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meio a tantos que tem vindo a tona nas últimas semanas. Permiti a escrita espontânea e fluida, não
reli, não revisei, não alterei, foi tomando forma no caos e sinto partilhar pra além de mim, escolhi
essa rede.
Sex in capitalism
Há pouco essa imagem me veio a mente como num flash, um dos desenhos preferidos que fui
presenteada. Após essa memória, me veio a tona a cena que completou a obra, mas cujos
efeitos venho percebendo que ainda se fazem presentes, e vem ainda como padrões cíclicos
ressignificados. Nada de muito novo no front. A memória imagética vem pintada com a
adrenalina descarregada naqueles momentos, olho agora o rolo de papel kraft que tem no
meu quarto e me vem como um enjoo de um tanto que precisa ser vomitado, a consciência da
indigestão quase uma década depois. Gritos, acusações, descontrole, o desenho sendo
brutalmente arrancado da parede, placas de gesso sendo lançadas ao chão, gritos pedindo pra
parar, não sei quanto tempo durou. Lembrei agora o medo que senti, um flash do momento
em que busquei uma rota de fuga caso meu corpo fosse o próximo objeto a ser destruído, na
sequência a sensação de um corpo que não se movia, a culpa imobiliza. Não sei quanto tempo
durou. Lembro do olhar, do ódio expresso, não faço ideia do motivo naquele dia e ainda me
custa entender que não interessa o motivo. Só lembrei da cena, não sei quanto tempo durou.
Em algum momento parou. Eu provoquei, choro, choro pelo choro, reconhecimento e
identificação do descontrole, desta vez com danos físicos a um espaço, meu quarto. Espanto,
medo reprimido, choro, pedido de desculpas pelo descontrole, pelas palavras, pela destruição
material, desculpas, desculpas. É só um momento, assuma sua parte. Eu provoquei. Sex in
capitalim.
Lide com isso, lide com toda a destruição da destruição. Quase uma década e após um breve
diálogo, ligações numa madrugada, esculhambações e ao amanhecer “foi mal, tive uma crise
daquela, cê ta ligada”. Tô. Era carnaval. 2019 e milhares de quilômetros de distância. Tô ligada.
E essa música não me cabe, nem a outra. Nem aquela poesia, a do barquinho.
A percepção e o reconhecimento do corpo que pensa diante uma, duas, três invasões, percebe
que ainda se imobiliza enquanto um turbilhão de pensamentos tenta se articular com a voz, na
segunda vez, a ação vem mais imediata. Pernas que voltam ficam inquietas repentinamente.
Insônia que pede pra que algo seja trazido a consciência. Dor de garganta, não é COVID. Dor
que imobiliza articulação. Não é chikungunha. Não quero mencionar mais que isso. Nem
outras situações, nem narrar ou descrever fatos, trajetórias, pensamentos, pessoas, processos.
Paro por aqui.
Juá, Óregano, Camomila, Laranja, Erva doce, Capim Santo, Gengibre, música e flores
acalentam, alertam, apontam caminhos.