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10.1. Introdução
Nesta aula serão apresentados alguns exemplos do uso da função de tensão de Airy na solução de
problemas bidimensionais da Teoria da Elasticidade com o uso de coordenadas polares. Serão tratados
inicialmente os problemas mais simples, associados aos casos de distribuições de tensão independentes
de (item 10.2), e que permitem a obtenção de soluções já vistas, como o problema do vaso de pressão
cilíndrico de parede espessa, submetido a pressões interna e externa que não variam ao longo das
superfícies em que estão aplicadas (item 10.3). Outros casos relacionados a distribuições de tensão
independentes de são os de flexão pura de barras curvas (item 10.4) e o de cisalhamento puro, onde a
única tensão atuante na chapa é a tensão ఏ (item 10.5). Como exemplo de distribuição de tensão
dependente de veremos o caso de concentração de tensões em chapas contendo um orifício circular,
denominado Problema de Kirsch (item 10.6).
∇ଶ + ఏ = 0 Eq.(3)
1
Notas de Aula preparadas pelo Prof. Dr. Roberto Ramos Jr., email: rramosjr@usp.br
ଶ (, )
ఏ =
ଶ
Eq.(5)
1 (, )
ఏ = −
Eq.(6)
Resta, portanto, satisfazer apenas a equação de compatibilidade de deformações (Eq.(3)), sendo que
a substituição das Eqs.(4-5) em Eq.(3) leva a:
Considerando, inicialmente, os casos mais simples nos quais a distribuição de tensão é independente
de , vemos que a equação de compatibilidade de deformações dada por Eq.(7) fica reduzida à forma
da seguinte equação diferencial linear, ordinária, de 4ª ordem, com coeficientes não-constantes:
ସ () 2 ଷ () 1 ଶ () 1 ()
ସ ଷ ଶ
+ . − ଶ. + ଷ =0 Eq.(9)
ଶ ()
ଷ
ఏ () = = 2
ଶ − ଶ +
ସ 3 + 2ln ()
Eq.(12)
ଶ
ఏ = 0 Eq.(13)
Se considerarmos, agora, casos em que a origem do sistema de coordenadas não faz parte do
domínio do sólido, é possível termos ambas constantes,
ଷ e
ସ , não nulas. Tomando, por ora, apenas
ସ = 0 nas distribuições de tensões encontradas para a função de tensão , apenas duas constantes
de integração restam para serem determinadas, e as distribuições de tensões ficam:
ଷ
= 2
ଶ +
ଶ
Eq.(14)
ଷ
ఏ () = 2
ଶ −
ଶ
Eq.(15)
ఏ = 0 Eq.(16)
Observando que as tensões cisalhantes ఏ são nulas em todos os pontos do sólido2 e que a
distribuição de tensões radiais fornece tensões uniformemente distribuídas quando a distância r é
constante, concluímos que a solução encontrada pode ser diretamente associada ao problema de
distribuição de tensões em um vaso de pressão cilíndrico submetido a uma pressão interna (em
= ) e a uma pressão externa (em = ), conforme ilustra a Fig.1, já que as condições de
contorno podem ser plenamente atendidas neste caso. Aplicando estas condições de contorno,
encontramos:
ଷ
ଷ
= 2
ଶ + = − e = 2
ଶ + ଶ = −
ଶ
2
Note, porém, que isto não significa que as tensões de cisalhamento são nulas segundo quaisquer direções, mas apenas
nos planos diametrais, ou seja, nos planos de normal ݊ሬԦ = ݁Ԧ e ݊ሬԦ = ݁Ԧఏ .
ఏ = 0 Eq.(19)
A qual coincide integralmente com a solução encontrada em [3], porém obtida agora com o uso de
uma função de tensão apropriada.
y
po
pi
x
b
a
x
Mo Mo
ଷ
ఏ () = 2
ଶ − +
ସ 3 + 2ln ()
ଶ
Eq.(21)
ఏ = 0 Eq.(22)
3
Note que a espessura da barra é medida ao longo da direção z, ou seja, não é a diferença entre os raios b e a.
A última equação pode ser obtida analisando-se qualquer um dos contornos retos, pois, sendo a
distribuição de tensões independente de , todas as seções transversais devem ter a mesma distribuição
de tensões. Assim, impondo que o momento das forças distribuídas por unidade de área seja
equivalente ao momento fletor aplicado, teremos:
ఏ . . = −
Levando a:
−
ଶ ଶ − ଶ +
ଷ . !
−
ସ ଶ 1 + ! − ଶ 1 + ! =
Eq.(25)
ସ = − − ଶ
"
2 ଶ
Onde:
Finalmente, substituindo os valores das constantes nas Eqs.(20-22), virá (ver, p.ex., [1],cap.4):
ଶ ଶ
= − % ! & ' − ଶ ! & ' + ଶ !
(
"
4 ଶ
Eq.(26)
4 ଶ ଶ
ఏ = % ଶ !
− ଶ &1 + ! & '' + ଶ &1 + ! & '' (
"
Eq.(27)
ఏ = 0 Eq.(28)
E também os adimensionais:
* ζ௫ =
ζ=
+ = &,ζ
" - − 1' − 4,ζ௫ - &!,ζ௫ -'
ଶ ଶ ଶ ଶ
௫
"
4 ଶ ζ ζ
Eq.(29)
ζ ௫ ζଶ
"
4 ζ ζ
ଶ
Eq.(30)
ζ ௫
A Fig.3 ilustra as variações das tensões radiais adimensionalizadas para diversos valores do
adimensional ζ௫ (a saber: ζ௫ = 1,2 , ζ௫ = 1,5 , ζ௫ = 2,0 , e ζ௫ = 2,5). É interessante
observar que a máxima tensão radial diminui conforme aumentamos a largura da barra, dada pela
diferença − = (ζ௫ − 1), ou seja, para vigas curvas esbeltas, a tensão radial máxima é muito
mais pronunciada, sendo este um resultado que não é possível de ser obtido pela Resistência dos
Materiais. De forma análoga à Fig.3, a Fig.4 ilustra as variações das tensões circunferenciais para os
mesmos valores do adimensional ζ௫ empregados antes.
Sendo:
( − )ଷ ଷ ( + )
0= ,ζ௫ − 1- , 1 = = ,ζ௫ + 1-
ଷ
=
12 12 2 2
De tal forma que, na forma adimensionalizada, podemos escrever:
)ఏ,ோெ ζ = −
6,2ζ − ζ௫ − 1-
,ζ௫ − 1-
ଷ
Eq.(32)
Fig. 3. Tensões radiais adimensionalizadas () ζ), para vários valores de ζ௫ = /.
Observa-se que, como esperado, ao aumentarmos a largura da barra, dada pela diferença − =
(ζ௫ − 1), as tensões circunferenciais diminuem de forma significativa (em virtude do aumento da
inércia da seção transversal), tanto pelos resultados da Teoria da Elasticidade quanto pelos da
Resistência dos Materiais. Observamos também que, para vigas curvas esbeltas, os resultados
aproximados dados pela Resistência dos Materiais são bastante próximos dos resultados obtidos pela
Teoria da Elasticidade e, portanto, bastante aceitáveis.
= . Eq.(33)
ଶ (, )
ఏ =
ଶ
=0 Eq.(35)
1 ,
ఏ = − . /= ଶ
Eq.(36)
Do fato de que tanto a tensão radial quanto a circunferencial são nulas em todos os pontos do sólido,
vemos de imediato que a função apresentada é biharmônica (e, portanto, é, de fato, uma função de
tensão de Airy), pois satisfaz a equação de compatibilidade de deformações (ver Eq.(3) e Eq.(7)). A
distribuição de tensões encontrada é uma distribuição onde apenas tensões cisalhantes ఏ comparecem
(sendo estas independentes de ). Aplicando estes resultados ao domínio formado por um anel de raio
interno a e raio externo b, como indicado na Fig.5, teremos os seguintes carregamentos aplicados aos
contornos:
Sobre o contorno interno ( = ):
ఏ −1
= = = . =2 3 . *ఏ = − ଶ . *ఏ
ఏ 0 −ఏ
0 0
= −ఏ
0
b
a
x
Fig. 5. Domínio formado por um anel (ou um cilindro) em condições de EPT (ou EPD).
Vemos, portanto, que as tensões cisalhantes são constantes em cada região equidistante da origem
do sistema de coordenadas. A Fig.6 ilustra como ficam distribuídas as tensões para o caso em pauta,
considerando que a constante C é um número real positivo (C > 0).
|ఏ | =
ଶ
|ఏ | =
ଶ
ଶ
௭ = ఏ . ଶ . = . . = 24
ଶగ ଶగ
ଶ
4
Pode-se tomar qualquer distância r da origem, com ܽ ≤ ܾ ≤ ݎ.
Como já era esperado, o anel está em equilíbrio sob a ação dos binários interno e externo, não
havendo a necessidade de comprovar o equilíbrio (já que as equações diferenciais de equilíbrio ficam
automaticamente satisfeitas quando definidas através de uma função de tensão de Airy).
y
ߪ ߪ
0 0 1
Logo:
78 ଶ − *78
ᇱ = 5− *78 * ଶ 06
0
0 0 0
Assim, as distribuições de tensões (nos pontos distantes do orifício) ficam dadas, em coordenadas
polares, pelas seguintes expressões:
1 782
= 78 ଶ = . + /
2 2
1 782
ఏ = * ଶ = . − /
2 2
A Fig.7 ilustra como ficam estas três distribuições de tensão (adimensionalizando cada uma delas pelo
valor da tensão de referência ).
Lançando mão de um contorno circular (formado por pontos que distam ≫ da origem do sistema
de coordenadas), temos que o carregamento sobre este contorno deve satisfazer a seguinte condição:
= =
Ou seja6:
(, ) ఏ (, ) 0 1 (, ) 78 ଶ
5ఏ (, ) ఏ (, ) 06 . 90: = 9ఏ (, ): = 9− *78 :
De forma análoga, no contorno formado pelo bordo do orifício (ou seja, em = ), teremos:
0 0 0 0 0 0
= = = 0
Ou seja:
(, ) ఏ (, ) − (, )
5ఏ (, ) ఏ (, ) 06 . 9 0 : = 9−ఏ (, ): = 90:
0 −1 0
0 0 0 0 0 0
5
O círculo de raio unitário representa apenas o círculo trigonométrico.
6
Note que estamos utilizando a base ܾ′ = ሺ݁Ԧ , ݁Ԧఏ , ݁Ԧ௭ ሻ para estabelecer a condição de contorno.
Assim, escrevemos:
(, ) = , (, ) + , (, )
E
ఏ (, ) = ఏ, (, ) + ఏ, (, )
, , = −
2> + + ଶ 782
ସ
6
4@
ఏ, (, ) =
2> + 12? ଶ + ସ 78 2
6
ఏ, (, ) =
2> + 6? ଶ − ସ − ଶ *2
6
2@
6
4@
A
2> +
ସ
+ ଶ =0
6
2@
2> + 6?ଶ − ସ − ଶ = 0
6
2@
2> + 6? ଶ − ସ − ଶ = −
> = − ? = 0
= − ସ @ = ଶ
4 4 2
Obtendo-se, assim, a solução para o caso (B).
Aplicando o Princípio da Superposição, obtemos finalmente:
ଶ ଶ ସ
(, ) = 1 − & ' + 1 − 4 & ' + 3 & ' 782
ଶ ସ
2 2
Para pontos suficientemente afastados do bordo do orifício, isto é, para ⁄ → 0, tem-se:
Observações Finais:
i.
= 78 ଶ
ఏ = *ଶ
ఏ = − *78
ii. No bordo do orifício, = , tem-se:
= 0, ఏ = ,1 − 278 2 -, ఏ = 0
iii. Para = 4C2, tem-se:
ଶ ସ
ఏ = 2 + & ' + 3 & '
Observe que ఏ tende rapidamente ao valor (o que prova que o efeito do orifício é, de fato,
2
localizado).
y
ߪ௬
߬௫௬
ߪ௫
10.7. Referências
[1] Timoshenko, S.P.; Goodier, J.N., Theory of Elasticity, 3rd ed., Mc-Graw-Hill, Inc., 1970, 567p.
[2] Love, A.E.H.; “A Treatise on the Mathematical Theory of Elasticity”, 4th ed., Cambridge University
Press, New York, 1927.
[3] Ramos Jr., R. “PME-2350 – Mecânica dos Sólidos II. Aula #7: Vasos de Pressão de Parede
Espessa. Notas de aula da disciplina PME-2350. 13p.
[4] Ramos Jr., R. “PME-2350 – Mecânica dos Sólidos II. Aula #8: Estado Plano de Tensão & Estado
Plano de Deformação. Notas de aula da disciplina PME-2350. 7p.
[5] Ramos Jr., R. “PME-2350 – Mecânica dos Sólidos II. Aula #9: Equações de Compatibilidade de
Deformações & Função de Tensão de Airy. Notas de aula da disciplina PME-2350. 8p.
[6] Sadd, M.H., Elasticity: theory, applications, and numerics, 2nd ed., Elsevier, Inc., 2009, 536p.