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UNIDADE 6

Poder nas organizações

O poder é a capacidade de exercer influência sobre indivíduos e grupos. Sob essa ótica, o
conceito de liderança se aplica a poder; logo, liderança é poder.

6.1 Poder
Poder é um conceito que admite múltiplos focos de análise.

Falamos em poder da burocracia, poder do pensamento positivo, poder do chefe, querer é


poder, poder institucional, poder do mercado, poder sem limites, mão invisível do poder,
poder da eminência parda, etc.

Focalizaremos aqui o poder nas organizações.

O poder é uma relação porque só existe se existir alguém sobre o qual ele
seja exercido.

São as pessoas que exercem poder, podendo valer-se, para tanto, de estruturas,
estratégias, objetivos, informações ou outra coisa qualquer.

Assim sendo, o poder é a capacidade de exercer influência sobre indivíduos e grupos. Sob
essa ótica, o conceito de liderança se aplica a poder; logo, liderança é poder. Além disso,
para que um líder exerça seu poder de influência sobre uma pessoa, precisa, no mínimo,
identificar suas motivações.

Logo, existe uma relação entre:

motivação liderança poder

Para J. Kenneth Galbraith, há três principais fontes de poder:

personalidade

A personalidade refere-se a qualquer característica pessoal. Nas sociedades primitivas, tal


característica era a força física. Nos dias atuais, essa característica pode ser a inteligência,
a conduta moral ou a capacidade de nos expressarmos adequadamente.
Para Galbrait, a personalidade revela o estágio mais antigo do exercício do poder. Por
esse motivo, é tão sedutora a nossos instintos arcaicos, seduzindo jornalistas,
comentaristas de televisão, etc. Porque permite que eles apareçam na telinha, enquanto a
propriedade e a organização não permitem isso.

propriedade (riqueza)

A propriedade compra submissão. O dinheiro fala. Nas palavras de Gailbraith, "o


empregador curva os trabalhadores a seu objetivo, o homem rico submete seu motorista, o
grupo de interesse específico compra os políticos, o libertino domina sua amante [...]"

organização

A organização refere-se a grupos organizados (empresas, movimentos sociais urbanos e


rurais, escolas, hospitais, igrejas). É a fonte de poder mais importante na era
contemporânea.

Como diz o velho ditado, a união faz a força. Para Galbraith, hoje em dia, uma
personalidade, por mais atraente que seja, necessita da organização para respaldar-lhe o
poder. Ao deixá-la, deixa também o poder que exerce.
O declínio do poder emanado da personalidade e da propriedade deve ser atribuído,
certamente, ao crescimento dos grupos organizados. Entretanto, para Galbraith,
personalidade, propriedade e organização não são mutuamente excludentes, ou seja,
pode haver uma combinação entre elas.

A personalidade, por exemplo, faz uma boa dupla com a propriedade.

Por outro lado, a propriedade faz uma boa dupla com a organização e com uma
personalidade dominante.

As combinações são variadas.

6.2 Reinvenções do poder


O poder é exercido por pessoas, individual ou coletivamente.

É fantástico quando descobrimos que Henry Ford, o mago da indústria automobilística, ao


afirmar que os clientes poderiam adquirir carros de qualquer cor, desde que fossem pretos,
seria refutado, nos dias atuais. Isso acontece porque os clientes também exercem poder;
nesse caso, o de optar por cores.

Ford referia-se aos clientes externos, mas, no exercício do poder, podemos incluir os
internos.

A mudança de modelo mental de Ford lhe permitiria reinventar o poder.

Podemos destacar dez reinvenções do poder. Clique em cada uma delas a seguir para
obter mais informações.
autoconhecimento

Cada pessoa é a régua com que avalia tudo e todos. Logo, é preciso compreender o
funcionamento dessa régua, sob pena de a pessoa ficar deslocada no mundo.

O autoconhecimento pode fortalecer-nos e levar-nos à própria mudança do conceito de


poder. Sentindo-se menos ameaçada, mais segura e reconhecendo que sozinha ninguém
dá conta das respostas rápidas exigidas pelo novo ambiente de negócios, cada pessoa
pode vir a valorizar o poder compartilhado.

É possível ter uma visão da empresa que se deseja, mas essa visão não se tornará
realidade se não for coletivamente construída. Por outro lado, soluções que dizem respeito
às melhores maneiras de se obter resultados e de se enfrentar a turbulência da era
contemporânea, por exemplo, podem ser extremamente ricas quando apresentadas por
quem está mais próximo de onde as coisas acontecem.

O autoconhecimento pode levar-nos a valorizar o poder compartilhado, e este, como


vimos, pode ser fator motivacional.

autodesenvolvimento

Adultos são responsáveis por seu próprio desenvolvimento.

Quando falamos em desenvolvimento, consideramos todas as dimensões humanas:

 física;
 emocional;
 intelectual;
 espiritual.

O conhecimento que adquirimos é patrimônio nosso.

Comentário

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Autodesenvolvimento
Autodesenvolvimento, para Tracy Goss, é a capacidade de reinventar-se. Ela diz que se
alguém precisa reinventar sua organização e ser bem-sucedido, precisa, em primeiro
lugar, reinventar a si mesmo, mudando o próprio ser. Para alterar seu modo de ser, a
pessoa deve criar um novo contexto e estar disposta a morrer para poder tornar-se um
novo ser; a dizer a verdade para si mesma; a assumir riscos; a fazer promessas corajosas;
a ser responsável por suas escolhas e ações; a assumir o compromisso de tornar
possibilidades em realidades. E no campo do compromisso, afirma Tracy, não existem
explicações, provas, justificativas, receitas. Existe a paixão.

O poder do autodesenvolvimento pode levar-nos à maestria pessoal, uma jornada que


começa quando decidimos aprender alguma coisa e nos empenhamos nisso a cada dia,
dominando as frustrações que podem advir da não obtenção de resultados imediatos e
buscando sempre um desempenho melhor.
Por que os atletas e os músicos treinam o tempo todo? George Leonard, lembrando que
cada pessoa está equipada para aprender e continuar aprendendo do nascimento até a
morte, sugere cinco chaves mestras para obter-se maestria. São elas:

 instrução;
 prática;
 entrega;
 intencionalidade;
 limiar.

A primeira chave mestra é instrução. Como nos podemos instruir? Para Leonard, podemo-
nos instruir em sala de aula, lendo livros, assistindo a filmes, conversando com amigos
instruídos, observando a rua e de muitas outras formas.

A segunda chave mestra é a prática. O que significa? Lembrando de um adágio das artes


marciais, Leonard diz que mestre é o que fica no tatame cinco minutos a mais do que
qualquer outro, todos os dias. Prática, portanto, é qualquer coisa que fazemos sempre,
como parte integrante de nossa vida, por amor à própria prática. Tracy afirma que, para
termos um desempenho extraordinário, o segredo é a prática. Com base nela, adquirimos
a liberdade de nos envolvermos com a vida por ela mesma, como um presente.

A terceira chave mestra é a entrega. O que é isso? Para Leonard, a coragem de um


mestre é medida por sua disposição em entregar-se ao professor e às exigências da
disciplina necessária à obtenção da maestria.

A quarta chave mestra é a intencionalidade. O que significa? No jargão administrativo,


intencionalidade é visão. Para Leonard, todo mestre é um mestre da visão. O autor cita
Arnold Schwarzenneger: "Meu desejo de ser Mr. Universo aconteceu porque eu me vi,
com a mais absoluta clareza, no palco, vencendo". Podemos lembrar Zico, o menino
franzino que se viu um grande atleta e tornou-se exatamente esse grande atleta. Por outro
lado, Tracy Goss, ao definir poder como a capacidade de abraçar algo que pensava ser
inviável, declarar como possível a realização e transformar a possibilidade em realidade,
define possibilidade como um futuro inventado, a partir do qual se vem para o presente. É
a visão. É a intencionalidade.

A quinta chave mestra é o limiar. O que significa? Para Leonard, limiar é a exploração dos
limites do impossível. O autor alerta que desafiar o limite é um ato de equilíbrio e exige de
cada pessoa saber quando está passando dos limites da segurança.

Fonte
GOSS, Tracy. A última palavra em poder. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
LEONARD, George. Maestria: as chaves do sucesso e da realização pessoal. São Paulo:
Cultrix, 1995.

Comentário

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Poder de autodesenvolvimento
O filme Um sonho de liberdade ilustra a seguinte afirmativa: o conhecimento que
adquirimos é patrimônio nosso. Nele, um executivo de uma instituição financeira foi preso
sob a acusação de ter assassinado a mulher e seu amante. Levado a julgamento e
condenado à prisão perpétua, foi encarcerado em um presídio cruel, onde o poder da
corrupção era a tônica. Sofreu maus-tratos até que os guardas da prisão descobriram seu
conhecimento em finanças.

Passou a calcular o imposto de renda dos guardas. Começou a desfrutar de certas


regalias. Tornou-se o responsável pela biblioteca. Depois, o diretor do presídio, altamente
corrupto, mandou que fizesse certa contabilidade e desviasse dinheiro da casa de
detenção para sua conta particular. O ex-executivo criou a figura de um fantasma, com
carteira de identidade, CPF e tudo o que fosse necessário.

Enquanto isso, o ex-executivo conseguiu um martelinho, desses com que se faz


esculturas, e foi abrindo um buraquinho na parede de sua cela. Para escondê-lo, usou o
pôster de uma bela mulher. Os guardas olhavam seu pôster, mas viam apenas o que
estava na superfície, como é a tendência humana. O importante estava oculto, e o
buraquinho foi sendo aberto aos poucos, quanticamente, e ninguém viu. Quando, afinal, o
ex-executivo conseguiu fugir pelo buraco aberto na parede, levou consigo toda a
documentação do fantasma que criara e ficou rico.

É claro que esse caso pode ser analisado de vários ângulos, mas o que importa aqui é
destacar que esse homem foi salvo graças a seu acervo intelectual. Durante 30 anos,
aprisionaram seu corpo, mas não conseguiram aprisionar sua mente, pois ela continuava
livre e autodesenvolvendo-se, apesar de todos os constrangimentos externos.

Às vezes, quando um jovem passa no vestibular, a família brinda-o com um carro, uma
viagem ou outro prêmio qualquer. Talvez devesse ser o contrário. O jovem é que deveria
brindar a família com presentes, porque ela permitiu-lhe, incentivou-o ou facilitou-lhe
investir em algo que é acervo, patrimônio do jovem.

mente flexível

A mente flexível é a mente plástica, aquela que, abandonando a rigidez de uma só


resposta, encontra soluções variadas para os problemas.

comunicação interpessoal

A comunicação interpessoal pode provocar boas indagações (aquelas que clarificam


problemas) e também boas respostas.

O poder da comunicação interpessoal está na obtenção de pontos de vista diferenciados,


terreno fértil para soluções criativas.

Esse poder é altamente contributivo.

Comentário

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Oposto da comunicação interpessoal


Existe um anúncio veiculado pela televisão que mostra o oposto da comunicação
interpessoal. Trata-se da propaganda de uma revista. Nela, uma família quer ler a revista,
e cada um de seus membros não poupa esforços desagregadores para isso: cascas de
banana são jogadas, roupas são puxadas, bengalas são interpostas e, dessa forma, cada
membro da família vai sendo derrubado.

O estímulo provocado pela propaganda piora quando se considera que muitos de nossos
comportamentos na empresa têm origem em nossa célula familiar. Dessa forma, a
propaganda é um estímulo não só à não comunicação interpessoal como à desagregação
da família, já tão fragilizada nos tempos atuais.

Por que as pessoas que aparecem na telinha não negociam, não chegam a um acordo de
modo que todos tenham acesso à revista?

compromisso, do engajamento

Se compartilharmos poder, é bem provável que provoquemos a motivação das pessoas,


que elas se sintam comprometidas com os resultados e engajem-se na tarefa de obtê-los.

O poder do engajamento pode ser aferido na riqueza de processos e de resultados.

incerteza

Sempre queremos ter certeza de tudo. Afinal, como podemos planejar sem certezas?

A organização burocrática trabalha com controle e previsibilidade.

Estamos perdidos? Claro que não.

A incerteza pode levar-nos à inovação, à experimentação – se bem-sucedida, ótimo; se


malsucedida, aprendemos com o erro –, à melhoria contínua, ao risco consequente. A
incerteza pode afastar teias de aranha mentais.

aglutinação de forças

Com Galbraith, aprendemos o poder da organização, da associação na facilitação de


processos e na obtenção de resultados.

reconhecimento de opções, de múltiplas possibilidades

Associado ao poder da mente flexível, o poder de reconhecimento da existência de opções


pode levar a resultados bastante criativos.

A produção criativa tem duas dimensões centrais:

 originalidade;
 relevância.

Ser original significa que o ato criativo representa algo mais do que um próximo passo
lógico. Ser relevante significa que tal ato seja apropriado à determinada situação.

Movimentos criativos podem levar a empresa a renovar-se. A criatividade não é privilégio


de alguns deuses, mas um potencial existente em todas as pessoas, que deve ser
estimulado e reconhecido no ambiente de trabalho.
intuição

A intuição tem o poder de expandir a consciência e de encontrar formas integradas de


conhecimento.

senso coletivo de destino

O senso coletivo de destino pode levar-nos a exercitar o amor, esse princípio de ação que
organiza, comunica, anima. Como diz o cardiologista Dean Ornish, as necessidades
humanas básicas não são apenas comida e bebida, mas amor e conexões sociais. E mais,
a taxa de ataque cardíaco é menor em muitos lugares da Europa onde impera um estilo de
vida mais ameno, em que as relações sociais são baseadas na cooperação, e não na
competição.

"Assim, sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração, porque dele
procedem as saídas da vida" (Provérbios 4:23).

Por seu turno, Edgard Morin, o célebre filósofo francês da atualidade, que veio ao Brasil
várias vezes, afirma:

"[...] o amor é complexidade emergente e vivida; a mais vertiginosa computação é


menos complexa do que o menor gesto de ternura."

Quanta sabedoria, hein?

Leitura

Clique no ícone para acessar uma sugestão de leitura.

Poder de senso coletivo de destino


Para saber mais sobre o poder de senso coletivo de destino, leia...

 MORIN, Edgard. La méthode. Paris: Seuil, 1997.

6.3 Síntese da unidade


A seguir, navegue pelo mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade. Clique e
arraste os itens de conteúdo para visualizar as ramificações dos assuntos.

Mapa conceitual

Clique no ícone para acessar o mapa conceitual que sintetiza o conteúdo desta unidade
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