticas podem surgir. A primeira, & que parece ser 0 caso de uima exibieo de linha de producio de leis. Diante da pressio da midia acerca da violencia 10s Protestos, os parlamentares apressami-se em aprovar leis com o objetivo de mostrarem procutividade, Assim, faz sentido o alerts de Fabiana Soares” de uma necessidade nefasta do legislativo exibit uma produgio de proposigées legislativas em detrimenta de outros aspectos importantes da atividade parlamentar, A segunda, € a preocupacio em mostrar que estio fazendo algo acerca do problema, desconsiderando se a medida neces siria, seus efeitos coneretos, sua efetividade c se a medida & apta a aleancar 08 objetivos mencionados na justificativa legal. Ein amadurecimento suficien\y nos meses seguintes foi promulzals proibicio da primeira norma s rus 8s Coragies, mento juridico € nem ¥ SOARE: suma, no avaliaram a real necessidade da intervengio legislativa, como sugere Andrej Kristan.” 2013. Na semana seguint oi requerida a urygncin wo tana, Entretano, em 12 de fevercto de 2014, ainda sem ser debstido ou anguvado projet ica srgi em regime de wn @ PE 30/2014 com redacio idéntica a0 primeiro.” Outra curiosida 1ue o segundo projeto tem autoriacoletiva, sendo um dos autores o proponente do primero projeto. Ou sea, sem se dscutira primeira proposta materia foi eapresentada tendo varios cosutores que m0 ee [projec inicial, O segundo projeto for convertido em lei fm 29 de agosto de 2014, sem ter nenlum ponto de seu conteado scionido ou debatido. Novamente a necessidade de demonstrar estates enka pce nk nitra raz para & jutividade sala aos olhos, Parece nio haver 0 arma propostunaseagoofto deter come autores outros plane tures ¢ simentar seus respectivos indices de produgio lifer: ‘Mesmo tramitando 0 projeto-na Assembleia Leyisativa, verea- dor pavlistano do mesmo partido do deputado que props 0 projeto toa AL-SP apresentou ma Camara Municipal o PL.657/13 dos dias 2p6s surge do ros dee staal. & prio mice Pal oi preva nas ds voraSes que oso, endo na ‘cordon so de 2015, nove meses aps a mesa prebiote sido aprovada no fmbito xa Quando envindo pars sanci0 do executive, o prefeito vetow a norma em virtude de a condutaj bida por lei estchaal Peer re umyamente cikenciad deste dot pions feom © contexto de insergio da nova legislaydo. O reconhtimento ec definido como reconstrugio do direito vigente, tecnicamente 4 cx de ote? um dos ass elementares a it a =m setanto, parece ser dispensivel para alguns parlamentares ee No Eatado de Sao Paulo, o entusasmo igualmente expand para o interior, No municipio de Piracicaba surgiu em dezembro xvr "paso ‘a constar “nos termos dos incisas IV ¢ XVI oa se i no ® SOAILES, 2007, p. 187 5a? © PLAI7 visando banir as miscaras das manifestagdes. Apesar de a conduta ser proibida por norma estadual, a proposta continua trami- tando, tendo recebido alteragdes e pareceres. Em Ribeirio Preto foi aprovada a lei municipal 13.217/14 que proibe o uso de miscara ou ‘outro tipo de ocultagio do rosto no interior da Camara Municipal Alem do mais, a Camara Municipal de Barueri aprovow a lei 2.298 em 12 de novembro de 2013 que profbe uso de miscaras, ca- pues e bandeiras em manifestag6es realizadas em prétios péblicos, No mesmo més foi apresentado PL em Sio José do Rio Preto, tendo sido aprovada como lei em 14 de julho de 2014. O Municipio de Sorocaba, por sua vez, aprovou a lei 10.809 em 7 de maio de 2014 proibindo mascaras ou qualquer forma de oculkamento do rosto em rianifestagées em loeais aberto a0 piblico. Assim, diversas cidades paulistas aprovaram ou debateram acer a proibigao de condita que norma estadual ja proibia. Cabe ressaltar {que as Camaras Municipais via de regra nio possuem informages suficientes via internet acerca do processo legislativo. Quando pos suem sitio eletrénico, muitas veres nio & possivel acessar © projeto de lei, analisaras alteragdes sugeridas ou o registro das votagdes. De sum modo geral sio divulgades, quando muito, apenas o texto da le aprovado, Portanto, dificulta-se imensamente pesquiisas empiricas acerca da realidade do proceso de elaboragio legislativa em nosso pais, tendo em vista que uma analise mais ampla exigiriaa presenga fisiea, ainda que por amostragem, em parte dos 5.570 municipios ¢ 27 Asseibleias Legislativas do Brasil." Nese sentido, se com poucas informagdes ja se consegue identificar a proliferagio das leis, a baixa qualidade das normas ¢ a auséncia de uma democracia efetiva no ‘trmite metajuridico, tal situagio ficaria ainda mais exposta se fosse possivel uma andlise mais completa da situagio, Em Goifs o PL 299 foi apresentado 4 Assembleia Legislaciva em setembro de 2013. Apos aprovagio preliminar, foi arquivado em feverciro de 2015. No més seguinte foi desarquivado para ser novamente arquivado em junho. Mesmo diante de tantas normas eriadas acerea da proibicio de se usar mascaras em protestos, acredita-se que o impulso legislative s6 nio foi maior porque em algumas unidades da federagio a poli cia ou 0 Governo anuneiaram previamente que prenderiam qui IBGE, 2015. estivesse usando niseara, mesmo nio existindo lei especificamente acerca da proibigio, Foi o caso, por exemplo, no Distrito Federal eno Pernambuco’ Portanto, o que se vé € que nos meses seguintes aos grandes rotestos que marcaram a Copa das Confederacées de 2013 houve Intenso impulso legislativo no sentido de proibigao do uso de mascara € ocultamento do rosto durante manifestagdes. Parcela considers vel dos projetos apresentados foram eépias de outros projetos, no observaram diversos aspectos da legisprudéncia ¢ foram aprovados sem muito debate acerca do tema. Ademais, diversos elementos no rocesso de aprovagio da norma evidenciam que a preocupagio nio Parece ter sido a questo da segurangs nas manifestagdes, mas apenas a produgio de lei para mostrar que os parlamentares no estavam inertes ao clamor piiblico. Sobre essa produgio frenética de leis em nosso pais € bem pertinente © comentario de Leticia Camila dos Santos, part quem: Beneficiado por um sistema de regras que Ihe investem de Prerrogativas para atuar, o agente politico membro do Poder Le~ gislativo goza de uma confianea presumida que impedia 0 nosso sistema, até hoje, de responsabilizé-lo pela produgio de leis de pouca “ou de péssima qualidade, ou ainda, pela producao excessiva de leis. Se © panorama sobre o impulso legislativo nas cimaras de jereadores © nas assembleias legislativas evidenciam um impulso legislativo excessivo ¢ leis de qualidade questioniveis, natural que Tevante davidas acerca desse cenario. no Congresso Nacional 19.3. As manifestac6es e a retérica da criminalizacéo no Congresso Nacional Seno imbito dos municipios e estados a auséncia de infor~ ages dificultam um rigor estatistivo e uma amostra suficien- fe para observagSes mais generaliziveis, esse nio é 0 caso do jongresso Nacional. No Senado e na Camara dos Deputados § recurso telamiiticos permitem um quadro mais preciso de ssa produgio legislativa, Na pesquisa realizada, apesar da ALENCASTRO, 2013, CONSTANTINO, 2013, SANTOS, 2011, p. 04 diferenga de recursos disponiveis para se estudar os diversos niveis do legislativo no pais, os dades empiricos coletados 110 imbito federal coincidem com os encontrados esparsament nos municipios ¢ estados. Destarte, tornam-se mais robustas observagdes até agora realizadas. Apés os grandes protestos de 2013 surgiu na Camara dos De putados 18 (dezoito) projetos de lei® que tocam o tema da violénciy nas manifestagdes © outros 4 (quatro) projetos no Senado” *, £3 contraste a estes 22 (vinte ¢ dois) projetos, antes de 2013 apenas uns Proposigio foi encontrada no Congresso Nacional que propunhs ti pificar criminalmente a conduta de ocultar 0 rosto em manitestagaes, trata-se do PL 2.044 de 1999, Assim, ouve um lapso mais de uma década sem que 0 mporal dle assunto despertasse 0 interesse dos legisladores. Contudo, no intervalo de 10 meses, compreendiddos entre maio de 2013 e fevereito do ano seguinte, 20 projetos de les sobre o tema surgiram no Congresso. Se considerarmos apenas os quatro meses eonsecutivos 4 Copa das Confederagdes, na Camara dos Deputados foram 9 (nove) proje tos, 0 que indica uma média de mais de dois novos projetos par més apenas em uma das easas do Congresso Nacional acerca da mesma questo. Ao invés de debater os projetos que surgiam, acrescentavido ou modificando clementos, os legisladares preferiam oferecer part 4 sociedade suas proprias regras. Os projetos foram apresentados ot esto sob relatoria de represemtantes da populagio de 12 (doze) esta 331/13; 5964713; 6.19871 532/13; 6.614/13; 7401 1/4 876/15, * 300/13; 404/13; 451/15; 508/13, " Alguny projetos de lei tramitando no Congress Nacional, ainda q teventualmente apareyam em noticias ¢ artigos como relacionadas fico deste trabalho, nio foram considerados integrantes do universe pesquisa: 0 PLS 728/11, apesar de discorrer sobre o dircito de greve th ante a Copa do Mando fi proposto ainda em 2011, da mesma forms os rojetas 707/201 e 762/201] que tem come mate o terrorisma; tannin) sobre o terrorismo surgit! © PL 499/13, apesar dos tipos penais aberton ‘mesos expressamente nio foi seu objetivo as mascaras nas manifestacdes © PLS 236/12 nia foi tomado em conta pela pesquisa pois sua ter & mais ampla, erase do novo COdigo Penal, além de ter sido projunte igualmente em 2012; e, por aktinio, o PL 28/3014 que visa alecracoes ha Estatuto do Torcedor 6307/13; 347/13 6461/13; 6.50018 M4 734/14: 7150/14 7158/14; 7.18814 dos brasileiros". Como se vé, repete-se 0 comportamento observado nos estaclos ¢ municipios acerca do frenesi legislativo difundido pelo pais com os protestos de 2013, ‘Outra semelhanga foi a utilizagao da morte de Santiago An- drade como estimulo para o impulso legislative jé intenso. Ao Jevar of fatos para piiblico a noticia precisa despertar interesse, impressionar, impactar, vender. Conforme pontuou Luana Ma galhies ao estudar a relacio direito e midia, tendo por recorte 65 crimes de homicidio, “com o intuito de instigar o lcitor, 0 Jornalista clege aquilo que the parece mais atrativo [..."". Ha um not6rio recorte feito pela mfdia para enfatizar os atos violentos, A espetacularizagio da morte ¢ da violéncia nas manifestagdes desdobrou-se em clamor pablico, o que dificulta que se entenda de forma mais sensata e racional © que se passa. Assim, a realida de foi mediada pelos jornais ¢ enfatizou-se a violencia, o crime, Pois, “o crime vende: vende filmes, livros, jogos, e também vende jornais™, Dessa forma, construiu-se a percepgio de que apenas de violéncia ¢ confrontos foram marcados os protestos de 2013, Como resultado, nas duas semanas posteriores a morte cerebral do cinegrafista surgitam 6 Geis) projetos de lei somente na Camara dos Deputados que tinham como foco as manifestagées. Dentre esses, 4 (quatro) fazem mengio expressa ao nome do cinegrafista na justificativa do texto normativo; e preceitos de direito criminal também aparecem em 4 (quatro) dos projetos « Se muito do que se viu nas Camaras de Vereadores ¢ Assembleias LLegislativas parece se repetir na Cémara dos Deputados, um elemento novo surgi: 2 questio criminal. Respeitando a competéncia privativa a Unio de dispor sobre direito penal," ndo foi encontrado nos municipios ¢ estados projetos de leis que objetivassem a eriagio de tipos penais. Entretanto, no Congresso Nacional nio faltaram pro 3 Paramentares da Tocantins, Minas Gerais e Sto Paulo js havia apreseneado projeto de lel atinentes a0 ema, ApSs os protestos de 2013 parlamentares do Mato Grosso, Santa Catarina, Sio Paulo, Rio de Janeiro, Maranhdo, Gotis, Rio Grande do Sul, Pernambuco Sergipe tamibém propuseram lei sobre a temitica. Apos 2 jangio de alguns dor projetos, a relatoria foi entregue a pparlamenar da Paraiba © CUNHA, 2014, p30 2% CUNHA, 2014, p-I1 Art. 22, |, a CREB/88 postas que desconsideraram 0 cariter subsidisrio do direito penal c © trucasio das prisdes para o controle do comportamento desviante” Dentre os 18 (dezoito) projetos de leis da Cimara dos Depu tados, 11 (onze) criaram tipos ou contravengdes penais, ou enti fornam condutas relativas 2 protestos como qualificadoras de crinc on causa dle to de pena, dando ensejo ao que comumente se denomina aumento do rigor penal; outros 2 (dois) projetos realizayn 4 interpretagio auténtica ao estabelecerem que determinadas con. dutas durante protestos caracterizam tipos penais jé existentes; wn) outro projeto remete a possbilidade de responsabilizagio criminal dos organizadores do evento em determinadas circunstincias. As sim, 14 (quatorze) dos 18 (ezoito) projetos de leis eriados sobre © tema fazem do direito penal estratégia de mitigagio da violéneia cm protestos, Dentre os 4 (quatee) projetos que surgiram no Senado, 3 (e183) contém disposi¢des de Direito P Essa estratégia de criagio de novos tipos penais ou aumento do rigor punitivo, tio comum em nossa histéria, mesmo nio tendo lastro empirico que demonstrem sua eficiéncia sempre vem & tona quando o tema seguranga pablica afeta a midia de massa. Varios sio os exemplos. A criagio de tipos penais apdsa quebradeira no estidin quando 0 time de futebol Coritiba caiu para a segunda divisio do campeonato brasileiro foi um deles. Antes mesmo de se conseguir efetivar os preceitos do Estatuto do Torcedor”, a violencia nos es {dios foi atribusda & “brandura” das penas e a inexisténcia de tipos penais especificos para eventos desportivos. A perpetuagii das cenas violéncia nos estiddios mesmo apés a criagio dos novos crimes levou Luiz Eduardo Ferreira em trabalho monogestfico criticar a estraté adotada ¢ a denomini-Ia “Panacéia Penal”. Marcos Rolim, a0 discorrer sobre as estratégias adotadas 110 Brasil para a conten¢ao da violencia afirma que: (© que se observa, invariavelmente, é uma forte pressio para que se faga mais do mesmo |... Os gestores, entio, em vez de alterare o discurso, filam as mesmas eoisas $6 que em um tom cada vez mais estridente. Assim, as “politicas de seguranga” reconhecidamente fracassadas costumam ser retomadas com mais inimo e alarde 4 © BATISTA, 2011, % Lei 10.671, de 15 de maio de 2003, © FERREIRA, 2013, cada nova gestio [..] ¢ tudo, rigorosimente tudo © que importa, permanece como esti."" ‘A sintese de Marcos Rolim é também sustentada por pesquisa tealizada por Lugs Wanderley Gazoto que demonstrou que aproximada~ ‘mente 810% das les afetas a0 Direito Penal que surgiram no Congresso Nacional desde a criagio do Cédigo Penal até o ano de 1998, criavarn crimes, aumentavam penas ou restringiam direitos penais,” € 0 que Se tem denominado de populismo penal, Ao estudar ess postura do Jegislador brasileiro, Gazoto afirma que “os éinicos que obtém vantagens ‘com o popuilismo penal sio 0s politicos ¢ aspirantes a politicos”. Face ‘9 medo em razio de circunstincia onde se aflora a violécia ou em ‘momentos nos quais ess € explorada pela midia, alguns parlamentares pressant-se ent oferecer les incriminadoras como solugio mo intuito de demonstrar para a sociedade que no estio omissos ante 0 problema. Se nio der resultado, a culpa é da policia que no consegue prevenir © do judlicidrio que nde mantém as pessoas no cineere, Como o problema ppersiste, mantem-se 08 motivos que legitimam © voto nos candidates aque fazem da violencia plataforma de campanha No caso das leis antimiscaras, 0 viés eleitoreiro parece saltar aos colhos quando se foca no processo metajuiridico e se analisa mais de- tidamentea tramitagio dos projetos. Porse tratar de matéria idéntica ou correlata, 14 quatorze) projetos foram apensados ¢ tramitavam ~ conjuntamente, todavia, pelo menos 8 (cite) requerimentos foram §nterpostos pelos autores dos projetos objetivando a desapensagio" Repetindo 0 que aconteceu nos estados e municipios, caca um quer “4 sua propria lei”, o que é sintomiitico de uma preocupagio com a produtividade legislaiva, e nao com 0 efetivo debate acerca do tema. ‘Outra caracteristica que se pode observar no contexto do in~ pubo legislative decorrente das manifestagdes de 2013 € que tanto integrantes da bancada do governo quanto da oposigio" apresenta= ST ROLIM, 2006, p. 4 % GAZOTO, 2016, p. 210 © GAZOTO, 2010, p. 295. 4. Os requerimentos solictavam dirctamente a desapensagio on 0 desarqui- Vamento do projeto que nao extavam arguivado, estavam apenas trait Yo conjuneumente: 575/2015, 291/2015, 225/2015, 9686/2014, 101/2015, 527/2015, 8873/2013, 9686/2014, ‘© Parlamentares dos seguintes partidos propuserem leis sobre 2 temitica apos fs prateston de 2014" PR, PMDB, DEM, PP, PSDB, PSD, PSOL, PSC, sata 563 rum projetos de lei, Assim, outra ver mais parece que a divergéncia ideol6gica fica em segundo plano quando se discute a criagio de tipos penais ou enrijecimento de penas, Conchusio semelhante che- gou Ricardo Sontag quando estudou o perfil ideolégico-partidério entre 0s propositores de projetos de leis apés os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Sio Palo, Pelos dados analisados pelo autor, no ha muita distingo entre os partidos quando se trata de enrijecimento de penas: “direita, esquerda, centro, todos apre- sentaram praticamente mesmo nesse tema". Ao se analisar 0 conteiido dos projetos outras criticas afforam, como o desprezo i nocio de bem juridico que deveria nortear o que deve © 0 que nio deve ser crime quando se prope penalizar o fato de se colocar uma miscara“ sem que essa agio afete qualquer bem tutelado pelo direito. Ou entao, a fancio meramente simbélica do direito penal explicitada, por exemplo, na jusificativa do PL 6.614/13, gue afirma: “Nossa proposta estabelece uma nova contravengio pe~ nal que pune a utilizagio de qualquer tipo de cobertura que oculte a identidade da pessoa durante eventos priblicos. No somos ingénuos a ponto de acreditarmos que alguém que esta disposto a tumultuar uma maniféstagio legitima sera intimicado por urna breve pena sobre 8 utilizagio de mascaras ou capacetes, nossa principal intengio & res- paldar as forgas de seguranga para exigirem a retirada da cobertur ‘Ainda que louvivel a preocupacio em oferecer suporte a atuagao da policia nas ruas, a simples proibicZo da conduta ji cumpriria a finali- dade exposta pelo deputado proponente, sem que com iso se ignore ‘© direito penal como tlt mito e seu papel fragmentirio. Assim, 0 que se pode ver é que, nos termes da pesquisa pro- posta, nao hi uma diferenca muito grande entre os projetos surgidos no Congresso Nacional ¢ dos projetos apresentados nas Cama: ‘Municipais ¢ Assembleias Legislativas. Ressalva para 0 contetido criminal, que surge apenas no Congresso, Além disso, cabe men- cionar que os projetos de lei originados no Senado possuems uma tendéncia a ter uma justificativa um pouco mais elaborada, com ‘estudos de caso acerca do assunto a ser regulamentado e argumsentos ‘t6cnicos-cientificos, em que pese 0 resultado compartilhar o mesmo fmpeto criminalizante. © SONTAG, 2007, p. 82. * Bg. PL 6.198/13, PL 6461/13, PL 6614/15, Sod 19.4. Consideracées Finais Os movimentoy de rua em junho de 2013 marcaram a hist dos protestos e manifestacies no Brasil. A quantidade de pessoas nas rruas ¢ a mobilizagio em torno desses atos foram veiculadas interna- cionalmente. Diversos foram os rellexos desses protestos. No legislativo brasilciro, como se pide demonstrat, 0s desdobra- _mentos sio passiveis de severas eriticasa partir do olhar do jurista mes- ‘mo sem se analisar os arguments utilizados ou a efetiva necessidade de se proibiras miscaras para se reduzira violéncia nas manifestacdes Nos meses seguintes is manifestagoes percebeu-se intensa ativi- dade legiferante pelo pais acerca do tema que praticamente no havi sido pauta de debate parlamentar. Nas proposigdes foram observados municipios proibindo conduta ja proibida pelos respectivos estados, tendéncia a apresentagio de novos projetos de lei ao invés de discutir os existentes, posto que surgiram projetos de lei mesmo havendo proposta semelhante tramitando na casa legislativa; projetos de leis copiados integralmente de outras casas sem se preocuparem com especiticidades locais; proposi¢Ses tramitadas em regime de urgén- ia sem debate on discussio; descuido com aspectos relevantes da legisprudéncia na escolha do contetido normativo; quando existente 6 debate sobre a matéria, posicionamento dos parlamentares obede- cendo uma légica de rivalidade partidéria, e nio na perspectiva da -construgio dialégica dos argumentos; niimero deficiente de pesquisas e estudos sobre a eletividade das medidas propostas; proposigdes no intuito de reduzir violéncia mesmo quando nfo haviam problemas decorrentes de maniféstagio na localidade onde a lei surgiv; apre- sentagio de projetos sob a emogio popular; constatardo de diversos elementos que evidenciam uma preocupagio dos parlamentares mais ligada 3 producio legislativa do que com a questio em ps ‘entre outros pontos. Especificamente no Gongresso Nacional, além de muito dos pontos observados nos municipios € estados, obser- you-se ainda 2 retérica do populismo penal, do anmento do rigor Punitive e da nio-observancia de nogies elementares para a teoria do direito penal ‘Uma perspectiva panormica evidencia que 3 intensa produgio normativa emergiu no ritmo do imediatismo midistico, com poucos sinais de uma preocupagio efetiva com o fendmeno que se tent regular. Assim, fica exposta a erenga no poder da abst rey KASSIN, Saul; FEIN, Steve; HAZEL, Rose Markus. Social Psychology. # cd, Belaiont: Wadsworth, 2011 KRISTAN, Andrej, Three Grounds for Tests of the Justifuabiity of Legislative Action: Freedom, Representative Democracy, and Rule of Lave In: WINTGENS, Luc Jy OLIVER-LALANA, A Daniel. (Ed) ‘The Rationality and Justification of Legislation: essays on Legisprudence. Cham: Springer, 2013 LAUREANO, Maximiano. Proibigio do uso de mascaras nos protestos Viola diseto 3 livre manifesacio. Vozes das Comunidades, Rio de Janeico, 23 sec, 2013. Disponvel em: . Aces#o fm: 31 de agosto de 2015. DIREITO £ MUSICA, com Ménica Sete Lopes. Programa n. 436, Belo Horizonte: dio UFMG. I8 de novembro de 2014, Programa de Rio, Disponivel ems wowwadigjustica jus br, Aceso emt 2 now. 15 MEIRELES, Amauri, O ‘Pempo e Violéncia, Belo Horizonte: Gritiea Belo Horizonte, 2007, MEIRELES, Amauri ESPIRITO SANTO, Lécio Emilio do. Sindrome dda Violéncis Urbana, © Alfores, Belo Horizonte, n.7, p. 98 — 119, et fez, 1985 OLIVEIRA, Sweevin Tadeu Soares de. A Relativizagio de Direitos Fundamentais no Contexto do Estado Democratico de Direitos: 0 direito de reuniio e seus limites expressos e implicitos, 2012. | Monografia (Bacharelado em Direito) ~ Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012 ROLIM, Marcos. A Sindrome da Rainha Vermetha: Policiamento € 1a no Sécalo XT, Rio de facto Jonge Zaha, 2006, ‘na solugao dos conflitos humanos em detrimento de medidas sfetivas © concretas ¢, como diz Moniea Sette Lopes, “qualquer solugdo que se centre na lei ¢ na sangdo como meio de afisisy conflito, ¢ apenas neles, estara fadada a0 mais fragoroso insticesin'” Certamente, » que se evidenciou & apenas um retrato, wn 10 corte da realidade. Entretanto, a partir dele ficam expostas alain questdes sobre 0 processo legislativo brasileiro e acerca do reitv1 |, fracasso das politicas de seguranea no Brasil Refer€ncias com, Sio Palo, 23 ago, 2013, Disponivel em: covwraregie be ces em 3 de agosto de 2013 a, CUNHA, Lan Mashed Ar. © Dito Prodat da Nota 8 morte estampada nos Jorma 2014 Discroe ae De) Prgmma de Pix rng em Dicer da Gente Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte 20s 1 ERICEIRA, Le Femanda, A Panacéia Py ; ERREIA, Li nae Penal: Andlise don Dispositivos Criminais do Estatuto do Torcedor sob toa do Garaatisme Peal. 213 Mortis havens cate Satie) = Adenia ce Pal ide Minn Gee ss GAZOTO, Ls Wate. Jstcatinas do Congreso Nack Brasileiro ao Rigor Penal Legislati Bolecinnents opeliomo penal no Brill Contemporines Ine thn Universidade de Brasilia, 2010. ipeteeoten Ciel INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA HCE ord Sabi? Meniegion Novon Dupes coe ibs gout voce-sibarutinnnsrmuniion seen em: 15 now. 2015. ne a. ISOLA-MMIETTINEN, Hamel. The |, Hannele, The Principled Lega Srsc Rationality of Lega Pinepls in the Creaon of Lav tn: WINTCERY, ie J OLIVERCLALANA, A Dunc Ul) The Redon tification of Leyslaton: essays on Legaprescres ‘Springer, 2013. pe oot auteernsonte. Chany (Mestrado em Direito) — Programa de Pés- Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011, SOARES, Fabiana de Menezes, Teoria da Legislagio: formagio e conhecimento da fei na idade tecnoligica. Porto Alegre: Sergio ‘Antonio Fabris Editor, 2004, ‘SOARES, Fabiana de Menezes. Legistica ¢ Desenvolvimento: a qualidade da leino guadiro da otimizacio de una melhor egslagio, Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, n. 50, p. 124-142, jan. — jul, 2007. Ricardo, O Excesso como Medida: 0s projets de enrijecimento do PCC” e a cultura punitiva contemporiinea. Espago journal of Law, Chapecd, vol. 8, n. 1, p. 47-60, 2007, pp © DIREITOEM 566 fe JORNAL REPERCUSSAO, Proibigio de Mascaras em Manifestagdes ha pauta em Campo Bom. Jornal Repercussio, Campo Bom, 29 mai 2014, Disponivel em: . Acesso em: 31 de agosto de 2015. SPENGLER, Mauri. De 18 a 24 de julho de 2014, A Gazeta, Campo Bom, 24 jul, 2014, Disponivel em: Acesso em: 31 de agosto de 2015. TARGINO, Izabelle, Apds Polémica, ALE aprova projeto_que proibe smascatas em protestos. Alagoas24horas, Maceio, 11 mar. 2015. Disponivel em: . Acesso em: 31 de agosto de 2015; TEIXEIRA, Fibio, Lei contra miscaras no Rio € inconstitucional, diz OAB-RJ, O Globo. Rio de Janeito, 10 set. 2013. Disponivel em oglobo.ogiabo. com>. Acesso em: 31 de agosto de 2015, WINTGENS, Luc J. Legisprudence as a New Theory of Legislation Ratio Juris, vol 19,» 1p. 1-25, march, 2006 WINTGENS, Luc J. The Rational Legislator Revisited. Bounded Rationality and Legisprucence. In: WINTGENS, Lue J; OLIVER LALANA, A Danicl. (Ed) The Rationality and Justification of Legislation: essays on Legisprudence. Chany: Springer, 2013. Rae

Você também pode gostar