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Dedico essas palavras a todas as mulheres e homens do meu sistema familiar e

do sistema familiar do meu esposo Eduardo, foi através do Sim de vocês que a
vida chegou até nós!

Ao meu esposo Eduardo por embarcar junto comigo nessa aventura chamada
Paternidade e Maternidade!

Ao Antônio (nosso anjinho), Miguel e Olívia, vocês são nosso maior êxito!

Ao Instituto de Apoio Psicológico, na pessoa de Dilson Vicente Lima e Olga


Simone Almeida de Paulo Lima, local onde eu conheci as Constelações
Familiares e que me permite conciliar trabalho e maternidade de forma plena!

Ao meu grande amigo William Carrapateira que me acompanha nessa jornada


e me estimulou a contar a minha história!

A minha amiga Elisamar Brambila Salbego Ortiz, mãe da Helena, que me


convidou para palestrar sobre o tema que deu origem a esse livro!

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Sobre a Autora
Eu sou Lis Damasceno de Oliveira Fernandes, nasci no dia 05 de
dezembro de 1982, em Porto Velho, Rondônia. Sou a primeira filha do
Severino e da Pascoalina e irmã mais velha do Pedro Luís e da Taís!

Minha mãe conta que sempre fui uma criança esperta e desde cedo
gostava de ajudar! No nascimento do meu irmão eu tinha 1 ano e 3 meses
e mamãe fala que em meio aos cuidados com o bebê eu sempre estava
presente! Talvez ali, entre um banho, as trocas de fralda, um mamazinho,
tenha brotado em mim esse desejo de ser mãe!

Na infância, perguntavam-me o que eu seria ao crescer e eu


respondia: bailarina, professora, lixeira, astronauta (risos), mas no fundo,
bem lá no cantinho do coração, meu sonho era ser mãe e ter uma família!

Então, cá estou eu com 36 anos, casada, mãe, com uma linda


família! Longe de ser a família Doriana, somos uma família comum e real,
com suas alegrias e suas dores, suas perdas e suas conquistas!

Fonte: Acervo pessoal (foto Paula Cayres Fotografia)

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Sumário

Introdução ...............................................................................................................................5

Filhos são retrovisores ........................................................................................................6

As três leis que regem o amor .......................................................................................10

1ª fase: O luto ......................................................................................................................12

2ª fase: Bonecão do Posto...............................................................................................15

Mamãe, você parecia um monstro! .......................................................................................20


Sim, você é o meu papai! .......................................................................................................21
Filho, ele é o pai certo para você! ..........................................................................................22

3ª fase: Pé no Chão ............................................................................................................26

Sim, você é a minha mamãe! .................................................................................................28


O Grande Livro das Mães! ......................................................................................................31
Carta de Bert Hellinger à sua mãe ..........................................................................................33

Livros de Consulta ..............................................................................................................35

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Introdução
Maternar é sem dúvida uma das experiências mais transformadoras
e enigmáticas na vida da mulher!

Somos tomadas por uma explosão de emoções, muitas vezes


ambíguas, que nos tiram do centro.

Na maratona da maternagem eu precisei muitas vezes me


reinventar, redescobrir e reencontrar o meu lugar no mundo. As
constelações familiares propagadas por Bert Hellinger foram de grande
auxílio para esse processo.

Olhar para mim, cuidar das minhas dores, acolher minha história e a
de meu sistema, me possibilitou ver e me conectar com nossos filhos,
aceitando-os como são, e proporcionando-lhes experiências profundas de
vínculo e liberação para o novo.

Para isso, foi preciso dizer Sim para a realidade como ela é e abrir
mão das expectativas e ideais ligados à maternidade.

É sobre isso a minha partilha com vocês!

Desejo que seja uma leitura agradável! O que escrevi aqui saiu do
meu coração e de muitas mães que fazem parte do meu sistema!

Um grande abraço,

Lis Damasceno de Oliveira Fernandes

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Filhos são retrovisores
Nossos filhos são retrovisores! Por meio deles, nós mães, entramos em
contato com o mais profundo em nosso ser: a imagem e as memórias da
criança que fomos um dia, da nossa mãe e do nosso pai!

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Basta ver aqueles dois risquinhos no teste de gravidez que imediatamente


somos tomadas por uma série de emoções! Independentemente se essa
criança, que já está em seu ventre foi desejada ou não, somos
teletransportadas para outro planeta ou dimensão, confesso que não sei
bem ao certo!

Acredito ser esse primeiro choque gerado por entrarmos em contato com
a grandeza da vida! Ao mesmo tempo é um misto de alegria, tristeza,
insegurança, gratidão, angústia, e muitas outras sensações! É um milk-
shake de emoções!

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A partir de agora você é mãe, será você quem cuidará para que outro ser
sobreviva, assim como você sobreviveu! Às vezes esse é um peso tão
grande, que algumas não dão conta e acabam optando por interromper a
gestação ou gestar a criança e dá-la em adoção!

Aborto e abandono são temas polêmicos, então, escrevo essas palavras


sem julgamento algum, apenas como reflexão! Pode ser que essa mãe
tenha dores tão profundas que ela não dê conta de passar a vida à diante,
que para ela não seja possível acolher a vida que chega até ela ou ainda,
que maternar seja algo doloroso demais! A vocês meu profundo respeito!

No fundo, são mulheres tão comuns como todas as outras! Assim como
ser mãe, receber a vida e educar um filho é desafiador, entregar um filho
ou interromper a gestação também é um desafio e isso também tem um
preço e uma consequência.

Fonte: Imagem de H. Hach por Pixabay

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Bert Hellinger, no livro A fonte não precisa perguntar pelo caminho relata
que os abortos têm efeitos sobre a vida dos pais e que frequentemente a
dinâmica que se estabelece é a de seguir o filho não nascido na morte ou
permanecer na expiação (culpa) não ficando plenos na vida. A boa solução
seria então que os pais dessas crianças lhes dessem um lugar em seus
corações, reconhecendo a sua existência, sentindo a dor pela sua perda e
transformando toda a culpa em algo bom, como por exemplo, cuidar de
outras crianças, idosos, honrando assim aquelas crianças que não
puderam nascer. Aqui ocorre então a reconciliação, “quando então a dor
pela criança aflora nos pais, isso a honra e então flui o amor entre os pais
e as crianças” (HELLINGER, 2012, p.132).

Àquelas que deram conta de receber a vida e leva-la à diante, minha


reverência! Cada gestação é um renascer! Se gato tem sete vidas, mãe
tem muito mais! A cada gestação, parto, fase dos filhos vamos nos
transmutando! Ser mãe é movimento, é transformação, é viver o ciclo da
borboleta infinitas vezes!

Fonte: Imagem de Vlad Indrei por Pixabay

E quem faz com que nós mães sejamos essa metamorfose ambulante?
Eles os filhos!

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São os filhos que gentilmente vêm ao mundo para dizer:

- Querida mamãe, há algo lá atrás que a senhora ainda não olhou!

- Querida mamãe, há pessoas da família que estão esquecidas!

- Querida mamãe, como a minha vovó é bonita! Olhe para ela com amor!

- Querida mamãe, quem ainda precisa ser enterrado?

- Querida mamãe, o vovô também faz parte da família!

- Querida mamãe, cadê o meu papai?

- Querida mamãe, onde está o meu irmão?

- Querida mamãe, quais dores sua criança interior ainda carrega?

Há uma infinidade de questões, essas foram apenas algumas trazidas


pelos nossos filhos até a mim e que eu precisei olhar pausadamente!

A cada pergunta, uma nova conexão, um novo olhar para minha família,
para meus pais, meus avós, bisavós, trisavós.... Na medida em que
caminhava na estrada da maternidade fui entendendo que era parte de
um sistema maior, eu não estava sozinha no mundo, havia um lugar de
força e esse lugar era o colo do meu pai e da minha mãe!

Eu precisei olhar para trás, para então poder ficar no presente e rumar
para o futuro!

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As três leis que regem o amor
Bert Hellinger, ao observar as dinâmicas de relacionamento, identificou a
existência de três leis que afetam a maneira como o indivíduo se
comporta no meio social.

A primeira lei é a do Pertencimento, TODOS tem o direito de pertencer ao


sistema familiar, sejam eles vivos ou mortos, bons ou ruins, feios ou
bonitos. O vínculo de pertencimento se dá pela existência da vida e não
dos atributos (qualidades ou defeitos) dados uns aos outros.

Nosso sistema familiar é muito maior do que o indivíduo, se olhar para 40


gerações antes da nossa vou encontrar mais de 2 trilhões de pessoas que
viveram para que hoje eu estivesse aqui!

Os abortos e os natimortos também tem lugar na família! Para Bert a vida


começa na fecundação, pois é ali o início da formação do ser que depois
virá a nascer! Eles também fazem parte!

A segunda lei é da Hierarquia. Há uma ordem entre os membros do


sistema, os que nasceram primeiro precedem os que nasceram depois. A
ordem é estabelecida pelo tempo de chegada aqui nesse planeta! Há o
lugar do avô, da avó, do pai, da mãe, do primeiro filho, do segundo e
assim sucessivamente! A ordem possibilita a tranquilidade nos sistemas.

A terceira lei é a do Equilíbrio entre dar e receber. Essa lei fala das trocas
que estabelecemos nas relações. Na relação entre pais e filhos, os pais dão
e os filhos recebem! Os pais dão aquilo que tem em seu baú, aquilo que
conseguiram juntar e recolher ao longo da vida, pode ser moedas de ouro,
prata, bronze, ferro ou qualquer outro metal, não importa! Quando os
filhos dão conta de receber essas moedas eles se sentem plenos e felizes e
podem dizer aos seus pais:

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“Obrigado, elas são suficientes. São as moedas de que
necessito e as que mereço. Assim, eu as tomo com gosto,
pois vêm de vocês. Com elas serei capaz de seguir meu
próprio caminho.” (GARRIGA BACARDÍ, 2013, p.09)

Bert Hellinger alerta que o desrespeito a essas leis gera alguma dinâmica
disfuncional, desse modo, podemos olhar para aquilo que está além do
aparente e fazer as “reparações” necessárias!

Ao tomar consciência dessas três leis iniciei o meu processo de retorno


para encontrar realmente a minha essência e estar mais presente para a
maternidade. E agora enquanto escrevo essas palavras ressoa em meu
coração a letra da música O Portão de Roberto Carlos:

Eu cheguei em frente ao portão, e eu falei ...


meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão, Onde andei não deu para ficar,
eu voltei porque aqui,
aqui é o meu lugar
Tudo estava igual como era antes,
quase nada se modificou
Acho que só eu mesmo mudei, Eu voltei pras coisas que eu deixei,
e voltei ... eu voltei ....

Eu voltei, Sem saber depois de tanto tempo


agora pra ficar, se havia alguém a minha espera
porque aqui, Passos indecisos caminhei
aqui é o meu lugar
e parei
Eu voltei pras coisas que eu deixei,
eu voltei ...
Quando vi que dois braços abertos,
Fui abrindo a porta devagar, me abraçaram como antigamente
mas deixei a luz entrar primeiro Tanto quis dizer e não falei
Todo meu passado iluminei, e chorei ....
e entrei ...
Eu voltei,
Meu retrato ainda na parede,
meio amarelado pelo tempo agora pra ficar
Como a perguntar por onde andei porque aqui,
aqui é o meu lugar

Eu precisei voltar para reencontrar meu lugar. É sobre isso que


compartilharei com vocês. Resumi a maternidade em fases que descrevo a
seguir!

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1ª fase: O luto
Meu primeiro contato com a maternidade foi o luto! A nossa primeira
gestação não veio a termo e perdemos nosso bebê com aproximadamente
06 semanas de gravidez. Era fevereiro de 2009.

Fonte: Imagem de Capri23auto por Pixabay

Ainda lembro-me do exato momento de sua partida e como me senti. Era


uma manhã e eu voltava da aula de Direito Romano, na época eu fazia
faculdade e estava repondo uma matéria no período matutino. Eu já havia
tido um pequeno sangramento antes, mas entre a opção de fazer o
repouso e cumprir com as obrigações, escolhi ir pra faculdade. Havia

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conversado com o médico e ele me disse que eu poderia continuar com as
atividades cotidianas e apenas evitasse fazer esforço ou pegar peso.

Eu estava dirigindo, descendo uma avenida quando em um dos quebra


molas, senti escorrer o sangramento. Meu coração gelou! Acho que por
alguns segundos eu parei de respirar! Naquele exato momento eu sabia
que o bebê já não estava mais em meu ventre! Foi uma partida sem
despedida!

Cheguei em casa e corri para o banheiro, ainda havia uma pequena


esperança! Liguei para meu esposo para contar o ocorrido. Passei o resto
da manhã amuada. À tarde fomos fazer o ultrassom, eu precisava ver para
acreditar! De fato, o bebê não estava mais lá!

Confesso que naquele momento fui tomada por um misto de dor e alívio.
Alívio? Sim! Será que eu estava preparada pra ser mãe? Acho que não era
pra ser! Um milhão de frases e justificativas vieram na minha cabeça para
tentar disfarçar o sentimento mais brutal que havia dentro de mim
naquele momento: a culpa por não me sentir capaz de gerar um filho e o
alívio por ele ter partido!

Lidar com essa realidade foi dura e na época eu não consegui acolher isso!
Essa foi a minha maior sombra que eu joguei pra debaixo do tapete e que
generosamente o Miguel nosso segundo filho veio para me mostrar!

Para nossa família, conhecer e vivenciar por meio das constelações


familiares o ensinamento do Pertencimento trazido por Bert Hellinger foi
o acalanto! Bert nos ensina que todos os membros de uma família tem o
direito de pertencer, todos merecem ter um lugar no coração dessa
família. Não importando se estejam vivos ou mortos! Aqui pouco importa
se esse membro viveu 90 anos ou apenas algumas semanas, aqui
consideramos o surgimento da vida, o momento da fecundação: do
encontro do espermatozoide e do óvulo, da energia masculina e feminina,
quando a mágica da vida acontece!

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Com as constelações familiares, eu pude compreender que tudo está a
serviço do todo, consegui ver e sentir todo aprendizado que o Antônio,
esse ser de luz me trouxe, pude sentir empatia e honrar todas as mulheres
do meu sistema familiar que também vivenciaram essa mesma
experiência, mas que por muitos motivos não puderam se expressar como
faço agora, pude olhar para as crianças não nascidas e dizer:

- Vocês tem um lugar no meu coração!

- Vocês também fazem parte da nossa grande família!

Hoje, o Antônio, nosso primeiro filho tem um lugar em nosso coração e


em nossa família e tudo segue em paz!

Aquilo que antes era dor e sofrimento se transformou em amor,


aceitação, saímos do estreito e fomos para o amplo!

Falar do nosso primeiro bebê é cheio de leveza e amorosidade, Miguel


volta e meia pergunta do irmão: - Mãe, se meu irmão tivesse nascido,
quantos anos ele teria?; - Mãe, que mês meu irmão ia nascer?; - Mãe,
meu irmãozinho, está lá no céu, né? Na sua ingenuidade e curiosidade de
criança, ele resgata e faz o irmão sempre presente, há um profundo amor,
um amor que integra, que acolhe, que independe da presença física para
existir. É esse amor que Bert e muitos outros estudiosos chamam de amor
de vínculo, um amor tão forte e profundo que mantém a família unida por
várias gerações!

A você querido Antônio sou grata, por em pouco tempo, ter me ensinado
tanto. Você tem um lugar em meu coração! Sei que um dia nos
encontraremos, mas ficamos um pouco mais e desfrutamos da vida em
sua honra! Amamos você!

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2ª fase: Bonecão do Posto
Intrigada porque nomeei a segunda fase de bonecão do posto?

Quando pensei em escrever esse e-book automaticamente me veio a


imagem do bonecão do posto: um boneco inflável, agitado, com um
sorrisão no rosto, mas vazio por dentro! Era assim que me sentia depois
do nascimento do Miguel.

Miguel nasceu no dia 06 de dezembro de 2010, um dia após meu


aniversário, às 1h33 da manhã! O parto dele foi uma cesariana não
programada e após nascer ele foi para quarto junto de mim somente às 06
horas da manhã! Em resumo, a realidade foi bem diferente da que eu
idealizei! Por anos, carreguei uma culpa imensa por não ter tido nosso
filho junto de mim nas suas primeiras horas de vida, mas hoje percebo que
isso foi o possível para mim naquela época!

Após o nascimento do Miguel tive dificuldades na amamentação, ele teve


refluxo severo, não dormia, chorava muito! Hoje analisando os fatos vejo
com clareza a minha total desconexão com ele. Minha alma ainda estava
presa ao luto não vivido pela perda do primeiro bebê! De alguma forma
parte de mim não estava ali! Isso não significava que eu não o amava, pelo
contrário, sempre houve muito amor! Mas o luto não vivido gerava um
bloqueio em mim!

Sobre os sintomas do bebê Gutman (2014, p. 22 e 23) afirma:


Anular um sintoma do bebê não deveria jamais ser um
objetivo. (...) Deveríamos ser capazes de sustentar o sintoma
até entender o que está acontecendo e qual é a situação
emocional que a mãe precisa compreender ou atravessar.
(...) O bebê manifesta a sombra, aquilo que não é
reconhecido conscientemente pela mãe. (...) Quando a mãe

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se questiona, imediatamente libera o filho, pois assume a
sua própria sombra.

Então como Miguel é uma criança extremamente amorosa cada sintoma


dele expressava algo que eu não dava conta de acolher:

a) Dificuldades na amamentação: Mamãe, eu me recuso viver assim


como meu irmãozinho! Logo, eu não me alimento!
b) Refluxo: Mamãe, por você eu vomito toda a tristeza que você não
consegue engolir e processar!
c) Insônia: Mamãe eu cuido de você! E fico com você o tempo todo!
Você nunca mais vai se sentir só!
d) Choro: Mamãe, eu no seu lugar! Eu choro o seu luto mamãe!
e) Falta de foco: Mamãe, cadê o meu irmão que eu não encontro!

Na época que esses fatos aconteceram eu ainda não conhecia as


constelações e lidei com eles da melhor forma de pude, como um
bonecão de posto, agitando, tentando resolver as coisas, enlouquecida e
oca por dentro! Voltar à terapia foi fundamental!

Fonte: Imagem disponível em: <https://ocatequista.com.br>.

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Outro grande conflito que emergiu foi Maternidade X Trabalho! Talvez
esse tenha sido um dos maiores! Inclusive, foi essa questão profissional
que me levou às constelações!

Na época eu fazia terapia e as constelações familiares chegaram até mim


por meio de um folheto. Num primeiro momento achei aquilo tudo muito
estranho e resolvi perguntar para meu psicólogo se ele conhecia. Para
minha surpresa ele não só conhecia como também estava fazendo o curso
de constelação familiar! Alguns dias se passaram e no meu coração algo
me dizia: - Lis, você precisa fazer uma constelação!

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Era início de 2014, constelação agendada, lá fui eu no IAP (Instituto de


Apoio Psicológico) para constelar o tema indecisão profissional e saí com
muito mais coisas na mala.

A indecisão profissional era o sintoma de algo muito mais profundo, a


constelação me mostrou o caminho de volta, era preciso TOMAR pai e
mãe, dar-lhes um lugar no meu coração!

Isso não significava que eu não amasse meus pais, significava que parte de
mim ainda exigia algo que eles não podiam dar, parte de mim ainda queria
por amor cego resolver coisas que só eram do papai e da mamãe, parte de
mim ainda estava totalmente voltada para as dinâmicas da minha família
de origem enquanto a minha família atual ficava em segundo plano. Como

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eu poderia ser uma mãe e uma esposa presente se eu ainda estava
totalmente voltada para a história de papai e mamãe?!

Hellinger (2018, p. 63 a 79) descreve em seu livro Um lugar para os


Excluídos os cinco Círculos do amor:

1º Círculo: os pais

2º Círculo: a infância e a puberdade

3º Círculo: dar e tomar

4º e 5º Círculo: concordar com todos os seres humanos e com o


mundo.

Esses círculos ilustram a maneira como nós vamos crescendo e nos


posicionando no mundo, para estar pleno nos círculos seguintes é preciso
ter findando os ciclos anteriores, primeiro olho para mim e meus pais,
depois à medida que cresço passo a me relacionar com os outros até que
encontro alguém para estabelecer um relacionamento amoroso e uma
família e aí me desenvolvo plenamente para estar a serviço do mundo!

É muito comum ficarmos emaranhados ao nosso sistema de origem,


tentando inconscientemente resolver os conflitos de papai e mamãe,
perdemos então energia vital para tocarmos nosso
casamento/relacionamento e estarmos a serviço dos nossos filhos! A esse
emaranhado Bert chama de amor cego, que é um amor que adoece e nos
deixa presos, é um amor que nos faz cumprir uma função no sistema e
sinalizar aos nossos pais que algo precisa ser resolvido.

Então para estarmos plenos é preciso deixar papai e mamãe e seguir com
o nosso parceiro! Para isso é necessário antes, reconhecer a existência e
importância do pai e da mãe na nossa vida!

Hoje, olhando, já sob a luz das constelações familiares, tudo como foi
reconheci em mim a presença da memória de abandono e de abusos.
Questões essas que me impediam de me manter distante dos filhos. Eu
queria ser mãe e me fazer presente!

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Comecei, então, a traçar uma nova trajetória profissional que me
possibilitasse conciliar as duas coisas! Escolher esse caminho nem sempre
foi fácil, exigiu renuncias às expectativas, contudo, me fez por o pé no
chão, aceitar e desfrutar da minha realidade mãe e profissional como ela
se apresentava.

Hoje faço parte da equipe do IAP – Instituto de Apoio Psicológico,


localizado em Campo Grande-MS, e me dedico a um trabalho no qual
posso estar a serviço da vida de outros e da minha família!

Conciliar maternidade e vida profissional nem sempre é fácil, exige de nós


resiliência, aceitação e, sobretudo, a humildade em aceitar a nossa
humanidade! Nesse quesito, mais uma vez Miguel e Olívia tiveram grande
contribuição, pois eles me sinalizaram a importância de estar presente!

Fonte: Acervo IAP (foto Wilson Jr. Fotografia)

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Mamãe, você parecia um monstro!

Miguel tinha uns 04 anos, não queria tomar banho e relutava bravamente!

Eu estava bem cansada naquele dia, brava comigo mesma, o bonecão do


posto remexia forte dentro de mim! Num lapso de raiva, transferi para ele
toda minha frustração! Gritei, fui muito ríspida nos meus gestos. Ele
começou a chorar e eu dizia: - Engole esse choro menino! Tal qual meu pai
dizia pra mim quando eu chorava! E ele chorava ainda mais! Diante
daquela cena desastrosa meu marido interviu me afastando dele e
dizendo: - Deixa que eu cuido dele, vai respirar um pouco! E assim fiz! Foi a
primeira vez que realmente eu perdi todas as estribeiras!

Depois mais calma fui conversar com o Miguel. Ele na sua meiguice de
criança disse: - Nossa mamãe, naquela hora que você gritou comigo você
parecia um monstro! Meu Deus, naquele momento eu desabei, meu
coração se partiu em mil pedaços! Ali todos os sinais de alertam
começaram a apitar e eu decidi que precisava dar um passo a mais! Eu
precisava olhar para meu papai!

Fonte: Imagem de Digital Photo and Design DigiPD.com por Pixabay

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Sim, você é o meu papai!

O episódio com o Miguel conectou-me com a criança ferida em mim.


Quando eu gritava com ele eu repetia uma ação que meu pai fazia comigo
me mandando engolir o choro.

Ali eu percebi a repetição de um padrão de comportamento do campo


familiar que recebe e repassa essa informação aos seus membros. Quanto
mais eu julgava e criticava meu pai, mais parecida com ele me tornava.
Soa meio estranho, mas a dinâmica do nosso sistema familiar é essa: eu
me torno tal qual aquela pessoa que eu mais critico, julgo e excluo.
Lembra: todos tem o direito de pertencer! É como se a sabedoria do
sistema dissesse: Você está aqui apontando o dedo por determinada
atitude daquela pessoa, mas faz exatamente igual!

Ao tomar consciência dessa dinâmica de repetição e exclusão e do quão


dolorosa ela foi pra mim, eu decidi fazer um pouco diferente! Contudo,
antes de seguir era preciso respeitar aqueles que vieram antes.

Então, mais uma vez, olho para o retrovisor, pego a minha mochila e
literalmente vou ao encontro do meu pai. Dirigi mais de 150 quilômetros
para dar-lhe um abraço, dizer que sentia muito e que era muito grata pela
vida e por tudo que ele tinha feito por mim! Sabe a parábola do filho
pródigo, eu era a filha pródiga!

Naquele dia meu pai nasceu pra mim! E eu puder ver o grande homem
que ele é!

Ao dizer para meu pai que eu recebia todas as moedas ao preço que tinha
custado a ele, meu coração e minha alma tornaram-se plenos, e essa
plenitude resplandeceu nele também. Sobre esse reconhecimento Garriga
Bacardí (2013, p.9 e 10) escreve:
Ao ouvir isso [Obrigada pelas moedas elas são suficientes],
os pais, que como todos os pais se engrandecem por meio do
reconhecimento dos filhos, sentiram-se ainda maiores e
generosos. Interiormente sentiram que podiam seguir dando

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a seu filho, porque a capacidade de receber amplia a
grandeza e o desejo de dar.

Então, disseram: "Você é um bom filho. Pode ficar com


todas as moedas, pois pertencem a você. Pode gastá-las
como quiser, e não precisa devolvê-las. São seu legado,
único e pessoal, são para você. Então o filho também se
sentiu grande e pleno. Descobriu- se completo e rico e pôde
em paz deixar a casa dos pais. Na medida em que se
afastava, andava com firmeza, com os pés firmes sobre o
solo. Seu corpo também estava bem situado no solo, e
diante de seus olhos um caminho claro e um horizonte
promissor se abriam. [inclusão nossa].

E agora com papai dentro do meu coração eu estava pronta para dar um
lugar ao meu esposo e liberar o nosso filho para ir até o seu pai!

Filho, ele é o pai certo para você!

Era outubro de 2015, Miguel tinha 04 anos e eu me preparava para fazer a


primeira viagem sozinha na qual ficaria mais que 05 dias longe de casa.

Eu fui para Curitiba participar do Seminário Internacional Constelações


Familiares e Pedagogia Sistêmica, facilitadora Marianne Franke-Gricksch. A
primeira memória que tenho dessa viagem foi de um banho de chuva
torrencial que tomei. O maior banho de chuva da minha vida! Eu de mala
e cuia andando por Curitiba debaixo da chuva e só pensava: - Algo de bom
há de florescer disso tudo!

Dito e feito! O curso com a Marianne Franke-Griscksch me ajudou a


construir a ponte do coração do Miguel para o coração do pai dele! Nas
constelações e explanações daquele curso uma mensagem ficou muito
viva dentro de mim: - Só a mãe leva o filho ao pai!

Há uma frase famosa de Bert Hellinger que diz:

Somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o


mundo. As mães não podem fazê-lo. O amor dele não é

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cuidadoso nesta forma como é o amor da mãe. O Pai
representa o espírito. Por isso o olhar do pai vai para a
amplitude. Enquanto a mãe se move dentro de uma área
limitada, o pai nos leva para além desses limites para uma
amplitude diferente.

Fonte: Imagem de Lorraine Cormier por Pixabay

A mãe leva o filho para o pai e o pai leva o filho para o mundo! Assim o
filho fica pleno e completo!

Primeiro, foi necessário reconhecer em meu coração,


que o meu esposo foi o homem escolhido por mim e
que ele era o pai certo para o nosso filho. Depois
precisei comunicar isso ao Miguel, como? Por meio do
livro: Eu amo meu papai, da Editora Cultural.

Comprei o livro de presente para ele na lojinha do


curso, li o livro antes e olhando nos olhos do Urso pai
vi os olhos do meu marido Eduardo e internamente
disse: - SIM, você é o pai certo para ele!

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Chegando casa, sentamos e lemos o livro juntos! Olhei nos seus olhinhos
de criança e disse: - Filho, você pode amar o seu papai! Ele é o pai certo
para você!

Fonte: Acervo pessoal (foto Paula Cayres Fotografia)

Você pode estar pensando e no caso de situações onde o pai tem algum
comportamento disfuncional, onde há violência, como fazer?

Em situações como essas, é necessário, sobretudo, desvencilhar-se a


relação do casal (que pode ser finita) da relação paternal (que é infinita)!

Exige de nós uma postura adulta e sem vitimismo, isso não significa
esconder a dor colocando-a para debaixo do tapete, pelo contrário, é
necessário seu reconhecimento e elaboração. Hellinger (2015, p. 31)
afirma que a boa solução é voltar-se ao primeiro amor (relacionamento de
casal), dando-lhe um espaço novamente, independente do que tenha
havido. Reconhecer e respeitar o parceiro pelo tempo que viveram juntos,
não significa, necessariamente, manter a convivência física, esse
reconhecimento se dá, sobretudo no campo interno, na nossa alma.

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É preciso também considerar o fato de que, por mais conturbada que seja
a relação entre o casal, a relação parental pode ser um pouco diferente.
Aqui recorro aos ensinamentos de Marianne Franke e Bert Hellinger:
Quando há a alienação paterna a criança sente que a mãe
está roubando algo dela e daí a relação com a mãe se
quebra. Surge a raiva, a revolta, os vícios, a vontade de não
ir para a vida! (FRANKE, 2015, palestra)

Toda criança tem dois pais. Para uma criança, é preciso


poder amar ambos os pais. Uma criança não compreende
por que seus pais se separam. Ela ama ambos da mesma
maneira. (...) às vezes, tem medo de mostrar que ama o pai
da mesma maneira. Ela tem medo de que a mãe fique com
raiva e de que, além do pai, acabe perdendo também a mãe.
Contudo, secretamente, ela sempre ama o pai. Quando
escuta a mãe dizer que amou muito o pai, pode mostrar à
mãe que também ama o pai. Então a criança se sente
aliviada. (HELLINGER, 2015, p. 183)

Os adultos precisam superar seus próprios dramas, para isso é preciso


olhar além das suas dores e não passa-las para os filhos. Quando os pais
cuidam da própria felicidade, são bem sucedidos, saudáveis e felizes, os
filhos sentem que têm permissão para também ter a alegria, a saúde e a
prosperidade.

Essas são algumas frases que podem auxiliar as mães a levar os filhos até
os pais ou vice versa:
• Se teu pai/mãe te visse assim ele ficaria muito feliz!!!

• Quando eu vejo você sentado em frente a mim, tão cheio de saúde, lembro-
me de seu pai/mãe, então ainda o(a) amo em você.

• Eu sou o pai, Você é a mãe, Eu te respeito como pai, Eu te respeito como mãe.

• Eu te agradeço por juntos termos tido esse filho maravilhoso.

• Filho(a), você é a melhor parte minha e do seu pai e algo a mais!

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3ª fase: Pé no Chão
A gravidez da Olívia foi muito esperada e desejada. Foram praticamente
04 anos de espera até a tão esperada notícia chegar em 21 de junho de
2017: Estávamos grávidos novamente!

Novamente fui invadida pela sensação de plenitude! Uma nova vida


estava sendo gerada em meu ventre e eu ia ser mãe novamente! Eu já não
era a mesma Lis da primeira e nem da segunda gravidez, já tinha
caminhado bastante, caído em alguns buracos, entretanto ainda haviam
questões que precisavam ser olhadas e acolhidas!

No início da gravidez da Olívia também tive sangramento! O medo de


perder o bebê invadiu meu coração, a morte estava batendo outra vez na
minha porta; a ansiedade pela espera da gravidez, tudo aqui remexendo
dentro de mim!

Foram dias difíceis, precisei fazer repouso, desacelerar! Era preciso ir mais
devagar, ficar com os pés no chão, no aqui e no agora: foi essa a
mensagem da Olívia para mim! Depois da fase Bonecão do Posto era a
hora de colocar o pé no chão e seguir mais centrada!

Fonte: Imagem de Pexels por Pixabay

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A Olívia nasceu em 01 de fevereiro de 2018 de parto normal! Um parto
humanizado lindo! Estavam ao meu lado meu marido Eduardo, minha
irmã Taís (que além de tia era a pediatra que receberia a nossa filhota), a
Tati Marinho, minha doula e minha GO Dra. Rubia Borges! Olívia nasceu
empelicada (sem rompimento da bolsa), de 36 semanas e 05 dias!
Adiantou só 22 dias pela DPP (data provável do parto), mas nasceu
saudável, da forma e quando ela quis!

Ao parir a Olívia eu pude sentir toda a propulsão que a vida tem! Todo o
trabalho de parto fez-me honrar minha mãe e todas as mulheres do meu
sistema familiar e do meu esposo! Fez-me renascer como mulher! Fez-me
de fato ocupar o meu lugar de mãe!

Fonte: Acervo pessoal (foto Angelica Alves Fotografia)

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Sobre esse processo de cura e conexão à ancestralidade feminina,
compartilho uma frase de Bert Hellinger que foi bastante significativa:
Quando uma mulher decide curar-se, ela se transforma em
uma obra de amor e compaixão, já que não se torna
saudável somente a si própria, mas também a toda a sua
linhagem.

Fonte: Imagem de Couleur por Pixabay

Sim, você é a minha mamãe!

Para ocupar o lugar de mãe eu precisei antes ocupar única e


exclusivamente o meu lugar de filha!

Eu sempre tive uma ótima relação com a minha mãe! Somos muito
parecidas! Gostamos das mesmas coisas! Temos temperamentos
parecidos! Mas depois da maternidade, observei que algo havia ficado
diferente entre nós! Não ruim, apenas diferente!

Durante as terapias que participei fui percebendo a repetição inconsciente


da história da minha mãe: dei-me conta que fui estudar na mesma

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universidade que ela havia estudado, namorei meu marido a distância, tal
qual ela namorou meu pai, casei e tive filhos com praticamente a mesma
idade dela! Tudo era muito semelhante! Era como se eu estivesse
reescrevendo a sua história. Compreendi como eu estava plenamente
conectada à minha mãe no amor cego!

À medida que caminhava na estrada maternidade fui aceitando que já não


podia mais carregar as malinhas da minha mãe, estava ficando muito
pesado vez que também precisava carregar as minhas malas e as malas
das crianças, então iniciei um processo para desvencilhar-me dela e
reconhecer meu próprio eu! Confesso que foi bastante doloroso.

Dei-me conta de uma memória transgeracional de abandono depois de


uma conversa com a minha mãe. A simbiose mãe e filha continuava ativa,
eu tinha nascido, mas na minha alma ainda permanecia dentro do ventre
materno! Lembro-me de um exercício de renascimento e como foi difícil
para eu nascer, queria ficar lá, junto com a minha mãe!

Fonte: Imagem de Blanka Šejdová por Pixabay

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Tomar consciência dessa realidade foi sem dúvida um grande passo para a
conexão com minha essência. Ter renunciado ao meu ideal de mãe e às
minhas expectativas infantis e poder conversar com a minha mãe sobre
isso, como duas mulheres e mães comuns, também foi fundamental!

Ali éramos mãe e filha, compartilhando suas experiências e histórias!


Nunca me esquecerei daquela tarde, da nossa conversa, em meio às
máquinas de costura da minha mãe!

E mesmo sem dizer: - Querida mamãe, hoje eu renuncio a todas as minhas


expectativas infantis, renuncio ao ideal de mãe. Por muito tempo
permaneci ligada a ti por um amor cego. Eu incluo esse amor, pois ele me
ensinou o sentido de cuidar. Agora querida mamãe, eu escolho caminhar
por mim, por favor, me abençoe para seguir fazendo um pouco diferente.
A ti sou grata. E que ela não tenha dito: - Querida filha eu te abençoo,
pode seguir! Eu senti que nós pudemos nos liberar. Naquele momento eu
renasci como filha para me tornar uma mãe real, comum, ainda que com
feitos extraordinários!

Fonte: Imagem de Kevin Phillips por Pixabay

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O Grande Livro das Mães!

Eu costumo brincar com o Miguel dizendo que com a chegada dos filhos
nós mães recebemos um livro repleto de dicas, regras e instruções: o
Grande Livro das Mães! Essa era uma brincadeira sem qualquer viés
sistêmico, mas hoje, analisando cuidadosamente, ela traz os
ensinamentos de Bert Hellinger sobre a consciência arcaica e a consciência
pessoal.

A consciência arcaica é a consciência do grupo familiar, nela ficam


impressas todas as memórias, traumas, tradições, costumes e posturas do
nosso sistema familiar. Essa consciência é inconsciente e ela nos dá a
sensação de PERTENCIMENTO. Fazendo uma analogia, podemos
considerar a consciência arcaica como aquele caderno de receitas que
passa de geração para geração e quem vem depois vai fazendo daquele
jeitão descrito ali.

Já a consciência pessoal (individual) está centrada na pessoa do indivíduo,


na forma como ele vê, sente e age no mundo. Usando a analogia do
caderno de receitas é aquele que herda o caderno, mas em uma receita
ou outra dá seu toque pessoal!

Se estamos no amor cego estamos profundamente ligados à consciência


arcaica, seguindo exatamente o roteiro prescrito para que possamos
continuar pertencendo ao grupo. Já no amor que vê, o indivíduo percebe a
existência dessa consciência arcaica e com muito amor e respeito a tudo
como foi, consegue fazer um movimento diferente, trazendo assim o
movimento de expansão e crescimento ao sistema familiar.

Ao me tornar mãe, todas as mães do meu sistema renasceram em mim e


de presente recebi o Grande Livro das Mães, foi por meio do modo de agir
delas que eu tinha um roteiro, um mapa sobre o que era ser mãe! Afinal,
ser mãe é algo que a gente aprende! Claro que temos toda a questão
instintiva, mas pra mim, Lis, sou uma mãe aprendiz!

Quando eu ganhei o Miguel eu estava totalmente na consciência arcaica,


precisava do modelo para garantir a minha existência como mãe e a

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sobrevivência dele. À medida que fui caminhando e aprendendo eu fui
ocupando o meu novo lugar, o nascimento da Olivia trouxe-me para o
centro. Agora além de filha, neta e nora, sou a MÃE!

Respeitar a consciência arcaica e me posicionar na consciência individual,


nem sempre foi simples, levou tempo e demandou ajuda terapêutica, pois
exigiu olhar, honrar e amar todas as mães do meu sistema e também do
sistema familiar do meu esposo. Foi necessário que eu ocupasse o meu
lugar de última e que pedisse e aceitasse toda essa sabedoria ancestral.

Tudo isso me levou a entender que não se trata de ser melhor ou pior
mãe. Maternidade não é uma competição! Trata-se apenas do fluxo da
vida, de permitir-se entrar nesse rio caudaloso e seguir com a correnteza!
Somos todas mães, cada uma fazendo seu melhor nesse momento!

Hoje posso dizer: Sinto-me realizada com a maternidade! Isso não significa
que não tenho minhas derrapadas, meus medos e minhas angústias,
significa que ocupei apenas o meu lugar graças às muitas mães que vieram
antes de mim. E que agora eu também posso dar umas pinceladas no
Grande Livro das Mães, deixando a minha marca e o meu jeito de fazer um
pouquinho diferente!

Fonte: Imagem de Todd MacDonald por Pixabay

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Carta de Bert Hellinger à sua mãe

“Querida Mãe,

Você é uma mulher comum, assim como milhares de outras mulheres. Amo você
assim, como mulher comum. Como mulher comum você encontrou o meu pai. Ele
também é comum. Vocês se amaram e decidiram passar a vida inteira juntos.
Casaram-se, isto também é comum, e se amaram como homem e mulher,
profundamente. Fui gerado através desse amor profundo. Sou um fruto do amor de
vocês. Vivo, pois vocês se amaram – muito comum.

Esperaram por mim durante nove meses, com esperança e aflições, perguntando-se se
as coisas caminhariam bem para vocês e para mim.

Sim, querida mamãe, então você me pariu com dores e tormentos. Assim como outras
mães têm os seus filhos. Então, eu estava aqui.

Vocês olharam para mim e se olharam. Estranharam: este é o nosso filho? E disseram
sim para mim. Sim, você é o nosso filho e nós somos seus pais. Tomamos você como o
nosso filho. Então me deram um nome através do qual me chamam, deram-me o seu
nome e disseram a todos: este é o nosso filho, pertence a nós.

Vocês me nutriram, educaram e cuidaram de mim durante muitos anos. Sempre


pensaram em mim. Preocupavam-se e se questionavam sobre as minhas necessidades.
Deram-me muito.

Os outros, assim como eu, também, às vezes, diziam que vocês tinham falhas, que não
eram perfeitos e que deveriam ter sido diferentes. Mas assim, da forma que vocês
foram, foram certos para mim. Somente por terem sido da forma que foram, tornei-
me quem sou. Para mim, tudo estava certo. Eu lhe agradeço, querida mãe, eu lhe
agradeço, querido pai.”

Agora, o mais importante: “Liberto você, querida mãe, de todas as minhas


expectativas e exigências que superam o que se pode esperar de uma mulher comum.
Recebi suficientemente e já basta. Obrigado. Libero você, querido pai, de todas as
minhas expectativas e exigências que superam o que se pode esperar de um homem
comum. Eu lhe agradeço.”

Bert Hellinger

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Lis Damasceno
Livros de Consulta

FRANKE-GRICKSCH, Marianne. Anotações Seminário Internacional


Constelações Familiares e Pedagogia Sistêmica. Curitiba-PR, 23 a 27 de
outubro de 2015.

GARRIGA BACARDÍ, Joan. Onde estão as moedas?: as chaves dos vínculos


entre pais e filhos. Campinas, SP: Saberes Editora, 2011.

GUTMAN, Laura. A maternidade e o encontro com a própria sombra. 6


ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2014.

HELLINGER, Bert. A fonte não precisa perguntar pelo caminho. 3 ed.


Goiânia: Atman, 2012.

_____________. Carta de Bert Hellinger a sua mãe. Disponível em:


<https://www.facebook.com/BertHellinger/posts/1238596046195243/>.
Acesso em: 30 maio 2019.

_____________. Olhando para a alma das crianças. Belo Horizonte:


Atman, 2015.

_____________. Um lugar para os excluídos. 5 ed. Divinópólis: Atman,


2018.

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Fone: (67) 3321-0322 / (67) 99650-5152
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